UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 
ÁREA DE CONENTRAÇÃO: GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 ATUAÇÃO RECENTE DO ESTADO BRASILEIRO EM 
PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES SOB A PERSPECTIVA DO 
ORDENAMENTO TERRITORIAL 
 
 
SÍLVIO BARBOSA DA SILVA JÚNIOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
UBERLÂNDIA 
MARÇO DE 2013 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 
ÁREA DE CONENTRAÇÃO: GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 ATUAÇÃO RECENTE DO ESTADO BRASILEIRO EM 
PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES SOB A PERSPECTIVA DO 
ORDENAMENTO TERRITORIAL 
 
 
 
Tese de doutorado apresentada ao 
PPGEO/UFU como requisito parcial 
para obtenção do título de Doutor em 
Geografia.  
 
Área de Concentração: Geografia e 
Gestão do Território  
 
Orientador: Prof. Dr. William Rodrigues 
Ferreira  
 
 
 
UBERLÂNDIA 
MARÇO DE 2013 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. 
 
S586a20
13 
 
Silva Júnior, Sílvio Barbosa da, 1982- 
Atuação recente do estado brasileiro em planejamento de transportes sob a 
perspectiva do ordenamento territorial/ Sílvio Barbosa da Silva Júnior.--
2013. 
270f. : il. 
 
Orientador: William Rodrigues Ferreira. 
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-
Graduação em Geografia. 
      Inclui bibliografia. 
 
      1. Geografia - Teses. 2. Transportes - Planejamento - Teses. 3. 
Transporte urbano - Teses. 4. Expansão territorial - Planejamento. I. 
Ferreira, William Rodrigues. II.Universidade Federal de Uberlândia. 
Programa de Pós-Graduação em Geografia. III. Título. 
 
      CDU: 910.1 
 
  
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
Ao fazer agradecimentos públicos, corre-se sempre o risco de, por 
esquecimento, deixar alguém ou alguma instituição de fora e cometer, assim, 
alguma injustiça. Mesmo com tal risco, é indispensável agradecer àqueles que 
contribuíram para a realização do trabalho materializado nesta tese. 
Portanto, agradeço:  
Aos meus superiores e colegas de trabalho na Agência Nacional de 
Transportes Terrestres e no Ministério dos Transportes pelo apoio quando 
precisei me ausentar temporariamente por conta dos estudos, bem como pelos 
conhecimentos e experiências que pude ter durante o desenvolvimento de 
minhas atividades profissionais. 
Ao Professor Nuno Marques da Costa, da Universidade de Lisboa, que, no 
papel de co-orientador, facilitou não somente os contatos junto às instituições 
portuguesas, mas também auxiliou a tornar mais agradável a permanência em 
Lisboa. Ao professor Nuno, acrescento sua simpática família e, ainda, Luís 
Chainho, Augusto Serrano e os amigos Hélio e Carol, sem os quais a estadia 
em Lisboa não teria a mesma leveza. 
À amiga Lílian Vilela pela amizade, pelo suporte que sempre me deu e pelas 
“barras” que seguramos juntos. 
À Professora Beatriz Ribeiro Soares pelo apoio sempre prestado. 
Ao Professor Carlos Alberto Faria, pelas contribuições na banca de 
qualificação. 
Aos amigos Lucas Martins, Alexandre Bueno, Karine Oliveira, Cassiano 
Amorim, Miki Corrêa, Tatiane Carvalho e Thaís Margareth que, muito mais do 
que me acolherem quando precisei estar em Uberlândia, se tornaram uma 
família para mim naqueles momentos. 
Aos amigos Cintia Godoi, Lucas Martins, Hélio Carlos, Karine Oliveira e 
Antouan Monteiro pelas leituras e palpites. 
 Aos amigos Valter Coutinho, Alexandre Schmidt e Dmitry Mazurov pela cessão 
de fotografias que usei no texto. 
Aos amigos e familiares que por vezes tiveram que lidar com minha ausência 
ou meu mau humor em momentos de maior dedicação à tese. 
À CAPES pela bolsa de estágio no exterior que, por cinco meses, financiou 
meus estudos em Portugal. 
Por fim, a todos aqueles que me inspiraram e auxiliaram no desenvolvimento 
desse trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
  
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Passam pássaros e aviões 
E no chão os caminhões 
Passa o tempo, as estações 
Passam andorinhas e verões... 
Passe em casa 
Tô te esperando! 
Tô te esperando! 
 
(Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Marisa Monte; 2002) 
RESUMO 
 
 
 
O mote para esta tese é a constatação de que o território serve de indicador da 
qualidade da gestão que sobre ele é empreendida. Partindo dos conceitos de 
território, o ordenamento territorial e o planejamento de transportes, vistos sob 
a ótica da ação do estatal, e entendendo as redes de transportes como 
elemento fundamental na organização do território, buscou-se reconstituir a 
importância dos transportes na formação sócio-espacial brasileira. Com base 
em elementos e características do território brasileiro neste início do século 
XXI, bem como dados das redes de transportes, das políticas de Estado e das 
instituições responsáveis por sua gestão, objetivou-se descrever e 
compreender a atuação recente do Estado brasileiro em planejamento de 
transportes sob a ótica do ordenamento do território. Como ponto de 
comparação, foram estudadas as políticas europeias de transportes, bem como 
sua atuação recente, particularmente o caso português, permitindo traçar 
pontos de convergência e divergência em relação ao caso brasileiro. 
 
Palavras-chave: ordenamento do território, planejamento de transportes, 
Estado, União Europeia, Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
ABSTRACT 
 
 
 
The territory serves as an indicator of the quality in which the State manages 
land use. Based on the concepts of planning, spatial planning and 
transportation planning, seen from the perspective of the State action, and 
understanding the transport networks as a key element in the organization of 
the territory, we described the importance of transport in the Brazilian historical 
and spatial constitution. Considering elements and characteristics of the 
Brazilian territory at the beginning of the 21th century, as well as transport 
networks data, public policies and State institutions responsible for its 
management, we aimed at describing and understanding the recent 
performance of the Brazilian State in transport planning from the perspective of 
spatial planning. As a point of comparison, we studied European transport 
policies, as well as its recent performance, particularly the Portuguese case, 
enabling us to trace points of convergence and divergence in relation to the 
Brazilian case. 
 
Keywords: spatial planning, transportation planning, State, European Union, 
Brazil. 
 
 
 
 
 
 
 
  
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
1: Território e Planejamento 26 
2: Organização metodológica da tese 33 
  
1.1: Modelo de decisão baseado puramente na viabilidade econômica 
– um círculo vicioso 
51 
  
2.1: Vilas fundadas no território brasileiro no Século XVI 72 
2.2: Padrão aureolar de ocupação 73 
2.3: Padrão dendrítico de ocupação 73 
2.4: Plano Rabelo, 1838 77 
2.5: Plano Moraes, 1869 78 
2.6: Plano Ramos de Queiróz,1874-82 79 
2.7: Plano Rebouças, 1874 80 
2.8: Plano Bulhões, 1881 82 
2.9: Plano Bicalho, 1890 83 
2.10: Plano Geral de Viação, 1886 84 
2.11: Plano da Comissão, 1886 85 
2.12: Plano Rodoviário Nacional, 1944 88 
2.13: O Quadrilátero de Huertas 90 
  
3.1: Mapa do eixo Brasília – Santos 98 
3.2: fotografia de trecho urbano da BR-040 em Valparaíso, GO 99 
3.3: Fotografia de trecho urbano da BR-050 em Cristalina, GO 100 
3.4: Fotografia de trecho da BR 050 entre Catalão e Cristalina – 
veículos de carga 
101 
3.5: Fotografia de trecho urbano da BR-050 em Catalão, GO 102 
3.6: Fotografia das obras de duplicação da BR-050 em Araguari, MG 103 
3.7: Mapa do Rodoanel de São Paulo. Mapa sem escala 106 
3.8: Distribuição de funções entre instituições de planejamento de 
transportes no Brasil 
114 
3.9: Mapa de densidade demográfica das microrregiões (2008 – sem 
escala) 
115 
3.10: Mapa – Consumo médio (bens de consumo) per capita, 2003 116 
3.11: Mapa – Densidade Econômica – 1000 reais de PIB por área do 
município 2006 
117 
3.12: Repartição modal de transportes no Brasil, 2007 119 
3.13: Participação no consumo de combustíveis fósseis por modo 120 
3.14: Mapa de Rodovias no SNV 2012 122 
3.15: Foto de placa confusa em Blumenau, SC 123 
3.16: Foto: Placa pichada em Valparaíso, GO 123 
3.17: Foto: Sinalização em Brasília 124 
3.18: Foto: Canteiro central sem roçagem na BR-050 em Uberaba 124 
3.19: Foto: Sinalização de pavimento antiga e nova causando 
confusão 
125 
3.20: Mapa: SNV Rodovias Duplicadas, 2012 126 
3.21: Emissões de CO2 (milhões de toneladas equivalentes de CO2 
equivalente) no transporte rodoviário, 2010 
130 
3.22: Densidade de malha ferroviária no Brasil e outros países, 2011 133 
3.23: Participação dos produtos transportados por ferrovia, 2012 134 
3.24: Ferrovias Brasileiras – Concessionárias 135 
3.25: Mapa Hidroviário e principais portos, 2012 139 
3.26: Fila de caminhões aguardando para descarregar em Paranaguá.  141 
3.27: Mapa dos aeroportos que mais transportaram em 2011 143 
3.28: Características das rodovias constantes do PNV 146 
3.29: Matriz de transportes de cargas em 2005 e 2025 151 
3.30: Vetores logísticos do PNLT. MT, 2012 154 
3.31: Etapas de simulação: Caracterização atual, projeções futuras e 
avaliação de alternativas 
155 
3.32: Repartição modal ao longo dos anos com obras previstas no 
PNLT 
157 
3.33: Investimentos do PIL em rodovias, Brasil, 2012 159 
3.34: Investimentos do PIL em ferrovias. Brasil, 2012 160 
3.35: Investimentos do PIL em Aeroportos – Brasil, 2012 161 
3.36: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções 165 
3.37: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções 165 
3.38: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções 166 
3.39: Fotografia da BR-050 – travessia urbana de Uberlândia 168 
3.40: Mapa de Rodovias em Uberlândia, contorno e travessia urbana 169 
3.41: Fotografia do Contorno Norte de Uberlândia 170 
3.42: Sinalização do Contorno Norte de Uberlândia 171 
3.43: Sinalização indicando acesso ao contorno de Uberlândia para 
veículos de cargas 
172 
3.44: Acesso no extremo norte do Contorno viário. Notem-se as 
conversões necessárias para que o fluxo do eixo principal (Brasília – 
São Paulo) permaneça no eixo 
173 
3.45: Trevo de conexão entre o contorno norte e a BR-365 leste. Fluxo 
principal (São Paulo – Brasília) deixando o ‘caminho natural’ para 
seguir no eixo 
174 
3.46: Acesso sul ao contorno e os “malabarismos” para se 
permanecer no eixo 
174 
3.47: Exemplo de viaduto com faixas direcionais, no cruzamento entre 
as rodovias Anhanguera e Bandeirantes, nas proximidades de 
Cordeirópolis, SP 
175 
3.48: Cruzamento entre o Rodoanel Mário Covas e a Rodovia Régis 
Bittencourt na Grande São Paulo – exemplo de solução sofisticada em 
cruzamento 
176 
3.49: REBIO União, limites e BR-101 180 
3.50: BR-364 em Mato Grosso – trecho original, em laranja, e trecho 
pavimentado, em roxo.  
189 
3.51: Redutores de velocidade na BR-040 na divisa entre DF e GO, 
vista para a área urbana de Valparaíso, GO 
192 
3.52: Contorno de Maringá e sua RM 194 
3.53: Sistemas rodoviários e suas funções 195 
  
4.1: União Europeia: países membros e seus nomes nas línguas 
nacionais, 2011 
203 
4.2: Estação de trens de São Pancrácio, em Londres 208 
4.3: Aspecto do Aeroporto de Barajas, em Madrid 208 
4.4: Estação Lisboa Oriente – Trens metropolitanos, suburbanos, 
terminal e ônibus e trens de longo curso 
209 
4.5: Rodovia de acesso à cidade de Barcelona – acesso controlado 209 
4.6: Travessia urbana em Vila Nova da Gaia 210 
4.7: Redes Transeuropeias – Canais, hidrovias e portos 214 
4.8: Redes Transeuropeias – Ferrovias de Carga.  215 
4.9: Redes Transeuropeias – Ferrovias de Passageiros 216 
4.10: Redes Transeuropeias – Rede rodoviária estrutural 217 
4.11: Placa indicando Integração trem-avião em estação de trem em 
Bruxelas, 2011 
223 
4.12: Rede urbana e acessibilidade em Portugal Continental 227 
4.13: Estrutura para o planejamento de transportes em Portugal 230 
4.14: Rede de Autoestradas Portuguesas. Sem escala 232 
4.15: Modernização ferroviária financiada com recursos da União 
Europeia, Porto 
233 
4.16: Rede ferroviária portuguesa e velocidades limites de velocidade, 
2013 
234 
4.17: custos e entradas na operação da CP em 2010 237 
4.18: oferta de lugares e procura por passageiros na CP em 2010 238 
4.19: Ponte Vasco da Gama 241 
4.20: Padrão de sinalização e acesso à CRIL 242 
4.21: Proteção contra ruídos nos trechos urbanos de autoestrada em 
Lisboa 
243 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
 
3.1: Consumo médio de combustível por modo de transporte 119 
3.2: Extensão da malha rodoviária por condição e jurisdição 121 
3.3: Idade da frota por tipo de veículo, 2010 131 
3.4: Movimento de veículos nas rodovias que passam por 
Uberlândia, 2002 
163 
  
4.1: Cronologia da União Europeia – principais acontecimentos 202 
4.2: Movimentação nos aeroportos de Portugal em 2011 235 
 
 
  
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
 
ADA – Área Diretamente Afetada 
ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil  
ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários 
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres 
ARTESP – Agência Reguladora dos Serviços de Transporte do Estado de São 
Paulo  
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social 
CONIT – Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transportes 
CP – Comboios de Portugal  
CRIL – Circular Regional Interna de Lisboa 
DF – Distrito Federal 
DGOTDU – Direcção Geral de Ordenamento do Territorial e Desenvolvimento 
Urbano  
DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem 
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT 
EFNOB – Estrada de Ferro Noroeste do Brasil 
EP – Estradas de Portugal 
EPIA – Estrada-Parque Indústria e Abastecimento 
EPL – Empresa de Planejamento e Logística 
ETAV - Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade 
GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes 
GO – Goiás 
GPERI – Grupo de Planejamento Estratégico e Relações internacionais 
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ICMBio – Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade 
INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária  
MG – Minas Gerais 
MMA – Ministério do Meio Ambiente  
MPOG – Ministério do Orçamento, Planejamento e Gestão 
MT – Ministério dos Transportes 
N – Região Norte do Brasil 
NE – Região Nordeste do Brasil 
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento 
PET – Plano Estratégico de Transportes 
PIL – Plano de Investimentos em Logística 
PNV – Plano Nacional de Viação 
PORTOBRÁS – Empresa de Portos do Brasil S.A  
PPA – Plano Plurianual  
PR – Paraná 
PSTM – Plano Setorial de Mitigação e Adaptação à Mudança Climática – 
Transportes e Mobilidade Urbana 
REBIO União – Reserva Biológica União 
RINTER – Rede de Integração Nacional  
RJ – Rio de Janeiro 
SAC – Secretaria Especial de Aviação Civil da Presidência da República 
SC – Santa Catarina 
SCUT – Sem custos aos utilizadores 
SEP – Secretaria de Portos da Presidência da República 
SP – São Paulo 
TAV – Trem de Alta Velocidade 
TGV – Train a Grande Vitesse 
TVA – Tennessee Valey Authority 
UE – União Europeia 
VALEC – Valec Engenharia e Construções 
 
 
 
 
 
 
  
SUMÁRIO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 21 
A problemática  21 
Objetivos 27 
Estrutura do texto 28 
Metodologia  30 
  
CAPÍTULO 1 - A GEOGRAFIA, O TERRITÓRIO, O ESTADO E OS 
TRANSPORTES: uma revisão bibliográfica 
38 
1.1 Geografia, Geopolítica, Estado e Território 38 
1.2 Geografia e transportes  43 
1.3 Sobre planejamento de transportes sob a ótica estatal  46 
1.4 Transportes como elemento geopolítico de ação estatal 53 
1.5 A questão das escalas 61 
  
CAPÍTULO 2 – TERRITÓRIO E TRANSPORTES NA FORMAÇÃO 
SOCIOESPACIAL BRASILEIRA 
68 
  
CAPÍTULO 3 – ATUAÇÃO RECENTE DO ESTADO BRASILEIRO 96 
3.1 Prólogo – de Brasília a Santos 96 
 3.2 As instituições de planejamento e gestão de transportes no 
Brasil 
110 
3.3 As redes e serviços de transportes em nível federal no Brasil 
atual 
113 
3.3.1 Transporte rodoviário 121 
3.3.2 Transporte Ferroviário 132 
3.3.3 Transporte Aquaviário 138 
3.3.4 Transporte Aéreo 141 
3.4 As estruturas de planejamento em nível federal 144 
3.4.1 O Plano Nacional de Viação – PNV 145 
3.4.2 O Sistema Nacional de Viação – SNV  147 
3.4.3 O Plano Nacional de Logística e Transportes – PNLT 149 
3.4.4 O Plano de Investimentos em Logística – PIL 157 
3.5 Atuação específica em dois casos 162 
3.5.1 O contorno e a travessia urbana de Uberlândia 162 
3.5.2 REBIO União x Ministério dos Transportes 177 
3.6 Considerações gerais – um quadro-resumo dos principais 
problemas em transportes e território na atualidade 
179 
3.6.1 Aspectos de legislação e planejamento 181 
3.6.2 Aspectos de articulação interinstitucional – em nível federal 185 
3.6.3 Aspectos de articulação interinstitucional – entre níveis federal 
e estadual 
190 
3.6.4 Aspectos de articulação interinstitucional – envolvendo 
federação e municípios 
191 
3.6.5 Atuação dos órgãos – a falta de redes prioritárias/ estruturais 195 
  
CAPÍTULO 4 – APONTAMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DA UNIÃO 
EUROPEIA 
198 
4.1 O estágio de doutorado 198 
4.2 A União Europeia e seu funcionamento 200 
4.3 Os transportes na União Europeia e a Política Europeia de 
Transportes 
206 
 4.4 O caso português  222 
4.4.1 O PNPOT – Programa Nacional da Política de Ordenamento do 
Território 
224 
4.4.2 Planejamento de transportes em Portugal 228 
4.4.3 O PET – Plano Estratégico de Transportes 236 
4.5 Outras Questões – Considerações Gerais 240 
4.6 Atuação do Estado Brasileiro e da União Europeia: uma Síntese  245 
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS 251 
REFERÊNCIAS 257 
 
21 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
A problemática 
 
O notório e já falecido geógrafo brasileiro Milton Santos concedeu, em 1998, 
uma entrevista à revista Caros Amigos (2001 [1998], p. 125), na qual proferiu 
uma contundente afirmação: “Então, o território revela também a incapacidade 
de governo, quer dizer, a não-governabilidade do país, porque o Brasil é um 
país não-governado”.  
Essa frase remete à necessidade de se compreender dois conceitos, o de 
território e o de Estado, bem como as relações entre ambos; ou melhor, as 
relações entre o território e a gestão pública sobre ele empreendida. Além 
disso, destaca-se a percepção do Estado em relação à capacidade de o 
território fornecer informações que possibilitem visualizar a forma como a 
gestão estatal é exercida. 
Pensar o território significa pensar um espaço delimitado no qual se dá o 
exercício de poder. Mas não apenas isso: deve-se levar em conta o conjunto 
de fatores que influenciam suas características e que moldam suas feições. 
Dentre tais fatores – talvez aqui seja melhor tratá-los como agentes –, a figura 
do Estado está entre aquelas mais destacadas, notadamente por possuir o 
domínio legal sobre este território e ser, em última instância, aquela que 
assume a responsabilidade de sua gestão. 
Retornando à questão abordada na entrevista mencionada, Milton Santos 
aprofunda esta questão afirmando que, ao longo do século XX, o território teria 
sido relegado pelo Estado a uma mera função de servir às grandes 
22 
 
 
 
corporações, tendo sido perdida a noção de uma gestão territorial mais ampla, 
no sentido de atender à multiplicidade de interesses de diversos agentes. O 
território sai de cena como ente principal da política do Estado brasileiro, tendo 
como foco o atendimento de interesses específicos e ações pontuais, 
marcando uma gestão baseada em políticas desagregadas entre si. 
E qual seria o efeito de políticas desagregadas, sem um foco territorial? É o 
que o território revela: ocupação desordenada, esgotamento das redes 
infraestruturais, desenvolvimento econômico concentrado, impactos ambientais 
desproporcionais aos benefícios que as obras conseguem trazer, conflitos 
entre instituições do Estado. 
Como membro de uma autarquia do Estado Brasileiro, e tendo tomado contato 
mais próximo com as instâncias responsáveis pelo planejamento e execução 
de ações em transporte no Brasil, tenho a hipótese de que vários dos 
problemas que se verificam no setor de transportes, e que são tidos como 
problemas de transportes, sejam, na realidade, problemas de ordem territorial.  
Questões como as dificuldades na obtenção de licenças ambientais; problemas 
relacionados à invasão e à ocupação de faixas de domínio de rodovias e 
ferrovias; problemas relacionados a travessias urbanas; subutilização de 
trechos ferroviários; ou, ainda, simplesmente, eixos de ligação entre grandes 
centros urbanos totalmente desprovidos de características compatíveis com 
seu tráfego e sua importância, são exemplos de questões de transporte que 
encontram relação direta com aspectos territoriais. 
Este descolamento das atividades do Estado em relação às questões 
territoriais a que Milton Santos se refere, e que se tem verificado na prática 
atual, parece se ligar a uma visão de que o Estado deva focar-se em questões 
ditas fundamentais, como a regulação mínima das atividades econômicas, a 
educação básica e a saúde, enquanto o mercado, ainda segundo essa visão, 
se encarregaria de prover o restante dos serviços à sociedade.  
No entanto, esta visão tem sido superada nas análises de estudiosos e práticos 
à medida que não se constataram os benefícios apregoados associados à 
diminuição da atividade do Estado. 
23 
 
 
 
Um exemplo recente é o Estudo da dimensão territorial para o planejamento, 
publicado em 2008, em sua versão final, tendo como foco a proposição de 
diretrizes e bases para a inclusão do território como o foco do planejamento 
estatal. Porém, o estudo foi além deste escopo inicial, culminando com a 
proposição de um cenário territorial futuro (horizonte 2027), que tem por 
ambição servir de base para políticas públicas em escala nacional, neste 
período. 
Este estudo, que demonstra forte apelo territorial, parece indicar, se não ainda 
uma tendência, uma vontade de alguns setores de se resgatar a tradição 
pretérita de geógrafos, geopolíticos e planejadores em se pensar o 
desenvolvimento atual e futuro de uma nação com base no território, 
intervenções e suas consequências. Apesar de este trabalho ser atual, ele 
resgata bases antigas relativas a planejamento, tanto ao retomar o território 
como foco, mas também ao destacar o papel do sistema logístico como um dos 
sistemas estruturantes do território.  
Resgatemos alguns casos brasileiros, a exemplo da colonização do Norte 
Paranaense, que se deu, primordialmente, ao redor da linha ferroviária que 
cruzou a região; ou, ainda, da construção de Brasília que, apoiada na 
construção de rodovias que integraram a nova capital aos extremos do país, 
estimulou a ocupação do Cerrado brasileiro. 
Se, por um lado, a função do Estado tem como base tradicional a gestão do 
território, aqui compreendida como a ação com vistas à reprodução social de 
um povo e à manutenção de sua qualidade de vida, por outro a prática atual 
tem se revelado desterritorializada, focada em ações pontuais.  
No caso do setor de transportes, busca-se resolver os problemas do setor 
como meros problemas de transportes, sem considerar, de modo aprofundado, 
os aspectos territoriais envolvidos. Um exemplo é buscar como solução para a 
saturação de uma rodovia a sua ampliação de capacidade ou a construção de 
uma paralela ao invés de pensar possibilidades de rearranjos territoriais que 
possam prescindir ou postergar ampliação desta rodovia. 
24 
 
 
 
Em contrapartida, observam-se setores do Estado brasileiro que voltam seu 
foco para as questões territoriais. Porém, ainda não são palpáveis as ações, 
sendo difícil a mensuração de seu grau de influência nas demais instâncias, 
notadamente nos órgãos relacionados ao setor de transportes. 
Este é o primeiro mote do trabalho que ora apresentamos: buscar a 
compreensão das visões sobre a relação entre os transportes e o território. 
Inicialmente, buscamos essa perspectiva com base em referências na 
literatura, procurando, dentre as produções mais destacadas em Geografia, 
aquelas que possam lançar um lume sobre esta questão.  
Em seguida, tal procedimento foi seguido pela busca de uma literatura mais 
especializada e referente à gestão territorial e de transportes – inclusive 
estudando boas práticas neste setor, ao redor do mundo, notadamente na 
União Europeia. Esta primeira etapa deve servir de base para a análise 
principal que se pretende neste trabalho, que foi, e tem sido, responder à 
seguinte questão: como os órgãos responsáveis pela gestão dos sistemas de 
transporte no Brasil trabalham a questão territorial?  
Mas como uma tese de doutorado em Geografia pode contribuir com esta 
questão? E qual a relação da Geografia com este tema?  
Conforme nos mostra a História do Pensamento Geográfico, a gênese da 
Geografia está na Geopolítica. Nas palavras de Lacoste (1988, p. 23), 
 
A geografia é, de início, um saber estratégico estreitamente 
ligado a um conjunto de práticas políticas e militares e são tais 
práticas que exigem o conjunto articulado de informações 
extremamente variadas, heteróclitas à primeira vista, das quais 
não se pode compreender a razão de ser e a importância, não 
se enquadra no bem fundamentado das abordagens do Saber 
pelo Saber.  
 
Apesar do domínio da Geografia universitária e do “sepultamento” da 
Geopolítica pela academia por um bom tempo, é inegável que os 
conhecimentos do território aplicados às ações políticas e militares, 
25 
 
 
 
notadamente as ações dos Estados Nacionais, estejam na gênese deste ramo 
de conhecimento denominado Geografia.  
A emblemática obra de Lacoste – A Geografia: isto serve, em primeiro lugar, 
para fazer a guerra – traduz a função primordial que teve a Geografia.  Porém, 
não entendamos a Geografia como conhecimentos que servem tão somente 
para as atividades bélicas. Estas são apenas uma parte das aplicações 
possíveis destes conhecimentos. Expandindo um pouco, poderia ser dito que a 
Geografia é a ciência que estuda os aspectos territoriais com vistas à ação. 
Notadamente a ação estatal. 
Explicitado o objeto primordial de investigação do geógrafo – o território – cabe 
eleger uma definição que adotaremos doravante. Território, aqui, será 
entendido como o espaço delimitado de ação de um Estado Nacional. É o 
espaço no qual, por princípios legais, o Estado Nacional exerce sua soberania. 
Estes conceitos serão aprofundados mais adiante. 
Se considerarmos este território como o espaço de ação do Estado, há de se 
supor que este mesmo território será tanto o objeto sobre o qual a política 
estatal agirá, quanto a fonte principal de informações que deverão subsidiar a 
ação (Figura 1). Se os Geopolíticos tradicionais ligavam o território ao poder, a 
gestão territorial que tem se desenvolvido na União Europeia, por exemplo, 
parece manter a premissa de que o território é o ponto focal da ação do 
Estado. 
Os geopolíticos, tendo a noção de território como poder já chamavam atenção 
para a importância das redes de transportes e comunicação, como elementos 
integradores e estruturadores dos espaços. Na atualidade, mantendo o paralelo 
com a União Europeia, verificam-se uma série de sistemas de indicadores que 
monitoram o desenvolvimento territorial, bem como programas que 
estabelecem uma rede de transportes prioritária, com vistas a alcançar um 
nível determinado de desenvolvimento nas regiões onde se investe. Ou seja, a 
visão antiga, repaginada, permanece nas regiões mais avançadas do globo, 
em termos de gestão. 
26 
 
 
 
 
 
Figura 1: Território e Planejamento. 
Org.: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
Por outro lado, no Brasil, as políticas parecem desarticuladas e não encontram, 
no território, o ponto que poderia articulá-las e torná-las mais eficientes. Isto se 
demonstra, por exemplo, nos investimentos que não seguem uma 
racionalidade territorial, na falta de foco dos órgãos de transporte e na 
articulação interinstitucional insuficiente entre os órgãos e esferas de decisão. 
Exemplos referentes à falta de racionalidade territorial que podem ser citados 
são o contorno viário executado em Uberlândia (MG), incapaz de atrair o 
tráfego, que segue circulando na área urbana, e o contorno de Maringá (PR), 
ainda em execução, que ignora as áreas conurbadas de municípios vizinhos. A 
questão de falta de foco se ilustra com a atuação da Agência Nacional de 
Transportes Terrestres (ANTT), que deveria se focar nos temas relevantes em 
nível nacional e, no entanto, ainda gerencia o transporte urbano no entorno de 
Brasília. Os sistemas estaduais e federal de transporte de passageiros de 
longo curso por ônibus não possuem qualquer integração e ilustram, por fim, a 
falta de articulação entre as instâncias de decisão. 
27 
 
 
 
O cúmulo desta situação se verifica no fato de as grandes políticas nacionais 
de transporte – aqui citamos o exemplo recente do Programa de Aceleração do 
Crescimento (PAC), do Governo Federal, que foca na eliminação de gargalos 
em áreas saturadas ou em vias de saturação, mas não numa organização 
territorial que permitam gerar novos pólos de desenvolvimento. E, tão grave 
quanto, não se tem a noção precisa dos impactos dos sistemas de transportes 
na atual organização territorial brasileira. 
A questão que se impõe e que se pretende esclarecer no decorrer deste 
trabalho é sobre como os órgãos responsáveis pela gestão do transporte – em 
nível nacional (Brasil) - trabalham a questão do território. É necessário, ainda, 
contextualizar esta questão com outra: como o Estado Brasileiro, como um 
todo, trabalha a questão do território. 
 
 
Objetivos 
 
Tais questões, apoiadas na hipótese – convertida em tese – de que os 
problemas de transportes são na prática problemas de ordenação territorial, 
delineiam os objetivos fundamentais do desenvolvimento deste trabalho: 
 Discutir, em termos teóricos, o papel dos transportes como elemento 
estruturador do espaço; 
 Construir, em termos históricos, um panorama da formação sócio-
espacial brasileira sob a ótica dos transportes e seu papel no 
ordenamento territorial; 
 Analisar como as políticas territoriais brasileiras consideram a questão 
do transporte; 
 Analisar a atuação recente dos órgãos gestores de transporte em escala 
nacional – no Brasil – consideram as variáveis territoriais; 
28 
 
 
 
 Conhecer as boas práticas de planejamento de transportes, 
considerando as variáveis territoriais ao redor do mundo, notadamente 
na União Europeia. 
 
 
Estrutura do texto 
 
A tese está estruturada em Introdução, cinco capítulos, Considerações Finais e 
Referências. 
A Introdução contempla as considerações iniciais nas quais apresentamos a 
motivação, explicitamos a problemática e os objetivos fundamentais da 
pesquisa. Ainda nesta seção, são contemplados os pressupostos básicos bem 
como os “caminhos” teóricos e práticos que nos levam a responder às 
perguntas de pesquisa (subseção Metodologia). Naturalmente, em ciências 
humanas, a metodologia revela-se como algo não estático e que se adapta 
conforme surgem novas contribuições, novos dados, novas informações. 
O Capítulo 1, A Geografia, o Território, o Estado e os Transportes: uma revisão 
bibliográfica, traz as discussões teóricas referentes aos conceitos fundamentais 
que utilizamos no trabalho transportes, território e ordenamento territorial. 
Tratamos de como as origens da Geografia se ligam à ação estatal e, portanto, 
ao conceito de território. Abordamos a geopolítica como uma forma legítima de 
Geografia, baseada nos conhecimentos geográficos como fundamento para 
ação estatal. Analisamos a questão do planejamento de transportes – como 
pensado e como executado atualmente – e de como depende de informações 
de cunho territorial e como influencia a estruturação do espaço, aspecto 
fundamental na confirmação da hipótese de que muitos dos problemas de 
transportes são, de fato, problemas de território. 
29 
 
 
 
No Capítulo 2, Transporte e território na formação sócio-espacial brasileira, 
buscamos reconstituir, com base nas análises de Huertas (2009), Moraes 
(2011) e do GEIPOT (2001), bem como outros autores, como a estruturação do 
espaço nacional brasileiro esteve diretamente ligada às redes de transportes 
de cada tempo, e também a forma com que o Estado e os agentes privados se 
apoiaram em decisões de cunho territorial no empreendimento da colonização 
do território brasileiro. 
Dividido em duas seções, o Capítulo 3, Atuação recente do Estado brasileiro, 
traça um panorama institucional atual da gestão de transportes em escala 
nacional, em um primeiro momento, possibilitando que os estudos de caso, na 
segunda seção, ilustrem as principais questões na interface planejamento de 
transportes/ordenamento territorial que julgamos, com base em nossas 
análises, confirmarem a hipótese e os problemas levantados inicialmente, e 
outros. Este capítulo configura o cerne do trabalho, no qual as questões 
teóricas e os estudos de caso nos proporcionam uma visão clara da atuação 
recente do Estado brasileiro. 
O Capítulo 4, Apontamentos sobre a atuação da União Europeia, deriva da 
experiência de estágio na Universidade de Lisboa e busca trazer à tona a 
atuação recente deste aglomerado de estados nacionais que tem obtido 
razoável sucesso em relação a políticas de ordenamento territorial, tendo como 
um dos elementos centrais as políticas de transportes. O objetivo deste 
capítulo contempla a execução de uma análise paralela, permitindo 
comparação com o caso brasileiro. 
Por fim, têm-se as Considerações Finais do trabalho, contemplando as 
principais conclusões e recomendações derivadas da análise empreendida. 
 
 
 
 
30 
 
 
 
 Metodologia 
 
Santos (2009 [1996], p. 37), ao tratar da forma como a sociedade interage com 
o espaço, cita a forma como os geógrafos interpretam, fazendo, porém, uma 
ressalva: 
 
Quando geógrafos escrevem que a sociedade opera no espaço 
geográfico por meio dos sistemas de comunicação e 
transportes, eles estão certos, mas a relação, que se deve 
buscar, entre o espaço e o fenômeno técnico, é abrangente de 
todas as manifestações da técnica, incluídas as técnicas da 
própria ação. 
 
A essência do que o autor afirma está em entender que o foco não pode estar 
localizado apenas em entender como as técnicas – aqui as redes de transporte 
e comunicação – atuam alterando (e sendo alteradas) pelas características 
espaciais, territoriais (este conjunto ele denomina ações), mas que também se 
lance o lume sobre as injunções que levam à opção por tais ações, ao 
processo decisório e seus fatores de influência, ou, nos termos do autor, as 
técnicas da própria ação. 
Se, para o desenvolvimento deste trabalho, importa a forma como as redes de 
transporte interagem com o substrato territorial, importa-nos do mesmo modo 
as questões institucionais e políticas por trás da ação dos atores que decidem 
pela implantação ou não das redes, das políticas, enfim, das ações. Ou seja, 
são fatores indissociáveis para a compreensão do tema ao qual nos 
propusemos: 
 
Nossa proposta atual de definição da geografia considera que 
a essa disciplina cabe estudar o conjunto indissociável de 
sistemas de objetos e sistemas de ação que formam o espaço. 
Não se trata de sistemas de objeto, nem de sistemas de ações 
tomados separadamente (SANTOS, 2009 [1996], p. 62). 
31 
 
 
 
 
Os conceitos-base que norteiam este trabalho são o território, o ordenamento 
territorial e o planejamento de transportes, vistos sob a ótica da gestão. Isto é, 
numa visão de resgate dos estudos que considerem a ação do Estado como 
elemento fundamental na organização do território. Aqui, remetemos ao 
conceito de Geopolítica, que, nesta abordagem, se traduz na gestão estatal 
orientada sobre o território, tendo nos sistemas de transporte um elemento 
estruturador. 
Uma opção metodológica que ora se faz é a de superar a separação usual 
entre trabalhos de cunho acadêmico da realidade de ordem técnica, muitas 
vezes tendo o setor acadêmico ensimesmado, ignorado ou negligenciado os 
procedimentos e formas de trabalho vigentes tanto no setor público quanto no 
setor privado que utilizam – em maior ou menor grau – os conhecimentos da 
Geografia.  
Esta pretensão deriva de minha experiência profissional, atuando justamente 
em uma área que desenvolve estudos diversos relacionados aos transportes e 
sua regulação – a Superintendência de Estudos e Pesquisas da Agência 
Nacional de Transportes Terrestres. A experiência profissional acaba se 
tornando indissociável dos conhecimentos geográficos adquiridos, 
possibilitando um intercâmbio entre o cabedal teórico/técnico da Geografia e as 
atividades de pesquisa relacionadas aos transportes. 
Fez-se, ainda, a opção por trabalhar a escala nacional – levando-se em 
consideração o território nacional brasileiro, espaço de ação do Estado 
brasileiro. Poucos têm sido os trabalhos de Geografia – inclusive referentes aos 
transportes – que ousam trabalhar nesta escala. Afinal, é “a sociedade 
nacional, através dos mecanismos de poder, que distribui, no país, os 
conteúdos técnicos e funcionais, deixando os lugares envelhecer ou tornando 
possível sua modernização” (SANTOS, 2009[1996], p. 272). E, ainda, 
 
Na história moderna a repartição do espaço terrestre se 
entrelaça com o processo de afirmação das denominações 
32 
 
 
 
estatais, o que fornece – antes de tudo – uma escala básica 
para a investigação geográfica: os espaços de soberania dos 
estados, expressos como reinos, como impérios e como países 
(MORAES, 2011, p. 8). 
 
O desenvolvimento do trabalho se desdobra em seis etapas distintas e 
complementares, conforme esquematizado a seguir e na Figura 2: 
 
 Etapa 1 – Construção do estado da arte – Capítulo 1; 
 Etapa 2 – Construção de histórico – Capítulo 2; 
 Etapa 3 – Panorama institucional – Capítulo 3; 
 Etapa 4 – Estudos de caso – Capítulo 3; 
 Etapa 5 – Estudos na União Europeia – Capítulo 4; 
 Etapa 6 – Síntese – Capítulo 4. 
 
 
A Etapa 1 da pesquisa inicia-se com o aprofundamento da análise de literatura 
pertinente aos temas território e transportes, e seus respectivos 
desdobramentos em planejamento de transportes e ordenamento territorial. 
Notadamente bibliografias que abordem a questão da integração entre 
aspectos do território e aspectos dos transportes. 
Partindo-se desta noção de um planejamento territorial intimamente ligado às 
redes de transporte, inicialmente consideramos as reflexões de autores que 
abordaram a questão de modo semelhante. Desde os antigos geopolíticos, 
geógrafos e planejadores. Estas fontes bibliográficas visaram compreender e 
sistematizar a forma como estes pensadores entendiam a relação entre os 
conceitos e como buscavam transformar este entendimento em proposta de 
ação pública. 
 
 
33 
 
 
 
 
 
Figura 2: Organização metodológica da tese.  
Org.: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
A Geografia dos Transportes das escolas americana e europeia constitui 
importante subsidio, tendo em vista que abordam a questão dos transportes de 
forma mais ampla, além de possuírem um conjunto de ferramentas mais ligado 
à ação, quando comparados com a Geografia brasileira. Obviamente, autores 
brasileiros também servem de referência, tanto para efeito de comparação com 
abordagens estrangeiras quanto para efeito de estudos de casos de políticas 
implementadas em território nacional. 
34 
 
 
 
Esta abordagem inicial permite obter um retrato do estado da arte atual da 
literatura em termos de gestão territorial e sua ligação com o planejamento de 
transportes, consolidado no Capítulo 1. 
Na Etapa 2, ainda com base em análise de literatura, buscou-se interpretar a 
formação socioespacial brasileira sob a ótica da relação entre transportes e 
território. Afinal, entender a dinâmica atual do território e sua gestão só são 
possíveis em sua plenitude se nos debruçamos a entender os processos 
espaciais e históricos pretéritos que engendraram a configuração atual. Para 
Santos (2009 [1994], p. 141),  
 
[...] a atual repartição territorial do trabalho repousa sobre as 
divisões territoriais do trabalho anteriores. E a divisão social do 
trabalho não pode ser explicada sem a explicação da divisão 
territorial do trabalho, que depende, ela própria, das formas 
geográficas herdadas.  
 
Conforme literatura explicitada nos capítulos seguintes, aqui se tomou como 
ponto de partida o início da ocupação portuguesa no continente americano; ou 
seja, entende-se o território brasileiro como herdeiro do território colonial 
português na América. O foco desta análise tem por objetivo apreender o papel 
das redes de transportes na estruturação do território bem como a ação estatal 
relacionada. Os resultados estão explicitados no Capítulo 2. 
A Etapa 3 trata da construção de um panorama institucional do planejamento 
de transportes em escala nacional no Brasil. Basicamente, consistirá numa 
análise da legislação pertinente e dos planos relacionados aos órgãos de 
planejamento de transportes elencados: Ministério dos Transportes (MT), 
Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional 
de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Secretaria Portos (SEP), Agência 
Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Secretaria de Aviação Civil 
(SAC), e Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). 
Sua construção é baseada nas práticas de planejamento territorial em nível 
nacional, publicadas e/ou implantadas recentemente. Esta análise permitirá 
35 
 
 
 
observar como estas políticas – quando existentes – tratam a questão dos 
transportes, além de contextualizar a análise seguinte. Foram analisados o 
Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), o Plano Nacional de 
Mudanças Climáticas e o Sistema Nacional de Viação, dentre outros, que 
foram considerados relevantes nesta pesquisa. Além dos planos, deverão ser 
considerados manuais e instruções normativas. 
O foco nos aspectos legais se justifica, dentre outros aspectos, porque 
 
A ação é subordinada a normas, escritas ou não, formais ou 
informais e a realização do propósito reclama sempre um gasto 
de energia. A noção de atuação liga-se diretamente à ideia de 
práxis e as práticas são atos regularizados, rotinas ou quase 
rotinas que participam da produção de uma ordem (SANTOS, 
2009 [1996], p. 78-79). 
 
