UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
 
 
 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOGRAFIA E GESTÃO DO TERRITÓRIO 
 
 
 
 
 
 
 
A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e 
pensamento do ensino geográfico no Brasil (1814-1930...) 
 
 
 
JEANE MEDEIROS SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UBERLÂNDIA/MG 
2012 
JEANE MEDEIROS SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e 
pensamento do ensino geográfico no Brasil (1814-1930...) 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Geografia da 
Universidade Federal de Uberlândia, como 
requisito parcial à obtenção do título de 
Doutora em Geografia. 
 
Área de Concentração: Geografia e Gestão 
do Território.  
 
Orientadora: Profa. Dra. Vânia Rubia Farias 
Vlach. 
 
 
 
 
 
 
 
Uberlândia/MG 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
2012 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
 
Jeane Medeiros Silva 
 
 
A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e pensamento do ensino 
geográfico no Brasil (1814-1930...) 
 
 
_________________________________________________ 
Profa. Dra. Vânia Rubia Farias Vlach 
Orientadora 
 
_________________________________________________ 
Profa. Dra. Marísia Margarida Santiago Buitoni – UERJ 
Examinadora 
 
_________________________________________________ 
Profa. Dra. Rogata Soares Del Gaudio – UFMG 
Examinadora 
 
_________________________________________________ 
Prof. Dr. Décio Gatti Júnior – UFU 
Examinador 
 
 
_________________________________________________  
Profa. Dra. Rita de Cássia Martins de Souza – UFU 
Examinadora 
 
 
 
Data: 27/junho/2012 
Resultado: Aprovada com Louvor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil. 
 
 
S586b 
2012 
 
 
Silva, Jeane Medeiros, 1978- 
       A bibliografia didática de geografia: história e pensamento do 
ensino geográfico no Brasil (1814-1930...) / Jeane Medeiros Silva. – 
 2012. 
       394 f. : il. 
 
       Orientador: Vânia Rubia Farias Vlach. 
       Tese (doutorado) – Universidade Federal de Uberlândia, Progra- 
ma de Pós-Graduação em Geografia. 
        Inclui bibliografia. 
 
        1. Geografia - Teses. 2. Geografia - Estudo e ensino - Brasil -  
História - Teses. 3. Geografia - Bibliografia - Teses. I. Vlach, Vânia  
Rubia Farias. II. Universidade Federal de Uberlândia.  Programa de 
Pós-Graduação em Geografia. III. Título. 
                                                             
                                                                                        CDU: 910.1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Geraldo e Herotildes, 
minha força e meu refúgio sempre. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
À divina força, imensurável, que me protege, guia e vela pelos meus atos, agradeço 
pela fé que me sustenta e me equilibra, nos dias difíceis, nas alegrias da vida.  
 
À Profa. Dra. Vânia Rubia Farias Vlach, orientadora e amiga, que me acompanha há 
doze anos, indicando-me os caminhos do ensino da Geografia, atenta, paciente e 
generosa: sou sua indisfarçável discípula e levarei para sempre as marcas de sua 
dedicação à Geografia brasileira, transmitidas à minha formação acadêmica. 
 
À minha família, força oculta que se desvela em zelo e apoio incomensuráveis: 
Geraldo e Herotildes, meus pais, Naama, minha irmã, e Deds, meu cunhado. 
 
À Adrianna Silveira das Neves e ao Itamar Carlos de Jesus Jr., pela alegria do 
convívio e pela força nos dias difíceis: vocês são muito especiais e eternos em meu 
coração. 
 
Às amigas de fé, sonhos e ousadias, Lívia Silva Sousa e Andréia Mello Lacé: torço 
pela força do futuro a nosso favor, nenhum plano é em vão.  
 
À Ínia Franco de Novaes, amiga tão íntegra, que me inspira verdadeiramente. 
 
Aos amigos da infância geográfica: Clécio José Carrilho e Márcia Andréia Ferreira 
Sousa pelo entusiasmo, humor e torcida, pessoas muito especiais para mim. 
 
À Roberta Afonso Vinhal Wagner e Elza Canuto, pelo incentivo sempre. 
 
À amiga Miyuki Kurokawa, pela torcida carinhosa, primeiro do outro lado da ponte do 
Araguari e depois do outro lado do mundo mesmo. 
 
À Claudia Fátima Kuiawinski e à Sofia Lorena Vargas Antezana, companheiras de 
lida, sempre dispostas a ouvir e a ajudar. 
 Aos Profs. Drs. Adriany de Ávila melo Sampaio, Eucidio Pimenta Arruda e Sérgio 
Luiz Miranda, pelo acurado exame e contribuição por ocasião da qualificação da 
tese. 
RESUMO 
 
 
Considerando que os livros didáticos de Geografia são um dos lugares manifestos 
do discurso histórico-ideológico do pensamento geográfico no Brasil, instituinte, 
também, da história desta ciência, o objetivo da tese foi compreender a bibliografia 
didática do ensino de Geografia, bem como a história e o pensamento deste ensino, 
entre as décadas de 1810 e 1930, por meio da descrição da trajetória constitutiva e 
da análise do livro didático de Geografia e dos discursos dos seus sujeitos. 
Considerou-se a Análise do Discurso, a História das Disciplinas Escolares e a 
História do Currículo como subsídios teórico-metodológicos para apreender a 
bibliografia didática de Geografia como objeto de pesquisa. A bibliografia 
sistematizou dados referentes a 276 títulos, de 510 edições, escrita por 183 autores. 
As primeiras manifestações da Geografia como disciplina independente surgiram no 
ensino superior, na organização curricular de alguns dos primeiros cursos científicos 
introduzidos no território brasileiro, no contexto da formação da Academia Real 
Militar (1810), pelo que a Geografia passou a ser estudada em aulas avulsas, 
marcando esse processo o surgimento de livros didáticos no início da década de 
1820, até ser introduzida permanentemente no quadro curricular do Colégio Pedro II 
a partir de 1837. O ensino de Geografia, com intensidade variante, ao longo de sua 
trajetória, assumiu um papel cultural, um papel nacional e um papel científico no 
contexto da educação brasileira. Os discursos didáticos de Geografia, desde seu 
surgimento, inscreveram-se na Geografia moderna em sua vertente clássica, 
emergente no século XVIII, assimilando a estrutura da Geografia Física, da 
Geografia Política e da Cosmografia como vertentes da sua organização, modelo 
que, em fins do século XIX, começou a apresentar sinais de esgotamento. Os anos 
1920 foram um divisor de águas para o ensino de Geografia e para a bibliografia 
didática dessa disciplina. O sopro da “orientação moderna” da Geografia, somada ao 
sentimento de cansaço aferido pela Geografia descritiva, a reorientação dos 
objetivos do ensino contribuíram para compor um novo quadro didático para a 
Geografia. O exame da bibliografia permitiu acompanhar a formação e o 
desenvolvimento da Geografia como disciplina escolar. Demonstrou como o seu 
conteúdo transgrediu sua função auxiliar, no ensino implícito desse saber, 
característico aos períodos jesuíticos e pombalino, até canalizar uma constituição 
única, dando voz a uma disciplina formada, com lugar e responsabilidades na 
instituição escolar, entre o reinado e a primeira república. Foi possível, ainda, 
examinar questões como autoria, autoridade, legitimação da disciplina, a relação dos 
textos com os currículos propostos, a questão das fontes e das traduções, 
posicionamentos frentes à tradição, à metodologia de ensino e à formação dos 
professores, a questão da nacionalidade, e outras, percebidas enquanto 
regularidades na dispersão do discurso didático de Geografia. 
 
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Bibliografia didática de Geografia; Geografia 
Descritiva; Currículo de Geografia; Discurso didático. 
 
ABSTRACT 
 
 
Considering the geography textbooks as one of the places of historical and 
ideological discourse of geographical thought in Brazil, instituting the history of this 
science, the thesis aim to understand the didactic bibliography of geography, its 
history and thought, between 1810’s and the 1930’s, through the constitutive 
description of the trajectory and the analysis of the Geography textbook and the 
discourses of their subjects. It was considered Discourse Analysis, History of School 
Subjects and Curriculum History as theoretical-methodological to grasp the 
geography teaching for research subject. The bibliography systematized data on 276 
books, 510 editions, written by 183 authors. The first manifestations of Geography 
discipline as independent discipline emerged an in superior education in the 
curriculum of some early science courses introduced in Brazil in the context of Royal 
Military Academy (1810) formation, so the geography began to be studied in 
independent courses, marking this process the emergence of textbooks in the early 
1820s, being introduced permanently in the curriculum of the Colégio Pedro II from 
1837. The geography teaching, with an intensity variation along its trajectory, 
assumed a cultural, a national and a scientific paper in the context of Brazilian 
education. The didactic discourses of Geography, since its inception, enrolled in 
Geography modern classic, emerging in the eighteenth century, understanding the 
structure of the Physical Geography, the Political Geography and Cosmography as 
aspects of its organization, a model which, at the end nineteenth century, began to 
show signs of exhaustion. The 1920s were a watershed for the teaching of 
Geography and the its didactic literature. The "modern lines" of geography, coupled 
with the feeling of fatigue as measured by descriptive geography, the reorientation of 
the education aims contribute to compose a new framework for teaching geography. 
The examination of the literature allowed the monitoring of the formation and 
development of geography as a school subject. Demonstrated its content violated its 
auxiliary function, implicit in the teaching of this knowledge to channel a unique 
composition, giving voice to a discipline formed, with place and responsibilities in the 
school between the kingdom and the first republic . It was also possible to examine 
issues such as authorship, authority, discipline legitimacy, the relationship of the texts 
with the proposed curriculum, the question of sources and translations, fronts 
positions tradition, the teaching methodology and teacher training, the question 
nationality, and others perceived as regularities in the dispersion of the geography 
didactic discourse. 
 
Keywords: Teaching Geography; Bibliography teaching of Geography, Descriptive 
Geography, Geography Curriculum, teaching discourse. 
SUMÁRIO 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................. 01 
  
CAPÍTULO 1 – UMA PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA A 
ANÁLISE DA BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: disciplina, 
currículo e discurso ............................................................................................. 
 
12 
1.1 A História das Disciplinas Escolares e a História do Currículo: algumas 
contribuições para uma história da disciplina escolar de Geografia e de sua 
literatura didática ................................................................................................ 
 
13 
1.2 Análise do Discurso: fundamentos teórico-metodológicos da interpretação  25 
1.2.1 O sujeito, a história e a ideologia na análise discursiva: a questão 
da autoria ................................................................................................. 
 
28 
1.2.2 O discurso, seus elementos e a formação do dizer didático .......... 37 
1.3 Procedimentos metodológicos da pesquisa da Análise do Discurso ........... 45 
  
CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA (1814-1939): 
discussão da trajetória constitutiva dos manuais de Geografia .......................... 
 
49 
2.1 A bibliografia didática de Geografia .............................................................. 49 
2.2 A autoria da bibliografia ................................................................................ 87 
2.3 A editoração .................................................................................................. 93 
2.4 O desenvolvimento físico-gráfico dos manuais didáticos de Geografia ....... 108 
  
CAPÍTULO 3 – DO ENSINO IMPLÍCITO AO ENSINO EXPLÍCITO DA 
GEOGRAFIA: prenúncios da disciplina e do livro didático nos movimentos 
históricos anteriores à independência política do Brasil ..................................... 
 
121 
3.1 A educação colonial: os primeiros indícios de uma educação geográfica ... 125 
3.2 A educação colonial: a influência do isolacionismo ...................................... 136 
3.3 Reinado (1808-1821): o surgimento dos primeiros indícios de uma 
literatura didática de Geografia ........................................................................... 
 
139 
3.3.1 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810): a primeira 
explicitação da Geografia como disciplina ................................................. 
 
144 
3.4 Uma avaliação da posição da Geografia como atividade de ensino entre 
1549 e 1821: prenúncios da formação de uma disciplina geográfica no Brasil  . 
 
161 
  
CAPÍTULO 4 – DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA 
ESCOLAR NO IMPÉRIO (1822-1889): o estabelecimento de uma disciplina e 
de uma bibliografia didática ................................................................................ 
 
169 
4.1 A educação brasileira e o ensino de Geografia no período Imperial ............ 172 
4.1.1 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834: o 
entreposto da consolidação da Geografia como disciplina ........................ 
 
174 
4.1.2 Currículo e ensino de Geografia no Império: o papel do Colégio 
Pedro II ....................................................................................................... 
 
180 
4.2 O currículo e a constituição da bibliografia didática de Geografia no 
período imperial .................................................................................................. 
 
200 
4.2.1 A tradição da Cosmografia, da Geografia Física e da Geografia 
Política ........................................................................................................ 
 
201 
4.2.2 A bibliografia didática de Geografia no Império ................................. 205 
4.2.3 A formação do currículo escolar de Geografia no Império ................ 212 
  
CAPÍTULO 5 – DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA 
ESCOLAR NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930...): permanências e 
transformações na disciplina e em sua bibliografia didática ............................... 
 
227 
 
 
5.1 A educação brasileira na República: o lugar da Geografia escolar e sua 
proposta curricular .............................................................................................. 
 
229 
5.2 A constituição da bibliografia didática de Geografia no período republicano  252 
5.2.1  A bibliografia didática de Geografia na República ............................ 253 
5.2.2 A contribuição de Said Ali: o significado da sua proposta de 
regionalização ............................................................................................ 
 
257 
5.2.3  A contribuição de Delgado de Carvalho: a orientação moderna da 
Geografia e sua relação com o livro didático ............................................. 
 
260 
5.2.4 Antonio Firmino Proença: síntese das transformações no ensino de 
Geografia .................................................................................................... 
 
265 
5.2.5 Fernando Antônio Raja Gabaglia: o ensino de Geografia por 
práticas ....................................................................................................... 
 
268 
  
CAPÍTULO 6 – DISCURSOS NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA: 
análises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geográfico ...... 
 
272 
6.1 O discurso da designação das obras ........................................................... 275 
6.2 A formação do discurso didático de Geografia: estabelecimento da 
Geografia descritiva ............................................................................................ 
 
287 
6.3 Prefácios, prólogos, notas de advertência, apresentações e imprensa: os 
discursos do entorno .......................................................................................... 
 
300 
6.3.1 Estabelecimento da autoria e da obra: vozes constitutivas dos 
sujeitos e dos discursos didáticos .............................................................. 
 
301 
6.3.2 A identidade e a legitimidade da disciplina ........................................ 310 
6.3.3 Os sujeitos da recepção enunciativa ................................................. 314 
6.3.4 A relação do discurso didático de Geografia com os currículos e 
programas .................................................................................................. 
 
315 
6.3.5 Enfrentamentos das traduções, fontes e lacunas do discurso 
didático de Geografia ................................................................................. 
 
317 
6.3.6 Discursos emergentes como oposição à tradição da bibliografia 
didática de Geografia ................................................................................. 
 
325 
6.3.7 Enunciados ao professor: instruções e recomendações dos autores 
aos docentes de Geografia ........................................................................ 
 
329 
6.3.8 Posições constitutivas da bibliografia didática de Geografia quanto 
ao nacionalismo .......................................................................................... 
 
334 
6.4 Livro escolar de Geografia e representações sobre o ensino geográfico no 
período em questão ............................................................................................ 
 
340 
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 351 
  
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 366 
  
APÊNDICE ......................................................................................................... 389 
01 – obras de importância direta para a bibliografia didática de geografia 
brasileira ............................................................................................................. 
  
390 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
01 – Atos de controle e advertência contra a pirataria de obras didáticas em 
exemplares de Henrique Martins (1896), Carlos Góes (1918) e José Theodoro 
de Souza Lobo (1927) ........................................................................................ 
 
85 
02 – Distribuição geográfica da produção da bibliografia didática de Geografia 
no Brasil (1814-1939) ......................................................................................... 
 
100 
03 – Distribuição geográfica da produção da bibliografia didática na Europa 
(1814-1939) ........................................................................................................ 
 
102 
04 – Baptiste Louis Garnier (1823-1893), pioneiro das atividades editoriais 
para o livro didático brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917), que 
consolidou o mercado das publicações didáticas no Brasil ................................ 
 
107 
05 – Encadernações típicas da bibliografia didática de Geografia até fins do 
século XIX ........................................................................................................... 
 
110 
06 – Capa da 5. ed. da Chorographia do Brasil, de Henrique Martins (1896): a 
identificação da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa 
frontal .................................................................................................................. 
 
112 
07 – Reprodução da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra 
illustrada. Geographia universal, physica, ethnographica, política e econômica 
das cinco..., de Frere Ignace Chaput (F.I.C.) ..................................................... 
 
113 
08 – Geographia Elementar, de A. de Rezende Martins – exemplar de 1926: 
das primeiras obras em formato panorâmico ..................................................... 
 
114 
09 – Ilustrações e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de 
Geographia physica, politica, histórica, commercial e astronomica, composto 
para uso das escolas brazileiras, de Lacerda, 1887 .......................................... 
 
116 
10 – Capa da obra Geographia Elementar, de Arthur Thiré ............................... 118 
 
11 – Algumas páginas internas da obra Geographia Elementar, de Arthur 
Thiré .................................................................................................................... 
 
118 
12 – Fotografias ilustrando a obra Lições de Chorographia do Brasil, de 
Horacio Scrosoppi .............................................................................................. 
 
119 
13 – Esquema da explicação para o processo de Gormação das chuvas 
proposto por Gabaglia (1930) ............................................................................. 
 
270 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
 
 
01 – Produção da bibliografia didática de Geografia por década (1814-1939) .. 86 
02 – Distribuição da produção de livros didáticos por localidade (1814-1939) .. 99 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
 
01 – Bibliografia didática brasileira de Geografia (1814-1939) ........................... 51 
02 – Produção por autoria, para autores com mais de dois títulos de manuais 
didáticos de Geografia (1814-1939) ................................................................... 
 
91 
03 – Descrição das casas publicadoras da bibliografia didática de Geografia 
(1814-1939) ........................................................................................................ 
 
94 
04 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1838 ................................................................................. 
 
188 
05 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1841 ................................................................................. 
 
189 
06 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1850 ................................................................................. 
 
191 
07 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1855 ................................................................................. 
 
192 
08 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1857 ................................................................................. 
 
194 
09 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1862 ................................................................................. 
 
195 
10 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1870 ................................................................................. 
 
196 
11 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1876 ................................................................................. 
 
197 
12 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1878 ................................................................................. 
 
197 
13 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1881 ................................................................................. 
 
198 
14 – Organização curricular da obra Compendio de Geographia Universal, 
rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira, de Bazilio 
Quaresma Torreão, 1824 ................................................................................... 
 
213 
15 – Organização curricular da obra Corografia, ou abreviada historia 
geographica do imperio do Brasil..., de Domingos Jose Antonio Rebello, 1829  
 
216 
16 – Plataforma curricular do Colégio Pedro II em 1850 – ensino secundário ... 217 
17 – Plataforma curricular executada na segunda e quarta edições de 
Pompêo Brasil .................................................................................................... 
 
220 
18 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, no Colégio Pedro II, na 
vigência do Decreto n. 8051, de 25 de março de 1881 ...................................... 
 
223 
19 – Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia, de 
Joaquim Maria de Lacerda, década de 1880 ..................................................... 
 
225 
20 – Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do 
Brazil, de Henrique Martins, década de 1880 ..................................................... 
 
225 
21 – Constituição da Grade Curricular de Geografia, de acordo com o Decreto 
n. 981, de 8 de novembro de 1890, para a instrução primária e secundária do 
Distrito Federal, Reforma Benjamim Constant ................................................... 
 
232 
22 – Ensino Primário: Programa de Geografia na vigência da Reforma 
Benjamim Constant (1890-1901) ........................................................................ 
 
234 
23 – Ensino Secundário: Programa de Geografia na vigência da Reforma 
Benjamim Constant (1890-1901) ........................................................................ 
 
235 
24 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto n. 3.914, de 23 de janeiro de 1901, Reforma Epitácio 
Pessoa ................................................................................................................ 
 
237 
25 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 8.660, de 5 de abril de 1911, Reforma Rivadávia 
Corrêa ................................................................................................................. 
 
239 
26 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, Colégio Pedro II, na 
vigência da Reforma Rivadávia Corrêa (1911-1915) ......................................... 
 
240 
27 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915, Art. 167, Reforma 
Carlos Maximiliano ............................................................................................. 
 
242 
28 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925, Art. 47, 
Reforma Luiz Alves Rocha Vaz .......................................................................... 
 
243 
29 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, Colégio Pedro II, na 
vigência da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931) .................................. 
 
244 
30 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, Reforma Francisco 
Campos .............................................................................................................. 
 
249 
31 – Programa de Geografia na vigência da Reforma Francisco Campos 
(1931-1937) para o Curso Fundamental ............................................................ 
 
251 
32 – Programa de Geografia na vigência da Reforma Francisco Campos 
(1931-1937) para o curso secundário ................................................................. 
 
251 
33 – Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia .......................... 281 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
 
01 – População e educação no Brasil – 1820-1950 ........................................... 171 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
 
O Ensino de Geografia foi decisivo para a formação de um discurso científico 
geográfico no Brasil, e uma prática anterior à sua institucionalização em sociedades 
ou na academia: esse tem sido um consenso entre os que estudam a história e o 
pensamento do ensino dessa disciplina. Os objetivos da Geografia acadêmica, com 
tais raízes, têm fundamentos que permeiam desde a estruturação territorial das 
atividades econômicas nacionais até o processo de constituição e consolidação das 
próprias regiões nacionais, unificados aos interesses sociais, econômicos e políticos 
organizados em construções discursivas manifestas em práticas artísticas, 
midiáticas, escolares, programas governamentais, entre outros, elaborando corpos 
ideológicos que sustentaram (e sustentam) essa orientação. Dessa forma, considero 
a educação geográfica como um dos pilares dos discursos sobre o território, e, 
nessas circunstâncias, considero os manuais escolares como um dos pilares 
tradicionais desta educação e, como contribuição da presente pesquisa, considero-
os parte importante da gênese de um pensamento e prática da Geografia, bem 
como partícipe da história da Geografia e do seu ensino no Brasil. 
Esses livros, ou o seu desenvolvimento e expressão, são um indicador 
cultural importante e, como objetivos discursivos, abrigam processos sobre a 
formação de sujeitos, efeitos de sentido e efeitos ideológicos, sob orientação de 
alguma discursividade geográfica, qual seja ela. 
Não obstante, o gênero didático, por suas contradições e, principalmente, 
por estar sob a ótica de um produto cultural menor na linha dos gêneros que 
documentam a pesquisa acadêmica, foi desconsiderado por muito tempo enquanto 
objeto de estudo. Os livros didáticos de Geografia, a propósito, apenas em fins do 
século XX, mais precisamente a partir da década de 1980, passaram a ser alvo de 
artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado (PINHEIRO, 2005a; 2005b; 
SILVA, 2006). Anteriormente a essa década, são poucas as contribuições nesse 
sentido. Considerando essas pesquisas, é indiscutível o vínculo entre a produção 
dos livros didáticos de Geografia e o discurso institucionalizado dessa ciência: sem 
aprofundar no mérito da questão, posso afirmar que as denominadas Geografia 
Tradicional, Geografia(s) Crítica(s), Geografia Humanística – principalmente estas – 
tiveram/têm seus professores e autores didáticos (Cf. SILVA, 2006). Mas quais 
seriam essas relações anteriormente à institucionalização brasileira da Geografia? 
De onde enunciavam aqueles autores? Quais formações discursivas e ideológicas 
orientavam suas práticas enunciativas? De quem eram essas vozes que 
conformavam um discurso pedagógico para a Geografia? Que obras foram aquelas, 
e quais suas marcas na história e no pensamento da Geografia e do seu ensino? 
Esta pesquisa defende a tese de que os livros didáticos de Geografia são 
um dos lugares manifestos do discurso histórico-ideológico do pensamento 
geográfico no Brasil, instituinte, também, de sua história, e, por isso, propõe estudar 
a constituição do discurso escolar da Geografia por meio de sua bibliografia didática, 
identificando os autores pioneiros, suas instâncias de interlocução e as contribuições 
identificáveis e manifestas nesses objetos no que tange à formação da História e do 
Pensamento Geográfico em um período específico, isto é, aquele que antecede à 
institucionalização da Geografia acadêmica no Brasil, na década de 1930, 
procurando, em paralelo, perceber a construção desse discurso enquanto gênero 
bibliográfico: um discurso didático de Geografia. O período de abordagem, portanto, 
estende-se desde o tempo dos jesuítas, perpassando pelos períodos pombalino e 
joanino até o Império (1822-1889), quando a educação brasileira, em geral, e a de 
Geografia, em específico, começa a ser organizada, alcançando as transformações 
que acompanharam o estabelecimento da República (1889) até o surgimento da 
Geografia acadêmica no país, quando a Educação brasileira, já destituída da Igreja 
Católica como mentora do ensino, e, sob orientação do Estado, compartilha com a 
Academia (ou com a classe intelectual) a regulamentação do ensino e, por 
conseguinte, da produção dos livros didáticos, intervenção que atinge igualmente os 
manuais de Geografia. 
Portanto, concentro meu objeto de pesquisa na bibliografia didática aqui 
sistematizada, enveredando pela formação do ensino de Geografia, no que respeita 
à constituição da disciplina, formação do currículo, perspectivas sobre esse ensino, 
e, sobretudo, o discurso do e sobre o livro didático de Geografia. 
O livro didático de Geografia, em geral, tendo sua relevância denegada pela 
academia, quando foi, enfim, objeto de estudo, apenas alguns de seus aspectos 
despertaram o interesse da pesquisa: as políticas públicas, a ideologia (ainda que 
em uma visão marxista, base epistemológica das Geografias Críticas, perspectiva 
que fez essas primeiras leituras do livro didático), a metodologia de ensino, não 
sendo explorado, na totalidade, seu papel histórico e epistemológico. Apesar de 
contraditório, o livro didático é um produto complexo, com ampla margem para a 
investigação científica, sendo uma lacuna a produção de perspectivas históricas que 
compreendam e esclareçam aspectos que engendram o surgimento e o 
desenvolvimento da Geografia e do seu ensino no Brasil. 
Considerando que os textos didáticos de Geografia (e, por conseguinte, o 
ensino dessa disciplina) anteciparam a institucionalização acadêmica da ciência, e 
muitos de seus debates, inclusive o da “orientação moderna” (Said Ali e Delgado de 
Carvalho, dentre outros, que serão examinados nessa pesquisa, são exemplos 
desse processo, sendo esta expressão de Delgado), verifica-se a necessidade de se 
avançar no debate sobre os discursos materializados nessa bibliografia, mesmo 
porque o livro didático, em si, foi das primeiras formas de institucionalização do 
discurso geográfico. Em pesquisa anterior, em nível de dissertação de mestrado1, 
identifiquei um significativo desconhecimento sobre a história do livro didático de 
Geografia no Brasil, particularmente suas relações com a academia e com outras 
fontes de produção da pesquisa e do conhecimento geográfico, sobretudo um 
desconhecimento sobre o período delimitado para esta pesquisa, dado que as 
pesquisas existentes sobre o livro didático se concentram prioritariamente na 
produção contemporânea. 
Esse desconhecimento leva a prevalecer lugares comuns, simplistas e 
simplificadores ao referenciar o ensino de Geografia e os livros didáticos do período 
em recorte: a noção de que existiriam poucos e raros livros de Geografia, a 
prevalência de textos importados, o discurso apolítico, não científico, são algumas 
das reduções que se engendram no desconhecimento histórico do livro didático de 
Geografia. 
O preenchimento de tais lacunas anima o debate do ensino de Geografia e 
subsidia a formação de professores desta disciplina, pois auxilia o esclarecimento de 
um passado ainda sem luz apropriada, alocado na penumbra que antecede um 
                                                 
1
 SILVA, Jeane Medeiros. A constituição de sentidos políticos em livros didáticos de geografia 
na ótica da Análise do Discurso. 2006. 275 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de 
Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2006. 
período bem mais conhecido – o da História do Pensamento Geográfico e do ensino 
dessa ciência – após a institucionalização acadêmica da ciência geográfica no 
Brasil, embora seja parte constituinte da realidade atual. Sobretudo, contribui para 
demover certas análises destituídas de compreensão do período em foco, tais como 
as mencionadas acima, o que leva muitos pesquisadores a fazer avaliações 
errôneas e anacrônicas do ensino, métodos e materiais daqueles anos, tornando-as 
um consenso amplamente reproduzido, de especial maneira no âmbito da formação 
de professores de Geografia. 
O contexto das pesquisas do Ensino de Geografia, nesse início de milênio, é 
propício à valorização do livro didático como objeto de pesquisa e fonte da produção 
de conhecimentos: a distância entre livro didático de Geografia e a pesquisa 
acadêmica tende a ser reduzida, pelo menos em vista da crescente quantidade, e 
qualidade, de trabalhos sobre o tema a partir do final da década de 1990. A 
propósito, em se tratando de uma atividade com linguagem(ns) – autoria, escrita, 
formação bibliográfica... – é oportuna a utilização da Análise do Discurso como 
sustentação teórico-metodológica de uma compreensão do livro didático de 
Geografia, aliada a algumas perspectivas da História das Disciplinas Escolares e da 
História do Currículo enquanto sustentação para a construção de um corpo histórico 
para análise. A linguagem por si só já contorna com relevância a proposta, uma vez 
que, com a Análise do Discurso, inova-se a questão da interpretação, que perpassa 
pelas práticas de produção e recepção textuais, fazendo desse campo de estudo 
uma contribuição vigorosa para o debate da educação geográfica quanto à 
consideração de relações que atravessam a linguagem, a História, a ideologia, as 
condições de produção discursiva e, ainda, a constituição dos sujeitos e dos 
sentidos que entrecruzam a tessitura da História da Geografia no Brasil. 
Por objetivo geral, proponho compreender a bibliografia didática do ensino 
de Geografia, bem como a história e o pensamento deste ensino, entre as décadas 
de 1810 e 1930, por meio da descrição de sua trajetória constitutiva e da análise dos 
discursos dos seus sujeitos. 
As etapas de efetivação dessa proposta objetivam, especificamente: 
 
a) Buscar elementos teóricos e metodológicos que auxiliem a 
compreensão da disciplina e da bibliografia didática de Geografia, 
sobretudo na Análise do Discurso de linha francesa; 
 
b) Reunir referências da bibliografia didática de Geografia no período 
entre a refuncionalização da Colônia brasileira para sediar o Reino 
português até o momento contemporâneo à institucionalização da 
Geografia acadêmica no Brasil, sistematizando autores e obras que 
subsidiaram o ensino de Geografia brasileiro. 
 
c) Compreender historicamente a formação e a consolidação da 
disciplina nos movimentos históricos que a definiram, procurando 
perceber os reflexos desses movimentos na bibliografia didática de 
Geografia; 
 
d) Analisar elementos constitutivos do discurso instituinte da 
bibliografia sistematizada na pesquisa, identificando posições 
autorais, discursos e efeitos de sentido que esbocem, a partir dela, 
os lugares da História do Ensino de Geografia brasileiro. 
 
Esse percurso agrega significados à Geografia brasileira e ao seu ensino, 
além de ressignificar o livro didático de Geografia e seus autores como objeto de 
estudo e documento das práticas geográficas no Brasil. 
Para conduzir a proposta de conhecer o pensamento e o ensino geográfico 
por meio dos sujeitos, sentidos e fundamentos ideológicos que, paulatinamente, 
tomam forma de um gênero integrante do discurso geográfico, constituindo um 
acervo de obras e de referências didáticas, utilizo as técnicas da pesquisa 
bibliográfica como ponto inicial para vislumbrar, de acordo com as possibilidades da 
pesquisa, a história do livro didático de Geografia de 1814 até o final da década de 
1930. Defino este período tomando como marco inicial a publicação da obra 
Elementos de Astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar, de 
Manoel Ferreira de Araújo Magalhães, publicada no Rio de Janeiro em 1814, pela 
Impressão Régia. O período de abordagem encerra-se sem limite preciso na década 
de 1930, quando a Geografia foi institucionalizada no Brasil, de acordo com o 
modelo de produção e formação que perdura até a atualidade, afirmando alguns dos 
vínculos entre a academia e a produção dos manuais didáticos de Geografia, mas 
sem necessariamente aprofundar a questão dessa institucionalização nesse 
momento da pesquisa. Apesar de limitar a sistematização ao ano de 1939, algumas 
edições de anos anteriores são reeditadas nas décadas seguintes, registros 
contabilizados na pesquisa, pois o critério para a inclusão de um título na relação foi 
o ano da primeira edição, ou edição mais antiga identificada. 
Em linhas gerais, trata-se de uma pesquisa exploratória, visando 
proporcionar a discussão de um problema – a produção da literatura didática de 
Geografia no período anterior à institucionalização da ciência geográfica – um tema 
ainda pouco conhecido entre os historiadores do pensamento e do ensino 
geográfico. 
A pesquisa, portanto, foi iniciada com um exaustivo levantamento de 
referências e produção de fichas para localização, acesso ou obtenção das fontes 
primárias ou de dados a elas relacionados. Foram consultados catálogos de diversas 
bibliotecas de universidades brasileiras, bem como catálogos virtuais da Bibliotèque 
Nationale de France, o Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros (1810 a 
2005) – LIVRES, o Acervo Geral e Acervo de Obras Raras da Fundação Biblioteca 
Nacional (Rio de Janeiro, RJ) e da Biblioteca Arthur Viana (Belém, PA). Consultei, 
também, catálogos e extratos de catálogos de editoras, catálogos de exposições 
geográfica e pedagógica, além de consultar acervos particulares e obras de 
referência bibliográfica (SILVA, 1870; BLAKE, 1883; 1893; 1895; 1898; 1899; 1900; 
1903; GARRAUX, 1962; MORAES, 1969).  Dentre os indicadores de busca, 
destacaram-se os termos geographia2, chorographia, compendio, cosmographia, 
geografia, geographico, geográfico, geográfica, geographica, corographia, 
corografia. Seguiram-se o levantamento de critérios históricos para classificação dos 
                                                 
2
 O período em abordagem nesta tese passou por diversas formas de ortografia da língua 
portuguesa. Diante disso, as transcrições diretas serão sempre de acordo com a ortografia vigente na 
fixação do texto à época, à exceção de alguma transcrição cujo acesso obtido já constasse com uma 
atualização. Os nomes dos autores igualmente terão observados a ortografia corrente à época de sua 
existência ou registro. 
grupos de referências, seleção e análise destas, notadamente os períodos Jesuítico, 
Pombalino, do Reinado, Imperial e Republicano, com subdivisões que se fizeram 
necessárias. Os principais períodos históricos do território brasileiro ficam como 
expressão máxima do recorte, pois são responsáveis por transformações 
significativas na educação brasileira, que diferenciam um período de outro. 
Esta etapa inicial permitiu a identificação de títulos, autores, anos e locais de 
publicação, definindo um panorama histórico-descritivo que permite entrever o 
surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia e do ensino desta. A 
composição de um panorama bibliográfico de obras e autores constituiu o arcabouço 
de fontes para construção histórica e análise. 
Na delimitação da pesquisa não foram inscritos o levantamento, a análise ou 
a historicização de atlas, dicionários, cartas, globos3, literatura para o ensino cívico, 
literatura pedagógica e demais materiais dessa linha que, embora tenham feito a 
história da disciplina Geografia, constituindo sua literatura, considero produtos 
complementares e de referência, sem a abrangência que os livros escolares 
propriamente têm. É fato inegável que esses materiais subsidiaram o ensino de 
Geografia, apresentando vínculos diretos com esse ensino, mas não são oportunos 
a este trabalho, neste momento, pela necessidade de delimitação e controle da 
extensão da pesquisa de acordo com a estrutura de uma tese: apenas me utilizei 
dos mesmos marginalmente, por necessidade da análise. 
Enganos e omissões são inevitáveis em trabalhos com bibliografia, 
sobretudo em períodos com tempo dilatado em décadas e, sobretudo, décadas e 
séculos distantes da atualidade. A dispersão eleva os objetos culturais à categoria 
de raros ou desaparecidos, sustendo-se em seus contextos pelo valor e impacto 
histórico que tiveram – uma condição que o tempo pode lembrar ou esquecer. De 
acordo com as condições da pesquisa, pretendi elaborar uma base ampla, a mais 
completa, de forma que a pesquisa dispõe de uma bibliografia, dentre as possíveis, 
para análise. 
Nesta tese, denomino por “bibliografia didática de Geografia” o acervo de 
documentos em análise direta ou indireta – dado que nem todos os títulos são 
                                                 
3
 Uma história da bibliografia didática na perspectiva cartográfica por ser encontrada na tese A 
cartografia nos livros didáticos e programas oficiais no período de 1824 a 2002: contribuições para a 
história da geografia escolar no Brasil, de Levon Boligian (2010). 
acessíveis. Atualmente, tratamos os objetos em estudo pelo termo “livro didático” 
para os quais genericamente empregam-se com regularidade, enquanto sinônimos, 
obra didática, livro-texto, manual didático, compêndio. Essas designações são 
historicamente constituídas: compêndio, por exemplo, foram os nomes gerais desses 
livros, em boa parte do século XIX, dada a concepção e a metodologia de 
elaboração, nomeando um conjunto de conhecimentos relativos a uma dada área do 
saber, dentre os considerados mais importantes, em forma de livro, compilados ou 
não. Livro-texto já é uma denominação mais recente, bem como livro didático. 
Podem ser compreendidos como livros se forem impressos, encadernados, 
legalmente catalogados, publicados4. Por apostilas, se a divulgação do texto sofre 
variações em relação ao padrão “livro”.  
Esses materiais, nessa pesquisa, são tratados, quando em conjunto, por 
duas denominações: literatura didática e bibliografia didática de Geografia.  
Por bibliografia didática, compreendo a sistematização, possível ao 
alcance dessa pesquisa, do acervo cujas fontes tenham sido identificadas, 
acessadas ou adquiridas; referem-se também, consequentemente, à sistematização 
de dados como indicação de autoria, titulação e subtitulação, edição, local e casa de 
publicação, ano de publicação, quantidade de páginas impressas e registro de 
outros dados complementares à caracterização formal do livro, tais como coleções, 
volumes, tradução, adaptação, revisão, ampliação. Para o levantamento das obras 
em estudo, porém, os dados foram organizados em um levantamento bibliográfico 
no qual constaram as primeiras edições ou a edição mais antiga que pude localizar, 
seguindo uma ordem cronológica, conforme pode ser visto no Quadro Relação geral 
de títulos por autor - índice por data de primeiras e demais edições, ou edição mais 
antiga identificada, apresentada no Capítulo 2. O levantamento foi organizado para 
que a entrada de cada título registre, cronologicamente, todas as edições 
identificadas da obra. Esses documentos apresentam especificidades à análise e à 
construção histórica da pesquisa, conforme abordo apropriadamente no desenvolver 
das descrições e análises. 
                                                 
4
 Publicação enquanto manifestação notória de uma obra, seja pelo uso (aquisição, leitura, adoção 
institucional), seja pela visibilidade, mesmo quando não institucional, pelas finalidades e 
direcionamento ao público, pela integração a acervos, catálogos, bem como pela citação em obras de 
referências. 
Por literatura didática de Geografia, entendo todos os aspectos que 
extrapolam as dimensões físicas de uma obra ou da bibliografia, sobretudo os 
aspectos teórico-metodológicos, políticos, sociais, ideológicos e outros que 
apresentam continuidades, rupturas, conflitos, contradições, mas se desenvolvem na 
composição de uma área – perfazendo uma formação discursiva em torno desses 
objetos. Nessa categoria, também são inclusos atlas, dicionários, cartas, globos, 
literatura para o ensino cívico, literatura pedagógica e demais materiais dessa linha 
que, conforme demonstrado, embora sejam parte integrante da história da disciplina 
Geografia, não estão em foco nesta pesquisa. 
O corpus está constituído, assim, pela bibliografia didática na qual se 
encontram majoritariamente livros compendiados, traduzidos, adaptados, produzidos 
ou importados para o ensino de Geografia brasileiro. Marginalmente, quando 
julgados importantes para a análise, outros documentos, de outros gêneros, são 
tomados como parte do corpus e como unidade de análise, como já mencionei. 
A propósito da bibliografia e da literatura didáticas de Geografia, considero, a 
partir de uma visão geral do corpus e do seu contexto, que há um ensino explícito e 
um ensino implícito de Geografia. O ensino explícito de Geografia compreende os 
programas e currículos elaborados para o ensino e aprendizagem exclusivo desta 
disciplina Geografia, com os materiais culturais produzidos para esse fim, tais como 
as obras da bibliografia. O ensino implícito de Geografia compreende, por sua vez, o 
aprendizado e o ensino incidental de conteúdos de Geografia em outros programas, 
currículos e disciplinas. Para exemplificar, os livros de leitura, os livros do ensino 
cívico, os livros de História estão todos eivados com discursos geográficos, pois as 
formações discursivas que justificaram e promoveram o ensino de Geografia em 
muito extrapolam os interesses desta disciplina. 
A pesquisa inicia-se com a construção de uma perspectiva teórica, 
perpassando pela construção histórica da disciplina e dos manuais de Geografia, até 
alcançar uma síntese analítica do período delimitado. 
Por conseguinte, no primeiro capítulo, Uma perspectiva teórico-metodológica 
para a análise da bibliografia didática de Geografia: disciplina, currículo e discurso, 
apresento discussões relativas à Análise do Discurso e a algumas perspectivas da 
História das Disciplinas Escolares e da História do Currículo, no que tocam de perto 
ao estudo do objeto proposto e aos objetivos lançados. Não se trata propriamente de 
fazer uma história das disciplinas em geral, ou do livro didático como um todo, o que 
não é objetivo da pesquisa, mas de buscar elementos que auxiliem a compreensão 
da bibliografia didática de Geografia, tendo na Análise do Discurso elementos 
conceituais e metodológicos que fundamentem essa compreensão. Procuro, 
portanto, construir uma perspectiva para compreender os documentos em análise 
como bibliografia específica do ensino da Geografia e partícipes do processo de 
constituição discursiva do gênero didático. 
No segundo capítulo, Descrição da bibliografia didática (1814-1939): 
discussão da trajetória constitutiva dos manuais de Geografia, apresento os dados 
bibliográficos, em sua sistematização e discuto aspectos relacionados à constituição 
do acervo, tais como autoria, editoração, apresentação gráfica, dentre outros. 
No terceiro capítulo, Do ensino implícito ao ensino explícito da Geografia: 
prenúncios da disciplina e do livro didático nos movimentos históricos anteriores à 
independência política do Brasil, percebo, na dispersão do ensino jesuítico, 
pombalino e joanino, as raízes da disciplina e da bibliografia didática de Geografia, 
com particular atenção à Academia Real Militar (1810), instituição integrante do 
movimento de introdução do pensamento científico no Brasil, e marco no ensino de 
Geografia brasileiro. 
No quarto capítulo, Delineamentos constitutivos da Geografia escolar no 
Império (1822-1889): o estabelecimento de uma disciplina e de uma bibliografia 
didática, demonstro o surgimento da Geografia como disciplina consolidada na 
educação brasileira, bem como seu desenvolvimento curricular, aliando essa 
trajetória a um crescente mercado editorial, que será aliado das nascentes 
instituições escolares, sobretudo do ensino secundário, ambientando a consolidação 
da Geografia como disciplina escolar e a constituição de um acervo bibliográfico 
desta disciplina, na vigência do Império. 
 No quinto capítulo, Delineamentos constitutivos da Geografia Escolar na 
Primeira República (1889-1930...): permanências e transformações na disciplina e 
em sua bibliografia didática, examino o debate e os atos que promovem a 
transformação do fazer e modo de ser da disciplina geográfica e da sua bibligorafia 
durante a vigência da Primeira República, em fins do século XIX até a década de 
1930, tempo em que a Geografia está constituida e institucionalizada, e incorporada 
de certa tradição quanto a uma literatura didática.  
No último capítulo, Discursos no livro didático de Geografia: análises de 
elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geográfico, procuro analisar as 
circunstâncias e vínculos constitutivos da bibliografia, observando, em seu discurso, 
como os sujeitos autores se impõem no cenário educacional, aspectos da 
legitimação da disciplina, a relação com as propostas curriculares, o posicionamento 
da bibliografia em relação a sua própria tradição, o posicionamento com suas fontes, 
com os professores, com as formações ideológicas. 
Em um aspecto geral, a trajetória delineada pela pesquisa demonstrou uma 
atividade intensa, embora fragmentada, que participou da delineação e afirmação da 
Geografia como disciplina escolar, respondendo às necessidades impostas pela 
educação brasileira, reagindo às críticas colocadas pela intelectualidade brasileira, 
de forma a compor um material extremamente rico para a compreensão da história 
da Geografia escolar e mesmo do pensamento geográfico brasileiro. 
CAPÍTULO 1 
 
 
UMA PERSPECTIVA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE 
DA BIBLIOGRAFIA/DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: 
disciplina, currículo e discurso 
 
 
Para alcance dos objetivos propostos nesta tese, elejo um corpus de análise 
– os manuais de Geografia, examinados a partir do discurso didático desta 
disciplina, o que é um recorte de pesquisa, isso porque o discurso didático da 
Geografia se enuncia em diferentes materialidades: na produção do professor 
(resumos, anotações, relatórios, fala...), na produção dos alunos, na produção do 
Estado (legislação, relatórios, programas...), nos manuais didáticos, na ciência 
geográfica, na imprensa e em tantas outras instâncias, além da literatura didática de 
Geografia propriamente dita. Dessa forma, a literatura do ensino de Geografia, por 
meio da bibliografia suscitada, é colocada como objeto de estudo e, a partir dele, 
incorporar-se-á outras materialidades que se fizerem necessárias para a construção 
e a análise de uma história do livro e da disciplina escolar da Geografia, dentre 
tantas possíveis.  
A Geografia que se ensina tem uma história e um desenvolvimento 
peculiares que atravessam sua constituição e sua institucionalização. Nesta 
pesquisa, tomo a Análise do Discurso como fundamentação teórico-metodológica 
para compreender este percurso, através dos livros didáticos como materialidades 
discursivas deste ensino. Para isso, neste capítulo, procuro compreender a Análise 
do Discurso a partir da questão do sujeito e do discurso, especificamente o dos 
sujeitos autores e o didático. 
A Análise do Discurso, como o próprio nome enuncia, procede por meio da 
análise como método e do discurso como teorização. Ambos, análise e discurso, 
transitam em uma circunscrição histórica; neste caso, a história da disciplina de 
Geografia. Para atingir esse enquadramento teórico, parto de algumas das 
contribuições da História das Disciplinas Escolares e da História do Currículo como 
definição de uma perspectiva para compreender a história do livro didático de 
Geografia, no bojo da qual a pesquisa se propõe a compreender aspectos das 
formações discursivas e ideológicas que acompanham a emergência e o 
desenvolvimento desta disciplina no século XIX até a década de 1930. 
 
