Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/45847
ORCID:  http://orcid.org/0000-0001-6173-2174
Tipo do documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso Aberto
Título: Orlando Sabino: sujeito constituído pelas práticas discursivas na ditadura militar no Brasil
Título(s) alternativo(s): Orlando Sabino: subject constituted by discursive practices in the military dictatorship in Brazil
Autor(es): Nakamura, Fernanda Gomes da Silva
Primeiro orientador: Fernandes, Cleudemar Alves
Primeiro membro da banca: Almeida, Diélen dos Reis Borges
Segundo membro da banca: Sá, Israel de
Terceiro membro da banca: Santana, Sarah Carime Braga
Quarto membro da banca: Fernandes Junior, Anttônio
Resumo: Esta pesquisa situa-se, teórica e metodologicamente, nos Estudos Discursivos Foucaultianos (EDF), analisando a relação entre discurso, poder e verdade, na constituição do sujeito Orlando Sabino, acusado de crimes brutais no Triângulo Mineiro, durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). O objetivo geral é demonstrar como os discursos midiáticos, jurídicos e sociais objetivaram Sabino como “monstro” e “louco”, sustentando regimes de verdade, que legitimaram sua exclusão e encarceramento. Para isso, utiliza-se a abordagem arqueológico-genealógica de Michel Foucault, examinando condições históricas, práticas discursivas e relações de poder-saber. O corpus inclui matérias da revista Veja (1972), edições do Jornal do Brasil (1972-1973), livros como Operação Anti-guerrilha (Borges, 1979) e O Monstro de Capinópolis (Popó, 2011). A metodologia do trajeto temático (Guilhaumou; Maldidier, 1997) permite identificar regularidades discursivas em quatro eixos: (1) o assassino, (2) o monstro/diabo, (3) o louco patológico e (4) o inocente silenciado. Os resultados destacam que a construção de Sabino como figura monstruosa articulou-se a interesses políticos do regime militar, que utilizou seu caso para desviar atenção de violências de Estado. A mídia reforçou estereótipos racializados e classistas (Sabino era negro, pobre e analfabeto), enquanto laudos psiquiátricos questionáveis justificaram sua internação por 38 anos, no Manicômio Judiciário de Barbacena-MG, apesar da ausência de provas conclusivas. A análise demonstra como discursos hegemônicos produziram “verdades”, que, naturalizaram sua exclusão, enquanto vozes dissidentes (como a Comissão da Verdade), só emergiram posteriormente, contestando os discursos oficiais. Nesse sentido, a dinâmica poder-saber operou, na delimitação entre normal/anormal, sustentando mecanismos de controle social típicos de contextos autoritários. O caso demonstra como regimes de verdade são historicamente construídos, servindo a projetos políticos específicos. A pesquisa contribui para os estudos discursivos, ao articular teoria foucaultiana com análise de um sujeito infame, destacando a persistência de estigmas ligados à raça, classe e saúde mental, na sociedade brasileira. Demonstra-se que a estigmatização de Sabino ecoa em práticas contemporâneas de criminalização de grupos marginalizados (imigrantes, negros, LGBTQIA+, ativistas), que são retratados como ameaças, para legitimar violência e suprimir direitos. Dessa forma, a construção de Sabino como “monstro” integra um repertório de poder que persiste nas sociedades democráticas, onde estereótipos e medo são mobilizados para consolidar hierarquias e mascarar crises estruturais. Portanto, temos a tese: o regime militar brasileiro consolidou seu poder por meio da manipulação política, articulando práticas repressivas das forças policiais e discursos estratégicos para criar discursos, como a caçada ao “monstro assassino”, visavam fabricar inimigos, desde figuras marginalizadas, como Orlando Sabino, até opositores políticos, como guerrilheiros comunistas, isso, sem base em provas ou investigações sólidas. Ao instrumentalizar o medo e a insegurança da população, o regime autoritário justificava a repressão violenta, o controle social e a manutenção de sua autoridade, expondo como a construção de culpados simbólicos servia a interesses autoritários e à perpetuação de um estado de exceção. Assim, as continuidades entre o passado ditatorial e o presente, ressaltam a urgência de resistir a discursos que desumanizam e silenciam, impedindo a ressignificação de autoritarismos sob novas roupagens.