A ação, no nosso caso, é a atuação das instituições citadas, e derivadas 
normas, leis, manuais e, ainda, das normas e padrões não escritos.  
A Etapa 4 consiste em executar a análise que é o foco do trabalho, que se 
debruçará, em maior nível de detalhe, sobre a atuação dos órgãos 
responsáveis pela gestão dos transportes em nível nacional, já citadas. Este 
maior nível de detalhe será obtido por meio de estudos de caso que permitam 
vislumbrar, no território (nas múltiplas escalas), as consequências de um 
planejamento de transportes descolado do ordenamento territorial. Se, por um 
lado, a escala de análise privilegiada é a escala nacional, “as decisões 
nacionais interferem sobre os níveis inferiores da sociedade territorial por 
intermédio da configuração geográfica, vista como um conjunto. Mas somente 
em cada lugar ganha real significado” (SANTOS, 2009 [1996], p. 272). 
Foram escolhidos para estudo dois casos: 
 O contorno viário de Uberlândia; 
 O projeto de duplicação da BR-101 no trecho que intercepta a Reserva 
Biológica da União, no Estado do Rio de Janeiro. 
36 
 
 
 
Os estudos de caso foram escolhidos com base na facilidade de acesso aos 
dados, bem como por serem representativos da diversidade dos temas que se 
pretende abordar: a questão dos contornos viários; a articulação 
interinstitucional; a questão da escala; a questão federativa; o caráter 
municipalista da Constituição Federal de 1988; os confrontos entre órgãos de 
planejamento e órgãos ambientais; a regulação do setor ferroviário; padrões de 
legibilidade espacial, dentre outros aspectos, cujas reflexões teóricas se 
encontram descritas no Capítulo 3. 
As Etapas 3 e 4 servem de base para a redação do Capítulo 3 da tese. Vale 
destacar que, para a consecução destas etapas, contou-se com o valioso apoio 
da equipe da Revista ANTT, da qual faço parte como membro de seu Núcleo 
Editorial, o que facilitou o contato com alguns dos entrevistados pretendidos. 
Duas entrevistas publicadas nas edições da Revista ANTT de novembro de 
2010 e maio de 2011, bem como duas reportagens das mesmas edições, 
aproveitaram material do desenvolvimento desta tese. 
A Etapa 5, materializada no Capítulo 4 da tese, consiste na construção de um 
panorama e de breves estudos de caso, baseados em experiências tanto de 
planejamento territorial em termos mais amplos quanto da ação de órgãos de 
transportes no âmbito da União Europeia. A análise, neste caso, foca ações 
que possam ser considerados “boas práticas” e que sirvam para balizar a 
análise do caso brasileiro e que possam servir de modelos para solução de 
problemas que possam ser apontados.   
A escolha da União Europeia se justifica por uma questão territorial e de 
gestão: eles demonstram possuir tradição no que se refere ao ordenamento 
territorial, inclusive no que tange ao planejamento de transportes (Redes 
Transeuropeias). Territorialmente, é uma aglomeração de estados nacionais de 
pequeno e médio porte, com grande diversidade cultural e de características 
socioeconômicas, obviamente numa escala maior do que a verificada no Brasil. 
No entanto, apesar de tais discrepâncias, têm obtido sucesso em suas 
políticas, notadamente no referente à boa articulação interinstitucional. 
37 
 
 
 
Esta etapa foi viabilizada por meio de Estágio de Doutorado no Exterior, 
realizado no Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.  
Previamente, selecionamos e visitamos órgãos do Estado português 
relacionados ao ordenamento do território e ao planejamento de transportes, 
visando conhecer sua atuação e sua relação com os órgãos da União 
Europeia. Além das visitas técnicas, foram realizadas idas a campo 
possibilitando vivenciar e fazer registro fotográfico de infraestruturas. 
A Etapa 6 consiste em um esforço de síntese, contida no final do Capítulo 4, 
considerando as análises realizadas, consistindo na produção daquilo que 
entendemos que será a principal contribuição desta pesquisa. 
Os produtos pretendidos, ao fim da tese são: 
 Análise do estado da arte do estudo de Geografia dos Transportes e de 
gestão territorial; 
 Análise da visão e da ação recente do Estado Brasileiro em relação ao 
ordenamento territorial; 
 Análise das políticas e da ação das instituições brasileiras de 
planejamento de transportes em relação à interface território – 
transportes; 
 Compêndio de boas práticas em transportes no Brasil e na União 
Europeia; 
 Análise teórica do conjunto. 
 
 
 
 
  
38 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
A GEOGRAFIA, O TERRITÓRIO, O ESTADO E OS 
TRANSPORTES: uma revisão bibliográfica 
 
 
 
1.1 Geografia, Geopolítica, Estado e Território 
 
José William Vesentini, no prefácio da segunda edição brasileira de A 
Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, de Yves Lacoste 
(1988, p. 7), diz: 
 
O fundamental, a seu ver, é que, malgrado as aparências 
mistificadoras, os conhecimentos geográficos sempre foram, e 
continuam sendo um saber estratégico, um instrumento de 
poder intimamente ligado a práticas estatais e militares. A 
geopolítica, desta forma, não é uma caricatura da geografia; 
ela seria na realidade o âmago da geografia, a sua verdade 
mais profunda e recôndita. 
 
Neste excerto, o autor trata exatamente de um dos principais mal estares da 
Geografia no século XX, que aborda, justamente, a execração da Geografia 
Política (e da Geopolítica) dos estudos geográficos. Execração que tem relação 
direta com a apropriação de teorias geopolíticas pela política hitleriana. 
Consequentemente, naquele século, os conceitos de Geopolítica e Geografia 
Política passaram a estar intimamente associados ao nazi-fascismo. 
Ainda que, desde os primórdios, a Geografia trate do território como tema e, 
ainda, o Estado como agente transformador do território, o “esquecimento” do 
39 
 
 
 
tema Geopolítica durante parte do século XX se desdobrou, em certa medida, 
no esquecimento da função do Estado: 
 
Na realidade o Estado e os desdobramentos do seu aparato 
institucional e o papel destes no ordenamento territorial e social 
foram obscurecidos na geografia pela perspectiva reducionista 
do determinismo estrutural comandado pelas relações 
capitalistas de produção (CASTRO, 2010, p. 108). 
 
A despeito da associação da Geopolítica com o nazismo, bem como do relativo 
abandono do estudo das ações estatais, o tema ressurgiu. Ainda que visto 
naqueles tempos como uma pseudogeografia, o fato que Vesentini destaca é 
de que é justamente o oposto: a Geografia Política e a Geopolítica estão no 
cerne da origem da Geografia como ramo do conhecimento. Nas palavras de 
Lacoste (1988, p. 23), 
 
A geografia é, de início, um saber estratégico estreitamente 
ligado a um conjunto de práticas políticas e militares e são tais 
práticas que exigem o conjunto articulado de informações 
extremamente variadas [...] 
 
Este saber estratégico, cuja base é o conhecimento do território, deriva do fato 
de o território prover a possibilidade de extração – por meio de sua “leitura” – 
de um conjunto grande de informações, permitindo balizar a atuação, seja de 
Estados nacionais (e suas subdivisões), de empresas, e outros grupamentos 
humanos. Nas palavras de Santos (2001, p. 21), “A minha impressão é a que o 
território revela as contradições mais fortemente”. 
Ainda considerando a análise de Lacoste (1988, p. 22), a função original da 
Geografia enquanto ciência é a de fornecer o conjunto de informações acerca 
dos territórios nacionais. E são com base nestas informações que se 
empreendem as ações: 
 
40 
 
 
 
[...] se a topografia só evolui muito lentamente, a implantação 
das instalações industriais e o traçado das vias de circulação, 
as formas de hábitat se modificam a um ritmo muito mais 
rápido e é preciso levar em consideração essas 
transformações para estabelecer as táticas e as estratégias. 
 
Corrobora para este pensamento Bertha Becker (1995, p. 226-227), ao relatar 
o histórico da relação entre Estado, Geografia e Geopolítica: 
 
A geografia é institucionalizada como disciplina e obra de 
Friedrich Ratzel, teorizando geograficamente o Estado (1897), 
constitui uma fonte crucial para a análise das relações entre o 
estado e o poder, e para a própria criação da geopolítica como 
disciplina pelo sueco Rudolf Kjéllen. 
 
Em relação à Geopolítica brasileira, esta se firmou principalmente nas forças 
armadas e, secundariamente, em órgãos de planejamento nacional e de 
Geografia nacional, tendo subsídios em autores clássicos da Geografia e da 
Geopolítica como Ratzel, Kjéllen, McKinder, dentre outros. Os geopolíticos 
brasileiros foram uníssonos ao tratar da questão territorial como fundamental 
para subsidiar a unidade e o desenvolvimento nacional, a exemplo do que 
evoca Elyseo de Carvalho (1921), citado por Miyamoto (1995): 
 
A sorte das nações está inevitavelmente ligada á fatalidade 
geográfica e é por isso que não concebemos uma política 
brasileira alheia a seu mapa, e, por conseguinte, esquecida de 
sua preponderante função nacionalista. [...] A geografia é hoje 
o fundamento da política e a lei do progresso. 
 
Ou seja, para a Geopolítica brasileira, é inconcebível pensar o desenvolvimento 
nacional de modo desligado do seu território. Este não é um traço somente 
desta Geopolítica, mas se liga intimamente aos processos que culminaram na 
formação dos Estados Nacionais Modernos que são, conforme análise de 
Moraes (2011, p. 8), intimamente ligados ao conceito de território: 
41 
 
 
 
 
Na história moderna a repartição do espaço terrestre se 
entrelaça com o processo de afirmação das denominações 
estatais, o que fornece – antes de tudo – uma escala básica 
para a investigação geográfica: os espaços de soberania dos 
estados, expressos como reinos, como impérios e como 
países. O território moderno é estatal, assim como o estado 
moderno é territorial, sendo construções históricas que se 
complementam.  
 
A respeito dos conceitos de “geopolítica” e “geografia política”, Costa (1997) 
aborda a conhecida dicotomia de ambos, sendo a primeira tida como prática, 
ligada aos meios militares, e a segunda como mais isenta, acadêmica. Na 
prática, ambas são formas de conhecimento sobre uma mesma temática e que 
têm subsídios das mesmas fontes teóricas; ambas analisam e/ou embasam as 
ações dos estados sobre os territórios. Isto tem fundamento na própria origem 
da Geografia, tida por Lacoste (1988), como a ciência que “serve, em primeiro 
lugar, para fazer a guerra”; ou seja, que os conhecimentos do território 
serviram, antes de qualquer coisa, para subsidiar a atividade bélica e 
expansionista dos estados nacionais.  
Porém, há de se assinalar, a Geopolítica – aqui se optou por adotar Geopolítica 
e Geografia Política como sendo sinônimos – não trata apenas de assuntos 
bélicos, mas, essencialmente da política territorial de um Estado Nacional, 
sejam questões externas – as relações internacionais –, sejam questões 
internas – gestão territorial. Esta última que é exatamente o foco deste 
trabalho. 
Ainda sobre território, poder e Estado, Lacoste (2009, p. 10) destaca: 
 
Poder y território son dos términos fundamentales em 
Geopolítica. Desde um punto de vista jurídico, en todas las 
sociedades, ambos están estrechamente relacionados entre sí, 
pues todo poder político oficial (ya se trate del de um estado, 
del de uma tribo, o de um municipio) pose e su próprio 
territorio, es decir, uma extensión claramente delimitada sobre 
La cual ejerce su autoridade u – em principio – su soberanía, 
42 
 
 
 
donde normalmente es responsable Del orden publico y cuya 
defensa pretende assegurar [...]1. 
 
Becker (1995, p. 296), define gestão territorial como 
 
[...] a prática estratégica científico-tecnológica do poder que 
dirige, no espaço e no tempo, a coerência de múltiplas 
decisões e ações para atingir uma finalidade e que expressa, 
igualmente, a nova racionalidade e a tentativa de controlar a 
desordem. 
 
Ao entender um Estado Nacional como produto de uma coletividade, com 
características inerentes a um povo, num Estado de Direito, espera-se que a 
geopolítica e, consequentemente a gestão territorial, empreendida por este 
Estado deve se pautar pelo bem estar coletivo e o interesse dos grupos que 
visem reproduzir este povo e seu bem-estar.  
Passemos, então, ao conceito fundamental com o qual trabalha a Geografia: o 
território. Egler (1995, p. 214) assim o aborda esta questão: 
 
O conceito de território é distinto de uma visão puramente 
espacial, como fazem os membros da “regional science” de 
fundamento neoclássico. O conceito de território pressupõe a 
existência das relações de poder, sejam elas definidas pelas 
relações jurídicas, políticas ou econômicas.  
 
Ou seja, o território, para a Geografia, não trata apenas de limites, mas 
também das características permanentes e mutáveis do espaço delimitado por 
este território. E, conforme o conhecimento de tais características seja a base 
                                                          
1
 Poder e território são dois termos fundamentais em Geopolítica. Do ponto de vista jurídico, em 
todas as sociedades, ambos estão estreitamente relacionados entre si, pois todo poder político 
oficial (seja de um Estado, de uma tribo ou de um município) possui seu próprio território, ou 
seja, uma extensão claramente delimitada sobre a qual se exerce sua autoridade ou – a 
princípio – sua soberania, onde normalmente é responsável pela ordem pública e cuja defesa 
pretende assegurar [...] (Tradução livre do autor). 
43 
 
 
 
da intervenção estatal, é fácil compreender a importância deste conceito para a 
Geopolítica e para a Geografia como um todo. 
Souza (1995, p. 81) completa que, “a bem da verdade, o território pode ser 
entendido também à escala nacional e em associação com o Estado como 
grande gestor [...]”. Ou seja, o território é entendido e estudado como substrato 
da ação de um Estado em específico. E, no caso deste trabalho, adotaremos 
os limites do Estado Brasileiro como referência. 
 
 
1.2 Geografia e transportes  
 
Se a Geografia sendo a ciência da guerra foi a verdade única por muito tempo, 
os conhecimentos territoriais hoje possuem um potencial enorme de serem 
internalizados por outras esferas da administração estatal – bem como de 
outros setores da sociedade civil – e podem servir de subsídio para 
intervenções no território que visem gerar mais qualidade de vida à população 
e menos impactos ambientais, por exemplo. E isto inclui os subsídios para o 
planejamento de transportes e, no sentido oposto, o potencial que os 
transportes têm como elementos estruturadores do espaço. 
Entendemos, aqui, como transporte o conjunto de redes físicas, métodos de 
operação para os fluxos de mercadoria e pessoas no território: ferrovias, 
rodovias, hidrovias, aerovias, portos, aeroportos, terminais. O conceito de 
transporte associa-se, ainda, à sua necessidade, que é baseada, notadamente, 
nas diferenças na distribuição espacial dos recursos; na especialização 
produtiva de algumas localidades/regiões; nas possibilidades de economia de 
escala; objetivos políticos e militares; relações culturais, sociais, residenciais. 
Segue o entendimento de Pons; Reynés (2004, p. 34): 
 
44 
 
 
 
[...] cuando se habla de “transporte” se alude a los 
desplazamientos de elementos materiales, mediante um 
sistema móvil soportado por uma infraestructura y, lo más 
importante, siguiendo um trayecto o ruta, esto es, de forma 
orientada desde um origen hacia um destino2. 
 
Diversos geopolíticos e geógrafos relacionam o conceito de território à função 
de transporte. O transporte é entendido como um dos elementos 
transformadores do espaço. A este respeito, destaca Miyamoto (1995):  
 
Everardo Backheuser, obviamente tratando da política nacional 
em termos territoriais, retrata, dentre outros, as grandes 
distancias como um problema à integração nacional, mas 
ressalva que, no entanto, era um “problema secundário, uma 
vez que os meios de transporte facilmente neutraliza (sic) essa 
desvantagem”.  
 
Ainda estudiosos da Geografia como Milton Santos e Roberto Lobato Corrêa 
destacam o papel das redes de transporte na estruturação do espaço 
brasileiro, notadamente na formação de sua rede urbana. A primazia das 
cidades litorâneas, que se desenvolveram antes devido a sua localização 
próxima ao mar, a principal via de comunicação com o restante do mundo. 
Apenas com o desenvolvimento de atividades econômicas e vias terrestres de 
suporte que centros interioranos começaram a se desenvolver. 
No mesmo sentido, o Banco Mundial (2010, p. 23; p. 37-38) entende que, de 
forma clara, o investimento em transportes promove, ainda que de forma não 
mensurável claramente, impactos de ordem territorial na medida em que 
engendra redução de distâncias e, consequentemente, ganhos de 
produtividade, redução de custos: 
 
                                                          
2
 [...] quando se fala de “transporte”, se faz alusão aos deslocamentos de elementos materiais, 
mediantes um sistema móvel suportado por uma infraestrutura e, o mais importante, seguindo 
um trajeto ou rota, isto é, de forma orientada desde uma origem até um destino. (Tradução livre 
do autor). 
 
45 
 
 
 
O Banco Mundial, em um estudo de 2010, afirma que “O setor 
de transportes é vital para o desenvolvimento econômico e 
social”. 
 
[...] os investimentos em infraestrutura de transporte provocam 
impactos nas economias regionais tanto no curto quanto no 
longo prazo, mas a dimensão dos ganhos de produtividade, a 
intensidade e sustentabilidade de crescimento da produção, e 
os avanços e melhorias da competitividade são de difícil 
mensuração. Tal fato muitas vezes reduz a capacidade de 
identificação e extrapolação de benefícios potenciais induzidos 
pela existência de uma infraestrutura de transportes de 
qualidade que contemple integração modal, redução de custos 
operacionais aos diferentes sistemas, menores tempos de 
viagem, acessibilidade às regiões produtivas, entre outros. 
 
Apesar de ser um consenso de que existe uma relação clara entre transportes 
e território, e que pareça óbvio que as redes de transportes sejam um indicador 
claro da organização territorial das atividades econômicas, na mesma linha do 
excerto do Banco Mundial Pons; Reynés ( 2004, p. 307), destacam que esta 
relação não é simples e clara:  
 
[...] los planificadores concluyen que, em efecto, las 
infraestructuras de transporte influyen em el desarrollo de um 
territorio o de um Estado, aunque siempre em función de 
diversos factores locales o estatales – de tipo medioambiental, 
historico, tecnológico, político, económico o demográfico –, 
como también de las complejas políticas internacionales)3. 
 
Um exemplo mais próximo que pode ser citado é o da Ferrovia Mogiana, que 
adentrou o Triângulo Mineiro entre o fim do século XIX e o início do Século XX.  
Apesar de cruzar diversas cidades, gerando “vantagens de transporte” e 
adensamento, foi em Uberlândia que os efeitos foram mais intensos. A elite 
local (fator político) tomou a iniciativa de construir estrada pedagiada para 
                                                          
3
 [...] os planejadores concluem que, de fato, as infraestruturas de transportes influem no 
desenvolvimento de um território ou de um Estado, ainda que sempre em função de diversos 
fatores locais ou estatais – de tipo ambiental, histórico, tecnológico, político, econômico ou 
demográfico –, como também das complexas políticas internacionais (Tradução livre do autor). 
46 
 
 
 
Goiás e, desta forma, passou a canalizar fluxos não atendidos pela ferrovia e a 
polarizar esta região.  
Em outras palavras, a nova infraestrutura, por si só, não seria capaz de gerar 
“desenvolvimento” e maiores alterações de ordem econômica e territorial não 
fosse a participação de uma elite local empreendedora, confirmando a tese de 
que transportes, por si só, não são suficientes para induzir o desenvolvimento, 
mas que são decisões que devem estar apoiados em um conjunto maior de 
ações. 
 
 
1.3 Sobre planejamento de transportes sob a ótica estatal 
 
Passemos do campo teórico para a visão estatal do planejamento de 
transportes. 
A Geografia dos Transportes é uma área que se pauta pela 
multidisciplinaridade. Necessita de conhecimentos de campos diversos, 
conforme assinalam Pons; Reynés (2004, p. 21): 
 
Grande es la diversidad de temas que estructuran actualmente 
el cuerpo teórico y metodológico de la Geografía del transporte, 
y ello se corresponde com uno de sus atributos más 
importantes, la multidisciplinariedad. Esto es, la utilización de 
conceptos, métodos y técnicas, a veces próprios de otras 
disciplinas como la economía, las matemáticas, la demografía 
o la planificación. Todos ellos aparecen em los diversos 
manuales de Geografía del Transporte al uso4. 
                                                          
4
Grande é a diversidade de temas que estruturam atualmente o corpo teórico e metodológico 
da Geografia do Transporte, e isto corresponde a um de seus atributos mais importantes, a 
multidisciplinaridade. Isto é, a utilização de conceitos, métodos e técnicas, por vezes próprios 
de outras disciplinas como a economia, a matemática, a demografia ou o planejamento. Todos 
eles aparecem nos diversos manuais de Geografia do Transporte em uso. (Tradução livre do 
autor). 
47 
 
 
 
 
No entanto, a utilização dos conhecimentos de outras áreas não deve significar 
que se deve utilizar seus métodos sem nenhuma reflexão. A Geografia deveria 
produzir uma reflexão diferenciada acerca dos fenômenos de transporte ao 
invés de meramente retrabalhar os modelos de pensamento trazidos de outros 
campos de conhecimento. 
No Brasil, particularmente, a Geografia pouco se debruça sobre o tema 
transporte, ao contrário de geógrafos de outros países, a exemplo daqueles 
dos países anglo-saxões.  
Para a Geografia brasileira, o transporte é visto primordialmente sob o ponto de 
vista dos seus impactos socioambientais. Pons; Reynés (2004) tratam sobre a 
produção espanhola neste ramo do conhecimento e, assim como no Brasil, 
possui uma produção escassa, notadamente aquelas voltadas aos métodos de 
Geografia dos Transportes de forma sistematizada com a consequente 
apropriação de obras e conceitos de outras áreas.  
Knowles; Shaw; Docherty; Iain (2008, p. 4-5), geógrafos do Reino Unido e dos 
Estados Unidos da América que se dedicam aos estudos dos transportes, 
destacam que 
 
There are two aspects of the nexus between transport and 
geography that have traditionally attracted study. One is 
geography of transports systems themselves. These occupy a 
large amount of space, their form, layout and extent being 
determined by a range of factors such topography (mountains, 
rivers, etc.), economic conditions, technological capability, 
sociopolitical situations and spatial distribution of places they 
link together. […] the impact of transport is the second 
traditional area of study for transport geographers. A core 
interest of many geographers is explaining the location of 
phenomena over time and across space, and transport is one of 
the most powerful factors affecting and explaining the 
distribution of social and economic activity5. 
                                                          
5
Há dois aspectos da relação entre transporte e geografia que tradicionalmente atrai estudo. 
Uma é a geografia dos próprios sistemas transportes. Estes ocupam uma grande quantidade 
de espaço, a sua forma, distribuição e extensão sendo determinado por uma série de fatores 
como a topografia (montanhas, rios etc.), condições econômicas, capacidade tecnológica, as 
48 
 
 
 
 
Aqui se percebe como a Geografia anglo-saxônica demonstra ser mais 
abrangente nos estudos de transportes e que a Geografia brasileira, que 
parece focar muito mais em estudar seus impactos do que na estruturação dos 
sistemas em si. Destaca-se, também, a visão de que Transportes e o uso do 
solo – que se pode considerar um atributo do território – mantêm uma relação 
biunívoca, ou seja, de codependência: um gera impactos sobre o outro e colhe 
os impactos derivados do outro. 
Uma impressão que tem se firmado, como alternativa à visão mais comum 
hodiernamente, é a de que o discurso geral da sociedade tem tido um viés um 
tanto economicista. Ou seja, a economia parece ter deixado de ser um meio 
para atingir determinados objetivos de uma sociedade, passando a ser a 
finalidade do conjunto de sociedades.  
Analisando a questão do desenvolvimento econômico, Sequinel (2000) 
considera que a atividade e o crescimento econômicos não devem ser 
entendidos como uma finalidade em si, mas como um meio para conseguir 
uma melhor qualidade de vida para toda a sociedade.  
Ainda sobre essa questão, Milton Santos (2000 p. 14; 15) assim entendia:  
 
Por exemplo, em dado momento falava-se das finanças e se 
imaginava – isso há poucos anos – que as finanças não eram a 
economia real. Será que não o são? Hoje, o que se diz é que 
tudo depende das finanças. Se estas forem mal, nada mais é 
possível. Nem falar, portanto, em bem-estar social, cidadania, 
solidariedade... Será que é mesmo assim? Será o dinheiro a 
única razão admissível? 
Há duas coisas. Uma é que o raciocínio a partir do financeiro, 
que está nos comandando, às vezes nos induz a esquecer a 
sociedade. 
                                                                                                                                                                          
situações sociopolíticas e distribuição espacial dos lugares que interligam. [...] O impacto dos 
transportes é a segunda área tradicional de estudo para os geógrafos de transporte. Um 
interesse destacado de muitos geógrafos está em explicar a localização dos fenômenos no 
tempo e no espaço, e o transporte é um dos fatores mais importantes que afetam e explicam a 
distribuição das atividades econômicas e sociais. (Tradução livre do autor). 
49 
 
 
 
 
Esta impressão demonstra sinergia com os modelos atuais adotados no Brasil 
como padrão para decisão de investimentos em transportes que, em linhas 
gerais, projeta/prevê uma tendência atual para o futuro, avaliando e 
ponderando os custos e benefícios de realizar ou não um investimento. 
Dois problemas se vislumbram neste modelo: o primeiro é que se trata de uma 
análise limitada, pois a maioria dos fatores que poderiam influenciar uma 
decisão de investimento não é monetizável e, por conseguinte, não são 
passíveis de entrarem na análise econômico-financeira comumente adotada. O 
segundo fator é que, em geral, se projeta as demandas passadas para o futuro. 
Deste modo, projeta-se o futuro como uma continuidade das tendências do 
passado, tornando difícil a análise de projetos que tenham potencial de ou que 
representem rupturas com as tendências vigentes. 
Serpa (2011) analisa a visão atualmente predominante, tecendo críticas à 
equiparação das decisões macroeconômicas (lógica estratégica, abrangente) 
às microeconômicas (lógica individual, de investimentos pessoais e de 
empresas). Na visão microeconômica, o investidor considera um cenário que 
não pode mudar para tomar suas decisões; já pela ótica macroeconômica, o 
Estado é o grande agente transformador. Ou seja, não deveria se equiparar o 
formato de decisão de um Estado Nacional, capaz de construir e alterar 
cenários, às decisões de uma família ou de uma empresa. 
A este respeito o autor reflete: 
 
Tais premissas são então convenientemente encapsuladas 
pela matematização axiomática de Fisher, permitindo a 
reificação da falácia de que a soma de decisões individuais é 
igual a uma decisão estratégica coletiva, cujo paroxismo é 
subordinar decisões de planejamento estratégico do estado a 
um modelo de decisão individual, com três implicações na 
formatação das políticas econômicas. [...] Primeiro, a 
estagnação do poder transformador do estado. Como as 
decisões macroeconômicas recebem um tratamento 
microeconômico, elas se tornam auto-referenciais e, portanto, 
um fim em si mesmas. Ou seja, se o estado passa a ser um 
investidor individual, um trem de velocidade só faz sentido se 
50 
 
 
 
gerar lucro para o estado. São, portanto, decisões auto-
referenciais, sem importância transformadora nos demais 
fatores da economia e, sobretudo, da sociedade (SERPA, 
2011, p. 4). 
 
E, ainda: 
 
Neste sentido, projetos que visam alterar a perspectiva 
presente precisam ser pautados pelo que se pretende alcançar 
no futuro, não podendo ser extensão decisória do ciclo 
econômico anterior (SERPA, 2011, p. 10). 
 
Teria o Estado brasileiro perdido a capacidade de gestar um futuro nacional por 
meio de um ordenamento territorial e que considere os transportes como ponto 
relevante? A avaliação de investimentos, como feita nos moldes atuais, parece 
demonstrar que o setor de transportes – para não dizer o setor público como 
um todo – vê-se em um círculo vicioso no qual o investimento só se torna viável 
onde já existe movimentação expressiva.  
Desse modo, se há movimento, há investimento, o que estimula mais 
movimento – o que pode culminar na saturação. Para os locais ermos, não 
detentores de tal movimentação, o círculo vicioso é o da estagnação, pois sem 
movimento, não existe – perante a lógica vigente – condições para 
investimento, perpetuando a condição de local afastado. 
Modernamente, além da variável econômica, alguns itens foram acrescidos à 
avaliação de investimentos. A mais destacada é a questão ambiental. Julgo 
que o avanço da consideração destes fatores na decisão de investimento se dê 
prioritariamente pela crescente pressão internacional – manifestada nos 
compromissos internacionais firmados – do que em uma preocupação real com 
a manutenção de um ambiente mais equilibrado. 
Somente a partir da década de 1970 é que foram incorporadas outras variáveis 
ambientais nos projetos, com o início da utilização de recursos computacionais 
para decisão entre traçados. Porém, ainda que se incluam cada vez mais as 
51 
 
 
 
variáveis ambientais nos processos de decisão entre traçados de rodovias, as 
variáveis econômicas (taxa interna de retorno) e de fluidez do tráfego têm 
maior peso (LISBOA, 2002) – veja-se a Figura 1.1. 
 
 
Figura 1.1: Modelo de decisão baseado puramente na viabilidade econômica – um círculo 
vicioso.  
Org.: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
Naturalmente, os aspectos ambientais são relevantes; porém, os atritos 
verificados entre os órgãos de planejamento de transportes e aqueles 
responsáveis pela gestão ambiental parecem demonstrar que a interação entre 
eles não é balizada pelos mesmos interesses. Parece não haver um ponto de 
encontro, um objetivo comum que direcione a atuação das duas partes. Se, por 
um lado, existe a visão economicista do setor transporte, por outro há a ideia 
da preservação pela preservação, sem uma reflexão mais aprofundada sobre a 
necessidade e um orquestramento entre os diversos setores no sentido de um 
desenvolvimento nacional mais equilibrado. 
Santos (2000, p. 18; 20) discorre em dois momentos sobre o tema, em um dos 
quais confere à “natureza” seu valor no processo histórico e, no seguinte, de 
como visualiza a “preservação pela preservação”: 
52 
 
 
 
 
Na realidade, a natureza, hoje, é um valor, ela não é natural no 
processo histórico. Ela pode ser natureza na sua existência 
isolada, mas, no processo histórico, ela é social. 
Mas a preservação não pode ganhar um aspecto religioso, e 
desse modo prescindir de discussão. O fato é que os agravos à 
natureza são, sobretudo, originários do modelo de civilização 
que adotamos. [...] Não podemos nos esquecer de que certa 
pregação ecologista-naturalista acaba por encobrir o processo 
de produção da globalização perversa. Por isso, os 
propagandistas-pregadores são largamente financiados pelos 
que lucram com essa globalização. 
 
Decisões de investimento em transportes, baseadas apenas no retorno de 
investimento ou considerando minimamente as determinações legais relativas 
à proteção ambiental, estão fadadas a perpetuar a situação vigente, 
possibilitando muito pouco em termos de invocação. As soluções passam, 
naturalmente, pelo orquestramento das políticas públicas em torno de um 
objetivo comum, subvertendo as lógicas economicista e preservacionista puras. 
Afinal, 
 
Sob o aspecto cultural, é preciso repensar a hierarquia 
decisória que domina o pensamento econômico brasileiro. Tal 
hierarquia situa a viabilidade econômico-financeira em primeiro 
plano, a perspectiva social em segundo e coloca as 
implicações societais das decisões de estado em terceiro plano 
(SERPA, 2011, p. 18-19). 
 
 
 
1.4 Transportes como elemento geopolítico de ação estatal 
 
Antes de tratar dos aspectos de uma gestão integrada entre território e 
transportes, cabe destacar o estudo que serviu de fundamento e motivação 
53 
 
 
 
para este projeto: o Estudo da Dimensão Territorial para o Planejamento, do 
Governo Federal do Brasil. 
Após um longo período sem nenhuma política relevante do Estado no sentido 
da gestão territorial, notadamente se levando em consideração a rede urbana e 
os transportes, emerge um novo esboço que pode representar uma mudança 
nesta realidade. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2006a), 
associado a outros órgãos, propõe a inclusão da dimensão territorial nos 
objetivos e ações da sociedade e do governo. O estudo, que teve por objetivo 
primeiro subsidiar a incorporação da questão territorial já no Plano Plurianual 
2008-2011, visa também um horizonte mais amplo, pensando o país para os 
próximos 20 anos. 
Este programa, denominado “Brasil Policêntrico”, realiza, atualmente, um 
diagnóstico que pretende subsidiar a definição do Brasil do futuro, levando-se 
em consideração os sistemas de logística, os sistemas de ciência (técnica), o 
padrão de oferta de bens e serviços e, por fim, a rede de cidades. Este “Brasil 
do futuro” que se pretende deve levar em conta, segundo Mendes (2008), sete 
grandes objetivos:  
 
 superação das desigualdades sociais e regionais; 
ï‚§ fortalecimento da unidade social e territorial;  
 promoção das potencialidades de desenvolvimento; 
 valorização da inovação e diversidade cultural da 
população; 
 promoção do uso racional dos recursos naturais;  
 apoio à integração sul-americana; e 
 apoio à inserção autônoma competitiva no mundo 
globalizado. 
 
Naturalmente contando, para isso, com o suporte das infraestruturas de 
transportes, sem as quais isso tudo seria impossível. 
54 
 
 
 
O estudo “Brasil Policêntrico”, visando os objetivos supracitados, baseia-se na 
rede urbana, que deve ser descentralizada, elegendo-se novos pólos para 
representar papéis metropolitanos e intermediários, nas áreas afastadas da 
costa. Porém, isto só é possível dando-se a devida atenção ao sistema 
logístico, que serviria de apoio à nova rede urbana. 
A construção de um Brasil Policêntrico abrange a proposta de uma nova 
configuração do território, que remete às escolhas dos núcleos urbanos 
capazes de atrair forças sociais na direção de uma maior interiorização e 
equalização do desenvolvimento nacional. Esses núcleos assumem maior 
responsabilidade na condução das estratégias territoriais (MENDES, 2008). 
Resumidamente, este plano resgata uma visão de planejamento integrada, na 
qual o ente que serve como ponto focal das políticas é o território. Porém, ao 
se tratar de um resgate, há de se supor de que é algo que já ocorreu e que não 
tem ocorrido mais.  
Conforme já discutido, o território é o foco clássico da política do Estado: 
fornece as informações que subsidiam as ações e, ao mesmo tempo, é o foco 
das ações. A política estatal manifesta os interesses do Estado no território, 
com vistas a direcionar investimentos, e isto se verifica tanto em regimes 
democráticos quanto ditatoriais, com ideologias de esquerda e direita. 
Egler (1995) relembra o caso da Tennessee Valey Authority – TVA, após a 
crise de 1929, cujo objetivo era articular a atuação das agências 
governamentais para um objetivo comum. E o ponto de encontro de tais 
políticas era o território. 
Voltando ao caso brasileiro, em outros momentos o Estado buscou unir 
esforços, ligando o conhecimento do território, um desejo de se mudar a ordem 
territorial e utilizando a rede urbana e a rede de transportes como elementos de 
transformação. Tomemos, por exemplo, a colonização do Norte Paranaense, 
que teve como eixo central uma ferrovia e núcleos urbanos planejados ao seu 
redor; ou da ocupação de Rondônia, baseada no eixo da BR-364; ou, ainda, a 
55 
 
 
 
intensificação da ocupação do Cerrado brasileiro, que teve como ponto de 
partida a construção de Brasília e de suas rodovias de acesso. 
Sobre a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, entre São Paulo e 
o Mato Grosso do Sul, no século XX (HUERTAS, 2009, p. 51), em sua análise, 
demonstra as claras intenções territoriais do empreendimento e afirma: 
 
[...] a EFNOB, uma “flecha lançada para o oeste”, nasceu 
essencialmente como uma estrada de penetração para 
organizar a defesa de fronteiras remotas, promover o 
povoamento e a colonização de terras quase desertas e dirigir-
se a um ponto no rio Paraguai adequado a encaminhar para o 
Brasil o comércio do sudeste boliviano e norte paraguaio. 
 
Discursos de meados do século XX ilustram como estava impregnada no 
imaginário da época a necessidade de descentralizar o país, promover a 
ocupação do solo, notadamente por meio dos transportes e da rede urbana 
(excertos de COUTO, 2001, p. 47; 182): 
 
O vosso planalto é o miradouro do Brasil. Torna imperioso 
localizar no centro geográfico do país forças capazes de 
irradiar e garantir a nossa expansão futura. [discurso de Getúlio 
Vargas em visita a Goiânia, em 7 de agosto de 1940, na 
ocasião do lançamento da “Cruzada rumo ao Oeste”]. 
Deste Planalto central, Brasília estende hoje aos quatro ventos 
as estradas da definitiva integração nacional: Belém, Fortaleza, 
Porto Alegre e, dentro em breve, o Acre. E por onde passam as 
rodovias, vão nascendo os povoados, vão ressuscitando as 
cidades mortas, vai circulando, vigorosa, a seiva do 
crescimento nacional. [Juscelino Kubitscheck, na inauguração 
de Brasília, lembrando o papel de integração nacional da 
construção de Brasília e das rodovias que lhe davam acesso]. 
 
Além destes casos brasileiros, podemos salientar casos de outros países, nos 
quais decisões de transporte guardaram profunda dependência com os 
56 
 
 
 
objetivos de organização territorial. Serpa (2011, p. 5-6) destaca casos 
espanhol, francês, alemão, estadunidense e japonês: 
 
 
O projeto ferroviário alemão inicia-se no século XIX, como pivô 
tecnológico da geoestratégia de unificação alemã, estritamente 
submetida ao controle do governo alemão [...]. Quase na 
mesma época, o projeto que embasa o sistema ferroviário 
americano emerge como uma referência importante do conflito 
de secessão, defendido pelo norte industrial como um projeto 
industrial de estado, fundamental para a integração do território 
americano e, não por acaso, combatido pelo Sul agrícola e 
secessionista como uma fonte de “gastos inúteis do governo”. 
No século XX, a Europa adota o trem de velocidade como 
ferramenta de integração territorial, alterando a relação espaço-
tempo entre Alemanha, França e o Benelux. É emblemático o 
fato de que o projeto ferroviário de velocidade espanhol dos 
anos 90 marca em termos práticos a entrada da Espanha na 
Comunidade Européia, quase todo ele financiado com fundos 
públicos desta Comunidade, acoplados a uma abrangente e 
minuciosa política industrial ferroviária, integrando as bases 
industriais da França, Alemanha e Espanha. 
Quanto ao Japão, o projeto ferroviário nacional emerge como 
única alternativa de ferramenta geopolítica para o seu 
complexo ordenamento territorial, contemplando a já 
consolidada tradição japonesa de integração entre políticas 
industriais e geopolítica de estado.  
Em nenhum destes casos estes projetos apresentavam 
viabilidade econômico-financeira intrínseca e, em todos eles, o 
papel do estado como investidor direto se fez presente no 
planejamento e definição dos objetivos geoestratégicos e 
industriais, sendo sempre direcionados, de acordo com as 
possibilidades e características de cada país, às políticas 
industriais nacionais.  
Como síntese, constata-se que um projeto ferroviário nacional 
não visualiza transportar pessoas de um lugar pré-existente a 
outro, mas sim de um lugar a existir para outro lugar a existir 
em função do ordenamento territorial a ser gerado dentro de 
uma perspectiva geopolítica nacional. (p. 5-6) 
 
Ainda sobre o caso norte-americano, Huertas (2011, p. 315) afirma que: 
57 
 
 
 
 
[...] ao longo da segunda metade do século XIX, demonstrou 
um eficaz e prévio planejamento estatal do território, embora a 
‘marcha para o oeste’ tivesse sido espontânea por parte dos 
pioneiros. A infraestrutura foi bancada pelo Estado e a 
expansão ocorreu em nível exponencial, com reinversão 
constante de capital por causa das oportunidades visíveis 
criadas, sobretudo para os setores de transporte, petroquímico 
e siderúrgico. 
 
Um parêntese sobre a atuação dos Estados Unidos e que merece comparação 
com o caso brasileiro é a disponibilidade de extensas áreas de solos férteis e 
planos – propícios à agricultura mecanizada com políticas de colonização e 
distribuição de terras a migrantes (LACOSTE, 2009). 
Huertas (2011, p. 352) ainda afirma que, “na China, a infraestrutura é encarada 
como a essência do desenvolvimento, cujos investimentos são programados 
para incentivar as cadeias produtivas internas do país”. 
Fica patente, tanto na literatura geopolítica quanto na ação dos Estados 
Modernos, a forte correlação entre transporte e desenvolvimento territorial, 
tanto nos discursos, quanto nas interpretações da história do desenvolvimento 
nacional. Brasileiro et al.(2001, p. 1) destaca que  “[...] pontes devem ser 
colocadas entre a história dos transportes e a história política, econômica e 
social mais abrangente, sobretudo no que concerne ao desenvolvimento 
espacial da sociedade”. 
E isto é ainda mais forte hodiernamente e 
 
No es de estrañarmos, pues que em las sociedades 
modernas, inmersas em um proceso de expansión de las 
empresas multinacionales, de globalización del mercado, 
de división internacional del trabajo y en las que se 
generalizan los desplazamientos por el ocio, el transporte 
58 
 
 
 
resulte ser uno de sus elementos clave (PONS; REYNÉS, 
2004, p.34)6. 
 
Conforme, ainda, o Banco Mundial (2010, p. 39), 
 
 
No âmbito dos países ou regiões, portanto, decisões a respeito 
de investimentos em infraestrutura de transportes estão 
estreitamente associadas à questão de desenvolvimento 
nacional ou regional. Para tanto, é importante que existam 
mecanismos que possibilitem aos governos e tomadores de 
decisão estabelecer prioridades entre alternativas de ação. 
 
No entanto, o Estado Brasileiro parece, nas últimas décadas, ignorar a noção 
de território como fonte de informação, como ponto integrador de políticas e 
como foco da ação estatal. Este foco passa para o atendimento de problemas 
específicos, por meio de ações pontuais e políticas desagregadas.  
Egler (1995, p. 224) atribui à 
 
 
[...] redução do ritmo de crescimento das economias nacionais 
[...] levaram a uma perda de capacidade extrativa do Estado 
[...]. Como conseqüência, [...] houve um crescimento 
desproporcional dos encargos sociais a um limite que 
inviabiliza qualquer política territorial de distribuição de renda 
com base nos instrumentos fiscais clássicos [...]. 
 
Embora os estudiosos pareçam já ter internalizado esta questão, ainda que de 
forma incompleta, o setor público – volto a destacar que aqui se trata do setor 
                                                          
6
 Não é de se estranhar, pois, que nas sociedades modernas, imersas em um processo de 
expansão das empresas multinacionais, de globalização do mercado, de divisão internacional 
do trabalho e nas quais se generaliza os deslocamentos por ócio/ lazer, o transporte se 
manifeste como um de seus elementos-chave. (Tradução livre do autor). 
59 
 
 
 
público brasileiro – ainda parece pouco ligado a esta visão. Exceções que 
merecem destaque são algumas intervenções e plano, notadamente na escala 
urbana, metropolitana e microrregional que consideram estes aspectos. Na 
escala nacional, apenas o “Brasil Policêntrico” merece destaque na atualidade, 
restando no passado as visões mais integradas de planejamento. 
E há de se ter expectativa em relação a este resgate: 
 
Mesmo tendo modificado seu sentido de atuação, o fim do 
Estado reivindicado pelos movimentos de esquerda ou o 
Estado Mínimo propagado pelas teorias liberalizantes ainda 
parece distante. Se, por um lado, a globalização e suas 
flexibilidades parecem enfraquecer o Estado, por outro ele se 
reforça, como demonstram os estudos atuais para a União 
Européia, onde o Estado assumiu importante papel de 
regulação, articulação e integração de regiões menos 
favorecidas (CARGNIN, 2007, p. 2-3). 
 