 
1.1 A História das Disciplinas Escolares e a História do Currículo: algumas 
contribuições para uma história da disciplina escolar de Geografia e de sua 
literatura didática 
 
A análise discursiva leva-nos a identificar e mover-se nas circuntâncias da 
história, onde os discursos se filiam e produzem sentido. A literatura didática, como 
as que compõem o objeto desta pesquisa, só tem existência na vida e dinâmica de 
uma disciplina. Organizar e analisar uma bibliografia do ensino de Geografia, dessa 
forma, é acompanhar o fazer histórico da disciplina de Geografia. No campo da 
Educação, duas áreas de estudo, a História das Disciplinas Escolares5 e a História 
do Currículo, têm contribuições para auxiliar a construção de uma perspectiva 
histórica do Ensino de Geografia, quanto à sua formação disciplinar, o que inclui 
uma compreensão do desenvolvimento curricular e quanto à formação dos seus 
manuais didáticos. 
Bittencourt (2008), ao abordar o problema do saber escolar, no âmbito da 
História das Disciplinas Escolares, lembra que o mesmo se estrutura em uma tríade: 
o saber a ser ensinado, o saber ensinado e o saber apreendido. O período 
delineado para esta pesquisa, historicamente distante dos dias atuais, dinamizado 
em gerações já extintas, apresenta dificuldades documentais para o estudo do saber 
ensinado e do saber apreendido, sem inteireza de fatos e repercussões, de modo 
que historicizar a disciplina precisa recorrer a meios indiretos para promover e 
construir conhecimentos. O século XIX não apresenta fartos registros sobre o ensino 
de Geografia quanto aos aspectos dos saberes ensinados e apreendidos, quando 
ainda era iniciante, no contexto geral da educação brasileira, a imprensa pedagógica 
e algo que se assemelhasse à produção de saberes acadêmicos sobre a educação 
                                                 
5
 História das Disciplinas Curriculares, História das Matérias Escolares, História dos Saberes 
Escolares e Histórias dos Conteúdos Escolares são outros campos com afinidades, na Educação, à 
História das Disciplinas Escolares (SOUZA JÚNIOR; GALVÃO, 2005). 
geográfica. Registros oficiais, como relatórios inerentes à vida burocrática do Estado, 
obras memorialistas, a literatura ficcional (de forma muito fragmentada), são os 
documentos mais pertinentes à compreensão da Geografia ensinada, no período 
circunscrito a esta pesquisa, para se conhecer os discursos instituintes da Geografia 
escolar brasileira. Apóiam esta proposta, ainda, as diversas pesquisas acadêmicas 
sobre o tema, embora também não sejam muitas. Nesse conjunto, é mais acessível 
o saber a ser ensinado, do qual os manuais didáticos, a legislação e os programas 
educacionais são documentos muito vivos, indicativo do caminho trilhado nesta tese. 
No contexto da História das Disciplinas Escolares, para conhecimento do 
saber a ser ensinado, são importantes os currículos e programas, a legislação, 
pareceres, os documentos institucionais (editoras, órgãos da administração do 
Estado e escolar). Sobretudo, são importantes os livros didáticos: os prefácios, 
prólogos, advertências, textos introdutórios, títulos das obras, informações de folhas 
de rosto, os índices, e propriamente os discursos produzidos e armados nessa 
estrutura. A documentação de referência do saber a ser ensinado permite entrever a 
proposta de um ensino modelar como ponto de partida para as práticas que seriam 
exercidas, que resultam no saber ensinado e no saber apreendido. De acordo com 
Chervel (1990, p. 209): 
 
O estudo dos conteúdos beneficia-se de uma documentação abundante à 
base de cursos manuscritos, manuais e periódicos pedagógicos. Verifica-se 
ai um fenômeno de "vulgata", o qual parece comum às diferentes 
disciplinas. Em cada época, o ensino dispensado pelos professores é, 
grosso modo, idêntico, para a mesma disciplina e para o mesmo nível. 
Todos os manuais ou quase todos dizem então a mesma coisa, ou quase 
isso. Os conceitos ensinados, a terminologia adotada, a coleção de rubricas 
e capítulos, a organização do corpus de conhecimentos, mesmo os 
exemplos utilizados ou os tipos de exercícios praticados são idênticos, com 
variações aproximadas. São apenas essas variações, aliás, que podem 
justificar a publicação de novos manuais e, de qualquer modo, não 
apresentam mais do que desvios mínimos: o problema do plágio é uma das 
constantes da edição escolar. 
 
A História da Educação, em geral (ou as nacionais), tem tradição e 
divulgação ampla. Nela é recente, no entanto, a História das Disciplinas Escolares, 
com atenção especial à história das disciplinas em particular. Chervel (1990) 
demonstra que, da crise dos estudos clássicos, a partir de 1850, emergiu uma 
perspectiva de ensino fundamentado no exercício intelectual capaz de formar o 
espírito do aprendiz, e a essa acepção iniciou-se o desenvolvimento de conjuntos 
culturais de conteúdos que, principalmente a partir das primeiras décadas do século 
XX, associaram-se ao termo “disciplina”. No sentido original, enquanto formadoras 
de espíritos, as disciplinas aplicavam-se às humanidades clássicas. No século XX, 
reforço desse processo, tem-se o fortalecimento de outra classe de estudos – os 
conteúdos científicos – como motrizes da formação humana e, nesse contexto, o 
termo “disciplina” generaliza-se como classificação das matérias de ensino, 
consolidando-se como “[...] os métodos e as regras para abordar os diferentes 
domínios do pensamento, do conhecimento e da arte” (CHERVEL, 1990, p. 181). 
Paradoxalmente, como demonstro nos próximos capítulos, esse processo iniciou 
cedo no caso do ensino da Geografia brasileira, mas em um movimento espiralado, 
com dificuldade para estabelecer seu centro, seu lugar como disciplina, oscilando 
entre um saber clássico e um saber científico. 
Como tal, as disciplinas seriam o espaço da sistematização de 
conhecimentos introdutórios para um público iniciante, cujo acesso à integralidade 
ficaria reservado ao ingresso no ensino superior. Aos educadores, ou a outros 
sujeitos autorizados pelas formações institucionais e governamentais, caberiam a 
responsabilidade dessa realização, isto é, o desenvolvimento e a aplicação de 
métodos de ensino, bem como o desenvolvimento discursivo das disciplinas, 
esquema esse de ampla aceitação dentre os estudiosos da educação, 
frequentemente denominado de “vulgarização da ciência”. Chervel (1990) e outros 
historiadores das disciplinas questionam esse modelo pelo estreitamento da 
perspectiva das disciplinas quanto à existência autônoma de cada uma. 
No caso da Geografia, se tomamos o consenso da precedência do ensino à 
ciência (pelo menos na perspectiva da Geografia Moderna, e quanto à 
institucionalização desta), com as relativas ressalvas como demonstro em capítulo 
posterior, permite-se creditar à crítica de Chervel razões para desmistificar esse 
posicionamento tradicionalmente aceito. Pois na Geografia isso é incisivamente 
particular: muitos dos textos a trabalhar o território brasileiro, na totalidade possível à 
época, após o trabalho de Ayres de Casal (1817a; 1817b), foram textos didáticos, 
compendiados e produzidos para as práticas educacionais. Na gênese da história e 
do pensamento geográfico, nesse sentido, estão os livros escolares. Sobretudo, as 
instâncias de produção desses conhecimentos em nada se assemelharam a um 
recipiente enchendo-se do jorro de uma ciência acadêmica, em porções mais 
palatáveis aos sujeitos alvos – os aprendizes; esta não deixará de ter a sua 
importância e contribuição significativa, inclusive predominante, mas até pouco antes 
das últimas décadas do século XIX não são poucos os sinais que asseguram um 
fazer também autônomo para o ensino de Geografia no Brasil. Não raro, os autores 
da bibliografia em questão, em prefácios ou notas introdutórias, deixam claro que, na 
elaboração de seus materiais, consultaram acadêmicos de referência na Geografia 
europeia, sobretudo franceses, mas que lançaram mão a consultas próprias, em 
especial às estatísticas governamentais. Essa trajetória atesta que os conteúdos 
geográficos estão longe de ser reflexos exatos, simplificados e vulgarizados de uma 
ciência dada, antes se formando como uma construção histórica da instituição 
escolar, da cultura social desta. Além disso, os livros didáticos organizaram uma das 
primeiras formas de institucionalização do saber geográfico no Brasil. 
A finalidade da educação e a função dos professores constituem um 
núcleo importante da História das Disciplinas Escolares (CHERVEL, 1990). 
Contrapondo este princípio com a análise discursiva, torna-se evidente a questão 
ideológica e o papel dos sujeitos na produção de sentidos constitutivos do discurso 
didático – duas feições dos livros escolares como instância de produção linguageira. 
O livro escolar converge essas duas perspectivas: enquanto intérpretes do currículo, 
formadores de uma concepção disciplinar e propositores de uma metodologia de 
ensino, os sujeitos autores se comportam como professores, consolidando a 
percepção mais ampla da educação em seu tempo. Nestas circunstâncias, a História 
das Disciplinas Escolares atribui ao currículo, especificamente à História do 
Currículo, a explicação sobre porque certos conhecimentos, em determinado 
momento, são ensinados, e porque são conservados, excluídos ou alterados 
(MOREIRA, 2007). 
O manual didático testemunha as finalidades do ensino de um conteúdo, 
mas certamente não reflete o ensino como acontecimento e prática social, nem os 
discursos que se articulam em torno dos sentidos produzidos em seu dizer. Apesar 
disso, o livro didático é um dos pilares do estudo das disciplinas escolares, e da sua 
historicização, de maneira que uma das formas de se conhecer a história de uma 
disciplina é por sua produção editorial, desde que se reúna, para tanto, um corpus 
representativo de suas diversas épocas – aquelas de inovação e as de estabilidade. 
Em sua produção, de acordo com Chervel, os conteúdos são reapropriados por meio 
de uma metodologia de ensino que diferencia os estados de aprendizagens: na 
produção de livros para o ensino, nesse sentido, há pressupostos na motivação da 
aprendizagem e na organização dos saberes em uma progressão contínua. Os 
conteúdos, já pela seleção e, depois, pelo tratamento etário dispensado, 
descaracterizam-se em relação aos seus objetivos originais: 
 
O que caracteriza o ensino de nível superior, é que ele transmite 
diretamente o saber. Suas práticas coincidem amplamente com suas 
finalidades. Nenhum hiato entre os objetivos distantes e os conteúdos do 
ensino. O mestre ignora aqui a necessidade de adaptar a seu público os 
conteúdos de acesso difícil, e de modificar esses conteúdos em função das 
variações de seu público: nessa relação pedagógica, o conteúdo é uma 
variação (CHERVEL, 1990, p. 188). 
 
Os conceitos e processos científicos precisam de tradução em nível de 
linguagem pré-existente, no caso do discurso didático. Por outro lado, há a 
exposição dos conteúdos. Nesta fase, há a execução das práticas pedagógicas, que 
compreende desde a elaboração de manuais – estrutura rígida no médio prazo das 
relações de ensino e aprendizagem – até as práticas docentes – estrutura flexível 
dessa mesma relação: “[...] é uma variável que, em geral, põe em evidência algumas 
grandes tendências: evolução que vai do curso ditado para a lição aprendida no 
livro, da formulação estrita [...] para as exposições mais flexíveis [...]” (CHERVEL, 
1990, p. 207). Para Bakhtin (1997), o texto é composto a partir de uma estruturação 
definida para o exercício de uma função e sua comunicação. O estilo não é 
meramente a marca de um autor, em uma produção de nível técnico, porém é, de 
igual modo, elemento de unidade de um gênero. 
Ainda na relação entre ciência e discurso didático, os historiadores da 
disciplina escolar são críticos quanto às visões simplistas da vulgarização da ciência: 
esta é o esteio primo de diálogo da disciplina escolar e dos seus currículos, mas o 
saber escolar tem uma trajetória constitutiva própria. Na realidade, trata-se de uma 
relação conflituosa, com acertos e desacertos, encontros duradouros e retrocessos, 
certamente peculiares a cada disciplina. Das ciências, as disciplinas querem os 
resultados mais conclusivos e abertos a explicações assimiláveis pelos alunos. No 
caso da Geografia, as primeiras fases da produção de manuais verificam essa 
questão. Em sua maioria, eram textos que compendiavam livros e documentos de 
diversas instâncias, mas, ademais, eram produtores de conhecimento, ou no 
mínimo, sistematizadores dos mesmos6. A análise vertical dessa proposição 
apresenta dificuldades devido às condições autorais próprias à época da produção 
bibliográfica em estudo nesta pesquisa, principalmente por não ser comum 
referenciar fontes, uma prática que, relativamente, nunca deixou de ser usual na 
produção de discursos didáticos. Como explicitado posteriormente, a 
heterogeneidade mostrada (processo discursivo que remete e nomeia o Outro no 
âmbito da enunciação) não é uma marca comum no discurso didático, e quando é, 
tem um funcionamento específico (complementar e para aprofundar 
desenvolvimentos de conteúdo ou ilustrar as abordagens em foco, por exemplo). 
As disciplinas constituem-se de forma aditiva, avançando ou retrocedendo, 
para uma nova composição, no que tange à constituição da sua formação discursiva, 
nos quais se alojam os currículos, os métodos, os objetivos. São de fato produtos 
históricos. Seus discursos são acrescidos, ampliados, reduzidos, de acordo com as 
necessidades socialmente colocadas e de acordo com o público definido para elas. 
Sua história curricular e seus livros textos demonstram esse desenvolvimento: são 
as disciplinas escolares um 
 
[...] vasto conjunto cultural amplamente original que ela [a escola] secretou ao 
longo de decênios ou séculos e que funciona como uma indicação posta a 
serviço da juventude escolar em sua lenta propensão em direção à cultura da 
sociedade global (CHERVEL, 1990, p. 205). 
 
As disciplinas escolares se compõem, assim, pelos métodos de exposição 
dos conteúdos explícitos, o que é função do professor e também dos manuais. 
Os discursos didáticos são selecionados tanto na ciência como em outras 
formações discursivas: nas artes, na administração pública, na imprensa, nos 
saberes clássicos e na religião. Nesta perspectiva, os historiadores da disciplina 
escolar criticam a visão da disciplina como simples vulgarização científica, 
acertadamente. A percepção da disciplina é ampla e não condiz, necessariamente, 
com uma redução da complexidade de uma ciência ao ponto palatável dos 
estudantes em iniciação. E no que diz respeito à ciência, nem todos os seus 
discursos interessam a um ensino básico, seja pela complexidade, seja pelo estádio 
                                                 
6
 Os manuais de Geografia, em nosso caso, sobretudo aqueles que abordam o Brasil, ou sua 
corografia, tinham um público que ultrapassava os interesses escolares, como demosntro no último 
capítulo desta pesquisa. 
de suas fronteiras. O saber científico é um corpo em composição, em avanço, 
apresentando espaços de incertezas, de debate, de problemas não resolvidos. 
Majoritariamente, o discurso didático opta pela base mais sólida da ciência ou dos 
conhecimentos de base, historicamente consolidada e mesmo por vezes cristalizada 
de acordo com os paradigmas dominantes, sendo daí que o currículo escolar se 
alimenta. 
Nesse conjunto, o currículo se apresenta como uma plataforma estrutural 
para a literatura didática. A base de estruturação dos manuais escolares (sejam eles 
compêndios, livros didáticos, apostilas) perpassa pelo currículo. Um passo 
importante à autonomia de um conjunto de saberes e, por conseguinte, à gênese de 
uma disciplina, é a constituição de um currículo aplicado ao ensino, a proposição de 
objetivos que definem um lugar para esses saberes na formação em implemento. 
No Brasil, diferentes movimentos históricos e suas formações marcam a 
construção do currículo, em termos gerais: as concepções jesuíticas, o movimento 
cientificista do período joanino, o nacionalismo patriótico, a concepção positivista no 
período inicial da República, o movimento escolanovista, o movimento tecnicista, 
chegando até as formações atuais, como o construtivismo e as tendências histórico-
culturais. Não entrarei em detalhes nesses movimentos porque os atinentes ao 
currículo de Geografia, único com espaço nessa tese, terão desenvolvimento em 
capítulo posterior. Todavia, vale ressaltar que a elaboração de currículos observando 
alguma teorização, no âmbito das instituições, somente se verificou após a década 
de 1920, década na qual é marcante a transferência de influência na educação da 
França para os Estados Unidos da América. Em outras palavras, até então o 
currículo era uma prática das instâncias educacionais, mas não necessariamente 
objeto de estudos formais. De acordo com Moreira (2007, p. 15), as reflexões e 
práticas com fundamentação em teoria tiveram, a partir daí, três recortes históricos 
na educação brasileira no século XX: 
 
O primeiro – anos vinte e trinta – corresponde às origens do campo do 
currículo no Brasil. O segundo – final dos anos sessenta e setenta – 
corresponde ao período no qual o campo tomou a forma e a disciplina 
currículos e programas foi introduzida [...nas] faculdades de educação. O 
terceiro – de 1979 a 1987 – caracteriza-se pela eclosão de intensos debates 
sobre currículo e conhecimento escolar, bem como por tentativas de 
reconceptualização do campo. 
 
A década de 1990 representou outro marco. Qual seja, contudo, sua instância de 
emersão, o currículo é uma construção histórico-cultural, reagindo a repercussões 
sociais, políticas e culturais. Apesar de o período anterior à década de 1920 não 
contar com uma análise sistêmica, não significa que não tenha existido. Como dito 
anteriormente, a organização do ensino sempre implica a organização de um 
currículo. 
O termo "currículo", a propósito, tem emprego desde a primeira metade do 
século XVI; no entanto, as primeiras teorizações remontam ao início do século XX. 
Enquanto prática educativa, o currículo passou a ter difusão do século XVI em 
diante, em universidades, colégios e escolas europeus, na forma do Modus et Ordo 
Parisienses. Modus referia-se às combinações e subdivisões das classes escolares, 
regidas com instrução individualizada. Ordo (ordem), por seu lado, referia-se à 
sequência, ou ordem de eventos, e também à coerência do ensino (HAMILTON, 
1992). Dentre os registros históricos referentes ao currículo, Hamilton (1992) relata 
que na Universidade de Leiden (1582), o aluno era certificado quando tinha 
"completado o curriculum de seus estudos”; na Universidade de Glasgow (1633) e 
na Grammar School de Glasgow (1643), o curriculum condizia ao curso completo 
frequentado pelo aluno. 
Sua teorização, desde então, tem evoluído em associação à compreensão 
das transformações no mundo do trabalho e aos processos gerais de produção. No 
campo da educação, o termo foi definido e redefinido de acordo com as perspectivas 
de diferentes épocas a partir do século XX. Inerente a qualquer organização de 
ensino, na concepção mais clássica de currículo7, tem-se uma estrutura organizada 
com conteúdos indicados para o ensino de um campo do saber; em outras palavras, 
a definição mais clássica de currículo é ser uma relação de disciplinas em um curso, 
e uma relação de conteúdos em uma disciplina, organizada em sequência a uma 
determinada lógica, ordenada em um tempo de execução, obedecendo a alguma 
proposta ou necessidade institucional. 
Historicamente, a prática do currículo escolar passou por duas tendências de 
estudos sistematizados: as concepções tradicionais ou conservadoras e as 
concepções críticas, todas influentes na educação brasileira do século XX. Nas 
                                                 
7
 Do latim, curriculum, derivado de currere, significando "caminho", "trajeto", "percurso". Atribui-se, 
ainda, o significado de “ordem como sequência” ou “ordem como estrutura” (GOODSON, 2001). 
teorias tradicionais, foi muito influente a compreensão do currículo a partir das 
teorias da administração, particularmente a Teoria da Administração Científica, de 
Frederick W. Taylor (1856-1915), prevalecendo a preocupação com resultados em 
razão da valorização dos conteúdos, objetivos e ensino. Atuaria, assim, como uma 
seleção na totalidade cultural conhecida, seleção essa relacionada às dinâmicas 
sociais – políticas, culturais, econômicas –, intencional, portanto. Sob influência das 
teorias administrativas, predominou a elaboração de currículos tecnicistas, 
denunciados a partir dos anos 1960 na perspectiva da crítica ao funcionamento da 
sociedade capitalista e do funcionamento das instituições nesse contexto, dentre as 
quais a escolar (APPLE, 1982; MOREIRA, 2007). Até as décadas iniciais do século 
XX, o currículo foi uma prática para a elaboração de planos de estudo, embora em 
nada se possa dizer que essa prática fosse neutra e despossuída dos elementos 
que permaneceram na elaboração de currículos até a atualidade: definição de 
objetivos educacionais, debate político, dentre outras. A mudança para objeto de um 
campo de estudos sistematizados, a contemplar a totalidade das experiências 
orientadas a serem vivenciadas pelos estudantes no contexto escolar, considerando 
os interesses destes, surgiu a partir do trabalho pioneiro de John Franklin Bobbit 
(1876-1956)8, cuja obra The Curriculum foi publicada nos Estados Unidos em 1918 
(MOREIRA, 2007). O contexto do surgimento desse campo nos EUA compreendia 
as transformações sócio-econômicas que o país atravessava entre fins do século 
XIX e início do século XX, com a transformação de uma economia agrária para uma 
economia industrial, com uma população predominantemente urbana e vivenciando 
os primeiros impactos da imigração massiva (iniciada no século XIX). Os 
educadores, àquele tempo, sentiam uma ameaça à homogeneidade da cultura 
estadunidense, 
 
[...] uma cultura centrada na cidade pequena e sedimentada em crenças e 
atitudes da classe média. A comunidade que os antepassados ingleses e 
protestantes dessa classe ‘lavraram de um deserto’ parecia desmoronar-se 
diante de uma sociedade urbana e industrial em expansão [...]. (APPLE, 
1982, p. 108). 
 
Os trabalhos de Bobbit, e de outros pioneiros, direcionavam-se a convergir o 
currículo com as necessidades econômicas e culturais da época e, com inspiração 
                                                 
8
 Outros teóricos do currículo, contemporâneos de Bobbit, foram: Edward L. Thorndike (1874-1949), 
W. W. Charters (1875-1952) e David Snedden (1868-1951), dentre outros. 
nos princípios da Administração Científica, procuraram especificar os objetivos 
educacionais para as dinâmicas da vida social. Interessava, nesses estudos, 
preservar "[...] o consenso cultural e, ao mesmo tempo, [...] destinar aos indivíduos o 
seu ‘lugar’ adequado numa sociedade industrial interdependente” (APPLE, 1982, p. 
107). A escola foi percebida como uma instituição partícipe na compensação dos 
problemas sociais, ampliando-se a concepção do currículo para além de um 
conjunto de saberes, ou seja, compreendendo-o como estrutura para organização 
de atividades e experiências capazes de moldar o comportamento e o pensamento 
do aprendiz. Não coincidentemente, a experiência e a prática foram integrantes da 
proposta curricular de Geografia a partir da década de 1930. Para tanto, o currículo 
poderia dispor de representações da sociedade, em padrões pré-definidos, de forma 
a produzir o "humano socializado" (MOREIRA, 1992, p. 15). O passo seguinte foi 
dado por Ralph W. Tyler (1902-1994) na década de 1940 e por John Dewey (1859-
1952), um pouco antes. De acordo com Moreira (1992), Tyler trabalhou a proposta 
progressista de um currículo tecnicista, e Dewey, com a consideração dos interesses 
e as atividades da criança, tornando-se um importante crítico da educação herdada 
do século XIX, amplamente praticada no Brasil até quase a metade do século XX – a 
pedagogia das lições: 
 
A escola tradicional está organizada para permitir que se pratiquem certas 
habilidades mecânicas e certas idéias, sem cogitar da prática de outros 
traços morais e emocionais desejáveis em uma personalidade. Como 
aprender, com efeito, honestidade, bondade, tolerância, no regime de 
‘lições’ marcadas para o dia seguinte? Só uma situação real de vida, em 
que se tenha de exercer determinado traço de caráter, pode levar à sua 
prática e, portanto, à sua aprendizagem. Daí ser necessário que a escola 
ofereça um meio social vivo, cujas situações sejam tão reais quanto as fora 
da escola (DEWEY, 1979, p. 57). 
 
A proposta de Tyler foi amplamente aceita. Basicamente consistia em 
controlar o planejamento do estudo em todos os ângulos, definindo os objetivos 
educacionais através de um tríplice que considerava os interesses e necessidades 
discentes, o cotidiano extraescolar, as sugestões dos especialistas nos conteúdos, 
repassando-o pelo crivo filosófico e psicológico, isto é, dos valores e das condições 
de aprendizagem. Tratava-se de uma teoria pragmática, voltada para implementar a 
visão cultural e ideológica da ordem social e econômica estabelecida. Sem espaço, 
portanto, para a diversidade, embora, por preconizar tantas perspectivas, 
transparecesse neutralidade. A questão, clarificada na revisão crítica posterior, 
condizia a quais seriam os interesses, os cotidianos, as especialidades, os valores 
elegidos. 
Na concepção dialética, base das interpretações críticas do currículo, que se 
seguiram, o Estado articula uma classe social dirigente e uma classe social civil, 
propondo e atingindo objetivos coesos aos interesses de classes, a ser legitimado 
pela articulação de uma ideologia dada, sustentáculo da hegemonia que mantém o 
poder em exercício (GRAMSCI, 1995). Essa compreensão levou às teorias críticas 
que agiram analiticamente nos silenciamentos das abordagens conservadoras sobre 
o currículo. Essas críticas operaram com conceitos como “reprodução cultural”, 
“emancipação” e “libertação”, embasadas na questão da ideologia. Concepções 
como “aparelho ideológico do estado”, “reprodução da estrutura social” e “interesses 
da classe capitalista” definiram duas linhas de estudo sobre o currículo: uma 
enfatizava os conteúdos (originando a Pedagogia Crítica dos Conteúdos) e outra, 
chamada genericamente de "educação popular", trilhou a reflexão sobre as lutas das 
classes trabalhadoras, orientando o currículo a contemplar tanto os conteúdos 
clássicos quanto os conhecimentos profissionais. Os fundamentos da teoria crítica, 
para o qual igualmente contribuíram referenciais da psicanálise, da fenomenologia e 
da hermenêutica, permitiram rever as relações de ensino e aprendizagem a partir 
das conexões entre saber, currículo, ideologia e poder, discernindo o discurso 
escolar como entreposto de problemas expressos na exclusão escolar, através da 
eleição curricular de determinadas formas de raciocínio que privilegiava alguns 
conteúdos e silenciava outros. 
Vistos em retrospectiva, de fato, os currículos apresentam visões de mundo 
sectadas em formações discursivas que expressam determinados valores atuantes à 
época, embora atuem igualmente vozes dissonantes, capazes de perturbar a 
estabilidade e implodir determinados consensos. Por isso mesmo, tais vozes são 
contidas e silenciadas por todos os meios possíveis: a interdição dessas vozes, em 
termos da bibliografia didática, sinaliza a existência ou não desses materiais e seus 
discursos no mercado educacional. Algumas obras didáticas de Geografia ilustram 
esse processo, quando propõem uma abordagem ou metodologia não concordante, 
que resultam na não publicação ou na não adoção nas escolas: é o caso das Breves 
noções para se estudar com methodo a Geographia do Brasil, de Praxedes Pacheco 
(1857), que analisarei em outro momento. Às vezes, tem aceitação tímida no 
mercado escolar. 
Mais recentemente, o currículo na perspectiva humanista (teorias 
tradicionais), na tecnicista, bem como na perspectiva dos currículos emancipatórios 
das pedagogias críticas foi questionado por teorias pós-críticas. O pensamento pós-
estruturalista (movimento ao qual a Análise do Discurso pertence) desenvolveu 
formas de análise própria para a crítica às instituições, teorizando sobre um conjunto 
diversificado de objetos e meios, tais como a linguagem, a mídia, as artes, dentre 
outros, de modo que o estudo do currículo questionou a distinção entre 
conhecimento clássico e cultura cotidiana. Passa-se a considerar um currículo 
flexível, sensível às diferenças culturais. A construção e o desenvolvimento de 
identidades no entreposto de práticas sociais integram a proposta de teorização e 
elaboração dos currículos, proposta que tanto envolve o multiculturalismo quanto a 
Análise do Discurso. 
A tradição, por seu lado, perpassa a história dos currículos. No pretexto de 
transmitir – o sentido etimológico da palavra é entregar (no latim, traditio, tradere) – 
práticas, conhecimentos, atitudes, valores, normas, a elaboração do currículo 
introduz sutilmente as marcas de uma época, ao mesmo tempo em que seleciona no 
passado o que condiz e silencia, ou exclui o que for inconveniente aos interesses em 
sustentação.  
Esse breve exame teórico e histórico sobre o currículo, a ser aprofundado na 
medida em que for necessário à análise da tese, introduz o currículo como um 
núcleo motor ao fazer da literatura didática: contacta os espaços, sujeitos, 
instituições que se cruzam na formulação do discurso didático e dos seus objetivos 
educacionais.  
É importante ressaltar que o período em análise tem deficiência de estudos 
gerais, no sentido epistemológico, do currículo, cujos estudos sistematizados são 
marcados a partir do século XX, como visto. No entanto, o desenvolvimento atual do 
estudo do currículo permite perceber nuances e tendências integradas às práticas 
antigas do currículo, no que tange à constituição e às transformações de um 
currículo para a Geografia escolar brasileira e para a constituição de sua bibliografia 
didática. 
1.2 Análise do Discurso: fundamentos teórico-metodológicos da interpretação 
 
A Análise do Discurso é um campo de estudo interdisciplinar que dialoga a 
Linguística com ciências de formação social, destacando-se por considerar e 
valorizar, em seu corpo teórico, a historicidade inscrita na linguagem e romper a 
noção de transparência/literalidade desta, demonstrando-a como histórica e 
ideológica. 
A partir do acervo teórico-metodológico da análise discursiva, é possível à 
pesquisa considerar a linguagem como categoria para investigar o processo de 
produção de sentidos e seu funcionamento histórico-social. Com a Análise do 
Discurso, a linguagem passa a ser entendida como produção social circunscrita por 
operadores como o sujeito, a ideologia, a história. 
O campo da Linguística atual gravita em torno das noções de fala, língua, 
linguagem e discurso como objetos de sua construção. Essa abrangência permite 
que outros domínios do conhecimento dialoguem com seus recursos teórico-
metodológicos, o que auxilia o entendimento de seus objetos de estudo, quando em 
abordagem linguageira, dentre os quais os dispositivos de interpretação, a partir de 
uma fundamentação sólida sobre as questões da linguagem. A Linguística estrutural, 
focada na Fala e na Língua9, tal qual se desenvolvia desde a obra seminal de 
Ferdinand de Saussure (2008), Curso de Linguística Geral, limitava a compreensão 
da linguagem em suas diversas formas e performances: 
 
Na Lingüística estrutural, de matriz saussureana, a enunciação podia ser 
entendida como uma realização livre e independente, empreendida pelo 
indivíduo falante, o que, ademais, excluía o discurso do campo dos estudos 
lingüísticos: em um plano de análise fonológica ou morfossintática, estavam 
exclusas as variáveis sócio-culturais. (SILVA, 2006, p. 159). 
 
As rupturas com o Positivismo, no entanto, a partir dos anos 1960, 
permitiram à Linguística iniciar um diálogo profícuo com diferentes campos do saber, 
particularmente com a História, a Filosofia (em especial com o Materialismo 
Histórico) e a Psicanálise. Esta interdisciplinaridade interna, por sua vez, passou a 
                                                 
9
 Língua e Fala, na acepção saussureana implicam uma oposição dicotômica na qual a Língua é 
compreendida como o sistema social da linguagem humana e a Fala como apropriação individual da 
Língua. 
permitir que outros campos se aproximassem para o estabelecimento de pesquisas 
fundamentadas na interdisciplinaridade, conforme assinalado acima. Este é o 
contexto da Análise do Discurso francesa, que procura compreender o discurso 
como prática da linguagem. De acordo com Gregolin (2003), o deslocamento teórico-
metodológico da língua/fala para o discurso como unidade de análise despertou o 
interesse para aspectos marginalizados na Linguística estrutural, como a conotação, 
a retórica, a estilística, as estratégias discursivas da argumentação e, sobretudo, a 
inscrição social na linguagem. 
Em síntese, a Análise do Discurso é um dispositivo de interpretação útil a 
qualquer pesquisa que eleja a linguagem como categoria de investigação. O Ensino 
de Geografia, no começo do milênio, presenciou o surgimento de alguns trabalhos 
com fundamento teórico-metodológico na Análise do Discurso para a compreensão 
do livro didático dessa disciplina, dentre os quais Gonzaga (2000), que pesquisou a 
terminologia das Geografias Tradicional e Crítica, Ferreira (2004), com uma análise 
do discurso geográfico crítico e Silva (2006) com uma análise discursiva dos 
sentidos políticos em livros didáticos desta disciplina, este o primeiro trabalho com 
essa perspectiva teórico-metodológica no interior da ciência geográfica. 
A Análise do Discurso, como diz o nome desses estudos, portanto, 
desenvolve-se em torno do discurso, compreendido a partir da ideia de movimento, 
curso, percurso dos sentidos. Por meio desses estudos, conforme Orlandi (2002, p. 
15), “[...] procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho 
simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história”. A 
análise da linguagem, em uma perspectiva discursiva, permite um enfoque no 
funcionamento da linguagem com as instâncias da História, da ideologia e dos 
sentidos, pois é nessa correlação que discursos e práticas são produzidos: os 
conteúdos em si (o “o que”), apesar de considerados, cedem espaço analítico para 
uma dimensão processual maior – o “como” se constituem, “por que” e como foram 
dinamizados. 
Situada na Linguística, como já aferido, a Análise do Discurso desenvolve-se 
desde a década de 1960, incialmente na França, no momento em que Michel 
Pêcheux apresenta uma obra de rompimento com a Linguística da frase, 
estruturalista e positivista, centrada na descrição, análise e compreensão interiores 
ao enunciado, predominantemente delimitado pela frase – do fonema à sintaxe –, 
que se desloca, então com Pêcheux, em direção a uma Linguística do discurso. 
Trata-se de uma Linguística referente ao imanente, segundo o qual se define a frase 
de acordo com as relações de seus termos interiores, ou seja, intrafrasais. Nessa 
perspectiva, não interessava aos linguistas, por não conceberem como importantes 
– dado o objeto e os objetivos circunscritos então – as relações extralinguísticas da 
enunciação, ou melhor dizendo, as relações transfrásticas da enunciação, as 
relações para além da frase. 
 Pêcheux certamente não estava isolado nessa orientação10. O 
deslocamento da língua para a linguagem interessava a inúmeros linguistas, em 
locais geográficos distintos, e assim a Análise do Discurso foi um dos campos 
emergentes, dentre os quais se encontram a Sociolinguística, a Linguística Textual, 
a Pragmática, a Análise da Conversação. A Análise do Discurso se distingue destes 
campos pois, enquanto aqueles se encaminharam para uma investigação dos fatos 
linguísticos, a Análise do Discurso se expandiu para a investigação das condições 
constitutivas da enunciação e do discurso, pondo em relevo o contexto sócio-
histórico na produção dos sentidos e dos sujeitos. 
Michel Pêcheux (1938-1983), na França, no que diz respeito à formulação 
de uma teoria para a análise discursiva, publicou um dos textos fundadores nesse 
sentido, nos anos 1960, o livro Análise automática do discurso, no qual propunha 
dispositivos de análise do discurso como um novo objeto. A partir da obra que 
escreveria até início dos anos 1980 (PÊCHEUX, 1981, 1997, 1999a, 1999b, 2001a, 
2001b, 2001c, 2002, dentre outras) desenvolveu-se a Análise do Discurso de linha 
francesa, ou “derivada de Pêcheux”, filiada, ainda, a outros “quatro pilares” autorais: 
Louis Althusser (1918-1990), Michel Foucault (1926-1984), Mikhail Bakhtin (1895-
1975) e Jacques Lacan (1901-1981) quanto ao desenvolvimento de um corpo 
teórico-metodológico. O substrato epistemológico, portanto, da Análise do Discurso 
entrecruza a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise para instituir duas categorias 
precípuas: o sujeito e o sentido no discurso. 
                                                 
10
 Jean Dubois, autor, como Pêcheux, ligado à Linguística, ao marxismo e à análise política, 
igualmente publicou um texto fundante da Análise do Discurso francesa, o artigo “Lexicologia e 
análise do enunciado”, em fins dos anos 1960. Nessa mesma época, surgia outra vertente de 
rompimento com a Linguística estrutural na Inglaterra, com Norman Fairclough. A Análise do Discurso 
francesa foi introduzida no Brasil em fins da década de 1970, por Eni Puccinelli Orlandi, que divulgou 
a obra de Michel Pêcheux em língua portuguesa e implementou a formação de analistas discursivos 
no Brasil (GREGOLIN, 2003). 
 1.2.1 O sujeito, a história e a ideologia na análise discursiva: a questão da 
autoria 
 
O sujeito, na Análise do Discurso, não é concebido como centro e origem do 
seu discurso, porém como uma construção polifônica, enunciando a partir de um 
lugar onde a significação é constituída historicamente. Por conseguinte, o sujeito 
pode ser compreendido a partir de sua diferenciação do indivíduo. O indivíduo é 
sujeito porque diz, porque é imerso no discurso, pertencendo a diversas memórias 
discursivas, sendo por elas constituído. A ideologia, nesse sentido, é condição 
constitutiva do sujeito. A partir das contribuições de Mikhail Bakhtin, o sujeito 
discursivo é descentrado na sua enunciação, pois é constituído em uma interação 
social: em sua voz há um conjunto de vozes, vozes essas heterogêneas. Bakhtin, 
propriamente, desenvolveu uma filosofia da linguagem, na qual teve espaço para o 
sujeito ser compreendido em suas relações com a história. Sua abordagem é 
particularmente interessante ao entendimento discursivo do sujeito, a partir dos 
enfoques teóricos que desenvolveu para noções como gênero, vozes e, sobretudo, 
polifonia. Jacqueline Authier-Revuz, por exemplo, a partir do pensamento de 
Bakhtin, elaborou o conceito de heterogeneidade discursiva, explicada adiante. Por 
conseguinte, 
 
[...] o sujeito discursivo deve ser considerado sempre como um ser social, 
apreendido em um espaço coletivo; portanto, trata-se de um sujeito não 
fundamentado em uma individualidade, em um “eu” individualizado, e sim 
um sujeito que tem existência em um espaço social e ideológico, em um 
dado momento da história e não em outro. A voz desse sujeito revela o 
lugar social; logo, expressa um conjunto de outras vozes integrantes de 
dada realidade social; de sua voz ecoam as vozes constitutivas e/ou 
integrantes desse lugar sócio-histórico (FERNANDES, 2005, p. 33-34). 
 
O sujeito discursivo, assim, é um sujeito polifônico. A leitura pelos analistas 
da obra de Jacques Lacan completou a abordagem discursiva do sujeito, pois, 
pressupondo-o clivado em consciente e inconsciente, estabeleceu vínculos entre a 
Psicanálise e a Linguística, evidenciando que o inconsciente estrutura-se em 
linguagem, atravessado pelo discurso do Outro. O sujeito discursivo, nesses termos, 
pode ser compreendido a partir dos conceitos de formação imaginária, da noção do 
simbólico e do inconsciente na constituição sujeitudinal. 
Por ser apreendido no social, na ideologia e na história, por estar imerso nos 
discursos, e interagir por eles, o sujeito é captado na análise discursiva por meio da 
enunciação, ou seja, pelos sentidos produzidos entre sujeitos diferentes, 
posicionados que estão, sócio-histórico-ideologicamente, em lugares distintos, de 
onde enunciam e se apercebem da enunciação. No desenvolvimento atual da 
análise discursiva, o sujeito é visto como marcado pela heterogeneidade discursiva, 
ou seja, clivado, cindido, divido e descentrado, embora em outras épocas desta 
disciplina tenha sido compreendido como um ser único, assujeitado às maquinarias 
institucionais; desta concepção, o sujeito evoluiu ao chamado sujeito-posição, e 
desta para o sujeito clivado, percepção atual (Pêcheux, 2001b, 2001c, 2002, 1997). 
Fundamentado em Pêcheux, Possenti (2002, p. 99) procura sistematizar a 
concepção do sujeito discursivo nos seguintes termos: 
 
1 - os sujeitos são integralmente sociais e históricos e integralmente 
individuais – para evitar o subjetivismo desvairado e a identificação do 
sujeito com uma peça; 
2 - cada discurso é integralmente histórico e social e integralmente pessoal 
e circunstancial – para evitar a idéia de que o sujeito é fonte de seu 
discurso e a de que é o discurso que se dá; 
3 - cada discurso é integralmente interdiscurso e integralmente relativo a 
um mundo exterior – para evitar a idéia de que o discurso refere-se 
diretamente às coisas e a de que tudo é discurso ou que a realidade, se 
houver uma, é criada pelo discurso; 
4 - cada discurso é integralmente ideológico e/ou inconsciente e 
integralmente cooperativo e interpessoal - para evitar a idéia de que o 
sujeito diz o que diz materializando as suas intenções e a de que o sujeito 
não tem nenhum poder de manobra e que o interlocutor concreto é 
irrelevante; 
5 - o falante sabe (integralmente?) o que está dizendo e ilude-se 
(integralmente?) se pensar que sabe o que diz (ou que só diz o que quer) - 
para evitar que se desconheçam os saberes que os sujeitos acumulam em 
sua prática histórica e que se conclua disso que nada lhes é estranho ou 
desconhecido. 
A questão pode ser formulada em termos análogos a certos problemas da 
microfísica. Uma partícula pode ser integralmente onda e integralmente 
corpúsculo, sendo que a análise em um ou outro dos termos não equivale a 
uma negação de propriedades do real, mas é sempre uma questão de 
relevância ou, mesmo, de preferência. 
 
Com isso, percebe-se que o sujeito atua em uma esfera de intermediação entre o 
seu plano e o plano do mundo, em uma rede de sentidos que interage e retroage de 
forma complexa e contínua. O discurso tem uma feição aparentemente única, mas 
na verdade é uma apropriação na qual há um encontro de vozes constituintes, a que 
Bakhtin denomina polifonia, ou conjunto de vozes possíveis de serem identificadas 
em um discurso. Ao conceito de polifonia, segue-se outro, bakhtiniano também, o 
dialogismo, em que, na instância da enunciação, o sujeito dialoga com o interlocutor 
e com outros discursos. O sujeito ainda é marcado pela construção da identidade, 
em um processo de identificação, no qual as diferenças são negociadas em seu 
processo de constituição. 
A ideologia é indispensável para a concepção analítica do discurso e para a 
compreensão do sujeito. A noção de “formação ideológica” foi formulada na Análise 
do Discurso a partir da obra de Louis Althusser. Partindo do materialismo histórico, 
em Althusser (1980), a noção de ideologia foi revista de forma diferente daquela 
proposta por Marx – ideologia como uma “falsa consciência” –, passando a ser 
entendida como a relação do sujeito com as condições materiais da existência: a 
ideologia seria mais que ideias, seria práticas sociais exercidas nas relações de 
produção do cotidiano. Para Althusser, os sujeitos são determinados pela ideologia, 
inconscientes dela, e assujeitados pela posição discursiva que ocupam, o que o 
levou a conceituar os “aparelhos ideológicos de estado” e das instituições como 
instâncias sociais nas quais as ideologias se materializam. Por meio da ideologia, 
portanto, tem-se o encontro da Linguística com o discurso: 
 
[...] como a ideologia deve ser estudada em sua materialidade, a linguagem 
se apresenta como o lugar privilegiado em que a ideologia se materializa. A 
linguagem se coloca para Althusser como uma via por meio da qual se pode 
depreender o funcionamento da ideologia. (MUSSALIM, 2001, p. 104). 
 
A partir da noção de “formação ideológica”, Pêcheux teorizou as “condições 
de produção do discurso”, ou as relações de força que atuam dentro do discurso; em 
outras palavras, o funcionamento da língua com a ideologia e com a história, cuja 
relação desvenda a posição do sujeito no discurso: 
 
[...] os fenômenos lingüísticos de dimensão superior à frase podem 
efetivamente ser concebidos como um funcionamento mas com a condição 
de acrescentar imediatamente que este funcionamento não é integralmente 
lingüístico, no sentido atual desse termo [tal como na Linguística estrutural] 
e que não podemos defini-lo senão em referência ao mecanismo de 
colocação dos protagonistas e do objeto de discurso, mecanismo que 
chamamos de “condições de produção” do discurso. (PÊCHEUX, 2001c, p. 
78 – itálicos do autor). 
Dupla face de um mesmo erro central, que consiste, de um lado, em 
considerar as ideologias como idéias, e não como forças materiais e, de 
outro lado, em conceber que elas têm sua origem nos sujeitos, quando na 
verdade elas constituem os indivíduos em sujeitos (PÊCHEUX, 1997, p. 129 
– itálicos do autor). 
 
Não ser a ideologia ideias não significa ser, por conseguinte, uma visão ou 
representação do mundo, muito menos um processo de ocultação da realidade: a 
ideologia é as ações em prática no mundo, e o que delas resulta. Assim, a 
bibliografia didática aqui suscitada é a(as) formação(ões) ideológica(as) de seu 
tempo, da História que permitiu sua existência. 
As condições do discurso sugerem o rompimento proposto entre frase e 
discurso, pois para Pêcheux (2001c, p. 79, grifos do autor) o discurso não se 
submete a uma análise “[...] como um texto, isto é, como uma seqüência lingüística 
fechada sobre si mesma, mas [...] é necessário referi-lo ao conjunto de discursos 
possíveis a partir de um estado definido de condições de produção”. 
Fernandes (2005, p. 20-21), considerando o discurso do Sem-Terra, 
demonstra de forma bem sucinta como o discurso do sujeito exterioriza suas 
condições de produção, por meio do uso e das escolhas lexicais, evidenciando um 
conflito social, com representantes distintos no âmbito da discursividade: 
 
[...] observemos o emprego dos substantivos ocupação e invasão em 
revistas e jornais que circulam em nosso cotidiano. Tais substantivos são 
constantemente encontrados em reportagens e/ou entrevistas que versam 
sobre os movimentos dos trabalhadores rurais Sem-Terra e revelam 
diferentes discursos que se opõem e se contestam. Em torno do Sem-Terra, 
ocupação é empregado pelos próprios Sem-Terra e por aqueles que os 
apóiam e os defendem, para designar a utilização de algo obsoleto, até 
então não utilizado, no caso, a terra. Invasão, referindo-se à mesma ação, é 
empregado por aqueles que se opõem aos Sem-Terra, contestam-nos, e 
designa um ato ilegal e considera os sujeitos em questão como criminosos, 
invasores. 
 
No discurso histórico brasileiro também encontramos outro exemplo 
bastante significativo: aos acontecimentos político-militares de 1964, duas 
denominações foram comuns – “revolução” e “golpe militar” ou “ditadura”. Os 
discursos que emergiam o lexema “revolução” revela(va)m os partidários do 
movimento militar, e “golpe de estado” ou “ditadura” os seus oposicionistas. 
Todo sujeito, portanto, compreende a realidade ideologicamente, e isto o 
posiciona na ordem social; as filiações ideológicas o condicionam. A Análise do 
Discurso, e também outros campos do conhecimento, em relação a Althusser, 
colocaram em crítica a interpelação pelo assujeitamento que este filósofo evidenciou 
de forma quase engessada nas noções de aparelho – do qual o escape seria quase 
impossível. Sobretudo na Análise do Discurso, esse assujeitamento rígido foi 
desconstruído pela consideração da interpelação pelo inconsciente e pela 
resistência do sujeito, no que diz respeito à formação de sua identidade, ou aos 
desvios discursivos, e mesmo em relação ao “acontecimento”, compreendido por 
Pêcheux como o momento em que o discurso se reestrutura. O sujeito submete-se 
livremente às condições de produção impostas pelas formações do discurso e da 
ideologia. Livremente no sentido de que pode reagir a elas. Não há, contudo, outra 
forma de constituição do sujeito que não seja o assujeitamento à ideologia. 
A subjetividade do sujeito é determinada pelo assujeitamento, assumindo 
uma dimensão histórica: “a forma-sujeito histórica que corresponde à da sociedade 
atual representa bem a contradição: é um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso. 
Ele é capaz de uma liberdade sem limites e uma submissão sem falhas” (ORLANDI, 
2002, p. 50). 
As forças materiais da ideologia embrenhada nos discursos não são da 
ordem da consciência: 
 
É a ideologia que fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe” o 
que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., 
evidências que fazem com que uma palavra ou um enunciado “queiram 
dizer o que realmente dizem” e que mascaram, assim, sob a “transparência 
da linguagem”, aquilo que chamaremos o caráter material do sentido das 
palavras e dos enunciados (PÊCHEUX, 1997, p. 129 – itálicos do autor). 
 
Sobretudo, os discursos agem pelo apagamento: 
 
[...] se uma palavra, uma mesma expressão e uma mesma proposição 
podem receber sentidos diferentes – todos igualmente “evidentes” – 
conforme se refiram a esta ou aquela formação discursiva, é porque [...] 
uma palavra, uma expressão ou uma proposição não tem um sentido que 
lhe seria “próprio”, vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se 
constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, 
expressões ou proposições mantêm com outras palavras, expressões ou 
proposições da mesma formação discursiva (PÊCHEUX, 1997, p. 161). 
 
Orlandi (2002, p. 46) demonstra que esse apagamento é um mecanismo 
próprio da interpretação. Todo discurso é interpretado, não há literalidade no dizer: o 
alcance dos sentidos e dos seus efeitos é onerado pelas filiações histórico-
ideológicas do sujeito. O sentido é definido pelo movimento de interpretação, o qual 
passa pela posição ideológica frente à enunciação: quando se escreve, quando se 
fala, quando se lê, quando se ouve. Diante do discurso enunciado, o sujeito exerce 
um esquecimento da interpretação, de forma a naturalizá-la e construir 
transparências no dizer (ORLANDI, 2002, p. 46): 
 
Por esse mecanismo – ideológico – de apagamento da interpretação, há 
transposição de formas materiais em outras, construindo-se transparências 
– como se a linguagem e a história não tivessem sua espessura, sua 
opacidade – para serem interpretadas por determinações históricas que se 
apresentam como imutáveis, naturalizadas. Esse é o trabalho da ideologia: 
produzir evidências, colocando o homem na relação imaginária com suas 
condições materiais de existência. 
 
