Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/43661
ORCID:  http://orcid.org/0000-0003-2953-2919
Tipo do documento: Memorial
Tipo de acesso: Acesso Aberto
Título: Tornar-se professora pelo movimento de mulheres que ousam ensinar
Autor(es): Nicolino, Aline da Silva
Primeiro membro da banca: Muñoz Palafox, Gabriel Humberto
Segundo membro da banca: Reis, Helena Esser
Terceiro membro da banca: Inácio, Humberto Luís de Deus
Quarto membro da banca: Soares, Marta Genú
Resumo: Este memorial, intitulado “Tornar-se professora pelo movimento de mulheres que ousam ensinar”, segue os requisitos para promoção da classe de Professora Associada IV para a de Professora Titular, ao descrever minha formação como mulher, mãe e professora. As memórias aqui recriadas em palavras dizem respeito a um tempo histórico marcado pelas relações de dominação étnico-raciais, de gênero e de classe, as quais me constituem. Por isso, inicio apresentando-me racializada como mulher branca, filha de professor e professora de Educação Física, nascida no interior do estado de São Paulo, mãe e trabalhadora. Inquieta e curiosa desde que me entendo por gente, o movimento constitui a forma mais intensa de me relacionar com o mundo. Não me lembro de estar sentada ou deitada quando criança, mas sempre em movimento: correndo, pulando, cantando, rodopiando, por vezes de ponta-cabeça e, em alguns momentos, fazendo tudo isso ao mesmo tempo. Cresci vivenciando a força e a determinação de minha avó materna, que nos educou com o rigor e a austeridade que a vida lhe proporcionou. Cresci vendo a intensidade do trabalho escolar nos corpos exauridos dos meus pais. Experienciei a ausência, o cansaço e a união em virtude do trabalho e entendi que os esforços da minha família, para que eu e minhas duas irmãs estudássemos, objetivavam nos assegurar melhores condições de trabalho remunerado. As lembranças escolhidas para narrar a transformação de uma criança eufórica em uma jovem professora de Educação Física dizem, por si, que é no corpo e pelo corpo que o indivíduo se constitui coletivamente (Celi; Escobar, 1987). Reconheço, com Adroaldo Gaya (2006, p. 266), que “nada pode existir no conhecimento que não tenha passado primeiramente pelo corpo”. A leitura que faço da docência, ao relembrar os dezesseis anos como servidora pública, é que ela envolve o ensinar, o querer aprender e o pesquisar, o questionamento incansável de decifrar as desigualdades, o replanejar constante e a proposição de ações transformadoras na sociedade, que ultrapassam os muros da universidade. Isso significa que o processo formativo de tornar-se professora, pesquisadora, extensionista e gestora é indissociável do ato de educar, por constituir a essência da docência. Para existir, nesses termos, é preciso fazer a leitura da importância de ler o mundo pela palavra “como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador” (Freire, 1982, p. 13), “que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo” (idem, p. 9). As lentes que uso para dar inteligibilidade ao meu exercício docente envolvem o rigor ético e acadêmico, a amorosidade com as pessoas e o esperançar por um mundo coletivo, igualitário, solidário e digno. Tornar-se, nesse sentido, significa olhar de forma crítica a falta de mulheres indígenas, negras e trans na academia e, ao mesmo tempo, dar continuidade à luta por reparação histórica de um projeto colonial-moderno racial de opressão, invisibilidade e violência de seus corpos. As pautas que vêm movimentando a minha atuação docente há anos estão relacionadas às ações formativas de gênero e sexualidade com docentes da rede pública; ao mapeamento dos discursos acadêmicos sobre a escolarização da sexualidade em Goiás; à identificação de políticas de governo e públicas sobre a educação sexual; às análises das ausências das discussões de gênero e sexualidade nos currículos de formação em Educação Física e os efeitos dessa falta na prática pedagógica; à dessubstancialização da corporalidade viva das mulheres no futebol e à ausência delas em cargos de poder; à denúncia de violências de gênero contra meninas e mulheres e às desigualdades produzidas pelo metabolismo social da branquitude. A continuidade do trabalho que está por vir manterá o rigor de uma formação crítica, progressista, laica e afetuosa, que se propõe a gestar projetos sobre as mulheres e com as mulheres, assim como retomar minha atuação na pós-graduação, possibilitando novas trilhas de formação acadêmica e humana para pessoas que ousam ensinar.