Este autor destaca a atual retomada da dimensão territorial no planejamento 
estatal brasileiro, sento utilizado como instrumento intersetorial e de 
governança interinstitucional, tendo como objetivo primeiro a integração de 
territórios à margem do desenvolvimento. Cargnin cita os estudos da dimensão 
territorial para o planejamento que têm sido elaborados no Rio Grande do Sul, 
Bahia, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais, Pará, além do trabalho já 
citado em nível nacional. 
Os trabalhos desenvolvidos no âmbito da União Europeia parecem incentivar 
as ações em outros países. Lá se mantêm um conjunto de estatísticas que 
permite avaliar o impacto territorial das intervenções e são comuns políticas de 
implantação de infraestrutura de transportes como elemento de dinamização de 
áreas deprimidas: 
 
[...] embora os centros de decisão permaneçam fortemente 
centralizados nas cidades mundiais, as atividades produtivas 
podem ser desconcentradas desde que hajam conexões fáceis 
entre as unidades produtivas e os centros de gestão e exista a 
60 
 
 
 
disponibilidade de trabalho qualificado com base técnica às 
operações industriais. (EGLER, 1995, p. 225). 
 
Sobre os planos comumente implantados na União Europeia, Pons; Reynés 
(2004) destacam dois tipos. O primeiro refere-se aos planos territoriais gerais 
que orientam os planos setoriais, incluindo os de transportes. Estes são os 
mais comumente utilizados. No entanto, ultimamente tem surgido uma nova 
forma, na qual os planos setoriais se articulam em torno dos objetivos comuns. 
No caso dos países em desenvolvimento, como é o caso verificado no Brasil, o 
investimento em transporte tem se dado, preferencialmente, na resolução de 
gargalos nos principais corredores de exportação. Um exemplo recente é o 
Programa de Aceleração do Crescimento, gerido pelo Governo Brasileiro, que 
tem como meta gerenciar obras prioritárias em infraestrutura de transportes, 
urbanismo e eletricidade, mas com foco nos gargalos já existentes. O que se 
mostra necessário é que se supere a visão de solução de gargalos e se parta 
para intervenções que demonstrem uma intencionalidade em relação à 
organização territorial do espaço brasileiro. 
Em Pons; Reynés (2004) encontra-se a discussão sobre a necessidade de o 
planejamento de transportes estar associado a políticas integradas de 
desenvolvimento territorial. Isto superaria os casos de estrutura 
superdimensionada, na qual os custos são elevados, ampliando os problemas 
ligados ao endividamento, superando os possíveis ganhos do desenvolvimento; 
e os casos de estrutura subdimensionada, nos quais os gargalos ampliariam os 
custos de transporte, proporcionando menor eficiência, menor circulação, 
convertendo-se em empecilhos ao desenvolvimento. 
 
 
 
 
61 
 
 
 
 
 
1.5 A questão das escalas 
 
Quando se trata de planejamento e de transportes, não se pode deixar de 
abordar a escala. A atuação do Estado e suas entidades vinculadas se dá 
segundo escalas variadas. No Brasil, por exemplo, há as jurisdições federal, 
estadual e municipal. Para a atuação dos diversos órgãos há, ainda, diversas 
regionalizações nem sempre coincidentes com os limites oficiais. 
Fala-se em escala, ainda, ao planejar ou estudar uma infraestrutura de 
relevância/impacto nacional, mas que tem parte de decisões importantes 
realizadas em nível local, por exemplo. 
Lacoste (1988) destaca a necessidade de proposição de escala adequada para 
cada nível de estudo, tanto na produção de conhecimento quanto para a ação 
em si – questão das ordens de grandeza – do planetário ao local. Para cada 
ação, para cada objetivo é necessário observar a escala mais adequada. O 
autor faz um paralelo entre os níveis de ação das forças armadas – estratégico, 
tático e operacional – com a questão da escala. Cada nível de ação 
corresponde a uma escala espacial. 
Lacoste (2009) sugere seis níveis de grandeza (escalas): 
 
 Primeira grandeza: dezenas de milhares de quilômetros, 
vastas zonas do globo (1:25 milhões, aproximadamente); 
 Segunda grandeza: conjuntos de milhares de quilômetros, 
grandes nações, continentes, Andes; 
 Terceira grandeza: centenas de quilômetros: nações 
médias, subdivisões das nações grandes, Alpes, Grandes 
bacias hidrográficas; 
62 
 
 
 
 Quarta grandeza: dezenas de quilômetros, aglomerações 
urbanas, algumas regiões europeias; 
 Quinta grandeza: quilômetros, cidades, pequenas formas 
de relevo (1:50.000); 
ï‚§ Sexta grandeza: centenas de metros, bairros, povoados, 
ilhotas (1:5.000). 
 
No entanto, é preciso destacar que cada vez mais são necessárias as 
abordagens multiescalares, tendo em vista que “é também muito difícil passar 
de um plano de operação visto em nível nacional a sua execução no terreno, 
isto é, a nível local [...]” (LACOSTE, 1988, p. 90). 
Um exemplo que ilustra a questão é o adensamento urbano nas margens de 
um grande eixo rodoviário nacional, no qual o tráfego local e o de longo curso 
convivem, causando problemas tanto no tráfego local quanto no tráfego de 
longo curso. Obviamente, se trata de um problema de ordem local que, no 
entanto, possui repercussão no tempo de viagem e na capacidade de uma via 
de importância nacional. 
Lacoste (2009, p. 13) propõe para estudos que necessitam abordagens 
multiescalares a adoção do diatopo que se refere 
 
[...] al tipo de representación formada por la superposición 
esquemática de diferentes planos que “muestram” em la parte 
superior de la página lo que se podría ver o imaginar desde um 
satélite de observación terrestre, para llegar a uma visión  a 
relativamente baja altitud, em la parte inferior de la página, 
passando por niveles de observación intermédios. Este nuevo 
término de “diatopo” se há creado a partir Del vocablo grego 
topos, que significa “lugar”. El prefijo dia – que no significa sólo 
“separación - distinción”, sino también “a través” – designa la 
distinción de los diferentes niveles de análisis espacial, 
representados por los diferentes planos, y su articulación7. 
                                                          
7
 [...] ao tipo de representação formada pela superposição esquemática de diferentes planos 
que “mostram” na parte superior da página o que se poderia ver ou imaginar a partir de um 
satélite de observação terrestre, para chegar a uma visão a relativamente baixa altitude, na 
parte inferior da página, passando por níveis de observação intermediários. Este novo termo de 
“diatopo” foi criado a partir do vocábulo grego topos, que significa “lugar”. O prefixo dia – que 
63 
 
 
 
 
Trata-se de uma superação da visão tradicional em Geografia, de fazer 
análises centradas em uma única escala. Tal visão tradicional, tanto da 
Geografia – quando a tratamos em termos acadêmicos – quanto da visão da 
ação estatal, leva em consideração os recortes espaciais institucionalizados: os 
limites nacionais, as grandes regiões, os estados, as microrregiões e 
mesorregiões, os municípios. No entanto, exceto pela soberania que cada 
unidade dessas (parte dessas categorias, na verdade) apresenta, os 
fenômenos não respeitam tais limites. 
Obviamente, há estudos que superam tais limites, como, por exemplo, os 
estudos de rede urbana, de zonas de influência de cidades e até mesmo 
estudos de transportes. 
Embora haja dificuldades de entendimento de fenômenos que suplantam estes 
limites, ainda há quem os investigue. A grande dificuldade, porém, parece ser 
compreender os fenômenos que interferem nessas múltiplas escalas. Castro 
(2010, p. 54) assim entende a questão: 
 
A perspectiva das escalas dos fenômenos permite então 
organizar o campo da geografia política, ampliando seu escopo 
pela incorporação das escalas local, urbana e regional, além da 
internacional. [...] Neste sentido, a geografia política não pode 
prescindir de nenhuma destas escalas, porque elas ainda 
definem recortes de pertinência da medida das ações 
institucionais que produzem escalas dos fenômenos políticos. 
Mesmo se estes fenômenos se reproduzem em mais de uma 
escala, consideração de cada uma e a articulação entre elas é 
necessária. 
 
A autora segue sua análise tratando da forma como a crescente mundialização 
da economia traz à tona o problema da escala: 
                                                                                                                                                                          
não significa somente “separação – distinção”, mas também “por meio de” – designa a 
distinção dos diferentes níveis de análise espacial, representados pelos diferentes planos e sua 
articulação. (Tradução livre do autor). 
64 
 
 
 
 
Tomando a escala dos fenômenos políticos como problema, ao 
contrário da geografia política clássica, surgida dos marcos da 
escala territorial dos Estados nacionais e nas disputas entre 
eles, nas últimas décadas do século XX a disciplina precisou 
responder ao desafio dos fenômenos em escalas múltiplas. 
[...] a complexidade do processo de globalização reside 
justamente na articulação entre as múltiplas escalas de 
ocorrência dos fenômenos políticos, nem sempre sincrônicos, e 
o modo com que cada um reflete em escalas territoriais 
diferenciadas (CASTRO, 2010, p. 80-81; 83). 
 
Se na academia a compreensão de fenômenos transescalares não é fácil, em 
termos de Estado, também não existe grande facilidade. 
Um item relevante a se considerar é o modelo de organização do Estado 
Nacional: se um estado federal, como os Estados Unidos ou o Brasil, ou um 
estado unitário, como a França ou o Chile. Ressalto, entretanto, que pode 
haver diferentes graus de centralização ou descentralização – podemos definir, 
ainda, como graus de unitarismo ou federalismo, nos termos de Castro – que 
variam de caso para caso, de acordo com o momento histórico vivido. 
No caso brasileiro, o federalismo encontra-se definido pela nossa última 
Constituição Federal, com poder partilhado entre União, Estados e Municípios: 
 
Porém, ao contrário do que acontece na federação americana, 
onde as atribuições federais são limitadas basicamente à 
segurança, à defesa, moeda e relações internacionais, no 
Brasil os limites da legislação sobre as atribuições federais são 
extremamente abrangentes, e as atribuições das escalas 
estadual e municipal são estabelecidas como exceção ao que 
não é responsabilidade da união (CASTRO, 2010, p. 133). 
 
O caso sui generis da Constituição Federal Brasileira de 1988 de conceder ao 
município o status de ente federado vem ao encontro do seu viés localista, 
fazendo com que o município adquira importância geopolítica, o que guarda 
65 
 
 
 
profunda relação com a visão de que um controle centralizado seria um ranço 
do período autoritário imediatamente anterior à Constituinte. 
Um ponto de destaque é que, apesar da descentralização do poder, não houve 
uma descentralização dos recursos financeiros. Embora o poder de decisão 
esteja mais pulverizado, o poder de investir segue concentrado. Enquanto o 
município ganha poder sem ter recursos materiais para tal, a União permanece 
com capacidade de investimento enquanto, paulatinamente, perde o foco em 
planejar. 
Problemas que suplantam limites de unidades federadas – estados e 
municípios – ou aqueles que exigem articulação entre tais unidades e entre 
níveis da federação parecem, à exceção de poucos casos, difícil solução, pois 
as instituições brasileiras parecem conseguir se articular adequadamente: 
 
Uma primeira articulação desejável relaciona os níveis de 
governo: União, estados e municípios. As ações concorrentes 
em muitas matérias, preconizada por princípios constitucionais, 
devem buscar a complementaridade, orientando-se por fins 
comuns. A essa se soma a articulação entre os poderes e os 
setores governamentais em cada nível, visando ultrapassar a 
situação paradoxal vigente na qual o Estado é, ao mesmo 
tempo, o guardião da qualidade ambiental e o agente produtor 
dos maiores impactos negativos sobre o meio ambiente 
(MORAES, 2011, p. 151). 
 
A articulação interinstitucional, interfederativa (entre entes federados de mesmo 
nível) e multifederativa (entre entes federados de níveis variados), que poderia 
ser um meio para soluções que interessam à coletividade, parece ter sido 
substituída por uma “guerra dos lugares”, fazendo com que cada unidade 
autônoma ou aglomerado de unidades autônomas “briguem” por investimentos, 
por meio de influência na busca por investimento público em infraestrutura, por 
meio de incentivos fiscais, o que faz com que a discussão federativa se resuma 
à discussão de questões fiscais. Porém, conforme avalia Santos (2000, p. 24),  
 
66 
 
 
 
[...] a discussão e sobre o conteúdo do território, algo que é 
dinâmico e inclui toda a vida socioeconômica (não apenas o 
dado fiscal) e deveria ser a base da produção de uma outra 
política. O problema é que o modelo atual não funciona em sua 
base, que é o território. A questão dos estados e municípios é, 
apenas, um sintoma. 
 
Ou, ainda, como afirma Moraes (2001, p. 152), 
 
A mais difícil articulação é aquela que envolve a relação do 
Estado com a sociedade civil. Para funcionar adequadamente 
esse relacionamento exige um determinado grau de 
democratização do aparelho estatal e uma cultura democrática 
também enraizada nas práticas sociais (MORAES, 2011, p. 
152). 
 
Porém, “em países como o Brasil, a comunidade participa muito pouco e de 
forma muito restrita dos processos de decisão pública” (SILVA JÚNIOR, 2006, 
p. 19). 
Como um contraponto ao caso brasileiro, podemos apresentar o caso europeu. 
Embora não se trate de um Estado-Nação, e sim de um aglomerado de 
Estados Nacionais com objetivos comuns, parece trazer lições relevantes ao 
Brasil. O Brasil se configura como uma nação diversa culturalmente –
economicamente e espacialmente diversa. Da mesma forma, é a União 
Europeia que apresenta elevada diversidade econômica e de graus de 
desenvolvimento. Umas das diretrizes fundamentais desta união entre os 
países – construída ao longo de algumas décadas – é a busca por equilíbrio 
territorial da distribuição do crescimento econômico. 
Na União Europeia, tem-se a visão de que as grandes decisões passam pelo 
ordenamento territorial e de que os fatores de decisão e os impactos da 
implantação de grandes obras superam os limites oficiais das unidades 
administrativas. Vale destacar o documento da Comissão Europeia (1999, p. 7; 
8-9): 
67 
 
 
 
 
[...] os projetos realizados a nível regional, nacional ou 
comunitário em determinado Estado-membro podem ter 
repercussão consideráveis na estrutura territorial e urbana de 
outros Estados-membros.  
Futuramente, os problemas do desenvolvimento territorial no 
seio da UE não poderão ser resolvidos sem a cooperação dos 
diferentes níveis políticos e administrativos.  
 
Cabe examinar, porém, se a interação entre as instituições europeias e aquelas 
de seus Estados-membros se dá de modo adequado ou fica apenas no plano 
da intenção política. Isto será devidamente investigado e abordado no Capítulo 
4. 
  
68 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
TERRITÓRIO E TRANSPORTES NA FORMAÇÃO 
SOCIOESPACIAL BRASILEIRA 
 
 
 
Antônio Carlos Robert de Moraes (2011), da Universidade de São Paulo, define 
a importância da Geografia Histórica no fato de, com base de elementos 
captados no passado, produzir explicações das territorialidades – e, por que 
não territórios – contemporâneos.  Se entendermos os eixos de transporte, e 
seu planejamento, como elementos territoriais, poderíamos expandir a 
assertiva para o setor: elementos do passado podem produzir explicações 
relativas à infraestrutura de transporte e sua gestão atuais. 
O GEIPOT (2001, p. 5), em um livro que relata a história do planejamento de 
transportes no Brasil, afirma que “[...] entender a história dos transportes é 
conhecer as mudanças nas geografias deste sistema, e suas dimensões 
econômicas e políticas”. 
Um ponto inicial que pode ser tomado para elucidar o que pretendemos aqui – 
utilizar elementos históricos da formação sócio-espacial brasileira no que se 
refere aos transportes, ao território e seu papel – é considerar o território 
brasileiro hodierno como a continuidade do território do Império Português na 
América do Sul. 
Esta visão inicial é endossada por Castro (2010), para quem o imaginário de 
unidade nacional – herança do colonialismo português – se traduz no mito 
fundador da nação Brasileira; e por Moraes (2011), que fala claramente que a 
história do Brasil é, basicamente, uma continuação da história da América 
Portuguesa e do seu expansionismo colonial. Em matéria de território, o 
69 
 
 
 
território do Brasil é continuação do território colonial português, incluindo as 
pretensões expansionistas sobre os sertões ou fundos territoriais. 
Aqui, o conceito de sertão advém das denominações portuguesas para as 
terras distantes da costa, em geral desabitadas ou pouco habitadas ou, ainda, 
pouco “civilizadas”. O conceito de sertão na Geografia e no imaginário 
brasileiros, para Moraes (2011), equivale aos conceitos argentino de deserto e 
americano de fronteira. Para compreender melhor estes conceitos, voltemos ao 
conceito de território, ligado ao domínio oficial, à soberania; dele subtraímos o 
território usado, que seria aquela porção do território devidamente integrada ao 
todo socioeconômico e, por fim, o fundo territorial, entendido como as porções 
não integradas ou pouco utilizadas do território. Este último seria o sertão. Mais 
tarde voltaremos a tratar dele. 
Tendo por base que o Brasil atual nada mais é do que a continuidade do 
Império Português em território americano, iniciaremos nossa análise a partir 
do momento em que estes chegam nesse território. Esta ocupação inicia-se 
com a chegada dos primeiros portugueses que se depararam com a aparente 
falta de atrativos à colonização – àquele tempo a busca por metais preciosos e 
o comércio de especiarias. A atividade comercial na colônia nascente se 
baseava fundamentalmente, no início do século XVI, em expedições ocasionais 
de escambo com indígenas, tendo como base o transporte do pau-brasil. 
Por mais que não fossem atividades com rentabilidade que justificassem cruzar 
os oceanos e manter uma guarda constante do novo território, o ideário dos 
fundos territoriais era tido como passíveis de exploração e conhecimento 
futuros. Neste sentido é que se intensificam as expedições de caças aos navios 
franceses que rondavam a costa brasileira – particularmente nas décadas de 
1520 e 1530. Isto parece ter servido de estímulo à criação do sistema de 
Capitanias Hereditárias, na qual o empreendimento colonial se deu por meio da 
concessão de terras para donatários que deveriam ocupar a terra 
economicamente, cuidar de sua proteção e recolher impostos à coroa 
portuguesa (MORAES, 2011). 
70 
 
 
 
Esta opção pelo sistema de Capitanias Hereditárias se deu pelas dificuldades 
do erário português, mas que, ainda assim, garantiu o início de uma economia 
colonial, que serviu de instrumento político de ocupação e domínio do território. 
Moraes (2011) afirma que metade dos 12 donatários sequer chegou a pisar no 
Brasil, mas que, ainda assim, representou o início de uma esparsa ocupação. 
Baseados na cultura canavieira, a ocupação se deu em áreas próximas ao 
litoral, dado a proximidade do mar, o que representa, intrinsicamente, 
possibilidade de transportes de mercadorias. 
Neste contexto, os primeiros núcleos de povoamento que se destacaram foram 
as sedes das Capitanias, todas litorâneas. Aliás, este foi o padrão típico das 
colônias portuguesas em todo o mundo, ocupando, primordialmente, áreas 
litorâneas com poucas incursões ao interior: 
 
Na verdade, o padrão de assentamento lusitano em todas as 
partes do mundo colonial pautou-se por uma ocupação pontual 
e litorânea, formando um império filiforme e talassocrático 
como qualificou um comentarista (MORAES, 2011, p. 65). 
 
Os primeiros caminhos que demandavam o interior da colônia apareceram na 
segunda metade do Século XVI, vislumbrando a busca por riquezas minerais e 
aprisionamento de índios para trabalhar na monocultura canavieira nascente. 
Tais incursões foram mais comuns nas partes mais meridionais do território, 
onde colonos portugueses se apropriaram dos caminhos indígenas 
preexistentes. 
Termina o século XVI, conforme Moraes (2011), com uma ocupação dispersa 
ao longo de poucas vilas litorâneas e suas hinterlândias, concentrados, grosso 
modo, em torno de três grandes áreas: Pernambuco e adjacências, Salvador e 
o Recôncavo Baiano, e a região de São Vicente, São Paulo e Rio de Janeiro. A 
maior parte da ocupação era concentrada nas vilas e seus arredores, 
totalizando algo entre 25 e 30 mil habitantes. Cabe destacar que a única vila 
localizada no interior era São Paulo de Piratininga. 
71 
 
 
 
Em fins do século XVI, encontravam-se fundadas as seguintes vilas: São 
Vicente (1532); Espírito Santo e Porto Seguro (1535), Santa Cruz Cabrália, São 
Jorge dos Ilhéus e Igarassu (1536); Olinda (1537); Santos (1545); Salvador 
(1549); Vitória (1551); São Paulo (1554); Itanhaém (1561); Rio de Janeiro 
(1565); Iguape (1577); Filipeia (1585); Cananeia (1587); São Cristóvão (1590) e 
Natal (1599), conforme demonstra a Figura 2.1. 
Em relação ao padrão de ocupação do território e sua intrínseca relação com o 
setor transportes, Moraes (2011) demonstra que a expansão inicial em torno 
das vilas se deu segundo um padrão areolar, em mancha de óleo; em um 
momento seguinte, organizou-se sob a forma de rede de drenagem, ao redor 
de vias pré-existentes (caminhos indígenas) ou rios navegáveis que 
“drenavam” os fluxos para a “vila cabeça” da rede que, em geral, coincidia com 
as sedes de capitania e com o porto, justificadamente por razões de facilidades 
com o comércio com outras vilas, com a metrópole e outras localidades.  
O Século XVII representa o período de consolidação da ocupação lusitana, 
com a expulsão de invasores – franceses e holandeses, principalmente, além 
da contenção de rebeliões. Neste século, intensificam-se as penetrações rumo 
ao interior: do litoral nordestino saíam as boiadas em direção aos sertões, 
tendo por rumo principal o curso do Rio São Francisco; de São Paulo e São 
Vicente saíam expedições de captura de indígenas não “domesticados” e em 
busca de pedras preciosas (Figura 2.2 e 2.3). 
 
 
72 
 
 
 
 
Figura 2.1: Vilas fundadas no território brasileiro no Século XVI.  
73 
 
 
 
 
 
Figura 2.2: Padrão aureolar de ocupação. 
Org.: S.B. Silva Jr., 2012. 
Figura 2.3: Padrão dendrítico de ocupação 
Org.: S.B. Silva Jr., 2012. 
 
Tais incursões foram fundamentais para a consolidação da ocupação lusitana a 
partir do Século XVIII (HUERTAS, 2011). Por meio delas, expandiu-se o 
tamanho do território ocupado por luso-brasileiros – nessa altura, já havia 
considerável mestiçagem entre eles e os índios, além dos escravos de origem 
africana –, superando em muito os limites definidos pelo Tratado de 
Tordesilhas. Tais incursões acabaram por expandir os limites da colônia, 
ratificados por meios dos Tratados de Madrid e Santo Ildefonso. Além disso, foi 
por meio das “andanças” bandeirantes que se descobriu a presença de ouro na 
porção central da colônia (atualmente territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato 
Grosso), com maior concentração na porção central de Minas Gerais. 
A nova economia da colônia, baseada na mineração, engendrou, pela primeira 
vez, uma rede urbana articulada em torno da extração, beneficiamento e 
fiscalização da atividade aurífera. Foi a primeira ocasião em que os núcleos 
dispersos pela colônia se articularam de modo mais intenso, de modo a prover 
suprimentos para a região mineradora: 
 
No final de 1750, quando Antônio Francisco Lisboa, o 
Aleijadinho, entrava nos seus vinte anos, Minas Gerais era o 
centro do Brasil. Mais ainda, Minas Gerais estava inventando o 
74 
 
 
 
Brasil e os brasileiros, um país e um povo que até então não 
tinham conhecimento de sua própria existência. Vinte anos 
mais tarde, duas gerações já haviam tido consciência da nova 
realidade geográfica e cultural. Atraídos pelo ímã do ouro, os 
criadores dos confins gaúchos, os paulistas, os fluminenses, os 
baianos, os pernambucanos, os sertanejos do São Francisco, 
os curraleiros do Maranhão afluíam para Minas. Toda essa 
gente de fala portuguesa até então dispersa pela América do 
Sul mal tinha notícia uma da outra e, sobretudo, nunca se tinha 
visto junto (ALENCASTRO, apud COUTO, 2001, p. 36). 
 
Neste período, a gestão territorial incluía o provimento de caminhos para 
acessar a área mineradora, com controle da ocupação e de pontos de acesso, 
visando, claramente, uma fiscalização mais intensiva da atividade mineradora. 
O período coincide com a transferência da capital da colônia de Salvador para 
o Rio de Janeiro, mais próxima do core econômico colonial. 
Apesar de toda essa articulação em torno da mineração com nítidas 
consequências territoriais, o relativamente esgotamento rápido da mineração 
gerou uma diminuição dos fluxos comerciais e, como consequência mais direta, 
uma diáspora das regiões mineradoras para os sertões antes vazios do centro-
sul brasileiro tendo por base a criação de gado bovino (LOURENÇO, 2002). 
No início do Século XIX, com a mineração já decadente e o início da ‘diáspora 
mineira’, o território colonial brasileiro, então parte do Império Português, se 
configurava, segundo Moraes (2011, p. 77-78) como: 
 
[...] um verdadeiro “arquipélago geográfico”, composto de 
variadas unidades espaciais de colonização: regiões de 
plantations em expansão e estagnadas, redes urbanas e 
cidades criadas pela mineração aurífera (já decadentes na 
época), vastas áreas de criação e trânsito da pecuária 
extensiva, núcleos de colonização relacionados a exploração 
de mercadorias específicos (geralmente algum produto natural 
local ou coletado numa vasta hinterlândia), enclaves coloniais 
nas zonas de fundos territoriais e fronteiras (como missões e 
fortes), amplas áreas de soberana formal não incorporadas 
pelo processo colonizador ainda em curso. Enfim o território 
brasileiro era constituído, no início do século XIX, por um 
verdadeiro “mosaico” de assentamentos coloniais. 
75 
 
 
 
Tais unidades geográficas se inter-relacionavam por vias 
terrestres e marítimas, porém algumas eram dotadas de um 
alto grau de autonomia (dirigindo suas demandas e seus 
produtos diretamente para a metrópole), outras poderiam 
mesmo ser definidas como semi-isoladas (tal dificuldade e o 
tempo para acessá-las). Cabe também ressaltar a existência 
de fluxos que escapavam aos circuitos internos da colônia e 
dos sob controle da metrópole (como os do contrabando e os 
que articulavam as trocas diretas com a África). Enfim, não é 
difícil fundamentar a ideia de que o território brasileiro, no limiar 
do Oitocentos, abrigava várias economias regionais (e alguns 
enclaves coloniais) entremeadas ou rodeadas por amplos 
espaços constituídos por áreas de trânsito e por fundos 
territoriais pouco explorados pelos agentes da colonização. 
 
Este cenário de relativo isolamento começou a mudar, ainda que lentamente, 
com a chegada da Corte Imperial ao Brasil, em 1808. O Rio de Janeiro passou 
a ser a sede do Império Colonial Português. O Brasil, agora, conquista o status 
de Reino Unido a Portugal e Algarve, Os portos foram abertos às nações 
amigas e o Rio de Janeiro passou a canalizar os fluxos que antes 
demandavam de Lisboa. Tal fato quebra, em parte, o isolamento, e inicia-se a 
articulação de uma rede de transportes terrestres que passavam a demandar 
do Rio de Janeiro. 
Com a Independência, a continuidade da Casa de Bragança serviu de 
argumento para um projeto expansionista brasileiro. Ou seja: o território e as 
pretensões imperiais de Portugal permaneceram no Império Brasileiro, herdeiro 
de seu território na América do Sul. Este expansionismo passou a ser o 
elemento de nexo entre as elites regionais desarticuladas nos interesses e no 
espaço (MORAES, 2011). 
No âmbito da gestão de transportes, a visão expansionista se manifestou na 
criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e 
Obras Públicas, em 1860. Foi a época em que se construíram as primeiras 
estradas de rodagem, como a União e Indústria (1861), entre Juiz de Fora e 
Petrópolis;  a Filadélfia – Santa Clara, em Minas Gerais (1857); a Dona 
Francisca, entre Joinville e São Bento, em Santa Catarina (1867); e a Estrada 
da Graciosa, entre Antonina e Curitiba (1885) – (DNIT, s.d.); DNIT (s.d.) e 
GEIPOT (2001) destacam que os projetos foram apresentados ao Imperador 
76 
 
 
 
Pedro II por várias autoridades e expoentes da engenharia brasileira, propondo 
planos gerais de transportes, sendo a maioria multimodal, considerando 
navegação e ferrovias. Vale destacar que nenhum chegou a ser implantado. 
O primeiro foi o Plano Rebelo (1838), que propunha três grandes estradas reais 
que, partindo do Rio de Janeiro, demandassem os extremos do país, 
fomentando a integração regional. O Plano Moraes (1869) era essencialmente 
fluvial, propondo interligações entre bacias por meio de canais e algumas 
poucas ligações ferroviárias. O Plano Ramos de Queiróz (1874-82), de 
natureza ferroviária e fluvial, propunha algumas interligações e tinha como 
base o aproveitamento do São Francisco e Paraná como artérias no sentido 
norte-sul e da construção de uma artéria ferroviária atravessando o país no 
sentido leste-oeste, à latitude da cidade de Goiás e de Cuiabá (vejam-se as 
Figuras 2.4 a 2.6). 
Houve ainda o Plano Rebouças (1874), que propunha uma série de 
“transversais” no sentido leste-oeste, visando integração com os vizinhos sul-
americanos, bem como outras ligações no sentido norte-sul. Os planos Bicalho 
(1881) e Bulhões (1882), também com ênfase em ferrovias e navegação fluvial, 
propunham o primeiro modo como complementar ao segundo, permitindo 
integração entre os diversos “arquipélagos” do país. O último plano 
apresentado no final do período imperial foi o Plano Geral de Viação (1886), 
elaborado pelo Ministro Rodrigo Augusto da Silva, que propunha algumas 
linhas ferroviárias integrado com vias navegáveis; no entanto, mais modestos 
que os anteriores (Figura 2.7). 
 
 
 
77 
 
 
 
 
 
Figura 2.4: Plano Rabelo, 1838. 
78 
 
 
 
 
 
Figura 2.5: Plano Moraes, 1869. 
79 
 
 
 
 
Figura 2.6: Plano Ramos de Queiróz,1874-82. 
80 
 
 
 
 
 
Figura 2.7: Plano Rebouças, 1874. 
81 
 
 
 
 
A partir da Proclamação da República, foi elaborado o Plano da Comissão 
(1890), ousado para a época, mas que estabelecia competências de cada 
esfera da administração – governo federal e estaduais, prevendo integração 
modal entre ferrovias e vias navegáveis. O detalhe deste plano que chama 
atenção é a questão das fronteiras, cujo acesso e operações militares seriam 
facilitados pela rede proposta (DNIT, s.d.). Nesta altura, reestruturada a 
administração pública nacional, a gestão de transportes passou a ser realizada 
pelo Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, que, em 1906, passaria a 
se chamar Ministério da Viação e Obras Públicas (Figuras 2.8 a 2.11). 
O Século XIX foi, ainda, o século em que o café avança do Vale do Paraíba 
para o Oeste Paulista. Ferrovias cortam a província – depois Estado – paulista 
e chegam às unidades vizinhas. Ocorre um surto modernizador e urbanizador 
no sudeste brasileiro, com indução da ocupação pelo novo modo de 
transportes implantado, a ferrovia: 
 
Contudo, novamente o foco dessa ação direcionou-se para o 
território: construir o país era modernizar o seu espaço, o que 
significaria equipá-lo com as próteses territoriais e os sistemas 
de engenharia estabelecidos pela contemporaneidade técnica: 
ferrovias, iluminação elétrica, água encanada, estruturas 
metálicas, máquinas, motores, etc. (MORAES, 2011, p.88). 
 
O ímpeto modernizador, presente no ideário nacional, segue, ainda pela 
primeira metade do Século XX, com forte intervencionismo estatal. No âmbito 
do Ministério de Viação e Obras públicas foram, segundo o Ministério dos 
Transportes, implantados e planejados uma rede ferroviária de 
aproximadamente 29 mil quilômetros de ferrovias. Valor este que permanece 
inalterado até os dias atuais. 
 
 
82 
 
 
 
 
 
Figura 2.8:Plano Bulhões, 1881. 
83 
 
 
 
 
 
Figura 2.9: Plano Bicalho, 1890. 
84 
 
 
 
 
 
Figura 2.10: Plano Geral de Viação, 1886. 
85 
 
 
 
 
 
 
Figura 2.11: Plano da Comissão, 1886.  
86 
 
 
 
 
Huertas (2009), analisando a ocupação e a articulação dos espaços do Centro-
Oeste e da Amazônia com o restante do país, aborda a construção da Estrada 
de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB) que foi construída na primeira metade do 
Século XX com objetivo de articular os sertões do Mato Grosso com os centros 
da economia canavieira em São Paulo, lançando ilhas de povoamento no vazio 
demográfico que ali vigia, bem como fornecer rotas para o comércio com a 
Bolívia e o Paraguai: 
 
[...] a EFNOB, uma “flecha lançada para o oeste”, nasceu 
essencialmente como uma estrada de penetração para 
organizar a defesa de fronteiras remotas, promover o 
povoamento e a colonização de terras quase desertas e dirigir-
se a um ponto no rio Paraguai adequado a encaminhar para o 
Brasil o comércio do sudeste boliviano e norte paraguaio 
(HUERTAS, 2009, p. 51). 
 
A Era Vargas, compreendida entre 1930 e 1945, consolidou, conforme Moraes 
(2011), a posição do Estado como condutor do desenvolvimento nacional, com 
forte associação entre as ideologias geográficas e as políticas territoriais da 
época. Foi em seu governo que se criou o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística, tido como entidade fornecedora de dados para o fomento das 
políticas de fundo territorial. Vargas inaugurou o chamado “nacional 
desenvolvimentismo”, focado na modernização, cuja matriz era a indústria de 
base: 
 
O Estado varguista investia na modernização do aparelho 
estatal para dotá-lo de meios de operação de ações de 
planejamento, com forte ênfase de atuação sobre o 
ordenamento e a instalação de equipamentos sobre o território 
(MORAES, 2011, p. 125). 
 
Um dos aspectos mais destacados do seu governo foi a Marcha para o Oeste, 
que consistiu em um conjunto de ações articuladas que contemplavam um 
87 
 
 
 
plano viário ambicioso, a criação de territórios federais nas fronteiras a oeste 
do país, cujo objetivo final era povoar e ocupar os fundos territoriais vazios 
(Figura 2.12): 
 
Em todos os quadrantes do território o país se urbanizava e 
avançam velozes frentes de ocupação em variadas direções 
(muitas já com um caráter urbano e associadas a modernas 
infraestruturas de transportes) (MORAES, 2011, p. 124). 
 
O Plano Rodoviário Nacional, de 1944, era composto de 27 eixos rodoviários, e 
contemplava um modelo de financiamento cuja fonte era um imposto sobre os 
combustíveis, que alimentavam o Fundo Rodoviário Nacional (Ministério dos 
Transportes). No mesmo período foi organizado o Departamento Nacional de 
Estradas de Rodagem. Foi a consolidação de um período em que se inicia a 
estagnação do modo ferroviário em benefício do modo rodoviário. 
A gestão estatal de base territorial, gestada no início da República, consolida-
se no nacional desenvolvimentismo iniciado na Era Vargas, perpassa pelos 
governos seguintes. Em um primeiro momento, ainda no fim do século XIX, 
ergue-se a cidade de Belo Horizonte no centro de Minas Gerais; nos anos 
1930, Londrina no nascente Norte Paranaense e Goiânia; já no fim dos anos 
1950, inicia-se a construção de Brasília, no governo de Juscelino Kubitschek. 
Todos estes casos têm em comum o fato de se erigir cidades planejadas 
apoiadas em redes de transportes, tendo por objetivo a povoação e 
consolidação de zonas específicas: 
 
[O Governo JK] implanta a Belém-Brasília e a Brasília-Acre e 
grandes porções do território nacional se interligam a São 
Paulo e ao Rio de Janeiro, ampliando o mercado nacional. A 
transferência da capital federal pra Brasília também eleva o 
raio macroeconômico do país, embora a abertura de novas 
frentes não tenha resolvido as desigualdades regionais e 
garantido acesso a terra para boa parte da população brasileira 
(HUERTAS, 2009, p. 20). 
 
88 
 
 
 
 
 
Figura 2.12: Plano Rodoviário Nacional, 1944.
89 
 
 
 
O Governo JK representou, de modo mais intenso, a quebra do padrão vigente 
desde então, isto é, uma ocupação intensiva no litoral em contraposição a um 
interior pouco ocupado. O fomento da ocupação do interior, baseado na 
abertura de estradas, na mudança da capital para o Planalto Central e o apoio 
à indústria automobilística marcaram o período e possibilitaram o início da 
articulação de um mercado interno. Apesar do viés rodoviarista, ferrovias 
regionais foram consolidadas na Rede Ferroviária Federal – RFFSA. 
Huertas (2009) desenvolve uma teoria segundo a qual a partir da segunda 
metade do Século XX, tendo por base as rodovias Brasília-Acre e Belém-
Brasília, bem como as hidrovias dos rios Amazonas e Madeira, foi formado um 
quadrilátero, cujos vértices são Belém, Manaus, Porto Velho e Goiânia/Brasília, 
com base no qual se vem estruturando, desde o fim da década de 1950, a 
ocupação do território e a circulação entre o Norte, o Centro-Oeste e o Centro-
Sul brasileiro (Figura 2.13). 
Esta segunda metade do século XX representou justamente essa maior 
integração da Amazônia e Centro-Oeste ao cotidiano nacional. Tal integração 
derivou diretamente da presença de, nas palavras de Huertas (2009), objetos 
técnicos e sistemas de engenharia – aqui entendemos, basicamente, como as 
novas redes de transportes. Isto se materializou em uma articulação mais 
intensa entre os entes da federação brasileira, desde a fachada atlântica aos 
sertões centrais e amazônicos, fato derivado das novas possibilidades de 
circulação e da ampliação do mercado interno que propiciaram o avanço da 
fronteira agrícola pelos sertões vazios. 
Foi quando se rompeu, de modo definitivo, o processo que os estudiosos e 
geopolíticos chamavam de “estrutura em arquipélago”, com pouca interação 
entre as regiões, passando a uma estrutura de interação mais intensas entre as 
regiões. 
 
 
 
90 
 
 
 
 
 
Figura 2.13: O Quadrilátero de Huertas. 
91 
 
 
 
 
O Governo militar que vigeu de meados da década de 1960 até meados da 
década de 1980 reforçou o viés territorial em suas políticas. Baseados em 
conceitos geopolíticos tradicionais, na ideologia de segurança nacional, 
propunham, em seu discurso, a construção de uma visão de futuro baseada no 
desenvolvimento econômico e na superação de desigualdades regionais: 
 
Uma modernização conservadora (na plenitude do termo) foi 
realizada no Brasil dos anos setenta, tendo o planejamento 
territorial integrado como instrumento, a doutrina de segurança 
nacional como fundamento, e o endividamento externo como 
meio de realização (MORAES, 2011, p. 128). 
 
Conforme Castro (2010, p. 121), 
 
A ampliação da base infraestrutural possibilitou a integração 
nacional, incorporando os espaços da Amazônia e do Centro-
Oeste através da densificação da malha rodoviária, da difusão 
das redes de telecomunicações, da ampliação da matriz 
energética e sua extensão para regiões até então 
marginalizadas na distribuição de energia elétrica. [...] O 
território brasileiro tornou-se mais receptivo e competitivo, tanto 
para o capital como para a população, o que proporcionou a 
interiorização da expansão urbana e das atividades 
econômicas a ela associadas, além da expansão da fronteira 
agrícola [...]. 
 
Para Huertas (2009, p. 20), “o território, para o regime, passa ser visto como 
palco para ações geopolíticas e econômicas planejadas”. Embora tenha 
logrado bons níveis de crescimento do mercado interno, e interiorizada a 
população, não obteve êxito no que se refere à redução de desigualdades 
sociais e regionais. 
Dentre as realizações do regime, destacam-se a construção da Ferrovia do Aço 
(entre o Quadrilátero Ferrífero e o complexo portuário de Vitória), e a 
modernização dos corredores de exportação de Santos, Paranaguá, Rio 
92 
 
 
 
Grande e Vitória. O Ministério de Viação e Obras Públicas foi convertido em 
Ministério dos Transportes, foram criadas, ainda, a Empresa de Portos do 
Brasil S.A. – PORTOBRÁS e a Empresa Brasileira de Planejamento de 
Transportes – GEIPOT, ícone do planejamento de transportes no período. O 
período foi testemunha, ainda, da abertura de novas artérias de penetração nos 
cerrados e na Amazônia, com vistas à colonização e ao povoamento (Ministério 
dos Transportes, 2010).  
O governo militar foi marcado por um período de alto crescimento econômico e 
forte controle estatal por uma década. No entanto, durante a crise do petróleo 
não se alterou o portfólio de investimentos, mantendo o cronograma de obras 
com elevado nível de endividamento público. Para Moraes (2011), este foi um 
dos fatores de os militares terem deixado como herança a crise dos anos 1980, 
que ficou conhecida como a década perdida. 
Segundo o autor, a supressão deste modelo de vinculação tributária, também 
derivada de alterações nos cenários econômico e político mundiais, provocou 
nas décadas de 1980 e 1990 a involução dos investimentos em infraestrutura 
rodoviária. 
Adicionalmente ao que destaca o autor, que trata apenas do transporte 
rodoviário, a década de 1980 representou a desaceleração da expansão 
econômica e, na mesma medida, os impostos que custeavam a infraestrutura 
de transportes. Na mesma medida, inicia-se o processo de degradação das 
atividades de planejamento: as ações estatais passam a estar voltadas a sanar 
problemas imediatos, deixando para trás a tradição de planejar e de considerar 
as variáveis territoriais na avaliação de projetos. 
A Constituição de 1988 deu aos municípios o status de ente federado, 
ganhando, a partir de então, mais poder. Este viés localista retira poder da 
União o que se traduz também em maior necessidade de a União se articular 
com os demais entes federados para negociar as ações. Vale destacar que 
mais poder de decisão aos municípios não veio acompanhado da 
descentralização financeira e, por consequência, da qualidade técnica dos 
93 
 
 
 
quadros locais. Isto agravou a questão da articulação interinstitucional entre os 
níveis da federação. Para Moraes (2011, p. 129), 
 
O planejamento estratégico na escala nacional foi identificado 
na época como resquício autoritário do regime anterior que 
deveria ser evitado numa ordem democrática em construção. 
Esta deveria, no discurso progressista de então, fortalecer o 
poder local e a autonomia dos municípios. 
 