Nesse sentido, a ideologia não se oculta no dizer, mas opera na linguagem, 
fazendo com que a palavra cumpra sua função – a de designar alguma coisa – 
constituindo o sentido. Assim, toda linguagem é ideológica, toda enunciação parte 
de uma formação ideológico-discursiva e é reinterpretada por outra. 
A interpretação do discurso, no entanto, não é vista como subjetiva, pois 
transita com garantias pela memória em duas perspectivas: de um lado, pela 
memória institucionalizada, que Foucault (2005a) denomina Arquivo, isto é, a 
reunião de determinadas formações discursivas, o que faz com que a interpretação 
seja social; de outro, pela memória constitutiva, também denominada interdiscurso, 
pela qual o sujeito constitui os sentidos (ORLANDI, 2002): todo enunciar se posta 
em uma formação discursiva, o que abriga conflitos, mas não um arbítrio do tipo 
subjetivo. 
Esta revisão teórica sobre o sujeito me leva a considerar a principal tipologia 
de sujeitos com os quais esta pesquisa lida, no âmbito do discurso didático de 
Geografia, em abordagem: os sujeitos autores. 
A autoria, na Análise do Discurso, pode ser entendida como um 
acontecimento, na acepção que Pêcheux (2002, p. 19) deu ao termo: “[...] o fato 
novo, as cifras, as primeiras declarações [...] em seu contexto de atualidade e no 
espaço de memória que ele convoca”. A autoria se enquadra em uma das posições 
que o sujeito pode assumir na enunciação discursiva. Notabiliza-se por ser uma 
posição extremamente marcada pelas condições sociais, históricas e ideológicas, 
sendo dele cobradas exigências de coerência, não-contradição e responsabilidade 
(FOUCAULT, 2005a). O sujeito-autor assume o entrecruzamento de diversas ordens 
discursivas, precisando imprimir-lhe uma aparente unicidade. 
A posição sujeito-autor, no caso do discurso didático, é uma função 
enunciativa que não implica um desempenho individual, embora assim seja nas 
aparências. Nesse sujeito, há um efeito construído em torno de duas imagens, a de 
autoria e a de autoridade, a partir de uma relação social de poder. O discurso 
didático assume o lugar de um discurso competente: “[...] é o lugar do saber definido, 
pronto, acabado, correto e dessa forma, fonte última (e às vezes, única) de 
referência” (SOUZA, 1999, p. 27). O efeito a ser produzido, na face de autoridade, é 
a de veicular sentidos imperativos: afirma ou nega incisivamente, deixando pouca 
margem para questionamentos do que diz. A imagem construída nesses efeitos é a 
de quem diz o que está dizendo sabe do que fala e é isso mesmo. O efeito de 
autoridade é reafirmado por diversas formações ideológicas que alinham o discurso 
didático: o Estado, as editoras, as idiossincrasias, a imprensa, as ciências de base... 
filiando-o a uma imersão histórica definida, o que faz dele um instrumento da 
institucionalização escolar, fora da qual não tem aceitação.  A autoridade do 
discurso didático responde a outras instâncias autoritárias, portanto; ao currículo e 
ao programa, por exemplo.  
Isso significa dizer que o discurso didático é delimitado, circunscrito quanto 
ao que nele pode ser proposto e dito, ao objetivo que pode orientá-lo. O Estado, ou 
as instituições por ele autorizadas, prescreve os limites e as diretrizes desse 
discurso: as instituições escolares os cumprem, e as editoras – intermediárias nessa 
relação de realização – por sua vez, se atentam minuciosamente a esses limites, 
pois isso faz com que seus produtos tenham coerência com a necessidade do 
mercado, e, por conseguinte, aceitação. 
A trajetória da bibliografia didática de Geografia, e do livro didático em 
contexto mais amplo, tem fatos exemplares quanto ao cumprimento dessa norma, e 
quanto às medidas incidentes ao rompimento dessa norma. Em última instância, 
trata-se de um processo de legitimação. O veto, a autorização e as recomendações 
para correção e refeitura foram os instrumentos finais das instâncias de autorização 
das obras didáticas. Ao professor, restava uma obediência incontinente ao 
estabelecido. A respeito, Bittencourt (2008, p. 58) afirma: 
 
As regulamentações referentes aos “deveres” ou “obrigações” dos 
professores apresentavam sistematicamente artigos explícitos sobre o uso 
dos livros didáticos adotados pelas autoridades educacionais competentes. 
Os professores que usassem livros proibidos estavam sujeitos a punições, 
admoestações dos superiores, com possibilidades de suspensão do 
exercício ou multas. 
 
Por conseguinte, há um cruzamento entre autoritarismo e autoridade no 
contexto enunciativo do discurso didático. 
A autoria, por seu lado, perpassa pela noção do supersujeito, 
[...] uma espécie de onisciente cognitivo que detém conhecimentos da área 
como poucos, um domínio, aliás, totalizante. Para isso, as fontes são 
apagadas e a produção do conhecimento é retirada de sua formação 
histórica. Ausente desse processo, nas aparências, a enunciação parece vir 
do autor (SILVA, 2006, p. 196). 
 
Isso ao mesmo tempo em que faz emergir um efeito de coerência e unidade na 
dispersão (GREGOLIN, 2004b): as contradições, as dúvidas, as ambiguidades do 
conhecimento simplesmente desaparecem do discurso do sujeito didático. 
A noção de heterogeneidade discursiva, introduzida na Análise do Discurso 
por Jacqueline Authier-Revuz (2004, p. 12, grifos da autora), é elucidativa para se 
compreender o comportamento da autoria neste tipo de discurso: “no fio do discurso 
que, real e materialmente, um locutor único produz, um certo número de formas, 
linguisticamente detectáveis no nível da frase ou do discurso, inscrevem, em sua 
linearidade, o outro”. Todo discurso, e por extensão todo sujeito, é constituído pelo 
Outro, embora as formas de manifestação possam variar. Os discursos e os sujeitos 
existem porque há uma heterogeneidade constitutiva: a interação social permite que 
o sujeito apreenda sentidos de diversas formações discursivas e, dessa 
heterogeneidade, o sujeito é produzido, é constituído, tem o que dizer. Uma segunda 
forma é a heterogeneidade mostrada, segundo a qual a voz do outro se manifesta 
explicitamente no devir do discurso: a materialidade discursiva deixa entrever 
diretamente, por referência, a fonte do seu dizer. 
No discurso didático de Geografia, conforme demonstrado na história e na 
análise suscitada por esta pesquisa, há uma prevalência da heterogeneidade 
constitutiva em todas as gerações de manuais observadas, funcionando para 
construir um efeito de autoria e de autoridade, perceptível apenas na instância da 
análise, a partir das hipóteses de pesquisa sugeridas pelo analista que se confronte 
com esses discursos. 
O sujeito que enuncia o discurso didático, em primeiro lugar, é um sujeito 
autorizado a dizer o que diz, o que significa que tem uma inscrição discursiva, 
adquirida de alguma forma (FERNANDES, 2005): por estudo próprio, por formação, 
por institucionalização – lembrando que sua competência e coerência com as 
instâncias do poder escolar é regra para que possa existir. Todo o processo de 
imersão discursiva que o inscreveu nesse discurso resulta de uma dispersão de 
vozes na cena da formação discursiva. Esta inscrição, no entanto, na 
heterogeneidade constitutiva, é assujeitada ao discurso em curso, de forma que as 
vozes diversas são apagadas na enunciação. O sujeito, nesses termos, compõe, no 
manual didático em específico, mas também em outras instâncias, uma superfície 
discursiva lisa, conceito que proponho para compreender, no discurso didático, o fio 
do dizer que promove o efeito autoria e autoridade repassado aos sujeitos 
aprendizes, o que é feito a partir do apagamento da heterogeneidade: o fio do 
discurso responde apenas a um locutor único. 
 No livro didático, os espaços do dizer são demarcados e a enunciação se 
imprime mesmo graficamente para construir o efeito de autoria e a autoridade, essa 
superfície. No discurso científico, por exemplo, só para contrapor, a heterogeneidade 
mostrada é uma preocupação constante: o sujeito acadêmico se posta entre pares, 
e, com eles, e a partir deles, promove o seu discurso. 
Na minha dissertação de mestrado (SILVA, 2006), propus a noção de “bloco 
textual liso” como suporte do sujeito enunciador, para expressar a mancha autoral 
que graficamente se constrói, nos livros contemporâneos de Geografia, em grande 
parte da enunciação, como suporte à heterogeneidade constitutiva. Na ocasião, 
percebi que as heterogeneidades constitutivas e mostradas ocupam espaços bem 
delimitados no discurso didático de Geografia contemporâneo: 
 
Textualmente, ou melhor, graficamente, os enunciados são organizados 
hierarquicamente: há uma enunciação principal, a do sujeito-enunciador, em 
fonte tipográfica de tamanho maior, sobre fundo branco; e há caixas de 
textos, com fundo em diversas cores e tons, nas quais estão escritas notas 
explicativas (como designação de conceitos) e nas quais o sujeito-
enunciador cede a palavra para outros sujeitos colocarem pequenas 
enunciações complementares. Textos complementares, marcados com as 
respectivas assinaturas, costumam abrir e fechar capítulos, unidades, partes 
etc. (SILVA, 2006, p. 216). 
 
Neste momento, considero que os efeitos desse processo excedem bastante o nível 
dos significantes. Por extensão, proponho nomear esse processo de superfície 
discursiva lisa, aliando aos significantes outras propriedades discursivas, dentre as 
quais os efeitos de sentidos que essa estratégia enunciativa do discurso didático 
promove. 
 
 
1.2.2 O discurso, seus elementos e a formação do dizer didático 
 
O discurso, na Análise do Discurso, é tomado como conceito mestre dessa 
construção teórico-metodológica, e por isso difere do dado empírico, isto é, dos 
textos falados, ouvidos, impressos, visualizados... embora estes sejam as 
materialidades, ou cadeia de significantes, que permitem o acesso aos discursos e 
seus sentidos. Pêcheux (2001c) relaciona o dado linguístico a um âmbito de 
confluência entre a língua, o sujeito e a História, e daí resulta um funcionamento na 
ordem do sujeito e do sentido, resultando na acepção de discurso. O discurso 
frequentemente é confundido como um recurso retórico, vazio de sentidos reais e 
empíricos. Na Análise do Discurso, no entanto, a acepção científica do termo difere 
da acepção usual, pois o termo é um conceito complexo, manifesto materialmente 
por meio da língua e da linguagem, mas implicando uma exterioridade à língua, 
posto ser detectada no social e absorver compreensões para além das questões 
linguísticas. Por conseguinte, diferencia-se do emprego cotidiano, aquele do senso 
comum: 
 
Discurso, como uma palavra corrente no cotidiano da língua portuguesa, é 
constantemente utilizada para efetuar referência a pronunciamentos 
políticos, a um texto construído a partir de recursos estilísticos mais 
rebuscados, a um pronunciamento marcado por eloqüência, a uma frase 
proferida de forma primorosa, à retórica, e muitas outras situações de uso 
da língua em diferentes contextos sociais (FERNANDES, 2005, p. 19-20). 
 
Enunciar o discurso, assim, perpassa pelas condições históricas como meio para a 
interpretação, posicionando o lugar sócio-ideológico dos sujeitos nele envolvidos. 
A Análise do Discurso nega a imanência dos sentidos, pela qual a palavra 
teria significado e não sentido, negando, portanto, sua representação pelo 
significante, ou pelo texto, extraindo-se dela a naturalidade ou a-historicidade. 
Significado, assim, é como a palavra definida em estado de dicionário; o que a 
Análise do Discurso procura é o sentido, ou seja, o acontecimento das 
representações nos contextos sócio-históricos dados. A enunciação, para a Análise 
do Discurso, não é literal, mas interpretada, embora os fatos linguísticos – tais como 
os elementos fonológicos, morfológicos e sintáticos – ou semióticos, sejam a 
materialidade da análise, a forma de acesso ao discurso, pressupondo este, 
portanto. Os sentidos, nesse aspecto, sempre são produzidos na interação 
discursiva: 
 
[...] no discurso os sentidos das palavras não são fixos, não são imanentes, 
conforme, geralmente, atestam os dicionários. Os sentidos são produzidos 
face aos lugares ocupados pelos sujeitos em interlocução. Assim, uma 
mesma palavra pode ter diferentes sentidos em conformidade com o lugar 
socioideológico daqueles que a empregam (FERNANDES, 2005, p. 22-23). 
 
Portanto, os sentidos pertencem ao acontecimento e ao funcionamento dos 
discursos, que por sua vez pertencem a uma instância histórico-ideológica dada, 
delimitados em uma formação discursiva, que pode ser compreendida como o que 
“[...] se pode dizer somente em determinada época e espaço social, ao que tem 
lugar e realização a partir de condições de produções específicas, historicamente 
definidas” (FERNANDES, 2005, p. 60). Na formação discursiva, cada enunciado 
encontra seu lugar e seu comportamento, ou regra de aparição. Nas palavras de 
Pêcheux (1997, p. 160), a formação discursiva refere-se àquilo “[...] que, numa 
formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura 
dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser 
dito”. A noção de formação discursiva permite o entendimento de sentido: para 
Pêcheux (1997, p. 160, grifos do autor), uma mesma palavra, expressão, proposição 
assume sentidos diversos quando transferida para outra formação discursiva, outro 
lugar e situação enunciativa: 
 
[...] o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., 
não existe “em si mesmo” (isto é, em sua relação transparente com a 
literalidade do significante [o que é mais próprio ao significado, como 
demonstrado anteriormente]), mas, ao contrário, é determinado pelas 
posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no qual 
as palavras, expressões e proposições são produzidas (isto é, 
reproduzidas). Poderíamos resumir essa tese dizendo: as palavras, 
expressões, proposições, etc., mudam de sentido segundo as proposições 
sustentadas por aqueles que as empregam, o que quer dizer que elas 
adquirem seu sentido em referência a essas posições, isto é, em referência 
às formações ideológicas [...] nas quais essas posições se inscrevem. 
 
A noção de “formação discursiva” foi dialogada na Análise do Discurso com 
a obra de Michel Foucault, sobretudo com os livros Arqueologia do saber (publicação 
original de 1969) e A ordem do discurso (original de 1970). Para Foucault, a 
formação discursiva se evidencia pela regência de regularidades nas relações entre 
saber e poder, em que a produção daquele é controlada, selecionada, organizada e 
distribuída de forma a não ameaçar este. 
Foucault (2005a, p. 135-136) define discurso nos seguintes termos: 
 
Chamaremos de discurso um conjunto de enunciados, na medida em que 
se apóiem na mesma formação discursiva; ele não forma uma unidade 
retórica ou formal, indefinidamente repetível e cujo aparecimento ou 
utilização poderíamos assinalar (e explicar, se for o caso) na história; é 
constituído de um número limitado de enunciados para os quais podemos 
definir um conjunto de condições de existência. O discurso, assim 
entendido, não é uma forma ideal e intemporal que teria, além do mais, uma 
história; o problema não consiste em saber como e por que ele pôde 
emergir e tomar corpo num determinado ponto do tempo; é, de parte a 
parte, histórico – fragmentos da história, unidade e descontinuidade na 
própria história, que coloca o problema de seus próprios limites, de seus 
cortes, de suas transformações, dos modos específicos de sua 
temporalidade, e não de seu surgimento abrupto em meio às cumplicidades 
do tempo. 
 
Foucault (2005a), no contexto de emergência da Nova História11, na obra 
Arqueologia do saber, promove diversas rupturas, principalmente em relação a 
noções como tradição, influência, mentalidade, equilíbrio, continuidade, causalidade, 
linearidade, apresentando outras no lugar: dispersão, descontinuidade, limite, série, 
transformação, dentre outras. Procurando compreender a relação entre discurso e 
                                                 
11
 Corrente historiográfica surgida nos anos 1970, em um terceiro movimento da denominada Escola 
dos Annales. Caracteriza-se por ser a história das mentalidades, coagindo as formas de 
representação coletivas e as estruturas mentais das sociedades, filtradas pelo historiador por meio da 
análise e da interpretação racional dos dados (VEYNE, 1995). 
poder, institui o enunciado como unidade de análise no método arqueológico, 
compreendendo-o, ainda, como unidade do discurso: 
 
[...] o enunciado não é uma unidade do mesmo gênero da frase, proposição 
ou ato de linguagem; não se apóia nos mesmos critérios; mas não é 
tampouco uma unidade como um objeto material poderia ser, tendo seus 
limites e sua independência. [...] Não é preciso procurar no enunciado uma 
unidade longa ou breve, forte ou debilmente estruturada, mas tomada como 
as outras em um nexo lógico, gramatical ou locutório. Mais que um 
elemento entre outros, mais que um recorte demarcável em um certo nível 
de análise, trata-se, antes, de uma função que se exerce verticalmente, [...] 
a propósito de uma série de signos. [...] O enunciado não é, pois uma 
estrutura [...]; é uma função de existência que pertence, exclusivamente, 
aos signos, e a partir da qual se pode decidir, em seguida, pela análise ou 
pela intuição, se eles “fazem sentido” ou não, [...] e que espécie de ato se 
encontra realizado por sua formulação (oral ou escrita) [...]; é que ele não é 
em si mesmo uma unidade, mas sim uma função que cruza um domínio de 
estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com 
conteúdos concretos, no tempo e no espaço (FOUCAULT, 2005a, p. 98-99).  
 
O enunciado, na percepção de Foucault, é uma função dispersa em sua 
singularidade, mas regular em sua repetição.  
A questão da autoria também é problematizada por Foucault. A partir da 
noção da função-sujeito, desloca-se a autoria do desempenho individual, 
reafirmando o sujeito como posição, reforçando que o enunciado não é algo isolado, 
mas vizinho a uma série de outros enunciados e sujeitos, e inscrito e delineado em 
um campo enunciativo que lhe afere lugar e status, inserindo-o na História, 
sublinhando a posição sujeito-autor como uma função. 
Foucault (2005a, p. 43) define formação discursiva do seguinte modo: 
 
No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, 
[...um] sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de 
enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma 
regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, 
transformações) diremos, por convenção que se trata de uma formação 
discursiva [...]. 
 
Trata-se, portanto, da regularidade na dispersão dos enunciados, embora essa 
estrutura não seja estanque e possa, em seu interior, ter subarticulações.  
O conceito formação discursiva contribuiu para romper a noção de 
maquinaria estrutural, na qual os discursos eram percebidos de forma fechada, na 
primeira época de formulação teórico-metodológica da Análise do Discurso. 
Contribui, por conseguinte, para implodir a noção de sujeito homogêneo. 
Outra noção importante para a compreensão do discurso e do sujeito é a 
“formação ideológica”. Pêcheux; Fuchs (2001, p. 166) caracterizam-na como o 
elemento 
 
[...] suscetível de intervir como uma força em confronto com outras forças na 
conjuntura ideológica característica de uma formação social em dado 
momento; desse modo, cada formação ideológica constitui um conjunto 
complexo de atitudes e de representações que não são nem “individuais” 
nem “universais” mas se relacionam mais ou menos diretamente a posições 
de classes em conflito umas com as outras. 
 
O discurso interage, através do sujeito, entre as formações discursivas e 
ideológicas por meio do interdiscurso, que pode ser entendido como a “[...] presença 
de diferentes discursos, oriundos de diferentes momentos na história e de diferentes 
lugares sociais, entrelaçados no interior de uma formação discursiva” (FERNANDES, 
2005, p. 61). Por extensão ao interdiscurso, compreender o discurso perpassa pela 
noção de memória, que difere da acepção corrente de uma memória individual – 
centrada nas lembranças de uma pessoa. Para Pêcheux (1999b), a memória é 
exterior ao estrato psicofisiológico do indivíduo. Nesses termos, é colocado como 
“[...] um conjunto complexo, pré-existente e exterior ao organismo, constituído por 
uma série de ‘tecidos de índices legíveis’, que constitui um corpo sócio-histórico de 
traços” (PÊCHEUX, 1990, f. 1). A memória, assim, transpõe-se para o campo social, 
de onde descreve as condições de um acontecimento, aliando, portanto, discurso e 
história. As formações discursivas, ideológicas e imaginárias12 de uma sociedade, 
tramitando no interdiscurso, situam os sujeitos e os discursos, fazendo com estes 
signifiquem. A memória, sempre que prática social, é operacionalizada por meio de 
implícitos, isto é, elementos pré-construídos que atuam na produção dos sentidos 
(PÊCHEUX, 1999b). Dessa forma, a memória discursiva re-estabelece os implícitos 
que significam o discurso, reconstituindo um imaginário no âmbito da enunciação. 
                                                 
12
 Pêcheux, dialogando com a obra de Lacan sobre o conceito de imaginário, definiu as formações 
imaginárias como resultantes de processos discursivos que antecedem a enunciação, agindo, 
portanto, como antecipação de sentidos, com a qual o sujeito faz uma representação do receptor 
discursivo (não confundido com sujeitos ou lugares físicos, mas às representações deles suscitadas), 
orientando seu enunciar da imagem que daí resulta.  
Uma operação tácita, não explícita, mas presente na construção dos sentidos e dos 
seus efeitos. De acordo com Achard (1999, p. 13), 
 
[...] a explicitação desses implícitos em geral não é necessária a priori, e 
não existe em parte alguma um texto de referência explícita que forneceria a 
chave. Essa ausência não faz falta, a paráfrase de explicitação aparece 
antes como um trabalho posterior sobre o explícito do que uma pré-
condição. [...] Do ponto de vista discursivo, o implícito trabalha sobre a base 
de um imaginário que o representa como memorizado, enquanto cada 
discurso, ao pressupô-lo, vai fazer apelo a sua (re)construção, sob a 
restrição “no vazio” de que eles respeitem as formas que permitam sua 
inserção por paráfrase. 
 
Um dos implícitos possíveis, por exemplo, é o da ordem do icônico, tanto como 
materialidade verbal ou semiótica, pois visível. Este é um dos operadores dentre os 
mais atuantes do discurso da Geografia, que, antes de tudo, se empenha na 
construção de uma visão do mundo: “[...] a imagem seria um operador de memória 
social, comportando no interior dela mesma um programa de leitura, um percurso 
inscrito discursivamente em outro lugar” (PÊCHEUX, 1999b, p. 51). 
O silêncio e seu processo, o silenciamento, é outro elemento constitutivo do 
discurso. Foucault indica que a enunciação implica um funcionamento de permissão, 
no qual há o dito, o não dito, o que não pode ser dito. Na enunciação, interagem as 
formações discursivas e ideológicas de cada época por meio das vozes plurais que 
constituem e instituem o sujeito discursivo, levando-o a dizer o que diz. Um dizer 
sempre controlado e freado pelos limites que o âmbito da enunciação impõe. A 
propósito, Foucault demonstra como os discursos são socialmente controlados, 
organizados, selecionados e distribuídos, fato que coaduna, em específico, com a 
posição defendida pela História das Disciplinas Escolares e pela História do 
Currículo, que veremos adiante. Se necessário, o discurso pode ser interditado. 
Mesmo não o sendo, ele sempre é delimitado e controlado: 
 
[...] em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo 
controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certos números de 
procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, 
dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível 
materialidade. [...] em uma sociedade como a nossa, conhecemos, é certo, 
procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é a 
interdição. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se 
pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não 
pode falar de qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual de circunstância, direito 
privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala [...] (FOUCAULT, 2005b, p. 8-9). 
 O dialogismo bakhtiniano também estabelece o silêncio como uma das 
vozes que atravessam a interação enunciativa. De acordo com Villarta-Neder (2004, 
p. 173), o apagamento é um dos efeitos do silêncio discursivo: 
 
[...] as palavras não só apagam silêncios porque se sobrepõem a eles – e 
estabelecem, assim um silêncio por excesso –, mas também silenciam 
outras palavras pelo mesmo processo de sobreposição. Igualmente o 
silêncio não somente apaga as palavras porque as sobrepõe (excesso), 
mas porque cria uma virtualidade em que outras palavras possíveis 
sobrepõem (excesso ainda) as que não foram ditas (ausência). Portanto, o 
apagamento, mesmo provocado pela palavra, implica sempre a instauração 
de um tipo de silêncio, o leva a considerá-lo como uma decorrência do 
silêncio (VILLARTA-NEDER, 2004, p. 173). 
 
A análise do silêncio geralmente depreende as relações de poder colocadas 
ao discurso. 
Nesses termos, após essas considerações, qual seria a caracterização do 
discurso didático? 
Em uma perspectiva discursiva, o ensino é uma ritualização de discursos 
conjugados por sujeitos qualificados, adequados a uma forma política de 
manutenção, modificação e apropriação – relação na qual os saberes e os poderes 
estão em um conflito de definição (FOUCAULT, 2005b, p. 43). Isto porque é pela 
educação que uma sociedade moderna se molda, se reproduz e se preserva de 
acordo com as orientações impostas e negociadas nessa permanência. Essa 
educação molda sua força para sobrepor-se a qualquer outra, inclusive a educação 
tradicional, como a familiar. A sociedade, por exemplo, precisa, na percepção do 
Estado, ter a feição requerida por seus propósitos gerais – aquelas permitidas por 
ele. 
O discurso didático, para esse fim, é construído para transparecer 
neutralidade, surtir um efeito pacífico, sendo influente o controle do Estado e das 
instituições deste, o controle da Ciência, o controle da sociedade civil. O currículo, 
nesses termos, como estrutura exposta quanto à proposição, e implícita ao discurso 
didático, é controlado pelos programas dos departamentos educacionais. À escola 
antecedem instâncias preliminares, que delimitam o discurso didático para que nele 
haja efeitos de uma visão social e de um sujeito direcionado, mas também é um 
âmbito de produção discursiva. 
O construto da Análise do Discurso de linha francesa, pecheuxtiana, como 
demonstrado, referencia-se na intersecção dos discursos e da história para 
compreender a linguagem em funcionamento na construção dos sujeitos e dos 
sentidos. O discurso, portanto, tem uma ordem que prevalece acima dos sujeitos, 
revelada não em si, em sua materialidade, mas nas condições de sua produção: ele 
aparece em uma formação, parece desaparecer, e ressurge adiante com novas 
condições. Algo do discurso didático é único e próprio a ele mesmo, mas com 
materialidades e manifestações enunciativas diferentes, dos quais os manuais 
didáticos, em suas gerações, são dessas instâncias enunciativas. O espaço do 
saber é, simultaneamente, um espaço de descontinuidades e de permanência. 
Coube à escola, enquanto instituição responsável por ensinar formalmente 
princípios da vida civil e da cultura instituídas aos indivíduos, a criação das 
disciplinas sempre como tradições culturais expressas em um movimento e 
dinâmicas próprios, direcionando os aprendizes para uma cultura geral, a cultura da 
sociedade nacional – no caso das sociedades modernas, sendo o currículo a ser 
ensinado uma manifestação desse processo. O dizer e o fazer da escola, nesse 
sentido, promoveu discursos gerais e particulares, manifestos em diferentes 
materialidades, e, notadamente aqueles componentes das disciplinas, constituíram 
uma literatura didática, consecução de qualquer campo do conhecimento que se 
ensine13. Como materialidades dos discursos didáticos, os manuais escolares 
permitem entrever a linguagem e seu papel importante na constituição do processo 
do ensino e da aprendizagem, permitindo, ainda, uma compreensão histórica dessas 
relações. 
Diversas formações discursivas habitam o discurso didático. A obra de 
Mikhail Bakhtin (1997; 1998; 2004) permite compreender os gêneros do discurso 
como combinação de formas e códigos relativamente estáveis quanto a seus 
enunciados, em grupos sociais específicos, peculiares a estes, no que se enquadra 
o dizer didático como um discurso. 
Bakhtin (1998, p. 10), para quem os gêneros do discurso compõem-se de 
uma estratificação da linguagem, que se cliva em instâncias sócio-ideológicas 
                                                 
13
 Um exemplo desse desenvolvimento é sua inclusão em mídias diversas e veiculação em meios de 
comunicação de diferentes ordens, como característicos, atualmente, da modalidade Educação a 
Distância. 
diversas, utilizou a noção de “construção híbrida” para compreender “o enunciado 
que, segundo índices gramaticais (sintáticos) e composicionais, pertence a um único 
falante, mas onde, na realidade, estão confundidos dois enunciados, dois modos de 
falar, dois estilos, duas ‘linguagens’, duas perspectivas semânticas e axiológicas”, 
atingindo a reformulação das formações discursivas, como o discurso científico, o 
discurso cotidiano, o discurso do Estado e outros que, com reflexos dos objetivos e 
das condições do meio social de inserção, estabelecem um gênero discursivo, 
aquele que se pode encontrar materializado no livro didático. 
 
 
1.3 Procedimentos metodológicos da pesquisa da Análise do Discurso 
 
O procedimento da análise discursiva implica uma performance de escuta no 
dizer, a partir de uma concepção teórica sobre o objeto em pesquisa. Nesses 
termos, o funcionamento e a constituição do discurso são processos previstos, 
movendo-se o analista por meio da descrição e da análise da materialidade 
linguística até o discurso. De acordo com Silva (2006, p. 184), 
 
A análise, um proceder à procura do funcionamento dos sentidos, difere do 
curso descarteano de seu emprego, ou seja, o desmonte do todo em partes 
para se entrever o funcionamento do objeto e, com isso, produzir o 
conhecimento. A análise discursiva se situa mais próxima à Psicanálise 
lacaniana, como uma “escuta engajada” da linguagem, a partir da qual se 
percorre a constitutividade do sujeito.  
 
E percorrer a constitutividade do sujeito é embrenhar-se na movência dos sentidos. 
Assim, a estrutura é desvelada não unicamente para concepção e produção do 
conhecimento da materialidade em si, dos objetos visíveis: vai além, perscruta o 
invisível no dizer, o que na materialidade deixa apenas vestígios, indicações e sinais, 
mesmo que remotos. Sobretudo, uma sombra dispersa que, reunificada, indica uma 
unicidade não anunciada, não prevista no esquema da enunciação. 
Esse caminho metodológico aproxima-se, portanto, do procedimento 
analítico, no qual a análise se comporta como caminho: “[...] é um caminho limitado, 
mas infinito. Limitado, porque sempre se ergue um limite que o faz parar. E infinito, 
porque esse limite, uma vez tocado, desloca-se para o infinito, sempre mais distante” 
(NASIO, 1993, p. 38). Perfaz um caminho espiralado, de idas e vindas, de 
aproximação e distanciamento, procurando os sentidos na movência dos 
enunciados, procurando regularidades na dispersão. De acordo com Santos 
(2004, p. 114), as regularidades são 
 
[...] as evidências significativas, observadas na conjuntura enunciativa da 
manifestação discursiva em estudo. Essas evidências aparecem como 
elementos de recorrência, de idiossincrasia enunciativa, ou ainda, de efeito 
provocado pela natureza na organização dos sentidos na enunciação. É por 
meio das regularidades que se emoldura com mais clareza o tópico em 
investigação pelo analista, corroborando, assim, com as projeções 
determinantes advindas dos objetivos, hipóteses e questões de pesquisa. 
 
Dada uma materialidade discursiva, procura-se evidenciar os sentidos 
histórico-ideológicos nos discursos que constituem os sujeitos e suas práticas. O 
corpus – reunião de discursos de uma formação discursiva – expressa a 
materialidade empírica e objetiva a ser analisada. Trata-se de 
 
[...] um banco de dados relativamente extenso e exaustivo, coletado em 
documentos grafos condizentes à pesquisa ou documentado (anotado, 
gravado ou filmado) a partir do dizer dos sujeitos em investigação. O 
registro do corpus, portanto, refere-se à descrição da ação linguageira, à 
sua seleção e organização de acordo com uma orientação. (SILVA, 2006, p. 
185).  
 
Os discursos do corpus geralmente passam por recortes seletivos, 
orientados pela intuição do analista quanto a regularidades previstas nos 
enunciados. Na dispersão, eles calam, mas seus sentidos aproximados, 
entrecruzados, detidos no âmbito histórico-ideológico, são desentranhados da 
opacidade e da transparência aparente, evocando outros sentidos que não aqueles 
encenados na enunciação. Isso distancia os recortes de mera ilustração ou 
exemplificação, remetendo o analista para o processo histórico-ideológico, para as 
condições de produção, para a incompletude, para o contingente, isto é, para o 
discurso. 
Esta acepção coloca a análise discursiva no parâmetro de um dispositivo 
de interpretação, ou seja, “[...] ouvir, naquilo que o sujeito diz, aquilo que ele não 
diz, mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavras” (ORLANDI, 2002, p. 
59), apreendendo, deste modo, o funcionamento dos sentidos, a constituição do 
sujeito. 
A performance metodológica desta pesquisa trabalha, assim, com quatro 
tipos de unidade de análise: o discurso, o fragmento discursivo, a sequência 
discursiva e o lexema. O fragmento discursivo, a sequência discursiva e o lexema 
são recortes na extensão do discurso para propósitos da análise: lexema é a 
unidade básica de um léxico, entendido como oposição a um vocabulário; o lexema 
é colocado em relação à Língua e o vocábulo em relação à Fala. O fragmento e a 
sequência discursivos estão para recortes maiores e menores do discurso, 
respectivamente. 
 
* * * 
 
Como visto neste capítulo, a História das Disciplinas Escolares me permite 
circunscrever o saber a ser ensinado como recorte dentre outras possibilidades, tais 
como o saber ensinado e o saber apreendido, o que nos remete diretamente aos 
manuais didáticos como documentos constitutivos do objeto da pesquisa. Sobretudo, 
apresenta uma perspectiva pela qual determinados conhecimentos, no ambiente 
escolar, revelam-se e consolidam-se como disciplinas, sendo ressignificados para 
um público específico, cumprindo certa finalidade da educação bem como a 
distribuição dos papeis sociais nas relações de ensino e aprendizagem. E, nessa 
direção, o currículo e a legislação educacional incluem-se como circunscrição 
constitutiva do objeto de pesquisa. 
As abordagens sobre currículo, em uma perspectiva mais histórica que 
teórica – embora os laços entre história e teoria não se separem – situam essa tese 
a pensar historicamente a organização do currículo da Geografia escolar, no período 
assinalado, quanto aos interesses institucionais de sua proposição, a motivação 
política, a percepção da aprendizagem discente, o estabelecimento do cotidiano 
escolar e da metodologia de ensino. A História do Currículo indica que, compreender 
o currículo e o programa é sondar as relações entre ideologia, poder e saber, bem 
como a tradição e o constructo histórico inerente à sua composição: a indicação 
desse caminho faz encontro com a Análise do Discurso como perspectiva teórico-
metodológica, ou a compreensão que tenho do ob                                                      
jeto em estudo e dos objetivos propostos. A essa discussão se remete o que 
compreendo por discurso, sujeito, ideologia, sentido, formação (histórica, ideológica, 
discursiva), heterogeneidade (constitutiva e mostrada), memória. 
No capítulo seguinte, apresento a pesquisa bibliográfica e faço uma 
discussão descritiva sobre a mesma, expondo aspectos gerais da trajetória do livro 
didático de Geografia no Brasil. 
CAPÍTULO 2 
 
DESCRIÇÃO DA BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA (1814-1939): discussão 
da trajetória constitutiva dos manuais de Geografia 
 
 
 
 
Neste capítulo, apresento e discuto o levantamento bibliográfico suscitado 
pela pesquisa, expondo o conjunto de referências que indicam os títulos, autores, 
edições, anos e locais de publicação, indicando a trajetória dos textos didáticos de 
Geografia. A partir dele, procuro definir um panorama histórico que descreva o 
surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia. Além disso, instituo as 
fontes discursivas da tese dessa bibliografia, que apresenta livros produzidos – 
compendiados, traduzidos, adaptados – ou importados para o ensino de Geografia 
brasileiro. Algumas obras de relevância direta à produção desses textos, mas que 
não são propriamente textos didáticos, foram relacionadas no Apêndice 1, como 
Casal (1817), Wappoeus (1884), Sellin (1889), indicados como manuais didáticos 
por Colesanti (1984), Lourenço (1996) e outros. 
 
 
2.1 A bibliografia didática de Geografia 
 
Para esse levantamento, pesquisei informações em diversas fontes sobre 
cada título e autor, confrontando-as para listar as referências com fidelidade14. Em 
sua maior parte, como em programas curriculares, extratos de catálogos, catálogos 
de bibliotecas, dentre outros, as informações são incompletas, há divergências 
ortográficas, abreviações que dificultam a fixação das informações, suscitando 
dúvidas. Em Sacramento Blake (1893 a 1903), por exemplo, é comum encontrar 
unicamente o nome do autor, o título e o ano de uma publicação, às vezes só o 
                                                 
14
 A principal relação de fontes está mencionada nas Considerações Iniciais e apresentada nas 
referências. 
autor e o título, também muitas vezes divergentes, embora tenha sido uma fonte 
indispensável para o estabelecimento de pistas investigadas em outros lugares.  
Recapitulando, entendo por “bibliografia didática de Geografia” o acervo 
material, e sua referenciação, dos títulos didáticos da disciplina em questão; são as 
materialidades que tiveram uma vida escolar, servindo ao ensino explícito da 
Geografia; por extensão, igualmente pode ser compreendida como bibliografia toda 
descrição e caracterização pertinente ao Acervo, aquele que agrega toda a 
produção existente, ou ao acervo de pesquisa. Como sistematização da bibliografia 
em questão, o levantamento do Quadro 01, exposto a seguir, organiza-se em ordem 
cronológica, expondo as primeiras edições ou a edição mais antiga localizada, 
constando ainda todas as edições identificadas da obra, de forma que, a par da 
trajetória do livro didático de Geografia, procurei registrar o percurso de cada 
documento, indicando as edições que o título teve ao longo de sua trajetória, o que 
demonstra as alterações que a obra passou em seu curso de vida útil, tais como 
alterações no título, cooperação de terceiros autores, transferências casas 
publicadoras, dentre outras. 
Nomeio duas distinções para cada documento elencado: título, como uma 
obra individual, apesar das alterações que possam ter sofrido sua nomeação, e 
edição, que corresponde às tiragens, ou conjunto de sucessivas tiragens de uma 
obra, incorporando ou não alterações, correções, ampliação, desde que assim for 
nomeada a tiragem. Esta distinção é necessária pois dimensiona e redimensiona a 
reprodução de uma bibliografia. 
Assim posto, o levantamento bibliográfico apresentado a seguir, no período 
compreendido entre 1814 e 1939, expressa 276 títulos, perfazendo 510 edições 
identificadas15. Não identificadas pela pesquisa, mas deduzidas a partir da maior 
edição indicada, teríamos outras 441 edições, o que, sem precisão, indica que esse 
acervo teve 950 edições ao longo do período, um número apenas aproximado, e 
com certeza bem abaixo dessa expressão real, até porque não tenho garantia de 
que a última seja realmente a última. 
 
                                                 
15
 Outros conhecidos levantamentos similares de manuais didáticos para o período apontam 25 
títulos, para os quais as edições não foram contabilizadas (COLESANTI, 1984) e 117 edições 
(LOURENÇO, 1996). 
QUADRO 01 – Bibliografia didática brasileira de Geografia (1814-1939). 
 
1ª Ed. ou 
edição 
mais 
antiga 
identifica-
da 
Demais 
edições 
identifica-
das 
BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA 
1814 - 
GUIMARÃES, Manoel Ferreira de Araújo. Elementos de Astronomia. 
Para uso dos alumnos da Academia Real Militar. Rio de Janeiro: 
Impressão Régia, 1814. 
1818 
1821 
1822 
1824 
PEREIRA, José Saturnino da Costa. Leituras para meninos, contendo 
historias moraes relativas aos defeitos ordinários às idades tenras, 
e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1818. 
PEREIRA, José Saturnino da Costa. Leituras para meninos, contendo 
historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras, 
e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural. Rio de Janeiro: Typ. Real, 1821. 
PEREIRA, José Saturnino da Costa. Leituras para meninos, contendo 
historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras, 
e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1822. 
PEREIRA, José Saturnino da Costa. Leituras para meninos, contendo 
historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras, 
e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural.. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1824. 
1823 - 
TILBURY, Guilherme Paulo. Breve introducção ao estudo de 
Geographia, adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes. 
Offerecida a S. M. o Senhor D. Pedro I. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 
1823. 197 p. 
1824 - 
TORREÃO, Bazilio Quaresma. Compendio de Geographia universal. 
Rezumido de diversos authores e offerecido á mocidade brazileira. 
London: L. Thompson (na officina portugueza), 1824. 528 p. 
1824 - 
HUM BRASILIANNO. Noções elementares de Geographia por hum 
antigo professor da Universidade de Paris, impressas no anno de 
1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucção da 
mocidade do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia de Silva Porto, 1824. 
26 p. 
1826 - 
CASAL, Pe. Manoel Ayres de. Introducção da Geographia 
brazilica, da parte que trata da Bahia, composta por um 
presbytero secular do grão-priorado do Crato e 
mandada imprimir para instrucção da mocidade 
bahiense por um professor da mesma. Organizada 
anonimamente por Ignácio Aprígio da Fonseca Galvão. 
Bahia: [s. n.], 1826. 
1827 - 
ARAÚJO, José Paulo de Figueiroa Nabuco de. Compendio cientifico 
para a mocidade brazileira, destinado ao uso das escolas dos dois 
sexos, ornado de nove estampas acomodadas á arte e ás sciencias 
de que nele se trata; tiradas por litografia. Oferecido à heróica e 
briosa nação brasileira, etc. Rio de Janeiro: P. Plancher, 1827. 
1829 - 
REBELLO, Domingos José Antonio. Corografia, ou abreviada historia 
geographica do imperio do Brasil, coordenada, acrescentada, e 
dedicada á casa pia e collegio dos orfãos de S. Joaquim desta 
cidade.  Para uso de seos alumnos, a fim de adquirirem conhecimentos 
geographicos preliminares d’America em geral, e seo descobrimento; e 
com particular individuação do Brasil; especialmente da provincia, e 
Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos. Rio de Janeiro: 
Typographia Imperial e Nacional, 1829. 260 p. 
1830 - 
LIMA, Manoel Ildefonso de Souza. Elementos de 
Geographia astronomica, politica e physica. Apresenta 
um mappa. Rio de Janeiro: [s. n.], 1830. 65 p.  
1830 - 
LISBOA, Manoel Ignacio Soares. Elementos de Geographia 
Astronomica, Política e Physica. Dedicados a sua Alteza Imperial, o 
Sr. D. Pedro, Principe Imperial do Brasil, para uso das Escolas 
Brasileiras... Rio de Janeiro. Typographia Torres, 1830. 65 p. 
1832 - 
GOUVÊA, Agostinho Marques de. Novo cathecismo geographico 
brazileiro. Offerecido aos senhores paes de família, e professores de 
ambos os sexos. Rio de Janeiro: [s. n.], 1832. 
1835 - 
BEAUREPAIRE, Jacques Antonio Marcos de [Conde de 
BEAUREPAIRE]. Compendio de Geographia universal, contendo a 
divisão particular de todas as regiões do mundo conhecido, e com 
especialidade, do império do Brazil, por um official general do 
exercito. Rio de Janeiro: Laemmert, 1835. 2 tomos. 
1835 - 
MULLER, Daniel Pedro. Cathecismo de Geographia. Rio 
de Janeiro: [s. n.], 1839[?]. 
1835 - 
UM OFFICIAL GENERAL DO EXERCITO [Pseud.]. Compendio de 
Geographia universal, contendo a descripção particular de todas as 
regiões do mundo conhecido, e com especialidade do Império do 
Brasil. Rio de Janeiro: [s. n.], 1835. 
1836 - 
PEREIRA, José Saturnino da Costa. Compendio de Geographia 
elementar. Para uso das escolas brazileiras... Rio de Janeiro: Typ. de R. 
Ogier, 1836. 210 p. 
1836 - 
COMPENDIO de Geographia para uso das aulas de primeiras lettras. 
Recife: Typographia de Santos, 1836. 64 p. 
1836 - 
OLIVEIRA, Affonso José de. Compendio de Geographia universal 
extrahida de diversos auctores... Recife: Typographia de M. F. de 
Faria, 1836. 136 p. 
1838 - 
ROCHA, Justiniano José da. Compendio de Geographia elementar. 
Offerecido ao governo de S. M. I. e por ele aceito para uso dos alumnos 
do Imperial Colégio de Pedro II. 2. ed. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 
1838. 142 p. 
1839 - 
POELITZ, H. L. Resumo da Historia Universal para uso da aula de 
Historia e Geographia. Adaptação de Julio Frank. São Paulo: Graphica 
Costa Silveira, 1839. 
 
 1839 - 
RESUMO de historia universal para uso da aula 
d'historia e Geographia, da academia de sciencias... São 
Paulo: Typographia de M. F. Costa Silveira, 1839. 
184- 1852 
BRANDÃO, Antonio Pinto da Costa de Souza. Noções 
preliminares de Geographia em forma de dialogo, com 
especial applicação ao imperio do Brazil. Rio de Janeiro: 
[s. n.], 184-. 74 p.  
BRANDÃO, Antonio Pinto da Costa de Souza. Noções preliminares de 
Geographia em forma de dialogo, com especial applicação ao 
imperio do Brazil. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1852. 74 p 
1840 - 
BELLEGARDE, Pedro d’Alcântara. Introducção corographica a 
historia do Brazil. Rio de Janeiro: Typographia. de J. E. S. Cabral, 
1840. 
1840 - 
SANTA GERTRUDES, José Policarpo de. Elementos de Geographia 
para uso das escolas da instrução primaria da provincia do Rio de 
Janeiro. Nitheroy: Typographia Nietheroy, 1840. 219 p. 
1842 
1868 
1871 
 
FREESE, João Henrique. Compendio de Geographia e historia, 
seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos, e de um 
trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia 
do Brazil desde o seu descobrimento até a coroação de S. M. I. o Sr. 
D. Pedro II. Rio de Janeiro: Typ. de J. E. S. Cabral, 1842. 106 p. 
FREESE, João Henrique. Compendio de Geographia e historia, 
seguido de um breve epitome sobre os globos e seus circulos por 
João Henrique Freese. 3. ed. revista e consideravelmente augmentada 
na parte que trata da Geographia physica, e inteiramente nova a 
Geographia com referencia politica, segundo os mais recentes 
acontecimentos, com uma descripção do império do Brazil e um elenco 
de todas as cidades e villas, por João Baptista Collogeras. Rio de 
Janeiro: [s. n.], 1868. 124 p. 
FREESE, João Henrique. Compendio de Geographia e historia, 
seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos, e de um 
trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia 
do Brazil desde o seu descobrimento até a coroação de S. M. I. o Sr. 
D. Pedro II. 4. ed. Rio de Janeiro: Livraria de Agostinho de Freitas 
Guimarães & Cia., 1871. 126 p. 
1845 
(2. ed.) 
1873 
BREVES Noções de Geographia Universal mui accrescentadas na 
parte respectiva ao Império do Brasil, para uso da mocidade 
estudiosa. 2. ed. Rio de Janeiro: E. & H. Laemmert, 1845. 70 p. 
BREVES Noções de Geographia Universal mui accrescentadas na 
parte respectiva ao Império do Brasil, para uso da mocidade 
estudiosa. 3. ed. Rio de Janeiro: E. & H. Laemmert, 1873. 70 p. 
1846 - CAVALCANTI, Luiz Paulino. Geographia elementar. [s. l.]: [s. n.], 1846. 
1845 - 
SOUZA, Francisco Nunes de. Nocções elementares de 
Geographia astronomica, physica e politica, redigidas 
segundo um novo plano methodico, theorico e pratico, e 
adaptadas para servir de compendio nas academias, 
lyceos, etc., como para ministrar os rudimentos de 
Geographia propriamente dita, sem auxilio e 
dependência de professor. Rio de Janeiro: [s. n.], 1845.  
185- - 
BANDEIRA, Antonio Rangel Torres. Geographia antiga
16
. Recife: 185-. 
Mimeo. 
1850 - 
BRANDÃO, Antonio Pinto da Costa de Souza. Diálogo Geographico 
para uso de suas discípulas e alumnas do Collegio de São João em 
São Christovão. Rio de Janeiro: Typographia Francesa, 1850. 44 p. 
1851 
1856 
1859 
1864 
1869 
BRASIL, Thomaz Pompeu de Souza. Elementos de Geographia. 
Offerecidos à mocidade cearense. Fortaleza: Typographia de Paiva e 
Companhia, 1851. 284 p. 
BRASIL, Thomaz Pompeu de Souza. Compendio de Geographia. 
Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminários do Império 2. 
ed. Ceará: Typographia de Paiva e Companhia, 1856. 536 p. 
BRASIL, Thomaz Pompeu de Souza. Compendio elementar de 
Geographia geral e especial do Brasil. 3. ed. augmentuda e correcta. 
Rio de Janeiro: Domingos José Gomes Brandão e Irmãos, 1859. 519 p. 
BRASIL, Thomaz Pompeu de Souza. Compendio elementar de 
Geographia geral e especial do Brasil. 4. ed. augmentada e 
cuidadosamente corrigida. Rio de Janeiro: Typographia Universal de 
Lammert, 1864. 556 p. 
BRASIL, Thomaz Pompeu de Souza. Compendio elementar de 
Geographia geral e especial do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: 
Typographia Universal de Lammert, 1869. 556 p. 
1853[?] - 
MONSERRATE, Fr. Camillo de. Lições de Geographia antiga
17
. Rio de 
Janeiro: [s. n.], 1853[?]. 
1854 - 
PEREIRA, João Felix. Chorographia do Brazil. Lisboa: Imprensa de 
Lucas Evangelista, 1854. 352 p. 
1855 
(2. ed.) 
1867 
1872 
1878 
 
ABBADE GAULTIER. Lições de Geographia. 2. ed. Paris: Casa de Va. 
J. P. Aillaud, Monlon & Cia., 1855. 
ABBADE GAULTIER. Lições de Geographia. Traduzidas em portuguez 
por uma sociedade de litteratos portuguezes. Edição novíssima 
inteiramente refundida e consideravelmente augmentada, feita sobre a 
ultima franceza, contendo agora, pela vez primeira, mui interessantes e 
numerosas addições e mudanças indispensáveis sobre as novas 
divisões dos estados da Europa e importantíssimos desenvolvimentos 
sobre a Geographia, topographia e estatística do Império do Brazil e das 
republicas americanas, e com especialidade a Chorographia portugueza, 
por J.-I. Roquette, acompanhadas de uma estampa geométrica e 
cosmographica e com um SUPPLEMENTO mencionando as mudanças 
que sobrevieram durante a impressão da obra. Paris: J.-P. Aillaud, 
Guillard & Cia., 1867. 
ABBADE GAULTIER. Lições de Geographia... Paris: Guillard, Aillaud & 
                                                 
16
 De acordo com Sacramento Blake, os manuscritos deste livro eram utilizados nas aulas que o autor 
ministrava.  
17
 Conforme Sacramento Blake, nesta obra há o programma do curso da aula para o anno de 1853, 
nas páginas 94 e 95, seguida pelo autor; não foi possível a localização dessa obra. 
Cia., 1872. 595 p. 
ABBADE GAULTIER. Lições de Geographia... Paris: Guillard, Aillaud & 
Cia, 1878. 659 p. 
1856 1880 
ALBUQUERQUE, Salvador Henrique de. Noções de 
Geographia para uso das escolas. Pernambuco: Typ. 
Universal, 1856. 46 p. 
ALBUQUERQUE, Salvador Henrique de. Compendio de chorographia 
universal, especial do Brazil e da provincia de Pernambuco, 
approvado pelo conselho director da instrucção publica de 
Pernambuco. 2. ed. melhorada e muito augmentada. Rio de Janeiro: 
Typ. Universal de Eduardo & Henrique Laemmert 1880. 138 p. 
1857 - 
PACHECO, José Praxedes Pereira. Breves noções para se estudar 
com methodo a Geographia do Brasil. Ensaio para, pela primeira vez, 
indicar os tanques marítimos no Atlântico, as vertentes delles, as 
valladas ou bacias que ellas encerrão, accommodando o Brasil ao ultimo 
plano de estudos para o império francez se guindo a Geographia da 
França. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1857. 204 p. 
1858 
1865 
1870 
1882 
BURGAIN, Luis Antonio. Novas lições de Geographia elementar sem 
decorar por meio de exercicios. Rio de Janeiro: Laemmert, 1858. 134 
p. 
BURGAIN, Luis Antonio. Novas lições de Geographia elementar sem 
decorar por meio de exercicios. Rio de Janeiro: Laemmert, 1865. 170 
p. 
BURGAIN, Luis Antonio. Novas lições de Geographia elementar sem 
decorar por meio de exercicios. 3. ed. Rio de Janeiro: E. & H. 
Laemmert, 1870. 181 p. 
BURGAIN, Luis Antonio. Novas lições de Geographia 
elementar sem decorar por meio de exercicios. 6. ed. Rio 
de Janeiro: Typ. Universal de H. Laemmert, 1882. 206 p. 
1858 - 
LEÃO, Manuel do Rego Barros de Souza. Elementos de 
Geographia, compilados de diversos autores. Recife: [s. 
n.], 1858. Tomo I. 
1859 - 
LEÃO, Manuel do Rego Barros de Souza. Elementos de 
Geographia, compilados de diversos autores. Trata da 
Geographia astronómica como se declara no fim, onde ha 
algumas paginas em additamento ao primeiro. Recife: [s. n.], 
1859. Tomo II. 
186- - 
ABREU, Pedro José. Pontos de Geographia physica... [s. l.]: [s. n.], 
186-. 
186- - 
SANTOS, Ignacio Francisco dos. Simples noções de 
cosmographia e Geographia, compiladas e traduzidas 
para uso da infância nas escolas de instrucção primaria. 
Pernambuco: [s. n.], 186-. 
186- - 
ALBUQUERQUE, Severino Bezerra de. Geographia geral. [s. l.]: [s. 
n.],186-. 
186- - 
OLIVEIRA, José Joaquim Machado de. Lições de 
Geographia. São Paulo: [s. n.], 186-. 
1860 - 
PEREIRA, Manuel da Silva. Elementos de Geographia e 
astronomia: compendio offerecido e dedicado ao Illm. Sr. 
Dr. Abílio Cezar Borges. Bahia: Typographia Poggeti de 
Catilina & Cia., 1860. 228 p. 
 