Abstract: This memorial, entitled “Becoming a teacher through the movement of women who dare to teach”, follows the requirements for promotion from the Associate Professor IV class to the Full Professor class, describing my training as a woman, mother and teacher. The memories recreated here in words relate to a historical time marked by relations of ethnic-racial, gender and class domination, which constitute me. Therefore, I begin by introducing myself as a racialized white woman, daughter of a teacher and a Physical Education teacher, born in the interior of the state of São Paulo, mother and worker. Restless and curious since I can remember, movement constitutes the most intense way of relating to the world. I do not remember sitting or lying down as a child, but always in movement: running, jumping, singing, spinning, sometimes upside down and, at times, doing all of these at the same time. I grew up experiencing the strength and determination of my maternal grandmother, who educated us with the rigor and austerity that life provided her. I grew up seeing the intensity of schoolwork on my parents’ exhausted bodies. I experienced absence, fatigue, and unity due to work, and I understood that my family’s efforts to ensure that my two sisters and I could study were aimed at ensuring us better paid working conditions. The memories chosen to narrate the transformation of an euphoric child into a young Physical Education teacher say, in themselves, that it is in the body and through the body that the individual is constituted collectively (Celi; Escobar, 1987). I recognize, with Adroaldo Gaya (2006, p. 266), that “nothing can exist in knowledge that has not first passed through the body”. The reading I make of teaching, when remembering my sixteen years as a public servant, is that it involves teaching, the desire to learn and research, the tireless questioning of deciphering inequalities, the constant replanning, and the proposition of transformative actions in society, which go beyond the walls of the university. This means that the formative process of becoming a teacher, researcher, extension worker and manager is inseparable from the act of educating, as it constitutes the essence of teaching. To exist, in these terms, it is necessary to understand the importance of reading the world through words “as a political act and an act of knowledge, and therefore, as a creative act” (Freire, 1982, p. 13), “which is not exhausted in the pure decoding of the written word or written language, but anticipates and extends into the intelligence of the world” (idem, p. 9). The lenses I use to make my teaching practice intelligible involve ethical and academic rigor, loving kindness towards people and hoping for a collective, egalitarian, supportive and dignified world. Becoming, in this sense, means looking critically at the lack of indigenous, black and trans women in academia and, at the same time, continuing the fight for historical reparations for a colonial-modern racial project of oppression, invisibility and violence against their bodies. The issues that have been driving my teaching activity for years are related to gender and sexuality training actions with public school teachers; mapping academic discourses on the schooling of sexuality in Goiás; identifying government and public policies on sexual education; analyzing the absence of discussions on gender and sexuality in Physical Education curricula and the effects of this lack on pedagogical practice; desubstantiating the living corporeality of women in soccer and their absence in positions of power; denouncing gender-based violence against girls and women and the inequalities produced by the social metabolism of whiteness. The continuity of the work that is to come will maintain the rigor of a critical, progressive, secular and affectionate training, which aims to develop projects about women and with women, as well as resuming my work in postgraduate studies, enabling new paths of academic and human training for people who dare to teach.
Palavras-chave: Mulheres
Women
Professoras
Teachers
Corporalidade
Corporality
Professores universitários - formação
Área(s) do CNPq: CNPQ::CIENCIAS HUMANAS
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO
Idioma: por
País: Brasil
Editora: Universidade Federal de Uberlândia
Referência: NICOLINO, Aline da Silva. Tornar-se professora pelo movimento de mulheres que ousam ensinar. 2024. 72 f. Memorial Acadêmico (Promoção à Classe E Professor Titular - FAEFI) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2024. DOI http://doi.org/10.14393/ufu.di.2024.5168
Identificador do documento: http://doi.org/10.14393/ufu.di.2024.5168
URI: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/43661
Data de defesa: 23-Ago-2024
Aparece nas coleções:MEMORIAL DESCRITIVO - Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FAEFI)

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