Ainda segundo o autor, a diminuição do poder central do Estado brasileiro 
“abriu um fabuloso caminho para a afirmação do ideário do neoliberalismo no 
país, notadamente ao elogio do Estado ‘mínimo’”. Huertas (2009, p. 21) 
complementa que, nos anos 1990, “quando a logística se torna informacional e 
as políticas neoliberais fazem com que o Estado deixe de ser 
preferencialmente o agente executor da fluidez territorial”. 
No período de 1990 a 1992, durante a gestão de Collor, o Ministério dos 
Transportes converteu-se em Ministério da Infraestrutura. Após sua saída, 
voltou-se à situação institucional anterior. Ainda na década de 1990, já sob o 
governo de Fernando Henrique Cardoso, iniciou-se o processo de concessões 
federais de rodovias – notadamente trechos ao redor da cidade do Rio de 
Janeiro e sua ligação com São Paulo – e a Rede Ferroviária Federal foi 
repartida em lotes e concedida à iniciativa privada. 
Ainda sob o governo de Fernando Henrique, o setor de transportes sofreu 
algumas modificações. A Rede Rodoviária Federal seguiu seu processo de 
extinção, assim como se encerrou, em definitivo, as atividades do GEIPOT. Foi 
instituída a Lei nº 10.233, de 2001, que extinguiu o Departamento Nacional de 
Estradas de Rodagem (DNER) e criou, como substituto, o Departamento 
Nacional de Infraestruturas de Transportes (DNIT), responsável pela 
construção e operação da rede de transportes; a Agência Nacional de 
Transportes Terrestres (ANTT), responsável pelas concessões rodoviárias, 
ferroviárias e permissão de linhas de transporte interestadual e internacional de 
passageiros; e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), 
94 
 
 
 
responsável pela regulação do transporte aquaviário. Tal lei criou também o 
Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transportes (CONIT), 
implementado apenas em 2009, responsável pela formulação de políticas do 
setor. 
A gestão de transportes seguiu focada, até meados da década de 2000, na 
solução de problemas pontuais e no tratamento dos chamados “corredores de 
exportação”, denotando o viés exportador da economia brasileira. O período foi 
marcado, ainda, pela continuidade da ausência de um planejamento integrado 
das ações dos diversos setores, negligenciando os aspectos territoriais. 
No período subsequente, com o aquecimento da economia e consequente 
reforço nos caixas da União,  
 
observou-se uma certa recomposição da capacidade de ação estatal 
e também o ensaio da retomada de uma visão estratégica do 
território, o que anima tentativas de planejamento de políticas 
integradas.  (MORAES, 2011, p. 131). 
 
No setor de transportes, vislumbramos esta retomada por meio da adoção de 
planos como o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT); Plano 
Hidroviário Estratégico; e Plano Nacional de Logística Portuária. O Programa 
de Aceleração do Crescimento, instituído em 2007, tem por base, para as 
obras de transporte, o PNLT. As ações desta última década serão 
aprofundadas no Capítulo 5. 
Chegamos ao fim da primeira década do Século XXI com uma rede de 
transportes defasada. O Brasil conta com uma rede ferroviária que tem a 
mesma medida de um século antes – aproximadamente 29 mil quilômetros; 
uma rede rodoviária deficiente, tanto nas áreas mais adensadas, onde a 
capacidade de muitas vias já se encontra há muito tempo superada, e, em 
áreas menos densas, ainda com uma infraestrutura insuficiente para estimular 
seu desenvolvimento; um potencial de vias navegáveis pouco explorado; uma 
rede de portos congestionados na porção meridional do país e, em 
contrapartida, portos com capacidade ociosa na porção setentrional; um 
95 
 
 
 
conjunto de aeroportos saturados que não conseguem fazer frente à crescente 
demanda; uma rede dutoviária pequena e concentrada no atendimento de 
poucos usuários. 
Apesar do ensaio de uma gestão mais integrada, a relação entre o 
planejamento de transportes e o ordenamento territorial e ambiental ainda é 
inadequada e não consegue produzir resultados satisfatórios. Analisemos esta 
atuação nas seções seguintes. 
 
  
96 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
ATUAÇÃO RECENTE DO ESTADO BRASILEIRO 
 
 
 
3.1 Prólogo – de Brasília a Santos 
 
Percorrer caminhos físicos já foi um artifício utilizado por outros geógrafos para 
ilustrar parte do caminho metodológico usado para guiar o desenvolvimento 
das ideias e argumentos utilizados na pesquisa. Lourenço (2002) usou esta 
forma em sua dissertação de Geografia Histórica para levantar diversos pontos 
de seu problema de pesquisa.  
Buscando seguir a mesma linha, mas em uma tese de Geografia dos 
Transportes, optamos por percorrer o trecho rodoviário Brasília-Santos, visando 
levantar pontos relevantes a serem discutidos na tese.  
O Brasil é um país de dimensões continentais. Esta é uma frase 
frequentemente repetida para exaltar a dimensão territorial e a variedade de 
ambientes naturais e antropizados, bem como as variedades socioculturais e 
econômicas desta vasta nação. Da mesma forma que sabemos que a 
população e os recursos não se encontram uniformemente distribuídos pelo 
espaço, há de se supor que a infraestrutura e os serviços de transportes 
também não o sejam. 
Propusemos uma viagem entre dois pontos do território, razoavelmente 
distantes entre si e, por meio da observação das características físicas da 
infraestrutura, do tráfego, das paisagens, seria possível iniciar uma análise de 
97 
 
 
 
várias questões relacionadas a transporte e território. Utilizemos então este 
recurso.  
O trajeto escolhido parte da porção mais central do território brasileiro – Brasília 
– até um extremo litorâneo, e nosso principal porto, o de Santos, distante 
pouco mais de 1000 quilômetros. A escolha desse trecho se deu pela facilidade 
de acesso e conhecimento do território pelo autor. Além disso, trata-se de um 
eixo de relevância nacional, por interligar o principal porto latino-americano 
(Santos) à maior cidade brasileira (São Paulo) e à Capital Federal (Brasília), 
além de diversas outras cidades importantes (Figura 3.1). 
Ao deixar Brasília, capital federal, notamos que a cidade se espalha ao redor 
das rodovias. São quase 600 km² de área urbanizada (MIRANDA; GOMES; 
GUIMARÃES, 2005) para uma população de cerca de 2,5 milhões de 
habitantes (IBGE, 2010). As rodovias de passagem cortam essa área 
urbanizada, mesclando tráfego local com tráfego de longo curso. É muito difícil 
distinguir o que é a rodovia de longo curso do que é a via rápida local. Aquele 
que deseja apenas passar por Brasília acaba por sofrer com os 
congestionamentos urbanos da hora de pico; e, por outro lado, a área 
urbanizada sofre os impactos derivados da passagem do tráfego de longo 
curso cortando a cidade. 
A Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Via EPIA/ BR-450), por exemplo, 
margeia a zona do Plano Piloto de Brasília e liga as rodovias BR-040/050 
(ligação com o Sul/Sudeste do Brasil), a BR-060 (Ligação com Goiânia e 
Centro-Oeste) e a BR-020 (ligação com o Norte/Nordeste). No entanto, é 
também utilizada como via local – assim como as rodovias mencionadas – 
ligando as zonas urbanizadas adjacentes à zona mais central da cidade.  
 
 
 
98 
 
 
 
 
Figura 3.1: Mapa do eixo Brasília – Santos. 
99 
 
 
 
Um viajante que parte da zona central de Brasília na hora de pico enfrentará 
um grande congestionamento para deixar a cidade pela via EPIA e, a seguir, 
pela BR-040/ 050, pois é a principal ligação do núcleo central da cidade com as 
zonas residenciais periféricas de Gama e Santa Maria (ainda no Distrito 
Federal) e com alguns dos municípios goianos limítrofes que compõem o 
chamado Entorno de Brasília (Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade 
Ocidental e Luziânia). Neste trecho, o tráfego é elevado e caminhões, ônibus 
urbanos, ônibus de longo curso, veículos de passeio locais e de longo curso 
disputam espaço. A rodovia tem pista dupla, ora com três, ora com duas faixas 
por sentido e cruza as referidas zonas urbanas. Neste trecho, a rodovia mais 
parece com uma avenida de atividades, com diversas interseções e retornos 
em nível, margeada de um comércio variado. O tráfego de longo curso, mais 
uma vez, é sujeito a interferências urbanas, assim como a população local 
convive com o tráfego pesado.  
 
 
Figura 3.2: fotografia de trecho urbano da BR-040 em Valparaíso, GO.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
100 
 
 
 
Cabe um parêntese: a BR-450, embora seja uma rodovia federal, é delegada 
ao Governo do Distrito Federal, que, por meio do seu Departamento de 
Estradas de Rodagem, faz a gestão desta via. Já a BR 040/050, em todo o 
trecho de Goiás e Distrito Federal, é gerida pelo Departamento Nacional de 
Infraestrutura de Transportes – DNIT. 
Após deixar Luziânia, o volume de tráfego diminui e a pista torna-se simples. O 
volume de tráfego é composto de considerável parcela de veículos pesados de 
carga. Lentos, muitas vezes, já que a idade da frota é bastante elevada - 11,4 
anos para a média geral, chegando a 23,9 anos em algumas categorias (ANTT, 
2012). 
Cerca de 130 quilômetros após a origem, nos aproximamos de Cristalina. 
Nesta cidade está o entroncamento das rodovias BR 050 e 040 que até agora 
seguiam em trecho coincidente.  
 
 
Figura 3.3: Fotografia de trecho urbano da BR-050 em Cristalina, GO.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
101 
 
 
 
A BR-040 segue para Sudeste, demandando Belo Horizonte, Juiz de Fora e 
Rio de Janeiro, enquanto a BR-050 segue para o Sul, na direção de 
Uberlândia, Ribeirão Preto, Limeira, Campinas, São Paulo e Santos. A área 
urbana de Cristalina, apesar de pequena, está disposta dos dois lados da pista, 
gerando a necessidade de travessia de veículos e pedestres, sempre com 
cruzamentos em nível. Os redutores de velocidade, o alto volume de tráfego e 
tais cruzamentos tornam lenta a travessia desta cidade.  
Por quase 200 quilômetros, até Catalão (GO), o volume de tráfego diminui 
ainda mais – embora não o suficiente para deixar a via com um padrão 
adequado ao volume – e a paisagem monótona de lavouras de soja, outros 
grãos e algumas áreas de vegetação nativa preservada é quebrada apenas por 
três pequenas povoações. Chama a atenção a ausência de variedade e opções 
de postos de abastecimento e de serviços para o viajante que se aventura por 
este trecho. 
 
 
Figura 3.4: Fotografia de trecho da BR 050 entre Catalão e Cristalina – veículos de carga. 
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
102 
 
 
 
Em Catalão, novamente os problemas típicos das travessias urbanas: lentidão, 
interseções em nível, redutores de velocidade e mistura com o tráfego local. A 
cidade é um pólo agroindustrial e, dali em diante, o tráfego volta a aumentar, 
principalmente com caminhões carregados de soja, frigorificados, veículos e 
autopeças. Os quase 40 quilômetros que separam Catalão dos limites de Goiás 
com Minas Gerais são ainda em pista simples, em uma zona de relevo 
razoavelmente dissecado, com grande presença de curvas, já que o traçado, 
datado da década de 1960/70, acompanha em muito este relevo. 
 
 
Figura 3.5: Fotografia de trecho urbano da BR-050 em Catalão, GO.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
Após cruzar o rio Paranaíba, entrando em Minas Gerais, nos deparamos com 
um canteiro de obras: a duplicação da BR-050 entre este ponto e a cidade de 
Uberlândia. Daqui até Uberlândia são aproximadamente 70 quilômetros de 
estrada, com um relevo moderadamente dissecado, cheio de curvas, com 
103 
 
 
 
elevado volume de tráfego de caminhões. A meio caminho, a cidade de 
Araguari, cruzada pela rodovia agora em obras que prometem amenizar os 
impactos da convivência entre cidade e rodovia.  
 
 
Figura 3.6: Fotografia das obras de duplicação da BR-050 em Araguari, MG.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
De Araguari até Uberlândia, o tráfego de automóveis se avoluma, notadamente 
nas horas de pico, tendo em vista o notável movimento pendular entre ambas 
as áreas urbanas. Estas cidades encontram-se em topos de chapada a cerca 
de 900 metros de altitude, mas seccionados pelo profundo vale do Rio Araguari 
em uma região de relevo bastante dissecado. 
Ao aproximar de Uberlândia, geram confusão as opções apresentadas pela 
sinalização: o caminho tradicional e mais óbvio ao motorista é seguir em frente, 
enquanto a sinalização manda seguir outro, que requer sair da pista principal e 
pegar um acesso secundário. 
104 
 
 
 
Quem opta por seguir reto, logo adentra a zona urbana de Uberlândia e a 
rodovia, em boas condições, permite acesso à cidade bem como a outras 
rodovias. Recém-duplicada na área urbana, oferece condições de velocidade 
(80 km/h de velocidade máxima regulamentada) distintas das travessias 
urbanas cruzadas anteriormente (Entorno de Brasília, Cristalina e Catalão), 
mas ainda recebem expressivo volume de tráfego urbano. Pouco mais de 10 
quilômetros depois, deixa-se a área urbana de Uberlândia em direção ao Sul.  
Por outro lado, quem opta por pegar o acesso secundário, tem acesso a uma 
rodovia de excelente padrão construtivo, o Contorno Norte, também 
recentemente construído, mas que tem a mesma função da travessia urbana: 
melhorar as condições de tráfego por quem passa por Uberlândia. A via 
permite velocidade de até 100 quilômetros por hora, mas chama atenção o 
diminuto volume de tráfego. Após alguns quilômetros, a rodovia de excelentes 
condições desaparece e em uma interseção que não permite grande 
velocidade há de se acessar outra, o Contorno Leste, resultado da duplicação 
de trecho da BR-365. Mais alguns quilômetros e há de se fazer outra 
conversão para se acessar novamente a BR-050 e seguir rumo ao Sul.  
Vinte quilômetros e três conversões para o Contorno Norte/Leste contra 10 
quilômetros e uma conversão para a travessia urbana podem explicar a 
preferência dos motoristas pela travessia urbana em relação ao Contorno. 
Exploraremos este caso mais adiante. Prossigamos com a viagem. 
A viagem segue em pista dupla por mais 100 quilômetros, cortando chapadões 
cobertos de soja, milho e cana-de-açúcar, e áreas de vale, chega-se a 
Uberaba. Vale lembrar que o trecho entre Uberlândia e a divisa de Minas 
Gerais com São Paulo levou cerca de uma década para ser finalizado e ainda 
há obras remanescentes por executar. 
A travessia de Uberaba é breve, toda feita em interseções em desnível, com 
pouca interferência do tráfego local. A partir de Uberaba, inicia-se uma descida 
até o vale do Rio Grande, na divisa com o Estado de São Paulo com boas 
condições de tráfego, apesar do elevado volume. Até este ponto, a rodovia é 
administrada, ainda, pelo DNIT. 
105 
 
 
 
Cruzando-se a ponte Governador Mário Covas, vislumbra-se um padrão 
diferente de rodovia: o canteiro é mais largo, a faixa de domínio bem capinada, 
as placas de sinalização maiores, visíveis e bem mantidas. Só então é possível 
comparar com todos os trechos anteriores, onde a faixa de domínio raramente 
recebe serviços de capina que, por muitas vezes, encobrem a parca 
sinalização.  
Até Ribeirão Preto cruza-se quase uma dezena de pequenas e médias 
cidades, sem qualquer interferência de tráfego. As interseções são todas em 
desnível e não se encontram áreas de travessia de pedestres em nível: todas 
são realizadas por cima ou por baixo da rodovia.  
Em Ribeirão Preto, a travessia já recebe alguma interferência do tráfego local e 
o nível de velocidade diminui um pouco. As interseções com outras rodovias 
possuem, em grande parte, alças direcionais, permitindo mudanças sem 
grande diminuição de velocidade, ao contrário daquelas encontradas nos 
trechos percorridos em Minas Gerais e Goiás. 
No Estado de São Paulo, entre a Ponte Governador Mário Covas e a cidade de 
São Paulo, a rodovia BR-050 é coincidente com a SP-330, aqui denominada 
Via Anhanguera, de responsabilidade do Estado de São Paulo. A via é 
concedida à iniciativa privada, e operada por diversas concessionárias em seus 
vários trechos, cuja fiscalização cabe à Agência Reguladora dos Serviços de 
Transporte do Estado de São Paulo – ARTESP. 
Atravessa-se, após Ribeirão Preto, uma miríade de cidades pequenas e 
médias até alcançar Limeira. Nas proximidades de Limeira começa o trecho da 
Rodovia dos Bandeirantes, datada da década de 1970 e prolongada ao redor 
do ano 2000, construída pelo governo do estado de São Paulo como alternativa 
ao trecho já saturado da Via Anhanguera.  
Enquanto a Via Anhanguera atravessa áreas urbanizadas dos aglomerados 
urbanos de Limeira e Jundiaí, bem como das Regiões Metropolitanas de 
Campinas e de São Paulo, sofrendo com a influência do tráfego local, a 
Rodovia dos Bandeirantes contorna as três primeiras, minorando o efeito do 
106 
 
 
 
tráfego local. A Rodovia dos Bandeirantes – com padrão de autoestrada de 
acesso controlado – atende prioritariamente o tráfego de longo curso, enquanto 
a Via Anhanguera, neste trecho, atende ao tráfego pendular regional. 
Aproximando-se da Cidade de São Paulo, maior zona urbana da América do 
Sul e uma das maiores do mundo, principal centro econômico do Brasil, 
principal origem e destino das viagens geradas em todo o país, e, portanto, 
principal entroncamento rodoviário nacional, o volume de tráfego se multiplica. 
Há a opção de o viajante cruzar a área urbana pelas saturadas Marginal Tietê e 
Marginal Pinheiros (vias expressas urbanas) ou de pegar o Rodoanel Trecho 
Oeste e, seguir pelo recém inaugurado Trecho Sul. 
 
 
Figura 3.7: Mapa do Rodoanel de São Paulo. Mapa sem escala.  
Fonte: DERSA, 2012. 
107 
 
 
 
 
Embora com um padrão construtivo bem razoável, as Marginais atendem 
majoritariamente ao tráfego urbano e metropolitano; porém, até a construção 
do Rodoanel, era a única opção para a travessia da Região Metropolitana de 
São Paulo. Para alguns destinos segue sendo a única opção. Para estes 
viajantes, ainda é necessário perder horas cruzando a grande metrópole 
enquanto o Rodoanel não é concluído. Para nosso par origem-destino, é 
possível usar o Rodoanel e é esta a opção escolhida. 
Com três ou quatro faixas por sentido, alças direcionais, velocidade 
regulamentada de 120 quilômetros por hora, o Rodoanel Mário Covas foi 
pensado para retirar o tráfego de passagem da área urbana e dar mais 
velocidade para o tráfego que não tem como origem ou destino a Grande São 
Paulo. Pensado para ser construído em quatro trechos, já teve os dois trechos 
prioritários (Oeste e Sul) construídos, um em obras (Leste) e um em fase de 
licitação (Norte). 
Seguindo a viagem, há duas opções para se alcançar a Baixada Santista: a Via 
Anchieta (aqui coincidente com a BR-050) e a Rodovia dos Imigrantes. A Via 
Anchieta é mais antiga e é a primeira ligação pavimentada entre o planalto 
onde se localiza a capital paulista e a baixada santista (pista dupla, com duas 
faixas por sentido) e ainda, apesar de segregada, atravessa áreas densamente 
povoadas. A Rodovia dos Imigrantes é uma rodovia mais recente, moderna, 
construída com vários túneis e pontes, vencendo o planalto sem grandes 
movimentações de terra e gerando o menor impacto possível. Ambas são 
concedidas à iniciativa privada e geridas pela ARTESP. 
Chega-se, por fim, a Santos, onde o acesso ao Porto ainda mistura o tráfego 
local com o tráfego de caminhões que vêm de todo o Centro-Sul brasileiro. 
Esta jornada de Brasília a Santos nos dá elementos para algumas questões 
que pretendemos trabalhar neste capítulo, porém nos restringiremos àquilo que 
consideramos problemas relacionados ao transporte de longo curso, ignorando 
as questões relativas ao transporte local e aos problemas urbanos. 
108 
 
 
 
Por que existe tamanha diversidade de padrões construtivos, de manutenção e 
de sinalização em um mesmo eixo? Note-se que não estamos falando de 
rodovias com funções diferentes, mas de um eixo de importância nacional.  
Como os responsáveis pela gestão das rodovias e os municípios se articulam 
para dirimir os conflitos patentes entre o tráfego local e o tráfego de passagem? 
Existe alguma política que fomente o controle da expansão urbana, 
proporcionando que se evite a urbanização ao redor dos eixos de transporte de 
longo curso? 
Por que há tantos caminhões nas rodovias? Não há transporte ferroviário que 
atenda ao transporte de cargas? E por que esses caminhões são tão velhos? 
Não existe alguma política que estimule a renovação dessa frota que, 
notoriamente reduz a velocidade média, aumenta custos de transporte e, ainda, 
polui muito mais? 
Como lidar com o enorme volume de caminhões que adentram a área urbana 
de Santos para acessar ao Porto? 
No caso do transporte de passageiros, por que ir de carro? Não existe uma 
opção de trens ou aviões que façam as ligações neste trecho, ao menos entre 
as cidades grandes e médias? 
Este capítulo pretende explorar algumas destas questões. Primeiro, 
apresentando um breve diagnóstico da situação dos transportes de longo curso 
no Brasil e o panorama institucional, contemplando a descrição das 
instituições, sua atuação recente, bem como a estrutura de planejamento para 
consecução da política nacional para o setor.  
Considerou-se, para este trabalho, a atuação dos órgãos de nível federal, quais 
sejam: Ministério dos Transportes (MT), Agência Nacional dos Transportes 
Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes 
(DNIT), VALEC Engenharia e Construções; Secretaria de Portos (SEP), 
Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Secretaria de Aviação 
Civil (SAC), e Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); INFRAERO- 
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. 
109 
 
 
 
Quanto à estrutura de planejamento, avaliou-se, em particular, o Plano 
Nacional de Logística e Transportes (PNLT) e o Sistema Nacional de Viação 
(SNV), dentre outros relevantes. 
Realizaram-se, ainda, entrevistas com representantes de alguns destas 
instituições. Algumas entrevistas foram presenciais, outras realizadas por 
escrito e foram oportunamente publicadas na Revista ANTT. Foram 
entrevistados: 
 
 Técnico de estradas do DNIT – Regional Uberlândia (abril de 
2011); 
 Paulo Sérgio Oliveira Passos – Ministro dos Transportes 
(Revista ANTT, novembro de 2010); 
 Marcelo Perrupato – Secretário Nacional de Política de 
Transportes (Revista ANTT, maio de 2011); 
 Luís Henrique Baldez – Presidente da NTU (Revista ANTT, 
novembro de 2011). 
 
Além de uma análise mais geral da atuação do Estado Brasileiro em 
transportes e ordenamento do território, foram propostos dois breves estudos 
de caso que permitam, de modo mais palpável, vislumbrar os impactos de tal 
atuação sobre o território. Escolhemos dois casos: 
 
 A construção do Contorno Norte de Uberlândia; 
ï‚§ O conflito entre a ANTT e o Instituto Chico Mendes de 
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sobre a 
duplicação da BR-101 e seus impactos sobre a Reserva 
Biológica União, no Estado do Rio de Janeiro. 
 
110 
 
 
 
 
3.2 As instituições de planejamento e gestão de transportes no Brasil 
 
Conforme, para esta tese, interesse apenas o transporte de longo curso, ou 
seja, o transporte não local/não urbano, elimina-se a análise das decisões a 
cargo de municípios, restando duas esferas da federação brasileira: a União e 
os Estados. Tendo em vista que o foco da tese é sobre o nível federal, 
focaremos na atuação da União brasileira em relação ao planejamento de 
transportes. 
A origem do Ministério dos Transportes remonta ao século XIX, nos tempos do 
Império, quando foi criada a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, 
Comércio e Obras Públicas, que, após diversas denominações e mudanças de 
atribuições, chegou ao nome atual. Porém, o Ministério dos Transportes, 
apesar de ser responsável pela maior parte do planejamento de transportes em 
nível federal, não é a única entidade com esta finalidade. Há a Secretaria 
Especial de Portos, desmembrada do Ministério dos Transportes, e a recém-
criada Secretaria de Aviação Civil, cujo objeto de regulação estava 
anteriormente sob tutela do Ministério da Defesa. Essas duas Secretarias 
possuem status de ministério. 
O Ministério dos Transportes tem por atribuição formular e aplicar a política de 
transportes ferroviários, aquaviários e rodoviários. Quanto ao transporte aéreo, 
a legislação (Decreto nº 7.717, de 4 de abril de 2012) especifica que o 
Ministério dos Transportes tão somente participa de sua coordenação, tendo 
em vista a existência da Secretaria de Aviação Civil. O mesmo se aplica ao 
sistema portuário, sob responsabilidade da Secretaria de Portos. 
A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República foi criada pela 
Medida Provisória 527, de 18 de março de 2011, convertida na Lei 12.462, de 4 
de agosto 2011. Suas atribuições contemplam o planejamento e a coordenação 
do setor de aviação civil, mantendo sintonia como Ministério da Defesa – de 
onde a atribuição vinha sendo executada anteriormente – no que for 
111 
 
 
 
necessário. Cabe destacar, até aquele momento, o caso sui generis em que a 
aviação civil seguiu, por tanto tempo, sob tutela da pasta da Defesa. 
A Secretaria de Portos da Presidência da República foi criada também por 
meio de uma Medida Provisória (nº 369, de 07 de maio de 2007) 
posteriormente convertida na Lei nº 11.518. Desmembrada do Ministério dos 
Transportes, tem por missão o planejamento e a coordenação do setor 
portuário.  
Vinculadas ao Ministério dos Transportes, encontram-se três instituições: a 
Agência Nacional de Transportes Terrestres, a Agência Nacional de 
Transportes Aquaviários, o Departamento Nacional de Infraestrutura de 
Transportes e a Valec Engenharia e Construções. As três primeiras são 
autarquias criadas no bojo da reestruturação do setor de transportes em 2001, 
em substituição ao antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – 
DNER; a Valec é uma empresa pública constituída com a finalidade de fazer a 
construção da Ferrovia Norte-Sul e, atualmente, leva a cabo a construção de 
trechos desta mesma ferrovia e outras. 
A ANTT tem por missão a regulação do transporte terrestre federal, 
compreendendo os contratos de concessão das ferrovias, das rodovias 
federais, as permissões para transporte interestadual e internacional de 
passageiros, bem como a emissão de normas para o transporte rodoviário de 
cargas, além do multimodal. 
À ANTAQ cabe a regulação da exploração do transporte aquaviário, dos portos 
e terminais de pequeno porte, da navegação interior, de cabotagem e de longo 
curso. Curiosamente, a ANTAQ é vinculada ao Ministério dos Transportes, e 
não à Secretaria de Portos, cuja missão é fazer a regulação dos Portos 
grandes, ou seja, aqueles que não estão sob tutela da ANTAQ. 
O DNIT é um órgão de execução, cabendo a ele a gestão das infraestruturas 
federais do Sistema Nacional de Viação que não estejam delegadas, sejam 
elas terrestres ou aquaviárias. Cabe ainda ao DNIT a emissão de normas, 
112 
 
 
 
padrões e especificações técnicas para todo tipo de obra de transportes. O 
principal foco de atuação do DNIT são as rodovias federais não delegadas. 
Recentemente, em agosto de 2012, por meio da Medida Provisória nº 576, 
convertida na Lei nº 12.743, de 19 de dezembro de 2012, fora criada, vinculada 
ao Ministério dos Transportes, a Empresa de Planejamento e Logística, em 
substituição à Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (ETAV), 
constituída no mesmo ano. Sua função original seria a de coordenar, junto à 
iniciativa privada, a implantação do primeiro trecho do Trem de Alta Velocidade, 
entre Rio de Janeiro e Campinas, absorvendo tecnologia estrangeira para 
novos projetos. Com a reestruturação – ainda recente para se tecer 
comentários mais profundos – a EPL passa, além dos projetos de trens de alta 
velocidade, a centralizar o setor de estudos e planejamento para todo o setor 
de transportes no Brasil.  
A EPL exerce ainda o papel de secretaria executiva do Conselho Nacional de 
Integração de Políticas de Transporte (CONIT), previsto para ser a entidade de 
coordenação das políticas de transportes desde 2001, mas até então nunca 
implantado. Outra inovação é que, para as concessões rodoviárias e 
ferroviárias, a EPL passa a atuar como o empreendedor perante o órgão 
ambiental, sendo responsável pela obtenção das devidas licenças e superando 
os problemas, notadamente atrasos, advindos da responsabilização dos 
concessionários pela obtenção das licenças ambientais. 
Vinculadas à Secretaria de Aviação Civil, estão a Agência Nacional de Aviação 
Civil (ANAC) e a INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura 
Aeroprotuária. A ANAC tem por objetivo regular o setor da aviação civil por 
meio da manutenção da concessão dos serviços de transporte aéreo, da 
infraestrutura aeroportuária e aeronáutica, regulando a atuação das empresas 
de transporte aéreo e de exploração de aeroportos, inclusive aqueles 
administrados pela INFRAERO. A INFRAERO, por sua vez, é uma empresa 
pública que mantém alguns dos principais aeroportos do país, sendo 
responsável por parcela significativa da demanda. 
113 
 
 
 
Observa-se, na descrição das instituições, a estrutura constando de órgãos de 
política e planejamento do setor – aqui ministérios e secretarias com este 
status e a EPL –, agências reguladoras, que gerenciam os contratos de 
prestação de serviços públicos por empresas privadas, e órgãos de execução 
direta, podendo ser eles empresas públicas ou autarquias. Nos Estados, 
replica-se uma estrutura semelhante, em que as secretarias estaduais de 
transportes, obras ou congêneres situam-se no topo da cadeia, promovendo a 
política e o planejamento, enquanto agências reguladoras regulam contratos 
com a iniciativa privada e, no nível de execução, departamentos de estradas, 
aeroportos, obras ou infraestrutura se responsabilizam pela execução direta 
dos serviços/infraestruturas (Figura 3.8). 
 
 
3.3 As redes e serviços de transportes em nível federal no Brasil atual 
 
A estrutura territorial brasileira demonstra claramente a falta de cuidado com 
sua gestão. A distribuição da população, das infraestruturas de transporte, da 
riqueza nacionalmente produzida e, principalmente, da qualidade de vida não 
se dão de forma equilibrada no território. O Estudo da Dimensão Territorial para 
o Planejamento (MPOG, 2008), bem como estudos do IBGE (2003 e 2012), 
mostra esta realidade com seu diagnóstico, conforme se vê nos mapas que se 
vêm a seguir. 
Tal padrão de ocupação e configuração do território guarda relação com a 
história da ocupação do espaço nacional, conforme pudemos analisar no 
capítulo anterior, que tratou do papel das redes de transporte na formação 
socioespacial do território brasileiro. 
 
 
114 
 
 
 
 
Figura 3.8: Distribuição de funções entre instituições de planejamento de transportes no Brasil.  
Org.: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2013. 
115 
 
 
 
 
 
Figura 3.9: Mapa de densidade demográfica das microrregiões (2008 – sem escala).  
Fonte: MPOG, 2008. 
116 
 
 
 
 
Figura 3.10: Mapa – Consumo médio (bens de consumo) per capita, 2003.  
Fonte: IBGE, 2010. 
117 
 
 
 
 
Figura 3.11: Mapa – Densidade Econômica – 1000 reais de PIB por área do município 2006. 
Fonte: IBGE, 2012.
118 
 
 
 
A população, apesar da existência de alguns pólos de desconcentração no 
interior, segue concentrada nas porções mais próximas da costa; a produção 
de riqueza é maior ao redor dos grandes centros e cidades médias, 
notadamente no Centro-Sul do país, salvo algumas zonas de produção agrícola 
e mineral modernizadas; por fim, os índices de qualidade de vida são melhores 
nas porções centro-meridionais do território. 
As redes de transporte, por sua vez, estão concentradas nas áreas de maior 
densidade demográfica e de produção de riquezas – ainda que o aspecto das 
redes, mesmo nessas zonas, não sejam de grande qualidade – sendo 
percebidos muito poucos esforços no sentido de melhorar a distribuição 
espacial desta infraestrutura para outras zonas, permitindo maior equilíbrio 
territorial. 
Além de mal distribuída, a infraestrutura de transportes mostra-se ineficiente 
para atender à necessidade de deslocamento de bens, impactando no preço 
dos produtos e diminuindo, assim, o poder de compra das pessoas. No que se 
refere ao transporte de passageiros, há também uma rede de serviços pouco 
eficientes e não integrados que, associados a uma distribuição espontânea e 
não planejada da população, do comércio e dos serviços mais elementares, 
dificultando o acesso da população a bens e serviços, impactando 
negativamente na qualidade de vida. 
Em outro nível, o transporte é ineficiente em termos de consumo energético e 
mais ainda como provedor de uma estruturação desejável do território (Quadro 
3.1). 
Segundo o PNLT (MT, 2007), a distribuição modal dos transportes no Brasil, no 
que se refere ao transporte de cargas, pesa muito em favor do modo 
rodoviário, sabidamente menos eficiente que os modos aquaviário, ferroviário e 
dutoviário, em termos de consumo energético (Figura 3.12). 
 
 
119 
 
 
 
Quadro 3.1: Consumo médio de combustível por modo de transporte. 
Modalidade 
Consumo de combustível (litro/ 
ton.km)* 
Rodoviário 101,2 
Ferroviário 23,3 
Navegação Interior 20 
Cabotagem 13,8 
Ferroviário (minério de ferro) 7,9 
Cabotagem (petróleo e gás) 5 
*Consumo de litros de diesel para transportar 1 tonelada por 1 quilômetro.  
Fonte: ANTT, 2011. 
 
 
 
 
Figura 3.12: Repartição modal de transportes no Brasil, 2007.  
Fonte: MINISTÉRIO dos Transportes; Ministério da defesa, 2007. 
 
120 
 
 
 
E, ainda que seja responsável por cerca de 30% da produção de transportes de 
cargas, a ferrovia responde por apenas 5% do consumo de combustível. Os 
caminhões, que transportam 61% da produção, consomem 95%. 
 
 
Figura 3.13: Participação no consumo de combustíveis fósseis por modo. 
 Fonte: ANTT, 2012. 
 
 
Chama a atenção, por fim, a falta de dados mais confiáveis que traduzam a 
realidade dos transportes no Brasil, tendo em vista que, pelo menos desde o 
início dos anos 2000, houve o completo desmonte das estruturas nacionais de 
informação e planejamento de transportes, tema do qual trataremos mais 
adiante. 
 
 
 
 
 
121 
 
 
 
3.3.1Transporte rodoviário 
 
A Rede rodoviária brasileira possui, segundo o Anuário Estatístico dos 
Transportes Terrestres, editado pela ANTT em 2009, uma rede de 1.735.612 
quilômetros de rodovias, das quais apenas cerca de 220 mil quilômetros são 
pavimentadas. Grosso modo, a imensa maioria dos trechos não pavimentados 
se refere a estradas municipais, servindo, em geral, ao transporte local da safra 
agrícola. As redes estaduais e federal possuem a maior parte de seus trajetos 
pavimentados (Quadro 3.2 e Figura 3.14). 
Porém, o fato de a rede principal ter um alto índice de pavimentação não 
significa uma garantia de que haverá uma compatibilidade de suas 
características físicas e operacionais com o volume de tráfego de veículos 
existente em sua totalidade. Na verdade, há inúmeros problemas de geometria, 
sinalização, manutenção e capacidade, comprometendo a qualidade da 
infraestrutura e a compatibilidade com a importância estratégica de alguns 
desses eixos. 
As fotografias a seguir refletem a falta de uma política de manutenção viária 
adequada, que se reflete na qualidade do pavimento, da limpeza da faixa de 
domínio e da manutenção de um padrão adequado de sinalização. 
 
Quadro 3.2 – extensão da malha rodoviária por condição e jurisdição.  
 Federais Estaduais Estaduais 
Coincidentes 
Municipais Total 
Pavimentadas 61.920 17.197 112.182 27.342 218.641 
Não 
Pavimentadas 
13.775 6.224 111.474 1.236.128 1.367.601 
Fonte: ANTT, 2009. 
 
 
122 
 
 
 
 
 
Figura 3.14: Mapa de Rodovias no SNV, 2012. 
123 
 
 
 
 
Figura 3.15: Foto de placa confusa em Blumenau, SC. 
 
Autor: SCHMIDT, A. D., 2012. 
 
 
Figura 3.16: Foto: Placa pichada em Valparaíso, GO.  
 
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
124 
 
 
 
 
Figura 3.17: Foto: Sinalização em Brasília.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
 
Figura 3.18: Foto: Canteiro central sem roçagem na BR-050 em Uberaba.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
125 
 
 
 
 
Figura 3.19: Foto: Sinalização de pavimento antiga e nova causando confusão.  
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2012. 
 
 
Referente à compatibilidade do padrão das vias com sua importância 
estratégica em nível nacional, podemos ver a parca distribuição de estradas 
duplicadas, concentradas majoritariamente no Estado de São Paulo – grande 
parte dela sob responsabilidade desse Estado, diretamente ou sob delegação – 
e em ligações entre a Grande São Paulo com outros pontos relevantes do país: 
São Paulo-Rio de Janeiro; São Paulo-Belo Horizonte; São Paulo-Goiânia-
Brasília; São Paulo-Porto Alegre; Litoral Nordestino, além de algumas poucas 
ligações regionais e travessias urbanas (Figura 3.20).  
 
 
 
126 
 
 
 
 
 
Figura 3.20: Mapa: SNV Rodovias Duplicadas, 2012. 
127 
 
 
 
O Brasil, por conta também de uma falta de hierarquia no sistema rodoviário 
nacional, possui vários eixos importantes, tanto em nível econômico quanto em 
nível estratégico, descoberto por uma rede com características compatíveis 
com tal importância. Mesmo as rodovias duplicadas apresentam uma 
diversidade de padrões de qualidade que acabam por denunciar esta ausência 
de diretrizes mais claras. A título de exemplo: são poucas as rodovias 
duplicadas – que possuem acesso controlado, podendo ser caracterizadas 
como autoestradas – ligando os centros mais destacados da rede urbana 
brasileira. 
A exemplo do eixo Brasília-Santos, que exploramos no prólogo do Capítulo, em 
que é possível se deparar com rodovias de excelente qualidade, como a 
Rodovia dos Imigrantes ou a Rodovia dos Bandeirantes; com rodovias com 
alguns problemas de interação com o meio urbano, como a Via Anhanguera; 
com trechos de qualidade regular, como o trecho mineiro da BR-050; trechos 
com problemas geométricos, como o trecho goiano da mesma rodovia. 
O mesmo eixo nos inunda de exemplos de um problema grave: o tratamento 
das travessias urbanas, que são trechos de rodovias que atravessam áreas 
urbanizadas. Obviamente, o tipo de impacto causado por uma rodovia de 
acesso local ou microrregional não é o mesmo daquele causado por grandes 
eixos estruturantes. Porém, não havendo uma diretriz nacional que hierarquize 
as rodovias, não existem também padrões diferentes para o tratamento de 
travessias urbanas: age-se reativamente frente ao aumento do volume de 
tráfego ou a número de acidentes, optando-se por adaptar a travessia ou 
construir contornos. 
Trinta (2001) destaca alguns impactos relacionados a travessias urbanas: 
 Os impactos sobre a mobilidade referem-se à redução da 
velocidade de percurso na via, muitas vezes sem a devida 
sinalização e padrões técnicos adequados.  
 Impactos sobre a acessibilidade, devido à localização de 
acessos, retornos, entradas e saídas; 
128 
 
 
 
ï‚§ Impactos sobre o meio ambiente (principalmente sobre o 
ambiente urbano): poluição sonora, atmosférica, vibração, 
visual, segregação urbana. 
Estudando, em particular, a percepção dos pedestres, Silva Júnior (2006, p. 85) 
conclui que: 
 
Dos impactos associados ao efeito barreira, os mais 
destacados, segundo a pesquisa, foram a “insegurança” (risco 
de sofrer acidentes), com um peso de 39% e a “dificuldade de 
cruzamento da pista”, com peso de 23%; seguidos pelas 
variáveis “Desestímulo ao uso das passarelas”, com 16%; 
“alteração no número de viagens” com 12% e “alteração na 
qualidade ambiental” com peso de 10%. 
Relacionados a cada uma dessas variáveis, destacaram-se 
alguns atributos: A “Insegurança (risco de sofrer acidentes)” 
está fortemente identificada com a velocidade e o volume de 
veículos da estrada; A “Dificuldade no cruzamento” se 
relaciona com os atributos: Ausência de passarela no local; 
sentido de mão de direção e número de faixas a serem 
atravessadas; O “Desestímulo ao uso de passarelas” se 
identifica com o aumento da distância percorrida e com o medo 
de ser assaltado; A “Alteração no número de viagens 
realizadas” se identifica com a supressão de viagens 
desacompanhas e a pé, a realização de viagens vinculadas e 
com a supressão de atividades realizadas do outro lado; A 
“Alteração na qualidade ambiental” se identifica com o ruído e a 
fumaça causada pelos veículos que trafegam a estrada. 
 
Porém, os impactos vão além daqueles visíveis à margem das rodovias, elas 
afetam os movimentos entre ambos os lados da pista, bem como alteram 
padrões de desenho urbano, ou seja, um impacto de natureza territorial, 
conforme destaca Mouette (1998, p. 65; grifos nossos), classifica os impactos 
das travessias urbanas – cujo principal efeito ela denomina efeito barreira – em 
três níveis: 
 
Os impactos primários são conseqüências diretas do sistema 
de transportes e referem-se a alterações na acessibilidade e 
mobilidade. São efeitos mais imediatos e facilmente 
perceptíveis. São fortemente percebidas na ADA [área 
129 
 
 
 
diretamente afetada]. Os impactos secundários compreendem 
as alterações da acessibilidade e na mobilidade da população 
e consequentes alterações nos padrões de viagens e no 
comportamento dos indivíduos afetados. Sua amplitude vai 
além da área diretamente afetada, atingindo a área de 
influencia direta. O último nível, o terciário, atinge a área de 
influencia indireta e refere-se às alterações na estrutura 
urbana.  
 
Outro problema inerente às rodovias brasileiras é o transporte de cargas. 
Conforme já abordado, o transporte rodoviário de cargas representa, segundo 
o Ministério dos Transportes (2007), cerca de 61% do total da movimentação 
nacional de cargas. Isto significa que alguns trechos, notadamente aqueles que 
servem a portos, zonas densamente industrializadas e zonas de produção 
agrícola elevada, possuam elevada participação de veículos de carga frente ao 
total de veículos passantes nas vias. Aqui é identificado outro problema 
relacionado à produção de informação: desde 2001, não há contagem 
volumétrica e classificatória do tráfego em nível federal, o que representa um 
apagão de informação necessária ao planejamento de transportes, havendo 
apenas contagens para projetos específicos. 
A idade média da frota – associada ao estado de conservação dos veículos de 
carga – é outro grande inconveniente, pois representa uma menor velocidade 
média, um maior consumo energético, maiores volumes de emissão e maiores 
riscos de acidentes. Os caminhões pesados foram responsáveis por 87% das 
emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte rodoviário de cargas 
no ano de 2010 (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES; MINISTÉRIO DAS 
CIDADES, 2012). 
130 
 
 
 
 
Figura 3.21: Emissões de CO2 (milhões de toneladas equivalentes de CO2 equivalente) no 
transporte rodoviário, 2010.  
Fonte: Plano Setorial de Mitigação e Adaptação em Transportes e Mobilidade Urbana. 
Ministério dos Transportes; Ministério das Cidades, 2012. 
 