 
 
1860 1871 
ESPÍNDOLA, Thomaz do Bonfim. Geographia physica, 
politica, histórica e administrativa da província de 
Alagoas, offerecida ao Exm. Sr. Dr. Pedro Leão Velloso, 
presidente da mesma província. Maceió: [s. n.], 1860. 33 
p. e mais fls de mappas. 
ESPINDOLA, Thomaz do Bom-Fim. Geographia alagoana ou 
descripção phyisica, politica e historica da provincia das Alagoas. 
2. ed. muito augmentada e cuidadosamente correcta. Maceió: 
Typographia do Liberal, 1871. 483 p. 
1860 
1869 
1875 
1880 
1885 
1902 
MENEZES, Estácio de Sá [pseud. de Joaquim Caetano 
Fernandes Pinheiro]. Lições elementares de Geographia, 
segundo o methode Gaultier. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 
1860. 283 p. 
MENEZES, Estácio de Sá [Pseud. de Joaquim Caetano 
Fernandes Pinheiro]. Lições elementares de Geographia, 
segundo o methode Gaultier. 2. ed. Rio de Janeiro: B. L. 
Garnier, 1869. 287 p. 
MENEZES, Estácio de Sá [Pseud. de Joaquim Caetano 
Fernandes Pinheiro]. Lições elementares de Geographia, 
segundo o methode Gaultier. 3. ed. Rev. e acres. por Luiz 
Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior. Rio de Janeiro: B. L. 
Garnier, 1875. 287 p. 
MENEZES, Estácio de Sá [Pseud. de Joaquim Caetano 
Fernandes Pinheiro]. Lições elementares de Geographia 
segundo o methodo Gaultier. 4. ed. Rev. e acres. por Luiz 
Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior. Rio de Janeiro: B. L. 
Garnier, 1880. 291 p. 
MENEZES, Estacio de Sá [Pseud. de Joaquim Caetano Fernandes 
Pinheiro]. Lições elementares de Geographia segundo o methodo 
Gaultier. 5. ed. Rev. e acres. por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro 
Junior. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1885. 332 p. 
MENEZES, Estácio de Sá [Pseud. de Joaquim Caetano Fernandes 
Pinheiro]. Lições elementares de Geographia segundo o methodo 
Gaultier. Augmentada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior. Rio 
de Janeiro: B. L. Garnier, 1902. 332 p. 
1861 - MOURE, J. G. Amedeo; MALTE-BRUN. Tratado de 
Geographia elementar, physica, histórica, eclesiástica e 
politica do imperio do Brasil. Paris: Aillaud, Monlon & Cia, 
1861. 
1862 - 
OLIVEIRA, Brigadeiro José Joaquim Machado de. Geographia da 
provincia de S. Paulo, adaptada á lição das escolas e offerecida á 
assembléa legislativa provincial. São Paulo: Impressão da Província 
de São Paulo; Typ. Imparcial de J. R. Azevedo Marques, 1862. 122 p. 
1862 1866 
REGO, Antonio do. Rudimentos de Geographia para uso 
das escolas da instrucção primaria. Maranhão: [s. n.], 
1862. 82 p. 
REGO, Antonio do. Rudimentos de Geographia para uso 
das escolas da instrucção primaria. 2. ed. Maranhão: [s. 
n.], 1866. 85 p. 
1863 
1867 
1870 
1871 
1875 
1882 
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia moderna para uso 
dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II. Rio de Janeiro: Typ. de 
Pinheiro, 1863. 223 p. 
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia 
moderna e cosmographia para uso dos alumnos do 
imperial Collegio de Pedro II. Adoptado pelo conselho 
director da instrucção publica para uso dos alumnos do 
Collegio Pedro II. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1867. 280 p. 
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia 
moderna e cosmographia para uso dos alumnos do 
imperial Collegio de Pedro II. Adoptado pelo conselho 
director da instrucção publica para uso dos alumnos do 
Collegio Pedro II. 3. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1870.  
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia 
moderna e cosmographia para uso dos alumnos do 
imperial Collegio de Pedro II. Adoptado pelo conselho 
director da instrucção publica para uso dos alumnos do 
Collegio Pedro II. 4. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1871.  
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia 
moderna e cosmographia para uso dos alumnos do 
imperial Collegio de Pedro II. Adoptado pelo conselho 
director da instrucção publica para uso dos alumnos do 
Collegio Pedro II. 5. ed. Rio de Janeiro: Typographia do 
Apóstolo, 1875. 260 p. 
ABREU, Pedro José de. Elementos de Geographia 
moderna e cosmographia para uso dos alumnos do 
imperial Collegio de Pedro II. Adoptado pelo conselho 
director da instrucção publica para uso dos alumnos do 
Collegio Pedro II. 7. ed. Rio de Janeiro: Typographia do 
Apóstolo, 1882. 260 p. 
1863 
1868 
1872 
BERLINCK, Eudoro Brazileiro. Compendio de Geographia da 
Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 
1877 
1881 
Typographia Deutsche-Zeitung, 1863. 54 p. 
BERLINCK, Eudoro Brazileiro. Compendio de Geographia da 
Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto Alegre: 
Typographia O Rio Grande, 1868. 54 p. 
BERLINCK, Eudoro Brazileiro. Compendio de Geographia da 
Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. 3. ed. Porto Alegre: J. 
Alves Editor, 1872. 103 p. 
BERLINCK, Eudoro Brazileiro. Compendio de Geographia da 
Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. 4. ed. Porto Alegre: 
Typographia Perseverança, 1877. 103 p. 
BERLINCK, Eudoro Brazileiro [BERLINK]. Compendio de Geographia 
da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. 5. ed. Porto Alegre: 
J. Alves Editor, 1881. 104 p. 
1863 - 
BORGES, Abílio Cezar (Barão de Macahubas). Epitome de Geographia 
physica para uso dos alumnos da classe elementar da mesma 
sciencia no gymnasio bahiano. Bahia: Camillo de Lellis Masson, 1863. 
58 p. 
1863 - 
RUBIM, Joaquim Frederico Kiappe da Costa.  Lições históricas e 
geographicas do Brasil, extraídas dos melhores autores. Rio de 
Janeiro: Typ. de Pinheiro, 1863. 86 p. 
1863 
(8. ed.) 
1879 
FREITAS, Joaquim Pedro Corrêa. Noções de Geographia e de 
Historia do Brazil para uso das escolas da instrucção primaria da 
província do Pará. 8. ed. corr. e aum. Pará: [s. n.], 1863. 100 p. 
FREITAS, Joaquim Pedro Corrêa. Noções de Geographia e de 
Historia do Brazil para uso das escolas da instrucção primaria da 
província do Pará. Pará: [s. n.], 1879. 100 p. 
1864 - 
SOUZA, Thomas Pompeu. Lições de Geographia geral. Rio de 
Janeiro: Imprensa Oficial, 1864. 
1865 - 
CASTRO, Eduardo de Sá Pereira de. Postillas de Geographia 
astronómica. Rio de Janeiro: Typographia Episcopal de Antonio 
Gonçalves Guimarães & Cia., 1865. 91 p. 
1865 
(8. ed.) 
- 
MONTEVERDE, Emilio Achilles. Manual encyclopedico para uzo das 
escolas d’instrucção primaria. Approvado pelo Conselho Geral 
D’Instrucção Publica. 8. ed. Lisboa: Imprensa Nacional, 1865. 702 p. 
1869 1874 
PINTO, Alfredo Moreira. Elementos de Geographia moderna. Rio de 
Janeiro: [s. n.], 1869. 
PINTO, Alfredo Moreira. Elementos de Geographia 
moderna. 2. ed. consideravelmente augmentada. Rio de 
Janeiro: [s. n.], 1874. 
187-[?] - 
FERREIRA, Gustavo Adolpho Ramos. Compendio de Geographia. [s. 
l.]: [s. n.], 187-[?]. 
187- 1880 
BITTENCOURT, José Correia de Mello. Elementos de 
Geographia physica, contendo a descripção especial de 
cada paiz e organisados segundo o actual programma 
de exames geraes da instrucção publica. Rio de Janeiro: 
[s. n.], 187-. 128 p. 
BITTENCOURT, José Correia de Mello. Elementos de Geographia 
physica, contendo a descripção especial de cada paiz e 
organisados segundo o actual programma de exames geraes da 
instrucção publica. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1880. 128 p. 
187- - 
SANTOS, Presalindo Lery. Curso elementar de 
Geographia moderna. Rio de Janeiro: [s. n.], 187-. 
187- - 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Geographia 
elementar, ornada com gravuras: obra approvada pelo 
conselho da instrucção publica da corte e mandada admittir 
pelo ministério da guerra, na escola militar. Rio de Janeiro: 
[s. n.], 187-. 
1870 - 
SILVA, Vasco de Araujo e. Noções de Geographia. Porto 
Alegre: [s. n.], 1870. 
1870 - 
LACERDA, Joaquim Maria de. Tratado elementar de Geographia 
physica, politica e astronômica: composto para uso das escolas 
brasileiras. Nov. Edição. Rio de Janeiro: Livraria de B. L. Garnier, 1870. 
352 p. 
1870 
1880 
1884 
1887 
1895 
LACERDA, Joaquim Maria de. Elementos de Geographia 
physica, politica e astronomica com estampas coloridas 
para as classes inferiores da instrucção segundaria. Rio 
de Janeiro: H. Laemmert & Cia., 1870. 256 p.  
LACERDA, Joaquim Maria de. Elementos de Geographia physica, 
politica e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras. 
2. ed. Paris: Typ. Pillet et Dumoulin, 1880. 256 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Elementos de Geographia physica, 
politica, e astronômica.  3. ed. Rio de Janeiro: Typographia do 
Commercio, 1884. 264 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Elementos de Geographia physica, 
politica, commercial e astronomica compostos para uso das escolas 
brasileiras. 4. ed. Melhorada pelo autor e por Luiz Leopoldo Fernandes 
Pinheiro. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1887. 264 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Elementos de Geographia 
physica, politica e astronomica com estampas coloridas 
para as classes inferiores da instrucção segundaria. 
Contendo 12 cartas geographicas. 5. ed. Rio de Janeiro: B. 
L. Garnier, 1895. 278 p. 
1871 - 
SÁ, Luiz de França Almeida e. Compendio de Geographia da 
provincia do Paraná: adaptado ao ensino da mocidade brazileira, e 
acompanhado de cento e trinta notas instructivas. Rio de Janeiro: Typ. 
Universal de E. & H. Laemmert, 1871. 88 p. 
1873 - 
LEITE, Dr. Tobias Rabello. Lições de Geographia do Brasil. Rio de 
Janeiro: [s. n.], 1873. 
1873 - LIMA, Arcelino de Queiroz. Compendio elementar de 
Geographia geral e especial do Brazil. Ceará: [s. n.], 
1873. 
1873 - 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Noções de corographia do Brazil. Rio 
de Janeiro: Typ. Franco-Americana, 1873. 233 p. 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Noções de corographia do 
Brazil. Rio de Janeiro: [s. n.], 1873. Tomo I: 223; Tomo II: 
424 p. 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Noções de corographia do 
Brazil. Tradução inglesa por H. L. Sage. Leipzig: F. A. 
Brocklaus, 1873. 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Notions de chorographie 
du Brésil. Tradução francesa por J. F. Halbout. Leipzig: F. 
A. Brocklaus,  1873. 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Geographische 
Beschreibung Brasiliens von Joaquim Manoel de 
Macedo. Uebersetzt von M. P. Alves Nogueira und Wilhelm 
Theodro v. Schiefler. Leipzig: F. A. Brocklaus, 1873. 535 p. 
1873 - 
MAURY, Tenente. Geographia physica. Tradução de L. A. da Costa 
Aguiar. Rio de Janeiro; Paris: B. L. Garnier, 1873. 200 p. 
1874 1876 
MARQUEZ, Pilippe Pinto. Compendio de Geographia para 
uso das escolas da instrucção primaria, seguido de 
brevissimas noções do cosmographia, physica e 
historia natural. Pará: Livraria Clássica, 1874. 134 p. 
MARQUEZ, Pilippe Pinto. Compendio de Geographia para 
uso das escolas da instrucção primaria, seguido de 
brevissimas noções do cosmographia, physica e 
historia natural. 2. ed. Pará: Livraria Clássica, 1876. 132 p. 
1875 1878 
PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes. Elementos de 
Geographia universal, geral do Brazil e especial de 
Pernambuco, para a infância escolar da provincia de 
Pernambuco, de conformidade com o programma da lei 
n. 1143, art. 33, § 7º, que rege a instrução na província. 
Recife: Typographia Mercantil, 1875. 173 p.  
PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes. Elementos de 
Geographia universal, geral do Brazil e especial de 
Pernambuco, para a infância escolar da provincia de 
Pernambuco, de conformidade com o programma da lei 
n. 1143, art. 33, § 7º, que rege a instrução na província. 
Recife: [s. n.], 1878. 106 p.  
1876 1884 
PEREIRA, Jeronymo Sodré. Compendio de Geographia 
elementar, especialmente do imperio do Brazil. Bahia: 
Imprensa Econômica, 1876.  
PEREIRA, Jeronymo Sodré. Compendio de Geographia elementar: 
especialmente do Brazil. 2. ed. Bahia: Lopes da Silva & Amaral, 1884. 
420 p. 
 
1876 - 
ZALUAR, Augusto Emilio. Lições das cousas inanimadas 
e animadas: guia dos professores e das mães que 
quizerem instruir-se para communicar a seus filhos uma 
grande somma de conhecimentos praticos, principiando a 
explicar-lhes, logo que começam a balbuciar as primeiras 
palavras, o que é e para que serve tudo o que os rodeia. 
Com vinhetas e desenhos. Rio de Janeiro: [s. n.], 1876. 
1877 - 
LOPES, Luiza Carolina de Araujo. Lições de Geographia particular do 
Brasil. Rio de Janeiro: [s. n.], 1877. 
1877 - 
PONTO de Geographia segundo o programa para os exames gerais 
em 1877 por um professor de Geographia. Rio de Janeiro: 
Typographia J. G. de Azevedo, 1877. 32 p. 
1877 - 
MACEDO, Joaquim Manoel de. Lições de Corographia do 
Brazil para uso dos alumnos do imperial Collégio de 
Pedro II. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1877. 294 p. 
1879 - 
PINTO, Colimério Leite de Faria. Compêndio de Geographia do 
Brasil
18
. Compilações. 1879. Mimeo. 
188-[?] - 
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza (Filho). Lições do 
Geographia geral. Na opinião de um competente é o 
melhor trabalho sobre o assumpto, escripto na língua 
portugueza. [S. l.]: [s. n.], 188-[?] 
188- 
1902 
1904 
1920 
F. I. C. [Frere Ignace Chaput]. Terra illustrada. Geographia universal: 
physica, etnographica, politica, economica dos cinco partes do mundo. 
Tradução e adaptação por Eugenio de Barros Raja Gabaglia. Rio de 
Janeiro: Livraria Garnier, 188-. 
F. I. C. [Frere Ignace Chaput]. A Terra illustrada. Geographia universal, 
physica, ethnographica, política e econômica das cinco... Tradução e 
adaptação por Eugenio de Barros Raja Gabaglia. Rio de Janeiro: 
Garnier, 1902. 651 p.  
F. I. C. [Frere Ignace Chaput]. A Terra illustrada. Geographia universal, 
physica, ethnographica, política e econômica das cinco... Tradução e 
adaptação por Eugenio de Barros Raja Gabaglia. Rio de Janeiro: 
Garnier, 1904. 651 p. 
F. I. C. [Frere Ignace Chaput].  A Terra illustrada. Geographia universal 
physica, ethnographica, politica e economica das cincos partes do 
Mundo. Tradução e adaptação por Eugenio de Barros Raja Gabaglia. 
Rio de Janeiro: Garnier, 1920. 644 p. 
188- 
(2. ed.) 
- 
PINTO, Alfredo Moreira. Noções de Geographia 
astronómica. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 188-. 
188- - LEAL, Domingos Theophilo de Carvalho. Compendio de noções de 
                                                 
18
 Não foi editado, segundo Sacramento Blake.  
Geographia. Manaus: [s. n.], 188-. 
188- - 
OLIVEIRA, L. C. de. Geographia. Bahia: Tipografia de Affonso Ramos & 
Cia., 188-. 
188- - 
LOPES, João Baptista Pires de Castro. Geographia patria 
infantil. Escripta em verso para uso das classes primarias. 
[S. l.]: [s. n.], 188-. 
188- - 
PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes. Compendio de 
Geographia da província de Pernambuco. 188-. Mimeo. 
Inédito. 
1880 1882 
GEIKIE, Archibald. Geographia Physica. Trad. e adapt. de Carlos 
Jansen. Rio de Janeiro; São Paulo: Laemmert & Cia, 1880. (Col. 
Bibliotheca do ensino intuitivo. Primeira serie de sciencias naturaes. 
Opúsculos elementares, adaptados ao portuguez; 1). 
GEIKIE, Archibald. Geographia Physica. 2. ed. correta e 
melhorada. Trad. e adapt. de Carlos Jansen. Rio de Janeiro; 
São Paulo: Laemmert & Cia, 1882. (Col. Bibliotheca do 
ensino intuitivo. Primeira serie de sciencias naturaes. 
Opúsculos elementares, adaptados ao portuguez; 1). 
                                                                                                                                                1881 
RIBEIRO, Hilário. Geographia do Rio Grande do Sul. Porto 
Alegre: Ed. Carlos Pinto & Cia., 1880. 50 p. 
RIBEIRO, Hilário. Geographia do Rio Grande do Sul. 2. 
ed. Porto Alegre: Typografia da Livraria Americana, 1881. 58 
p. 
1880 
(2. ed.) 
1884 
1887 
1890 
1895 
1898 
1908 
1910 
1913 
1914 
1915 
1917 
1918 
1924 
1928 
1930 
1932 
1934 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. 2. ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 
1880. 96 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. 3. ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 
1884. 96 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. 4. ed. Melhorada com seis cartas 
coloridas, das cinco partes do mundo, sendo a ultima melhorada com 
seis cartas, das cinco partes do mundo, sendo a ultima um lindo mappa 
do Brazil. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1887. 97 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. 5. ed. Corrigida e actualizada por Luiz 
Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1890. 97 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da 
infancia para uso das escolas primarias. 6. ed. Feita por 
L. L. Pinheiro. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1895. 108 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. 9. ed. Corrigida e actualizada por Luiz 
Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1898. 97 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da Infância: 
composta para uso das escolas primárias. Rio de Janeiro: Francisco 
  
Alves & Cia., 1908. 126 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves & Cia., 1910. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1913. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1914. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1915. 116 p. 
 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1917. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Corrigida e actualizada por João 
Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1918. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Enriquecida com 8 bellas cartas 
coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil 
Corrigida e actualizada por João Ribeiro. Rio de Janeiro: Livraria 
Francisco Alves, 1924. 116 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da Infância: 
composta para uso das Escolas Primárias. Curso Primeiro. Rio de 
Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1928. p. 128. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 
1930. 128 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Enriquecida com 6 bellas cartas 
coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil. 
Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio 
de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1932. 128 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da infancia: 
composta para uso das escolas. Enriquecida com 6 bellas cartas 
coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil. 
Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio 
de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1934. 128 p. 
1880 - 
ZALUAR, Augusto Emilio. Noções elementares de 
Geographia, compiladas para uso das escolas primarias. 
É escripto de accôrdo com os pontos de Geographia, que 
são hoje preparatório para a matricula do primeiro anno do 
Collegio de Pedro II. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de N. 
Alves, 1880. 123 p. 
1880 - 
UM PROFESSOR. Elementos de Geographia Physica. Compilado 
segundo os melhores autores, por um professor. Rio de Janeiro: 
Typographia de Pinheiro & Cia., 1880. 215 p. 
1881 
1882 
1897 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Elementos de 
cosmographia, organisados, etc. Porto Alegre: [s. n.], 
1881. 96 p. 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Elementos de 
cosmographia, organisados, etc. Porto Alegre: [s. n.], 
1882. 108 p. 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Elementos de cosmographia. 
3. ed. Rio de Janeiro: Cunha, 1897. 160 p. 
1881 1883 
VEIGA, Fernando Augusto da Silva. Curso regimental ou 
livro do soldado, organizado, etc. Segundo anno. 
Comprehende a grammatica, arithmetica, geometria, 
Geographia geral, e noticia abreviada do imperio do Brazil e 
de sua constituição. Rio de Janeiro: [s. n.], 1881. 240 p. 
VEIGA, Fernando Augusto da Silva. Curso regimental ou 
livro do soldado, organizado, etc. Segundo anno. 
Comprehende a grammatica, arithmetica, geometria, 
Geographia geral, e noticia abreviada do imperio do Brazil e 
de sua constituição. 2. ed. Rio de Janeiro: [s. n.], 1883. 240 
p. 
1881 - 
PINTO, Alfredo Moreira. Noções de Geographia universal. 
Rio de Janeiro: [s. n.], 1881.  
1881 - 
PINTO, Alfredo Moreira. Noções elementares de 
Geographia do Brasil. Rio de Janeiro: [s. n.], 1881.  
1881 1893 
PINTO, Alfredo Moreira. Noções elementares de 
corographia do Brazil, para uso das escolas primarias. 
Rio de Janeiro: [s. n.], 1881.  
PINTO, Alfredo Moreira. Chorographia do Brasil. Rudimentos. Para as 
escolas primarias. 2. ed. ornada de tres cartas. Rio de Janeiro: Livraria 
Clássica de Alves e Cia., 1893. 
1881 
1891 
1895 
PINTO, Alfredo Moreira. Rudimentos de corographia do Brazil. Para 
uso das escolas primarias. Rio de Janeiro; Paris: Alves & C.; Guillard, 
Aillaud & Cia, 1881. 16 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Rudimentos de Chorographia do Brazil. 2. 
ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de Alves, 1891. 16 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Rudimentos de Chorographia do Brazil. 3. 
ed. Rio de Janeiro; Paris: Alves & C.; Guillard, Aillaud & Cia, 1895. 16 p. 
1882[?] - 
D’SÁ, Lemos. Elementos de Geographia. [s. l.]: [s. n.], 
1882[?]. 
1882 - SILVA, Viriato Augusto da. Corographia do Brasil. Lisboa: [s. n.], 1882. 
1883 - 
CARVALHO, Joaquim José de. Breves noções de 
Geographia e corographia do Brazil. Formuladas de 
accordo com o novo programma de exames geraes de 
preparatorios. Rio de Janeiro: [s. n.], 1883. 127 p. 
1883 
1885 
1889 
190-[?] 
PINTO, Alfredo Moreira. Geographia das províncias do Brazil. Rio de 
Janeiro: Livraria Nicolau Alves; Alves & Cia, 1883. 254 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Geographia das provincias do Brazil. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Livraria Nicolau Alves; Alves & Cia, 1885. 254 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Geographia das provincias do Brazil. 3. ed. 
Rio de Janeiro: Livraria clássica de Alves & Cia., 1889. 288 p. 
FREIRE [da Silva], Olavo. Chorographia do Brasil (curso 
superior)19. 4. edição, muito augmentada. Adoptada na 
escola normal da capital federal, no gymnasio nacional, na 
escola normal do estado do Rio de Janeiro, na de S. Paulo, 
etc. [S. l.]: [s. n.], 190-[?]. 
1883 - 
FRAZÃO, Manoel José Pereira. Noções de Geographia do 
Brazil: para uso da mocidade brazileira. Rio de Janeiro: Typ. 
Esperança de J. d'Aguiar & C., 1883. 198 p. 
1883 - 
CARVALHO FILHO, Joaquim J. Breves licções de 
Geographia e corographia do Brasil. [S. l.]: [s. n.], 1883. 
1883 - 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Corografia do 
Brasil – Pontos escritos de Geographia. Porto Alegre: 
Editor Rodolpho José Machado, 1883. 78 p.  
1884 - 
AZURARA, João José Pereira de. Pequena Geographia do Brazil. 
Methodo intuitivo para uso dos alumnos do curso primário do Externato 
Azurara. Santos: Typ. do Diário de Santos, 1884. 99 p. 
1884 - 
VASCONCELLOS, Ezequiel Benigno de. Pontos de 
Geographia do Brazil segundo o novo programma para 
os exames geraes de preparatórios. Prova escripta. Rio 
de Janeiro: [s. n.], 1884. 
1884 - 
NERY, Raymundo Agostinho. Noções geraes de Geographia 
universal, contendo particularmente a Geographia do imperio do 
Brazil e a da provincia do Amazonas acompanhadas de 17 figuras 
no texto. Compendiadas por Raymundo A. Nery. Paris: Guillard, 
Ailtaud et Cia., 1884.  
1884 
(3. ed.) 
1887 
1892 
1895 
1901 
1902 
1908 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de 
Geographia physica, politica, histórica, commercial e 
astronomica, composto para uso das escolas 
brazileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: H. Laemmert & Cia., 
1884. 424 p.  
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de 
Geographia physica, politica, histórica, commercial e 
astronomica, composto para uso das escolas 
                                                 
19
 Antigamente publicada com o titulo de Geographia das Províncias do Brasil, contendo uma carta 
geographica de cada Estado do Brasil desenhada por Olavo Freire, texto pelo Dr. Moreira Pinto, obra 
premiada pelo juri de uma exposição pedagógica. 
1910 
1911 
1912 
1914 
1915 
1918 
 
brazileiras. 5. ed. Rev. por Luiz Leopoldo Fernandes 
Pinheiro.  Rio de Janeiro: H. Laemmert & Cia., 1887. 424 p.  
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, politica, commercial e astronomica: composto para uso das 
escolas brazileiras. 5. ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1892. 432 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de 
Geographia physica, politica, histórica, commercial e 
astronomica, composto para uso das escolas 
brazileiras. 6. ed. Rev. por Luiz Leopoldo Fernandes 
Pinheiro.  Rio de Janeiro: Garnier, 1895. 420 p.  
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política, commercial e astronomica: composto para uso das 
escolas brazileiras. 7. ed. Rio de Janeiro: Garnier, 1898. 420 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, politica, histórica, commercial e astronomica: composto 
para uso das escolas brazileiras. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1901. 432 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, politica, histórica, commercial e astronomica: composto 
para uso das escolas brazileiras. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1902. 432 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, politica, histórica, commercial e astronomica: composto 
para uso das escolas brazileiras. Melhorada pelo Pe. José Severiano de 
Rezende. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1908. 532 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política e astronomica: composto para uso das escolas 
brazileiras. Edição revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo 
Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1910. 554 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política e astronomica: composto para uso das escolas 
brazileiras. Edição revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo 
Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1911. 554 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política e astronomica: composto para uso das escolas 
brazileiras. Edição revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo 
Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1912. 556 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política e astronomica: composto para uso das escolas 
brazileiras. Edição revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo 
Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1914. 556 
p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso methodico de Geographia 
physica, política e astronomica: composto para uso das escolas 
brazileiras. Edição revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo 
Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves& Cia., 
1915. 556 p. 
LACERDA, Joaquim Maria de. Curso Methodico de Geographia 
Physica, Política, Historia, Commercial e Astronomica: composto 
para uso das escolas brazileiras. Edição revista e muito melhorada por 
Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco 
Alves, 1918. 464 p. 
1884 - 
SANCTOS, Affonso José dos. Elementos de Cosmographia. Rio de 
Janeiro; Paris: Garnier, 1884. 178 p. 
1885 - 
CARVALHO, Joaquim José de. Noções elementares de 
Geographia do Brasil. Para uso dos alunnos do curso 
primario do colegio Amorim Carvalho e das escolas do corpo 
militar de policia da corte. Rio de Janeiro: [s. n.], 1885. 74 p. 
1885 - 
BURGAIN, José Julio Augusto. Geographia patria elementar. Rio de 
Janeiro: B. L. Garnier, 1885. 110 p. 
1885 - 
PALHA, José Egydio Garcez; LAMARE, José Victor de. Livro do 
aprendiz marinheiro. Mandado confeccionar por ordem, etc., de 
accordo com o art. 15 do regulamento que baixou com o decreto n. 9371 
de 14 de fevereiro de 1885. O primeiro volume sob o título Ensino 
elementar contam: Leitura; Grammatica portugueza; Doutrina cristã; 
Desenho linear; Mappas regimentaes; Noções de Geographia; 
Elementos de arithmetica e principios de systema métrico decimal. O 
segundo, sob o titulo Ensino profissional, abrange: Apparelhos e 
nomenclatura do todas as peças de architectura dos navios; 
Nomenclatura das armas de fogo,comprehendendo artilharia ou canhões 
Whitworth, Armstrong, Nordenfeldt e Hotchkiss; armas portáteis ou 
carabinas Westley, Richard e Kropatscbeck e revolver Nagant; carretas 
da compressor de laminas e de compressor hydraulico; Instrucções para 
o exercício de infantaria; Rosas dos ventos e rumos de agulha; Noções 
sobre sondas; Nomenclatura das machinas á vapor. Este livro é 
intercallado de figuras no texto; é um compendio completo para o 
marinheiro ser instruido. Rio de Janeiro: [s. n.], 1885. 246 p. (v. 1); 1889. 
259 p. (v. 2). 
1886 
1890 
1896 
1901 
1906 
VILLA-LOBOS, Raul. Compendio elementar de 
chorographia do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia 
Mont’Alverne, 1886. 168 p. 165 p. 
VILLA-LOBOS, Raul. Compendio elementar de 
chorographia do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Typographia 
Mont’Alverne, 1890. 168 p.  
VILLA-LOBOS, Raul. Compendio elementar de 
chorographia do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: 1896. 244 p.  
VILLA-LOBOS, Raul. Chorographia do Brasil: resumo didactico. 5. ed. 
Corr. e aumentada. Rio de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1901. 234 
p. 
VILLA-LOBOS, Raul. Chorographia do Brasil: resumo didactico. 6. ed. 
Rio de Janeiro: Laemmert & C. Editores, 1906. 234 p. 
1886 - 
CALKINS, N. A. Primeiras lições de coisas. Traduzido e 
Adaptado por Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Imprensa 
Nacional, 1886. 616 p. 
1887 - 
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1887 - 
LACERDA, Joaquim Maria de. Resumo de chorographia 
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1887 - 
CUNHA, Raymundo Cyriaco da. Pequena Geographia da 
provincia do Pará. Pará: Typographia do Diário de Belém, 
1887. 85 p.  
1887 
1893 
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PINTO, Alfredo Moreira. Curso de Geographia geral. Rio de Janeiro: 
Livraria Classica de Alves & C., 1887. 222 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Curso de Geographia geral. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Livraria Classica de Alves & C., 1893. 256 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Geographia geral: curso superior. 6. ed. Rio de 
Janeiro: Livraria Classica de Alves & C., 1906. 316 p. 
1888 - 
BASTOS, Lindolpho de Siqueira. Noções elementares de Geographia 
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1888 - 
CAVALCANTI, José Pompeu de A. Chorographia da provincia do 
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1888 - 
ENÉIAS, João de Simas. Epítome da Geographia do Brazil. Destinado 
ao ensino primário. Rio de janeiro: [s. n.], 1888. 99 p. 
1889 - 
NOGUEIRA, Manoel Tomaz Alves. Compendio de Geographia e 
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189- - 
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189- - 
PINTO, Alfredo Moreira. Pontos de Geographia, 
organisados, etc. Rio de Janeiro: [s. n.], 189-.  
189-[?] - 
CARVALHO, Goeth Galvão de. Licções elementares de Geographia. 
Especialmente do Amazonas. [S. l.]: [s. n.], 189-[?]. 
189-[?] - 
CARVALHO, Goeth Galvão de. Geographia do Amazonas. [S. l.]: [s. 
n.], 189-[?]. 
 
 
 
1890[?] 1894 
VILLA-LOBOS, Raul. Noções de cosmographia: ou rudimentos desta 
sciencia ao alcance de todos e indispensáveis aos candidatos desta 
disciplina aos exames geraes de preparatorios. Rio de Janeiro: 
Laemmert & C. Editores, 1890[?]. 
VILLA-LOBOS, Raul. Noções de cosmographia. Com 
gravuras. 2. ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1894.  
1891 - ESPÍRITO SANTO, E. R. T. Noções geographicas e historicas do 
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(6. ed.) para uso das Escolas Primárias do Estado de Pernambuco. 6. ed. 
Recife: Typographia d’A Província, 1891. 48 p. 
1892 
1893 
1895 
1896 
1904 
1907 
1909 
AMARAL, Tancredo. [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas 
primarias. Adoptado unanimemente pelo Conselho superior 
da instrucção publica de S. Paulo, e adoptado nas escolas. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1892. 78 p.  
AMARAL, Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias. 2. 
ed. cor. e aum. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1893. 213 p. 
AMARAL, Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias. 4. 
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1895. 213 p. 
AMARAL, Tancredo. [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas 
primarias. Adoptado unanimemente pelo Conselho superior 
da instrucção publica de S. Paulo, e adoptado nas escolas. 
5. ed. revista e augmentada com 28 artigos. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1896. 213 p.  
AMARAL, Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias. 8. 
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1904. 213 p. 
AMARAL, Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias. 10. 
ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1907. 213 p. 
AMARAL, Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho]. 
Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias. 11. 
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1909. 210 p. 
1892 
1895 
1900 
190- 
NOVAES, Carlos. Geographia primária: composto para uso das 
Escolas Primárias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1892. 164 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia primária: composto para uso das 
Escolas Primárias. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1895. 162 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia primária: composto para uso das 
Escolas Primárias. 6. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1900. 164 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia primária: composto para uso das 
Escolas Primárias. 12. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 190-. 164 p. 
1892 
1898 
1911 
REIS, Antônio Alexandre Borges dos. Chorografia e historia do Brasil. 
Especialmente do Estado da Bahia. Bahia: Wilcke, Picard & C., 1892. 
REIS, Antônio Alexandre Borges dos. Chorografia e historia do Brasil. 
Especialmente do Estado da Bahia. 2. ed. Bahia: Wilcke, Picard & C., 
1898. 
 
REIS, Antônio Alexandre Borges dos. Chorografia e historia do Brasil. 
Especialmente do Estado da Bahia. Approvada pelo Conselho Superior 
de Ensino do mesmo Estado. 3. ed. Bahia: Typographia Reis e Cia., 
1911. 415 p. 
1892 1895 PINTO, Alfredo Moreira. Chorographia do Brasil. Para uso dos 
(4. ed.) 1900 
1909 
gymnasios e escolas normaes. 4. ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de 
Alves & Cia., 1892. 227 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Chorographia do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro; 
Paris: Alves & C.; Guillard, Aillaud & Cia, 1895. 272 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Chorographia do Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1900. 272 p. 
PINTO, Alfredo Moreira. Chorographia do Brasil. Para uso dos 
gymnasios e escolas normaes. 10. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco 
Alves, 1909. 272 p. 
1893 - 
MELO, Carlos. Elementos de Geographia geral. [S. l.]: [s. 
n.], 1893. 
1893 
(2. ed.) 
- 
COURTURIER, Monsenhor C. Geographia-Atlas. Contendo oito 
mappas seguida d’um ligeiro esboço chronologico da historia do Brazil e 
de algumas noções de cosmographia, dedicado á infância... 2. ed. muito 
melhorada pelo Dr. Moreira Pinto. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de 
Alves e Cia., 1893. 
1894 - 
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza (Filho). Lições de 
Geographia do Ceará. Fortaleza: [s. n.], 1894.  
1894 1898 
CUNHA, Raimundo Ciríaco Alves da. Geographia especial do Pará. 
Approvada para uso das escolas primarias. Pará: Typographia e 
Encadernação da V. Travessa, 1894. 89 p. 
CUNHA, Raimundo Ciríaco Alves da. Geographia especial 
do Pará. 2. ed. Pará: Typographia e Encadernação da V. 
Travessa, 1898. 89 p. 
1894 
(3. ed.) 
- 
PINTO, Alfredo Moreira. Elementos de cosmographia. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Livraria Clássica de Alves, 1894. 90 p. 
1895 1907 
ARAUJO, Francisco Lentz. Geographia do estado de Minas Geraes 
seguida de noções de historia do mesmo estado. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1895. 78 p. 
ARAUJO, Francisco Lentz. Geographia do estado de 
Minas Geraes. Rio de Janeiro: Editores Paes & Cia., 1907. 
1895 
(3. ed.) 
- 
ODILON, Odorico Octavio. Elementos de Geographia 
moderna. 3. ed. Bahia: [s. n.], 1895. 117 p. 
1895 - 
RAMOS, Antonio Manuel dos. Compendio de Geographia. Porto: 
Livraria Portuense de Lopes, 1895. 324 p. 
1896 
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do Brasil. 5. ed. Ampliada e mais correcta, segundo o programma do 
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1896. 232 p. 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Elementos de chorographia 
do Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro; Paris: Francisco Alves; Aillaud, Alves & 
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1897 1898 
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geral: Geographia especial. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro 
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SALLABERRY, Carlos Jorge. Licções de Geographia 
Geral. 2ª parte: Geographia Especial. Rio de Janeiro: 
Livraria Cruz Coutinho, 1898. 413 p. 
1898 
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Pelotas: Carlos Pinto, 1898. 
1898 
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MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Geographia do 
Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Liv. Franco & 
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MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Geographia do 
Estado do Rio Grande do Sul. 4. Ed. Porto Alegre: Liv. 
Globo, 1909. 103 p. 
MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo]. Geographia do Estado do Rio 
Grande do Sul. Approvada pelo Conselho Escolar e Adoptada Para as 
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1898 - 
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ARAÚJO, Elysio de. Geographia elementar. Rio de Janeiro: Francisco 
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ARAÚJO, Elysio de. Geographia elementar. Approvada unanimamente 
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Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1910. 140 p. 
ARAÚJO, Elysio de. Geographia elementar. Rio de Janeiro: Francisco 
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ARAUJO, Elysio. Geographia elementar. 7. ed. Rio de Janeiro: Livraria 
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1901 
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THIRÉ, Arthur. Geographia elementar. Compediada para uso das 
escolas primarias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1901. 164 p. 
THIRÉ, Arthur. Geographia elementar. Compediada para uso das 
escolas primarias. 10. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1909. 
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THIRÉ, Arthur. Geographia elementar. Compediada para uso das 
escolas primarias. 17. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1925. 
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SCROSOPPI, Horacio. Curso elementar de Geographia Geral. Rio de 
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SCROSOPPI, Horacio. Curso elementar de Geographia Geral. 5. ed. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves & Cia., 1912. 396 p. 
 
SCROSOPPI, Horacio. Curso elementar de Geographia geral. 8. ed. 
Rio de Janeiro: Paulo Azevedo, 1922. 555 p. 
SCROSOPPI, Horacio. Curso elementar de Geographia geral. 9. ed. 
Rio de Janeiro; São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1924. 100 p. 
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PINTO, Alfredo Moreira. Geographia Geral: curso superior. 6. ed. 
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Janeiro: Livraria Classica de Francisco Alves, 1906. 316 p. 
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Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro). Approvada e 
adaptada pelo Conselho Superior de Instrucção. Ed. 
consideravelmente melhorada contendo minucioso mappa 
de Olavo Freire. Rio de Janeiro: B. de Aguila, 1907. 414 p. 
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F.T.D. Novo manual de Geographia: para uso das escolas primarias. 
Curso elementar. São Paulo: F.T.D., 1907. 48 p. 
1908 
1911 
1917 
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1927 
SCROSOPPI, Horacio. Lições de Chorographia do Brasil. 
Organizadas conforme o programma dos gymnasios. São Paulo: Duprat, 
1908. 450 p. 
SCROSOPPI, Horacio. Lições de Chorographia do Brasil. 
Organizadas conforme o programma dos gymnasios. 2. ed. São Paulo: 
Casa Duprat, 1911. 450 p. 
SCROSOPPI, Horacio. Lições de Chorographia do Brasil. 
Organizadas conforme o programma do Collegio D. Pedro II. 3. ed. São 
Paulo: Casa Duprat, 1917. 456 p. 
SCROSOPPI, Horacio. Lições de Chorographia do Brasil. São Paulo: 
Casa Duprat, 1921. 
SCROSOPPI, Horacio. Lições de Chorographia do Brasil. 
Organizadas conforme o programma do Collegio Pedro II. 5. ed. Rio de 
Janeiro: Francisco Alves, 1927. 450 p. 
1908 
 
1910 
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NOVAES, Carlos. Geographia secundária: organizada segundo o 
Programa dos Gymnasios. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves & 
Cia., 1908. 643 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia secundária. Organizada segundo o 
Programma dos gymnasios, dos lyceus e das escolas normaes. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1910. 643 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia secundária. Organizada segundo o 
programa dos gymnasios. 4. ed. Rio de Janeiro: Liv. Francisco Alves, 
1923. 547 p. 
 
