Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/45031
ORCID:  http://orcid.org/0000-0001-6804-071X
Tipo do documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso Aberto
Título: Histórias de uma aluna surda, um professor-intérprete de Libras e o currículo vivido na escola.
Título(s) alternativo(s): Stories of a deaf student, a teacher-interpreter of Libras, and the curriculum of lives at school.
Autor(es): Oliveira, Thiago Lemes de
Primeiro orientador: Mello, Dilma Maria de
Primeiro membro da banca: Mello, Dilma Maria de
Segundo membro da banca: Esqueda, Marileide Dias
Terceiro membro da banca: Tagata, William Mineo
Quarto membro da banca: Romero, Tania Regina de Souza
Quinto membro da banca: Almeida, Judith Mara de Souza
Resumo: Nesta tese, analiso narrativamente a vivência e a construção do currículo vivido com uma aluna surda das séries iniciais do Ensino Fundamental. A Pesquisa Narrativa, na perspectiva de Clandinin e Connelly (2000; 2011), com base ontológica na experiência, segundo os estudos de John Dewey (1979; 2011), norteia o percurso teórico-metodológico desta pesquisa, possibilitando a composição de sentidos e discussão sobre as experiências e as histórias vividas, mais especificamente as minhas histórias de professor-intérprete de LIBRAS e pesquisador narrativo, além de Nina, a aluna surda que acompanhei. Recordo-me de um dia, na primeira semana de aula, em que cheguei cinco minutos atrasado devido ao trânsito. Nina já estava na sala e a professora regente estava sentada em sua mesa, organizando algumas atividades enquanto os demais alunos conversavam, brincavam e corriam entre as fileiras de carteiras. Nina estava parada, observando toda a movimentação da sala, com um semblante tranquilo. Perguntei se estava tudo bem e ela respondeu que sim. Em seguida, perguntei se ela estava preocupada por eu não ter chegado e ela me olhou com uma expressão de quem não havia entendido. Repeti a pergunta e ela colocou a mão na cabeça, movimentando-a para indicar que não entendia o que eu estava perguntando. Usei mímicas e expressões corpóreo-faciais para me fazer entender. Quando, enfim, ela compreendeu o que eu estava tentando lhe perguntar, ela calmamente respondeu que estava me esperando. Fiquei aflito, questionando-me se ela não conhecia os sinais que eu havia feito ou se não sabia LIBRAS. Minutos depois, a professora disse à turma que havia uma aluna nova na sala e pediu que ela se apresentasse. Interpretei para Nina e esperei que ela dissesse seu nome. Para minha surpresa, ela novamente balançou a cabeça, indicando que não havia compreendido. Então, apontei para mim e soletrei meu nome em LIBRAS: T-H-I-A-G-O. Apontei para a professora, que observava toda a situação, e soletrei o nome dela. Em seguida, apontei para Nina e fiz uma expressão interrogativa, levantando minhas sobrancelhas, meus ombros e abrindo minhas mãos com as palmas para cima. Nina então apontou para si e soletrou: N-N-A. Traduzi seu nome para a professora e para seus colegas. Mas aquela letra faltando acabou com o meu dia. Aquela letra faltando significava muito mais do que apenas um conflito de linguagem. Nina não era alfabetizada em LIBRAS nem em Língua Portuguesa. Como uma menina de 10 anos de idade havia chegado ao terceiro ano do Ensino Fundamental sem saber ler ou escrever em Língua Portuguesa e, principalmente, sem saber se comunicar com as pessoas ao seu redor? Como eu poderia me comunicar com ela? Como poderia realizar o meu trabalho de ajudá-la a aprender, quando ela não compreendia o que eu traduzia ou ensinava? Qual era o seu entendimento de mundo? Quais eram seus saberes e como eu poderia acessá-los? Como a minha relação com Nina influenciaria seu desenvolvimento e aprendizagem? Que sentidos construiríamos diante das nossas experiências e vivências? Assim, como pesquisador narrativo e participante desta pesquisa, na tentativa de conhecer e compreender possibilidades de respostas para minhas indagações, abordo nesta tese aspectos como inclusão e exclusão, currículo como fluir de eventos na escola e na família, ética do cuidado e ética relacional, ensino e adaptação didática, além da experiência de tradução e interpretação durante o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula de uma escola pública.