 
Ressalte-se, ainda, a ausência de uma política consistente para renovação de 
frota, ainda que haja relativo consenso político quanto a isso ser um problema 
– em 2012, a Confederação Nacional dos Transportes, entidade de classe que 
congrega os transportadores, realizou um evento para discutir a necessidade 
de renovação da frota brasileira de caminhões, bem como apresentar 
alternativas para a situação. 
Um estudo de Rocha et al. (2011) indica que a linha de financiamento existente 
no BNDES, o chamado PROCAMINHONEIRO, até então a única política 
pública voltada para o setor, mostra-se ineficiente para estimular a renovação 
de frota, tendo em vista que os ganhos auferidos pelos caminhoneiros 
autônomos, possuidores da frota mais velha, são insuficientes para cobrir as 
parcelas nos prazos disponíveis. 
 
0,0 
10,0 
20,0 
30,0 
40,0 
50,0 
60,0 
70,0 
1990 1995 2000 2005 2010 
10 
6 
tonela das 
Caminhõespesados 
Caminhõesmédios 
Caminhõesleves 
2,4Mt 
(4%) 6,0Mt 
(9%) 
54,6Mt 
(87%) 
2010 
131 
 
 
 
Quadro 3.3: Idade da frota por tipo de veículo, 2010. 
Tipo de veículo Autônomo Empresa Cooperativa Total 
CAMINHÃO LEVE (3,5T A 
7,99T) 
19,0  8,0  11,4  12,8  
CAMINHÃO SIMPLES (8T 
A 29T) 
22,6  9,9  16,3  16,3  
CAMINHÃO TRATOR 17,1  7,0  14,5  12,8  
CAMINHÃO TRATOR 
ESPECIAL 
14,8  5,6  13,6  11,3  
CAMINHONETE / 
FURGÃO (1,5T A 3,49T) 
9,4  5,6  6,6  7,2  
REBOQUE 18,2  12,5  16,1  15,6  
SEMI-REBOQUE 13,9  7,8  11,1  10,9  
SEMI-REBOQUE COM 5ª 
RODA / BITREM 
8,1  4,8  2,7  5,2  
SEMI-REBOQUE 
ESPECIAL 
12,8  6,0  6,6  8,5  
UTILITÁRIO LEVE (0,5T A 
1,49T) 
12,9  5,9  8,1  8,9  
VEÍCULO OPERACIONAL 
DE APOIO 
23,9  15,4  8,3  15,9  
Total 15,7  8,1  10,5  11,4  
Fonte: ANTT, 2012.  
Org.: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
No que toca ao transporte de passageiros no Brasil, os deslocamentos são 
também essencialmente rodoviários. As atribuições são divididas entre os 
Estados e a União. Aos Estados cabem regular as linhas de ônibus que 
circulam dentro de seu território, enquanto à União, por intermédio da ANTT, 
cabe regular as linhas que transpõem os limites das unidades federadas e as 
linhas internacionais. 
132 
 
 
 
Um problema inerente a este modelo é que as rotas, que poderiam ser 
complementares, acabam por não sê-lo, ocorrendo problemas, inclusive, de 
sobreposição. Alguns trechos, apesar da proibição formal de as empresas 
interestaduais transportar passageiros em sessões dentro de um mesmo 
Estado, acabam por fazê-lo em zonas próximas às divisas. 
Um exemplo é a rota Uberlândia-Ribeirão Preto. Em tese, a empresa não 
poderia transportar passageiros entre Uberlândia e Uberaba, onde a linha faz 
seção. Mas, havendo uma parada naquela cidade e outra no povoado paulista 
de Coronel Quito, no limite entre os Estados de Minas Gerais e São Paulo, 
passageiros embarcam em Uberlândia como se fossem para tal povoado, e 
desembarcam em Uberaba. Ainda que pagando por uma distância maior que a 
percorrida, sai-se no lucro, pois as tarifas quilométricas interestaduais são mais 
baratas que aquelas praticadas dentro de Minas Gerais. 
Ouro exemplo são as linhas de ônibus que partem de Curitiba para 
Florianópolis, Itajaí ou Blumenau. Ainda que sejam linhas interestaduais, 
embarcam e desembarcam passageiros nas paradas intermediárias, fazendo 
seções dentro do Estado de Santa Catarina, contrariando o disposto em lei. 
Tratam-se de exemplos nos quais a lei mostra-se inadequada por não 
vislumbrar a complementaridade dos sistemas e na qual as empresas burlam a 
lei no sentido de oferecer um serviço com maior abrangência territorial e 
integração. 
 
 
3.3.2 Transporte Ferroviário 
 
A Rede ferroviária brasileira possui hoje aproximadamente 28.692 quilômetros 
(ANTT, 2012). A maior parte das linhas possui um traçado sentido interior-
litoral, resquício do padrão antigo de ocupação e modelo econômico exportador 
133 
 
 
 
de commodities. Comparando-se com outros países de porte similar, o Brasil 
possui hoje uma rede pequena e ineficiente, o que fica mais evidente quando 
se compara a densidade da malha com outros países. 
 
 
Figura 3.22: Densidade de malha ferroviáriano Brasil e outros países, 2011.  
Fonte: CNT, 2011. 
 
Atualmente, o transporte ferroviário responde por cerca de 30% do volume de 
cargas transportadas. Porém, deste volume, uma parcela expressiva – perto de 
90% – refere-se a poucos produtos e em trechos restritos: minério, siderúrgicos 
e soja, petróleo e derivados. Grande parte da rede é literalmente não utilizada. 
Chama mais uma vez a atenção o fato de os entes públicos não disporem de 
informação sistematizada de maneira fácil, sendo mais comum encontrar a 
informação junto aos entes privados regulados. 
Para além da concentração em poucos produtos, boa parte dos trechos 
ferroviários está subutilizada ou mesmo abandonada, conforme nos fala Baldez 
(2011), em entrevista concedida: 
O total da malha transferida ao setor privado ainda é 
subaproveitada – cerca de apenas 1/3 dos 28.000 km 
concessionados é plenamente utilizado, estando 2/3 
abandonados ou completamente ociosos. 
134 
 
 
 
 
Figura 3.23: Participação dos produtos transportados por ferrovia, 2012.  
Fonte: ANTT, 2012. 
 
A rede atual é quase totalmente concedida à iniciativa privada em malhas onde 
o operador privado possui a exclusividade da oferta do serviço de transporte. 
Há mecanismos de tráfego mútuo e de direito de passagem, mediante 
pagamento, nos quais trens de outras concessionárias podem atravessar para 
atingir determinado ponto. 
Devido às dificuldades relativas ao direito de passagem, às diferenças de 
bitola, às características operacionais e ainda ao monopólio da operação das 
malhas, a ferrovia brasileira é pouco atrativa para a carga geral. Sendo a 
manutenção da via permanente e a operação dos serviços de transportes 
mantidos pela mesma empresa, ela optará por cargas que permitam auferir 
maiores rendimentos; nem sempre pelo valor agregado da carga, mas pela 
possibilidade de contratos de longo prazo com grandes volumes, típicos de 
commodities como soja, minérios e petróleo. Acrescente-se aí o fato de que, no 
caso do minério, as empresas mineradoras pertencem aos mesmos grupos que 
os controladores das ferrovias. 
 
135 
 
 
 
 
                         Figura 3.24: Ferrovias Brasileiras – Concessionárias. 
136 
 
 
 
 
Baldez (2011, p. 77-78), nosso entrevistado segue: 
 
Em termos de qualidade das operações, observa-se ainda 
pouca conectividade entre as malhas (apenas 7% da produção 
é realizada sob a forma de direito de passagem e tráfego 
mútuo), são verificados constantes atrasos na entrega das 
cargas, pouco (ou nenhum) investimento foi realizado para a 
eliminação de gargalos urbanos e passagens de nível e os 
acessos ferroviários têm graves carências. 
Além do mais, em virtude das concessionárias manterem uma 
postura monopolista nas malhas, as tarifas ferroviárias são 
caras e não permitem que os ganhos de escala e de eficiência 
experimentados neste período possam ser repassados, pelo 
menos em parte, para as tarifas pagas pelos usuários, o que 
beneficiaria a sociedade como um todo ao comprar produtos a 
preços menores. 
 
No que toca às características físicas, a ferrovia brasileira passa por problemas 
semelhantes às rodovias. O abandono do investimento em construção e 
manutenção por décadas condenou a ferrovia brasileira deste começo de 
século à obsolescência: são problemas de geometria, passagens de nível, 
travessias, travessias urbanas, manutenção e gestão de faixa de domínio. Este 
conjunto restringe a velocidade média operacional da ferrovia brasileira a 
meros 25 km/h (CNT, 2011)! 
Nas principais zonas conurbadas há problemas de conflito entre o fluxo dos 
trens de carga com os trens urbanos e suburbanos de passageiros, a exemplo 
do que ocorre na Grande São Paulo, onde há muito tempo se pensa em 
construir um Ferroanel, nos mesmos moldes dos contornos em outras zonas 
urbanizadas. 
Desde meados da década passada houve a retomada da construção de novos 
trechos, destacando-se um primeiro trecho da Ferronorte, a continuidade da 
Ferrovia Norte-Sul, que vinha se arrastando desde os anos 1980 e, mais 
recentemente, a construção da Ferrovia Oeste-Leste, da Transnordestina e da 
Ferrovia de Integração Centro-Oeste, totalizando aproximadamente quatro mil 
137 
 
 
 
quilômetros em obras do total de cerca de 10 mil quilômetros planejados 
(MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2012). 
Estes novos trechos contemplam principalmente o acesso a áreas de alta 
produção agrícola e mineral e o acesso aos novos portos. Porém, nenhum 
desses novos projetos contempla um projeto de organização territorial ao seu 
redor, nos moldes do que foi a colonização do Oeste americano ou, mesmo no 
Brasil, do Norte Paranaense, cuja base foi a venda de lotes urbanos e 
pequenas propriedades rurais ao longo do eixo ferroviário. 
A novidade para estes novos trechos está na previsão do modelo open acces, 
no qual a operação dos serviços e a manutenção da infraestrutura ficariam a 
cargo de entidades diferentes, provendo a possibilidade de entrada de 
transportadores independentes e, assim, maior oferta de serviço, maior 
concorrência e maior atratividade para a carga geral. 
Para os trechos já concedidos, estuda-se negociar com as atuais 
concessionárias e prorrogar o prazo das concessões, mediante facilitação do 
direito de passagem. 
Para além do transporte suburbano, há hoje apenas dois serviços de transporte 
ferroviário de passageiros em todo o país: um entre Parauapebas e São Luís, e 
outro entre Belo Horizonte e Vitória. A grande novidade do setor seria a 
retomada do transporte de passageiros de longo curso nessas novas linhas. 
Além delas, encontra-se em fase de estudos a construção de uma linha de alta 
velocidade ligando as zonas metropolitanas do Rio de Janeiro, Vale do 
Paraíba, São Paulo e Campinas: a região mais adensada do país. Além dela, o 
planejamento nacional prevê mais três linhas partindo do hub principal da rede, 
Campinas, em direção a Belo Horizonte, Curitiba e Uberlândia. 
Caso executadas, serão os primeiros eixos estruturantes de uma rede que 
deverá conter outros eixos principais, secundários e ligações regionais, 
diminuindo a pressão sobre os sistemas rodoviário e aéreo. 
 
138 
 
 
 
 
3.3.3 Transporte Aquaviário 
 
Em termos de transporte aquaviário – ou hidroviário – o Brasil aproveita muito 
pouco do potencial que possui: milhares de quilômetros de rios e lagos 
navegáveis, além de seu vasto litoral, nas proximidades do qual se concentram 
o grosso de sua população e da produção de bens. 
Atualmente, a hidrovia responde por cerca de 4% do transporte de cargas no 
país (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2007); transporta-se na ordem de 
1,4 milhões de toneladas nas vias navegáveis interiores; o transporte de 
cabotagem responde por 133 milhões de toneladas e o transporte marítimo de 
longo curso 515 milhões de toneladas (ANTAQ, 2011). Nota-se uma grande 
predominância do transporte marítimo de longo curso relacionado diretamente 
ao comércio exterior. Porém, em relação à cabotagem e ao transporte nas vias 
navegáveis interiores, explora-se muito pouco as possibilidades: a cabotagem 
poderia ligar as zonas produtoras e consumidoras do litoral e algumas ações 
poderiam fomentar um melhor uso das vias navegáveis interiores. 
No interior, algumas vias navegáveis apresentam corredeiras, trechos 
assoreados e quedas d’água, notadamente em trechos de planalto. A 
construção de barragens para aproveitamento do potencial hidrelétrico, que 
poderia ter um efeito positivo para a navegação, por meio da superação de 
quedas d’água e corredeiras, acaba por impor-se como barreiras, tendo em 
vista que as barragens são construídas, quase sempre, sem eclusas que 
permitam sua transposição. Outro ponto é a inexistência de canais interligando 
bacias, permitindo que as vias navegáveis sejam mais atraentes às 
movimentações que demandem as zonas mais ocupadas do território. 
 
 
139 
 
 
 
 
Figura 3.25: Mapa Hidroviário e principais portos, 2012.
140 
 
 
 
Os portos brasileiros possuem, em geral, instalações precárias e incapazes de 
atender à demanda por movimentação de mercadorias. Isso explica, embora 
apenas parcialmente, a pequena participação do transporte aquaviário na 
matriz nacional de transportes, além de impossibilitar os portos brasileiros de 
fazer frente aos grandes portos internacionais. 
A movimentação de cargas se concentra nos portos da porção mais meridional 
do país, como Santos, Paranaguá, Itajaí e Rio de Janeiro, por exemplo. Boa 
parte deles está sobrecarregada e, paradoxalmente, não são os produtos de 
alto valor agregado que promovem este congestionamento, mas commodities, 
como a soja, lotam de caminhões os portos de Paranaguá e Santos no período 
da safra. Enquanto isto, portos equidistantes na porção setentrional do país 
permanecem com capacidade ociosa, devido à simples falta de acesso 
adequado às principais zonas produtoras, na porção central do Brasil. 
O acesso aos portos é bastante problemático, pois entre os mais antigos, a 
localização é cercada de áreas urbanas consolidadas e não existe clareza 
sobre as faixas de domínio das ferrovias e rodovias que ali desembocam. Em 
muitos casos, o acesso de trens e caminhões, além de conflitarem entre si, 
conflita com o meio urbano. 
O transporte de passageiros por via aquaviária é, em geral, pequeno, sendo 
expressivo apenas na região amazônica que, desprovida de outros meios de 
locomoção, tem no transporte fluvial seu principal meio de deslocamento para 
pessoas e mercadorias. Porém, as embarcações e estações de embarque não 
apresentam bons padrões de qualidade e não recebem fiscalização adequada, 
o que pode ser observado pelo elevado número de acidente (BASTOS, 2006). 
 
141 
 
 
 
 
Figura 3.26: Fila de caminhões aguardando para descarregar em Paranaguá.  
Fonte: Caminhões e Carretas, 2012. 
 
 
 
3.3.4 Transporte Aéreo 
 
Apesar da pequena participação no volume de cargas transportadas, restrito 
basicamente ao movimento de cargas de maior valor agregado devido ao 
custo, o transporte aéreo é bastante significativo na movimentação de 
passageiros. Considerando a qualidade das rodovias brasileiras, a pouca 
confiabilidade dos serviços rodoviários e, ainda, a quase inexistência de 
serviços ferroviários de passageiros, é esperado que alguma alternativa surja 
para atender às necessidades de deslocamento. 
142 
 
 
 
Em 2010, foram transportados 77 milhões de passageiros nos aeroportos 
brasileiros (ANAC, 2011), concentrados, principalmente em 58 aeroportos que 
transportam mais de 100 mil passageiros anualmente cada. 
Em se tratando do transporte aéreo de um modo de transporte “reativo”, ou 
seja, que surge para atender uma demanda pré-existente e não para fomentar, 
os aeroportos mais movimentados tenderão a se localizar nos centros urbanos 
mais populosos e ricos do país. 
Em um primeiro pelotão, encontram-se os principais hubs nacionais: 
Guarulhos, Congonhas (São Paulo), Brasília e Galeão (Rio de Janeiro), todos 
transportando mais de 10 milhões de passageiros anualmente. Em um 
segundo nível, os demais aeroportos de importância nacional: Confins (Belo 
Horizonte), Santos Dumont (Rio de Janeiro), Viracopos (Campinas), Salvador, 
Porto Alegre, Recife e Fortaleza, transportando entre 5 e 10 milhões de 
passageiros anualmente. Aeroportos de importância regional destacada 
formam o terceiro grupo, que transporta entre 1,5 milhão e 3,2 milhões: 
Manaus, Belém, Vitória, Florianópolis, Goiânia, Natal, Cuiabá, São Luís, 
Maceió, Campo Grande e Foz do Iguaçu. O quarto estrato é composto por 
aeroportos de importância regional transportando entre meio milhão e 1,5 
milhão, que incluem pouco mais de uma dúzia de aeroportos, como Uberlândia, 
Londrina e Ribeirão Preto. Os que transportam entre 100 mil e 500 mil, cerca 
de 20, possuem alcance regional pouco mais restrito; os demais possuem 
abrangência basicamente local. 
Apesar de não figurarem entre os aeroportos com mais de 100 mil passageiros, 
chama a atenção um volume expressivo movimentado nos pequenos 
aeroportos amazônicos. Assim como a peculiaridade do transporte hidroviário 
naquela região, a importância do transporte aéreo liga-se à ausência de uma 
rede densa de rodovias e ferrovias. O avião e o barco são os veículos que 
movem os amazônidas. 
 
 
143 
 
 
 
 
Figura 3.27: Mapa dos aeroportos que mais transportaram em 2011. 
144 
 
 
 
 
Nos últimos anos, tendo havido um crescimento expressivo da renda média do 
brasileiro, houve uma explosão na demanda por transporte aéreo, chegando a 
cerca de 10% ao ano entre 2003 e 2008 (BNDES, 2010). 
No entanto, a capacidade de resposta do Estado Brasileiro não tem conseguido 
acompanhar o crescimento da demanda, sendo notória a superlotação dos 
aeroportos, não apenas nas horas de pico e datas especiais, mas, agora, 
também em dias úteis. Problemas com a ocupação urbana indevida no entorno 
dos aeródromos dificultam obras de expansão. Este conjunto de problemas, 
aliado a outros relacionados ao controle de tráfego aéreo, instalaram o que a 
imprensa denominou caos aéreo. 
 
 
3.4 As estruturas de planejamento em nível federal 
 
Na seção 3.2, apresentamos as instituições responsáveis pela gestão da 
infraestrutura e dos serviços de transportes em nível federal e, na seção 
seguinte, uma breve apresentação da configuração atual das redes de 
transporte no Brasil. Nesta seção, analisaremos as peças de planejamento que 
servem de base para que as instituições atuem na definição das redes e 
serviços, suas concepções e formas de atuação, principalmente no que tange à 
interação dessas redes com o ordenamento do território. 
 
 
 
 
145 
 
 
 
3.4.1 O Plano Nacional de Viação – PNV 
 
Até 2011, toda a organização dos sistemas de transportes de interesse 
nacional no Brasil era gerida pelo Plano Nacional de Viação. Instituído pela lei 
n. 5.917, de 1973, ele se constituía em uma revisão do Plano Nacional de 
Viação anterior, de 1964, tendo em vista o rápido crescimento econômico que o 
país vivia àquela altura e que não poderia ser suportado por esta versão.  
O PNV 1973 é essencialmente multimodal e continha a infraestrutura 
considerada essencial para a consecução dos objetivos nacionais, isso já 
deixado claro em seu texto: 
 
Art. 2º O objetivo essencial do Plano Nacional de Viação é 
permitir o estabelecimento da infra-estrutura de um sistema 
viário integrado, assim como as bases para planos globais de 
transporte que atendam, pelo menor custo, às necessidades do 
País, sob o múltiplo aspecto econômico-social-político-militar. 
 
E levava em consideração, ainda, a articulação com outros planos, por meio da 
devida articulação interinstitucional: 
 
Art. 3º O Plano Nacional de Viação será implementado no 
contexto dos Planos Nacionais de Desenvolvimento e dos 
Orçamentos Plurianuais de Investimento, instituídos pelo Ato 
Complementar nº 43, de 29 de janeiro de 1969, modificado pelo 
Ato Complementar nº 76, de 21 de outubro 1969, e Lei 
Complementar nº 9, de 11 de dezembro de 1970 obedecidos, 
especialmente os princípios e normas fundamentais seguintes, 
aplicáveis a todo o Sistema Nacional de Viação, e inclusive à 
navegação marítima, hidroviária e aérea [...]. 
 
Dentre estes princípios, destacavam-se: a necessidade de estudos; a 
economicidade das escolhas; a multimodalidade; garantia da implantação de 
infraestruturas que, ainda que antieconômicos, fossem tidas como de 
146 
 
 
 
segurança nacional; necessidade de articulação dos planos estaduais e 
municipais com o plano federal. 
O plano trazia o conjunto de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroporto 
considerados essenciais para o desenvolvimento nacional. Para as rodovias, 
que totalizavam 111.944 km, o PNV considerava apenas as essenciais, e eram 
assim consideradas aquelas que satisfizessem ao menos uma das 
características seguintes: 
 
 
 
Figura 3.28: Características das rodovias constantes do PNV.  
Fonte: BRASIL, 1973. 
 
 
147 
 
 
 
Isto devido ao fato de ser um sistema capilar e de grande extensão, sendo 
necessária a divisão de responsabilidades com Estados e municípios. Para as 
ferrovias, as normas eram menos exigentes e todas elas estavam abarcadas 
pelo PNV, devendo apenas “a) ligar a Capital Federal a Capitais Estaduais ou a 
pontos importantes do litoral ou de fronteira terrestre; b) ligar entre si pólos 
econômicos, núcleos importantes, ferrovias e terminais de transporte.” 
(BRASIL, 1973). Para as ferrovias eram previstos 33.806 km. 
Além dos eixos de transportes terrestres, foram previstos 39.904 km de vias 
navegáveis, servidas por 101 portos e, ainda, 412 aeródromos. Adicionalmente, 
a lei tratava dos sistemas urbanos e metropolitanos, de responsabilidade dos 
Estados e Municípios. 
Apesar de serem previstas revisões quinquenais do PNV, esta sistemática não 
foi adotada, sendo incluídos ou alterados trechos viários conforme a 
conveniência ou necessidade. O PNV serviu de guia para as ações em 
transporte desde 1973 até 2011, quando foi substituído pelo Sistema Nacional 
de Viação (SNV) , instituído pela Lei nº 12.379, de 6 de janeiro de 2011. 
 
 
3.4.2 O Sistema Nacional de Viação – SNV  
 
O Sistema Nacional de Viação brasileiro, que substituiu o PNV, é composto 
pelos subsistemas rodoviário, ferroviário, aquaviário e aeroviário federais. 
Apesar da substituição, ele absorve as infraestruturas anteriormente previstas 
pelo SNV. 
Os objetivos do SNV incluem: 
 
I - assegurar a unidade nacional e a integração regional;  
II - garantir a malha viária estratégica necessária à segurança 
do território nacional;  
148 
 
 
 
III - promover a integração física com os sistemas viários dos 
países limítrofes;  
IV - atender aos grandes fluxos de mercadorias em regime de 
eficiência, por meio de corredores estratégicos de exportação e 
abastecimento;  
V - prover meios e facilidades para o transporte de passageiros 
e cargas, em âmbito interestadual e internacional (BRASIL, 
2011). 
 
 
Observa-se que, ao menos textualmente, a lei do SNV tem em seu bojo 
objetivos de natureza territorial, trazendo conceitos como “unidade nacional”, 
“integração regional”, “segurança do território nacional” e não apenas objetivos 
de fornecer meios para realização do deslocamento de pessoas e mercadorias 
no território. 
Destaca-se, dentre as rodovias, a Rede de Integração Nacional (RINTER) , que 
consiste no conjunto daquelas rodovias que possuam ao menos um dos 
seguintes requisitos:  
 
I - promover a integração regional, interestadual e 
internacional;  
II - ligar capitais de Estados entre si ou ao Distrito Federal;  
III - atender a fluxos de transporte de grande relevância 
econômica; e 
IV - prover ligações indispensáveis à segurança nacional 
(BRASIL, 2012). 
 
 
Para as demais infraestruturas, não se traz nenhuma grande diferenciação em 
relação ao que já era feito no PNV. Particularmente em relação às rodovias, 
tanto o SNV quanto o PNV não fazem qualquer distinção entre padrões 
mínimos para sua geometria. Embora no SNV tenha destacado dentro do 
subsistema rodoviário uma rede (RINTER), não se atribui a esta rede 
características geométricas que lhe permitam ser, de fato, essa rede 
estruturadora do território nacional. 
 Os subsistemas do SNV são compostos por rodovias, ferrovias, hidrovias, 
portos e aeroportos geridos por entes federais, estaduais, municipais, podendo 
ser operados diretamente por órgãos ou empresas públicas ou, ainda, 
149 
 
 
 
mediante concessão por ente privado. Os anexos da referida Lei trazem os 
seguintes dados: 121.022,3 km de rodovias (dos quais 54.322,40 compõem a 
RINTER), 45.469 km de ferrovias, 56.594km de vias navegáveis, 48 portos 
marítimos, 216 portos fluviais e lacustres, 26 eclusas e 126 aeródromos. 
O veto presidencial aos anexos, que continham o detalhamento da 
infraestrutura que comporiam os subsistemas e a RINTER, baseado na 
ausência de algumas infraestruturas tidas como essenciais pela Presidência da 
República, fez com que houvesse a simples absorção do que já estava 
preconizado no PNV, ou seja, o SNV é mera sucessão do PNV sem, portanto, 
trazer nenhum avanço significativo para o planejamento de transportes em 
nível federal. 
 
 
3.4.3 O Plano Nacional de Logística e Transportes – PNLT 
 
O PNLT foi desenvolvido ao longo do ano de 2006, tendo sido produto de uma 
parceria entre o Ministério dos Transportes e o Ministério da Defesa. Àquela 
altura, a Secretaria de Portos era ainda parte do Ministério dos Transportes e 
não existia a Secretaria de Aviação Civil, cujas funções atuais eram conduzidas 
pelo extinto Departamento de Aviação Civil, vinculado ao Ministério da Defesa. 
Ou seja, o PNLT é produto da ação dos dois órgãos máximos de decisão em 
transportes naquela época. 
O Plano foi lançado ao público em 2007, tendo por objetivo primeiro retomar a 
tradição de planejamento de transportes de longo prazo, que há muito não 
vinha sendo praticado, por meio da construção de bases georreferenciadas de 
dados necessários ao planejamento do setor: 
 
150 
 
 
 
A elaboração do PNLT pretende, assim, representar o marco 
inicial da retomada, em caráter permanente, das atividades 
destinadas a orientar o planejamento das ações públicas e 
privadas no setor dos transportes, com embasamento 
científico. O funcionamento desse sistema permitirá a 
atualização e divulgação periódica de estratégias e diretrizes 
que possam orientar as intervenções dos agentes públicos e 
privados envolvidos com o setor dos transportes.  
De imediato, o PNLT servirá de embasamento para as 
formulações do Plano Plurianual PPA 2008-2011, das primeiras 
indicações de investimentos para o PPA 2012-2015 e dos 
ensaios de organização dos PPAs seguintes até 2023, quando 
se atinge o horizonte dos estudos socioeconômicos elaborados 
para este Plano. Importa ressaltar ainda que o recente 
Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, lançado pelo 
Governo Federal em 22 de janeiro de 2007, está integrado ao 
PNLT no que diz respeito ao seu horizonte 2008-2011 
(MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2007). 
 
O segundo objetivo trata da incorporação da análise de custos da cadeia 
logística de produtos. Na avaliação de Arantes (2012), a apropriação do 
conceito de logística pelo PNLT não é clara, parecendo pender a análise para 
aquela ligada à logística empresarial, ou seja, aquela de interesse puramente 
do ente privado, ao invés de tratar da logística estatal, ou seja, aquela que 
 
[...] se insere enquanto visão política e, sobretudo, base de 
planejamento que orienta o administrador legal (e legítimo) no 
ordenamento de seus recortes territoriais (municípios, unidades 
federativas e união). Sendo assim, a macrologística programa 
as bases territoriais, regionais e espaciais dos fluxos de 
materiais entre os sistemas produtivos. Em contrapartida, ela 
não só se inscreve no sentido da eliminação das barreiras aos 
fluxos, mas também pode ser orientada para uma política de 
ordenamento territorial (ARANTES, 2012, p. 4). 
 
Isto por levar em conta que a redução de custos logísticos de determinadas 
zonas deprimidas pode, por exemplo, servir de catalisador para o 
desenvolvimento de ações que propiciem a produção e maior intercâmbio de 
produtos desta com outras zonas, fomentando seu desenvolvimento. Neste 
ponto, o PNLT peca por não levar em conta de modo mais aprofundado o 
tema. 
151 
 
 
 
O terceiro objetivo trata da mudança modal, em busca de uma matriz de 
transportes de cargas mais eficiente sob o ponto de vista do custo. A meta é 
que, no horizonte 2025, o transporte rodoviário perca importância, caindo de 
quase 60% das movimentações para 33%, com o respectivo ganho de 
importância de modos mais eficientes como o hidroviário e o ferroviário. 
 
 
Figura 3.29:Matriz de transportes de cargas em 2005 e 2025.  
Fonte: MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 2007. 
 
Como efeito marginal do terceiro objetivo, temos o quarto, que é a preservação 
ambiental. Com a adoção de modos mais eficientes e menos consumidores de 
energia, têm-se um ganho de eficiência energética, refletindo em um menor 
consumo de combustíveis fósseis, a principal fonte de energia para o 
transporte no Brasil. Para além da eficiência energética, buscou-se parceria 
com estudo então em desenvolvimento pelo MPOG (Estudo da dimensão 
territorial para o planejamento), visando levar em conta questões de restrição 
de uso do solo e áreas de preservação. 
Quanto ao aspecto da eficiência energética, Marcelo Perrupato, Secretário 
Nacional de Política de Transportes, afirmou em entrevista: 
 
152 
 
 
 
[...] Em uma análise preliminar, as perspectivas apontam para 
que a carga transportada em 2025 seja o dobro daquela 
transportada em 2010. Se contemplarmos as mudanças 
previstas na matriz logística brasileira do PNLT, mesmo 
dobrando a carga transportada, ou seja, um incremento na 
produção de transportes de 850,9 para 1.510,4 bilhões tku 
(tonelada kilômetro [sic] útil) teremos como benefícios 
resultantes da mudança da Matriz de Transportes para 2025: 
38% de aumento da eficiência energética; 41% de redução de 
consumo de combustível; 32% de redução de emissão de CO2 
(dióxido de carbono ou gás carbônico); e 39% de redução de 
emissão de NOx (óxido nitroso). 
 
O quinto e último objetivo constituiu aquele com maior ligação com a questão 
territorial, que incluía o enquadramento de projetos estruturantes, enquadrados 
em quatro categorias: 
 
 Aumento de eficiência produtiva em áreas consolidadas: a 
maioria dos projetos aqui enquadrados liga-se à superação 
de gargalos que impedem esse aumento de eficiência em 
zonas de elevada densidade populacional e econômica, 
incluindo ampliações de capacidade rodoviária, contornos 
urbanos e passagens de nível ferroviários; 
 Indução ao desenvolvimento de áreas de expansão de 
fronteira agrícola e mineral: os projetos aqui enquadrados 
pretendem atender à crescente demanda por transportes 
nas zonas de expansão agrícola, majoritariamente no 
Centro-Oeste brasileiro e zonas de produção mineral, por 
meio de construção e pavimentação de rodovias e 
implantação de ferrovias; 
 Redução de desigualdades regionais em áreas deprimidas: 
são projetos em regiões com indicadores socioeconômicos 
abaixo da média nacional, que incluem melhoramentos em 
portos e vias, visando fornecer a base para que potenciais 
empreendimentos possam se instalar; 
153 
 
 
 
 Integração regional sul-americana: projetos em zonas de 
fronteira e em corredores pré-definidos que propiciem 
melhor acesso e intercâmbio com os países vizinhos. 
 
Esse conjunto de objetivos subsidiam as bases conceituais do PNLT, quais 
sejam: 
 
 Caráter indicativo; 
 Plano nacional e federativo, não meramente federal; 
 Plano de Estado, não de governo; 
 Plano multimodal, envolvendo a cadeia logística e seus 
custos; 
ï‚§ Processo de planejamento permanente, participativo, 
integrado e interinstitucional; 
ï‚§ Plano fortemente apoiado em conceitos de territorialidade, 
segurança nacional, desenvolvimento sustentável, justiça 
social, preservação ambiental, evolução tecnológica e 
racionalização energética. 
 
A metodologia da elaboração do plano contempla uma regionalização em 
“vetores logísticos” que, conforme definição do documento, consiste em 
agrupamentos de microrregiões geográficas com base em impedâncias 
ambientais, similaridade socioeconômica, perspectivas de inter-relacionamento 
e, por fim, linhas isocustos para transporte até os principais portos 
concentradores do país. O que aparenta é que essa espacialização não tem 
grande relevância na condução dos estudos, mas apenas para apresentar o 
portfólio de projetos segmentados por região. 
Foi construída, inicialmente, uma base georreferenciada contendo as 
informações das redes de transporte e das microrregiões (zonas de tráfego) 
que serviriam de base para as simulações. Em geral, foram adotadas as 
154 
 
 
 
microrregiões geográficas do IBGE como zonas de tráfego, à exceção de 
algumas no Norte do país, onde se adotaram municípios ou aglomerações de 
municípios menores que microrregiões, devido à extensão territorial dos 
municípios naquela região. 
 
 
 
Figura 3.30: Vetores logísticos do PNLT. MT, 2012. 
 
 
Com base no zoneamento e na rede, foram feitas projeções da oferta atual de 
transportes – sobretudo com fundamento em modelos econométricos, quando 
se adotou o modelo de quatro etapas para as simulações atuais. Foram feitas 
projeções da demanda futura de transportes, com base em um rol de produtos 
155 
 
 
 
considerados essenciais, e daí, feitas as simulações do comportamento da 
rede de transportes com a demanda futura. 
 
 
Figura 3.31: Etapas de simulação: Caracterização atual, projeções futuras e avaliação de 
alternativas. 
Fonte: MT, 2007. 
 
 
Com base na matriz origem-destino futura desse rol de produtos, foram feitas 
simulações com alternativas para a rede futura. Vale destacar que as opções 
de rede futura foram construídas levando-se em conta as contribuições 
recebidas em reuniões públicas, realizadas em todo o país no ano anterior 
(2006). Tais reuniões contaram com a participação de órgãos da administração 
pública dos Estados e com outros interessados da sociedade civil – por isso, o 
documento faz alusão a ser um plano “democrático” e “participativo”. 
Considerando o cenário macroeconômico do Brasil em 2023, o ano-horizonte 
do plano, as alternativas, o nível de serviço alcançado, as questões ambientais 
ligadas ao traçado e os custos de implantação, se deliberou o portfólio de 
obras, que é a essência do plano. 
O Plano previu ainda revisões periódicas, visando adaptar o portfólio às 
mudanças estruturais normais de se acontecerem e, eventualmente, não 
156 
 
 
 
previstas pelo plano. Sendo um processo, é de se esperar que o planejamento 
leve isto em conta. A revisão do PNLT teve início em 2010 e contou com 
reuniões públicas nos mesmos moldes do plano original. Havia a previsão de 
que fosse lançado a público em 2011, mas, até o momento, não o foi. 
Há de se levar em conta que as obras previstas pelo PNLT tem, em alguma 
medida, sido executadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento, do 
Governo Federal que, com algum sucesso, tem conseguido executar as obras 
no prazo previsto. Porém, os investimentos são muito aquém do necessário 
para consecução do PNLT como um todo. Em se tratando de um documento 
sem força de lei e com aplicação restrita ao Ministério dos Transportes, sua 
influência sobre a área portuária e de aviação civil é restrita. Outro ponto é o 
fato de o plano ser federativo, ou seja, inclui obras que deveriam ser 
conduzidas pelos Estados e aqui, novamente, percebe-se o peso de este plano 
não ter força de lei. 
Outro ponto é que os investimentos governamentais seguem concentrados em 
rodovias e, dificilmente, proporcionarão a mudança modal esperada. 
Simulações contidas na versão preliminar do PSTM – Plano Setorial de 
Mitigação e Adaptação à Mudança Climática – Transportes e Mobilidade 
Urbana – que tem como base a atualização do PNLT para 2011 (não disponível 
ao público) mostra que a mudança modal prevista originalmente no PNLT de 
2007 está longe de ser realidade, ainda que realizados todos os investimentos 
previstos no portfólio, conforme Figura 3.32.  
157 
 
 
 
 
Figura 3.32: Repartição modal ao longo dos anos com obras previstas no PNLT.  
Fonte: MT; MCidades, 2012. 
 
Considerando a pouca efetividade em cumprir seu principal objetivo, que seria 
a mudança modal, bem como seu modelo de construção que, ao que parece, 
simplesmente busca atender basicamente aos anseios do mercado. Ao 
contrário do pretenso viés territorial, o PNLT pouco altera a dinâmica territorial, 
mas apenas fornece elementos de superação de gargalos em zonas já 
adensadas e opções de transporte em zonas onde já florescem atividades de 
exploração mineral e o agronegócio. Ou seja: em nada reorganiza o território, 
mas apenas reforça os padrões vigentes hoje. 
 
 
3.4.4 O Plano de Investimentos em Logística – PIL 
 
Houve, em fins de 2012, o anúncio do Plano de Investimentos em Logísticas 
pelo Governo Federal. O plano não aparece consolidado em algum documento 
158 
 
 
 
público, mas em três apresentações disponíveis nos sítios eletrônicos do 
Ministério dos Transportes, da EPL e das agências reguladoras vinculadas. 
Cada uma das tais apresentações contêm um portfólio de investimentos em 
rodovias e ferrovias, portos e aeroportos. Segundo a descrição no sítio 
eletrônico da EPL,  
 
O programa foi construído com base em três metas: a 
disponibilização de uma ampla e moderna rede de 
infraestrutura; a obtenção de uma cadeia logística eficiente e 
competitiva; e a modicidade tarifária. A meta é aumentar a 
integração entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e 
aeroportos. 
 
Tendo por base a ampliação e a modernização da infraestrutura para promover 
melhoria na cadeia logística e modicidade tarifária, o plano traz alguns pontos 
interessantes para cada modo de transporte.  
Para as rodovias, prevê-se a concessão de 7.500 km de vias, dos quais 
aproximadamente 5.000 que as obras de maior monta, notadamente as 
duplicações, sejam feitas nos primeiros cinco anos de concessão, 
representando cerca de 42 bilhões de reais em investimentos. 
159 
 
 
 
 
Figura 3.33:Investimentos do PIL em rodovias, Brasil, 2012. 
 
 
Em relação às ferrovias, a meta inclui a ampliação da rede ferroviária, 
ampliações de capacidade e, principalmente, a mudança no modelo de 
exploração da ferrovia, separando a gestão da infraestrutura da operação dos 
serviços de transporte nos trechos novos. Para este modo são previstos 91 
bilhões de reais em 10 mil quilômetros de ferrovias a serem construídas ou 
modernizadas.  
No que se refere à mudança do modelo de exploração, nos novos trechos, a 
empresa vencedora do trâmite licitatório constrói a ferrovia e mantém a 
ferrovia; a VALEC, que até então coordenava a construção de ferrovias, passa 
a comprar a capacidade de frete da empresa contratada para manutenção e 
construção, ofertando, em seguida, a capacidade no mercado, visando o 
atendimento a um público mais amplo do que aquele que é atendido hoje. 
 
160 
 
 
 
 
 
Figura 3.34: Investimentos do PIL em ferrovias. Brasil, 2012. 
 
No tomo referente aos aeroportos, estão previstos investimentos de R$ 7,3 
bilhões em 270 aeroportos, além da concessão de mais dois grandes 
aeroportos – Confins, que atende a Região Metropolitana de Belo Horizonte, e 
Galeão, no Rio de Janeiro. Quanto aos 270 aeroportos que receberão 
investimentos, o objetivo principal é adequar a capacidade dos sítios 
aeroportuários e das infraestruturas de passageiros às necessidades atuais e 
ao aumento da demanda derivado aos estímulos pretendidos à aviação 
regional, haja vista a forte dependência desse tipo de aviação nas zonas mais 
isoladas e, ainda, a ausência de ligações aéreas em pólos regionais 
importantes e centros turísticos relevantes em todo o território nacional. 
161 
 
 
 
 
Figura 3.35: Investimentos do PIL em Aeroportos – Brasil, 2012. 
 
 
Prevê-se a padronização de características mínimas para os aeroportos 
regionais: pequenos, médios e médios-grandes, a serem administrados por 
meio de concessão administrativa – prevê-se a criação da Infraero Serviços, 
responsável por apoiar os atuais administradores dos aeroportos em sua 
gestão. Como estímulo à aviação regional, prevê-se a isenção das tarifas 
aeroportuárias em terminais que movimentem menos de um milhão de 
passageiros ao ano, bem como subsídios a linhas aéreas, conectando 
pequenas e médias cidades aos centros principais. 
Finalmente, em relação aos portos, os objetivos são acabar com as barreiras 
de entrada nos portos, estimular a participação do setor privado, modernizar a 
infraestrutura e a gestão portuária e, com isso, aumentar a movimentação de 
cargas por meio da redução de custos.  
O primeiro ponto do plano de ação é a reorganização institucional e resgate da 
capacidade de planejamento. O principal aspecto desse ponto é a unificação 
das autoridades fazendária, policial, sanitária, marítima e de saúde sob uma 
162 
 
 
 
única coordenação. O segundo ponto é o aperfeiçoamento do marco 
regulatório, visando ampliar o nível de competição no setor e, o terceiro, o 
conjunto de investimentos por meio de concessões, arrendamentos e 
construção de acessos aos portos, totalizando 54 bilhões de reais aplicados em 
portos e 6,4 bilhões em acessos. 
O plano é recente e a ausência de um documento de caráter mais técnico e 
menos de publicidade prejudica sua análise. Pode-se dizer que é um plano 
ambicioso em volumes de investimento e quanto ao resgate de patamares 
minimamente decentes de infraestrutura nacional, mas dá poucos indícios de 
que é um plano de investimento pensado no longo prazo e na organização do 
território. 
 