 
NOVAES, Carlos. Geographia secundária. Organizada segundo o 
programma dos Gymnasios, dos Lyceus, e das Escolas Normaes do 
Brasil. 11. ed. revista e actualizada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 
1929. 547 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia secundária. 13. ed. revista e 
actualizada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1931. 547 p. 
1908 
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SAVIO, Themistocles. Curso Elementar de Geographia. Rio de 
Janeiro: Orosco Impressores, 1908. 583 p. 
SAVIO, Themistocles. Curso elementar de Geographia. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Heitor Ribeiro & Cia., 1909. 433 p. 
SAVIO, Themistocles. Curso elementar de Geographia. 3. ed. Rio de 
Janeiro. Francisco Alves e Cia. 1914. 596 p. 
1909 
1910 
1911 
1914 
1916 
1918 
1919 
1925 
 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. De accôrdo com o programma do Gymnasio Nacional. Rio de 
Janeiro: Francisco Alves, 1909. 298 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. De accôrdo com o programma do Gymnasio Nacional. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Francisco Alves, 1910. 298 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. De accôrdo com o programma do Gymnasio Nacional. 3. ed. rev. 
e augmentada. Rio de Janeiro; Paris: Francisco Alves; Aillaud, Alves & 
Cia, 1911. 386 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. De accôrdo com o programma do Gymnasio Nacional. 4. ed. rev. 
e augmentada. Rio de Janeiro; Paris: Francisco Alves; Aillaud, Alves & 
Cia, 1914. 386 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. Compendio de corographia do brasil de accôrdo com o 
programma do Gymnasio Nacional. 5. ed. revista e augmentada. Rio de 
Janeiro; Paris: Francisco Alves; Aillaud, Alves & Cia, 1916. 386 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. De accôrdo com o programma do Gymnasio Nacional. 6. ed. rev. 
e augmentada. Rio de Janeiro; Paris: Francisco Alves, 1918. 386 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compêndio de Corographia do 
Brasil. 7. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919. 386 p. 
BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro. Compendio de corographia do 
Brasil. Compendio de corographia do brasil de accôrdo com o 
programma do Gymnasio Nacional. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 
1925. 386 p. 
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1911 
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LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Noções de Geographia. Curso 
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1935 
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LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Noções de Geographia. Curso 
complementar. I parte. Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria do 
Globo, 1929. 143 p. 
LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Noções de Geographia. Curso 
complementar. I parte. Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria do 
Globo, 1931. 165 p. 
LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Noções de Geographia. Curso 
complementar. I parte. Rio Grande do Sul. 7. ed. Porto Alegre: Livraria 
do Globo, 1935. 165 p. 
LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Noções de Geographia. Curso 
complementar. I parte. Rio Grande do Sul. 8. ed. Porto Alegre: Livraria 
do Globo, 1939. 165 p. 
1911 - 
LIMA, Afonso Guerreiro. Noções de Geographia do Rio Grande do 
Sul, Brasil e globo terrestre. Porto Alegre: Officinas Graphicas da 
Escola de Engenharia, 1911. 124 p. 
1911 1913 
PARANÁ, Sebastião. Estados da República: para estudo nos 
Gymnasios e nas Escolas Normaes. Curitiba: Buzetti Mori & Filhos, 
1911. 487 p. 
PARANÁ, Sebastião. Estados da República: para estudo nos 
Gymnasios e nas Escolas Normaes. 2. ed. Curitiba: Leopoldino Rocha, 
1913. 502 p. 
1912 - 
GEOGRAPHIA - atlas do Brasil e das Cinco Partes do Mundo, 
conforme o “Atlas do Brasil” do Barão Homem de Mello e Dr. F. 
Homem de Mello e os melhores auctores para a “parte geral”. 
Prólogo do Dr. Francisco Cabrita. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1912. 99 p.  
1912 
1923 
1925 
NOVAES, Carlos. Geographia especial ou chorographia do Brazil. 
Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves & Cia., 1912. 
NOVAES, Carlos. Geographia especial ou corographia do Brazil. 5. 
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1923. 328 p. 
NOVAES, Carlos. Geographia especial ou corographia do Brazil. 6. 
ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1925. 330 p. 
1913 
1923 
1927 
1927 
1928 
1930 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. Tomo I. 
Geographia Geral. Prefacio do Dr. Oliveira Lima. Rio de Janeiro: 
Impressões Artísticas/ Empresa Foto-Mecânica do Brasil, 1913. 253 p. 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. Tomo I. 
De acordo com o programa do Colégio Pedro II, de 1923. (livro indicado 
pelo programa). Rio de Janeiro: Empresa Gráphico-Editora, 1923. 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. Tomo I. 
3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1927. 235 p. 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. Volume 
II. Livro adoptado no Collegio Pedro II. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 
1927. p. 239-516 p.  
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. 4. ed. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1928. 512 p. 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Geographia do Brasil. 5. ed. 
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1930. 481 p. 
1913 - 
LEME, Ezequiel de Moraes. Curso de Geographia Geral.  
Pirassununga: Typographia Minerva, 1913. 189 p. 
1913 1924 
F.T.D. Geographia - Atlas: curso superior. Programma do primeiro anno 
do Gymnasio Nacional. São Paulo: F.T.D., 1913. 118 p. 
F.T.D. Geographia - Atlas: curso superior. São Paulo: F.T.D., 1924. 118 
p. 
1914 - 
ALBUQUERQUE FILHO, M. Geographia elementar: para as escolas 
primarias. Recife: Imprensa Industrial, 1914. 233 p. 
1914 - 
F.T.D. Curso Elementar de Geographia: para uso das Escolas 
Primárias. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1914. 48 p. 
1914 - 
F.T.D. Geographia. Curso medio comprehendendo: 1° Chorographia do 
Brazil; 2° Geographia universal. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1914. 
71 p. 
1915[?] 
1924 
1927 
1933 
1941 
LOBO, José Theodoro de Souza. Geographia elementar. Porto Alegre: 
Selbach & Mayer, 1915[?]. 
LOBO, José Theodoro de Souza. Geographia elementar. 11. ed. Porto 
Alegre: Globo, 1924. 244 p. 
LOBO, José Theodoro de Souza. zGeographia elementar. Adoptado 
nas aulas publicas do Estado do Rio Grande do Sul. 12ª ed. correcta e 
augmentada. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1927. 247 p. 
LOBO, José Theodoro de Souza. Geographia elementar. 14. ed. Porto 
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LOBO, José Theodoro de Souza. Geographia elementar. 17. ed. Porto 
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1933 
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Janeiro: A Noite, 1949. 304 p. 
CABRAL, Mário da Veiga. Geographia do Estado da Guanabara
20
. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Livros S/A., 1963. 160 p. 
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Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1967. 128 p. 
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Typographia do Centro, 1923. 
                                                 
20
 “Com a transformação do antigo Distrito Federal, em Estado da Guanabara, ficou a terra carioca 
sem um manual por onde se pudesse estudar a sua geografia. Para atender a esta lacuna 
elaboramos a Geografia do Estado da Guanabara, crente de que os habitantes desta maravilhosa 
cidade-Estado, principalmente os aqui nascidos, hão de dar o devido apreço ao nosso esforço e boa 
vontade” (CABRAL, 1963). 
1923 - 
PEDROSO, T. Pontos de Geographia. São Sebastião do Paraíso: Casa 
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1934 1943 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia geral para a primeira serie 
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AZEVEDO, Aroldo de. Geographia geral. 1ª série ginasial. 2. ed. São 
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1934 - 
JARDIM, Renato. Elementos de Geographia geral. Para a 1ª série. 
São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1934. 226 p. 
1934 - 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia humana. São Paulo: Cia. Editora 
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1935 - 
CABRAL, Mário da Veiga. Quinto anno de Geographia. De accôrdo 
com o actual programma de ensino secundario. Rio de Janeiro: Livraria 
Jacintho, 1935. 416 p. 
1935 - 
ELLIS JUNIOR, Alfredo. Geographia: 1ª série: de acordo com o 
programa do Colégio D. Pedro II. São Paulo: Liv. Saraiva, 1935. 336 p. 
 
1935 - 
MILANO, Miguel. Pátria e amor, para infância e adolescência. 
Officialmente approvado e adoptado nos Estados de São Paulo, 
Amazonas, Paraná e Espírito Santo. São Paulo: Livraria Teixeira, 1935. 
1935 - 
ESPINHEIRA, A. Geographia: 3ª. série. Rio de Janeiro: Tip. Patronato, 
1935. 148 p. 
1935 - 
ELLIS JUNIOR, Alfredo. Geographia: 5ª série: de acordo com o 
programa do Colégio D. Pedro II. São Paulo: Liv. Acadêmica. 1935 336 
p. 
1935 
(7. ed.) 
- 
A. G. L. Geographia. Curso elementar para as aulas primárias. 7. ed. 
São Paulo: Livraria Selbach de J. R. da Fonseca & Cia., 1935. 51 p. 
1935 - 
ALMEIDA, Antonio Figueira de. Caderno de Geographia, n. 1. 
Desenhos de Lourival Corrêa Pereira. Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1935. 
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1935 - 
ALVES, A. Breves Noções de Geographia. Segundo a matéria exigida 
no curso propedêutico dos estabelecimentos officializados. Rio de 
Janeiro: J. Ribeiro dos Santos, 1935. 287 p. 
1935 1936 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 
1935. 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 
1936. 
1935 
(2. ed.) 
1941 
GABAGLIA, Fernando; GABAGLIA, Raja. Curso de Geographia: 2ª 
série ginasial. Para uso no Colégio Pedro II e no ensino secundário e 
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GABAGLIA, Fernando; GABAGLIA, Raja. Curso de Geographia: 2ª 
série ginasial. 8. ed. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1941. 233 p. 
1936 - 
FREITAS, Gaspar de. Geographia secundária. 1º Anno Gymnasial. 6. 
ed. Rio de Janeiro: H. Antunes, 1936. 253 p. 
1936 
(2. ed.) 
1942 
GABAGLIA, F. A. Raja. Curso de Geographia. 1ª série: para uso no 
Colégio Pedro II e no ensino secundário e normal. 2. ed. Rio de Janeiro: 
F. Briguiet & Cia., 1936. 162 p. 
GABAGLIA, F. A. Raja. Curso de Geographia. 1ª série. 9. ed. Rio de 
Janeiro. F. Briguiet & Cia., 1942. 162 p. 
1936 1939 
LENZ, Luiz Gonzaga. Geographia. 1ª série.  São Paulo: Saraiva, 1936. 
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LENZ, Luiz Gonzaga. Geographia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1939. 
1936 1939 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a terceira serie secundaria. 
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AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a terceira serie secundaria. 6. 
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JARDIM, Renato. Geographia gymnasial. Elementos de Geographia 
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MENNUCCI, Sud. Corografia do estado de São Paulo. Para uso das 
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AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a quinta série secundária. São 
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1937 - 
CABRAL, Mário da Veiga. Geographia. Quarto anno. Rio de Janeiro: 
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TABORDA, R. Geographia ginasial. 2ª série. Porto Alegre: Livraria do 
Globo, 1937. 116 p. 
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MILANO, Miguel. Seriação geographica. Para os gymnasios, cursos 
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1937 - SOUZA, A. C.; OMNEGA, N. Geographia. São Paulo: Saraiva, 1937. 
1937 - 
MILANO, Miguel. Seriação geographica: para os Gymnasios, Cursos 
Seriados, Escolas Normaes e Preparatórias. 2ª série. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1937. 143 p. 
1937 - 
UM PROFESSOR. Apontamentos de Geographia. Organizado por um 
Professor de Acordo com os Cursos Complementares. 2. ed. Mossoró: 
Typ. do Nordeste, 1937. 23 p. 
1937 - 
BRASIL, Mário da Silva. Elementos de Geophysica. Porto Alegre: 
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LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro]. Geographia secundaria. 5ª série. Porto 
Alegre: Globo, 1937. 311 p. 
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Alves, 1937[?]. 608 p. 
1937 
(3. ed.) 
1938 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a quinta série secundária. De 
acordo com o programa de 1931. 3. ed. São Paulo: Cia. Editora 
Nacional, 1937. 447 p. 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a quinta série secundária. 4. 
ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1938. 478 p. 
1938 1939 
GONÇALVES, Artur de Campos. Noções de Cosmographia e 
Geographia para cursos primários e de preparatórios ao ginásio. 
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. 131 p. 
GONÇALVES, Artur de Campos. Noções de Cosmographia e 
Geographia para cursos primários e de preparatórios a ginásio de 
acôrdo com os programas oficiais. 2. ed. São Paulo: Companhia 
Editora Nacional, 1939. 135 p. 
1938 - 
MILANO, Miguel. Seriação geographica. Para os gymnasios, cursos 
seriados, escolas normaes e preparatórias. 3ª série. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1938. 142 p. 
1938 - 
CUNHA, M. P. Geographia ao alcance de todos: subsídios 
indispensáveis nos concursos oficiais. Rio de Janeiro: Livraria Francisco 
Alves, 1938. 95 p. 
1938 - 
ORCIUOLI, Henrique. Corografia do Brasil: 2º ano propedêutico. Porto 
Alegre: Globo, 1938. 204 p. 
1938 1942 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a segunda série secundária, 
de acordo com o programa oficial. 7. ed. São Paulo: Cia. Editora 
Nacional, 1938. 341 p. 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a segunda série secundária. 
De acordo com o programa oficial. 12. ed. São Paulo: Cia. Editora 
Nacional, 1942. 392 p. 
1938 
(6. ed.) 
- 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a quarta série secundária. 
Consta programa de Geographia para a quarta série secundária. Contem 
"leituras geográficas de autores escolhidos". 6. ed. São Paulo: Cia. 
Editora Nacional, 1938. 389 p. 
1939 - 
BARRETO, Adolpho Alves. Pequena Geographia para a infância 
pobre. [S. l.]: Mundo Novo, 1939. 56 p. 
1939 1942 
GICOVATE, Moisés. Geographia: para o curso secundário. 1ª série. 
São Paulo: Melhoramentos, 1939. 266 p. 
GICOVATE, Moisés. Geographia: para o curso secundário. 1ª série. 
São Paulo: Melhoramentos, 1942. 266 p. 
1939 1941 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a primeira série secundária, de 
acordo com o programa oficial. 8. ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 
1939. 298 p. 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para a primeira série secundária. De 
acordo com o programa oficial. 17. ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 
1941. 478 p. 
1939 - 
AZEVEDO, Aroldo de. Geographia: para o curso comercial. São Paulo: 
São Paulo Editora, 1939. 380 p. 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2007-2011. 
 
A quase totalidade desse material foi editada regularmente, à exceção de 
Bandeira (185-?), Pinto (1879) e Pinheiro (188-?), cujas obras foram utilizadas 
unicamente nas docências de seus autores, como apostilas, mas com relevância e 
notoriedade suficientes para serem citadas por Sacramento Blake, por exemplo. 
Não se trata, objetivamente, de um levantamento completo, sobretudo 
porque há indícios de que a produção regional de manuais de Geografia foi muito 
expressiva, inclusive em cidades interioranas. 
Todavia, são os índices que, nas proximidades de duas centenas de anos 
depois, estão ao alcance dessa pesquisa. No conjunto, são compilações, traduções, 
adaptações, obras autorais. Predominantemente, são obras de edição única, ao todo 
174 nessa condição. Outras 102 tiveram reedições. Talvez mais difícil do que 
rastrear as obras seja conhecer a totalidade de suas edições/reimpressões. Fato 
agravado com o problema da pirataria do livro, que foi extremamente alta no século 
XIX, e um dos problemas recorrente’ do mercado editorial naquele momento, como 
demonstra Hallewell (2005), cuja análise relaciona parte do crescimento das casas 
publicadoras brasileiras à pirataria de obras, prática facilitada pela inexistência, até 
1912, de uma legislação que protegesse internacionalmente os direitos autorais, ou 
mesmo o cumprimento dos direitos dos autores nacionais.  
De igual modo, essa questão é examinada por Corrêa (2006) no circuito 
amazonense de instrução educacional, pesquisador que suscita a hipótese, não 
diretamente comprovada, de que um dos livros portugueses mais utilizados no 
ensino primário, o Manual encyclopedico para uso das escolas d’instrucção 
primaria21, de Emilio Achilles Monteverde22, em sua oitava edição portuguesa em 
1865 – e com uma parte dedicada ao ensino da Geografia – sofreria edições 
brasileiras não autorizadas. Esse problema não era isolado, e sua produção e 
comercialização, incluindo outros países, alastravam-se por toda a costa do país: 
 
Houve sempre um comércio de edições chamadas clandestinas, 
contrafeitas ou piratas, isto é, edições que não obedeciam ao Privilégio 
concedido à edição original. [...] Os impressores holandeses chegaram a ser 
verdadeiros especialistas em edições piratas. No século XVIII, quando a 
literatura francesa tornou-se a mais lida de todas, a Holanda chegou a 
imprimir mais livros franceses que a França. No século XIX, foram os belgas 
os grandes piratas das edições francesas. No Brasil, em fins do século XIX 
e princípios deste, os editores rio-grandenses, protegidos por uma 
constituição positivista, imprimiram toda sorte de livros, sem autorização do 
editores legítimos e sem pagar direitos autorais (MORAES, 1975, p. 112-
113). 
 
Estratégias de controle das edições e combate à pirataria são encontradas em 
exemplares da bibliografia. Geralmente, o autor ou seu representante legal 
numerava e/ou assinava os exemplares, enunciando uma advertência sobre a 
propriedade legal da obra – uma forma de domínio sobre os direitos autorais da 
própria obra e para alertar o consumo do leitor, como demonstra a Figura 01. 
                                                 
21
 Outras obras do autor sofreriam o mesmo processo. 
22
 Escritor, diplomata e pedagogo português nascido em 1803, em Lisboa, e falecido em 1881. Autor 
do Methodo facilimo para aprender a ler, amplamente utilziado no Brasil. Atuou em diversos cargos 
públicos em Portugal (ZUIN, 2007). 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 01 – Atos de controle e advertência contra a pirataria de obras didáticas em 
exemplares de Henrique Martins23 (1896), Carlos Góes24 (1918) e José Theodoro de Souza 
Lobo25 (1927). 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
                                                 
23
 Henrique Martins – foi professor do Colégio Militar de Porto Alegre. 
 
24
 Carlos Góes – Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, foi professor do Ginásio Oficial de Minas, 
Delegado do Estado de Minas Gerais no 4º Congresso Brasileiro de Instrução e Membro da 
Academia Mineira de Letras e do Instituto Histórico Mineiro (GÓES, 1918). 
 
25
 José Theodoro de Souza Lobo – Engenheiro geógrafo pela Escola Central do Rio de Janeiro, 
educador e escritor gaúcho, nascido a 7 de janeiro de 1846 em Porto Alegre, onde faleceu a 9 de 
agosto de 1913. Atuou como professor de matemática da Escola Normal de Porto Alegre de 1873 até 
a extinção desta. Em 1877, quando fundou o Colégio Souza Lobo, instituição de reconhecida tradição 
na capital gaúcha (PORTO-ALEGRE, 1917). 
 
Praticamente, a trajetória do livro didático de Geografia, no período, 
apresenta quatro fases de produção, com diferentes, mas crescentes, intensidades 
(Cf. Gráfico 01). 
 
GRÁFICO 01 – Produção da bibliografia didática de Geografia por década (1814-1939). 
0
10
20
30
40
50
60
70
1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930
 
 Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A primeira fase abrange as décadas de 1810 e 1840, com 26 títulos: tem-se, 
nas duas décadas iniciais, o aparecimento dos manuais de Geografia em quantidade 
relativamente pequena (oito títulos no total), embora coerente com a demanda desse 
ensino à época (centrada nas aulas avulsas), e também com os métodos de ensino 
(livro prioritariamente destinado à informação do professor); nas duas outras 
décadas, a produção corresponde ao início da institucionalização da Geografia como 
disciplina no ensino secundário em função dos exames preparatórios de acesso aos 
cursos superiores, somando 18 títulos.  
Após a década de 1840, há uma segunda fase, concentrada entre os anos 
1850 e 1870, com 50 títulos. A década de 1850 foi um marco no desenvolvimento 
econômico do Brasil, que beneficiou a expansão do mercado editorial, que já 
progredira bastante desde o final do monopólio da Impressão Régia, que ocorreu em 
1822. A educação teve algum desenvolvimento e, com isso, houve fomento na 
produção e comercialização dos livros didáticos. Por conseguinte, passam-se a ter, a 
partir desse momento, manuais didáticos de Geografia reeditados. Do período 
joanino até meados do Império, essas obras tinham edições únicas, à exceção de 
Pereira (1818), em obra de leitura, não exlusiva ao ensino de Geografia. 
Em termos de mercado editorial, em razão dos pedidos locais de impressão 
de materiais didáticos, Hallewell (2005) assinala que, por volta dos anos 1850, os 
livros didáticos igualaram-se às demandas de impressão de jornais e revistas na 
agenda de encomendas das tipografias. Imprensa e obras didáticas seriam os motes 
de sobrevivência do parque gráfico e das casas editoriais. Nesse período, cerca de 
três décadas após o processo de independência política, assinala-se um tempo de 
consolidação do país, particularmente na educação, embora com severa restrição 
geográfica – isto é, centralizada no município da Corte. São desta época 
 
[...] a criação da Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do 
Município da Corte, destinada a fiscalizar e orientar o ensino público e 
particular (1854); estabelecimento das normas para o exercício da liberdade 
de ensino e de um sistema de preparação do professor primário (1854); 
reformulação dos estatutos do Colégio de Preparatórios, tomando-se por 
base programas e livros adotados nas escolas oficiais (1854); reformulação 
dos estatutos da Academia de Belas Artes (1855); reorganização do 
Conservatório de Música e reformulação dos estatutos da Aula de Comércio 
da Corte (RIBEIRO, 2001, p. 54-55). 
 
Uma terceira fase compreende as décadas de 1880 e 1900, com um salto 
supreendente na primeira década desse desenvolvimento – 80 títulos ao todo, sendo 
43 apenas nos anos 1880. Esse período coaduna com importantes transformações 
históricas do país, como a passagem do Império para a República, além de 
importantes configurações na economia, na demografia, na dinâmica urbana e na 
própria organização do ensino brasileiro. 
Uma última fase de produção pode ser identificada a partir dos anos 1910, 
em um crescendo que atinge o maior pico até então na década de 1930, totalizando 
120 produções. Esta fase, em que a Geografia já era há tempos uma disciplina 
consolidada nos ensinos primário e secundário, é marcada por inovações teórico-
metodológicas, bem como pela aproximação da Geografia acadêmica.  
 
 
2.2 A autoria da bibliografia 
 O acervo apresentado foi escrito por 183 autores, incluindo autores 
traduzidos. A maioria é autoria do gênero masculino, sendo apenas três autorias 
femininas. Desse conjunto de autores, oito são anônimos, por pseudônimos ou por 
autorias institucionais. Há seis traduções com adaptações, o que reforça o 
questionamento da noção, muitas vezes endossada em pesquisas sobre a formação 
do ensino de Geografia, de que, principalmente no século XIX, se utilizariam livros 
importados para o ensino dessa matéria – esta parece ter sido, de fato, uma 
realidade para obras de outras disciplinas, mas não propriamente desta matéria. Os 
manuais de História e Geografia foram, sobretudo, nacionais, ao passo que os 
manuais para o ensino da leitura e da língua portuguesa eram, em grande parte, 
importados de Portugal e os das áreas exatas, importados ou traduzidos da França 
ou Inglaterra, como depõe Veríssimo (1906, p. 4-8): 
 
São muitos os escritores estrangeiros que traduzidos, transladados ou, 
quando muito, servilmente imitados, fazem a educação da nossa mocidade. 
Seja-me permitida uma recordação pessoal. Os meus estudos feitos de 
1867 a 1876 foram sempre em livros estrangeiros. Eram portugueses e 
absolutamente alheios ao Brasil os primeiros livros que li. O Manual 
Enciclopédico de Monteverde, a Vida de D. João de Castro de Jacinto Freire 
(!), os Lusíadas de Camões, e mais tarde, no Colégio de Pedro II, o primeiro 
estabelecimento de instrução secundária do país, as seletas portuguesas de 
Aulete, os Ornamentos da memória de Roquete - foram os livros em que 
recebi a primeira instrução. E assim foi sem dúvida para toda a minha 
geração. Acanhadíssimas são as melhorias desse triste estado de cousas, e 
ainda hoje a maioria dos livros de leitura, se não são estrangeiros pela 
origem, são-no pelo espírito. Os nossos livros de excertos são aos autores 
portugueses que os vão buscar, e a autores cuja clássica e hoje quase 
obsoleta linguagem o nosso mal amanhado preparatoriano de português 
mal percebe. São os Fr. Luís de Souzas, os Lucenas, os Bernardes, os 
Fernão Mendes e todo o classicismo português que lemos nas nossas 
classes da língua, que aliás começa a tomar nos programas o nome de 
língua nacional. Pois, se pretende, a meu ver erradamente, começar o 
estudo da língua pelos clássicos, autores brasileiros, tratando coisas 
brasileiras, não poderão fornecer relevantes passagens? E Santa Rita 
Durão, e Caldas, e Basílio da Gama, e os poetas da gloriosa escola mineira, 
e entre os modernos João Lisboa, Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, 
Machado de Assis e Franklin Távora, e ainda outros, não têm páginas que, 
sem serem clássicas, resistiriam à crítica do mais meticuloso purista? 
 
Assim, há a tese amplamente divulgada e aceita, na história do livro didático, 
segundo a qual a nacionalização do livro didático ocorreria concretamente no final 
do século XIX, no contexto em que se esboçava um sistema de educação pública, 
conforme Lajolo; Zilberman (1996), Hallewell (2005), Bittencourt (2008), Razzini 
(2004). Mas para o caso do ensino de Geografia, essa tese deve ser questionada, 
pois a própria bibliografia suscitada neste capítulo demonstra que as publicações de 
Geografia como uma das primeiras linhas do gênero didático, a par com os livros de 
História, a ter a nacionalidade dos autores e dos conteúdos desenvolvidos em uma 
produção significativa, pelo menos em termos quantitativos, inclusive com certo 
desenvolvimento regional, disperso em pontos referenciais do território brasileiro. O 
que parece é que, em momentos de reorientação do ensino, não se achava no 
mercado livros brasileiros de Geografia que se adequassem às novas propostas. 
Isso se percebe, por exemplo, na adoção do Manuel du Baccalauréat26, e do Atlas 
de Delamarche, pelo Colégio Pedro II por ocasião da reforma induzida pelo Decreto 
de 24 de janeiro de 1856, obras essas necessárias para complementar a adoção do 
compêndio de Pompeu Brasil. Outra hipótese pode ser as pequenas tiragens, o 
largo tempo para consumi-las, o que as levava à desatualização, ou mesmo à não 
reedição.  
O mais comum foram as autorias únicas, tendência destoante, por exemplo, 
da produção atual de livros didáticos de Geografia, na qual predomina o sistema de 
co-autorias. No período suscitado, têm-se apenas nove produções em co-autorias, e 
três co-autores interventores, mais especificamente Luiz Leopoldo Fernandes 
Pinheiro27, João Ribeiro28 e Pe. José Severiano de Rezende29, que atuaram na 
sobrevida das obras de Joaquim Maria de Lacerda30, após o falecimento deste autor. 
Um pouco menos da metade dos títulos, 113 dos 276, são obras de autores 
que tiveram pelo menos dois títulos em sua produção. Para o período, a maior 
                                                 
26
 Por não ter tido acesso a essa obra, não a inclui na bibliografia: parece que atendia mais ao 
currículo de História do que propriamente ao de Geografia. 
27
 Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro – era sobrinho de Joaquim Maria Lacerda. Nasceu em 
Campos (RJ), em 1855 e faleceu em 1925. Foi literato, atuando na poesia, crônica, romance e 
tradução. Trabalhou como professor de Filologia, Geografia e História (RONZANI, 2011).  
28
 João Ribeiro – atuou em trabalhos editoriais para revisão e ampliação de manuais didáticos de 
Geografia. Nasceu em Sergipe, em 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 1934. Foi historiador, 
filólogo, jornalista e professor do Colégio Pedro II (MOTA, 2004). 
29
 Pe. José Severiano de Rezende – nasceu em 1871 e faleceu em 1931. Foi pároco em Mariana 
(MG) e atuante no jornalismo (MARTINS, 1983). 
30 Joaquim Maria de Lacerda – filho de um marinheiro, capitão de navio, nasceu no 
Rio de Janeiro em 1833 e faleceu em Paris, no ano de 1886. Formou-se em Direito, 
e foi membro da Arcádia Romana e outras associações literárias, inclusive 
europeias. Sobretudo nos últimos anos de vida, dedicou-se à educação, produzindo 
inúmeras obras de Geografia e História (BLAKE, 1898). 
produção, com 12 títulos, pertence a Alfredo Moreira Pinto31, em quase 30 anos de 
atividade. Destacam-se ainda Mário da Veiga Cabral32 e Aroldo de Azevedo33, com 
11 e 10 títulos, respectivamente, embora esses números reflitam, devo ressaltar, 
apenas o período delimitado pela pesquisa, pois a produção dos mesmos foi bem 
maior, haja vista terem sido atuantes, e se situarem dentre os autores mais 
significativos da bibliografia didática de Geografia, até a década de 1970. Aroldo de 
Azevedo, por exemplo, totalizou 30 títulos didáticos ao longo de sua carreira. Com 
um caráter mais regional, pois em grande parte centrado no Rio Grande do Sul, tem-
se A. G. Lima34, autor de 10 títulos (Cf. Quadro 2). 
Todavia, a quantidade de títulos não expressa exatamente a importância de 
um autor no contexto da educação geográfica. Muitos autores publicaram apenas 
uma obra, com muitas reedições, e frequentemente melhoradas, alteradas, 
complementadas, prolongando a utilização do livro. Talvez o caso mais típico 
tenham sido os livros de Joaquim Maria de Lacerda que, publicando cinco títulos em 
seus últimos anos de vida, a partir da década de 1870, foi exaustivamente 
republicado até a década de 1930. Dada a desatualização periódica dos livros de 
                                                 
31 Alfredo Moreira Pinto – nasceu no Rio de Janeiro em 1847, filho de um 
comerciante português. Formou-se bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II em 
1865, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo em 1866, curso que não 
concluiu. Foi professor de Geografia e História do curso preparatório anexo à Escola 
Militar, além de ter sido professor particular dessas disciplinas, atuando ainda como 
jornalista. Escreveu extensa obra nas áreas de Geografia e História, além de ter sido 
autor de um dicionário geográfico. Faleceu em 1903 (BLAKE, 1883; BARBUY, 2006). 
32
 Mário [Vasconcelos] da Veiga Cabral – geógrafo e engenheiro agrimensor, estudou no Colégio 
Militar e na Escola de Guerra de Realengo. Atuou como professor em instituições como o Ginásio 28 
de Setembro, Instituto de Educação, Liceu Rio Branco, Universidade do Distrito Federal e Escola de 
Engenharia do Rio de Janeiro, sendo autor de extensa obra didática nas áreas de História e 
Geografia, além de outras. Nasceu em 1894 e faleceu em 1973 (SILVA, 2009; AGCRJ, 2010). 
33
 Aroldo [Edgard] de Azevedo – geógrafo e geomorfólogo brasileiro, nascido em Lorena (SP), em 
1910, filho de um político paulista, e falecido em São Paulo, em 1974. Formado em Direito, nunca 
exerceu profissão jurídica; formado em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e 
Letras da Universidade de São Paulo (USP), em 1939, foi um dos primeiros autores didáticos com 
formação em Geografia, sendo um dos primeiros professores dessa ciência, na USP, onde foi 
catedrático de Geografia do Brasil e também Diretor do Instituto de Geografia. Membro da Associação 
dos Geógrafos Brasileiros e do Instituto Geográfico do Brasil, publicou 127 livros de Geografia, entre 
didáticos e científicos, e artigos. Na pesquisa geográfica, destacou-se por propor um importante mapa 
e uma das primeiras classificações do relevo brasileiro (1949), a partir do critério altimetria. É um dos 
autores didáticos mais bem sucedidos do século XX, com cerca de 13 milhões de exemplares 
vendidos (ISSLER, 1973; CONTI, 1976; PREFEITURA..., 2010). 
34
 A. G. [Affonso Guerreiro] Lima – Affonso Guerreiro Lima foi professor da Escola Normal de Porto 
Alegre, sendo de sua autoria diversas obras didáticas de História e Geografia. É lembrado por ter sido 
um inovador da apresentação gráfica nos livros didáticos. Era geógrafo e membro do Instituto 
Histórico e Geográfico do RS. (IHGRGS, 2011). 
Geografia, sobretudo em um período em que as estatísticas, a regionalização e o 
conhecimento geográfico eram ampliados e/ou modificados de diversas maneiras, a 
continuidade dessas obras só foi possível por meio do trabalho de co-autores, como 
citado acima. E, por outro lado, há autores que publicaram apenas um título, mas 
com muita importância na perspectiva do método, da teorização ou mesmo na 
perspectiva gráfica. 
 
QUADRO 02 – Produção por autoria, para autores com mais de dois títulos de manuais 
didáticos de Geografia (1814-1939). 
 
Obras Autores Período de 
Produção 
(1ª ed. ou edição 
mais antiga) 
12 PINTO, Alfredo Moreira 1869/1906 
11 CABRAL, Mário da Veiga 1916/1937 
10 LIMA, A. G. [Afonso Guerreiro] 1911/1937 
10 F.T.D. 1907/1923 
10 AZEVEDO, Aroldo de 1934/1939 
07 MILANO, Miguel 1922/1938 
05 MARTINS, Henrique [Augusto Eduardo] Década de 1870 a 1898 
05 ELLIS JUNIOR, Alfredo 1932/1935 
05 LACERDA, Joaquim Maria de 1870/1887 
04 CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de 1913/1933 
04 PIMENTEL JUNIOR, F. Menezes Entre 1930 e 1932 
04 SCROSOPPI, Horacio 1905/1915 
04 NOVAES, Carlos 1882/1926[?] 
03 FREITAS, Gaspar de 1925/1936 
03 JARDIM, Renato 1933/1936 
03 GABAGLIA, F. A. Raja 1933/1936 
03 GABAGLIA, Raja 1925/1936 
02 ALMEIDA, Antonio Figueira de 1931/1935 
02 BITTENCOURT, Feliciano Pinheiro 1907/1909 
02 BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Década de 1880/1894 
02 CARVALHO, Goeth Galvão de Década de 1890 
02 CARVALHO, Joaquim José de 1883/1885 
02 CUNHA, M. P. 1931/1938 
02 CUNHA, Raymundo Cyriaco da 1887/1894 
02 F. I. C. [Frere Ignace Chaput] Décadas de 1880 a 1910 
02 FREIRE [da Silva], Olavo 1921-1925 
02 GÓES, Carlos 1917-1918 
02 LEÃO, Manuel do Rego Barros de Souza 1858-1859 
02 LEME, Ezequiel de Moraes 1913-1920 
02 MACEDO, Joaquim Manoel de 1873-1877 
02 MARTINS, Amélia de Rezende 1919-1930 
02 PEREIRA, José Saturnino da Costa 1818/1836 
02 PINHEIRO, Manoel Pereira de Moraes 1875 e década de 1880 
02 REIS, Antônio Alexandre Borges dos 1892/1920 
02 REIS, O. de Souza 1918/1921 
02 VILLA-LOBOS, Raul 1886/1890[?] 
02 ZALUAR, Augusto Emilio 1876/1880 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Dois outros casos de adequação de uma mesma obra, agora por seus 
autores, chamam a atenção. Primeiro, temos Thomaz Pompeu de Souza Brasil, que 
publicou os Elementos de Geographia em 1851, em Fortaleza, para uso dos alunos 
do Liceu local, ganhando uma nova edição em 1856, com o título de Compendio de 
Geographia, ainda editado no Ceará. A obra, no entanto, ganhou dimensão nacional 
ao ser adotada no Rio de Janeiro e em outras cidades (inclusive adotada pelo 
Colégio Pedro II, liceus e seminários do Império, como clarifica uma chamada em 
sua capa), passando a ter uma terceira edição, aumentada e corrigida, publicada no 
Rio de Janeiro, com novo título: Compendio elementar de Geographia geral e 
especial do Brasil. Nessa forma, apenas com correções e ampliações pontuais, teve 
mais duas edições, em 1864 e 1869. 
Os autores mais comuns foram professores, não unicamente de Geografia. 
No entanto, principalmente no século XIX, pessoas de diferentes formações e 
ocupações profissionais produziram as obras da bibliografia: literatos, advogados, 
políticos, jornalistas, militares graduados, religiosos, engenheiros... Alguns de 
renome na cultura geral brasileira, como Osório Duque-Estrada35, Joaquim Manoel 
de Macedo36, outros com renome na política, como Thomaz Pompeu de Souza 
Brasil37, ou com reconhecimento na tradição científica brasileira, como Said Ali38.  
                                                 
35
 Osório Duque-Estrada – Nascido em Pati do Alferes, município de Vassouras (RJ), em 29 de abril 
de 1870, e falecido no Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1927, Duque-Estrada é reconhecido por 
ter sido autor da letra do hino nacional brasileiro. Foi poeta, ensaísta, crítico de literatura e atuou 
como professor, sendo autor de diversas obras didáticas. Na educação, exerceu as funções de 
inspetor geral do ensino, bibliotecário e professor de francês, chegando a ser professor da cadeira de 
História Geral do Brasil no Colégio Pedro II, instituição na qual se formou bacharel em Letras, em 
princípios do século XX. Abandonou o magistério para dedicar-se apenas à imprensa (ABL, 2011). 
36
 Joaquim Manoel de Macedo – Nasceu em Itaboraí, a 24 de junho de 1820 e faleceu no Rio de 
Janeiro em 11 de abril de 1882. Formado em medicina, destacou-se como escritor brasileiro, e 
trabalhou como professor de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II. Em 1845, foi sócio, 
secretário e orador do Instituto Histórico e geográfico Brasileiro. Em sua extensa obra literária, 
destaca-se o romance A moreninha, sua obra mais reconhecida. Escreveu livros didáticos de 
Geografia e História (ABL, 2011). 
37
 Thomaz Pompeu de Souza Brasil – Nasceu em Santa Quitéria, em 6 de junho de 1818, e faleceu 
em Fortaleza, a 2 de setembro de 1877. Formado em Direito, ocupou cargos na política e na 
educação, sendo um dos fundadores, diretor e docente de História e Geografia do Liceu do Ceará, 
além de contribuir com a imprensa. Pertenceu ao quadro de diversas instituições científicas, dentre as 
quais a Sociedade de Geografia de Paris, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de 
Pernambuco e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (SOUSA NETO, 1997).  
Frequentemente, as editoras com especialização em livros didáticos, como a 
Francisco Alves, agiam por encomendas, procurando por autores institucionalizados 
no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB e, sobretudo, no Colégio Pedro 
II, em razão da visibilidade desses autores e de sua experiência com os programas e 
a metodologia de ensino da instituição modelar do ensino secundário no Brasil. 
Muitos autores, quando professores, para a escrita de suas obras didáticas, 
desenvolviam apenas suas anotações e roteiros de aulas. 
Na perspectiva discursiva desta tese, percebo esses autores como sujeitos, 
ou seres sociais, não fundamentados em uma individualidade, mas como 
expressões de um espaço social e ideológico em determinado momento da história 
(FERNANDES, 2005). Dessa forma serão compreendidos no desenvolvimento da 
tese. 
 
 
 
2.3 A editoração 
 
A lógica de mercado situa-se por detrás da história do livro como um todo, e 
do livro didático em particular. A aceitação do livro junto ao público escolar definiu 
muitos aspectos da produção de uma obra, dependente, ainda, para existir como 
material escolar, de atos autorizativos do Estado. 
De início, a primeira casa em território brasileiro a imprimir manuais 
escolares foi a Impressão Régia, criada para produzir materiais subservientes à 
administração pública, “[...] predominando publicações sobre economia política, 
geografia, agrimensura, saúde pública, incluindo-se obras ligadas ao currículo das 
escolas criadas no período joanino, que visavam formar especiaistas e técnicos para 
o corpo burocrático [...]” da administração instalada no novo território que servia à 
gestão do reino português (BITTENCOURT, 2008, p. 65). Serviu, portanto, como 
marco a uma editoração que evoluiria para a formação de uma indústria nacional de 
livros, ou pelo menos editorial, haja vista que, até princípios do século XX, o parque 
                                                                                                                                                        
38
 Manuel Said Ali Ida – Nasceu em Petrópolis, em 21 de outubro de 1861, e faleceu no Rio de 
Janeiro em 27 de maio de 1953. Filólogo, destacou-se nas pesquisas sobre a sintaxe da língua 
portuguesa. De descendência alemã, foi professor de alemão na Escola Militar e no Colégio Pedro II. 
Além do alemão, lecionou francês, inglês e Geografia (INSTITUTO CAMÕES, 2011). 
gráfico brasileiro ainda foi depentente de matérias primas, técnica e mão de obra 
europeia, no que concerne a impressões. 
Ao longo do período em análise, conforme dados sistematizados no Quadro 
03, teve-se a atuação de 117 casas publicadoras identificadas, entre nacionais, 
predominantes, e estrangeiras, além de tipografias. Como casa publicadora não 
identificada, sem registro de tipografia ou editora, somam-se 75 edições. 
 
 
QUADRO 03 – Descrição das casas publicadoras39 da bibliografia didática de Geografia 
(1814-1939). 
 
LOCAL DE 
PUBLICA-
ÇÃO 
 CASA PUBLICADORA 
INÍCIO DA(S) 
PUBLICA- 
ÇÕE(S) 
QUANTI- 
DADE DE 
PUBLICA-
ÇÕES 
RIO DE 
JANEIRO 
(RJ) 
322 Edições 
01 
Impressão Régia 1814 
11 
Typographia Real  1821 
Typographia Nacional 1822 
Typographia Nacional 1828 
Typographia Imperial e Nacional 1829 
Imprensa Oficial 1864 
Imprensa Nacional 1886 
02 Typographia de Silva Porto 1824 1 
03 P. Plancher 1827 1 
04 Typographia Torres 1830 1 
05 
Laemmert 1835 
21 
E. & H. Laemmert 1845 
Typographia Universal de Laemmert 1864 
H. Laemmert & Cia. 1870 
Typographia Universal de Eduardo e Henrique 
Laemmert 
1871 
Laemmert & Cia 1880 
Typographia Universal de Henrique Laemmert 1882 
07 Typographia de R. Ogier 1836 1 
08 Typographia. de J. E. S. Cabral 1840 2 
09 Livraria de Agostinho de Freitas Guimarães & Cia. 1871 1 
10 Typographia Francesa 1850 1 
11 Domingos José Gomes Brandão e Irmãos 1859 1 
12 
B. L. Garnier 1860 
30 Livraria de B. L. Garnier 1870 
Garnier 1902 
13 
Typographia de Pinheiro 1863 
3 
Typographia de Pinheiro & Cia. 1880 
14 Typographia do Apóstolo 1875 2 
15 
Typographia Episcopal de Antonio Gonçalves 
Guimarães & Cia. 
1865 1 
                                                 
39
 Considero literalmente o nome das casas publicadoras, conforme expresso nas obras ou nas 
referências: frequentemente são as mesmas, mas as alterações dos nomes podem se referir a 
mudanças na razão social das empresas. Apesar das alterações nominais, considero o quantitativo 
de publicações no seu conjunto, referente a cada casa. 
16 Typographia do Commercio 1884 1 
17 Typographia Franco-Americana 1873 1 
18 Typographia J. G. de Azevedo 1877 1 
19 
Francisco Alves & Cia. 1908 
110 
Livraria Francisco Alves 1913 
Francisco Alves 1914 
Livraria Clássica de Nicolau Alves 1880 
Livraria Clássica de Alves e Cia. 1889 
20 Cunha 1897 1 
21 Typographia Esperança de J. d’Aguiar & Cia. 1883 1 
22 Typographia Mont’Alverne 1886 2 
23 Editores Paes & Cia. 1907 1 
24 
Jacintho Ribeiros dos Santos 1897 
43 
Livraria Jacintho 1933 
25 Livraria Cruz Coutinho 1898 1 
26 
Editora Paulo de Azevedo 1916 
9 Livraria Paulo de Azevedo e Cia. 1922 
Livraria Azevedo 1930 
27 Livraria da Viúva Azevedo e Cia. 1907 1 
28 B. de Áquila 1907 1 
29 Orosco Impressores 1908 1 
30 Heitor Ribeiro e Cia. 1909 1 
31 
F. Briguiet 1912 
7 
Fernando Briguiet & Cia. 1933 
32 
Impressões Artísticas/Empresa Foto-Mecânica do 
Brasil 
1913 1 
33 Empresa Gráphico-Editora 1923 1 
34 A noite 1947 3 
35 Leite Ribeiro & Maurillom 1919 1 
36 Weizflog Irmão Incorp. 1924 1 
37 Gráfica Ed. Livros S/A 1963 1 
38 Typographia Barreto Vianna 1925 1 
39 Imprensa Naval 1928 1 
40 Graphica Sauer 1936 2 
41 H. Antunes 1932 3 
42 J. R. de Oliveira & Cia. 1935 4 
43 Typographia Esporte 1931 1 
44 Edições Alba 1932 1 
45 J. O. Antunes & Cia. 1932 1 
46 Bedeschi 1935 1 
47 Typographia Patronato 1935 1 
48 Conselho Nacional de Geografia 1967 1 
- Casa Publicadora não identificada 1830 38 
 
SÃO PAULO 
(SP) 
64 edições 
01 
Graphica Costa Silveira 1839 
2 
Typographia de M. F. Costa Silveira 1839 
02 
Impressão da Província de São Paulo/ Typographia 
Imparcial de J. R. Azevedo Marques 
1862 1 
03 F.T.D. 1907 4 
04 
Duprat 1908 
4 
Casa de Duprat 1911 
05 
Melhoramentos 1920 
7 
Cia Melhoramentos 1923 
06 
Nacional 1921 
25 Companhia Editora Nacional 1931 
Editora Nacional 1934 
07 Matano 1922 2 
08 Monteiro Lobato 1925 1 
09 Edições Rio Branco 193- 3 
10 Livraria Acadêmica 1932 4 
11 Typographia Siqueira 1932 1 
12 Editora Saraiva 1935 4 
13 Livraria Teixeira 1935 1 
14 Livraria Selbach de J. R. da Fonseca & Cia. 1935 1 
15 São Paulo Editora 1939 1 
16 Typographia Aurora 1898 1 
- Casa Publicadora não identificada 186- 2 
 
PORTO 
ALEGRE 
(RS) 
39 Edições 
01 Typographia Deutsche-Zeitung 1863 1 
02 Typographia O Rio Grande 1868 1 
03 J. Alves Editor 1972 1 
04 Typographia Perseverança 1877 1 
05 J. Alves Editor 1881 1 
06 Ed. Carlos Pinto & Cia. 187- 1 
07 Editor Rodolpho José Machado 1883 1 
08 Livraria Rodolpho José Machado 1896 1 
09 Liv. Franco & Irmão 1898 1 
10 
Liv. Globo 1909 
22 Globo 1910 
Livraria do Globo 1929 
11 
Officinas Graphicas da Escola 1911 
2 
Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911 
12 Selbach & Mayer 1915[?] 1 
13 Typographia do Centro 1923 1 
14 Barcellos, Bertaso & Cia. 1931 1 
- Casa Publicadora não identificada 1870 3 
 
SALVADOR 
(BA) 
11 Edições 
01 Typographia Poggeti de Catilina & Cia. 1860 1 
02 Camillo de Lellis Masson 1863 1 
03 Imprensa Econômica 1876 1 
04 Lopes da Silva & Amaral 1884 1 
05 Typographia de Affonso Ramos & Cia. 188- 1 
06 Wilcke, Picard & C. 1892 2 
07 Typographia Reis e Cia. 1911 1 
- Casa Publicadora não identificada 1826 3 
 
RECIFE (PE) 
11 Edições 
01 Typographia de Santos 1836 1 
02 Typographia de M. F. de Faria 1836 1 
03 Typographia Universal 1856 1 
04 Typographia Mercantil 1875 1 
05 Typographia d’A Província 1891 1 
06 Imprensa Industrial 1914 1 
- Casa Publicadora não identificada 185- 5 
 
BELÉM (PA) 
07 Edições 
01 Livraria Clássica 1874 2 
02 Typographia do Diário de Belém 1887 1 
03 Typographia e Encadernação da V. Travessa 1894 2 
- Casa Publicadora não identificada 1863 2 
 
FORTALEZA 
(CE) 
04 Edições 
01 Typographia de Paiva e Companhia 1851 2 
- Casa Publicadora não identificada 1873 2 
 
MARANHÃO 
04 Edições 
01 Typ. A. P. Ramos d’Almeida & Cia. 1901 1 
- Casa Publicadora não identificada 1862 3 
 
BELO 
HORIZONTE 
(MG) 
03 Edições 
01 Imprensa Official de Minas 1917 
 
03 
 
NITERÓI 
(RJ) 
02 Edições 
01 Typographia Nitheroy 1840 1 
02 Escola Typographia Salesiana 1921 1 
 
MACÉIO 
(AL) 
02 Edições 
01 Typographia do Liberal 1971 1 
- Casa Publicadora não identificada 1860 1 
 
CURITIBA 
(PR) 
02 Edições 
01 Buzetti Mori & Filhos 1911 1 
02 Leopoldina Rocha 1913 1 
 
SANTOS 
(SP) 
01 Edição 
01 Typ. do Diário de Santos 1884 1 
 
ARACAJU 
(SE) 
01 Edição 
01 Imprensa Oficial  1897 1 
 
PELOTAS
40
 
(RS) 
01 Edição 
01 Carlos Pinto 1898 1 
 
PIRASSUNU
N-GA (SP) 
01 Edição 
01 Typographia Minerva 1913 1 
 
SÃO 
SEBASTIÃO 
DO 
PARAÍSO 
(MG) 
01 Edição 
01 Casa Prado 1923 1 
 
CAMPOS 
(SP) 
01 Edição 
01 Ed. da Casa “A Penna de Bronze” 1924 1 
 
MOSSORÓ 
(RN) 
01 Edição 
01 Typographia do Nordeste 1937 1 
 
MANAUS 
(AM) 
01 Edição 
 Casa Publicadora não identificada 188- 1 
 
LOCAL NÃO 
IDENTIFICA
DO 
17 Edições 
01 Mundo Novo 1939 1 
- Casa Publicadora não identificada 1840 16 
                                                 
40
 Identifiquei apenas uma edição, mas o título produzido em Pelotas, O Rio Grande do Sul para as 
escolas, teve mais de 100 edições, de acordo com Bittencourt (2008). 
 PARIS 
(França) 
06 Edições 
01 Casa de Va. J. P. Aillaud, Monlon & Cia 1855 2 
02 J.-P. Aillaud, Guillard & Cia. 1867 1 
03 Guillard, Aillaud & Cia. 1872 3 
04 Typographia Pillet et Dumoulin 1880 1 
 
LEIPZIG 
(Alemanha) 
04 Edições 
 F. A. Brocklaus 1873 4 
 
LISBOA 
(Portugal) 
03 Edições 
01 Imprensa de Lucas Evangelista 1854 1 
02 Imprensa Nacional 1865 1 
- Casa Publicadora não identificada 1882 1 
 
PORTO 
(Portugal) 
01 Edição 
01 Livraria Portuense de Lopes 1895 1 
 
LONDRES 
(Inglaterra) 
01 Edição 
01 L. Thompson (na officina portugueza) 1824 1 
 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
   
O Rio de Janeiro, ao longo do século XIX, e no período delimitado, liderou a 
produção dessa bibliografia, com 66% do total. São Paulo assumiu essa liderança 
no século XX, mas com expansão mais significativa apenas após a década de 1930, 
pelo menos no que concerne às publicações didáticas de Geografia, em um 
crescendo no qual assumiria a ponta na segunda metade daquele século. De 
qualquer forma, para o período entre 1839 e os anos 1930, teve suas casas 
editoriais participantes com 14% das publicações didáticas de Geografia. O terceiro 
lugar é ocupado por Porto Alegre, com 8% da produção no período (Cf. Gráfico 02). 
Geograficamente, a produção do acervo da bibliografia didática de Geografia 
distribuiu-se por 25 localidadades, incluindo cinco cidades estrangeiras citadas como 
sede da edição. No Brasil, conforme indica o mapa da Figura 02, a produção dividiu-
se por 14 províncias/estados: Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Niterói, Campos), São 
Paulo (São Paulo, Santos, Pirassununga), Rio Grande do Sul (Porto Alegre, 
Pelotas), Paraná (Curitiba), Bahia (Salvador), Pernambuco (Recife), Pará (Belém), 
Amazônia (Manaus), Ceará (Fortaleza), Maranhão (São Luiz), Minas Gerais (Belo 
Horizonte, São Sebastião do Paraíso), Alagoas (Maceió), Sergipe (Aracaju), Rio 
Grande do Norte (Mossoró). 
 