Abstract: In this dissertation, I narratively analyze the experience of living and constructing the curriculum with a deaf student in the early grades of Elementary School. Narrative Inquiry, in the perspective of Clandinin and Connelly (2000; 2011), with an ontological basis in experience according to the studies of John Dewey (1979; 2011), guides the theoretical-methodological path of this research, enabling the meaning making process and discussion about experiences and the stories lived by, more specifically my stories as a teacher-interpreter of LIBRAS and narrative inquirer, and Nina's, the deaf student whom I accompanied as a participant in the research. I remember one day in the first week of school when I arrived 5 minutes late due to traffic. Nina was already in the classroom; the lead teacher was sitting at her desk organizing some activities, while the other students were talking, playing, and running between the rows of desks. Nina was standing, observing all the activity in the room, with a calm expression. I asked if everything was okay, and she said yes. I then asked if she was worried that I hadn’t arrived, and she looked at me with an expression as if she didn’t understand. I repeated the question, and she placed her hand on her head, moving it to indicate that she didn’t understand what I was asking. I used mime and body-facial expressions to make myself understood. When she finally understood what I was trying to ask her, she calmly replied that she had been waiting for me. I became anxious, questioning whether she didn’t know the signs I had made or if she didn’t know LIBRAS. A few minutes later, the teacher told the class that there was a new student in the room and asked her to introduce herself. I interpreted for Nina and waited for her to say her name. To my surprise, she again shook her head, indicating she had not understood. Then, I pointed to myself and spelled my name in LIBRAS: T-H-I-A-G-O. I pointed to the teacher, who was observing the whole situation, and spelled her name. Then, I pointed to Nina and made an interrogative expression, raising my eyebrows, shrugging my shoulders, and opening my hands with palms up. Nina then pointed to herself and spelled: N-N-A. I translated her name for the teacher and the classmates. But that missing letter ruined my day. That missing letter meant much more than just a language conflict. Nina was not literate in LIBRAS nor in Portuguese. How had a 10-year-old girl reached the third grade of elementary school without being able to read or write in Portuguese, and, more importantly, without knowing how to communicate with those around her? How could I communicate with her? How could I do my job of helping her learn when she didn’t understand what I was translating or teaching? What was her understanding of the world? What were her knowledges, and how could I access them? How would my relationship with Nina influence her development and learning? What meanings would we construct from our experiences and lives? Thus, as a narrative inquirer and participant in this research, in an attempt to answer these questions, I address in this thesis issues such as inclusion and exclusion, curriculum as a flow of events, the familial curriculum making, ethics of care and relational ethics, teaching and didactic adaptation, translation and interpretation during the teaching and learning process in the classroom in a public school.
Palavras-chave: Pesquisa Narrativa
Narrative Inquiry
Experiências
Experiences
Currículo
Curriculum
Surdez
Deafness
Professor-intérprete de LIBRAS
Teacher-interpreter of LIBRAS
Linguística
Linguistics
Área(s) do CNPq: CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO::ENSINO-APRENDIZAGEM
CNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LINGUISTICA::LINGUISTICA APLICADA
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO::CURRICULO
Assunto: Linguística
Professores - Formação
Intérpretes para surdos
Lingua brasileira de sinais
Idioma: por
País: Brasil
Editora: Universidade Federal de Uberlândia
Programa: Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos
Referência: OLIVEIRA, Thiago Lemes de. Histórias de uma aluna surda, um professor-intérprete de Libras/pesquisador e o currículo vivido na escola. 2025. 153 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2025. DOI http://doi.org/10.14393/ufu.te.2025.123
Identificador do documento: http://doi.org/10.14393/ufu.te.2025.123
URI: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/45031
Data de defesa: 31-Jan-2025
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): ODS::ODS 4. Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
Aparece nas coleções:TESE - Estudos Linguísticos

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
HistoriasAlunaSurda.pdfTese14.65 MBAdobe PDFThumbnail
Visualizar/Abrir


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.