 
3.5 Atuação específica em dois casos 
 
3.5.1 O contorno e a travessia urbana de Uberlândia 
 
Uberlândia está situada em um importante entroncamento rodoviário, estando 
ligada a municípios vizinhos e a zonas distantes por eixos que partem em sete 
diferentes direções (BR-365 leste e oeste; BR-050 norte e sul; BR-497; BR-455 
e BR-452). Destes, o principal eixo é aquele composto pelo trecho sul da BR-
050 – em direção a São Paulo e ao Porto de Santos – e o trecho norte da BR-
050, em direção a Brasília e Araguari, e o trecho oeste da BR-365, fazendo a 
ligação com Goiânia e com o Sudoeste Goiano. 
Haja vista a carência de dados mais atuais, tendo em vista a suspensão da 
contagem de tráfego nas rodovias ainda em 2001, os únicos dados disponíveis 
sobre o movimento de veículos nestes trechos são aqueles apontados na 
Pesquisa Origem-Destino realizada pela Faculdade de Engenharia Civil da 
163 
 
 
 
Universidade Federal de Uberlândia, em 2002. Embora não haja dados do 
movimento nos trechos urbanos, há os dados de movimento na linha de 
contorno, ou seja, aqueles veículos que adentram ou saem da zona delimitada 
para a pesquisa, ou seja, a zona urbana de Uberlândia (Quadro 3.4). 
 
Quadro 3.4 – Movimento de veículos nas rodovias que passam por 
Uberlândia, 2002 
 
Fonte: adaptado de FECIV/ UFU 2002. 
 
Chama atenção a elevada participação de caminhões, da ordem de 43% do 
volume de tráfego. Número bastante coerente com a vocação da cidade como 
centro distribuidor de mercadorias: 
 
Estes números referem-se somente aos veículos que passam 
pelas rodovias, seja chegando ou saindo de Uberlândia, seja 
apenas passando pela cidade com outros destinos, não 
considerando os tráfegos de natureza intra-urbana, sobre os 
quais não existem dados ou estimativas por parte dos órgãos 
competentes (SILVA JÚNIOR, 2003, p. 19). 
 
Embora este relevante entroncamento viário garanta vantagens logísticas e 
locacionais a Uberlândia e a suas empresas, o fato de os principais eixos 
viários se cruzarem na zona urbana gera uma série de problemas associados à 
presença de rodovias estruturais em meio urbano, conforme destacamos em 
seções anteriores. Silva Junior (2003) avaliou este problema em duas 
164 
 
 
 
ocasiões, uma, em 2003, caracterizando o espaço lindeiro, e outra em 2006, 
avaliando os impactos na percepção dos pedestres. Nos dois casos foi 
analisado um trecho urbano da BR-050 na cidade de Uberlândia. 
Na intenção de sanar algumas dúvidas, buscamos a Unidade Local do DNIT 
em Uberlândia e o atendimento foi feito por um técnico de estradas que, aqui, 
optamos por não apresentar o nome. Em relação ao movimento no trecho 
urbano, ele informou que, na BR-050, enquanto houve contagem automática de 
tráfego (até 2001), o volume diário de tráfego variava de 12 mil a 26 mil 
veículos por dia, conforme o ponto de medição. Volumes maiores, portanto, 
que os 7-9 mil que nos trechos extraurbanos o que leva a se concluir que há 
tráfego urbano se utilizando das rodovias para os deslocamentos intraurbanos, 
confirmando a afirmação de Villaça (2001, p. 82): 
 
O sistema interurbano de transporte, quando apresenta a 
possibilidade de oferecer transporte urbano de passageiros, 
atrai ocupação urbana nos pontos acessíveis ou 
potencialmente acessíveis, visto que altera o valor de uso da 
terra, gerando uma oferta de novas localizações que são 
ocupadas pelo excedente da população e atividades geradas a 
partir da cidade central em expansão.  
 
Até por volta de 2007, a quase totalidade dos trechos urbanos de rodovias em 
Uberlândia corria em pista simples, até mesmo aqueles que, em 2001, 
apresentavam volumes diários de cerca de 26 mil veículos por dia. Duas 
soluções diferentes se apresentavam como solução para o problema: a 
primeira proposta pelo governo federal por meio do DNIT previa, desde o fim 
da década de 1990, a duplicação dos trechos urbanos do eixo principal e 
separação total dos tráfegos urbanos e rodoviário; a segunda, da Prefeitura 
Municipal, previa a construção de contorno viário e municipalização dos trechos 
urbanos das rodovias. 
165 
 
 
 
 
Figura 3.36: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções. 
Autor: Silvio Barbosa da Silva Junior, 2003. 
 
 
Figura 3.37: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções.  
Autor: Silvio Barbosa Silva Junior, 2003. 
166 
 
 
 
 
Figura 3.38: Fotografia da BR-050 – travessia urbana antes das intervenções.  
Autor: Silvio Barbosa Silva Junior, 2003. 
 
 
A proposta do DNIT, ao prever a separação dos tráfegos urbano e rodoviário 
ao longo do trecho, incluía a construção de trincheiras e viadutos, reforçando a 
característica de barreira visual com cortes e aterros. Outro problema é a 
expansão limitada da rodovia: a faixa de domínio estreita permitiria tão 
somente a adição de uma faixa o que, a médio/longo prazo, inviabilizaria uma 
nova expansão. Outro ponto relevante é que a construção de viadutos e 
trincheiras não garante a separação total dos tráfegos, tendo em vista que a 
disposição dos eixos favorece sua utilização como via urbana. 
Já a proposta da Prefeitura Municipal, prevista em seu Plano Diretor de 2006, 
herdada do Plano Diretor de 1994 e de ideias anteriores, previa um contorno ao 
norte da mancha urbana, parte aproveitando trechos já existentes, fazendo a 
ligação das BR-050 sul, norte, BR-365 leste com o trecho então existente do 
contorno a oeste da mancha urbana, concluindo a ligação com as BR-365 
167 
 
 
 
oeste e BR-497. Esta proposta tinha o empecilho de não estar previsto no 
Plano Nacional de Viação, vigente àquela altura; e, além disso, representaria 
um acréscimo de distância a ser percorrido para quem fizesse os principais 
deslocamentos (eixos São Paulo-Brasília e São Paulo-Goiânia): 
 
Apesar de já existirem as diretrizes de construção dos trechos 
Norte (em projeto) e Sul (em execução) do Anel Viário de 
Uberlândia, existe também a proposta de duplicação das 
rodovias BR-050 e BR-365 na área urbana de Uberlândia. 
Percebe-se neste caso outra contradição: se já existe o projeto 
de contorno rodoviário para a cidade, inclusive com trecho já 
concluído, por que duplicar o trecho pelo qual pretende-se 
justamente evitar o tráfego rodoviário? (SILVA JÚNIOR, 2003, 
p.56). 
 
Ainda em 2007, o cenário, além dos trechos urbanos em pista simples 
cruzando a zona urbana, ainda contemplava a recente duplicação da BR-050 
entre Uberlândia e a divisa com o Estado de São Paulo, finalizada na primeira 
metade da década, o trecho oeste do anel viário, construído pelo governo 
estadual de Minas Gerais na década de 1990, e o trecho sul do anel viário, 
deixado incompleto pelo mesmo governo estadual, e com obras abandonadas 
desde 1996. Havia ainda, aguardando licitação, os projetos de duplicação do 
restante do eixo principal: BR-365, em direção ao oeste, completando a ligação 
em pista dupla com Goiânia, e BR-050, ao norte, fazendo a ligação com 
Araguari e os limites de Minas Gerais com Goiás. 
Porém, quando já não havia qualquer expectativa de se deliberar um consenso 
e de se optar por uma solução, os dois projetos foram contemplados: tanto a 
duplicação da travessia urbana, prevista desde a década anterior, quanto a 
construção do contorno, que fora incluída no planejamento nacional na ocasião 
do PNLT. Ambas as obras foram viabilizadas com recursos do PAC, que 
passou a ser o programa de gerenciamento de obras federais após 2007. 
A duplicação da travessia urbana se inicia no ponto onde fora concluída a 
duplicação da BR-050 sul. Aqui vale um parêntese, pois esta duplicação deixou 
um viaduto em pista simples na área urbana de Uberlândia (Avenida 
168 
 
 
 
Segismundo Pereira) que, até hoje, causa diversos acidentes e exige uma 
redução drástica de velocidade. Segundo o entrevistado do DNIT, a equipe do 
escritório regional de BH, na ocasião da elaboração do projeto, julgou 
desnecessário, já que o contorno norte de Uberlândia, cedo ou tarde, seria 
concluído. 
Do ponto inicial, a travessia percorre o trecho coincidente entre as BR-050, 365 
e 452, contemplando um complexo de viadutos, trincheiras, passagens 
superiores e inferiores, com pistas separadas por barreiras New Jersey, 
seguindo, depois, pelo trecho oeste da BR-365. Foi parcialmente concluída em 
2009, tendo algumas obras de arte remanescentes por serem ainda feitas. 
Outro trecho foi concluído em 2012, no âmbito da duplicação do trecho norte da 
BR-050. 
 
 
Figura 3.39: Fotografia da BR-050 – travessia urbana de Uberlândia.  
Autor: Silvio Barbosa Silva Junior, 2003. 
 
169 
 
 
 
 
Figura 3.40: Mapa de Rodovias em Uberlândia, contorno e travessia urbana. 
170 
 
 
 
 
Já o contorno norte foi concluído em 2010. Foi realizada a duplicação de um 
trecho da BR-365 leste e, a partir dali, foi construído um trecho em pista dupla 
contornando ao norte a mancha urbana do município, através de terras 
desapropriadas pelo município como contrapartida para a obra. 
 
 
Figura 3.41: Fotografia do Contorno Norte de Uberlândia.  
Autor: COUTINHO, Valter; 2011. 
 
Acreditava-se que, com a abertura do contorno norte, finalmente o trecho 
urbano estaria livre do tráfego de passagem. Porém, o que ocorreu não foi isso. 
O tráfego pesado seguiu usando o trecho urbano e o contorno norte, em pista 
dupla de excelente padrão e permitindo velocidades superiores à travessia 
urbana (100 km/h do contorno contra 80 km/h do trecho urbano) ficou 
subutilizado. 
 
171 
 
 
 
 
Figura 3.42: Sinalização do Contorno Norte de Uberlândia.  
Autor: COUTINHO, Valter, 2011. 
 
Por que isso teria acontecido, contrariando as expectativas do DNIT e da 
prefeitura?  
Para os principais fluxos, houve aumento significativo de distância: para 
atravessar Uberlândia trafegando-se entre Brasília e São Paulo, percorrem-se 
18,5 km pelo contorno, contra 11,5 km na travessia urbana (medidos entre o 
trevo da João Naves e o trevo norte, saída para Araguari); cruzar Uberlândia no 
eixo São Paulo – Goiânia, percorrem-se 30 km no contorno contra 16,8 da 
travessia urbana (medidos entre o trevo da João Naves e a saída oeste). 
Outro fato que contribuiu foi a posição do distrito industrial da cidade, bem 
como a localização de empresas ao longo dos eixos: embora o tráfego de 
passagem fosse importante, boa parte dele tem como destino a própria cidade, 
mais especificamente as empresas localizadas às margens da travessia urbana 
e no distrito industrial. Em 2002, dos veículos de carga, apenas 19,2 % do fluxo 
era de passagem (FECIV, 2002), ou seja, 80,8% tinham como origem ou 
destino a própria cidade. 
172 
 
 
 
Em 2003, muito antes da construção do contorno, já se previa: 
 
O trecho Norte, em projeto, que interligaria a BR-365/LESTE à 
BR-050/NORTE, seria a via que articularia os fluxos do eixo 
São Paulo – Brasília. O trecho, em decorrência do aumento do 
percurso, pode ser subutilizado, caso não se ofereçam 
vantagens como a possibilidade de maiores velocidades e a 
construção dos devidos indutores de tráfego que direcionem o 
tráfego rodoviário para a nova via (SILVA JÚNIOR, 2003, p. 
63). 
 
O DNIT tomou como atitude sinalizar os acessos ao novo contorno, 
vislumbrando que, com a sinalização, os veículos de carga seguissem pelo 
contorno, porém com pouco efeito. 
 
 
Figura 3.43: Sinalização indicando acesso ao contorno de Uberlândia para veículos de 
cargas.  
Autor: Silvio Barbosa Silva Junior, 2012. 
173 
 
 
 
 
Conforme avaliei em 2003, o traçado é inadequado e aumenta a distância 
percorrida muito acima do razoável e, por fim, não há uma legibilidade do 
caminho, que identifique o contorno como o caminho natural: todos os viadutos 
e acessos têm como caminho natural a travessia urbana e, deste modo, por 
mais que haja uma sinalização – aliás, precária – o fluxo tende a seguir o 
caminho mais natural. 
Ainda em relação à entrevista com o técnico do DNIT, o fato de o contorno ser 
subutilizado se deve a um único fator: “os caminhoneiros desobedecem à 
sinalização” e ignoram o fato de os acessos favorecerem a continuidade dos 
trajetos pela via urbana e não pelo contorno: “viaduto básico é aquilo mesmo”, 
ignorando a existência de obras de arte que induzem à mudança de direção. 
 
 
Figura 3.44: Acesso no extremo norte do Contorno viário. Notem-se as conversões 
necessárias para que o fluxo do eixo principal (Brasília – São Paulo) permaneça no eixo. 
 
174 
 
 
 
 
Figura 3.45: trevo de conexão entre o contorno norte e a BR-365 leste. Fluxo principal (São 
Paulo – Brasília) deixando o ‘caminho natural’ para seguir no eixo. 
 
 
 
Figura 3.46: Acesso sul ao contorno e os “malabarismos” para se permanecer no eixo. 
175 
 
 
 
 
Figura 3.47: Exemplo de viaduto com faixas direcionais, no cruzamento entre as rodovias 
Anhanguera e Bandeirantes, nas proximidades de Cordeirópolis, SP.  
Fonte: Imagem do Google Earth, 2005. 
 
A conclusão a que se chega é que a adoção de contornos viários como solução 
generalizada para os problemas advindos dos conflitos entre cidade e rodovia 
está longe de ser a melhor. A solução passa por uma articulação adequada 
entre gestão urbana e gestão da rodovia. A solução desse tipo de questão fica 
muito simplificada, resumindo-se a questões como “a cidade atrapalha a 
rodovia” ou “precisamos retirar a rodovia da cidade a qualquer custo”.  
Poder-se-ia adotar, neste caso, uma solução na qual a rodovia poderia seguir 
pelos caminhos pelos quais já passava, com um tratamento mais adequado ao 
meio urbano, ou um contorno menos distante da cidade, mas com restrições de 
ocupação do seu entorno, optando-se por uma geometria e acessos que não 
representassem conflito com o meio urbano. 
 
176 
 
 
 
 
Figura 3.48: Cruzamento entre o Rodoanel Mário Covas e a Rodovia Régis Bittencourt na 
Grande São Paulo – exemplo de solução sofisticada em cruzamento. 
Fonte: Imagem do Google Earth, 2012. 
 
O caso de Uberlândia mostra a total falta de uma inteligência territorial que vá 
além da simplificação em frases simples e que, de fato, compreenda os 
problemas de transportes, e dos seus conflitos com o meio urbano, como 
problemas territoriais e de gestão e cuja solução passa pela gestão territorial e 
pela adoção de parâmetros territoriais no desenho das infraestruturas. 
 
 
 
 
 
177 
 
 
 
3.5.2 REBIO União x Ministério dos Transportes 
 
Em 2010 o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade 
(ICMBio) iniciou estudos no sentido de analisar a viabilidade de expansão da 
área da Reserva Biológica União (REBIO União), uma reserva biológica 
localizada no Estado do Rio de Janeiro, com vegetação predominante de Mata 
Atlântica criada, fundamentalmente, para proteger uma espécie ameaçada de 
extinção: o mico-leão-dourado. 
A REBIO União foi criada em 1998, por um Decreto sem número de 22 de abril 
daquele ano, a partir da Fazenda União, então de propriedade da Rede 
Ferroviária Federal e que continha, em parte de seu terreno, plantações de 
eucalipto que visavam, originalmente, fornecer carvão para as locomotivas e, 
mais adiante, madeira para a confecção de dormentes. 
No início de 2011, o ICMBio começou uma série de consultas junto a atores 
envolvidos, que incluíam órgãos da administração pública federal que, 
porventura, pudessem ter interesse no caso, dentre eles a ANTT e o Ministério 
dos Transportes e logo se avaliou que haveria algum conflito. 
O texto do Decreto de 22 de abril de 1998 relata que estão excluídos da 
poligonal da REBIO a BR-101, a estrada de ferro, suas respectivas faixas de 
domínio, a subestação de energia, as linhas de alta tensão, os pátio ferroviário 
e o oleoduto que por ali passam, porém afirma em seu parágrafo segundo: 
 
As empresas e órgãos responsáveis pelas vias de circulação, 
edificações e instalações mencionadas no parágrafo anterior, 
suas concessionárias e prestadoras de serviço, deverão 
desenvolver suas atividades em estrita observância à 
legislação ambiental e às normas específicas, a serem 
estabelecidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos 
Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, não podendo 
expandir as suas atividades nos trechos que interferirem 
diretamente com a Reserva Biológica União. [grifo nosso]. 
 
178 
 
 
 
É curioso que, quando da elaboração do referido decreto, os responsáveis não 
tenham se atentado para a importância de se consultar o Ministério dos 
Transportes quanto à importância das vias ali localizadas e de sua futura 
necessidade de expansão. Se por um lado não havia, naquele momento (e não 
há hoje), uma agenda de ordenamento territorial destacando o papel das redes 
de transportes e a importância das unidades de conservação, deveria haver, 
minimamente, uma noção de que a BR-101 e o trecho ferroviário ali contido 
são de relevância nacional e que deveriam ter sido pensados naquele 
momento. 
Mais curioso ainda é que a proibição de ampliação só tenha sido notada 
quando os órgãos de transporte anteriormente referidos foram demandados 
pelo ICMBio. 
De 1998 até então, a ANTT conduziu um processo que delegou a gestão da 
BR-101 a um ente privado e, dentre as obrigações do concessionário, a 
duplicação da pista no trecho que intercepta a REBIO e, ainda, em um trecho 
onde se pretendia, àquela altura, a ampliação da REBIO. Note-se que a ANTT 
desconhecia o dispositivo legal do Decreto supracitado que impedia a 
ampliação da rodovia naquele trecho. Não impedia diretamente, mas impediria 
no caso de a ampliação da rodovia demandar áreas externas à faixa de 
domínio – o que era o caso. 
Paradoxalmente, os contratos de concessão preveem que se deve cumprir, 
estritamente, a legislação ambiental, chocando com a necessidade de 
ampliação da rodovia, nos termos estabelecidos pelo mesmo contrato. 
Analisado o caso, partiu-se para as negociações envolvendo a ANTT, o 
Ministério dos Transportes e o ICMBio. A decisão a que chegou foi a de 
permitir a duplicação da pista, mas com um projeto que não extrapolasse a 
faixa de domínio original da rodovia, ainda que os cortes e aterros necessários 
provocassem um impacto visual maior do que uma possível invasão de trechos 
da REBIO. 
179 
 
 
 
Aqui se nota a falta que faz uma agenda territorial, maior que as políticas 
setoriais. Enquanto os planejadores de transporte veem a questão ambiental 
como algo que se restringe a atrapalhar o desenvolvimento, os ambientalistas 
entendem o transporte como algo para destruir, ignorando aspectos como o 
provimento de serviços e infraestruturas de transportes à população e 
estruturação territorial (Figura 3.49). 
 
 
3.6 Considerações gerais – um quadro-resumo dos principais problemas 
em transportes e território na atualidade 
 
Analisando as características básicas das redes e serviços de transportes no 
Brasil, das peças fundamentais de planejamento do setor, bem como alguns 
exemplos da atuação direta dos órgãos, torna-se possível traçar um quadro-
resumo das principais questões e problemas do setor, analisados, 
fundamentalmente, sob a ótica da relação entre transportes, território e seu 
ordenamento. 
Dedica-se esta parte do texto a uma categorização dos problemas, por 
vislumbrar que, apesar dos avanços recentes, a administração pública ainda 
tem grandes dificuldades em lidar com os problemas da sociedade: 
 
Na atualidade, a administração pública é composta por um 
conjunto de órgãos encarregados especificamente de tarefas 
de interesse geral que a iniciativa privada não pode ou não 
considera vantajoso realiza: no primeiro caso por 
impossibilidade de meios, como a defesa nacional, e no 
segundo pela falta de perspectiva de lucro (CASTRO, 2010, p. 
126-127). 
 
 
180 
 
 
 
 
 
Figura 3.49: REBIO União, limites e BR-101.  
Fonte: ANTT, 2011. 
181 
 
 
 
 
Para melhor organizar essa questão, dividiu-se a explanação em cinco 
categorias: 
 
 Aspectos de legislação e planejamento; 
 Aspectos de articulação interinstitucional – em nível federal; 
 Aspectos de articulação interinstitucional – entre níveis 
federal e estadual; 
 Aspectos de articulação interinstitucional – envolvendo 
federação e municípios; 
 Atuação dos órgãos – sob o ponto de vista das redes 
prioritárias. 
 
 
3.6.1 Aspectos de legislação e planejamento 
 
A análise prévia de literatura trouxe visões de alguns autores segundo as 
quais, desde o fim do século XX, o Estado brasileiro vinha sendo omisso e 
relegando a um segundo plano a questão do planejamento de médio e longo 
prazo, bem como a política territorial para um segundo plano.  Moraes (2011, p. 
21) chega a afirmar que “[...] Estado não deseja participar do processo de 
condenar o disciplinamento do território”. 
E, ainda: 
 
A crise econômica correspondeu a uma desconfiança 
crescente da sociedade frente Às possibilidades do 
planejamento estatal integrado no sentido de bem conduzir a 
economia nacional, imperando a partir dessa época uma visão 
cada vez mais setorial na formulação das políticas públicas, 
182 
 
 
 
num quadro governamental no qual a ótica geográfica tornava-
se gradativamente mais secundária até o desaparecimento de 
qualquer preocupação central com aspectos de localização na 
formulação dos programas e ações da administração pública 
federal. É interessante assinalar que as agências de política 
ambiental brasileiras em sua maioria se estruturaram nesse 
período, na contramão da tendência geral da estrutura do 
Estado, o que explica certo isolamento institucional desse 
setor, muito associado a medidas restritivas em relação às 
demais áreas de governo (MORAES, 2011, p. 128-129). 
 
Apesar de forte, a afirmação do autor reflete a ausência de planos e metas de 
planejamento de longo prazo e, ainda mais que considerassem a dimensão 
territorial (ambiental aqui inclusa), que de fato houve no período. Porém, a 
partir de meados da década de 2000, houve iniciativas no sentido de recuperar 
a capacidade estatal de planejamento, além da tentativa de incluir novamente 
os aspectos territoriais na tomada de decisão. 
Especificamente no setor dos transportes, a principal iniciativa foi o Plano 
Nacional de Logística e Transportes (PNLT), que iniciou seus trabalhos em 
2006 e foi levado a público em 2007. O plano traz, consigo, uma série de 
diretrizes de ordem territorial, cujos objetivos seriam atingidos por meio da 
execução de obras de superação de gargalos, indução de desenvolvimento, 
melhorias para fomentar desenvolvimento em áreas deprimidas e integração 
com a infraestrutura dos países vizinhos. Porém, há um grande problema 
associado à ausência de uma agenda territorial para o país. Como respaldar 
tais investimentos – e seus impactos territoriais esperados – sem uma diretriz 
territorial de desenvolvimento? 
O documento do PNLT faz menção à territorialidade e ao estudo então em 
desenvolvimento pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o 
Estudo da Dimensão Territorial para o Planejamento, ao qual estaria 
associado. Porém, tal estudo, que incluía um plano territorial, o Brasil 
Policêntrico, apesar de ter gerado alguma empolgação no começo, parece ter 
sido engavetado e não gerou maiores decisões. 
A legislação básica que orienta a infraestrutura de transportes é o SNV, de 
2011, mas que representa mera replicação do PNV, que data de 1973 e que, 
183 
 
 
 
apesar das atualizações constantes, não consegue abarcar a complexidade da 
realidade atual nem os instrumentos necessários para ordenar o setor de modo 
adequado. Já o PNLT, em face de sua fragilidade enquanto norma, pois não 
tem força de lei, encontra resistência dentro do próprio Ministério dos 
Transportes para ser executado. “PNLT é utopia!”, frase comum de ser ouvida 
entre técnicos do Ministério. 
Relatar estes problemas não significa que não haja reconhecimento dos 
avanços, notadamente no aumento do investimento em recuperação e 
ampliação da infraestrutura e melhorias em termos de gestão de obras por 
meio do PAC. E, neste aspecto, há de se concordar com o Ministro Paulo 
Sérgio Passos, que, em entrevista (em 2010) afirmou: 
 
O grande avanço do setor já foi dado através da retomada do 
processo de planejamento no setor de transportes de modo 
permanente, participativo, integrado e interinstitucional, 
envolvendo toda a sociedade brasileira; houve um grande 
reforço de investimentos na infraestrutura de transportes 
através do PAC que totalizou quase R$ 80 bilhões no período 
2007-2010, elevando o percentual de dispêndios de 0,2% para 
0,5% do PIB e caminhando para atingirmos o patamar ideal de 
1%. Como pontos passíveis de melhorias podem ser citados os 
caminhos apontados pelo PNLT para a mudança na matriz de 
transportes, envolvendo a consolidação de uma nova malha 
ferroviária, a estruturação de corredores hidroviários e a 
intensificação dos esforços de racionalização energética em 
transportes. 
 
Um estudo do Banco Mundial (2010) aponta os seguintes entraves à 
implantação do PNLT: 
 
ï‚§ Elevados custos de investimento em infraestrutura; 
 Necessidade de coordenação centralizada; 
 Maior integração entre concessionárias; 
ï‚§ Falta de cultura de transporte de cabotagem; 
 Necessidade de ampliação de malha hidroviária; 
184 
 
 
 
 Pequeno volume de cargas no N e NE pra ferroviário e 
aquaviário. 
 
E propõe como ações para superação das barreiras: 
 
 Elaboração de modelo de financiamento e captação de 
recurso pra infraestrutura; 
 Ministério dos Transportes coordenando a implantação; 
 Programa de conservação da infraestrutura; 
ï‚§ Fomento da cabotagem; 
 Melhorias na monitoração do PAC e PNLT. 
 
Além disso, o setor dos transportes encontra-se dividido entre pelo menos três 
setores administrativos: Ministério dos Transportes, Secretaria de Portos e 
Secretaria de Aviação Civil. Nesse caso, o Ministério dos Transportes é o único 
responsável atual pelo PNLT, responsável por “forçar” os demais ministérios a 
adotar suas diretrizes. Isto se manifesta na edição de planos paralelos como o 
recente Plano Nacional de Logística Portuária, pela Secretaria de Portos. 
Falta, por fim, uma articulação entre as legislações e as políticas de transporte, 
meio ambiente, urbana, dentre outras, por meio de uma diretriz territorial de 
desenvolvimento: o plano de transportes não se articula com o plano de 
unidades de conservação, planos energéticos, nem tampouco com as diretrizes 
para a rede urbana – estas, aliás, inexistentes. 
E por que falta essa articulação? Seriam interesses específicos? Segundo 
Seabra et al. (2000, p. 21), não: 
 
Isso já temos em pequenos países com grande densidade 
econômica, técnica e social – como a Holanda, por exemplo – 
que precisam utilizar e valorizar de maneira bem precisa cada 
porção do seu território. No caso do Brasil, cuja ocupação 
185 
 
 
 
territorial capitalista é recente – há apenas 20 anos o país é 
inteiramente ocupado -, existem ainda áreas onde a 
necessidade do zoneamento, digamos assim, não é tão forte. 
 
Ou seja, é necessário se pensar o território em suas diversas dimensões antes 
que a ausência dessa preocupação provoque problemas maiores e mais 
complexos de se resolver, inclusive na questão dos transportes. 
 
 
3.6.2 Aspectos de articulação interinstitucional – em nível federal 
 
Se em termos de normas e legislação não há entendimento entre os diversos 
setores do Estado, é fácil supor que isso tenha origem na inadequada 
articulação interinstitucional entre tais setores. Na falta de uma política 
transversal, que trace os pontos em comum entre as diversas políticas 
setoriais, alguns conflitos se externalizam, particularmente entre os setores de 
transportes e gestão ambiental. 
Tais conflitos se materializam desde as escolhas de traçados, locais de 
implantação de infraestruturas a processos de concessão e renovação de 
licenças ambientais. Um estudo conduzido pela área ambiental da ANTT, por 
meio de entrevistas com concessionários de infraestruturas, reguladores da 
própria ANTT e técnicos de órgãos de licenciamento ambiental, trazem 
algumas visões sobre a questão ambiental no setor dos transportes, 
particularmente sobre o licenciamento ambiental. Para os concessionários dos 
serviços, o processo de licenciamento apresenta as seguintes características: 
 
i. Morosidade no processo 
Entre as principais dificuldades apontadas pelos 
representantes das concessionárias destaca-se a morosidade 
no processo de Licenciamento Ambiental. O tempo de análise 
do IBAMA é considerado longo para a emissão das Licenças 
186 
 
 
 
Ambientais. Por ocasião do planejamento das obras as 
concessionárias estimam um tempo para cada etapa, sendo 
que o cálculo é feito considerando os prazos dos Órgãos 
Ambientais. Esses prazos não têm sido cumpridos. 
ii. Necessidade de procedimentos diferenciados para obras 
diferenciadas 
O Órgão Licenciador não faz diferenciação entre as obras e os 
Licenciamentos. Não diferenciam, por exemplo, uma Licença 
Ambiental para a ampliação de um pátio dentro da faixa de 
domínio, em uma área antropizada, e uma Licença Ambiental 
para a realização de um trabalho em uma área totalmente 
preservada. 
Também desejam um olhar diferenciado para as obras 
emergenciais, de melhoria de integridade da ferrovia ou da 
rodovia, localizadas dentro da faixa de domínio, em áreas 
antropizadas, sugerindo um processo mais simplificado. 
iii. Falta de critérios formais para a análise e complexidade 
dos Estudos Ambientais 
Segundo relatos, os Técnicos dos Órgãos Ambientais não 
possuem parâmetros pré-estabelecidos para embasar as suas 
análises. Além disso, os Estudos ambientais solicitados são 
complexos, muitas vezes não condizentes com as 
necessidades do projeto. 
iv. Rotatividade do Corpo Técnico dos Órgãos Ambientais 
Quando as Equipes Técnicas que vistoriam as obras e 
analisam as solicitações encaminhadas são diferentes, o 
processo de comunicação não é tão eficiente, a burocracia é 
maior, havendo uma falta de organização na sequência dos 
projetos. A crítica, afirmam, não é em relação às exigências do 
Licenciamento Ambiental, mas em relação à forma como o 
processo é conduzido. 
v. Falta de conhecimento do empreendimento 
Segundo os Entrevistados a falta de conhecimento por parte 
dos Técnicos dos Órgãos Ambientais que realizam a análise 
das solicitações, no que tange à estrutura física, às atividades 
do negócio das concessionárias rodoviárias e ferroviárias foi o 
último item apontado como dificuldade. Na visão dos 
Entrevistados, é importante este Técnico conhecer o objeto do 
seu estudo, conhecer as atividades que são realizadas por 
aquela empresa. Observa-se uma falta de entendimento do 
que é a operação ferroviária, principalmente, e dos aspectos 
relacionados à operação ferroviária. Acreditam que esse 
conhecimento facilitaria o processo, tornando o processo de 
Licenciamento Ambiental mais ágil (CABUS, 2012). 
 
187 
 
 
 
Por parte dos técnicos dos órgãos de licenciamento ambiental, destacaram-se 
as seguintes questões: 
 
i. Má qualidade dos Estudos Ambientais e dos Projetos 
apresentados  
[...] Comentam que a precariedade dos Estudos Ambientais é 
oriunda da baixa qualificação das empresas que os realizam, 
na maioria das vezes, terceirizadas. De acordo com os relatos, 
os empreendedores valorizam o custo do serviço em 
detrimento da qualidade, o que acaba impactando na 
concessão das Licenças Ambientais. 
 
ii. Atendimento incompleto das especificações dos Termos 
de Referência 
Os Entrevistados destacam o fato das concessionárias não 
atenderem todas as especificações constantes no Termo de 
Referência, o que acaba resultando em um Estudo incompleto. 
 
iii. Corpo Técnico insuficiente 
A falta de pessoal no Quadro dos Órgãos Licenciadores é vista 
como outra dificuldade. A demanda por análises é elevada e o 
efetivo é baixo. Além disso, os processos têm grande volume 
de material a ser analisado e há uma grande rotatividade de 
Analistas, fazendo com que alguns processos sejam 
parcialmente avaliados por um Técnico e completados por 
outro, o que gera novamente um aumento do tempo de análise. 
 
iv. Ausência de procedimentos padrão no Processo de 
Licenciamento Ambiental 
Outra dificuldade apontada com ênfase pelos Entrevistados é a 
ausência de procedimentos padrão no Processo de 
Licenciamento Ambiental. Citam que não há um roteiro 
claramente definido a ser seguido, o que gera diferentes 
entendimentos para empreendimentos semelhantes. Tal 
situação confunde tanto Analistas quanto empreendedores e se 
reflete em Estudos incompletos além de Licenças concedidas e 
posteriormente questionadas por outros Órgãos. 
 
v. Sobreposição de atuação de diferentes Órgãos 
Citam, ainda, a sobreposição de atuação de diferentes Órgãos 
(Federais, Estaduais, Municipais) em relação ao Licenciamento 
Ambiental de determinados empreendimentos, inclusive os 
relacionados às concessões rodoviárias e ferroviárias. Tal 
condição gera burocracia demasiada, complexidade do 
processo e prazo extenso até que todos os Órgãos envolvidos 
emitam os devidos Pareceres e Anuências. 
 
vi. Falta de planejamento por parte das Concessionárias 
Outro ponto exposto pelos Entrevistados é a falta de 
planejamento das concessionárias, principalmente as 
rodoviárias. Descrevem que as obras já são previstas desde o 
início da concessão e por este motivo, as concessionárias 
188 
 
 
 
poderiam realizar um planejamento para a execução das obras 
com antecedência, já prevendo e antecipando algumas etapas. 
Entretanto o que ocorre, na realidade, é a falta de 
planejamento e o “atropelo” das etapas do processo. Destacam 
que grande parte das solicitações acaba sendo realizada em 
regime de urgência, havendo pressão para a liberação da 
Licença Ambiental e retrabalho em função de Estudos 
deficientes (CABUS, 2012). 
 
As declarações e análise dos casos nos dão conta de que “na escala nacional, 
o aumento e a complexidade das demandas sociais confrontam-se cada vez 
mais com aparatos estatais que enfrentam grandes dificuldades para fazer 
frente a estas demandas” (CASTRO, 2010, p. 118). 
Ainda a respeito de licenciamento ambiental, as Licenças Prévia, de 
Implantação e de Operação são emitidas com base nos estudos preliminares e 
designam correções de rumo e programas ambientais a serem implementados, 
mas em nenhum momento se faz uma verificação do cumprimento das 
condicionantes ou mesmo de impactos não previstos após a concessão das 
licenças definitivas. 
Uma mudança positiva recentemente implantada é na transferência da 
responsabilidade de obtenção das licenças ambientais para o ente público, por 
meio da EPL. Assim, as concessionárias assumem as infraestruturas cientes 
das responsabilidades ambientais contidas nas licenças, evitando que qualquer 
aspecto ambiental sirva de subterfúgio para atrasar uma obra. 
Conflitos recentes impactaram na definição do traçado na pavimentação de 
trecho da BR-364, em Mato Grosso, devido à existência de áreas de 
conservação nas proximidades do traçado original 8 . O traçado definitivo, 
conforme se vê na figura a seguir, nos mostra como um processo decisório 
sem a desejável articulação interinstitucional pode ter resultados desastrosos, 
fazendo com o que o trecho possua uma extensão muito maior do que a 
                                                          
8
 A justificativa oficial foi evitar a proximidade com Reservas Indígenas e abreviar o processo 
de licenciamento ambiental, aproveitando trechos de rodovias estaduais pré-existentes, 
passados do Estado de Mato Grosso para a União, diminuindo a área de intervenção. No 
entanto, fala-se em beneficiar determinados atores políticos pois com o novo traçado, apesar 
de totalmente ilógico se considerar a importância e a ligação pretendida pelo eixo, servia a 
terras pertencentes a um grupo empresarial ligado ao então governador do Estado de Mato 
Grosso, Blairo Maggi. 
189 
 
 
 
prevista anteriormente – aproximadamente 200 quilômetros – e que, por fim, 
não sirva ao proposto.  
 
 
Figura 3.50: BR-364 em Mato Grosso – trecho original, em laranja, e trecho pavimentado, em 
roxo. Mapa sem escala.  
Adaptado de: Guia Quatro Rodas, 2012. 
 
 
Outro caso recente foi o impasse entre, de um lado, o Ministério dos 
Transportes e a ANTT e, de outro, o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto 
Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade, quando da proposta de 
ampliação da REBIO União, no Estado do Rio. No processo de consulta do 
ICMBIO com outros órgãos da administração federal se viu que a legislação 
que rege a administração da REBIO inviabilizaria a ampliação de capacidade 
da BR-101 no trecho que intercepta a unidade, em uma clara demonstração de 
que a legislação ambiental e os planos de transporte não estão suficientemente 
190 
 
 
 
articulados e, mais ainda, a ineficiência dos órgãos envolvidos na propositura 
de normativos que não consideram os demais setores afetados. 
Apesar dos conflitos notórios, as declarações públicas dão justamente a 
impressão contrária, a de que os setores se relacionam muito harmonicamente, 
conforme podemos ver nas declarações do Ministro dos Transportes e do 
Secretário Nacional de Política de Transportes, em anexo. 
 
 
3.6.3 Aspectos de articulação interinstitucional – entre níveis federal e 
estadual 
 
Em relação aos Estados, o PNLT foi construído levando-se em consideração 
as contribuições advindas dos órgãos estaduais, bem como das entidades da 
sociedade civil interessadas. O PNLT afirma, ainda, ser um plano federativo, e 
não apenas federal, havendo a necessidade de envolvimento dos demais entes 
federados para sua consecução. 
Em alguns projetos há a contrapartida ou mesmo uma participação maior do 
que a federal no provimento de recursos, como, por exemplo, o caso do 
Rodoanel Mário Covas, uma rodovia de contorno para a Região Metropolitana 
de São Paulo, cuja maior parte dos recursos provém do Governo do Estado de 
São Paulo. 
Há de se destacar, ainda, que os planos estaduais deveriam estar articulados 
com o plano nacional, assim como os planos de viação dos estados deveriam 
estar em sintonia com o Sistema Nacional de Viação. 
Há, ainda, uma carência na troca de conhecimento entre órgãos das duas 
esferas, a exemplo do planejamento federal que pouco ou nada absorve do 
planejamento praticado no Estado de São Paulo que, apesar de suas 
deficiências, apresenta uma qualidade de planejamento e execução bem 
191 
 
 
 
superior. Seu Plano Diretor de Desenvolvimento de Transportes (PDDT) é 
construído com base em uma pesquisa origem-destino (SECRETARIA DE 
LOGÍSTICA E TRANSPORTES DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2010), ao 
contrário do PNLT, que partiu de bases macroeconômicas e econométricas 
para estimar demanda (ARANTES, 2012). 
O SNV estabelece dentro do subsistema rodoviário um conjunto de rodovias 
tidas como de importância nacional, a Rede de Integração Nacional (RINTER), 
prevendo que as vias não-RINTER possam ser delegadas aos Estados e 
municípios, quando for o caso. No entanto, o que se percebe é uma gama de 
rodovias de relevância meramente local ou regional sob tutela federal e, em 
contrapartida, trechos de extrema relevância nacional encontram-se sob tutela 
de governos estaduais. 
 
 
3.6.4 Aspectos de articulação interinstitucional – envolvendo federação e 
municípios 
 
Os problemas de que tratamos aqui derivam não apenas da dificuldade de 
articulação entre os municípios, os menores entes federados, e a união, mas 
também da nítida incapacidade técnica da imensa maioria dos municípios em 
planejar o ordenamento do seu próprio território. 
Um conflito tipicamente encontrado é o das travessias urbanas, nas quais parte 
do comércio da pequena cidade depende em grande medida do fluxo da 
rodovia. A rodovia torna-se, muitas vezes, a avenida da cidade, havendo 
pressão local para que não seja construído um contorno. 
Em outros casos, tipicamente em cidades maiores ou em rodovias muito 
movimentadas, quando o volume de acidentes e toda a sorte de impactos 
192 
 
 
 
ligados à rodovia incomodam a população lindeira e que se faz pressão para 
que se construa um contorno, eliminando aquela via. 
O que ocorre é que nem os órgãos nacionais, que gerem a rodovia, têm 
conhecimento acumulado sobre o comportamento de travessias urbanas nem 
normas adequadas para seu tratamento; nem os municípios dispõem de 
mecanismos adequados para gerir o uso do solo em seu território. Essa 
combinação promove o que se vê Brasil afora com as constantes invasões de 
faixa de domínio, diminuição da qualidade das rodovias – redutores de 
velocidade, travessias em nível, e da qualidade de vida nas cidades que as 
margeiam.  
 
 
Figura 3.51: Redutores de velocidade na BR-040 na divisa entre DF e GO, vista para a área 
urbana de Valparaíso, GO.  
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
193 
 
 
 
Nem sempre a solução de contornos é a mais adequada, como observamos no 
caso de Uberlândia, na qual uma opção de traçado inadequada fez com que o 
contorno seja subutilizado.  
Ainda sobre contornos, nota-se a dificuldade dos órgãos nacionais de 
trabalharem com conjuntos de municípios. Não só dos órgãos nacionais, como 
o DNIT, mas dos próprios municípios que não se articulam entre si. Um 
exemplo notório é o de Maringá que, em seu ordenamento territorial, previu 
uma área para construção de uma variante da BR-376 que cruzava seu centro 
urbano. 
Até aí uma decisão acertada, se não contássemos com o fato de Maringá ser 
conurbada com outros municípios e o traçado previsto para o contorno ignorar 
a existência das zonas urbanas vizinhas. Como resultado, o contorno, hoje em 
execução, retirará o tráfego pesado da área central de Maringá, mas deixará os 
outros municípios com o mesmo problema, à exceção daqueles que, assim 
como Maringá, se articularam com o poder central de forma isolada para 
resolver seu problema individual. 
Em outro caso, no extremo oposto, temos o recente investimento do DNIT, ora 
em execução, para tratamento de trechos urbanos em Cuiabá. O problema 
está em que a Grande Cuiabá já possui um contorno que serve ao tráfego de 
passagem. 
Para as ferrovias, o caso é semelhante; apesar de não servirem de eixo para 
deslocamentos urbanos, são afetadas suas qualidades operacionais com as 
invasões de faixa de domínio, redução de velocidade pelas passagens de nível. 
Assim como portos e aeroportos, que têm suas áreas de expansão invadidas e 
áreas que deveriam ter uma restrição de ocupação mais efetiva por parte dos 
municípios e não se tem. 
 