  
 
 
 
GRÁFICO 02 – Distribuição da produção de livros didáticos por localidade (1814-1939). 
66%
14%
8%
2%
2%
1%
3%
3% 1%
RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO
PORTO ALEGRE
SALVADOR
RECIFE
BELÉM
OUTROS COM MENOS DE 05
EDIÇÕES
LOCAIS NÃO IDENTIFICADOS
PARIS
 
  Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
  Fonte: Pesquisa direta, 2007-2011. 
 
Nota-se, em todo esse percurso, o predomínio das cidades e regiões 
litorâneas e o destaque para as províncias (depois estados) mais prósperas no 
período, a começar pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, mais tarde, muito influentes 
nacionalmente. 
Destacam-se também outros pontos regionais importantes, como o Rio 
Grande do Sul, marcado por produzir manuais didáticos com muita ênfase na 
abordagem do próprio estado, além da Bahia, Pernambuco e Recife. 
Bittencourt (2008) já assinalou o fato de Manaus e Belém, além de São Luiz 
do Maranhão, assumirem certa especialização na produção de obras de Geografia, 
no contexto da iniciação da exploração geográfica da região amazônica, coadunado 
com o interesse de proteger a região, igualmente, da cobiça internacional, fato que 
põe em relevo os conhecimentos espaciais. 
  
 
 
FIGURA 02 – Distribuição geográfica41 da produção da bibliografia didática de Geografia no 
Brasil (1814-1939). 
 
   Fonte: Pesquisa direta, 2007-2011. 
 
Porto Alegre foi outro centro regional importante na produção de livros 
didáticos de Geografia. O interessante é notar que a educação geográfica do Rio 
Grande do Sul apresentou uma tradição de estudo do seu território provincial bem 
maior que outras regiões. Não se limitou a abordar o Rio Grande do Sul como parte 
                                                 
41
 Delimitação política atual. Não corresponde ao traçado das regionalizações do período. 
da Corografia ou Geografia brasileira, mas dedicando obras específicas ao Rio 
Grande, como exemplificam algumas das produções didáticas dessa região: Eudoro 
Brazileiro Berlink42, com o Compendio de Geographia da Provincia de São Pedro do 
Rio Grande do Sul (cinco edições até 1881), Hilário Ribeiro43, com a Geographia do 
Rio Grande do Sul (1880; 1881), A. G. Lima, com Noções de Geographia. Curso 
complementar. I parte. Rio Grande do Sul (sete edições até 1935) e J. Pinto 
Guimarães44, com O Rio Grande do Sul para as escolas, obra que foi um verdadeiro 
best-seller, com 100 edições até 1898. 
Com indicação de sede no estrangeiro, tem-se França (Paris), Alemanha 
(Leipzig), Portugal (Lisboa, Porto) e Inglarerra (Londres) – (Cf. Figura 03). Devo 
frisar, ainda outra vez, que uma parte significativa das obras referenciadas por 
editoras ou filiais brasileiras tinha as impressões realizadas na Europa. As 
mencionadas acima ou eram obras importadas ou foram relatadas como obras 
editadas nestes locais. 
É interessante notar a convivência entre editoras e tipografias. Das 948 
edições registradas neste trabalho, apenas 287 foram publicadas propriamente por 
editoras com expressão nacional, como a Impressão Régia, a Laemmert, a Garnier, 
a Francisco Alves, a Jacintho Ribeiro dos Santos, a Paulo Azevedo, A Noite, a 
F.T.D., a Melhoramentos, a Companhia Editora Nacional e a Globo, sendo todo o 
restante, a maioria, publicado por pequenas tipografias ou casas editorias de 
alcance local: 
 
As pequenas editoras ou gráficas prestavam-se, geralmente, para imprimir 
as obras encomendadas pelos próprios autores. Ao acompanharmos as 
edições dos livros escolares, observamos que, ao obter sucesso de 
vendagem, havia a transferência ou compra de obras ou dos direitos 
autorais pelas editoras maiores (BITTENCOURT, 2008, p. 74). 
                                                 
42
 Eudoro Brazileiro Berlink – Nasceu em Porto Alegre, em 1843 e faleceu no Rio de Janeiro, em 
1880. De filiação política conservadora, foi professor e jornalista. Dirigiu o jornal Rio-Grandense, 
órgão de comunicação do Partido Conservador. No Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1876, 
trabalhou no jornal O Cruzeiro. Foi autor da obra de Geografia mencionada acima e de Caxias. 
Apontamentos para a História Militar do Duque de Caxias (1870). Para o teatro escreveu Georgina 
(BLAKE, 1893; ALMEIDA, 2007; PORTO-ALEGRE, 1917). 
43
 Hilário Ribeiro – Nasceu em Porto Alegre, em 1847 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1886. Cursou 
Medicina no Rio de Janeiro, mas precisou abandonar os estudos por motivos de saúde, passando a 
dedicar-se ao ensino, atuando como professor e proprietário de escola. Escreveu poesias e peças de 
teatro, além de obras didáticas (PORTO-ALEGRE, 1917; HALLEWELL, 2005). 
44
 J. Pinto Guimarães – Não foi possível localizar informações sobre esse autor. 
  
          
FIGURA 03 – Distribuição geográfica45 da produção da bibliografia didática na Europa 
(1814-1939). 
 
       Fonte: Pesquisa direta, 2007-2011. 
 
 
Esse fato é aferido diversas vezes na bibliografia didática de Geografia: Thomaz 
Pompeu de Souza Brasil publica seus Elementos de Geographia em Fortaleza pela 
Typographia de Paiva e Companhia, em 1851, pela qual saiu a segunda edição, em 
1856, e transfere a terceira edição, em 1859, para a tipografia Domingos José 
                                                 
45
 Delimitação política atual. Não corresponde ao traçado das regionalizações do período. 
Gomes Brandão e Irmãos; a quarta edição em diante, que é de 1864, foi transferida 
para o Rio de Janeiro, onde foi editada pela Laemmert. Já no século XX, Carlos 
Miguel Delgado de Carvalho publica a Geographia do Brasil. Tomo I. Geographia 
Geral pelas Impressões Artísticas/Empresa Foto-Mecânica do Brasil, em 1913 e, a 
partir da terceira edição, em 1927, a obra, com todas as modificações endossadas, é 
editada pela Francisco Alves. 
Porém, por editoras ou tipografias, os dados reafirmam o Rio de Janeiro 
como centro econômico e cultural brasileiro, âmbito das decisões políticas, às quais 
a existência do livro didático sempre esteve atrelada, mas não necessariamente o 
único lugar. Resgardadas as proporções, houve uma descentralização nesse 
processo, do sul ao norte do país, excluindo-se os estados interioranos. 
A Impressão Régia, que depois assumiria outros nomes (Imprensa Nacional, 
Imprensa Oficial, Tipografia Nacional...), foi a primeira casa dos manuais de 
Geografia: ao longo do século XIX editou 11 edições, a partir de 1814. A liderança, 
contudo, no século XIX, foi dividida com a Garnier, casa que publicou 30 edições, de 
1860 em diante, e com a Laemmert, com 35 edições, sendo a primeira de 1835. A 
partir de 1880, a Francisco Alves, então Livraria Clássica de Nicolau Alves, passou a 
atuar no mercado dos livros didático de Geografia, liderando todas as casas, com 
110 edições, das que identifiquei. 
Na segunda metade do século XIX, algumas editoras passaram a assumir os 
riscos comerciais para suprir o mercado com livros didáticos: o estado nacional da 
educação já permitia assumi-los. O editor francês, radicalizado no Brasil, Baptiste 
Louis Garnier (1823-1893), foi o pioneiro nesse sentido, além de um grande inovador 
dos projetos gráficos como um todo: introduziu diversos padrões que passariam a 
ser comerciais para o livro brasileiro, como o formato francês – in-oitavo (16,5 x 10,5 
cm) e in-doze (17,5 x 11,0 cm), o volume único, preços de capa fixo, o pagamento 
de direitos autorais – assumindo, assim, todos os encargos inerentes a uma edição. 
Isso permite afirmar que Garnier foi um editor inovador: 
 
Transferir um autor para um editor o trabalho completo e o risco financeiro 
de publicar seu livro e ser pago por isso já era possível, há muitos anos, na 
Inglaterra e na França; no Novo Mundo, isso ainda constituía novidade [...] 
(HALLEWELL, 2005, p. 209). 
 
Embora Laemmert, outro editor importante ao tempo de Garnier, tenha 
publicado livros didáticos, considerando todas as áreas, sem dúvida Garnier foi o 
principal impressor e comerciante de livros didáticos em geral, posto que perderia 
apenas para a casa de Francisco Alves, décadas depois, embora Laemmert tenha 
publicado mais títulos de Geografia que a Garnier. 
No conjunto dos materiais impressos das tipografias e editoras, o valor 
dimensionado a esse gênero pode ser perceptivo na abertura e incentivos a essas 
produções. Lajolo; Zilberman (1996), a esse respeito, mencionam direitos a autores 
de livros didáticos que chegavam a 20% sobre o valor do volume, percentagem que 
era (é) o dobro de qualquer pagamento autoral em qualquer época. 
O interessante é que, no cenário geral dessas publicações, a maioria das 
obras didáticas destinava-se ao ensino primário; mas, especificamente no que diz 
respeito à Geografia, a maioria dos títulos tinha por alvo o ensino secundário. 
Somente a partir do fim do século XIX passariam a ser mais frequentes obras 
individualizadas para o ensino de Geografia em nível primário. 
Até 1912 não havia proteção internacional aos direitos autorais no Brasil, 
sobretudo para os autores não residentes. Muito da sobrevivência e crescimento das 
editoras nacionais se deveram a esse fato. Os rudimentos legais de proteção aos 
direitos autorais de estrangeiros originaram-se no artigo 261 do Código Criminal do 
Império, de dezembro de 1830, cujo texto criminalizava as apropriações indevidas, 
mas sem efeitos diretos. Para os brasileiros, era tradição o próprio autor custear 
suas edições, situação que se observa de perto na bibliografia didática de Geografia, 
na ação do amplo conjunto das pequenas tipografias. Além disso, muitas instâncias 
responsáveis pela avaliação e aprovação do livro didático só o recebiam para esse 
procedimento uma vez impresso, não os originais. Por isso se nota que, 
praticamente, todo livro bem sucedido, aqueles que tiveram reedições, migravam de 
tipografias particulares para casas comerciais, o que só acontecia sob a proteção e 
aceitação dos especialistas ou da crítica – o que os levava a ser adotados por 
importantes instituições escolares. O livro, nessas condições, garantia seu sucesso 
comercial, aferido também pelo renome e tradição do autor. Com certeza esse 
esquema aferia dificuldades para o autor, que não raro, por não ter pecúlio para 
financiar uma tiragem, agia por meio de subscrições, cotizando o valor da impressão 
entre amigos – uma espécie de venda antecipada. Garnier, que introduziu o 
pagamento regular de direitos autorais, na base de 10% sobre o valor da capa, era 
extremamente conservador quanto à edição de didáticos, raramente endossando 
primeiras edições. Francisco Alves, por sua vez, tinha habilidades para identificar 
uma boa obra comercial e frequentemente agia por encomenda, solicitando aos 
autores determinadas obras. Todavia, talvez fossem os autores de livros didáticos os 
únicos a realmente ter na produção destes alguma renda regular, considerando-se 
que algumas tiragens da Livraria Alves, anos após o Império, variavam entre cinco e 
cinquenta mil exemplares.  
A ação de pequenas editoras revela, sobretudo, as dificuldades de 
integração de um mercado editorial, mas não só. No Império, o Estado preocupou-se 
essencialmente com o ensino da Corte, delegando autonomia às províncias para 
cuidar de seus interesses educacionais. Com isso, era comum que os currículos 
sofressem divergências, apresentando regionalidades curriculares que poderiam 
conflitar com os da corte. Assim, surgiram manuais locais com perspectivas 
geográficas e históricas particulares, sobretudo se para o ensino primário. Obras 
como a Pequena Geographia da provincia do Pará, de Cunha, ou Noções de 
Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucção primaria da 
província do Pará, de Freitas eram essencialmente regionais, não atendendo a um 
mercado mais amplo. 
Em um prospecto particular, diferentemente do panorama geral do livro 
didático, após a reabertura das importações, para o manual didático de Geografia 
não se aplica o relato de Hallewell (2005, p. 215): “com o reestabelecimento dos 
intercâmbios, durante muitos anos pouca coisa ouvimos de livros escolares 
brasileiros”. Embora em número não expressivo, a primeira metade do século XIX 
presenciou a gênese de um acervo bibliográfico para o ensino de Geografia bastante 
significativo. Afora a Impressão Régia, a editora Laemmert, juntamente com a 
Garnier, foram as casas comerciais pioneiras no desenvolvimento de uma linha 
editorial de obras didáticas, em particular as de Geografia, mas a par delas, e desde 
a década de 1830, a quantidade de títulos nacionais de Geografia foi significativa. 
Se a editora e livraria de Garnier foram pioneiras no mercado editorial do 
livro didático brasileiro, Francisco Alves foi o consolidador, ao fazer deste mercado 
sua principal fonte empresarial. Sem dúvida, contribuiu para isso a conjuntura 
educacional do Brasil nas décadas precedentes e subsequentes à virada para o 
século XX, conforme veremos adiante. 
Na avaliação de Hallewell (2005, p. 289), o livro didático, difundido a partir 
da Livraria Francisco Alves, teve um papel maior que seus fins metodológicos de 
ensino: “[...] ao analisar a contribuição de Alves para a difusão da literatura brasileira, 
não devemos desprezar a inegável importância de seus compêndios escolares e 
antologias” (HALLEWELL, 2005, p. 289). Francisco Alves de Oliveira levou ao limite, 
em sua época, a experiência de uma editora com os didáticos. Sua importância 
como editor costuma ser relegada justamente por esse motivo, como analisa 
Hallewell (2005, p. 277 e 289): “As reminiscências da vida literária do Rio de Janeiro, 
na virada do século [...] deixam totalmente de lado outro editor e livreiro tão 
importante quanto [...outros], talvez porque lidasse principalmente com livros 
didáticos”; no entanto, “[...] ao analisar a contribuição de Alves para a difusão da 
literatura brasileira, não devemos desprezar a inegável importância de seus 
compêndios escolares e antologias”. E de fato o livro didático é um mal estar 
completo entre escritores e acadêmicos no Brasil, já naquele tempo, e ainda o é, na 
atualidade. Na avaliação dos críticos, este gênero pertence a obras de menor conta 
no conjunto de fatores que circunscrevem os manuais escolares, devido a um 
conjunto de estranhamentos: a autoria – no sentido sociológico – os manuais, 
enquanto obras de divulgação, não são percebidos como uma criação completa, 
portanto exclusas das instâncias de formulação teórico-metodológica atuante na 
crítica, mesmo na especializada, a acadêmica: compilam, simplificam, não 
contribuem com o avanço da área na qual se inserem; o público alvo – são obras 
destinadas à instrução, alcançando, por isso, um público imaturo, cujo “acontecer em 
cena” dificilmente reverbera no “debate” ou “composição do cenário” no qual uma 
obra comum se posiciona. 
Estes, dentre outros fatores, levam o livro didático a um lugar quase maldito 
na cena editorial e acadêmica, de maneira que o anonimato frequentemente foi/é 
uma recorrência, como se nota mesmo entre as personagens mais engendradas no 
processo criativo e produtivo dos manuais escolares, como o é Francisco Alves: 
 
O uso de diversos pseudônimos manteve desconhecido esse lado de suas 
atividades [autoria de livros didáticos – a maioria na linha da linguagem] até 
mesmo para amigos de trinta anos; após sua morte, porém, Oswaldo de 
Melo Braga conseguiu identificar nada menos que trinta e nove livros de 
autoria de Francisco Alves (HALLEWELL, 2005, p. 279). 
 
A Livraria Francisco Alves emergiu de outra empresa, a Livraria Clássica, do 
editor Nicolao A. Alves que, desde 1872, anunciava sua especialização na linha de 
livros escolares e acadêmicos (identifiquei o primeiro de Geografia no ano de 1880). 
Naquele tempo, atuava mais com livros importados do que propriamente com obras 
da produção nacional. Francisco Alves, sobrinho de Nicolao, quando adquiriu a 
casa, após um período de sociedade, manteve a área de atuação da Livraria 
Clássica, ampliando-a com a inclusão de manuais para as escolas primárias e 
incrementando o desenvolvimento editorial, praticado também por questão de 
barateamento dos custos de produção, na Europa. A grande inovação de Francisco 
Alves, além do centramento do seu negócio nos manuais didáticos – um mercado 
estável, de vendas seguras e de maior volume –, consistiu no incentivo e 
incorporação de uma produção nacional, haja vista a vantagem para o editor 
nacional, uma vez que apenas com dificuldades os competidores estrangeiros 
inseriam-se no mercado brasileiro, pois os produtos destes “[...] jamais podem 
adaptar-se tão bem às condições ou aos currículos locais” (HALLEWELL, 2005, p. 
280). 
 
 
FIGURA 04 – Baptiste Louis Garnier (1823-1893), pioneiro das atividades editoriais para o 
livro didático brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917), que consolidou o mercado 
das publicações didáticas no Brasil. 
Fonte: HALLEWELL (2005, p. 198 e 277). 
 
 As relações sociais de Francisco Alves muito o favoreceram, a exemplo da 
amizade que manteve com Teófilo das Neves Leão, Secretário da Educação na 
presidência de Prudente de Morais, que foi leitor dos originais da Livraria e seu 
conselheiro, muito auxiliando o editor na tomada de decisões corretas e coerentes 
na definição do acervo didático de sua empresa, de acordo com o movimento 
educacional do seu tempo (HALLEWELL, 2005). 
A importância da Livraria Francisco Alves fez com que os negócios tivessem 
necessidade de expansão, já no período republicano, sendo abertas filiais em São 
Paulo e Belo Horizonte: “a firma havia crescido rapidamente a partir de meados da 
década de 1890 e logo chegou a deter o quase monopólio no campo do livro didático 
brasileiro”, também por um método econômico, uma vez que conseguira a “[...] 
suplantação dos concorrentes mediante a prática de tiragens maiores, o que 
barateava os preços, e, em parte, com a aquisição das firmas rivais” (HALLEWELL, 
2005, p. 285). Perícia econômica, escolhas apropriadas e uma massiva propaganda 
foram a receita empresarial de Francisco Alves para o mercado do livro didático. 
Por fim, vale mencionar que a atuação das editoras comerciais foi central na 
questão da distribuição dos livros, sobretudo nacionalmente. Muito trabalharam na 
divulgação de seus catálogos por meio de jornais, submetendo os títulos à 
apreciação crítica dos jornalistas, promovendo resenhas ou anúncios publicitários. 
 
 
2.4 O desenvolvimento físico-gráfico dos manuais didáticos de Geografia 
 
O aspecto físico-gráfico dos livros didáticos em geral conforma uma história 
e uma significação particulares, nas quais os manuais de Geografia têm suas 
especificidades com implicação direta na organização do ensino e da aprendizagem 
dessa disciplina. Entre os designers, semióticos e analistas do discurso – quanto à 
materialidade impressa – é consenso que a leitura tem início pela visualização do 
objeto e, sobretudo, pela visualização gráfica, que causa “[...] um impacto no 
observador e uma inconsciente primeira leitura [...] do material impresso. A partir daí 
o arranjo gráfico passa a atuar como discurso; e como discurso, possui uma 
linguagem específica e uma rede encadeada de significação” (SILVA, 1985, p. 40). 
De acordo com Martins (2006), nas materialidades impressas conjugam-se pelo 
menos três modalidades de linguagem: a linguagem verbal, que expressa a escrita, 
a linguagem matemática – as equações, gráficos, notações, tabelas, e a linguagem 
imagética, que apresenta desenhos, fotografias, mapas, diagramas (MARTINS, 
2006). 
Os manuais de Geografia, relacionados na bibliografia da pesquisa, 
apresentam um quadro gráfico que passará por poucas transformações; são, de 
certa forma, homogêneos até a virada para o século XX, quando haverá algumas 
inovações relevantes, embora pontuais, no padrão gráfico desses materiais. 
Até a década de 1960, a linguagem do livro didático em geral esteve inscrita 
no universo da cultura escolar: a partir de então, inscreve-se em outras linguagens, 
sobretudo a da comunicação impressa (MORAES, 2008). Ou seja, a linguagem 
instrucional do gênero foi basicamente verbal, opositiva à miscelânea linguageira 
que se alinhou à produção do livro didático a partir dos anos 1960, por exemplo, 
quando se instituiu uma semiótica didática, com recursos iconográficos de diversas 
estirpes, ampliando a compreensão do leitor e diversificando a experiência da leitura 
e do estudo do livro didático. O layout das últimas décadas praticamente perdeu a 
simplicidade e certa inocência identificável nas técnicas de composição do bloco 
impresso dos livros do período, ganhando traços e efeitos que inovam a 
diagramação e potencializam o funcionamento discursivo das disciplinas. Até com 
certo exagero, havendo casos em que se percebe um predomínio dos recursos 
iconográficos sobre os recursos textuais. 
O livro brasileiro, formalmente, foi influenciado pelo modelo de impressão 
francês. Talvez por uma razão técnica, já que a maioria das impressões era feita 
diretamente na França, ou por alguns dos principais livreiros e editores do país 
terem sido franceses. Predominantemente, são livros de capa dura. O mais comum, 
até os anos 1870, era que a capa identificasse apenas o título da obra e a autoria, 
geralmente na lombada. As primeiras edições da Impressão Régia, por exemplo, 
“[...] eram vendidos brochados. Geralmente saíam cobertos com uma simples capa 
de papel cinzento ou azulado, papel barato, como se usava na Europa. O comprador 
é que os mandava encadernar por sua conta e a seu gosto” (MORAES, 1975). Às 
vezes, o livreiro já os vendia encadernados, mas não era regra. De qualquer forma, 
encadernação e impressão, até final do século XIX, não eram sempre partícipes do 
mesmo processo industrial. Muitos dos livros impressos na Europa sequer eram 
exportados prontos: vinham em rolos impressos, aquartelados em barris, sendo, pelo 
livreiro, cortados, montados e agregados por colagem ou costura (HALLEWELL, 
2005). À maneira da França, são comuns os encadernamentos marmorizados, com 
falsas nervuras e filigramas, como se observa, ainda, em um exemplar de 1878, das 
Lições de Geographia do Abbade Gaultier46, ou encadernados de forma mais 
simples, com cartonado espesso e tecido, sem identificações, como o exemplar de 
Joaquim Maria de Lacerda, Curso methodico de Geographia physica, politica, 
histórica, commercial e astronomica, composto para uso das escolas brazileiras, de 
1887 (Figura 05). 
 
 
                                                 
46
 Abbade Gaultier – Religioso nascido na Itália (1745-1818), mas radicalizado na França do século 
XVIII, migrou para a Inglaterra quando da Revolução Francesa, onde abriu um curso público e 
implementou um método de ensino que ficou conhecido como “método Gaultier”, prenúncio do 
método de ensino mútuo. Sua geografia didática, utilizada por quase um século, foi estruturada no 
método socrático, ou dialogada, em que alunos fazem perguntas e o mestre responde, 
desenvolvendo o conteúdo (SCROSOPPI, 1939). 
 FIGURA 05 – Encadernações típicas da bibliografia didática de Geografia até fins do século 
XIX. 
Autoria: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
Esse padrão passaria por transformações, como ademais o livro brasileiro em geral, 
no que se refere à constituição do encapamento das obras. A folha de rosto, desde a 
constituição dos livros impressos, destacou-se como uma espécie de certidão de 
nascimento da obra, apresentando identificações como autoria, titulação, editoração 
e outras informações. O que se nota na bibliografia, a partir dos anos 1880, é uma 
transferência do constituto das folhas de rosto para as capas, que importam ou 
mesmo reproduzem o layout das folhas de rosto, ou constituem uma informação 
mais personalizada, deslocando a identificação exclusivamente das lombadas. A 
contracapa também passa a ser utilizada, geralmente para comerciais do editor ou 
da livraria, anunciando outros lançamentos ou sortimentos relacionados ao ambiente 
escolar (Figuras 06 e 07). 
A maioria dos manuais de Geografia editados até o final do século XIX tinha 
tamanho in-oitavo (16,5 x 10,5 cm) e in-doze (17,5 x 11,0 cm). Nesse período, 
geralmente os livros para o ensino primário eram menores que esse padrão, como a 
Pequena Geographia da Infância, de Lacerda. Nas primeiras décadas do século XX, 
no entanto, esse padrão é modificado em alguns casos, com o aparecimento de 
obras mais largas e em formato panorâmico, especificamente para o ensino 
primário, a exemplo da obra Geographia Elementar, de A. de Rezende Martins47 
(Figura 08). 
 
 
 
                                                 
47
 Amélia de Rezende Martins – Renomada musicista paulista, pianista e camerista, neta do Barão 
Geraldo Rezende, nascida em Campinas (São Paulo), em 1877, e falecendo em data ignorada no Rio 
de Janeiro, cidade onde viveu a maior parte de sua vida. Apesar de na música estar registrada suas 
contribuições mais relevantes, foi ainda autora de livros didáticos de História e Geografia, em um total 
de seis, todos “approvados e adoptados pela Instrucção do Districto Federal”, além de filmes 
pedagógicos, ensaios e críticas, atuando ainda como polemista e conferencista. Suas atividades 
intelectuais foram iniciadas na década de 1910, com a escrita de livros didáticos, contextualizados na 
Escola Nova e na linha montessoriana. Sua contribuição para a educação brasileira inclui, ainda, a 
produção de diversos filmes pedagógicos cujo propósito era complementar aulas expositivas. Como 
conferencista e polemista, participou de eventos e debates sobre questões sociais polêmicas, 
contribuindo para diversos periódicos e diários cariocas. Juntamente com Theodoro Heuberger e Frei 
Pedro Sinzig, em 1931, no Rio de Janeiro, fundou e presidiu a Pro-Arte Sociedade de Artes, Letras e 
Ciências, em cujos salões realizaram-se exposições, conferências e concertos e, posteriormente, 
difundiu trabalhos artísticos e instituições de música. A despeito das dificuldades de comunicação e 
transportes, participou de caravanas artísticas que transitaram por cidades do Paraná, Santa Catarina 
e Rio Grande do Sul, levando música, exposições e obras de artesanato (TINHORÃO, 2000; 
COELHO; PRO-ARTE, 2009). Reformadora e arquiconservadora em diversas questões, incluindo 
gênero e educação, chegou a afirmar que “[...] é preferível a ignorância completa e uma sã moral, 
ciência nenhuma e muito catecismo, a todo esse simulacro de instrução, que serve apenas para 
infelicitar uma onda de meninas brasileiras” (MARTINS, apud BESSE, 1999, p. 133). 
 FIGURA 06 – Capa da 5. ed. da Chorographia do Brasil, de Henrique Martins (1896): a 
identificação da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa frontal. 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A qualidade do papel igualmente reflete alguns nuances da trajetória do livro 
didático de Geografia. Até a década de 1880, os livros espelham o prestígio de um 
consumo mais elitizado, sendo impressos em papel de qualidade, em sua maioria, o 
que inclusive garantiu uma maior preservação dos exemplares sobreviventes. 
Apenas na entrada do século XX se consta uma oscilação na qualidade do papel, 
quando o livro, já consolidado como objeto pedagógico do discente, tem 
aumentadas suas tiragens e, por conseguinte, o consumo, processo que visou o seu 
barateamento. 
 
 FIGURA 07 – Reprodução da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra 
illustrada. Geographia universal, physica, ethnographica, política e econômica das cinco..., 
de Frere Ignace Chaput (F.I.C.). 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
O uso de imagens já era uma recomendação na Didática de Comenius 
(1986), no século XVII. Mas a viabilidade desse uso, em escala mais ampla, foi 
possível apenas com o aparecimento da litografia, em fins do século XVIII, uma 
técnica de gravura realizada a partir do desenho com um lápis gorduroso sobre uma 
pedra calcária, reproduzido posteriormente com impressão manual. Ao passo que 
alguns livros só passaram a contar com recursos iconográficos a partir de meados 
do século XX (NAKAMOTO, 2010), os livros de ciências e Geografia tiveram alguma 
tradição no uso de ilustrações. A cor é outro recurso relevante na técnica gráfica. 
Particularmente, são relevantes no discurso pedagógico da Geografia, haja vista a 
semiologia gráfica empregada nas representações cartográficas, na 
iconoinformações da Geografia Física e na diferenciação de elementos na 
paisagem, nas simbologias nacionais etc. No período em análise, a predominância 
foi do preto e do branco e, quando dispostas representações, das hachuras. Não 
que fosse desconhecida sua importância, mas propriamente por uma questão 
econômica; esses recursos encareciam a produção. No contexto dos projetos 
gráficos, as cores têm seu próprio funcionamento: “ao utilizar deliberadamente uma 
determinada cor num projeto, esta exerce três ações no sujeito receptor: de início, 
físico, impressiona a retina; depois, psíquico, pois provoca uma reação; e é também 
construtiva, visto que possui um valor, podendo assim comunicar uma ideia” 
(NAKAMOTO, 2010, p. 70). 
 
 
 
 
FIGURA 08 – Geographia Elementar, de A. de Rezende Martins – exemplar de 1926: das 
primeiras obras em formato panorâmico. 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
O uso de imagens já era uma recomendação na Didática de Comenius 
(1986), no século XVII. Mas a viabilidade desse uso, em escala mais ampla, foi 
possível apenas com o aparecimento da litografia, em fins do século XVIII, uma 
técnica de gravura realizada a partir do desenho com um lápis gorduroso sobre uma 
pedra calcária, reproduzido posteriormente com impressão manual. Ao passo que 
alguns livros só passaram a contar com recursos iconográficos a partir de meados 
do século XX (NAKAMOTO, 2010), os livros de ciências e Geografia tiveram alguma 
tradição no uso de ilustrações. A cor é outro recurso relevante na técnica gráfica. 
Particularmente, são relevantes no discurso pedagógico da Geografia, haja vista a 
semiologia gráfica empregada nas representações cartográficas, na 
iconoinformações da Geografia Física e na diferenciação de elementos na 
paisagem, nas simbologias nacionais etc. No período em análise, a predominância 
foi do preto e do branco e, quando dispostas representações, das hachuras. Não 
que fosse desconhecida sua importância, mas propriamente por uma questão 
econômica; esses recursos encareciam a produção. No contexto dos projetos 
gráficos, as cores têm seu próprio funcionamento: “ao utilizar deliberadamente uma 
determinada cor num projeto, esta exerce três ações no sujeito receptor: de início, 
físico, impressiona a retina; depois, psíquico, pois provoca uma reação; e é também 
construtiva, visto que possui um valor, podendo assim comunicar uma ideia” 
(NAKAMOTO, 2010, p. 70).  
Os primeiros manuais de Geografia, sobretudo até a década de 1870, não 
possuíam ilustrações. Os mapas foram as primeiras representações a serem 
introduzidas, geralmente um mapa mundi ou do Brasil. Os livros de maior 
repercussão nesse período, como o do Abbade Gaultier, o de Thomaz Pompeu de 
Souza Brasil, o de Luiz Antonio Burgain48, não possuíam nenhum tipo de ilustração 
ou mapa. Geralmente custeado pelo próprio autor, ou por uma casa editora que não 
contava com uma demanda de mercado certa, não se podia arcar com os dispêndios 
da produção ou com o encarecimento da obra, fatos ligados à implementação de 
ilustrações, como fica aclarado no discurso de Torreão (1824, apud BOGLIAN, 2010, 
p. 80): 
 
Conheço que, para melhor intelligencia, eu devia gravar Mappas 
Geographicos, para esclarecer as divisoens dos Paizes, que descrevo; mas 
as minhas circuntancias actuaes não me offerecem as necessárias 
proporçõens para huma empreza tão delicada: portanto, como seja o meu 
                                                 
48
 Luiz Antonio Burgain – Foi um recohecido professor e dramaturgo brasileiro, nascido em 1812 e 
falecido em 1877. Escreveu obras didáticas de Geografia e de Língua Portuguesa (BLAKE, 1899). 
objecto dar aos meus Patrícios huma tintura geral de Geographia, resolvi-
me a publicar mesmo com essa falta, na persuasão de que as Cartas 
Universaes, e Geraes pódem muito bem applicar-se-lhe, com pequenas 
faltas, que serão supridas por qualquer hábil explicador. 
 
Em 1830, os Elementos de Geographia Astronomica, política e physica, de 
Manoel Ildefonso de Souza inovam nesse sentido, apresentando um mapa, fato 
posto em destaque no subtítulo da obra. 
No final do século XIX, alguns manuais de prestígio passaram a ostentar 
maior variedade de litografias e sobretudo mapas coloridos, como é o caso do Curso 
methodico de Geographia physica, politica, histórica, commercial e astronomica, 
composto para uso das escolas brazileiras, de Joaquim Maria de Lacerda, que 
apresentava “[...] 14 mappas coloridos, illustrada com grande numero de finissimas 
gravuras instructivas e interessantes” (LACERDA, 1898). Comumente, eram 
ilustrações anônimas, retratando paisagens ou descrevendo elementos da natureza, 
como plantas e animais (Figura 09). 
 
 
FIGURA 09 – Ilustrações e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de 
Geographia physica, politica, histórica, commercial e astronomica, composto para uso das 
escolas brazileiras, de Lacerda, 1887. 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Na primeira década do século XX, os livros da bibliografia passam por 
inovações nas apresentações e representações. Em 1901, é publicado o livro de 
Arthur Thiré49, Geografia Elementar, para o ensino primário, pela Francisco Alves. O 
livro apresentava um projeto gráfico completamente novo: capa ilustrada, colorida, 
mapas e desenhos coloridos, reproduções fotográficas (Figuras 10 e 11). Foi 
aprovado pelo governo do Estado de São Paulo, em ato legislativo de 08 de agosto 
de 1901, sendo apresentado, por meio de carta publicada na obra, por Theodoro 
Sampaio (1855-1937). A obra foi medalha de prata na Exposição Internacional e 
Universal de Bruxelas em 1910. 
Nesse momento, os manuais de Geografia começavam a incorporar as 
fotografias como recursos iconográficos, embora apresentassem nitidez inferior às 
ilustrações, sobretudo ao enquadrarem paisagens, ou representações que 
diversificassem e dispusessem de muitos detalhes. As Lições de Chorographia do 
Brasil, de Horacio Scrosoppi50, na segunda edição em 1911, é outra obra que 
incorpora as fotografias em seu corpo (Figura 12). Próximo à década seguinte, a 
qualidade gráfica das fotografias presentes na bibliografia melhorou sensivelmente, 
embora, tal como antes as ilustrações, que persisitiram presentes, tivessem um uso 
meramente ilustrativo, sem integrar o texto em abordagem: não eram comentadas 
nem exploradas como recurso didático. No máximo contavam com um curto título de 
identificação do objeto em representação. 
 
                                                 
49
 Arthur [Charles] Thiré – Nasceu na França, em Caen, em novembro de 1853. Formou-se em 
Paris, em Matemática e Engenharia Civil e de Minas na École Polytechnique de Paris. Em 1878, a 
convite de Dom Pedro II, mudou-se para o Brasil, para lecionar na Escola de Minas de Ouro Preto 
(MG). Permaneceu no Brasil até sua morte, trabalhando como engenheiro, diretor agrícola e como 
professor. Em 1910 assumiu a cátedra de Matemática no Internato do Colégio Pedro II. O autor 
traduziu obras técnicas da área de mineração e escreveu diversas obras científicas e didáticas, 
sobretudo de matemática, ensino para o qual apresentou muitas contribuições significativas, além da 
Geografia e das Ciências (THIENGO, 2005; SANTOS, 2009). 
50
 Horacio Scrosoppi – Nasceu em 1850 e faleceu em 1928. Foi educador. 
 FIGURA 10 – Capa da obra Geographia Elementar, de Arthur Thiré. 
                      Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
 
FIGURA 11 – Algumas páginas internas da obra Geographia Elementar, de Arthur Thiré. 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 FIGURA 12 – Fotografias ilustrando a obra Lições de Chorographia do Brasil, de Horacio 
Scrosoppi. 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Graficamente, o texto da bibliografia tem uma composição simétrica, às 
vezes mesmo sem colunamento, constituída basicamente pelos fios tipográficos do 
texto, até a década de 1870. A partir dos anos 1880 se verifica uma maior 
abundância de vinhetas, notas de rodapé, uma acentuação das pregnâncias 
(recursos expressivos), além de glossários, boxes de textos complementares e 
outros. As técnicas gráficas desse período compreendem a tipografia como forma de 
impressão dos textos, embasado na composição de caracteres (tipologia), com os 
tipos ou fontes produzindo diversos efeitos no texto corrido, na titulação. O principal 
destaque dos tipos, sua técnica mais elementar, são as serifas, pequenos efeitos 
nos caracteres que criam a ilusão de uma linha, movendo instantaneamente o leitor 
de uma letra a outra, de uma palavra a outra, o que define o valor e a qualidade da 
impressão. A expressividade da tipografia conta com recursos denominados 
“pregnância”, como itálico, negrito, caixa alta, sublinhado e sinalizações como traços, 
manchetes etc., que ocupam uma função na organização dos sentidos, alinhando 
significados a mais às palavras e à organização dos textos. O efeito gráfico principal 
é a legibilidade, para o que influi a forma dos tipos, o cumprimento das linhas, o 
entrelinhamento, os espaços definidos e as margens. O tamanho da fonte precisa 
ser compatível com o cumprimento da letra, e ambos com o espacejamento e tanto 
melhor será a leitura quanto for o equilíbrio entre a mancha gráfica e o espaço em 
branco (SILVA, 1985; NAKAMOTO, 2010). 
Na bibliografia em questão, a qualidade da impressão oscila, dependendo 
das edições: em geral são boas. Apenas com a ampliação das tiragens, e início do 
processo de ampliação da escolarização, é que se observa, às vezes, uma ou outra 
edição com menor qualidade gráfica e de impressão, em razão de barateamento de 
custos. 
 
 
* * * 
 
No próximo capítulo, procuro perceber a gênese do ensino geográfico no 
Brasil, considerando como marcadores históricos os períodos jesuítico, pombalino e 
joanino, momentos que dão os primeiros indícios de uma disciplina e da bibliografia 
didática de Geografia, com particular atenção à Academia Real Militar (1810), 
instituição integrante do movimento de introdução do pensamento científico no 
Brasil, e marco no ensino de Geografia brasileiro. 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
DO ENSINO IMPLÍCITO AO ENSINO EXPLÍCITO DA GEOGRAFIA: 
prenúncios da disciplina e do livro didático nos movimentos 
históricos anteriores à independência política do Brasil 
 
 
 
A história do livro didático no Brasil, incluindo os de Geografia, no período 
delimitado para a pesquisa, teve o primeiro centro de irradiação no Rio de Janeiro, 
onde predominou como atividade cultural e editorial até fins do século XIX, gestando 
nesse espaço sua formação, posteriormente deslocado para São Paulo, processo 
iniciado nas primeiras décadas do século XX e consolidado na segunda metade 
deste século, ressalvando-se algumas manifestações regionais importantes nesse 
entretempo (HALLEWELL; 2005; BITTENCOURT, 2008). 
As raízes da literatura didática de Geografia engendram-se na formação 
desta disciplina, cujos primeiros movimentos constitutivos se enunciam de forma 
evidente nas décadas iniciais do século XIX, embora nos três primeiros séculos de 
história do Brasil se encontrem vestígios de práticas deste ensino, ainda não 
autônomo nem expresso como necessidade nos objetivos educacionais de então, 
porém significativos. Compreender esse movimento educacional evidencia alguns 
dos contextos de emersão e desenvolvimento da disciplina Geografia e do seu livro 
didático. 
O livro didático, portanto, engendra-se no desenvolvimento de uma 
disciplina, e esta só é compreendida no contexto geral da educação (CHERVEL, 
1990; MOREIRA, 2007). 
A propósito, a gênese da educação brasileira, consensualmente, encontra-
se nas práticas educacionais dos padres da Companhia de Jesus e só mais tarde, 
no século XIX, o ensino de Geografia, em específico, começaria a ganhar corpo e 
independência. Os livros didáticos de Geografia, por sua vez, incorporarão conteúdo 
e expressão na medida em que a educação brasileira passou a ser sistematizada e 
normatizada, quando a Geografia escolar ocupou um lugar nessa educação como 
uma das disciplinas autônomas, ou ainda em caminho da autonomia, haja vista a 
fronteira cega que fez par com a História, muitas vezes. Seus status como disciplina 
autônoma e consolidada no sistema educacional foi um processo lento, certificado 
aos poucos. 
Que práticas geográficas foram essas? Quais os seus objetivos? Quais suas 
referências? Quais os seus agentes? Qual a sua relação e influência na literatura 
didática de Geografia?  
Até as primeiras décadas do século XX, a educação geográfica passou por 
um longo e difuso caminho até estreitar seu diálogo com as instâncias de produção 
da ciência, orientar a formação dos professores de Geografia, consolidar seu espaço 
na instituição escolar, e ser partícipe na institucionalização da Geografia acadêmica. 
Essa gênese inicia-se externamente às fronteiras do que na atualidade conhecemos 
como Geografia Moderna, de matriz científica, que demoraria ainda algumas 
décadas, a partir da segunda metade do século XIX, para ter expressão, na Europa, 
embora as condições históricas para tanto já estivessem lançadas, e em andamento. 
Procurando-se a história da literatura didática de Geografia, busca-se 
igualmente a dimensão de sua importância, o papel que exerceu na sistematização 
e divulgação de um saber geográfico brasileiro, a função exercida para preparar e 
orientar professores desprovidos de bases formativas nesse conhecimento. 
Não que a disciplina Geografia viesse necessariamente a ser uma 
vulgarização científica, pois a estrutura da disciplina se ergue do entrecruzamento de 
diversas instâncias, sendo a ciência apenas uma delas; a ciência, a seu tempo, teve 
contribuições importantes no processo de sustentação da Geografia escolar, assim 
como o contrário também se deu, pois a Geografia escolar contribuiu para 
institucionalizar a Geografia acadêmica: a formação de professores foi uma das suas 
razões de existência. 
No Brasil, as primeiras manifestações da Geografia como disciplina 
independente surgiram no ensino superior, na composição curricular de alguns dos 
primeiros cursos científicos, especificamente nas formações estabelecidas pela 
Academia Real Militar (1810). Teria essa presença influenciado o início do ensino de 
Geografia nos níveis secundário e elementar? Como se teria dado esse processo? 
Quais os outros influxos no mesmo? De antemão, respondo que as implicações 
dessa dinâmica foram determinantes para a composição da literatura didática de 
Geografia no Brasil. 
O palco do nascimento e fortalecimento, no Brasil, da disciplina escolar de 
Geografia, e também da História, foi o século XIX. Esse acontecer é abordado em 
duas teorias na literatura geográfica: na primeira delas, teria emergido da força e 
necessidade dos nacionalismos (VLACH, 1988; PEREIRA, 1999), no âmbito da 
educação das elites; na segunda, sua emergência se deveria ao fato de ter sido um 
instrumento da divulgação de uma cultura universal, necessária ao ingresso na 
civilização predominante, a europeia (ROCHA, 1996).  
Neste capítulo, defendo uma outra tese, que não necessariamente anula ou 
contradiz as duas anteriores, mas as amplia. Trata-se da hipótese de que o 
aparecimento da Geografia como ensino teve início com a introdução de uma 
educação científica na Colônia, em um primeiro momento; posteriormente, no 
alvorecer do Império, sua consolidação se acentua com o projeto político de 
formação do Estado brasileiro, ou das elites deste Estado, momento em que vamos 
ao encontro do movimento proposto por Vlach (1988), notadamente marcado no 
discurso de nacionalização do livro didático; esse movimento, nas primeiras décadas 
do século XX se expande no sentido de descentrar-se das elites e ser popularizado. 
Complementando esta hipótese, o processo de formação política do Brasil 
coincide, entre as décadas de 10 e 50 dos Oitocentos, no âmbito da educação, com 
a crise dos estudos clássicos e a emergência das abordagens científicas que, 
advindas do Iluminismo, adentram a cena educacional brasileira por meio das 
faculdades e escolas de estudos superiores no período joanino, e daí permeiam a 
educação básica em um processo paulatino que, em fins do século XIX, conta com a 
força das ideias positivistas para sua consolidação, já no período republicano. 
Há que se considerar, como demonstro com mais detalhes adiante, que a 
Geografia Clássica, com sua dupla orientação – a matemática e a descritiva – é o 
que encontraremos como referência para o ensino de Geografia no Brasil ao longo 
do século XIX, e a encontraremos em crise ao findar desse século, abrindo espaço 
para a ascensão da Geografia Moderna, que começa a ser introduzida no cenário da 
educação geográfica antes mesmo de sua institucionalização como ciência na 
academia, nas primeiras décadas do século seguinte. Em outras palavras, o ensino 
superior no Brasil se organizou em três núcleos: Medicina, Engenharias e, um pouco 
mais tarde, Direito. A Geografia matemática, especialmente, foi valorizada no âmbito 
dos cursos de engenharias, e a Geografia descritiva foi colocada como condição 
cultural e ideológica nos exames dos cursos de humanidades. Uma e outra, sem 
fronteiras claras. Mesclaram-se, por fim, com avanços e recuos, para estabelecer as 
bases curriculares da Geografia escolar. 
Em uma perspectiva discursiva, na qual se consideram as formações 
históricas e ideológicas inerentes à construção da realidade por meio da linguagem, 
há comprometimentos políticos indissociáveis a qualquer prática do discurso, dos 
quais não se isenta o discurso da Geografia, seja por manifestação, seja pelos 
silenciamentos impostos a ela: isso impede que seja vista unicamente, nos 
Oitocentos, como instrumento de uma cultura universal, como percebe Rocha 
(1996). A linguagem e suas práticas necessariamente são ideológicas, filiam-se a 
determinadas formações – a cultura inclusive. 
No período joanino e nos anos iniciais do Império, esses movimentos 
geográficos foram sutis, mas anunciavam o que estava por vir, e não devem ser 
desconsiderados. A fundação do Colégio Pedro II, em 1837, fará um ordenamento 
modelar no currículo do ensino de Geografia. Porém, até o surgimento desta 
instituição, o ensino de Geografia tem uma trajetória que se anuncia e precisa ser 
analisada (praticamente sem abordagem sistêmica na literatura específica), pois o 
ensino da Geografia e a instauração desse saber como disciplina escolar não é um 
ato inaugural do Colégio Pedro II – fato tomado como marco por muitos historiadores 
do ensino de Geografia brasileiro51. 
As obras de Geografia com o propósito do ensino sempre primaram pela 
atualização da realidade apresentada, gerando, no meio autoral e editorial, uma 
espécie de “angústia da desatualização”. Historicamente construídas, as geografias 
em representação ano a ano rapidamente envelheciam, desatualizando essas obras, 
sempre reescritas, acrescentadas, refundidas, aumentadas a cada nova edição. Em 
um dos exemplos mais clássicos, tem-se a Géographie moderne et universelle, do 
Abade Nicolle de la Croix, morto em 1760, cuja obra, ainda em circulação nos 
                                                 
51
 COLESANTI, 1984; ROCHA, 1996; PINHEIRO, 2005a e 2005b, dentre outros. 
Oitocentos, contava com ampliações e atualizações a cada edição, como a feita por 
Victor Comeiras em 1800, adentrando outras o século XIX. 
Outra necessidade que se impunha era a de adaptações, em duas vertentes: 
de um lado, adaptações de obras científicas para uso escolar (é o caso do Abrégé 
de la Géographie Moderne, adaptação francesa com fins didáticos da obra de 
Pinkerton); de outro, adaptações de obras estrangeiras à realidade nacional. 
Historicamente, esse material foi constituído pela agregação de padrões e 
elementos que o foram caracterizando com construções próprias a ele, tornando-o 
uma materialidade única e típica, de forma que a sua discursividade pode identificá-
lo como um gênero do discurso. 
Os livros escolares integram a constituição e a autonomia dos conteúdos 
enquanto disciplinas do ensino básico. Analisando e revisitando a história do livro 
escolar de Geografia brasileiro, a presente pesquisa faz face com alguns campos 
históricos e sociológicos da Educação, particularmente a História das Disciplinas 
Escolares e a História do Currículo. Nesta tese, estes campos históricos são 
ressignificados na perspectiva da Análise do Discurso na medida em que os textos 
são vistos, a partir da bibliografia sistematizada, como materialidades discursivas e 
seus produtores como sujeitos destes discursos. 
 