Abstract: This research is theoretically and methodologically situated within Foucaultian Discursive Studies (FDS), analyzing the relationship between discourse, power, and truth in the constitution of the subject Orlando Sabino, accused of brutal crimes in the Triângulo Mineiro region during the Brazilian military dictatorship (1964-1985). The overarching objective is to demonstrate how media, legal, and social discourses objectified Sabino as a “monster” and “madman,” sustaining regimes of truth that legitimized his exclusion and incarceration. To achieve this, Michel Foucault’s archaeological-genealogical approach is employed to examine historical conditions, discursive practices, and power-knowledge relations. The corpus includes articles from Veja magazine (1972), editions of Jornal do Brasil (1972-1973), and books such as Operação Anti-guerrilha (Borges, 1979) and O Monstro de Capinópolis (Popó, 2011). The methodology of trajeto temático (thematic trajectory, Guilhaumou & Maldidier, 1997) identifies discursive regularities across four axes: (1) the murderer, (2) the monster/devil, (3) the pathological madman, and (4) the silenced innocent. Results highlight that Sabino’s construction as a monstrous figure was tied to the political interests of the military regime, which exploited his case to divert attention from state violence. The media reinforced racialized and classist stereotypes (Sabino was Black, poor, and illiterate), while questionable psychiatric reports justified his 38-year confinement in the Barbacena-MG Forensic Asylum, despite a lack of conclusive evidence. The analysis demonstrates how hegemonic discourses produced “truths” that naturalized his exclusion, while dissenting voices (such as the Truth Commission) emerged later to challenge official narratives. This power-knowledge dynamic operated through the demarcation of normal/abnormal, sustaining social control mechanisms typical of authoritarian contexts. The case illustrates how regimes of truth are historically constructed to serve specific political agendas. The study contributes to discursive studies by articulating Foucaultian theory with the analysis of an infamous subject, underscoring the persistence of stigmas linked to race, class, and mental health in Brazilian society. Sabino’s stigmatization resonates with contemporary practices of criminalizing marginalized groups (immigrants, Black people, LGBTQIA+, activists), who are portrayed as threats to legitimize violence and suppress rights. Thus, Sabino’s construction as a “monster” integrates a repertoire of power that persists in democratic societies, where stereotypes and fear are mobilized to consolidate hierarchies and mask structural crises. The thesis posits: the Brazilian military regime consolidated its power through political manipulation, combining repressive police practices and strategic discourses to fabricate enemies—from marginalized figures like Orlando Sabino to political opponents like communist guerrillas—without evidence or thorough investigations. By instrumentalizing public fear and insecurity, the authoritarian regime justified violent repression, social control, and the maintenance of its authority, revealing how symbolic scapegoating served authoritarian interests and perpetuated a state of exception. The continuities between the dictatorial past and the present underscore the urgency of resisting discourses that dehumanize and silence, preventing the resurgence of authoritarianism in new forms.
Palavras-chave: Discurso
Poder
Ditadura militar brasileira
Verdade
Orlando Sabino
Discourse
Power
Truth
Área(s) do CNPq: CNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES
Assunto: Linguística
Brasil - História - 1964-1985
Idioma: por
País: Brasil
Editora: Universidade Federal de Uberlândia
Programa: Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos
Referência: NAKAMURA, Fernanda Gomes da Silva. Orlando Sabino: sujeito constituído pelas práticas discursivas na ditadura militar no Brasil. 2025. 171 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2025. DOI http://doi.org/10.14393/ufu.te.2025.288
Identificador do documento: http://doi.org/10.14393/ufu.te.2025.288
URI: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/45847
Data de defesa: 30-Abr-2025
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): ODS::ODS 4. Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
Aparece nas coleções:TESE - Estudos Linguísticos

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
OrlandoSabinoSujeito.pdf7.31 MBAdobe PDFThumbnail
Visualizar/Abrir


Este item está licenciada sob uma Licença Creative Commons Creative Commons