 
 
194 
 
 
 
 
 
Figura 3.52: Contorno de Maringá e sua RM. 
195 
 
 
 
3.6.5 Atuação dos órgãos – a falta de redes prioritárias/ estruturais 
 
Havendo a falta de definição de uma rede prioritária/estrutural de transportes, 
falta, como consequência, a identificação, no conjunto de vias, de quais 
formariam tal rede prioritária.  
Em relação a rodovias, há o entendimento de que suas características físicas e 
operacionais promovam uma legibilidade de sua função. Rodovias arteriais 
devem privilegiar a mobilidade, por serem vias que servem a fluxos de longa 
distância; enquanto rodovias locais fazem apenas pequenas ligações e devem 
privilegiar a acessibilidade, rodovias coletoras, por sua vez, deverão apresentar 
características que promovam o equilíbrio entre as duas funções. 
 
 
Figura 3.53: Sistemas rodoviários e suas funções.  
Fonte: Lima (2009). 
 
196 
 
 
 
No entanto, uma análise na rede mostra que vias que servem a deslocamentos 
estruturantes e, portanto, deveriam ter um tratamento de uma rodovia arterial, 
possuindo acesso controlado, maior velocidade-diretriz e melhores condições 
geométricas acabam por não ter tais características. Ou seja: o sistema não é 
legível. Não há a legibilidade de que aquela é uma via arterial, estruturante do 
tráfego de importância nacional, não há uma rede clara de autoestradas. 
Em relação às ferrovias, já não há definição de “troncos principais”, como em 
outros tempos, nem tampouco a definição de eixos de transportes de 
passageiros – na acepção moderna, poderíamos entender como eixos de 
ferrovias de alta velocidade – atendendo aos pólos mais destacados da rede 
urbana nacional. 
Em não havendo a definição de uma rede estruturadora de transportes e, ainda 
mais, não ligada a uma estratégia de ordenamento do território, vislumbra-se 
que, apesar dos esforços de retomada do planejamento, este é ainda muito 
baseado no espontaneísmo, com a participação mínima do Estado na 
organização dos espaços. Moraes (2011, p. 22) afirma: 
 
A grande desordem atual do Brasil é muito mais visível a partir 
do território, o que está dando à geografia um papel importante 
na interpretação e, mais tarde, na tarefa de reconstrução do 
país. 
 
Se levarmos em conta que, apesar do discurso de migração para modos 
menos agressivos ao ambiente e mais eficientes em termos energéticos e de 
custo, o transporte de cargas segue sendo essencialmente rodoviário e o de 
passageiros dividido entre rodoviário e aéreo: 
 
Os sistemas rodoviários e aeroviários são sempre reativos a 
uma ocupação não planejada do espaço geográfico. O 
desenvolvimento destes sistemas é claramente adaptado a 
uma demografia centrada em atividades econômicas de ciclos 
anteriores e funcionam exclusivamente como soluções de 
transporte adaptativas ao espontaneísmo demográfico 
desordenado que os precedeu. (SERPA, 2011, p. 12). 
197 
 
 
 
 
O Estado brasileiro segue não investindo em um sistema estruturador do 
território e opta por investir em modos reativos que simplesmente atendem às 
projeções futuras de demanda, relegando uma gestão mais efetiva do território 
ainda a um plano secundário. 
 
 
  
198 
 
 
 
CAPÍTULO 4 
APONTAMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA 
 
 
 
 
 
 
4.1 O estágio de doutorado 
 
 
Iniciando a pesquisa, vislumbrou-se a necessidade de um contraponto que não 
fosse meramente, teórico para o caso brasileiro. Considerando a existência de 
um termo de cooperação institucional entre a Universidade Federal de 
Uberlândia e a Universidade de Lisboa, optou-se por fazer esta etapa de 
pesquisa por meio do estudo das experiências europeia e portuguesa. 
Em adição a isso, o entendimento de o Brasil ser uma continuação do Império 
Português na América do Sul subsidiou uma hipótese da similaridade 
administrativa entre Brasil e Portugal.  
Apesar de ser mais desenvolvido que o Brasil em termos socioeconômicos, a 
União Europeia é composta por um conjunto de Estados nacionais com níveis 
díspares de desenvolvimento e organização institucional. Consideramos esta 
disparidade socioeconômica nos compartimentos territoriais europeus como 
ponto favorável a uma comparação entre União Europeia e Brasil.  
Escolhido o caso europeu para servir de contraponto ao caso brasileiro, foi 
realizado, com apoio da CAPES, estágio na Universidade de Lisboa entre 
setembro de 2011 e janeiro de 2012, sob coorientação do Professor Doutor 
Nuno Manuel Sessarego Marques da Costa. O apoio do referido professor foi 
fundamental no sentido de auxiliar na busca de bibliografia pertinente, de 
legislação relativa ao tema – tanto em nível europeu quanto em nível português 
– e nos contatos para a realização de entrevistas.  
199 
 
 
 
Aqui, merece destaque a opção por fazer a análise em dois níveis: o primeiro, 
das diretrizes comunitárias, ou seja, a legislação e normas em nível europeu; e 
o segundo, o nível dos planos e ações do Estado Português. Nas bibliografias 
sugeridas, buscou-se, portanto, literatura que tratasse da evolução recente e 
do estado atual dos sistemas de planejamento de transportes em Portugal e 
Europa. Em paralelo, documentos públicos europeus e portugueses sobre a 
temática, merecendo destaque o Livro Branco dos Transportes (e suas 
atualizações), que traça as diretrizes gerais para o setor. 
Foram realizadas visitas técnicas/entrevistas aos seguintes órgãos do Estado 
Português: 
 
ï‚§ Comboios de Portugal - CP; 
 Direcção Geral de Ordenamento do Territorial e 
Desenvolvimento Urbano – DGOTDU; 
ï‚§ Estradas de Portugal; 
ï‚§ Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres; 
 Agência Portuguesa do Ambiente. 
 
No caso dos Comboios de Portugal foram levantadas informações históricas 
sobre as ferrovias portuguesas, notadamente sobre as mudanças institucionais 
derivadas de políticas europeias, visando à liberalização do mercado dos 
serviços ferroviários. 
Para a Sra. Ana Catita, da DGOTDU, foram realizadas questões referentes à 
interação desta instituição com os projetos de transportes com as diretrizes 
territoriais nacionais presentes no Programa Nacional da Política de 
Ordenamento do Território. Tratou-se de questões relacionadas à articulação 
interinstitucional da instituição com outras, dentre as quais aquelas que gerem 
as infraestruturas e serviços de transportes, as responsáveis pelo 
licenciamento ambiental, áreas de conservação e outras. 
200 
 
 
 
A visita a Estradas de Portugal – por meio de seu Gabinete de Ambiente – 
tratou da visão e atuação desta instituição em termos de gestão ambiental e 
território. Arguiu-se, ainda, sobre a interação desta instituição com aquelas de 
gestão territorial, ambiental e órgãos municipais. Abordaram-se, em particular, 
os casos da Circular Regional Interna de Lisboa e da Ponte Vasco da Gama. 
Nesta instituição, foi entrevistada a Sra. Ana Cristina Martins.  
No Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres obteve-se, por meio de 
conversa com o Sr. Sérgio Ribeiro, um panorama geral do setor transportes em 
Portugal e Europa, incluindo questões regulatórias. 
Por fim, na Agência Portuguesa do Ambiente, por meio da Sra. Cristina Russo, 
foi possível conhecer em profundidade o processo de licenciamento ambiental 
em Portugal bem como questões de relação interinstitucional com outros 
setores. 
 
 
4.2 A União Europeia e seu funcionamento 
 
A União Europeia é o conjunto de 27 Estados-nação que formam uma união 
política e econômica. A União funciona com base no Estado de Direito, 
emitindo regulamentos sobre tópicos de intervenção delegados e aprovados 
pelos Estados-membros. 
As origens da União Europeia estão associadas ao fim da Segunda Guerra 
Mundial. O Plano Marshall (1947), conforme Lacoste (2009), foi empreendido 
pelos Estados Unidos, baseado na ajuda financeira à reconstrução dos países 
– vencidos e vencedores – visava, além da reconstrução, a ampliação da 
influência americana no continente para fomentar a paz na região. Tal objetivo 
de paz parece ter sido alcançado, inclusive tendo a União Europeia sido 
laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2012, pelo Comitê Nobel da Noruega.  
201 
 
 
 
Logo, em 1951, um grupo inicial de seis países – Bélgica, Países Baixos, 
Luxemburgo, França, Alemanha Ocidental e Itália fundaram a Comunidade 
Europeia do Carvão e do Aço. Seis anos mais tarde, em 1957, o mesmo 
conjunto de países assinou o Tratado de Roma, documento considerado como 
o marco de fundação da União Europeia. Ao longo das décadas subsequentes 
foram sendo definidas algumas políticas comuns e, à medida que se venciam 
barreiras políticas, foram sendo agregados, paulatinamente, novos Estados 
Membros. 
Merecem destaque, dentre outros fatores, a adoção do Sistema Monetário 
Europeu, em 1979, e a assinatura do Tratado de Maastricht, de 1992, que 
alterouo nome de Comunidade Econômica Europeia para União Europeia, 
transformando a essência de um mero grupo de cooperação econômica para 
uma união política mais ampla, com princípios de integração mais ousados. Em 
2002, começou a circular a moeda única na maioria dos países do bloco, o 
Euro (Quadro 4.1). 
Ao longo do processo de integração, houve a proposta de uma Constituição 
Europeia, que acabou rejeitado por dois países, abortando o processo. Em 
2007, foi firmado, finalmente, o Tratado de Lisboa, que, em substituição à 
proposta de constituição, esclareceu pontos obscuros, dando clareza à forma 
de funcionamento da União e de sua relação com os Estados-membros. 
Hoje a União Europeia funciona como união política, baseada em um mercado 
comum e com a supressão do controle fronteiriço entre seus membros – à 
exceção do Reino Unido. Possui 23 línguas oficiais e, se considerada como um 
único país, teria o terceiro maior contingente populacional, atrás de China e 
Índia, e o maior Produto Interno Bruto (PIB), superando os Estados Unidos 
(EUROSTAT, 2013). São aproximadamente 500 milhões de habitantes vivendo 
em 27 países distribuídos em uma superfície de, aproximadamente, 4,5 
milhões de quilômetros quadrados. 
 
 
202 
 
 
 
Quadro 4.1: Cronologia da União Europeia – principais acontecimentos 
ANO FATO RELEVANTE 
1947 Plano Marshall para restauração e integração do velho continente 
1951 Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Monnet e Schuman) – Alemanha, 
França, Benelux e Itália 
1954 Recusa da Comunidade Europeia de Defesa (gaulistas e comunistas na 
França) 
1957 Tratado de Roma – Comunidade Econômica Europeia (mesmos: Alemanha, 
França, Itália e Benelux) 
1960 Associação Europeia de Livre-Comércio – iniciativa do Reino Unido com 
Áustria, Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Portugal 
1962 Política Agrícola Comum 
1963 Charles De Gaule recusa entrada do Reino Unido na CEE 
1966 Por pressão da França, decide-se que em questões essenciais, só o voto de 
unanimidade para confirmar a decisão 
1973 Reino Unido, Irlanda e Dinamarca integram a CEE 
1979 Sistema Monetário Europeu (menos RU) 
1981 Adesão da Grécia 
1985 Alemanha, Benelux e França criam o Espaço Schengen. Em 1995 os demais 
países, exceto RU, aderem 
1986 Portugal e Espanha aderem à CEE. Institucionalização da Cooperação 
Política Europeia 
1987 Candidatura da Turquia 
1992 Assinatura do Tratado de Maastricht – criação oficial da União Europeia; 
previsão da criação da moeda única 
1995 Áustria, Finlândia e Suécia aderem à UE 
2002 Entra em circulação o Euro, exceto no RU, Suécia e Dinamarca 
2004 Adesão de Chipre, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, 
Tcheca, Eslováquia e Eslovênia 
2005 Rejeição do projeto de Constituição Europeia na Holanda e França – 
abortado o processo 
2007 Ingresso de Bulgária e Romênia 
2009 Candidatura da Islândia, Croácia 
2007 
2009 
Tratado de Lisboa – substitui a tentativa de constituição 
203 
 
 
 
 
 
Figura 4.1: União Europeia: países membros e seus nomes nas línguas nacionais, 2011. 
Fonte: European Union, 2011. 
 
A União Europeia funciona com base na cessão pelos países de uma parcela 
de sua soberania nacional sobre determinados assuntos à União visando, 
deste modo, a construção de políticas comuns, viabilizando a desejável 
integração. Funcionando como uma federação supranacional, houve a 
necessidade de o Tratado de Lisboa, firmado em 2007 e em vigor desde 2009, 
estabelecer quais são as competências específicas da União e dos Estados e 
aquelas em que são compartilhadas. 
204 
 
 
 
São competências exclusivas da União: 
 
 A união aduaneira; 
 O estabelecimento de regras de concorrência necessárias 
ao funcionamento do mercado interno; 
 A política monetária dos Estados-membros cuja moeda 
seja o Euro; 
 A conservação dos recursos biológicos do mar no âmbito 
da Política Comum das Pescas; 
 A política comercial. 
 
São competências compartilhadas entre União e Estados: 
 
ï‚§ O mercado interno; 
 A política social para os aspectos definidos no presente 
Tratado; 
 Economia, coesão social e territorial; 
 A agricultura e pescas, com exceção da conservação dos 
recursos biológicos marinhos; 
ï‚§ Ambiente; 
 A proteção dos consumidores; 
ï‚§ Transportes; 
ï‚§ Redes Transeuropeias; 
ï‚§ Energia; 
 O espaço de liberdade, segurança e justiça; 
 Normas comuns de segurança para a saúde pública, nos 
aspectos definidos no presente Tratado. 
 
 
 
205 
 
 
 
São competências dos Estados, podendo ser apoiadas pela União: 
 
 A proteção e a melhoria da saúde humana; 
 Indústria; 
ï‚§ Cultura; 
ï‚§ Turismo; 
 Educação, juventude, desporto e formação profissional; 
 A proteção civil (prevenção de desastres); 
 A cooperação administrativa. 
 
A administração da União Europeia é semelhante à de um país federal, como o 
Brasil ou os Estados Unidos, havendo uma divisão de poderes entre Executivo, 
Legislativo e Judiciário.    
O órgão máximo da União Europeia é o Conselho Europeu, composto pelos 
chefes de Estado ou de Governo dos países-membros e tem a 
responsabilidade de definir as orientações e prioridades políticas da União 
Europeia.  
O órgão executivo europeu é a Comissão Europeia. Composta por um 
presidente e 26 comissários, sendo um de cada país-membro. É o organismo 
que representa a união Europeia internacionalmente. É responsável, ainda, por 
aplicar as decisões dos órgãos legislativos. Associadas à Comissão, 
encontram-se diversas Direções Gerais, divididas por área de atuação, e que 
são equivalentes aos ministérios nos países. 
A função legislativa é composta por dois organismos: o Parlamento Europeu e 
o Conselho da União Europeia. O Parlamento é composto por deputados – 
chamados Eurodeputados – eleitos pelo voto direto, proporcionalmente à 
população de cada Estado-membro; já o Conselho é formado por 
representantes dos governos dos Estados-membros, funcionando com 
câmaras temáticas, conforme o assunto a ser deliberado. As duas casas 
206 
 
 
 
funcionam em sistema de co-decisão e são responsáveis por aprovar o 
orçamento, ratificar acordos internacionais, dentre outros aspectos. 
Para a função judiciária, há o Tribunal de Justiça da União Europeia como 
órgão supremo, com a função de resolver conflitos entre a União e os Estados-
membros, bem como dirimir dúvidas relativas à interpretação de normas 
comunitárias. Há, ainda, tribunais de instâncias inferiores para outras questões 
que sejam de competência da União. 
Nos moldes do que se pratica em outras nações, há, ainda, o Banco Central 
Europeu e o Tribunal de Contas da União Europeia, com as mesmas funções 
que seus equivalentes nacionais. 
 
 
4.3 Os transportes na União Europeia e a Política Europeia de Transportes 
 
Os números dos sistemas de transportes na União Europeia surpreendem: em 
2010 (EUROSTAT, 2012), a rede de rodovias pavimentadas chegava a 4,5 
milhões de quilômetros, as ferrovias a 212.500 quilômetros e 41 mil quilômetros 
de vias interiores navegáveis. Ainda em 2010, mais de 700 milhões de 
passageiros passaram pelos aeroportos da União Europeia.  
Vale estabelecer uma comparação, o território da União com o do Brasil, duas 
vezes maior, e ainda que possua população 2,5 vezes menor que a europeia, 
possui tão somente 218,5 mil quilômetros de rodovias pavimentadas (4% do 
tamanho da rede europeia), perto de 30 mil quilômetros de ferrovias 
(equivalente a 14% da rede da União Europeia), 11,5 mil quilômetros de vias 
navegáveis (28% do total europeu) e, no ano de 2010 foram transportados 77 
milhões de passageiros nos aeroportos brasileiros (cerca de 11% do 
transportado na UE). 
207 
 
 
 
O Brasil não fica para trás apenas nos quantitativos da rede de transportes, 
mas também na qualidade das infraestruturas e serviços, conforme se vê nas 
Figuras 4.2 a 4.6. 
A qualidade da sinalização, do pavimento, da manutenção das faixas de 
domínio, a oferta de sistemas ferroviários de passageiros – muitos deles de alta 
velocidade – e a grande oferta de destinos por meio do avião, dentre outros 
aspectos, demonstram o enorme gap entre os sistemas europeu e brasileiro. 
Apesar dessa diferença grande, com larga vantagem para os europeus, eles 
parecem não estar satisfeitos com os sistemas e serviços de transportes 
existentes: eles enxergam os problemas e propõem soluções. Preocupada com 
a quantidade de acidentes, a Comissão Europeia propôs, em 2003, um plano 
de ação para reduzir as mortes nas estradas pela metade até 2010. Naquela 
altura, os números indicavam que, por ano, morriam 40 mil pessoas e 1,7 
milhão saíam feridos dos acidentes, representando um custo de cerca de 2% 
do PIB do conjunto dos 15 países que, naquele ano, compunham a União. 
Além de apontar o problema, identificavam como causas a velocidade, abuso 
de álcool, fadiga, falta de cinto de segurança, os carros com pouca proteção, a 
existência de pontos negros, a negligência do tempo de repouso e a 
visibilidade. E, obviamente, propunham ações de Estado no sentido de superar 
tais problemas. 
Banister (1998) chama a atenção para um efeito colateral da implantação de 
melhorias na infraestrutura, notadamente a rodoviária, materializada no 
espraiamento urbano (urbans prawl) derivado da diminuição dos tempos de 
deslocamento e a consequente migração de população e atividades urbanas 
para áreas rurais ao redor das rodovias. Ao longo de sua análise, destaca a 
importância de se se planejar o transporte tendo em vista a necessidade de se 
levar em conta aspectos econômicos, ambientais, dentre outros:  
 
 
 
208 
 
 
 
 
Figura 4.2: Estação de trens de São Pancrácio, em Londres.  
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2011. 
 
 
Figura 4.3: Aspecto do Aeroporto de Barajas, em Madrid. 
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2011. 
 
209 
 
 
 
 
Figura 4.4: Estação Lisboa Oriente – Trens metropolitanos, suburbanos, terminal e ônibus e 
trens de longo curso.  
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2011. 
 
 
Figura 4.5: Rodovia de acesso à cidade de Barcelona – acesso controlado.  
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2011. 
 
210 
 
 
 
 
Figura 4.6: Travessia urbana em Vila Nova da Gaia.  
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
it should also be remembered that transport is only one (albeit  
important) part of economy and so the environmental choices in 
the transport sector need to be balanced against other priorities 
(BANISTER, 1998, p. 8)9. 
 
Em 2000, o mesmo autor (BANISTER) elencou outros aspectos das redes de 
transporte na União Europeia: 
 
ï‚§ Crescimento da mobilidade individual em detrimento da 
coletiva – mais sustentável, vigente em outras épocas; 
 Desafio de conciliar desenvolvimento econômico, 
planejamento de transportes e questões ambientais; 
                                                          
9
 [...] deve-se lembrar também que o transporte é apenas uma parte (embora importante) da 
economia e assim as escolhas ambientais no sector dos transportes precisam de ser 
equilibrado com outras prioridades (Tradução Livre do Autor). 
211 
 
 
 
 Oportunidade de a Europa, tendo em vista a tradição em 
transporte público, de reverter a tendência de 
individualização e de, no horizonte de 2020, ter uma 
mobilidade mais sustentável; 
ï‚§ Externalidades de transportes representam 7.8% do PIB 
europeu em 2000 (exceto congestionamento); 
 Congestionamento nas áreas mais densas econômica e 
populacionalmente – regiões mais urbanizadas. 
 
No mesmo artigo, reforça a questão do espraiamento urbano por meio da 
suburbanização da população e do consequente aumento da mobilidade 
individual, enquanto a demanda de passageiros por meios coletivos se 
estabiliza. 
A mais recente política europeia de transportes começa a se estruturar a partir 
do Tratado de Maastricht, de 1992, o marco inicial da União Europeia não mais 
como mera união econômica, mas como união política de fato. Duarte (2001, p. 
413) destaca os principais pontos: 
 
Em 1992, o Tratado de Maastricht (Título XII, Art.º 129b), 
reforçou as bases políticas, institucionais e orçamentais da 
PCT 10  e o conceito de REDE Transeuropeia (TEN). Este 
conceito, tomado como instrumento, destinou-se − no plano 
europeu − a estabelecer um esquema director das infra-
estruturas de transportes, beneficiário de sustentáculo 
financeiro comunitário, traduzido em subsídios a outorgar e em 
empréstimos a conceder pelo BEI11. 
 
Esta Política Comum de Transportes tinha como princípios o fomento da 
competitividade, da coesão territorial e a proteção ambiental. Embora as bases 
institucionais e o conceito de Redes Transeuropeias tenham sido lançados à 
época do Tratado de Maastricht, já havia antes iniciativas no sentido de os 
Estados da então Comunidade Econômica Europeia articularem suas políticas 
                                                          
10
 Política Comum de Transportes. 
11
 Banco Europeu de Investimentos. 
212 
 
 
 
de transportes. O próprio Tratado de Roma já previu a intenção de construir 
uma política comum, mas que nunca fora implantada pelos Estados ou pelos 
operadores privados. Ou, como em 1986, quando se deliberou a remoção de 
barreiras físicas nas fronteiras, a redução das barreiras técnicas e a 
harmonização das barreiras fiscais. 
O Tratado de 1992 previa a inclusão de regras comuns para transporte 
internacional e segurança no transporte, e delimitava, como prioridades do 
Banco Europeu de Investimentos, aqueles a ser realizados em regiões com 
dificuldades, redução da dependência do petróleo, projetos de integração 
europeia, tecnologia avançada e inovação (BANISTER, 2000). 
Em 1994, (Conselho de Essen) fez-se o primeiro esboço das Redes 
Transeuropeias, que consistiam nas redes de transportes, comunicação e 
energia. Em relação às redes de transportes, naquele momento eram 
compostas 34 projetos de redes de transporte, com horizonte 2010, sendo 11 
deles ferroviários. Os projetos de transportes representavam, no biênio1996/7, 
cerca de 80% dos recursos, dos quais, aproximadamente 25% do total 
destinados a vias ferroviárias de alta velocidade: 
 
[...] nas zonas com grande intensidade de tráfego rodoviário de 
longa distância, as linhas de grande velocidade podem 
fomentar a transferência para o modo ferroviário e contribuir, 
deste modo, para aliviar o tráfego rodoviário e proteger o 
ambiente. De facto, o aumento do tráfego, especialmente 
rodoviário e aéreo, ameaça prejudicar a competitividade de 
algumas regiões centrais da UE devido aos riscos de 
congestionamento (COMISSÃO EUROPEIA, 1999, p. 15). 
 
O centro das Redes Transeuropeias se alinha às demais políticas de 
transportes, favorecendo o fomento de ferrovias e navegação costeira 
(cabotagem) em substituição ao transporte rodoviário e aéreo. As Redes 
Transeuropeias de transportes tem por finalidade servir de suporte ao sistema 
policêntrico de cidades, favorecendo as ligações entre as periferias e o centro 
da União. 
213 
 
 
 
A concepção das Redes Transeuropeias parte do princípio de que 
 
É impossível reduzir as assimetrias territoriais da UE sem 
melhorar radicalmente as infraestruturas e os serviços de 
transportes nas regiões onde a falta de acesso às 
infraestruturas de transportes e comunicações dificulta o 
desenvolvimento económico (COMISSÃO EUROPEIA, 1999, p. 
29). 
 
Para além da rede principal, vislumbra-se investir em redes secundárias, sob 
responsabilidade das nações constituintes e das regiões infranacionais, em 
regime de complementaridade das redes estruturantes. As redes secundárias 
devem permitir a coesão entre núcleos urbanos e sua hinterland, bem como 
possibilitar deslocamentos rápidos e eficientes em zonas pouco povoadas, 
visando possibilitar arranjos espaciais e políticos entre essas pequenas 
localidades, e paragarantir quorum populacional para ter determinados 
serviços. 
As autoridades mostram preocupação com a expansão das redes 
Transeuropeias e do conceito de rede urbana policêntrica para os países que 
aderirem à União e, ainda, com o crescente peso do modo rodoviário, custando 
um grande impacto no meio ambiente e na eficácia dos deslocamentos: “O 
aumento das portagens rodoviárias ou internalização dos custos externos do 
transporte rodoviário, acompanhados de uma política de localização adequada 
são alguns dos exemplos possíveis” (COMISSÃO EUROPEIA, 1999, p. 31). 
 
 
 
 
 
214 
 
 
 
 
 
 
Figura 4.7: Redes Transeuropeias – Canais, hidrovias e portos.  
Fonte: European Comission, 2011. 
 
 
215 
 
 
 
 
 
 
Figura 4.8: Redes Transeuropeias – Ferrovias de Carga.  
Fonte: European Comission, 2011. 
 
216 
 
 
 
 
 
 
Figura 4.9: Redes Transeuropeias – Ferrovias de Passageiros.  
Fonte: European Comission, 2011. 
 
217 
 
 
 
 
 
 
Figura 4.10: Redes Transeuropeias – Rede rodoviária estrutural.  
Fonte: European Comission, 2011. 
 
218 
 
 
 
Obviamente, o transporte rodoviário não deve desaparecer, mas ser utilizado 
de forma mais racional, principalmente nas regiões menos adensadas, onde é 
menos viável o transporte ferroviário. Já nas regiões mais adensadas, deve-se 
fomentar o transporte ferroviário de alta velocidade, visando substituir o 
transporte por avião em viagens de até 800 km. 
O primeiro documento estruturador de uma política integral de transportes foi o 
1º Livro Branco dos Transportes, de 1996. Livro Branco é uma denominação da 
União Europeia para os documentos da Comissão Europeia (poder executivo 
europeu) que representam um plano de trabalho plurianual para determinado 
setor, sendo a gestão dos transportes uma atribuição compartilhada entre 
União e Estados Nacionais. 
São os objetivos precípuos do Livro Branco dos Transportes: 
 
 Reestruturar o setor rodoviário, visando melhorar 
infraestruturas e reforçar a segurança; 
 Revitalizar as ferrovias, por meio de uma concorrência 
regulada, da definição de padrões de nível europeu a 
serem seguidos nos Estados e ampliando a velocidade 
média do transporte de cargas para 80 km/h; 
 Controlar o crescimento do transporte aéreo (entre 1974 e 
1998 o transporte aéreo cresceu, em média, 7,4% ao ano); 
 Criação do “Céu Único Europeu” em substituição aos 
sistemas nacionais de controle do tráfego aéreo; 
 Tarifação para desestimular o uso dos aeroportos em 
certos horários;  
 Criação de taxas nos combustíveis aeronáuticos para rotas 
servidas por trens de alta velocidade; 
 Fomento da multimodalidade, por meio de ligações entre 
hidrovias interiores e ferrovias – autoestradas do mar, 
criação de eclusas, propiciando o descongestionamento 
dos grandes eixos; 
219 
 
 
 
 Promoção de uma rede de trens de passageiros de alta 
velocidade; 
 Superação de gargalos como as travessias alpinas, os 
Pirineus. 
 Apoio financeiro de até 20% pra as Redes Transeuropeias; 
 Promoção de políticas de tarifação mais eficaz; 
ï‚§ Pesquisa em tecnologias menos poluentes e mais eficazes; 
 Direitos e deveres dos usuários; 
 Inclusão de objetivos ambientais para médio e longo prazo. 
 
Para o setor ferroviário, desde o início da década de 1990, antes mesmo da 
adoção do Livro Branco, já estava sendo postas em marcha algumas 
mudanças, destacando-se a separação contábil entre a gestão da 
infraestrutura e a operação dos serviços de transporte de cargas, visando 
promover a abertura do mercado de transporte de cargas e de passageiros e 
superar a estagnação vivida pelo setor. Em 1970, transportava-se por ferrovia 
241 bi ton.km12, o que representava 28 % das mercadorias que circulavam pelo 
território europeu; em 2001, transportou-se 283 bi ton.km, o que representava 
tão somente 8% mercadorias. Em 1998, ainda havia casos sem separação da 
gestão de infraestrutura da prestação do serviço; relatavam-se problemas de 
pontualidade e, para cargas, as ferrovias apresentavam velocidade média de 
18 km/h, o que explica o baixo desempenho do modo ferroviário. 
Tais mudanças contábeis e jurídicas, baseadas na separação da operação da 
gestão de infraestrutura, têm como meta final abrir mercados nacionais e 
constituir um sistema ferroviário único em 2020, combatendo os esforços anti-
concorrência. Em 2003, funcionavam em regime pleno de abertura os 50 mil 
quilômetros pertencentes às Redes Transeuropeias e, em 2008, toda a rede já 
estava aberta para o tráfego de mercadorias. A abertura promoveu o interesse 
de empresas e consórcios – além das tradicionais no setor – oferecendo 
transporte, como a BASF/Rail4chen e a rede de lojas IKEA, por exemplo. 
                                                          
12
 Tonelada vezes quilômetro. 
220 
 
 
 
Essa primeira versão do Livro Branco, conforme análise na revisão da política 
feita em 2001, atingiu os objetivos propostos, à exceção das metas 
relacionadas ao transporte ferroviário de cargas: a implantação da “cabotagem 
internacional” (caminhão não precisa retornar vazio de outro país); a abertura 
dos mercados aéreos, o que proporcionou um crescimento do setor maior que 
o crescimento da economia; o oferecimento de serviços de transporte com 
menores preços; o aumento da mobilidade média do cidadão europeu  (17 km 
em 1970 para 35 em 1998); e a implantação de rede de trens de alta 
velocidade. O período foi marcado pela modernização das redes de transporte, 
porém com pouca modernização institucional.  
Em 2001, 10% da rede rodoviária (7500 km) e 20% da rede ferroviária (18 mil 
km) eram consideradas zonas de congestionamento e 16 aeroportos 
apresentavam mais de 30% dos voos com atrasos superiores a 15 minutos 
(Comissão Europeia, 2001). Avalia-se que a saturação de muitas destas 
infraestruturas se liga à não implantação de obras previstas nas Redes 
Transeuropeias.  
Outra incongruência clara é que, embora a política europeia tenha dado 
prioridade ao modo ferroviário, os pleitos para financiamento para os Estados 
membros são essencialmente para rodovias. Nos países do leste europeu, que 
naquele momento iniciavam o processo de integração à União Europeia, ainda 
há grande demanda ferroviária. Porém, com a abertura política, cresce mais o 
transporte rodoviário, o que ajuda a explicar a demanda por financiamentos 
rodoviários. 
Quanto aos trens de alta velocidade, principal item da política para transporte 
de passageiros, espera-se ligar, paulatinamente, todos os grandes centros 
europeus, substituindo-se as linhas convencionais e o transporte aéreo, este 
mais poluente.  
Algumas experiências se mostraram bem sucedidas, como a participação do 
modo aéreo entre Sevilha e Madrid (Espanha), que caiu de 40% para 13% 
após a implantação dos serviços de trens de alta velocidade; ou o trecho Paris-
Bruxelas, onde a participação das viagens por automóvel caiu para 15%.  Em 
221 
 
 
 
2001, uma nova linha de alta velocidade ligou Paris a Marselha (França), 
reduzindo o tempo de viagem para três horas: 
 
Com efeito, e contrariamente a uma ideia generalizada, para os 
passageiros, o interesse pela alta velocidade não se limita a 
viagens inferiores a três horas. Entre Paris e a costa 
mediterrânea, antes da entrada do serviço da nova linha de alta 
velocidade, a quota de mercado do comboio de alta velocidade 
ultrapassava os 25%. Quando o tempo de trajeto atual até 
Marselha ou até as estações da Côte d’Azur era largamente 
superior a quatro horas (COMISSÃO EUROPEIA, 2001, p. 58). 
 
Os projetos prioritários, notadamente aqueles descritos nas Redes 
Transeuropeias, tinham um custo estimado, em 2001, de 110 bilhões de Euros 
dos orçamentos nacionais, podendo ter apoio financeiro da União de até 10% 
dos custos. Porém, este esquema não consegue fomentar projetos 
transfronteiriços e, àquela altura, já estudavam a possibilidade de aumentar 
este financiamento para a casa dos 20%.  
Em relação aos projetos co-financiados pela União, os Estados nacionais 
priorizam investimentos dentro dos países e não os comunitários, como o 
exemplo do governo francês, que priorizou o TGV13 Paris-Estrasburgo ao invés 
da travessia dos Alpes. 
Em resposta aos desafios, bons exemplos surgem. Tem-se pensado novas 
formas de financiamento, como as taxações sobre o transporte rodoviário. Na 
Suíça, existe uma taxação de 20% os veículos pesados, 25% de imposto sobre 
óleos minerais e, ainda, um aumento de 1% como Imposto de Valor Agregado 
que, em conjunto com os fundos de pensão, tem financiado túneis e ferrovias.  
Na França, existe um fundo de transportes terrestres e vias navegáveis, de 
1995, que taxa em 0,69 centavos de euro por quilômetro rodado em 
autoestradas, pago pelas concessionárias (taxe d’aménagement du territoire), 
que financia infraestruturas, sendo metade do valor obrigatoriamente usado em 
ferrovias.  
                                                          
13
Train à grande vitesse. 
222 
 
 
 
Há, ainda, exemplos de taxação progressiva para utilização da infraestrutura, 
referentes à poluição e impactos em geral (poluição, impactos em geral), 
baseados na ideia de quanto mais taxas, menos tráfego. Na Suíça, cobram-se 
36 euros e, na Alemanha, 13 euros para cada 100 km percorridos por veículos 
de carga. A taxação extra nas autoestradas encontra ainda um entrave jurídico, 
pois a tarifa não pode conter outros custos senão aqueles de construção e 
operação. A exceção são os veículos de carga que pagam pela poluição que 
emitem, a chamada “Eurovinheta”, variando entre 750 e 1550 euros por ano.  
Em termos de serviços de passageiros, a tônica é harmonizar procedimentos – 
antes variáveis de país para país, e ampliar a oferta de informação para o 
usuário, fomentando, ainda, a integração entre redes e modos de transportes. 
Exemplos bem sucedidos são os bilhetes de trem que incluem trechos de taxi, 
na Holanda, ou ainda os bilhetes aero-ferroviários, com os quais se tem 
acesso, via trem, a algum aeroporto com boa oferta de voos e, dali, 
prosseguindo de avião. Este é o caso do acordo entre a Deutsche Bahn e a 
Lufthansa, na Alemanha, fazendo a ligação de Stutgard ao Aeroporto de 
Frankfurt, e o acordo entre a Airfrance e Thalys (operadora do TGV Paris – 
Bruxelas), que fornece bilhetes aero-ferroviários para se deslocar de Bruxelas a 
outros pontos por meio do Aeroporto Charles de Gaule, em Paris (Figura 4.11). 
 
 
4.4 O caso português  
 
Portugal é o país mais ocidental da União Europeia, possuindo, além do 
território continental, os arquipélagos dos Açores e da Madeira, no Atlântico. O 
território de pouco mais de 92 mil km² é habitado por cerca de 10,6 milhões de 
habitantes (EUROSTAT, 2013). A população se concentra majoritariamente na 
costa atlântica, metade ao redor das zonas metropolitanas de Lisboa e do 
Porto. 
223 
 
 
 
 
 
Figura 4.11: Placa indicando Integração trem-avião em estação de trem em Bruxelas, 2011. 
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
 
Portugal, em termos administrativos, é um país unitário, sendo que as divisões 
infranacionais não possuem função político-administrativa, mas meramente 
históricas e culturais, à exceção das Ilhas dos Açores e da Madeira. O poder 
local está na mão dos conselhos, equivalente português dos municípios 
brasileiros, e, por sua vez, são divididos em freguesias, algo similar aos 
distritos no Brasil. Porém, diferente do caso brasileiro em que os distritos não 
possuem uma administração própria, as freguesias administram uma série de 
serviços públicos mais básicos para a população. 
O país aderiu à União Europeia em 1986, sendo profundamente impactado 
pelas políticas de desenvolvimento engendradas no nível comunitário. Aqui nos 
interessam aquelas ligadas aos transportes e ao ordenamento territorial. O 
Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário (EDEC) é um 
documento que traça as diretrizes do desenvolvimento territorial europeu, tendo 
por princípios reduzir as desigualdades regionais, reforçar a coesão 
224 
 
 
 
econômica, fomentar a conservação e gestão dos recursos naturais e do 
patrimônio cultural, além de promover uma competitividade mais equilibrada do 
território europeu. 
Tais objetivos são atingidos por meio do provimento de infraestruturas onde ela 
falta ou onde está sobrecarregada – aqui merecem destaque as Redes 
Transeuropeias –, por meio da gestão dos aspectos ambientais e por meio de 
políticas de pesquisa e desenvolvimento: 
 
A construção de novas infraestruturas, por mais indispensável 
que seja para todas as regiões, não será por si só suficiente 
para resolver os problemas mencionados. O desenvolvimento 
regional não pode ser assegurado pela simples presença de 
infraestruturas de transportes e de telecomunicações. É 
necessária a adopção de medidas complementares noutros 
domínios, tais como a política estrutural regional ou a 
promoçãoda educação e da formação, a fim de que os factores 
de localização regionais possam ser melhorados a longo prazo, 
principalmente no caso das regiões estruturalmente mais 
débeis (COMISSÃO EUROPEIA, 1999). 
 
Em Portugal, é notório o impacto de tais políticas, visivelmente na expansão e 
qualidade das infraestruturas de transporte interurbano vistas após a adesão à 
União Europeia. 
 
 
4.4.1 O PNPOT – Programa Nacional da Política de Ordenamento do 
Território 
 
Em 2007, o Parlamento Português aprovou o Programa Nacional da Política de 
Ordenamento do Território (PNPOT), que consolida os instrumentos de gestão 
territorial naquele país. Sendo um tema transversal e articulador de outras 
225 
 
 
 
políticas, foi construído considerando as contribuições setoriais, bem como 
contempla os compromissos de cada setor, incluindo os transportes. 
O PNPOT possui quatro grandes objetivos, sintonizados com os princípios da 
União Europeia, incluindo as orientações do EDEC, o policentrismo urbano e 
as Redes Transeuropeias, quais sejam: 
 
 Espaço sustentável e bem ordenado; 
ï‚§ Economia competitiva, integrada e aberta; 
 Um território mais equitativo em termos de 
desenvolvimento e bem estar; 
ï‚§ Uma sociedade mais criativa e com sentido de cidadania. 
 
Por ser um plano nacional e levando-se em consideração o fato de que as 
políticas com impacto territorial não são levadas a cabo apenas pelo governo 
nacional, o PNPOT define as responsabilidades de nível regional e municipal. 
Para o nível regional, há o Plano Regional de Ordenamento do 
Território(PROT), que detalha as diretrizes nacionais ao nível regional. A 
execução do PROT é fiscalizada pelas Comissões de Coordenação e 
Desenvolvimento Regional, unidades descentralizadas do Governo Central 
responsáveis, ainda, pelos licenciamentos ambiental e territorial nas regiões, 
tendo em vista que não há governos regionais em Portugal. 
O PNPOT, tendo o território como ponto articulador das políticas públicas, traz, 
em seu seio, diversas temáticas, dentre as quais: 
 
 Recursos Naturais e gestão de riscos; 
ï‚§ Desenvolvimento urbano e rural; 
 Transporte, energia e mudança climática; 
ï‚§ Competitividade; 
 Infraestrutura e serviços coletivos; 
226 
 
 
 
 Cultura cívica e gestão territorial. 
 
O destaque que aqui nos interessa é as questões de Transporte e rede urbana: 
faz-se uma análise da rede urbana portuguesa no momento da concepção do 
plano e projeta-se a rede urbana futura, sugerindo-se, já, as aglomerações 
urbanas, cidades e vilas que receberão quais tipos de equipamento, pensando-
se na acessibilidade da população a tais equipamentos. 
Isto é complementado pela sintonia do PNPOT com o Plano Nacional 
Rodoviário de Portugal, onde toda a estrutura de transportes intermunicipais, 
de interesse nacional, já se encontra definida. 
A responsabilidade pela implantação do PNPOT não é centralizada, mas 
compartilhada entre os diversos órgãos ligados aos setores abrangidos pelo 
plano. A entidade responsável pelo acompanhamento da implantação das 
ações previstas no PNPOT é a Direcção-Geral de Ordenamento do Território e 
do Desenvolvimento Urbano – DGOTDU, vinculada à pasta do Ministério da 
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, que tem 
como funções propor-se: 
 
 Ao apoio técnico à definição da política de ordenamento do 
território e de urbanismo e ao desenvolvimento do seu 
quadro legal e regulamentar;  
 À monitorização e avaliação do funcionamento do sistema 
de gestão territorial e das práticas de gestão territorial; 
 Ao exercício das funções normativa e regulamentar e de 
orientação e apoio técnico à prática e aos agentes das 
transformações territoriais;  
 À divulgação de boas práticas e às acções de formação, 
informação e divulgação técnica dirigidas à capacitação 
dos agentes territoriais, públicos e privados, e aos 
cidadãos em geral; 
 Ao acompanhamento das políticas territorial e urbana nos 
âmbitos comunitário, europeu e internacional, através da 
representação nacional nas organizações e entidades 
responsáveis pela formulação das bases técnicas dessas 
políticas e da promoção da respectiva aplicação no 
território nacional. 
 
227 
 
 
 
 
Figura 4.12: Rede urbana e acessibilidade em Portugal Continental. 
Fonte: PNPOT, 2007 
 
Um problema relatado pela entrevistada Ana Catita, em 2011, é o de que os 
órgãos que devem levar a cabo as ações previstas não percebem o 
ordenamento do território como uma política transversal e que deve permear 
228 
 
 
 
todas as políticas, mas sim como uma política setorial, dificultando atingir 
alguns dos objetivos. Citou, ainda, que o setor de transportes é o mais 
problemático, pois, para o governo português, o Plano Nacional Rodoviário 
seria intocável, o que faz com que todo o restante do plano deva se articular 
em torno das redes de transportes. 
Catita atribui as dificuldades ao fato de a DGOTDU, responsável pela gestão 
territorial, encontrar-se no mesmo nível dos demais órgãos, não tendo poder de 
impor e, além de tudo, o PNPOT é orientativo, não taxativo. Diferentemente de 
Portugal, prossegue, na França, que o ordenamento do território é vinculado ao 
Primeiro-Ministro, sendo, portanto, superior às demais entidades e, em sua 
visão, funcionando melhor que o esquema português. 
 