 
3.1 A educação colonial: os primeiros indícios de uma educação geográfica 
 
A educação colonial brasileira teve duas fases: a jesuítica e a pombalina. 
Como se sabe, promovida pela Sociedade de Jesus52, a escola elementar é o que 
houve de mais expressivo em termos de educação formal na Colônia brasileira, 
perdurando por pouco mais de 200 anos, desde a chegada do padre Manoel da 
Nóbrega, em companhia de outros jesuítas, em 1549, acompanhando Tomé de 
Souza, até o desmembramento da Sociedade em Portugal, no ano de 1759, e, por 
extensão, em todos os territórios coloniais da coroa portuguesa. A escola elementar 
                                                 
52
 Como amplamente conhecido, a Companhia de Jesus foi uma ordem católica fundada em 1534 por 
Ignácio de Loyola, com o objetivo de conter o avanço do Protestantismo por meio da educação e da 
ação missionária. 
complementava-se com cursos preparatórios para o ensino superior e para a 
formação eclesiástica. Os jesuítas, a esse propósito, edificaram um plano 
educacional que monopolizou a educação em dois planos: no primeiro, a catequese, 
cujo empenho estava na conversão dos indígenas (catequisados); no segundo, o 
empenho na instrução dos filhos dos colonos, quanto à escrita e à leitura, domínio 
da aritmética, e um curso de Humanidades (aulas avulsas de Latim, Grego, Filosofia 
e Retórica), que servia como preparação para os estudantes frequentarem cursos 
superiores em Portugal (instruídos) e como preparatórios para a formação de 
eclesiásticos53: 
 
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada, 
com o objetivo de atender à diversidade de interesses e de capacidades. 
Começando com o aprendizado de português, incluía o ensino da doutrina 
cristã, a escola de ler e escrever. Daí em diante, continua, em caráter 
opcional, o ensino de canto orfeônico e de música instrumental, e uma 
bifurcação tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agrícola e, 
de outro, aula de gramática e viagem de estudo à Europa (RIBEIRO, 2001, 
p. 21-22). 
 
A rigor, os jesuítas introduziram a estrutura básica da formação elementar no 
Brasil, abrindo duas direções de atuação educacional: as escolas de letramento e a 
preparação mais apurada para formação do ilustrado comum, ou preparação para o 
ingresso no ensino superior. De acordo com Moura (2000, p. 28), 
 
A distinção entre escola e colégio é importante no trabalho educacional dos 
jesuítas. O título de colégio foi desde cedo reservado para designar uma 
instituição devidamente fundada do ponto de vista monetário e dotada de 
uma abrangência mais vasta do ponto de vista educacional. 
 
As escolas ministravam alfabetização e catequese e praticamente eram 
anexas a todas as residências jesuíticas; já os colégios ministravam estudos de 
humanidades, e situavam-se nas cidades de maior projeção na Colônia. 
Apesar de os jesuítas terem um monopólio do ensino formal, houve também 
outras iniciativas, sejam privadas, sejam de outras ordens religiosas que também 
atuaram na educação, embora com menor expressão (como é o caso dos 
                                                 
53
 Era tradição, na aristocracia brasileira, ter dentre os filhos, geralmente o mais velho, um religioso. 
Para além da tradição cultural, a presença de um padre na família significava status social e 
expressão da pureza étnica, dado que a Igreja não permitia a formação de clérigos entre mestiços, 
negros ou índios. 
beneditinos e dos franciscanos): “deve-se admitir no Brasil o fato universal de que 
todo sacerdote secular sempre foi mestre de algum menino de famílias locais das 
suas relações” (MOURA, 2000, p. 54). 
A educação emergente na sociedade colonial do Brasil (estruturada 
basicamente por duas classes sociais – proprietários (de terras e escravos) e 
escravos – visava atender e manter uma ordem política de pertencimento à família 
aristocrática, que detinha com exclusividade os bens culturais importados de 
Portugal (ROMANELLI, 1985). Para isso, do denominado Descobrimento aos 
meados do século XVIII, os jesuítas levantaram a educação desde a construção de 
edifícios à elaboração de dicionários. E, nesses quase três séculos (incluindo o 
período posterior à expulsão dos jesuítas do Brasil), os livros de Geografia não 
chegaram a existir, pois ainda não havia uma disciplina para esses conteúdos; o 
ensino dessa área, como veremos, dava-se por meios indiretos, não possuindo 
propriamente um objeto/objetivos de ensino; mesmo o que havia de uma educação 
geográfica era distante da realidade vivenciada pelos educandos, referindo-se, 
sobretudo, a uma geografia histórica e eclesiática. 
Trata-se, nesses termos, de um ensino implícito de Geografia. 
A existência de manuais didáticos está intrinsecamente relacionada à 
formulação de disciplinas autônomas, e à presença de um currículo formulado e 
ativo, ou seja, vincula-se à dinâmica institucional de uma disciplina, pois são 
produtos integrantes e ao mesmo tempo constituintes da autonomia dos conteúdos 
no contexto escolar. 
A inexistência da Geografia enquanto ensino de uma visão territorial dos 
espaços geográficos, com suas perspectivas físicas ou societárias, quais sejam as 
verticalidades a estas associadas, explica-se pelos objetivos da educação, ou 
melhor, pelos objetivos da formação pretendida. Não havia, então, nada que os 
definisse. Não havia um sistema educacional independente para a Colônia, que 
refletisse as necessidades e os interesses desta, nem esses, em si, eram 
independentes e constituídos em outras instâncias – culturais, políticas, econômicas. 
A educação cristã e humanística dos jesuítas permitia-se – como toda a tradição 
escolástica – produzir o instruído sem fronteiras. Não havia, portanto, ainda, as 
condições históricas para o surgimento da Geografia escolar. O conteúdo geográfico 
mais expressivo do Ratio Ataque Institutio Studiorum Societatis Iesu54, a propósito, 
foi a Cosmologia – neutra em sua amplitude universal. Todavia, por outro lado, a 
concepção subjacente ao Ratio era a de que “educar não é formar um homem 
abstrato intemporal, é preparar um homem concreto para viver no cenário deste 
mundo”, de acordo com Franca (1952, p. 76). Este era o sentido da formação 
humanista que, no viés jesuítico, tinha como ponto de partida princípios da doutrina 
católica: formar o cristão já era uma preparação da humanidade para viver 
plenamente no mundo. 
Portanto, no período colonial não se teve um currículo para o ensino de 
Geografia: inexistiam necessidades históricas para isso. E não haver a disciplina 
Geografia não invalidava haver saberes geográficos em circulação no ensino formal, 
qual fosse ele. Eram saberes relacionados à Geografia Clássica, ou à Antiga, sendo 
desta selecionados para serem incorporados às diretrizes incidentes no aprendizado 
espacial inerente a outros aprendizados.  
A colônia brasileira foi instituída em torno do modelo econômico 
agroexportador, passando posteriormente por um ciclo de mineração que pouco 
alterou a formação social. Caracterizou-se, portanto, pela monocultura latifundiária, 
operado por mão de obra escrava, dirigida por uma classe de proprietários que 
também incorporava funções liberais, acomodando, ainda, o clero, por sua vez 
pouco diversificado, nos quais sobressaíram os jesuítas por dois séculos. Sem uma 
sociedade política autônoma, compunham-se as elites, além dos proprietários, por 
representantes do poder político metropolitano. O sentido da educação, portanto, foi 
bem explicitado e praticado pelos jesuítas: letramento, catequese, aprimoramento da 
cultura ou preparatório para a formação de profissionais liberais ou eclesiásticos, em 
Portugal, majoritariamente. Na análise clássica de Freitag (1986, p. 47), encontra-se 
uma perspectiva para a questão da educação no Brasil colonial: 
 
[...] a fase colonial caracterizava-se pela inexistência de instituições 
autônomas que compusessem a sociedade política. Essa se reduzia às 
representações locais do poder da metrópole. [...] não havia nenhuma 
função de reprodução da força de trabalho a ser preenchida pela escola. [...] 
A escola como mecanismo de re-colocação dos indivíduos na estrutura de 
classes era, portanto, dispensável. Restavam-lhe ainda duas funções: a de 
reprodução das relações de dominação e a de reprodução da ideologia 
dominante (FREITAG, 1986, p. 47). 
                                                 
54
 “Plano e Metodologia dos Estudos da Sociedade de Jesus”. 
 Conforme a análise da autora, uma forma de perpetuação da sociedade cristalizada. 
O Ratio Studiorum, a propósito, foi o documento educacional mais influente 
nos territórios coloniais de tradição católica. Produzido por uma comissão 
internacional de padres jesuítas, em 1586, e finalizado definitivamente em 1599; 
sofreu alterações apenas em 1832, após o retorno dos jesuítas às suas atividades 
em 1814, quando cessaram algumas décadas de suspensão da ordem55, mas sem 
atuação expressiva no Brasil. Todavia, o Ratio resultou de um amplo processo, 
endossando as experiências de uma ordem religiosa que surgiu, sobretudo, para 
educar. Conforme Franca (1952, p. 41), 
 
O trabalho de sua redação prolongou-se por obra de 15 anos (1584-1599) e 
obedeceu ao critério com que se preparam os currículos modernos mais 
bem elaborados. Primeira redação aproveitando um imenso material 
pedagógico acumulado em dezenas de anos; críticas dos melhores 
pedagogos de todas as províncias européias da Ordem; segunda redação; 
nova remessa às províncias para que a submetessem por um triênio à prova 
da vida real dos colégios; aproveitamento das últimas sugestões sugeridas 
à luz dos fatos; promulgação definitiva. 
 
Sistematizando a pedagogia jesuítica, o Ratio Studiorum continha 467 regras 
para o ensino e a orientação dos estudos, preconizados na filosofia de Aristóteles e 
na teologia de São Tomás de Aquino. As regras prescritas no Ratio abrangiam todas 
as fases do ensino e indicavam ações e comportamentos para todo o sistema 
educacional que impunha. Interessante é notar que a educação jesuítica se 
comportou, na educação brasileira posterior, como uma das mais significativas 
influências a estruturar o ensino, inclusive o de Geografia, ao lado de leituras do 
cientificismo oriundo do Iluminismo. Na educação brasileira do século XIX ocorrerá 
uma clivagem um tanto contraditória, com o ensino superior voltado inicialmente 
para o ensino científico, mas o ensino secundário terá um forte influxo da tradição 
literária dos jesuítas. A educação brasileira do século XIX lidará com ambas as 
influências. 
                                                 
55
 O governo português suspendeu as atividades da ordem em seus territórios em 1759. Em 1779, a 
Companhia de Jesus também foi suspensa pelo papa Clemente XIV. 
O Ratio procurava orientar as atividades do ensino fundamentando-se, em 
grande parte, no pedagogo clássico Quintiliano56. Vários elementos do Ratio 
sobreviveram no século XIX e às vezes mais adiante. Na metodologia didática, 
ficaram os exercícios como prática, as leituras como método, as dramatizações, a 
organização e a disposição dos discentes em sala, os exames escritos e orais 
(sabatina, lições, ditado...), a periodicidade dos exames, a memorização das lições, 
além da delimitação dos períodos de férias, regras de comportamento, costumes e 
disciplina. 
Cabe observar que o Ratio foi uma espécie de manual pedagógico, não 
propriamente um documento curricular, embora este esteja parcialmente, implícito 
portanto, em sua redação. 
No sentido mais apurado da organização dos conteúdos educacionais dos 
jesuítas, ou seja, para além das ações de catequese e letramento57, e que seria 
correspondente a um embrião do “ensino secundário” brasileiro, o Ratio prescrevia 
três orientações de ensino: o currículo teológico, o currículo filosófico e o currículo 
humanista. A forma mais direta de um ensino geográfico incidia na orientação 
filosófica, cujo primeiro ano deveria abranger estudos de lógica e introdução as 
ciências, seguidas no segundo ano por estudos de cosmologia, psicologia, física e 
matemática e, por fim, no terceiro ano, estudos de psicologia, metafísica, filosofia 
moral – de acordo com síntese apresentada por Franca (1952, p. 47). 
O estudo de línguas era primazia, com destaque para o latim, tanto nos 
estudos superiores quanto nos inferiores, amplamente recomendado, ao longo do 
documento, para versões, traduções, escrita, leitura, representação teatral, fala: 
“Todos, mas de modo especial os que se aplicam aos estudos de humanidades, 
falem latim; aprendam de cor o que lhes for prescrito pelo professor e, nas 
composições, trabalhem, com esmero, o estilo” (Regra 9 aos Escolásticos da Nossa 
Companhia, HISTEDBR, 2009).  
                                                 
56
 Marcus Fabius Quintilianus (35-95 d.C.) - escritor e retórico latino, preconizava a organização do 
tempo dos estudos, aconselhando a leitura como elemento fundamental da educação e da formação 
do caráter. 
57
 Grosso modo, o Ratio circunscreve o ensino secundário e superior, sendo que este não foi 
autorizado pela metrópole portuguesa a funcionar nos territórios da colônia. 
Tendo a leitura como um dos vértices definidores da educação, os colégios 
jesuítas eram notáveis por suas amplas bibliotecas, ideologicamente cindidas e 
fechadas a influências que fugissem do modelo escolástico aceitável. Hallewell 
(2005, p. 83), analisando o fim do período jesuítico na colônia brasileira, observa que 
 
A grande perda que o Brasil sofreu com a dissolução da Companhia pode 
ser sentida na destruição de suas bibliotecas: quinze mil volumes se 
perderam no Colégio em Salvador, outros cinco mil no do Rio de Janeiro, 
além de mais de doze mil apenas nos colégios do Maranhão e do Pará. 
 
Moraes (1975) afirma que algumas dessas bibliotecas retornaram a 
Portugal; outras tiveram partes dos acervos doadas ou foram destruídas pelo 
abandono. A formação e a manutenção de bibliotecas, todavia, tinham atenção 
especial dos jesuítas: “A fim de que aos nossos não faltem os livros convenientes, 
aplique ao da biblioteca [sic] uma renda anual, proveniente dos bens do colégio ou 
de outra fonte e que de modo algum poderá ser desviada para outros fins” (Regra 32 
ao Provincial, HISTEDBR, 2009). À biblioteca, recomendava-se uma economia 
cultural que preconizava: “[...] não faltem os livros úteis nem sobrem os inúteis [...]” 
(Regra 29 ao Prefeito de Estudos, HISTEDBR, 2009). Eram bibliotecas, sobretudo, 
devidamente orientadas aos fins institucionais: 
 
Tome todo o cuidado, e considere este ponto como da maior importância, 
que de modo algum se sirvam os nossos, nas aulas, de livros de poetas ou 
outros, que possam ser prejudiciais à honestidade e aos bons costumes, 
enquanto não forem expurgados dos fatos e palavras inconvenientes; e se 
de todo não puderem ser expurgados, como Terêncio, é preferível que não 
se leiam para que a natureza do contendo não ofenda a pureza da alma. 
(Regra 33 ao Provincial, HISTEDBR, 2009). 
 
 A preleção (prelectio) estava dentre os esteios metodológicos para o ensino 
nas classes inferiores. Por esse meio, a instrução se iniciava pela leitura, explicação 
e resumo, passando-se ao estudo mais detalhado do vocabulário e da gramática. Da 
sintaxe, passava-se para o estudo do estilo, da composição, momento em que as 
ideias sobrepunham-se aos elementos sintáticos e lexicais. Na compreensão do 
texto, entrava o aprendizado de noções auxiliares, dentre os quais as de Geografia: 
“[...] acrescente-se, se for o caso, alguma cousa de história e erudição de várias 
fontes, relativa ao assunto”, “[...] procure-se na história, na mitologia e em todos os 
domínios do conhecimento o que possa contribuir para esclarecer a passagem” 
(Regras 7 e 8 ao Professor de Retórica, HISTEDBR, 2009). Todo o circuito, central 
ou periférico, contudo, restringia-se aos produtos selecionados da Antiguidade 
Clássica: “Na preleção só se expliquem os autores antigos, de modo algum os 
modernos” (Regra 27 aos Professores das Classes Inferiores, HISTEDBR, 2009). E 
mesmo os clássicos antigos eram amplamente censurados, para não contrariar os 
dogmas e as diretrizes cristãs da fé católica: 
 
Para conhecimento da língua, que consiste principalmente na propriedade e 
riqueza das palavras, explique-se, nas lições quotidianas, dos oradores 
exclusivamente Cícero, e, de regra, escolham-se os seus livros de filosofia 
moral; dos historiadores, Cesar, Salústio, Lívio, Curtius e outros 
semelhantes; dos poetas, principalmente Virgílio com exceção de algumas 
éclogas e do 4º livro da Eneida, odes seletas de Horácio e também elegias, 
epigramas e outras composições de poetas ilustres, contanto que 
expurgados de qualquer inconveniência de expressão. (Regra 1 ao 
Professor de Humanidades, HISTEDBR, 2009). 
 
Foram cerca de 200 anos de reunião desses acervos, fazendo deles 
conjuntos bem representativos dos usos culturais perpetuados àquele tempo, 
refletindo, ainda, as restrições ideológicas da ordem. Os inventários que 
sobreviveram indicam a presença de obras geográficas, na maioria trabalhos 
cartográficos, Atlas da Antiguidade, tratados descritivos: 
 
Predominam livros de cunho religioso nos campos de teologia, direito, 
moral, ascética, escriturísitca, apologética, liturgia e filosofia. No 
sermoniário, registram-se obras da oratória sacra da época. Aparecem 
obras poéticas de Homero em grego e em latim, obras de Virgílio, Horácio, 
Marcial, Ovídio, Terêncio e Cícero. A história e a geografia estavam 
representadas com diversas obras. [...] Eram livrarias especializadas. Seus 
acervos cobriam em primeiro lugar as disciplinas ministradas nos colégios 
[... além de serem] essenciais para auxiliar os padres nas atividades 
religiosas. (SILVA, 2008, p. 231-232). 
 
Serafim Leite (1949, p. 171) igualmente registra a presença da Geografia entre os 
Jesuítas: “a Geografia, também, presente com seus livros, Corografias, Atlas e 
Mapas de Portugal e do mundo, em todos os grandes colégios, como consta dos 
respectivos inventários, completava esta secção de ensino”. 
O Arquivo Nacional Torre do Tombo, por exemplo, detém um documento 
intitulado Tratado da esfera e do globo terrestre, traduzido da Geografia do Abade 
La Croix e aumentado de algumas notas necessárias, caderno manuscrito que 
pertenceu a escolas da Companhia, cujo conteúdo é a tradução do Tratado da 
Esfera e do Globo, do Abade Louis-Antoine Nicolle, apresentando três gravuras 
calcográficas que representam a “Esfera Artificial”, o “Mapa-Mundo” e a “Rosa dos 
Ventos” (MSLIV, 2010). O Tractatus de Sphaera, obra de 1220, de Johannes de 
Sacrobosco (1195-1256) foi, também, uma das obras que fundamentaram o ensino 
de Cosmografia pelos jesuítas (SOBREIRA, 2005). 
Os jesuítas, ainda, deram sua contribuição para o conhecimento geográfico 
da Colônia. André João Antonil (1649-1716), autor de Cultura e opulência no Brasil, 
fez importantes registros sobre a vida econômica, sendo amplamente conhecidos os 
roteiros que descreveu de São Paulo para Minas Gerais, entre o Rio de Janeiro e 
Minas, a ligação entre Minas e a província da Bahia e os circuitos do gado no Rio 
São Francisco, comumente conhecidos como os Cinco Roteiros de Antonil. 
Não tinham, os livros de Geografia, representatividade ampla como os livros 
dos demais assuntos, pois funcionavam como obras de referência, para um 
conteúdo de referência, atendendo ao papel secundário e auxiliar que a 
Geografia, a par da História e outros campos, exerciam na pedagogia dos jesuítas. 
Esta, em si, é a principal característica e propósito de um ensino implícito, diluído em 
outros objetivos de ensino e aprendizagem, mas indispensável. A Regra 14 do Ratio, 
direcionada ao Professor de Sagradas Escrituras, é elucidativa da relação didática 
com os conteúdos geográficos, dispondo sua posição referencial e auxiliar:  
 
Não se detenha muito tempo em investigar questões de cronologia ou de 
geografia da terra santa ou outras menos úteis, a menos que a passagem o 
exija; bastará indicar os autores que tratam amplamente estes assuntos. 
(Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras, HISTEDBR, 2009). 
 
Além da leitura, na condução do esclarecimento literário, o conhecimento 
geográfico associava-se à matemática, disciplina autônoma do Ratio, em seu 
programa para as Humanidades, complementar ao ensino de cosmologia, aliando a 
geometria à cartografia e à astronomia: 
 
Aos alunos de física explique na aula durante 3/4 de hora os elementos de 
Euclides; depois de dois meses, quando os alunos já estiverem um pouco 
familiares com estas explicações, acrescente alguma cousa de Geografia, 
da Esfera ou de outros assuntos que eles gostam de ouvir, e isto 
simultaneamente com Euclides, no mesmo dia ou em dias alternados. 
(Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras, HISTEDBR, 2009). 
 
Nota-se que a Geografia é qualificada como um dos assuntos de predileção dos 
discentes. E além da matemática, os saberes geográficos integravam a abordagem 
da ciência da natureza, recomendando-se expressamente a obra de Aristóteles58: 
 
§1. No segundo ano os oito livros Physicorunt, os livros De Cœlo e o 
primeiro De generatione. Dos oito livros Physicorum dê sumariamente os 
textos do livro 6º e 7º e do 1º a começar do ponto em que refere as opiniões 
dos antigos. No livro 8º nada exponha do número das inteligências nem da 
liberdade, nem da infinidade do primeiro motor. Estas questões serão 
discutidas na metafísica e somente segundo a opinião de Aristóteles. 
§2. O texto do 2º, 3º e 4º livro De Cœlo deverá ser dado brevemente e em 
grande parte omitido. Nestes livros só se tratem algumas poucas questões 
sobre os elementos; sobre o Céu, as que se referem à sua substância e 
influências; as outras deixem-se ao professor de matemática ou reduzam-se 
a compêndio. 
§3. Os livros meteorológicos percorram-se nos meses de verão na última 
hora da tarde pelo professor ordinário, se possível, ou, se parecer mais 
conveniente, por um professor extraordinário. (Regra 10 ao Professor de 
Filosofia, HISTEDBR, 2009). 
 
Dependente e auxiliar, essa Geografia nutria-se nos tratados clássicos que 
organizavam o saber geográfico da Antiguidade à Idade Média – a conhecida 
sistemática dual: a tradição descritiva, ou Geografia histórico-política, de Estrabão e 
a tradição matemática, de Ptolomeu (GOMES, 2000; KIMBLE, 2005). Não é demais 
salientar que a interceptação dessa dualidade, a irromper na Geografia Moderna, 
ainda gestava-se na Europa, a exemplo das contribuições de Immanuel Kant (1724-
1804) que, no fervor dos ideais iluministas, em seu projeto de separação entre a 
metafísica e a razão, revestiria de ciência esse saber antigo. 
Após a desintegração da Companhia de Jesus no Brasil, a educação 
brasileira passou por um retrocesso, o que é consenso entre historiadores da 
educação e estudiosos da cultura brasileira (ALMEIDA, 1989; AZEVEDO, 1963; 
MOURA, 2000; ORTIZ; 1994; RIBEIRO, 2001; ROMANELLI, 1985), período esse 
conhecido como pombalino, em vigor por quase 50 anos, entre 1759 e 1808, em 
referência às reformas de Sebastião José de Carvalho e Melo, influente político e 
ministro português, mais conhecido como Marquês de Pombal (1699-1792), as quais 
impactaram também na educação da colônia brasileira. 
                                                 
58
 Recomendações ao curso Superior, que formava os teólogos, embora dê para discernir algumas 
das noções do ensino da natureza para os estudantes das aulas avulsas.  
Os colégios e escolas dos jesuítas, embora não sobrepujassem, tinham um 
sólido sistema de financiamento, com recursos advindos do padroado, de donativos 
régios e de fiéis, além dos recursos gerados pela própria Companhia, haja vista que 
os jesuítas foram exímios comerciantes e produtores latifundiários. Tal situação 
permitia a oferta de uma educação pública e gratuita (MOURA, 2000), embora não 
democrática. Outras ordens religiosas, e demais elementos educacionais, alçadas 
em continuação ao trabalho dos jesuítas, não contaram com este esteio econômico, 
nem com os ideais pedagógicos da Companhia. 
A gestão educacional passou a ser gerida pelo Estado, que até então se 
abstinha de interferência nos ensinos equivalentes ao elementar e ao secundário. 
Por conseguinte, o Estado “[...] tomou a seu cargo, por iniciativa de Pombal, a 
função educativa, que passava a exercer em colaboração com a Igreja, 
aventurando-se a um largo plano de oficialização do ensino” (AZEVEDO, 1963, p.). 
Desarticulando o Ratio dos jesuítas, instituiu as aulas régias, chamadas também 
aulas avulsas, cujo principal retrocesso foi diluir os cursos graduados e 
sistematizados. Nas cidades e vilas, as escolas e colégios atuaram por aulas 
isoladas até a Regência, na década de 1840, quando o modelo do Colégio Pedro II, 
fundado em 1837, passou a ser disseminado nas províncias. O currículo, nesse 
entretempo, reduziu-se a aulas avulsas de gramática e latim e, nos seminários, 
filosofia, ética e retórica. A grande transformação curricular foi o banimento de 
línguas indígenas e a institucionalização pelo Estado da língua portuguesa: 
 
A reforma educacional brasileira implementada por Pombal a título de 
experimento [que a história mostrou não ter sido bem sucedida] tinha como 
meta levar a educação para o controle do Estado, secularizá-la e 
uniformizar o currículo. Em cada aldeia indígena os diretores deveriam 
ocupar o lugar dos missionários, e duas escolas públicas – uma para 
meninos e outra para meninas – deveriam ser implantadas (MOURA, 2000, 
p. 70). 
 
Para financiar o sistema público, desprovido das substanciais verbas 
jesuíticas, o Estado português instituiu na colônia um imposto chamado “subsídio 
literário”, em 1772, após 13 anos de inanição, incidentes sobre a produção de carne, 
sal, aguardente e outros produtos. O subsídio, sem sistema eficiente de arrecadação 
e envolto em fraudes, jamais foi suficiente para financiar a educação colonial, que se 
tornou deplorável: 
 Descontinuidade, improvisação, amadorismo e falta absoluta de senso 
pedagógico caracterizaram muito da empreitada educacional de Pombal. 
Surgiram aulas de disciplinas isoladas, sem planos sistemáticos de estudos 
(aulas régias), dadas por professores, em sua maior parte, desinformados. 
O latim, o grego e a retórica eram mais ensinados que a língua portuguesa. 
O ensino superior, que começava a se esboçar no Brasil com os cursos de 
artes de base jesuítica, não se desenvolveu (MOURA, 2000, p. 70). 
 
O clero, como a classe mais culta, seguiu com prioridade nas regências 
pedagógicas. Na falta de instituições e de uma hierarquia organizacional das 
atividades educativas59, com ele permanecia a orientação e a realização do ensino: 
“os professores eram geralmente padres, embora não faltassem leigos em todos os 
graus de ensino” (MOURA, 2000, p. 66), porém subvencionados e nomeados pelo 
Estado. 
 
 
3.2 A educação colonial: a influência do isolacionismo 
 
Todavia, há que se ressaltar que as marcas sociais deixadas pelo ensino 
jesuítico por muito tempo serão influentes para a concepção de educação brasileira, 
inclusive nas bases de constituição do ensino de Geografia no século XIX. Tendo a 
doutrina católica como lastro, o planejamento da educação jesuítica cercou-se de 
todas as precauções possíveis para afastar influências então consideradas nocivas: 
determinavam o que aprender, como aprender, quem poderia ensinar. Os 
professores, que somente poderiam ensinar após os 30 anos de idade, em sua 
preparação lidavam com os livros e as questões selecionadas pelos jesuítas. Se 
dados a novidades ou ao espírito livre, deveriam ser afastados da docência (PAIM, 
1967). Com base nessas práticas, Ribeiro (2001, p. 26) assinala que o objetivo 
religioso, o conteúdo literário e a metodologia de imitação 
 
[...] faziam com que não só os religiosos de profissão como os intelectuais 
de forma geral se afastassem não apenas de outras orientações religiosas 
                                                 
59
 Haja vista a enorme distância entre os mestres e o Diretor Geral de Estudos, que era o próprio 
Vice-Rei, sem subordinações intermediárias. 
como também do espírito científico nascente [na Europa] e que atinge, 
durante o século XVII, uma etapa bastante significativa. 
 
A ciência nascia justamente como reação ao método escolástico medieval, 
que direcionava o conhecimento à metafísica. Romanelli (1985, p. 34), igualmente, 
demonstra que este espírito combalido em outros espaços da Europa era persistente 
e cultivado na educação portuguesa e na educação colonial ibérica, pois se tratava, 
antes de qualquer coisa, 
 
[...] da materialização do próprio espírito da Contra-Reforma, que se 
caracterizou sobretudo por uma enérgica reação ao espírito crítico, que 
começava a despontar na Europa, por um apego a formas dogmáticas de 
pensamento, pela revalorização da Escolástica, como método e como 
filosofia, pela reafirmação da autoridade, quer da igreja, quer dos antigos 
[...]. 
 
O isolamento intelectual da Colônia brasileira era agravado um pouco mais 
pelo fato de a metrópole portuguesa, âmbito de formação das elites brasileiras, 
igualmente estar em separado do conhecimento pleno e das ideias científicas que se 
desenvolviam em alguns países europeus, pois instituições como a Universidade de 
Coimbra e o Colégio dos Nobres fizeram leituras e absorções parciais do Iluminismo: 
 
Portugal chega em meados do século XVIII com sua Universidade – a de 
Coimbra – tão medieval como sempre fora. A filosofia moderna (Descartes), 
a ciência físico-matemática, os novos métodos de estudo da língua latina 
eram desconhecidos em Portugal. O ensino jesuítico, solidamente instalado, 
continuava formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio 
Studiorum (RIBEIRO, 2001, p. 32). 
 
Conforme veremos adiante, o avanço intelectual dos portugueses, no 
contexto do Renascimento, não ultrapassou um empirismo mitigado60, capaz de 
afastar certos ranços da escolástica, mas ultrapassando o fazer da ciência – a 
pesquisa no sentido amplo – para calcar-se em certo pragmatismo, ou aplicação 
simplória da ciência. 
                                                 
60
 Expressão cunhada por Joaquim de Carvalho (1892/1958) para denominar a adoção do empirismo, 
no âmbito do conhecimento, sem problematização, apenas como forma de difundir uma nova doutrina 
como crítica ao aristotelismo. Esse movimento foi inspirado pelas obras Instituições lógicas do italiano 
Antonio Genovesi (1713-1792) e O verdadeiro método de estudar, de António Verney (1713-1792) – 
(PAIM, 1999). 
Após os jesuítas61, cuja estrutura e administração escolar nos territórios 
portugueses ruíram em 1759, influenciadas pela modernização da cultura lusa 
atrelada ao processo de recuperação econômica no período pombalino, houve um 
lento processo de reestruturação do aparelho administrativo da colônia, que passou 
a “[...] exigir um pessoal com um preparo elementar. As técnicas de leitura e de 
escrita se fazem necessárias, surgindo, com isto, a instrução primária dada na 
escola, que antes cabia à família” (RIBEIRO, 2001, p. 31), pelo menos na intenção 
dos planos, já que na realidade se assistiu a uma desestruturação sem par. A 
educação foi assumida pelo governo colonial (encargo administrativo do Vice-Rei) e 
ministrada por leigos e religiosos, sem, contudo, ocorrer mudanças nas bases e 
fundamentos que sustentavam o ensino anteriormente (ROMANELLI, 1985), ou seja, 
prevalecem a educação com objetivos religiosos e literários. Além disso, as 
tentativas de organização estiveram longe de igualar ou superar a estrutura jesuítica. 
Na contramão, em Portugal, tinha-se uma paulatina penetração das novas ideias no 
meio intelectual, posterior à reforma política do Marquês de Pombal, direcionado ao 
pragmatismo acima mencionado. A influência dessas ideias no ensino colonial, 
portanto, seria de assimilação mais morosa ainda; aliás, pode-se afirmar que 
praticamente foram nulas. Somente na primeira metade do século XIX, com as 
transformações do cenário político da Colônia, vestígios semelhantes começariam a 
aparecer no ensino brasileiro, particularmente propiciando o aparecimento da 
Geografia como disciplina escolar. 
É importante ressaltar que a Geografia não teve uma gênese única: formou-
se da reunião de algumas disciplinas geográficas. Na formação posterior da 
Geografia escolar, disciplinas momentaneamente autônomas, e subservientes a 
diversos propostos, seriam elencadas em um currículo único: a Cosmologia, a 
Corografia, a Astronomia, a Cartografia62, dentre outras. 
Um marco para a ascensão da Geografia escolar sem dúvida foi a 
transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808), pois este fato impôs outra 
visão e interesse para a educação, praticamente reinaugurando-a no Brasil. Todavia, 
a Geografia escolar por vir já tinha lançados alguns dos seus fundamentos na 
                                                 
61
 Piletti; Piletti (2002) indicam que, com a saída dos jesuítas, deixaram de existir 18 estabelecimentos 
de ensino secundário e 25 escolas de ler e escrever. 
62
 Curiosamente, até a Astrologia fez parte do ensino e dos manuais de Geografia! 
Geografia Clássica, em alguns aspectos da tradição da Antiguidade e da Idade 
Média, por meio das práticas educacionais dos Jesuítas. O paradigma dos estudos 
clássicos prevaleceria até meados do século XIX, tempo no qual os parâmetros 
científicos começaram a se infiltrar de forma renovada e a predominar no cenário da 
educação brasileira, estabelecendo-a definitivamente anos mais tarde, nas primeiras 
décadas do século XX. 
 
 
3.3 Reinado (1808-1821): o surgimento dos primeiros indícios de uma literatura 
didática de Geografia 
 
Com a chegada da Família Real e da Corte portuguesa ao Brasil, a 
educação colonial, já desvinculada anteriormente do monopólio jesuítico, foi 
reorganizada no sentido político-administrativo, pois a nova ordem política precisava 
de mão de obra especializada para atender aos imperativos de uma classe política e 
social completamente distinta da então existente. A estrutura social anterior havia 
sido implodida com o surgimento e o fortalecimento, no tempo da mineração, de uma 
classe intermediária, técnica e política, alheia à classe dos proprietários rurais, e que 
seria, ao longo do século XIX, permanentemente ascendente e determinante para as 
direções políticas da monarquia e, mais adiante, da república (ROMANELLI, 1985), e 
a essa força agregavam-se as necessidades da Corte instalada na Colônia, quanto à 
instrução de sua elite dirigente. 
As medidas político-administrativas de D. João foram programáticas para 
refuncionalizar a colônia como centro do Império português. O que se inovou na 
educação contemplava as necessidades imediatas e práticas, com espaços 
geográficos marcados – Bahia e, principalmente, Rio de Janeiro. Na educação, 
prevaleceu a homogeneidade instaurada pelos jesuítas, embora o sentido 
humanístico da educação tenha sofrido algumas reorientações, de ordem 
pragmática. 
Este contexto, o do reinado, é o nascedouro, contudo, de uma cultura 
científica brasileira, apesar de não vingar nenhuma universidade e apesar de não se 
instalar escolas voltadas para a pesquisa científica (OLIVEIRA, 2005, p. 106). 
Surgiram faculdades, e a pesquisa foi um processo de instauração mais lenta, 
posterior.  
A educação brasileira, nesses termos, tem seu primeiro esboço sistemático 
a partir de um ensino primário, em continuidade às escolas de ler e escrever, de um 
ensino secundário preparatório para o ensino superior, sendo que, por sinal, tem 
inauguradas as primeiras instituições em solo brasileiro, devido ao mesmo bloqueio 
continental que trouxe a Corte portuguesa para o Brasil. O ensino superior, até 
então, estava completamente erradicado dos planos da colonização portuguesa, no 
sentido de tolher qualquer iniciativa para a independência política ou cultural, apesar 
de diversas tentativas para sua implementação, seja pelos jesuítas, com iniciativas 
em Salvador, Olinda, Rio de Janeiro e São Paulo que talvez pudessem ter esboçado 
o início do ensino superior na colônia, seja a intenção dos inconfidentes mineiros 
(FÁVERO, 2006). 
O ensino científico, pelo menos no tocante ao aspecto técnico, foi 
introduzido por meio de diversas escolas de ensino superior. Na Bahia, surgia um 
Curso Médico de Cirurgia, em 1808, aos quais se seguiriam cursos de Agricultura 
(1812), Comércio (1809), Química (1817) e Desenho Técnico (1818). No Hospital 
Militar do Rio de Janeiro se instituiu um Curso de Anatomia, Cirurgia e Medicina 
(1808-1909), seguindo-se a implantação de outros Cursos: Química (1812), 
Agricultura (1814), Ciências, Artes e Ofícios (1816) – (COLESANTI, 1984; FÁVERO, 
2006). Tratava-se de cursos e academias profissionalizantes, distantes do modelo 
europeu de ensino superior. As atividades médicas, as edificações, as bases da 
economia (agricultura e comércio) respondem às necessidades iniciais, ao que 
Neva; Collaço (2006) denominam de “corporações de ofício”. Somente após a 
independência (1822), por exemplo, surgiram cursos jurídicos e outros – em um 
momento no qual, mais que de técnica, necessitava-se de pensamentos e ideias 
para erigir e consolidar a nação, a qual não dispensaria um índice de burocracia 
para implementar a constituição e organizar a administração pública. 
É notável, nesse período, a tutela do Estado no arregimento da educação 
brasileira, para além da tutela da Igreja e de iniciativas particulares vigentes então. 
Permaneciam, porém, o lastro da preparação técnica, antes percebido nas escolas 
de ler e escrever (no sentido de uma instrumentalização rudimentar para produzir 
aptos à leitura, à escrita e ao cálculo básico), continuando, agora, no ensino 
superior. Nessa tutela, contudo, foram muitas as inovações, dentre elas a condizente 
ao livro. 
A questão do livro, de fato, ganhou status e referência específicos no 
período joanino, tanto em termos de produção material quanto de elaboração. Na 
situação educacional, o livro assumiu uma função no ordenamento em um cenário 
destituído desde a implementação das aulas régias: 
 
Houve necessidade de formular um novo saber escolar, substituindo o Ratio 
Studiorum, com seu minucioso método e regras pormenorizadas dos 
jesuítas e das ordens religiosas que os seguiam, por um outro projeto pouco 
detalhado nos conteúdos e métodos, bem como o problema de transmiti-lo a 
um corpo docente leigo que passaria a ser remunerado, compondo o 
quadro do funcionalismo público (BITTENCOURT, 2008, p. 28). 
 
O surgimento da Impressa Régia, em 1808, casa impressora para veicular 
os atos administrativos e normativos da Coroa Portuguesa, assim, marcou o início 
de uma editoração em território brasileiro. Toda publicação, até 1821, ano em que D. 
João VI retornou com sua corte a Portugal, passava necessariamente pela censura 
palaciana. Até o surgimento da Impressa Régia, qualquer trabalho de impressão no 
território colonial era ilegal, e após essa se estendeu como monopólio até 1822. 
Antes da Impressão Régia, praticamente inexistia um mercado livreiro no 
Brasil. Em 1792, no Rio de Janeiro, havia somente duas livrarias, com oferta 
paupérrima de livros, a maioria sobre medicina e religião. Os títulos mais 
interessantes à população letrada (e proibidos) adentravam as fronteiras da colônia 
por contrabando promovido por ingleses, franceses e holandeses (HALLEWELL, 
2005); esclarecimento ilegal cujos frutos a coroa portuguesa sempre temeu, dentre 
os quais a Inconfidência, severamente reprimida. Mesmo a Bíblia em vernáculo era 
um título proibido. 
Em 1808, permaneciam duas livrarias estabelecidas na sede da colônia – 
ano inicial de transformações políticas, econômicas, sociais e culturais inerentes à 
chegada da corte portuguesa ao Brasil. Como sintoma dessas transformações, no 
ano seguinte, 1809, o número de livrarias passou para cinco, alcançando 12 em 
1816. Para evidenciar um pouco mais a evolução intelectual do Brasil, assinala-se 
que, em 1890, havia no Rio de Janeiro 45 livrarias, 67 tipografias e 16 litografias, 
bem como três fundidores de tipos (HALLEWELL, 2005). Estes números revelam 
não só o crescimento da atividade econômica e cultural ao longo do século XIX, pois 
expressam, e foram alimentadas, por diversas atividades: primeiro, o interesse pela 
política nacional, que continuamente soergueu uma imprensa nacional; segundo, a 
implantação e o fortalecimento igualmente contínuos de uma estrutura educacional 
que nunca, em tempos de modernidade, prescindiu de livros ou materiais impressos 
de leitura. 
A censura intelectual anterior ao período joanino estendia-se à proibição 
completa de atividades gráficas antes de 1808 e, a partir de então, ao monopólio 
governamental sobre a impressão, com a instauração da Impressão Régia, que 
perdurou até 1821, quando foi permitida a instalação de gráficas privadas no país. A 
exceção legal a esse monopólio talvez seja apenas Salvador, onde desde 1811 
publicavam-se livros impressos com permissão governamental, com autorização de 
D. João VI para o tipógrafo Manoel Antônio da Silva Serva (MORAES, 1975). 
Outra explicação para não haver implantação de tipografias no Brasil atém-
se ao temor de uma concorrência, ou proteção ao mercado metropolitano; esta 
estratégia mercantilista foi, por exemplo, outra razão apresentada pelo governo para 
abortar a iniciativa de um gráfico português, Isidoro da Fonseca, que em 1747 
instalara no Brasil sua oficina e iniciara trabalhos gráficos (MORAES, 1975). Outro 
mecanismo seria uma questão jurídica, relativa às licenças governamentais que um 
texto necessitava para vir a público, uma vez que a mesa censória – eclesiástica e 
civil – estava sediada em Lisboa. 
Para driblar a censura e o monopólio, havia em Londres uma indústria 
editorial em língua portuguesa, paralela à outra, na França, abastecendo ambas o 
contrabando de livros para o Brasil. Essa indústria permaneceu após o fim da 
censura e do monopólio por razão de custos (acesso a máquinas, matéria-prima, 
mão de obra especializada): era mais barato imprimir na Europa do que no Brasil, 
passando o mercado editorial inglês e francês a mercado gráfico também, sendo 
presenças marcantes até a década de 1930. Um expressivo volume de livros 
didáticos de Geografia foi impresso fora do Brasil, embora editado no país. 
De qualquer forma, a Impressão Régia inaugurou as bases editoriais de 
livros de interesse à Geografia e seu ensino no Brasil. Hallewell (2005, p. 114), sobre 
essa atividade, diz: 
 Muitos dos “trabalhos úteis” [...] estavam direta ou indiretamente 
relacionados com problemas de interesse do governo: economia, política, 
geografia, agrimensura, medicina, saúde pública, até desenho e astronomia, 
pois eram matérias do currículo da Academia Militar. 
 
Realmente, dentre os volumes do catálogo editorial da Impressão Régia 
chamam atenção alguns títulos de maior ou menor importância à Geografia, 
integrantes da gênese da história e do ensino brasileiro desta. A esse propósito, há 
dois atos inaugurais, em termos bibliográficos, para a Geografia brasileira e seu 
ensino: o primeiro livro didático com conteúdos geográficos, os Elementos de 
Astronomia. Para uso dos alumnos da Academia Real Militar, de Araújo Guimarães 
(1814) e o primeiro livro a sistematizar conhecimentos geográficos sobre o Brasil, 
Corografia brazílica ou relação histórico-geográfica do reino do Brazil composta a 
sua magestade fidelíssima por hum presbitero secular do gram priorado do Crato, do 
Padre Manoel Ayres de Casal (1817a; 1817b). Além desses livros, há um outro, com 
fins propriamente didáticos, que faz menção à Geografia, dentre outros temas: 
Leituras para meninos, contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios 
as idades tenras, e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural, publicado em 1818, de autoria de José Saturnino da Costa 
Pereira. 
Em um prospecto geral, a Impressão Régia teve um significado para além de 
atender as necessidades gráficas da administração pública. Com as guerras 
napoleônicas e, por conseguinte, com o bloqueio continental, importar ou editar 
livros na Europa ficou difícil. É por esse motivo que o catálogo da Impressão Régia 
incluiu manuais didáticos. Até então, quando presentes no ensino, eram importados, 
importação que nunca arrefeceu, porém títulos nacionais ou compilações nacionais 
passaram a ser agregadas, e nesse processo se diferenciam os livros de História e 
Geografia, sendo que estes, conforme demonstrado no capítulo anterior, foram 
sobretudo nacionais. Com o fim da instabilidade internacional e com o 
restabelecimento das importações, a produção de livros didáticos permaneceu e 
progrediu, ganhando um amplo impulso na última metade do século XIX. 
Esse cenário editorial apóia-se em diversos fatores, dentre os quais 
evidencio o pequeno mercado da educação, sem dinâmica suficiente para 
impulsionar ativos comerciais; a metodologia de ensino, centrada na cópia e na 
memorização de lições, que dispensavam a utilização de livros pelos alunos, no 
máximo se exigindo essa posse do professor. Um terceiro fator a este propósito é 
visível na história da educação brasileira, a qual foi estruturada a partir de um centro: 
o ensino superior e, por extensão, o ensino secundário. 
Conforme demonstrado anteriormente, as primeiras determinações 
governamentais, nas duas primeiras décadas do século XIX, voltaram-se para 
cursos de formação profissional, permanecendo o ensino secundário na clássica 
constituição de classes independentes – as “aulas avulsas” –, ao passo que o ensino 
primário não se distanciou das aulas de ler e escrever. Mesmo após o início do 
período republicano, a preocupação do governo estava fixada no ensino superior e 
secundário, haja vista as diversas reformas educacionais vigorantes por todo o 
período em análise. 
Visualizar o raiar do ensino de Geografia no Brasil, no período joanino, 
significa entrever as necessidades pedagógicas engendradas em alguns cursos do 
ensino superior, especificamente na Academia Militar. 
 
 
3.3.1 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810): a primeira explicitação da 
Geografia como disciplina 
 
A demanda curricular do ensino superior determina a demanda das 
formações de base, quando esta tem por alvo o ingresso do aluno naquela. O ensino 
de Geografia, no Brasil, sobretudo no ensino secundário, dentre vários 
pressupostos, tem o fato de ser objeto de exame para ingresso, nas faculdades de 
Direito a partir de 1831 (HAIDAR, 1972; VLACH, 1988). Em 1827, haviam sido 
fundadas as Faculdades de Direito de São Paulo e Olinda, já em um segundo 
movimento do estabelecimento do ensino superior brasileiro. O ensino de Geografia 
foi proponente no surgimento da Geografia como uma ciência institucional no Brasil. 
Todavia antes de ser uma ciência, isto é, uma área do conhecimento com objeto, 
corpo teórico-metodológico e espaço institucional independente, o que viria a ocorrer 
apenas na década de 1930, e antes de ser uma disciplina estável no ensino 
secundário e, posteriormente, no ensino elementar, foi disciplina autônoma do 
ensino superior, ainda no período joanino. Este fato praticamente ainda não foi 
abordado na bibliografia referencial sobre o ensino de Geografia. Deve ser 
mencionado, pois tem uma relação muito próxima com o desenvolvimento posterior 
da disciplina e da literatura didática de Geografia. 
Dessa forma, de um saber auxiliar, sobretudo em cursos secundários, como 
visto no ensino jesuítico, a Geografia integrou o processo de introdução do ensino 
superior no país, bem como a introdução desse ensino no movimento científico 
testemunhado nas escolas técnicas do ensino superior iniciantes após a chegada da 
corte portuguesa ao Brasil. 
Os primeiros cursos a receberem os conteúdos geográficos de forma 
independente foram da Academia Real Militar do Rio de Janeiro63. Esta instituição, 
fundada em 04 de dezembro de 1810, por carta régia, foi inaugurada em 23 de abril 
de 1811, num contexto que respondia à criação dessas academias na Europa e na 
instauração do ensino superior na colônia brasileira (MOACYR, 1936). Foi a primeira 
escola de engenharia do país, respondendo por diversos nomes, mais tarde: 
Imperial Academia Militar (1822), Academia Militar da Corte (1832), Escola Militar 
(1840). Na década de 1850, houve um desmembramento entre a formação dos 
militares e a formação em engenharia, consolidada, após a Guerra do Paraguai 
(1864-1870), pelo Decreto 5.529, de 17 de janeiro de 1874, que liberou o exército 
brasileiro da formação de engenheiros, centralizando institucionalmente a formação 
de militares (LUCENA, 2005). Dessa forma, a antiga Academia Real Militar, que já 
não respondia a esse nome, desmembrou-se em instituições outras, como, em 1858, 
a Escola Central, que originaria a atual politécnica da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro (ESCOLA POLITÉCNICA, 2011), a Escola Militar da Praia Vermelha, a 
Escola Superior de Guerra (1890)64, a Escola Astronômica e de Engenharia 
Geográfica (1890) e outras denominações e instituições. A Academia Real Militar, 
                                                 
63
 A Real Academia não foi a primeira experiência da colônia nesse sentido. Cerca de duas décadas 
antes, exatamente em 1792, a metrópole portuguesa fundou, no Rio de Janeiro, a Real Academia da 
Artilharia, Fortificação e Desenho da cidade do Rio de Janeiro, para formar soldados da infantaria, 
cavalaria e artilharia da cidade, bem como formar engenheiros e arquitetos para construir, zelar e 
defender as fortificações, além de outras construções civis. Porém, a experiência da Real Academia 
foi muito mais ampla. 
64
 Esta se diferencia da também Escola Superior de Guerra - ESG, fundada em 1949 pelos 
geopolíticos militares brasileiros. 
assim, é a base histórica de algumas instituições que sobrevivem na atualidade, 
como a citada Politécnica da UFRJ e o Instituto Militar de Engenharia – IME. 
As academias militares, assim como as sociedades científicas, foram alguns 
dos efeitos imediatos e influentes da nova mentalidade intelectual e cultural 
emergente na Europa após o século XVIII, que fundamentou o surgimento do 
pensamento e da ciência moderna: 
 
Espaços de formação científica, essas academias militares possibilitaram a 
formação de um novo tipo de oficial através de currículos e diretrizes 
pedagógico-científicos que eram verdadeiros "porta-vozes" de um novo 
modelo científico - que privilegiava a observação e a experimentação -, 
resultante da fusão da matemática e da física sob uma perspectiva prática. 
(DUARTE, 2003, p. 241). 
 