 
4.4.2 Planejamento de transportes em Portugal 
 
A ideia inicial de se fazer um estudo do planejamento de transportes em 
Portugal derivou da necessidade de uma comparação do Brasil com algo 
similar. No caso, a similaridade viria da União Europeia, por questões de porte 
territorial, populacional e diversidade socioeconômica. E, ainda, pela hipótese 
de similaridade administrativa entre Brasil e Portugal. 
Inicialmente, acreditava-se que a infraestrutura portuguesa, visivelmente 
melhor que a brasileira, derivasse, além de um modelo de planejamento em 
nível europeu que funcionava bem, da boa gestão dos recursos pelos entes 
públicos portugueses. Porém, confirmou-se apenas o primeiro item: as boas 
diretrizes de ordenamento do território e das políticas de transportes geraram 
bons resultados; porém, não é possível dizer o mesmo a respeito da qualidade 
da gestão pública em Portugal. Uma conclusão – antes mesmo de iniciar a 
descrição – é a de que a hipótese de similaridade administrativa entre Portugal 
e Brasil vai além do que se esperava inicialmente. 
229 
 
 
 
Segundo Sérgio Ribeiro, entrevistado no então Instituto de Mobilidade e 
Transportes Terrestres, em 2011, havia até a década de 1980 um gabinete de 
estudos e planejamento de transportes, que fora então extinto. Desde então, 
foram feitas tentativas de planejamento, porém isoladas, setoriais, modais e 
desarticuladas entre si. 
Com a reorganização de instituições do Estado Português, em 2005, foram 
criados Grupos de Planejamento Estratégico e Relações Internacionais 
(GPERI), diversos, alocados em cada ministério, que deveriam cumprir funções 
de planejamento e articular as políticas setoriais entre si e com o propósito de 
uniformizar com as questões internacionais. Porém, jamais funcionaram devido 
à falta de estrutura adequada. Foi extinto o Gabinete de Estudos Estratégicos 
e, atualmente, os gabinetes de planejamento atuam de forma isolada e sem 
articulação entre si. Cada empresa, cada instituto, cada órgão público atua de 
forma isolada e sem coordenação entre si. 
O entrevistado deu a entender que nunca houve uma estabilidade institucional, 
tendo ocorrido diversas fusões e separações entre empresas e institutos 
públicos. Atualmente, após as mudanças empreendidas em 2011, em 
decorrência da crise e sob a necessidade de cortar gastos e reorganizar o 
estado português, o setor de transportes funciona como descrito a seguir. 
O Ministério de Obras Públicas, Transportes e Comunicação passa a se 
vincular ao Ministério da Economia e Emprego, sob a forma de uma Secretaria. 
Subordinado a ela, encontram-se dois institutos públicos, exercendo a função 
de regulação: o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), e o Instituto de 
Mobilidade e Transportes (IMT), resultado da fusão dos seguintes órgãos: o 
Instituto Nacional de Infraestrutura Rodoviária (INIR), o Instituto de Mobilidade 
e Transportes Terrestres (IMTT), o Instituto Nacional de Transporte Ferroviário 
(INTF) –, e o Instituto de Portos e Transporte Marítimo (IPTM). 
Cabe destacar que, em Portugal, a regulação dos transportes urbanos também 
se dá no nível do governo central. Porém, para este estudo apenas interessam 
os transportes estruturantes, relevantes em escala regional e nacional. 
230 
 
 
 
Portanto, aqui serão tratadas apenas as instituições relativas a este tipo de 
transporte. 
No nível de execução, encontram-se empresas públicas que mantêm as 
infraestruturas e fornece os serviços diretamente, ou mediante subconcessão, 
à população: A Comboios de Portugal (CP), responsável por serviços de 
transporte de cargas e passageiros; a REFER, responsável pela manutenção 
das linhas férreas; a Estradas de Portugal (EP), responsável pela gestão, 
construção e operação das vias constantes do Plano Rodoviário Nacional, além 
das administradoras dos portos e aeroportos – merecem destaque a 
Aeroportos de Portugal (ANA), vinculada ao governo central, e a Aeroportos da 
Madeira (ANAM), vinculada à Região Autônoma da Ilha da Madeira. 
 
 
Figura 4.13: Estrutura para o planejamento de transportes em Portugal. 
 
A rede rodoviária portuguesa tem sua construção orientada pelo Plano 
Rodoviário Nacional, de 2000. A rede é hierarquizada em dois tipos de 
sistemas: a Rede Nacional Fundamental e a Rede Nacional Complementar. 
231 
 
 
 
A Rede Nacional Fundamental é composta pelos Itinerários principais, três 
trechos no sentido Norte-Sul e seis trechos no sentido Leste-Oeste, ligando os 
principais centros de população, portos e fronteiras. Possuem, 
obrigatoriamente, perfil de autoestrada, totalizando 2.500 km de rodovias. 
A Rede Nacional Complementar é composta pelos Itinerários Complementares, 
que ligam centros intermediários e grandes, podendo ter perfil de autoestrada 
ou outro tipo de rodovia de acesso controlado, sem divisão de pistas, e pelas 
Estradas Nacionais e Estradas Regionais, não necessariamente possuindo 
controle de acesso. Contempla o total de 7.500 km de vias. 
Porém, conforme destaca Sérgio Ribeiro em sua entrevista, o período pós-
adesão à União Europeia foi marcado pela construção de mais trechos do que 
a capacidade financeira do Estado português permitia, sendo um dos fatores 
precursores do grande endividamento público vivenciado atualmente por 
aquela nação. Considerando a oferta de apoio europeu e crédito fácil e, ainda, 
vislumbrando-se o alargamento da União Europeia para o leste, com países 
mais pobres e que requereriam mais investimentos, as decisões de construção 
de autoestradas foram feitas às pressas, com o temor da escassez de crédito 
derivada do direcionamento dos créditos aos países do leste (Figura 4.15). 
Para atrair investidores no cenário de juros baixos vivenciados ali, o Estado 
Português maquiou os dados de demanda, superestimando-as e, assim, 
atraindo investidores para os procedimentos licitatórios. Assim, as diferenças 
atuais verificadas entre o recurso proveniente dos pedágios e aqueles 
estimados para as licitações são integralmente custeadas pelo Estado 
Português. 
O sistema ferroviário de Portugal é composto por uma rede ferroviária 
operacional de 2.794 km, por onde circulam, em média, 1.776 trens por dia.  
Diferentemente do que ocorre no Brasil, as linhas portuguesas transportam 
tanto passageiros quanto cargas. As ferrovias portuguesas cobrem uma área 
em que vivem cerca de 85% da população nacional (REFER, 2011), além de 
abranger quatro dos principais portos portugueses e pontos de fronteira. 
232 
 
 
 
 
Figura 4.14: Rede de Autoestradas Portuguesas. Sem escala. 
 Fonte: Portugal Convida, 2011. 
 
Os serviços de passageiros incluem Serviços de subúrbio, regionais, inter-
regionais e internacionais, incluindo o Alfa Pendular, que chega a 200 km/h, 
circulando entre as principais cidades portuguesas localizadas próximas à 
costa, desde Faro, no sul, até Braga, no norte. Os serviços de passageiros da 
Comboios de Portugal (CP), a principal operadora, transportaram, em 2010, 
3.718 milhões de passageiros (MINISTÉRIO DO EMPREGO E ECONOMIA, 
2011). 
233 
 
 
 
 
 
Figura 4.15: Modernização ferroviária financiada com recursos da União Europeia, Porto. 
Autor: Sílvio Barbosa da Silva Júnior, 2012. 
 
234 
 
 
 
 
Figura 4.16: Rede ferroviária portuguesa e velocidades limites de velocidade, 2013.  
Fonte: REFER, 2013. 
 
O transporte ferroviário em Portugal, juntamente com a Espanha, possui a 
peculiaridade de possuir uma bitola diversa daquela existente no resto dos 
235 
 
 
 
países da União Europeia, a chamada bitola ibérica, o que dificulta a 
interoperabilidade preconizada na política europeia de transportes. 
Outro ponto relacionado à política europeia de transportes é a separação 
contabilística apregoada desde os anos 1990. Portugal foi além da separação 
contabilística e criou duas empresas públicas, sendo uma, a REFER, para gerir 
a infraestrutura ferroviária, e outra, a CP, para prestar os serviços de 
transportes de cargas e passageiros. 
 Há ainda o projeto do Trem de Alta Velocidade contemplando três eixos: 
Lisboa-Porto, Porto-Vigo e Lisboa-Madrid. Este último tido como um eixo 
prioritário dentre as Redes Transeuropeias. Porém, mesmo após os estudos e 
vários adiamentos, o projeto fora cancelado pelo atual governo português, no 
contexto da atual crise econômica que a Europa vivencia nos últimos anos. 
Um dado conflitante com a falta de prioridade dada aos projetos ferroviários é a 
crescente demanda pelo transporte aéreo. Os aeroportos portugueses 
transportaram aproximadamente 29 milhões de passageiros no ano de 2011, 
sendo que mais da metade desse tráfego se concentra no Aeroporto 
Internacional da Portela, em Lisboa. 
 
Quadro 4.2: Movimentação nos aeroportos de Portugal em 2011. 
Aeroporto Movimentação em 2011 
Lisboa 14.478.255 
Porto 5.840.798 
Faro 4.911.329 
Funchal 1.830.476 
Ponta Delgada 842.214 
Terceira 417.574 
Horta 180.048 
Adaptado de INAC, 2012.  
 
Observa-se que o Estado Português privilegiou o transporte rodoviário – vide o 
conjunto de autoestradas que, segundo o próprio governo, tem uma das 
maiores redes do mundo, proporcionalmente ao território e à população; e o 
236 
 
 
 
transporte aéreo, com tráfego crescente e com as obras de melhoria que 
ampliaram a capacidade do Aeroporto de Lisboa, bem como acesso a ele por 
metrô. 
Este fato não ocorreu apenas em Portugal, mas também em outros países da 
União Europeia. Privilegiou-se o transporte por automóvel e a construção de 
autoestradas em detrimento dos investimentos nas redes ferroviárias. 
 
 
4.4.3 O PET – Plano Estratégico de Transportes 
 
No fim de 2011, enquanto ainda era realizado o Estágio de Doutorado na 
Universidade de Lisboa, foi publicado pelo Ministério da Economia e do 
Emprego, que acabara de encampar o Ministério de Obras Públicas, 
Transportes e Comunicações, um Plano Estratégico de Transportes. Embora o 
nome sugira um plano integrador de políticas de transportes – sabidamente 
desarticuladas também em Portugal – trata-se de um plano com a pretensão de 
superar o estado de endividamento vivenciado pelas empresas públicas 
responsáveis pela prestação dos serviços. 
O diagnóstico apresentado no documento mostra a relação do elevado grau de 
endividamento das empresas públicas com a ineficiência em suas operações, 
na falta de coordenação entre as ações de tais empresas que, em alguns 
casos, concorriam entre si. O entrevistado Sérgio Ribeiro chegou a dizer que a 
dívida dessas empresas não era contabilizada como parte da dívida pública 
portuguesa e, a partir do momento em que a União Europeia passou a 
pressionar no sentido de maior transparência e coerência é que se percebeu o 
nível de endividamento de todo o Estado Português. 
O primeiro ponto é a oferta de mais lugares do que passageiros. Não em um 
patamar que garantisse conforto, mas em patamares exacerbados. Tal 
237 
 
 
 
situação foi averiguada tanto em sistemas urbanos, como o Metrô de Lisboa, o 
Metrô do Porto e a Carris, quanto nas operadoras de transporte de longo curso, 
como a CP, conforme vemos nas figuras a seguir.  
Da superoferta derivaram-se os déficits econômicos; da ampliação da 
infraestrutura e dos serviços, vieram os déficits financeiros das atividades de 
investimento e, a partir daí, em se tratando de um serviço público essencial e a 
necessidade de sua manutenção, os encargos com juros dos empréstimos 
contraídos para manutenção e expansão dos serviços. 
 
 
 
Figura 4.17: custos e entradas na operação da CP em 2010.  
Fonte: Ministério da Economia e do Emprego, 2011. 
 
238 
 
 
 
 
Figura 4.18: oferta de lugares e procura por passageiros na CP em 2010.  
Fonte: Ministério da Economia e do Emprego, 2011. 
 
 
A estimativa do documento é a de que até 2015, se nenhuma medida fosse 
tomada, seria atingido o nível de endividamento da ordem de 16,7 bilhões de 
Euros pelo conjunto de empresas públicas de transportes. 
Para além do endividamento, a superestimação de demandas para a 
concessão de rodovias gerou uma diferença entre as receitas auferidas pelas 
concessionárias e aquelas esperadas. Tal diferença é integralmente custeada 
pelo orçamento nacional. Há, ainda, as autoestradas construídas sem a 
cobrança de pedágio ou “Sem custos para os utilizadores” – SCUT. 
Como solução, o documento propõe três vetores de atuação prioritária: 
 
ï‚§ Cumprir com os compromissos financeiros assumidos por 
Portugal internacionalmente sem que isso represente o 
sufocamento do contribuinte português; 
ï‚§ Alavancar a competitividade; 
239 
 
 
 
 Garantir a mobilidade e o acesso a bens e serviços para a 
população considerando as alternativas mais 
economicamente viáveis. 
 
A diretriz a que se chega é a da necessidade de reorganização do setor 
empresarial do Estado, ou seja, as empresas públicas prestadoras de serviços. 
As iniciativas incluem a fusão dos operadores de transporte urbano, 
particularmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto; a adequação 
do quadro de pessoal ao quantitativo necessário, reduzindo-se os cargos de 
direção; a racionalização das redes, eliminando-se redundâncias, extinguindo 
serviços deficitários e substituindo-os por outros economicamente viáveis; a 
geração de receitas extra-tarifárias e, por fim, a adequação das tarifas ao 
patamar dos demais países europeus.  
Exemplos de serviços extremamente deficitários estão alguns ramais 
ferroviários que exigem muita manutenção, com pesados custos fixos, 
atendendo a poucos passageiros. O PET recomenda a extinção desses 
serviços, substituindo por ônibus onde for menos oneroso. 
Outras ações incluem a transferência de algumas infraestruturas menos 
relevantes em nível nacional para a administração dos municípios; a concessão 
de algumas rodovias operadas diretamente pelo Estado e a suspensão seletiva 
de novos investimentos. Não serão executados aqueles empreendimentos que 
não demonstrem ser autossustentáveis ou que dependam de recursos extra-
orçamentários. Dentre os projetos suspensos, merece destaque o Trem de Alta 
Velocidade, abortado após este documento. 
Um ponto interessante é a decisão de fomentar plataformas logísticas em 
sintonia com as Redes Transeuropeias: o PET propõe que tais plataformas se 
localizem ao redor dos portos, aeroportos, que conectam Portugal com o 
mundo, e ao redor dos eixos das Redes Transeuropeias. 
 
 
240 
 
 
 
4.5 Outras Questões – Considerações Gerais 
 
Para além dos planos, instituições e endividamento, há aprendizados a se 
tomar da experiência portuguesa e europeia. 
Ana Catita, da DGOTDU, tratou de um processo sem correspondente no Brasil: 
a reserva de áreas para faixas de domínio: quando se decide pela construção 
de uma infraestrutura linear ou pontual de energia ou transportes, se faz o 
chamado “condicionamento de área”. Após os estudos que indicam os 
melhores traçados ou localizações, se suspendem os licenciamentos 
(liberações/alvarás) para construções novas nas áreas atingidas. Isto minimiza 
os problemas com indenizações mais elevadas por conta de benfeitorias, no 
caso de desapropriações. 
A relação entre as instituições de planejamento e gestão de transportes com as 
instituições de gestão ambiental e licenciamento territorial é um caso a parte: 
todos os entrevistados destacaram haver um bom relacionamento entre os 
setores. Por um lado, o planejamento e a gestão dos transportes em Portugal 
parecem ter absorvido as melhores técnicas em respeito ao meio ambiente; por 
outro, o processo do licenciamento ambiental tem prazos definidos e que são 
cumpridos pelas instituições licenciadoras. Esses dois fatores favorecem a boa 
relação entre os setores, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde a relação é 
mais conflituosa. 
Dois exemplos de decisões que consideraram os aspectos ambientais 
merecem destaque: a construção da Ponte Vasco da Gama e a construção da 
Circular Regional Interna de Lisboa, a CRIL. 
 A Ponte Vasco da Gama é parte do Itinerário Principal 1(IP-1), componente do 
sistema fundamental do Plano Rodoviário Nacional, que precisava superar, 
além do estuário do Rio Tejo, um sapal (manguezal) e salinas protegidas pela 
legislação ambiental (Parque Natural do Estuário do Tejo). Considerando que 
tanto a autoestrada quanto as áreas protegidas eram de fundamental 
241 
 
 
 
importância para a nação, deliberou-se a construção com viadutos de acesso 
que não interferissem com as áreas protegidas.  
A largura do estuário, no trecho, é de aproximadamente nove quilômetros. 
Porém, considerando a necessidade de preservação das áreas protegidas, a 
ponte foi inaugurada em 1998 com um trecho elevado de 12 quilômetros e, 
contabilizando os acessos, mais de 17 quilômetros. 
 
 
Figura 4.19: Ponte Vasco da Gama.  
Autor: Dmitry Mazurov, 2012. 
 
A Circular Regional Interna de Lisboa (CRIL) é uma autoestrada de 21 km que 
circunda a parte mais central da zona metropolitana de Lisboa, servindo tanto 
para deslocamentos de longa distância quanto para deslocamentos 
metropolitanos. Havia nela um trecho faltante concluído em 2011, nove anos 
após o primeiro trecho. 
242 
 
 
 
Os relatos de Cristina Russo, da APA, e de Ana Cristina Martins, da EP, nos 
dão conta de como foi o processo. Já há muitos anos havia a previsão de sua 
conclusão, estando reservada uma faixa non aedificandi para tal finalidade. No 
entanto, tal faixa fora ocupada por moradias irregulares em alguns pontos. O 
processo de construção começou com a remoção dessas famílias e a 
transferência delas para locais apropriados, por meio de programas de 
habitação. 
 
 
Figura 4.20: Padrão de sinalização e acesso à CRIL.  
Autor: Dmitry Mazurov, 2012. 
 
As entrevistadas destacaram, ainda, que a “Declaração de Impacte Ambiental”, 
como eles denominam o documento de licenciamento ambiental, propôs a 
mudança da tecnologia construtiva de elevado para túnel/vala aberta, visando 
eliminar o efeito barreira (MOUETTE, 1998) sobre o meio urbano circundante. 
As áreas remanescentes foram transformadas em áreas de lazer. Ana Cristina 
243 
 
 
 
Martins, da EP, destacou também, apesar de haver dificuldades, a boa relação 
com os concelhos (municípios) durante o processo de licenciamento territorial. 
 
 
Figura 4.21: Proteção contra ruídos nos trechos urbanos de autoestrada em Lisboa.  
Autor: Dmitry Mazurov, 2012. 
 
 
O que há de se aprender da experiência portuguesa e europeia é ter o foco na 
qualidade de vida e uma diretriz territorial que guie as decisões. O foco na 
qualidade de vida é notável na qualidade dos serviços e infraestruturas: boas 
autoestradas, tratamento digno de travessias urbanas, serviços confiáveis e de 
transporte de longo curso, ambientes integrados com os transportes urbanos. 
A política europeia de transportes é consistente e sintonizada com diretrizes 
territoriais e ambientais, priorizando os modos menos poluentes como o 
ferroviário e aquaviário, sem ignorar a importância do rodoviário e aéreo. 
Porém, os Estados Nacionais priorizaram investimentos intranacionais e 
244 
 
 
 
rodoviários, reforçando, salvo exceções, as infraestruturas rodoviárias e o uso 
do automóvel.  
Não foi diferente em Portugal, onde, além da construção de uma grande rede 
de autoestradas, promoveram um acréscimo de oferta de transporte público – 
urbano e de longo curso – e da qualidade do serviço. Porém, a oferta era muito 
maior que a demanda, o que foi decisivo na geração de déficits, culminando no 
endividamento das empresas estatais. 
A ação no sentido de reverter o quadro e tomar decisões mais racionais só veio 
com o advento da crise, que evidenciou o processo de endividamento. Há de 
se destacar a inação do Estado Português durante anos de gestão ineficiente, 
tendo tomado atitudes mais concretas apenas após a deflagração de uma crise 
maior. Lá, na bonança financeira dos recursos abundantes da União Europeia, 
modernizaram sua infraestrutura, ainda que tenham priorizado o modo 
rodoviário e deixado de lado aspectos importantes, e melhoraram a qualidade 
de vida da população.  
Porém, a modernização institucional, muito lentamente, apenas tem caminhado 
após o período de crise. No Brasil, tanto instituições quanto a infraestrutura e 
os serviços deixam a desejar; porém, com o recente boom na qualidade de 
vida e na disponibilidade de recursos para investimentos, amplia-se a aplicação 
de recursos em infraestruturas sem, no entanto, que isso represente uma 
melhoria na atuação das instituições. Deste modo, observa-se a semelhança 
entre o modus operandi lá e cá, confirmando a hipótese da similaridade 
administrativa entre os Estados Português e Brasileiro. 
 
 
 
 
 
245 
 
 
 
4.6 Atuação do Estado Brasileiro e da União Europeia: uma Síntese 
 
No Capítulo 3, descrevemos brevemente a configuração e o estado atual das 
redes e serviços de transportes estruturantes, em nível federal, no Brasil e a 
principal avaliação é a de que, tal como está configurada hoje, ela indica não 
haver uma real preocupação com a função dos transportes como elementos 
estruturadores do território nacional. Mais que isso, os sistemas nacionais de 
transporte não conseguem atender adequadamente uma função mais básica, 
que é a de suprir as demandas por deslocamentos de bens e pessoas no 
território. 
Tais características de rede refletem uma incapacidade/incompetência da 
administração pública, por meio dos órgãos responsáveis, em planejar, num 
primeiro momento e, em seguida, gerir tal rede. 
No que se refere a planejamento, é notória a ausência ou o uso inadequado de 
princípios norteadores, ou seja, objetivos maiores que se pretende atingir com 
determinada política. O viés que aqui adotamos é que, dentre tais princípios, 
haja conteúdo de ordenamento do território, tendo em vista que o território é 
uma das bases fundamentais de um Estado-Nação. 
Num segundo nível, há o conjunto de dificuldades em se executar a política 
vigente, seja por falta de recursos orçamentários, pela incompetência dos 
responsáveis, por questões político-partidárias ou, ainda, pelos sabidos 
problemas de articulação interinstitucional, que também destacamos no 
Capítulo 3.   
Em termos de articulação interinstitucional, destacamos naquele Capítulo 
aquelas intersetoriais, considerando conflitos de instituições do mesmo nível de 
decisão como os setores de transporte x ambiental, ou transporte x energia, 
mas também interfederativos, quando se abordam as dificuldades de 
relacionamento entre os entes federados – União, Estados e Municípios, seja 
pela divisão inadequada de poderes, seja pela falta de capacidade de 
articulação. 
246 
 
 
 
Um terceiro elemento que pode ser incluído na análise é a boa qualidade 
necessária a todo o processo, desde o nível da definição de princípios, 
passando pelas políticas e planos mais específicos, chegando até as obras 
mais pontuais. Há de se ter como padrão de excelência que todas essas 
etapas/níveis possuam elevado grau de coerência entre si e sejam consoantes 
com as necessidades e princípios da sociedade a que servem. Em suma: as 
políticas públicas devem ser claras, eficientes e sintonizadas com os princípios; 
os planos específicos devem detalhar partes da política pública e conter 
informação o suficiente para ser levado a cabo; bem como as obras em si 
devem ser suficientemente discutidas, no sentido de serem feitas as melhores 
escolhas, e bem construídas, visando garantir sua qualidade objetiva. 
Embora a atuação em planejamento e gestão de transportes na União 
Europeia apresente problemas, é ponto pacífico observar que ali já se 
encontram em outro patamar de qualidade, muito mais elevado do que o 
brasileiro. 
O principal instrumento de política pública de transportes, o Livro Branco dos 
Transportes, encontra-se em grande sintonia com os princípios básicos da 
União Europeia, relacionando-se ao desenvolvimento socioeconômico e 
territorial por meio da redução das desigualdades sociais e regionais, da 
coesão territorial e do aumento da competitividade perante o cenário 
internacional. 
A União Europeia, apesar de, em linhas gerais, possuir maior nível de 
desenvolvimento socioeconômico que o Brasil, possui grandes disparidades 
regionais entre os países e dentro dos próprios países, e a política de 
transportes tem o mérito de, seguindo os princípios básicos, ser um dos pilares 
da superação dessa condição.  
Nota-se o claro viés territorial dos princípios e, por conseguinte, do documento 
norteador das políticas públicas. A meta do planejamento e da gestão é, por 
meio dos princípios, atingir aos objetivos propostos e não meramente eliminar 
gargalos, como tem sido a ação brasileira. 
247 
 
 
 
Porém, é ilusório crer que um documento, por si só, por mais alinhado que 
esteja com princípios, e por mais que traga medidas que efetivamente tenham 
potencial de atingir aos objetivos preconizados, seja capaz de prover a melhor 
infraestrutura e os melhores serviços possíveis. Outro ponto que pode induzir a 
uma conclusão equivocada é o fato de as infraestruturas e serviços europeus 
apresentarem um patamar de qualidade bastante superior aos brasileiros, 
dando a impressão de que tudo é perfeito e isento de problemas. 
Assim como no Brasil, na União Europeia há problemas de ordem político-
partidária e problemas de articulação intersetorial, interfederativa e 
interinstitucional. É de se esperar que, em um grupo de quase 500 milhões de 
cidadãos, habitantes de 27 países, falantes de, pelo menos, 23 línguas oficiais, 
exista a possibilidade de grandes divergências em termos de posicionamento 
político e que refletem na definição de prioridades da União e das políticas 
públicas. 
A articulação intersetorial pode ser menos problemática, quando se tem em 
vista o alinhamento aos princípios já referidos; porém, há de se tomar especial 
atenção em relação às interações entre as infraestruturas e áreas de 
protegidas – ambientais e de comunidades tradicionais, bem como com 
infraestruturas produtoras de energia – hidrelétricas, por exemplo – e com 
áreas urbanas. 
A questão da articulação interfederativa é particularmente sensível, pese a que, 
além das diretrizes comunitárias, editadas pela União, existe ainda o nível 
nacional, com sua legislação e suas normas (que por mais que estejam 
alinhadas com as da União, podem conter pontos divergentes), e os níveis 
infranacionais, variáveis de país para país. 
Quanto a isto, temos os exemplos analisados no Capítulo 4 que mostram que, 
apesar da preferência para projetos ferroviários pelas diretrizes do Livro 
Branco, grande parte dos pedidos de financiamento por parte dos países se 
refere a autoestradas. Da mesma forma, é incongruente o crescimento elevado 
do transporte aéreo frente à estagnação do transporte ferroviário de 
passageiros.  
248 
 
 
 
Dificuldades de articulação entre países se referem às Redes Transeuropeias, 
particularmente em projetos de grande monta e que superem fronteiras 
nacionais, que não vinham sendo alvo de pedidos de financiamento por parte 
dos países, que preferiam tocar obras que se situassem integralmente dentro 
de seus limites. Este fato gerou, nas revisões do Livro Branco, a se repensar os 
mecanismos de financiamento de modo a estimular que os projetos 
transnacionais fossem levados a cabo. 
Este é um ponto positivo do planejamento em nível europeu: a autocrítica. As 
revisões do Livro Branco dos Transportes fazem a leitura dos erros e acertos 
da versão anterior, bem como propõem correções de rumos, algo que o 
planejamento, como feito no Brasil, não considera. 
A proposta que ora se faz é a de um modelo para um sistema de planejamento 
de transportes para o Brasil, com base nas características observadas, 
melhorias requeridas, bem como na experiência europeia, considerando seus 
pontos fortes e fracos. 
O primeiro item necessário é a definição de quais os princípios norteadores 
para a política nacional de transportes. Na ausência de um plano nacional de 
ordenamento do território, o setor dos transportes, detentor de grande 
orçamento e prestígio – ainda que não seja o que melhor funcione – deveria se 
articular com os demais setores, particularmente ambiental, energia, 
planejamento, integração nacional, no sentido de se definir princípios e 
diretrizes comuns de desenvolvimento, principalmente no aspecto territorial 
desse desenvolvimento.  
Essas bases virão, primordialmente, da Constituição Federal e da participação 
popular, mas também de uma visão nacional, de um projeto nacional de longo 
prazo em que se definam metas a serem atingidas em determinado período.  
Sendo os transportes um elemento fundamental na organização do espaço, 
não há como pensar os transportes sem considerar o território e, também, não 
há como pensar território sem considerar os transportes. 
249 
 
 
 
De conhecimento de tais princípios, metas e diretrizes, devem ser conduzidos 
estudos para uma política consistente de transportes, com base territorial e 
forte articulação com as demais políticas setoriais. Não é preciso lembrar que o 
transporte é mais um elemento da cadeia e não funciona só. E, à medida que 
os princípios norteadores são os mesmos e que as políticas setoriais são 
construídas em conjunto, se minimizam as possibilidades de conflito. 
No modelo das Redes Transeuropeias, haveria de se definir uma rede 
estruturante, principal, em torno da qual haveria a concentração de população 
e atividades econômicas. Tal rede deve ser definida tendo características 
mínimas, de modo a atingir os objetivos propostos. 
Em relação aos transportes, uma política de longo prazo deve considerar 
minimamente a necessidade da intermodalidade, da complementaridade dos 
modos, da qualidade da informação ao usuário/cidadão, os modelos de 
financiamento, a integração do território nacional, as características da frota. 
Hoje, boa parte desses itens está de fora da atuação do Estado Brasileiro. 
Com base na experiência europeia, da dificuldade de articulação entre as 
nações para a consecução de projetos transnacionais, há de se fomentar um 
estreitamento das relações entre os órgãos federais e aqueles estaduais, com 
vistas a harmonizar os interesses. Se por um lado há a necessidade de se 
centralizar a informação, as diretrizes e a definição de padrões mínimos, por 
outro se deve descentralizar a execução dos planos e obras específicos, 
permitindo com que cada Estado desenvolva seus modelos de execução, 
possibilitando, inclusive, a inovação, por meio da variedade de experiências.  
Quando falamos em padrões mínimos, remetemos também à necessidade de 
definição de uma rede estruturante nacional, ou seja, uma rede, em torno da 
qual se desenvolverão os principais núcleos populacionais e atividades 
econômicas mais relevantes. Esta rede deve ter padrões mínimos, definidos 
nacionalmente. Deve haver padrões mínimos de geometria e sinalização 
também para as redes secundárias, visando uniformizar o tratamento e a 
qualidade da infraestrutura, bem como oferecer uma rede mais ‘legível’ e 
inteligível por parte dos cidadãos. 
250 
 
 
 
Por fim, há a necessidade de se melhorar a qualidade das obras e da operação 
dos sistemas. Primeiramente, adotando-se as melhores normas internacionais 
sobre o assunto; adotando-se padrões mínimos para as infraestruturas e 
serviços tidos como estruturantes e, fundamentalmente, melhorando qualidade 
da gestão das instituições responsáveis por conduzir e fiscalizar tais obras e 
operação. 
Ainda em relação à articulação interfederativa, enquanto não se pensa em uma 
redivisão administrativa e redistribuição de poderes, há de se fornecer o devido 
apoio aos municípios (Estados e União) para que sejam capazes de ordenar e 
controlar seu desenvolvimento urbano. O crescimento desordenado e/ou mal 
ordenado das áreas urbanas são um dos principais causadores de 
saturação/inutilização das infraestruturas estruturantes de transportes. Isto 
ocorre principalmente pela incapacidade de grande parte dos municípios em 
gerir seu território. Vale lembrar que a imensa maioria dos municípios tem 
poucos habitantes e, portanto, menor possibilidade de formar quadros 
competentes para a gestão municipal. 
Em suma, o planejamento e a gestão dos transportessão partem de algo maior, 
que tem como centro a gestão do território, orientado por princípios 
norteadores da sociedade, e que tem por finalidade última a garantia da 
qualidade de vida para os habitantes de dado território. Sendo assim, não faz 
sentido o planejamento de transportes por si só, mas sim aquele que leva em 
consideração os princípios maiores. 
 
 
 
 
  
251 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 
Ao final do desenvolvimento do programa de pesquisa que idealizamos para 
esta tese, consideramos que atingimos aos objetivos propostos no início.  
Discutimos, com base em conceitos fundamentais como território, transportes e 
ordenamento do território, levando-se em consideração as reflexões tanto de 
autores clássicos quanto de estudos mais recentes, o papel fundamental que 
as redes de transporte possuem sobre a estruturação do território nas mais 
variadas escalas. 
Buscamos reconstruir, com base na análise da literatura disponível e, 
associando aos conceitos fundamentais considerados neste estudo, o papel 
das políticas e das redes de transporte na formação socioespacial brasileira, 
desde o “Descobrimento” em 1500 até o início do presente século. Embora o 
transporte, como discutimos, não seja uma atividade fim, mas uma atividade 
meio que serve de suporte para as demais atividades humanas, o tema sempre 
esteve em discussão e suas características – das redes, dos serviços, das 
políticas – influenciaram profundamente a estruturação do espaço nacional, 
desde as primeiras vilas fundadas à beira-mar ou à margem de rios, permitindo 
os contatos comerciais com a metrópole portuguesa ou outros centros, às 
discussões recentes para implantação de uma rede de trens de alta velocidade. 
Chegando ao cerne da principal questão proposta nesta tese, observa-se que 
não existe no Brasil uma política territorial consistente. Apesar de estudos em 
particular – como o “Estudo para a dimensão territorial para o planejamento” – 
possuírem uma visão mais abrangente, jamais conseguiu influenciar de modo 
substancioso as decisões do Estado brasileiro. Bem como políticas de 
“desenvolvimento regional” e outras políticas setoriais – ambiental, de 
transportes, dentre outras que, apesar de considerarem variáveis territoriais, 
252 
 
 
 
trabalham de modo desarticulado devido, dentre outros fatores, à ausência de 
uma visão territorial que as unifique. 
O que concluímos até aqui é que, apesar de não se poder falar em ausência de 
uma visão territorial nas políticas públicas do Estado Brasileiro, há uma 
ausência de uma visão territorial unificada que sirva de parâmetro para as 
políticas setoriais, com vistas ao ordenamento do território nacional. 
A política nacional de transportes encontra-se baseada em uma legislação que, 
apesar de mencionar itens como “segurança nacional”, “integração regional, 
nacional e internacional”, dentre outros, resume-se a um rol de vias e terminais 
que vem sendo incluídos nas diversas atualizações da legislação. Com base 
em tal legislação, o principal guia para a gestão dos transportes é o Plano 
Nacional de Logística e Transportes. Este, embora possua como méritos a 
tentativa de resgate do planejamento de longo prazo e, ainda, a consideração 
de alguns aspectos territoriais como premissas, está longe de ser algo próximo 
do desejável: por um lado por ser descolado de uma lógica maior de 
ordenamento do território, por outro por ser apenas um plano indicativo, sem 
vinculação legal que obrigue sua execução integral. 
O discurso é de o PNLT ser um plano de Estado, sendo que este deveria ser 
viabilizado pelos entes da União. Até o momento, o que se tem, é de que 
algumas das obras constantes do PNLT estejam sendo realizadas via 
Programa de Aceleração do Crescimento, que nada mais é que um programa 
de gestão de obras. Embora tenha elevado o nível de fiscalização e a 
velocidade de execução das obras sob sua tutela, o PAC está longe de 
viabilizar a totalidade das infraestruturas previstas no PNLT. 
Mais recentemente fora lançado o Programa de Investimentos em Logística 
(PIL), que tem a pretensão de ampliar o investimento em infraestrutura de 
transportes por meio de parcerias do Estado com parceiros privados, com 
recurso da concessão e ampliação de capacidade de rodovias, construção de 
ferrovias, mudanças no modelo de operação ferroviária, concessões e 
melhoramentos em aeroportos e portos. Tal programa ainda é muito recente 
para que se teçam maiores comentários, mas, considerando que há um 
253 
 
 
 
problema de descolamento da política de transportes com uma estratégia 
territorial mais ampla, este programa poderá, tão somente, conseguir melhorar 
as infraestruturas, sem que isso signifique uma maior atenção ao ordenamento 
do território. 
A rede brasileira de transportes, apesar das intervenções e melhorias recentes, 
segue mostrando a inoperância do Estado brasileiro, nas últimas décadas, em 
ordenar o espaço nacional, desprezando o potencial das redes de transportes 
para tal. Isto é claramente visível quando se nota a ausência de hierarquia do 
sistema viário nacional, denunciados, por exemplo, pela falta de uma rede 
estrutural de autoestradas e/ ou de trens de alta velocidade conectando os 
centros relevantes do território nacional, como existe em países ditos 
desenvolvidos e, até mesmo, em outros mais pobres que o Brasil. 
Além da ausência de uma visão/política estratégica nacional que considere o 
território como substrato para o desenvolvimento, outro ponto fulcral é a 
questão da articulação interinstitucional: as instituições envolvidas nos 
processos de decisão que culminam na implantação de infraestruturas e 
serviços de transportes não se articulam adequadamente. Isso em diversos 
níveis: entre instituições do mesmo setor, entre instituições de setores distintos, 
entre níveis federativos.  
Há uma enorme tensão, conforme constatamos, entre os setores de 
transportes e de meio ambiente, reflexo tanto de uma falta de conhecimento de 
ambas as partes sobre a importância do trabalho da outra e, sobretudo, de uma 
política de ordenamento territorial que traga diretrizes claras para os demais 
setores. 
Naturalmente, a organização institucional tem peso nesse aspecto, tendo em 
vista que há três entidades com status de ministério gerindo o sistema nacional 
de transportes, ampliando o nível de dificuldade para a articulação e, por 
consequência, uma melhor execução da política de transportes: O Ministério 
dos Transportes, a Secretaria de Portos e a Secretaria de Aviação Civil.  
254 
 
 
 
Ainda em relação à articulação interinstitucional, é particularmente grave a falta 
de um diálogo qualificado entre as decisões de nível federal – sobre a rede 
estrutural de transportes – e aquelas tomadas nos municípios. Aqueles que 
decidem sobre transportes demonstram desconhecer a natureza dos impactos 
em nível local e as soluções possíveis. Os municípios, apesar de dotados de 
mais poder desde a Constituição Federal de 1988, não possuem – em sua 
ampla maioria – capacidade técnica nem administrativa para gerir tais questões 
nem tampouco negociar com os demais níveis. Caberia ao nível mais elevado 
– e com mais condições técnicas e financeiras – a iniciativa de melhorar tal 
relação, por meio de uma visão transescalar, analisando os problemas não 
meramente pela ótica macro, mas considerando seus potenciais impactos nas 
escalas regional e local, atuando em parceria com Estados e municípios. 
Há de se esperar, por conta da natureza federativa do Estado Brasileiro e da 
consequente divisão de poderes, que haja conflitos entre a atuação da União e 
a dos Estados e Municípios. Porém, há de se buscar sua superação no intuito 
de oferecer algo que deve ser interesse de toda a administração pública, que é 
o fornecimento de um território equilibrado, servido de infraestruturas 
adequadas e serviços de qualidade para a população que o habita. 
Ainda que seja um território com problemas a serem superados e com um 
contexto histórico bastante diverso do brasileiro, as ações da União Europeia 
nos fornecem um bom contraponto ao caso brasileiro. Em se tratando de uma 
união de Estados nacionais independentes, que renunciaram parte de sua 
soberania para um ente maior, encontra-se nesse aspecto uma possibilidade 
de harmonizar e eliminar alguns conflitos.  
A política de transportes da União Europeia é um bom exemplo de política 
comunitária supranacional que, apesar de todos os problemas relatados no 
capítulo 4, tem conseguido melhorar infraestruturas no nível dos Estados-
membros e, ainda, articular esforços transnacionais em projetos que o 
requeiram, como as Redes Trane Europeias. Possui forte viés territorial e 
ambiental, contendo metas por períodos, bem como revisões periódicas que 
contêm a autocrítica necessária a toda política. 
255 
 
 
 
As políticas nacionais devem, obrigatoriamente, estar alinhadas à política 
comunitária, o que busca a harmonização das ações e eliminação de 
redundâncias. No Brasil, ainda estamos longe desse nível de organização no 
qual Estados e União ainda possuem muitos pontos divergentes. 
Em termos de organização institucional, acertos políticos nos níveis nacional e 
infranacional demonstram uma semelhança com o Brasil: no caso português, 
por exemplo, há redundâncias e confusões na atribuição de órgãos, o que deve 
se repetir em outras nações. Porém, a existência de metas a serem atingidas e 
cobradas em nível comunitário parece fazer com que as instituições tenham 
que se articular de modo mais afinado em busca das metas estabelecidas. 
O território europeu mostra, apesar das dificuldades de gestão de recursos e 
de articulação institucional que avaliamos no Capítulo 4, que há uma sintonia 
muito maior entre o ordenamento do território e a distribuição da infraestrutura 
de transportes, ao contrário do que observamos no território brasileiro. 
Em suma, a legislação pertinente, a política nacional de transportes e a 
atuação recente dos órgãos responsáveis pelos transportes em escala nacional 
no Brasil mostram-se inadequados no sentido de prover ao país um sistema 
estruturador para a movimentação de cargas e pessoas, tendo como razões 
principais: 
 
 A ausência de uma ligação com uma estratégia superior de 
ordenamento do território; 
 A falta de articulação entre as políticas setoriais – 
notadamente uma política de ordenamento do território que 
sirva de ponto para tal articulação; 
 As dificuldades de articulação interinstitucional; 
 As dificuldades de articulação interfederativa. 
 
A superação desta situação passa, a começar, pela construção e uma agenda 
nacional de desenvolvimento, tendo por base uma diretriz de ordenamento 
256 
 
 
 
territorial. Apenas com base em uma diretriz territorial, que sirva como ponto de 
articulação entre políticas setoriais, haverá a possibilidade de haver menos 
atritos e mais sinergia entre os planos/políticas territoriais. 
Passa, em seguida, pela revisão da legislação relativa aos transportes e sua 
organização, priorizando a divisão adequada das responsabilidades entre os 
níveis federativos, ficando a cargo da união a definição das diretrizes do 
sistema como um todo e, particularmente, a gestão dos sistemas 
estruturadores, ou seja, aquele conjunto de infraestruturas e serviços de 
interesse nacional. Deve considerar, ainda, uma reforma institucional que 
centralize a informação e o planejamento em um único ministério, diminuindo a 
possibilidade de “ruídos” e disputas de poder, bem como simplifique o quadro 
de instituições subordinadas a tal ministério, facilitando, acima de tudo, a vida 
do cidadão que saberá mais facilmente a quem recorrer em caso de 
problemas. 
Assim, consideramos que haverá uma melhor capacidade de gestão dos 
sistemas de transportes e de seus impactos sobre o território. Se voltarmos à 
premissa inicial do trabalho de que os problemas de transportes são, em 
grande medida, problemas de ordenamento do território, poderão ser investidos 
esforços de superar tais problemas atacando também o ordenamento do 
território e não meramente a infraestrutura que lhe dá suporte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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