Em Portugal, várias academias surgiram na ampla reforma do período 
pombalino, cuja inovação, no ensino superior português, conta com a criação de 
faculdades de matemática, ciência de grande impacto nos estudos militares. Inicia, 
portanto, na cultura luso-brasileira, o arquétipo do cientificismo como forma 
modernizadora, introduzida pelo Marquês de Pombal, intermediada não raras vezes 
por militares, processo que no Brasil terá mais de 200 anos de influência notável: “o 
Positivismo brasileiro tornou-se o desdobramento natural da tradição cientificista 
iniciada sob Pombal. Mais que isto: transformou-se no fundamento doutrinário do 
autoritarismo republicano [...]” (PAIM, 2002, p. 1). O Marquês de Pombal foi 
expoente de um movimento cultural que perpassou as elites portuguesas, no qual se 
incluía a corrente filosófica do já mencionado empirismo mitigado, que tentou a 
superação, no âmbito do ensino superior, do aristotelismo. Ao passo que, em outros 
países, filósofos como Hume, Locke, Kant, em torno do conhecimento, promoviam 
um debate intenso a que Kant, nos seus Prolegômenos, se referiu, a si mesmo 
nesse processo, como o despertar de um “sono dogmático”, em Portugal não se 
pretendeu ir, e não se foi, tão longe. Mesmo assim, esse movimento opôs-se ao 
ensino escolástico e ao monopólio educacional dos jesuítas, promovendo uma 
concepção de filosofia que tivesse alguma identificação com a ciência aplicada no 
sentido de modernizar o Estado português. Um conjunto de ações despóticas, pois 
centrado nas necessidades do Estado, não da nação portuguesa. No exemplo maior 
de um pragmatismo absoluto, o empirismo mitigado reduziu a filosofia à ciência e a 
ciência às aplicações, em um gesto necessariamente simplório, e foi o esteio 
principal para a reformulação da Universidade de Coimbra e do Colégio dos Nobres.  
Nesse sentido, a Geografia foi uma das disciplinas de rompimento com a 
prática pedagógica escolástica, compondo o processo de renovação do ensino visto 
como científico. 
Este movimento acompanhou a corte portuguesa ao Brasil, em 1808, e 
influenciou amplamente os intelectuais brasileiros, e os portugueses migrados que 
aqui atuaram, fundamentando as escolas de ensino superior que surgiram no 
reinado. Tais eram as influências do Conde de Linhares, D. Rodrigo de Souza 
Coutinho (1755-1812), organizador da Academia Real Militar do Rio de Janeiro, e 
ex-aluno do Colégio de Nobres e da Universidade de Coimbra. Tratava-se da 
aplicação da “aritmética política” de Pombal, conforme Rodríguez (2010, p. 3): 
 
a) o Estado empresário, com o auxílio da ciência aplicada, garante a riqueza 
da nação; b) o Estado, com o auxílio da ciência aplicada, garante a ordem 
política e a moral dos cidadãos; c) o Estado, ainda com o auxílio da ciência 
aplicada, garante a formação da elite burocrático-técnica de que precisa. 
 
Ainda de acordo com Rodríguez (2010, p. 4-5), 
 
A idéia cientificista, em síntese, surgira em Portugal, sob o marquês de 
Pombal, na segunda metade do século XVIII, como alternativa 
modernizadora que substituiu a crença na tradição religiosa sobre a qual até 
então assentava o poder patrimonial do Estado. Em que pese o caráter 
modernizador da reforma pombalina, em nada modificou o esquema 
concentrado do poder patrimonial: não surgira, então, da queda do 
absolutismo teocrático, um regime de democracia representativa, como 
tinha acontecido na Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688. 
Apareceu, assim, como alternativa modernizadora, no seio da cultura lusa, o 
despotismo ilustrado ou patrimonialismo modernizador, que exerceria forte 
influxo no desenvolvimento do cientificismo no Brasil. 
 
Na instância do ensino superior brasileiro, observou-se um afastamento do saber 
humanístico, que calçou, tradicionalmente, as formações de base por meio dos 
jesuítas, continuado à sua maneira nas aulas régias, e, na ânsia das necessidades 
profissionalizantes, visou à aplicação máxima que as ciências do tempo permitiriam. 
Convém lembrar que esta análise refere-se ao período joanino. Após a 
Independência, na aurora do Império, cursos jurídicos e outros humanistas foram 
instituídos, com forte teor literário, apresentando uma continuidade da tradição 
estabelecida pelos jesuítas, e a custo mantida após eles, e que confrontou as 
rupturas que o ensino superior joanino incorporaria nesse cenário. 
O objetivo da Academia Real Militar do Rio de Janeiro era a formação de 
oficiais militares e oficiais técnicos com uma centralidade bem específica: o território 
e a nascente infraestrutura brasileira. O espaço geográfico da Colônia, pela primeira 
vez a partir de uma instituição firmada no espaço brasileiro, detinha a atenção de um 
novo olhar, o olhar do Estado, diferente das percepções anteriores, essencialmente 
econômicas. Seu currículo pautava-se nas ciências exatas aplicadas para formar 
oficiais de artilharia, infantaria e cavalaria, engenheiros (inclusive os denominados 
“engenheiros geógrafos”) e topógrafos habilitados a administrar a construção civil, 
conforme enunciava os Estatutos da Academia: 
 
[...] Faço saber a todos os que esta Carta virem, que Tendo consideração 
ao muito que interessa ao Meu Real Serviço, ao bem público dos Meus 
Vassalos, e à defesa e segurança dos meus vastos Domínios, que se 
estabeleça no Brasil, e na minha atual Corte e cidade do Rio de Janeiro, um 
curso regular das Ciências Exatas, e de Observação, assim como de todas 
aquelas, que são aplicações das mesmas aos Estudos Militares e Práticos, 
que formam a Ciência Militar em todos os seus difíceis e interessantes 
ramos, de maneira, que dos mesmos Cursos de estudos se formem hábeis 
oficiais de Artilharia, Engenharia, e ainda mesmo Oficiais da Classe de 
Engenheiros Geógrafos e Topógrafos, que possam também ter o útil 
emprego de dirigir objetos administrativos de Minas; de Caminhos, Portos, 
Canais, Pontes, Fontes, e Calçadas: Hei por bem, que na minha atual Corte 
e Cidade do Rio de Janeiro, se estabeleça uma Academia Real Militar para 
um Curso completo de Ciências de Observação, quais, a Física, Química, 
Mineralogia, Metalurgia, e Historia Natural, que compreenderá o Reino 
Vegetal e Animal, e das Ciências Militares em toda a sua extensão, tanto de 
Tática como de Fortificação, e Artilharia [...]. Dada no Palácio do Rio de 
Janeiro, em quatro de Dezembro de mil oitocentos e dez. PRÍNCIPE Com 
Guarda. Conde de Linhares (BRASIL, 2004, p. 3). 
 
Somente após 1874, a já então Escola Central desligou-se das atividades militares, 
vinculando-se à Secretaria do Império para formar exclusivamente engenheiros civis. 
Para graduar engenheiro-geógrafo, nas décadas finais do século XIX, o aluno 
deveria seguir, primeiramente, o curso geral, cujo currículo era: 
 
1º ano: Álgebra (teoria das equações e teoria e uso dos logaritmos), 
Geometria Analítica, Geometria no Espaço, Trigonometria Retilínea, Física 
Experimental, Meteorologia, Desenho Geométrico e Topográfico; 
2º ano: Cálculo Diferencial e Cálculo Integral, Mecânica Racional e 
Aplicação às Máquinas Elementares, Geometria Descritiva, Trabalhos 
Gráficos a respeito da solução dos principais problemas de Geometria 
Descritiva, Química Inorgânica, Noções de Mineralogia, Botânica, Zoologia. 
(CUNHA, 2007, p. 96-97). 
 
Após o curso geral, o acadêmico deveria optar por uma especialização. A do 
engenheiro-geógrafo tinha duração de um ano e correspondia ao segundo ano do 
Curso de Ciências Físicas e Matemáticas: “2º ano: Trigonometria Esférica, 
Astronomia (observações astronômicas e cálculos de astronomia prática), 
Construção e desenho de Cartas Geográficas, Topografia, Geodésia, Hidrografia” 
(CUNHA, 2007, p. 97). Formação que não fugia muito da proposta inicial da 
Academia. 
De fato, o pragmatismo da época conduzia os militares a uma 
profissionalização das carreiras, com postos oficiais ocupados por homens do povo, 
não mais exclusivamente pela nobreza. O poderio militar ampliava sua dimensão de 
utilidade ao Estado. Para isso, o Estatuto que instituiu a Academia Militar prescrevia 
um curso com duração de sete anos para os oficiais de artilharia e engenharia, com 
disciplinas dos domínios da Matemática e da Física, desenho, disciplinas de 
aplicações a obras de engenharia, ciências naturais. No quarto ano, os Estatutos 
preconizavam Trigonometria Esférica, Física, Astronomia, Geodésia, Geografia 
Geral e Desenho.  
O ensino militar no Brasil, em nível superior, está dentre os primeiros a 
desenvolver-se sob orientação do conhecimento científico, e nele a Geografia 
encontrou um lugar. Lembrando, porém, que essas referências científicas não eram 
ainda as que seriam instituídas no Brasil nas primeiras décadas do século XX, no 
caso da Geografia. 
O que se teria ensinado sob a égide de uma Geografia Geral? Qual a 
formação agregada aos engenheiros geógrafos? Os militares propunham um 
conhecimento mais sistemático do território brasileiro, a ser conhecido e produzido: 
suas cartas, sua história constitutiva, a organização urbana, os locais estratégicos... 
o lugar do território brasileiro no contexto do mundo. Tais espaços eram alvo da 
atividade dos egressos da academia. Desde o século anterior o governo português 
vinha realizando trabalhos sobre o território brasileiro, o que pode supor que a 
transferência da Corte, em 1808, não foi um rompante, a despeito da decisão 
repentina de embarque: 
 Durante a segunda metade do século XVIII, expandiram-se, ainda, no Brasil, 
as obras de cartografia e demais levantamentos realizados pelos 
engenheiros portugueses em missão oficial, que produziram um conjunto de 
informações detalhadas e ricas acerca das principais características físicas 
do território, cujo objetivo primordial era garantir o controle sobre as 
fronteiras e os recursos naturais [...] Durante grande parte do período 
colonial da história brasileira, a presença de técnicos das mais variadas 
formações foi [...] uma das estratégias básicas de afirmação do mando 
metropolitano. Em caso dos engenheiros militares, em especial, essa função 
ficava ainda mais evidente. Coube exatamente a essa categoria profissional 
a determinação de limites e o reconhecimento de aspectos topográficos 
fundamentais do imenso território da América portuguesa. As expedições 
comandadas pelos engenheiros militares portugueses tinham ainda um 
exercício essencial – levantar as condições físicas para a construção das 
fortalezas para a defesa do país (CURY, 2002, p. 253-254). 
 
Atividades tais evidentemente não poderiam ser desconsideradas por 
qualquer administração pública. Em 1750, Portugal e Espanha haviam assinado o 
Tratado de Madri, e outro em 1777, o Tratado de Santo Ildefonso. Esses tratados, 
por si só, abriam um enorme flanco de trabalho no que diz respeito ao território da 
Colônia. E havia, no início dos Oitocentos, o conflito napoleônico que deixava em 
vigilância o Estado português. 
O modelo acadêmico francês foi influente na formação da Real Academia 
Militar. Os livros mandados adotar pela Carta Régia que a criou eram 
majoritariamente franceses. A Geografia contextualizava-se no plano de estudo do 
espaço, o “sistema do mundo”, compreendido física e matematicamente, com 
noções precisas de localização e representação, acrescendo-se noções gerais da 
Geografia descritiva. Dos autores indicados para esse programa tinham-se os 
matemáticos franceses Adrien-Marie Le Gendre (1752-1833) e Nicolas Louis La 
Caille (1713-1762) e o físico francês Pierre-Simon de La Place (1749-1827), aos 
quais se acrescia a obra do religioso e geógrafo francês Abbé Nicolle de La Croix 
(1704-1760) e do escocês John Pinkerton (1758-1826): 
 
O Lente do quarto ano explicará a trigonometria espherica de le Gendre em 
toda a sua extensão, e os princípios de ótica, catóptrica e dióptrica: dará 
noções de toda a qualidade de óculos de refração e de reflexão, e depois 
passará a explicar o sistema do mundo; para o que muito se servirá das 
obras de la Caille e de Ia Lande, e da mecânica celeste de la Place; não 
entrando nas suas sublimes teorias, porque para isso lhe faltaria o tempo: 
mas mostrando os grandes resultados que ele tão elegantemente expôs, e 
dali explicando todos os métodos para as determinações das latitudes 
e longitudes no mar e na terra; fazendo todas as observações com a 
maior regularidade, e mostrando as aplicações convenientes as medidas 
geodésicas, que novamente dará em toda a sua extensão. Exporá 
igualmente uma noção das cartas geográficas, das diversas projeções e 
das suas aplicações as cartas geográficas, e as topográficas, 
explicando também os princípios das cartas marítimas reduzidas, e do novo 
método com que foi construída a carta de França; dando também noções 
gerais sobre a geografia do globo e suas divisões. As obras de la Place, de 
la Lande, de la Caille e a introdução de la Croix, a geografia de 
Pinkerton, servirão de base ao compendio que deve formar e no qual ha de 
procurar encher toda a extensão destas vistas (BRASIL, 2004, p. 6, grifos 
meus). 
 
O Abbé Nicolle de la Croix foi o autor da Géographie moderne et universelle, 
précedée d’un Traité de la sphère et d’un précis d’astronomie… avec un abrégé de 
la géographie ancienne, sacrée et ecclésiastique…, que em 1800 tinha uma nova 
edição refundida por Victor Comeiras, em circulação nas escolas nacionais da 
França como base para cursos de Geografia. Possivelmente, a Carta refere-se ao 
“Tratado da Esfera”, texto introdutório à obra, divulgado e trabalhado no ensino 
desde os jesuítas. 
A principal obra de Pinkerton, por sua vez – autor que, na Carta, é remetido 
a um aproveitamento maior – intitula-se Modern geography: a description of the 
empires, kingdoms, states, and colonies; with the oceans, seas, and isles; in all parts 
of the world: including the most recent discoveries, and political alterations, digested 
on a new plan, obra publicada em dois tomos em 1802 e 1804, de ampla circulação 
na Europa, em princípio do século XIX, com traduções para o francês e para o 
italiano ainda na primeira década daquele século. Possivelmente, uma vez que a 
Carta não explicita o título da obra indicada, esta seja a tradução francesa, intitulada 
Abrégé de la Géographie Moderne. Redigée sur un Nouveau Plan, refundida em 
1805 por J.-N. Buache, também seu tradutor, tendo uma segunda edição, ampliada, 
em 1806. Leva-me a crer tenha sido esta tradução adotada, pois, além do influente 
modelo francês na articulação da Academia, esta obra, praticamente remodelada, foi 
adotada pelo ensino francês: 
 
Fait sur la traduction française de la Géographie moderne de cet auteur, et 
augmenté des découvertes puisées dans les Voyages les plus récens; orné 
de neuf cartes, revues par J. N. Buache, de l’Institut National de France [...]. 
Revue et corrigée; divisée, quant à l’Allemagne et à l’Italie, d’après le traité 
de Presbourg de 1805; considérablement augmentée, sur-tout relativement 
à la France, à plusieurs Etats de l’Europe et à l’Afrique septentrionale; 
terminée par des Eléments de Géographie ancienne comparée, fort 
étendus, disposés dans un ordre nouveau et méthodique, et spécialement 
adaptés à la Géographie moderne de Pinkerton. [...] Ouvrage adopté par la 
Commission de l’Instruction publique; et destiné pour l’enseignement des 
Lycées et Écoles secondaires
65
. 
 
Uma rápida análise da Geografia de Pinkerton se faz necessária, pois foi 
influente no ensino de Geografia francês, que, por sua vez, foi modelo do ensino de 
Geografia brasileiro. A obra de Pinkerton foi composta por uma introdução 
astronômica (escrita pelo reverendo S. Vince), seguida por unidades 
correspondentes a cada um dos então quatro continentes – Europa, Ásia, América e 
África, subdividindo-se em capítulos com cada país do continente. Nas observações 
preliminares, é interessante a concepção geográfica apresentada: se hoje, quando 
pensamos o mundo e seus territórios, pensamos o espaço geográfico em sua 
totalidade – e esta é a visão da modernidade geográfica – a discussão proposta por 
Pinkerton, porém, coloca a questão da divisão do objeto e do saber como uma das 
preocupações fundamentais da Geografia, possivelmente um debate iniciado a esse 
tempo: “The word Geography is derived from the Greek language, and implies a 
description of the earth”66. O lexema “earth”, aqui, remontando a discussões da 
Antiguidade, está transitando de “terra” para “planeta Terra”. O sentido de “terra” na 
derivação do termo grego “Geo” não se referia ao planeta, já que este não era um 
conceito construído pelos antigos – a totalidade deles é bem relativa em referência à 
mesma percepção no sentido moderno. Assim, conforme apresenta Pinkerton (1804, 
p. 1), a Geografia contrastaria com a Hidrografia, “[...] wich signifies a description of 
the water, that is, of seas, lakes, rives, &c, this including marine charts: but, in 
general, hydrography is rather regarded as a province of geography”67 (PINKERTON, 
1804, p. 1). Estes fragmentos apresentam certa dubiedade de circunscrição e 
objetividade da Geografia na transição dos séculos XVIII e XIX, já vista e nomeada 
como uma ciência, testemunhando incertezas para as quais a Geografia Moderna 
                                                 
65
 “Produzido a partir da tradução francesa da Geografia moderna do autor, e aumentado com as 
descobertas das viagens mais recentes, ornado com nove mapas, revista por J. N. Buache, membro 
do Instituto Nacional da França [...]. Revisto e corrigido, dividido quanto à Alemanha e à Itália, de 
acordo com o Tratado de Presburgo, de 1805, aumentado consideravelmente, sobretudo em relação 
à França e a vários países da Europa e da África do Norte, terminando com os Elementos de 
Geografia antiga comparada, dispostos em ordem nova e metódica, e especialmente adaptados à 
Geografia Moderna de Pinkerton. [...] Obra adotada pela Comissão da Instrução Pública, e destinada 
para o ensino dos Liceus e das Escolas Secundárias”. (Tradução da autora). 
66
 A palavra Geografia deriva da língua grega, e significa a descrição da terra. (Tradução da autora). 
67
 "[...] que significa uma descrição da água, isto é, dos mares, lagos, rios etc., este incluindo cartas 
marítimas, mas, em geral, a hidrografia é bastante considerada como uma província da geografia. 
(Tradução da autora). 
apresentaria um avanço, mas, por outro lado, evidencia a Geografia Clássica em 
gestos de independência em relação à Geografia Antiga, como demonstra a 
seguinte assertiva: “both [Geografia e Hidrografia] were anciently considered along 
with astronomy, as parts of Cosmography, wich aspired to delineate the universe”68 
(PINKERTON, 1804, p. 1). Ainda outro problema de recorte e escala é colocado: 
“Geography is more justly contrasted with Chorography, wich illustrates a country or 
province; and still more with Topography, wich describes a particular place, or small 
district”69 (PINKERTON, 1804, p. 1). No caminho de afirmação de uma Geografia 
científica, havia uma oscilação entre a compreensão da Cosmografia e da 
Corografia, e a tentativa de conciliação denominava-se Geografia Geral: 
 
What is called General Geography embraces a wide view of the subject, 
regarding the earth astronomically as a planet, the grand divisions of land 
and water, the winds, tides, metereoroly, &c.; and may extend to what is 
called the mechanical of part geography, in directions for the construction of 
globes, maps and charts
70
 (PINKERTON, 1804, p. 1). 
 
Dentre as demais subdivisões da Geografia evidenciadas por Pinkerton, 
tem-se a Geografia Sacra, respaldada nas escrituras, a Geografia Eclesiástica, a 
compreender a administração da Igreja, a Geografia Física – pelo autor também 
denominada Geologia. À parte todas essas considerações, Pinkerton (1808, p. 1-2) 
apresenta a consideração popular dessa ciência, da qual parece ocupar-se em sua 
obra, com fronteiras diluídas para além do domínio interior da História, a saber: 
 
Geography, populary considered, is occupied in the description of the 
various regions of this globe, chiefly as being divided among various nations, 
and improved by human art industry. If a scientific term were indispensable 
for this popular acceptation, that of Historical Geography might be adopted, 
not only from its professed subservience to history, but because it is in fact a 
narrative so nearly approaching the historical, that Herodotus, and many 
other ancient historians, have diversified theirs works with large portions of 
                                                 
68
 “Ambas [Geografia e Hidrografia] foram antigamente consideradas, juntamente com a astronomia, 
como partes da Cosmografia, que aspirava delinear o universo”. (Tradução da autora). 
69
 “A geografia, mais aproximadamente, contrasta com a corografia, que ilustra um país ou província, 
e ainda mais com a topografia, que descreve um determinado lugar, ou pequeno distrito”. (Tradução 
da autora). 
70
 “O que é chamada de Geografia Geral abarca uma visão ampla do assunto, sobre a Terra como um 
planeta no contexto astronômico, as grandes divisões de terra e água, os ventos, as marés, a 
meteorologia etc., podendo-se estender à construção mecânica da Geografia: construção de globos, 
mapas e cartas”. (Tradução da autora). 
geography, and the celebrated description of Germany by Tacitus, contains 
most of the materials adopted in modern treatises of geography
71
. 
 
A Geografia de Pinkerton inicia com considerações gerais sobre o continente 
europeu, passando a abordar a Inglaterra em quatro enfoques: uma abordagem 
preliminar sobre os nomes, extensão, população e épocas históricas; Geografia 
Política: religião, geografia eclesiástica, governo, leis, população, colônias, forças 
armadas, diplomacia; Geografia Civil: costumes, língua, literatura, artes, educação, 
cidades, edifícios, estradas, indústrias e comércio; Geografia Natural: clima, solo e 
agricultura, rios, lagos, montanhas, florestas, botânica, zoologia, mineralogia, águas 
minerais, curiosidades naturais. Os demais continentes e países são inseridos, com 
variações, nesse enquadramento descritivo. 
O sentido metodológico de Pinkerton, assim, é descrever os espaços da 
Terra, tendo por princípio sua divisão política, apresentando a onomástica, a 
estatística, a hierarquia e a História como meios de fazer conhecidas as nações 
constituídas do mundo de sua época. Às vezes, alguns debates são introduzidos, 
mas como efeitos colaterais, sem compor o objetivo da sua constituição discursiva, 
como, por exemplo, quando questiona e se mostra incerto se a população exterior à 
Inglaterra, aquela congregada nas colônias do império, seria ou não população 
inglesa, em função da possível não permanência da anexação dos territórios 
ocupados: 
 
To enumeration of the inhabitants os England, may be added many exterior 
colonies and settements, the most important of wich are now in Asia; but as 
the climate of Hindostan is rather adverse to European constitutions, it may 
be doubt whether our settlements there, though containing a considerable 
population, can be considered as permanent colonies
72
 (PINKERTON, 1804, 
p. 41). 
                                                 
71
 “A Geografia, considerada popularmente, ocupa-se da descrição das diversas regiões do globo, 
principalmente quanto à divisão das várias nações do globo, acrescida da produção humana. Se um 
termo científico for indispensável para esta aceitação popular, talvez a denominação de Geografia 
Histórica possa ser adotada, mas não pela sua subserviência professa à história, mas porque é de 
fato uma narrativa muito aproximada do dizer histórico, já que Heródoto, e muitos outros historiadores 
antigos, diversificou seus trabalhos com grandes porções de geografia, tal qual a célebre descrição 
da Alemanha por Tácito, que contém a maioria das matérias aprovadas nos tratados modernos de 
geografia”. (Tradução da autora). 
72
 “Para quantificação dos habitantes da Inglaterra, podem ser adicionados muitas colônias e 
assentamentos exteriores, dos quais os mais importantes estão agora na Ásia, mas como o clima no 
Sul Asiático é bastante adverso para as constituições europeias, é duvidoso que estas colônias, 
embora contendo uma população considerável, possam ser consideradas como colônias 
permanentes”. (Tradução da autora). 
 Basicamente, esta estrutura “continente/nações” e “nações/Geografia 
Política/Geografia Civil/Geografia Natural” é reproduzida como proposta para a 
abordagem dos demais continentes e países, embora não com a extensão da 
abordagem dada à Inglaterra, ou à França, na versão adaptada da tradução 
francesa. 
Os trabalhos de La Croix e Pinkerton enquadram-se na tradição dos grandes 
tratados (alguns denominados de Geografia Histórica), atlas e dicionários 
geográficos que surgiram ao longo do século XVIII, momento em que o saber 
geográfico dos antigos gregos, romanos e outros foram reinterpretados nos 
fundamentos científicos do Iluminismo, constituindo as contribuições últimas da 
Geografia Clássica – performance anterior à Geografia Moderna.  
Os desdobramentos da Geografia de Pinkerton, da sua inclusão como base 
para a disciplina da Academia Real Militar, do filtro francês como modelo e influência 
– quadros gerais da Geografia Clássica – tiveram impactos na organização do 
ensino de Geografia brasileiro ao longo do século XIX. Dessa fonte, surgirão 
disciplinas como Astronomia, Cosmografia, Corografia, Geografia Geral, Geografia 
Universal, as Corografia Históricas, e serão influentes para a Corografia do Brasil, a 
Geografia do Brasil... É possível que, se não somente Pinkerton, mas outros autores, 
estejam dentre as leituras que referenciaram a primeira geografia brasileira, a de 
Ayres de Casal, alguns anos após a fundação da Academia.  
Kimble (2005), não sem razão, denominou a Geografia como a “Cinderela 
das Ciências” pelo papel indefinido que cumpriu tanto entre os antigos quanto na 
Idade Média. A Geografia – saber que mesmo deslocado nunca foi menosprezado – 
foi defendido como um dos ramos da física (como queriam os platônicos) e também 
como um dos ramos da matemática aplicada (como queriam os aristotélicos), sendo 
que estas vertentes introduziram uma das tradições componentes da Geografia 
Clássica, a tradição matemática no tratamento do espaço e dos instrumentais 
cartográficos. Por outro lado, os relatos descritivos de outro grego, Estrabão, na 
ordem de trabalhos como o de Heródoto, fundaram outra tradição revalorizada a 
partir dos Quinhentos: a Geografia como descrição dos povos, dos costumes e das 
formas de viver. 
Na Idade Média, a inconsistência de uma unidade para a Geografia também 
não permitiu que fosse inclusa no Quadrivium (saberes matemáticos constituídos 
pela aritmética, música, geometria e astronomia), nem no Trivium (gramática, 
dialética e retórica). Um encaminhamento distinto, porém, passou a deslocar os 
saberes geográficos desse impasse durante a Revolução Científica do século XVII, 
no processo de redescoberta das ciências antigas e da revalorização destas na 
proposição das nascentes ciências modernas: as tradições de Ptolomeu e de 
Estrabão, de certa forma, se encontraram, preanunciando a Geografia que seria 
institucionalizada, com método e com um objeto mais definido (pelo menos no que 
diz respeito à sua procura) na Alemanha, no século XIX. Para isso, foram as 
Grandes Navegações o fator antecedente e decisivo, a partir das quais “[...] um 
renovado ardor pelas descobertas geográficas se manifesta e, apesar do estado 
primitivo da arte da navegação, a área da ‘terra cógnita’ foi ampliada rapidamente” 
(KIMBLE, 2005, p. 257). As “geografias históricas” começavam a surgir, 
ultrapassando a simples produção dos documentos cartográficos. Delimitar os 
espaços e conhecê-los estava na ordem do dia.  
Sem dúvida, é nestas circunstâncias que podemos compreender a obra de 
La Croix e, principalmente, a de Pinkerton, e outras semelhantes que surgiram, com 
relativos valores, dentre as quais podemos enquadrar a Corografia Brasílica, de 
Ayres de Casal, no caso brasileiro. A obra de Casal certamente teve amplo impacto 
por preencher uma lacuna importante no que diz respeito a uma sistematização dos 
conhecimentos sobre o território brasileiro. 
Em uma perspectiva oficial, a obra de La Croix e de Pinkerton é a mais 
antiga referência geográfica recomendada pelo Estado para o ensino de Geografia. 
A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as elites, 
dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundário e/ou autores 
dos livros textos de Geografia. Compreender essa Geografia é testemunhar o 
momento de fecundação do ensino de Geografia brasileiro. 
Em um prospecto geral, e embora direcionado ao Ensino Superior, a Carta 
Régia de 04 de dezembro de 1810 tem outra importância, ainda, para o livro didático 
brasileiro. Há, neste documento, uma formalização dos livros com o propósito de 
estudo na Colônia, indicando, naquele momento, uma ponte entre autores de 
referência científica, formação de currículo e formação de uma literatura didática 
propriamente dita. Em contexto amplo, define áreas que deveriam contemplar a 
formação dos engenheiros para o que a Academia foi criada, mas não lança em 
extensão o currículo. 
Para a educação, a Carta Régia reproduz manifestações discursivas que 
estavam na ponta da reestruturação da educação colonial desde 1808. Para a 
Geografia, institui, pela primeira vez, seu ensino. O modo de organização do ensino 
superior teve reflexos na organização do ensino secundário e, por extensão, do 
ensino elementar: não em efeito imediato, mas ao longo da trajetória inicial, e 
posterior, da educação brasileira. 
Considerando a Carta, em um plano geral, fiz recortes de fragmentos 
discursivos desse documento, para uma análise mais detalhada das orientações que 
circunstanciam a emergência de um ensino independente de Geografia no contexto 
da educação proposta:  
 
Fragmento 3.3.1/1
73
 O lente do primeiro ano [...] formará o compêndio ao 
seu curso e depois explicará a excelente Geometria, Trigonometria Retilínea 
de Le Gendre, dando também as primeiras noções da Trigonometria 
Esférica [...]. 
 
Fragmento 3.3.1/2 
O lente deverá formar o seu compêndio debaixo dos princípios de Álgebra, 
Cálculo Diferencial e Integral de Le Croix e terá cuidado de ir adicionando 
todos os métodos e novas descobertas que possam ir fazendo-se. 
 
Fragmento 3.3.1/3 
O lente do terceiro ano ensinará os princípios de Mecânica, tanto na 
Estática como na Dinâmica e os da Hidrodinâmica, tanto na Hidrostática, 
como na Hidráulica e regulará seu compêndio pelos últimos tratados que 
maior celebridade merecem, servindo-lhe de base aos princípios rigorosos 
das duas ciências a obra de Francoeur, unindo-lhe as aplicações teóricas e 
práticas, que puder tirar das excelentes obras de Prony, Abade Bossut, 
Fabre e da obra de Gregory [...]. 
 
Fragmento 3.3.1/4 
Deverá tirar da obra de Bezout, Robins, Memórias de Eulero, tudo o que 
toca aos problemas dos projéteis, de que deverá dar todos os princípios 
teóricos, a fim que depois no ano de Artilharia não tenham em tal matéria a 
ocuparse, senão das aplicações práticas deduzidas dos princípios teóricos. 
                                                 
73
 Quando necessário sequenciar uma ordem de fragmentos para análise, optei por organizar esse 
conjunto de dizeres pela numeração da seção, seguido de barra e numeração crescente. Os 
fragmentos não sequenciados não serão numerados. 
 Fragmento 3.3.1/5 
As obras de Laplace, La Landre, La Caille e introdução de La Croix, e a 
Geografia de Pinkerton, servirão de base ao compêndio que deve formar e 
no qual há de procurar toda extensão destas vistas [...]. 
 
Fragmento 3.3.1/6 
O lente de Física formará seu compêndio sobre os elementos de Física do 
Abade Hauy, que nada deixam a desejar em tal matéria quanto aos nossos 
conhecimentos atuais; tendo também em vista o Compêndio de Física de 
Brisson e o que julgue dever aproveitar das obras de outros célebres físicos.  
 
Fragmento 3.3.1/7 
Formará o seu compêndio sobre as melhores obras que tem aparecido 
sobre tão importante matéria, seguindo muito à primeira parte Guy de 
Vernon e à última, a obra de Cessac, as belas memórias que se acham no 
Manual Topográfico, que publica o Arquivo Militar de França.  
 
Fragmento 3.3.1/8 
O lente formará seu compêndio sobre as melhores e mais modernas obras, 
servindo-se das de Guy de Vernon, das Memórias do Abade Bossut, Müller 
etc. (ESTATUTO..., 2004, p. 5, 6 e 7). 
 
Nesses recortes, indentificam-se, primeiramente, um conjunto de sujeitos 
constitutivos da instituição em fundamento e, em seguida, é possível distinguir um 
conjunto de lexemas e sequências discursivas cujos significados e sentidos 
reconstituem concepções e direções propostas à educação formal ao tempo do 
estabelecimento da Academia Real Militar. 
Nos recortes, ficam evidenciadas duas categorias de sujeitos: os lentes e 
diversos autores (Abade Bossut, Abade Hauy, Bezout, Cessac, Eulero, Fabre, 
Francoeur, Gregory, Guy de Vernon, La Caille, La Landre, Laplace, Le Croix, Le 
Gendre, Müller, Pinkerton, Prony, Robins, dentre os mencionados). Os primeiros, os 
lentes, são exortados a determinadas ações na proposição de um currículo e de 
suas materialidades a partir das obras dos autores. O lexema compêndio comparece 
com um efeito de sentido duplo: tanto se refere a uma organização dos conteúdos 
quanto, em modo de apreensão, à construção de materiais para subsidiar o estudo, 
das quais podemos supor anotações, roteiros de aulas, apostilas e mesmo os livros 
didáticos propriamente ditos. Ambos os sentidos confluem, deixando essa margem 
para interpretação em sequências discursivas tais como “formará o seu compêndio 
sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tão importante matéria”; “formará 
seu compêndio sobre as melhores e mais modernas obras”; “formará seu compêndio 
sobre os elementos de”. Na ausência de instituições reguladoras do conteúdo, é 
atribuído ao sujeito-docente, e, posteriormente, como demonstra a história dessa 
instituição, aos colegiados gestores da Academia, a função de propor, ou regular, 
um programa curricular e suas referências condutoras das relações de ensino e 
aprendizagem. 
Dessa forma, têm-se de um lado dois lexemas opostos e complementares – 
obras e compêndios, postos em relação: as primeiras, representam as ciências, das 
quais a seguinte sequência discursiva é bem elucidativa quanto ao seu papel: 
“servirão de base ao compêndio que deve formar e no qual há de procurar toda 
extensão destas vistas”; os segundos, os compêndios, serão regulados pela 
apresentação e formação de princípios, noções, elementos, matéria. Esse conjugado 
objetiva elaborar matérias a partir das ciências: dos princípios destas compor noções 
e elementos daquelas. Entra aqui um dos principais mecanismos de composição 
curricular e da elaboração da literatura didática, o processo de seleção, dispositivo 
recorrente na História do Currículo e da História das Disciplinas Escolares. No 
documento em análise, há um critério claro, comunicado em dois lexemas - 
celebridade e célebres, para a seleção das discursividades e sujeitos a serem eleitos 
para esta relação, como afirmam as seguintes sequências discursivas: “regulará seu 
compêndio pelos últimos tratados que maior celebridade merecem” e “tendo também 
em vista o Compêndio de Física de Brisson e o que julgue dever aproveitar das 
obras de outros célebres físicos”. Selecionados os sujeitos-autores, caberá aos 
sujeitos-professores as ações prescritivas e deveres constitutivos do saber escolar: 
“deverá tirar da obra”, “ensinará os princípios”, “explicará”, “formar o seu 
compêndio”, “formará o compêndio”. O interessante é que a Carta dá abertura para 
que o sujeito-docente tenha, nesse processo, uma contribuição a mais que a 
sugerida, quando o aconselha a “ir adicionando todos os métodos e novas 
descobertas”. 
A análise discursiva da Carta Régia instituinte da Academia Real Militar 
exemplifica as circunstâncias envoltas à educação colonial naquele momento: 
faltavam instituições, mão de obra especializada, materiais de estudo, organização 
sistêmica tanto institucional quanto curricular. Este é o contexto em que, pela 
primeira vez, a Geografia é chamada ao processo de instrução no Brasil, como 
disciplina independente. Uma participação pequena, mas importante, inaugural. E 
essa introdução ao ensino geográfico estabelecia uma relação com a Geografia de 
Pinkerton e de La Croix, por sua vez representativa da Geografia Clássica. 
Este é o momento da passagem de um ensino implícito para um ensino 
explícito da Geografia. 
Esta análise claramente demonstra que as prescrições da Carta tinham por 
centro a atividade docente. Por que essa preocupação? 
Repondo uma questão já abordada, podemos afirmar que os jesuítas tinham 
seus métodos e programas organizados em torno de suas abastadas bibliotecas – 
para as quais pouco tiveram problemas de financiamento, e com as quais 
contornavam as dificuldades de custo para o alunado, uma vez que os livros, então, 
eram artigos muito caros, importados. A educação pombalina, na Colônia, se viu 
desprovida de obras e, em paralelo, de pessoas qualificadas para o ensino. 
Consequentemente, os livros declinaram muito enquanto instrumental da 
metodologia de ensino, na vigência das aulas régias. A ausência de obras didáticas 
e de professores preparados coadunou a decadência e a desarticulação das 
relações de ensino e aprendizagem após a saída dos jesuítas e este foi o cenário 
encontrado pelo Estado português. No século XIX, a Colônia e o Reinado se viram 
com a necessidade de compêndios, sobretudo compêndios secularizados. 
Neste cenário, antes de as obras didáticas servirem ao estudo dos 
discentes, tiveram outro papel importante: instruir os professores74, e instruí-los de 
acordo com os preceitos do Estado, como bem analisa Bittencourt (2008, p. 29): 
 
Os livros que os professores deveriam utilizar foram pensados pelas 
autoridades brasileiras [...] pelo custo e raridade das obras propriamente 
didáticas, [pelo que] impunha-se aos professores o uso de livros de autores 
consagrados [...]. Os professores fariam ditados, e os alunos copiariam 
trechos ou ouviriam as preleções em sala de aula. As propostas de 
produção de livros escolares concentravam-se, primordialmente, na 
elaboração de textos didáticos para uso exclusivo dos professores, dando-
se preferência às traduções. 
 
Pensando em específico o ensino de Geografia, não havia obras didáticas 
dessa disciplina, em português, nem na Colônia nem além mar. Particularmente, o 
                                                 
74
 Então inexistiam obras pedagógicas para a formação dos professores, que somente apareceriam 
concomitantemente ao surgimento das Escolas Normais. 
conteúdo geográfico ensinado a partir de La Croix e de Pinkerton assemelhava-se 
ao que seria instituído no ensino secundário, já no Império. Nos movimentos 
posteriores, a Geografia descritiva, embora permanecesse no ensino politécnico, 
seria deslocada para os programas do ensino secundário, e sua interface com o 
ensino superior se limitaria aos exames de admissão. 
 
 
3.4 Uma avaliação da posição da Geografia como atividade de ensino entre 
1549 e 1821: prenúncios da formação de uma disciplina geográfica no Brasil 
 
Tendo em vista as abordagens deste capítulo, cabe-me introduzir uma 
questão importante para esta pesquisa e para a compreensão da literatura didática 
de Geografia no Brasil: o que é a disciplina Geografia escolar? Na tentativa de 
discutir essa questão, finalizo esse capítulo fazendo uma avaliação do período 
antecedente à independência política do Brasil no que concerne à gênese da 
Geografia escolar. 
O século XIX, principalmente a partir da criação do Colégio Pedro II, torna 
possível uma visão completa do que seria a disciplina escolar de Geografia 
enquanto um currículo independente, constituído e instituído na escola, nascido a 
par com a História, e a partir do qual teria oscilações, avanços e retrocessos, mas 
pronto para desenvolver sua trajetória própria. Mais precisamente, quando a 
Geografia escolar reuniu núcleos de conhecimentos que antes, frequentemente, e 
mesmo depois, cumprindo os objetivos da educação proposta, tiveram e teriam, 
existência autônoma. Destes núcleos constituintes, posso enumerar a Cartografia, a 
Cosmografia, a Corografia, a Geografia Física, a Geografia Humana ou Política. 
Sobretudo, caracterizaria a Geografia escolar como disciplina, a circunscrição de 
duas escalas geográficas: o mundo, por um lado, e os recortes regionais no espaço 
total, por outro. 
A proposta desta pesquisa é historicizar e analisar o livro didático de 
Geografia, mas esta história não se desvincula da história da disciplina escolar de 
Geografia, pois aquela tem laços indissociáveis com esta. Desse modo, o que 
encontramos como contribuição ao debate que a questão acima suscita no período 
correspondente ao ensino jesuítico, pombalino e joanino? 
De início, posso afirmar que o ensino jesuítico, além de fazer presença com 
conteúdos geográficos como saberes auxiliares à condução do seu método 
precípuo, o prelectio, introduziu conteúdos que seriam geográficos na educação 
elementar por meio do estudo da Cosmologia, disciplina integrante das aulas de 
Filosofia. O que se seguiu posteriomente não foi necessariamente continuação 
dessas noções, pois o período pombalino significou um rompimento e um retrocesso 
em todo o currículo jesuíta. 
Contemporaneamente, a Cosmologia é uma disciplina da Física Teórica, 
embora alguns de seus princípios elementares marquem presença até a atualidade 
no ensino de Geografia. Funciona, ainda, como um preâmbulo ao ensino da 
Cartografia. O termo vem do grego (κοσμολογία, κόσμος: cosmos/ordem/mundo e 
λογία: discurso/estudo); em sentido amplo, significa o estudo da origem, estrutura e 
evolução do Universo. Cosmologia é uma terminologia atual. Para o campo que os 
jesuítas utilizavam essa denominação, ao longo do século XIX e primeira metade do 
século XX, associada à Geografia e à Matemática, utilizou-se o termo Cosmografia: 
 
No século XIX com a autonomia acadêmica da Geografia, a Cosmografia, 
que nunca teve características de Ciência independente, tombou e cedeu 
espaço ao desenvolvimento da Cosmologia Moderna e da Cartografia, 
caindo parcialmente em esquecimento universitário e escolar atualmente 
(SOBREIRA, 2005, p. 18). 
 
Na tradição curricular dos jesuítas, o ensino da Cosmografia associava-se 
mais particularmente à Matemática, embora não deixasse de ser uma introdução ao 
estudo da Terra: “o Ensino da Astronomia escolar era vinculado à Astrologia e à 
Matemática [...], porém no Brasil, os jesuítas ensinavam a Cosmografia, [...] 
abalizada no ‘Tratado da Esfera’ de Sacrobosco” (SOBREIRA, 2005, p. 41). Numa 
perspectiva histórica, para que se compreendam suas implicações com o ensino de 
Geografia e, portanto, com a formação da disciplina escolar e, em sequência, o lugar 
ocupado na literatura didática dessa disciplina, tem-se que sua trajetória chegou a 
ser independente como disciplina, mas se extinguiu na década de 1930, não sem 
antes manter vínculos com a Cartografia, a Astronomia, a Náutica e a Geografia. Na 
síntese de Sobreira (2005, p. 25-26), temos o seguinte: 
 [...] Na Antigüidade até a Idade Média predominaram os modelos de 
concepções da estrutura do Universo, a forma e a posição cósmica da 
Terra, inclusive com as primeiras estimativas das dimensões da Terra. [...] 
No final da Idade Média até a Modernidade, o destaque foi quanto à 
aplicação das técnicas astronômicas na Náutica por cosmógrafos, que 
atuavam também como cartógrafos, técnicos de instrumentos astronômicos 
e pilotos. Este foi o auge da Cosmografia em uso nas navegações. [...] Na 
Idade Moderna teve início o Ensino de Cosmografia em escolas jesuíticas, 
porém no final do Renascimento a Cosmografia mundial foi perdendo 
importância na Náutica. [...] O século XVIII foi o período das melhores e 
mais precisas medidas das dimensões e o estabelecimento da forma da 
Terra, até aquele momento. [...] No século XIX ocorreu a influência da 
Filosofia Positivista de Auguste Comte, quanto à introdução do Ensino de 
Astronomia nos manuais didáticos europeus e brasileiros e a publicação por 
Humboldt da obra “Cosmos”, que foi um marco para a estruturação da 
Geografia Física e também para o Ensino da Cosmografia que, em 
conseqüência, marcou sua permanência nas escolas brasileiras (Imperial 
Colégio Pedro II no Rio de Janeiro) como disciplina independente. [...] A 
primeira metade do século XX se caracterizou pela extinção da disciplina de 
Cosmografia no Brasil e a sobrevivência dela em conteúdos diluídos nas 
disciplinas de Geografia, Ciências e Física, até os dias atuais. [...] Pós-
guerra: a Era Astronáutica e da Ecologia Cósmica e Planetária, que 
aproximou a Cosmografia da Geografia escolar: “Cosmografia Geográfica”. 
 
O termo “Cartografia”, na verdade, foi criado apenas no século XIX, pelo 
português Visconde de Santarém, que “[...] é recordado internacionalmente entre os 
estudiosos dos mapas antigos como um dos fundadores dessa área do saber, e, 
também, como o autor do termo ‘Cartografia’” (GARCIA; FEIJÃO, 2006, p. 8), 
empregado pela primeira vez numa carta de 1839, escrita em Paris para o 
historiador brasileiro Francisco Adolpho Varnhagem. Na segunda metade dos 
Oitocentos, o termo teria o uso ampliado, denominando uma prática do saber 
geográfico. Pinkerton (1804), por exemplo, à falta de uma denominação específica, 
chamava as representações dos globos, mapas e cartas de “part mechanical of 
geography”. De fato, estes conteúdos eram estudados na Astronomia e, 
principalmente, na Cosmografia. Mais além, o ensino jesuítico não foi. 
Por outro lado, na Europa, no período de vigência do ensino jesuítico e 
pombalino na Colônia, a Geografia passava por um desenvolvimento expressivo, 
inclusive com as primeiras organizações do ensino desse saber, apenas 
parcialmente absorvido pelos jesuítas. A posição dos jesuítas corresponde à tradição 
geográfica do grego Cláudio Ptolomeu, autor da obra Geographike Syntaxis, que, 
em tradução, os árabes nomearam Almagesto, forma pela qual influiu o pensamento 
sobre o mundo na Idade Média. O conhecimento geográfico, entre os gregos, surgiu 
como um estudo descritivo da terra, com produção de mapas para localização de 
territórios. Nesse ponto, a Cosmografia convergia saberes matemáticos e 
astronômicos, instaurando-se uma linhagem geográfica conhecida como Geografia 
matemática (KIMBLE, 2005). Orientação e posição espacial eram a preocupação 
dominante na Cosmografia, como em toda a Geografia matemática, e que se firmou 
como um dos modelos que compuseram o ensino de Geografia no século XIX, 
expresso, sobretudo, no ensino dos conteúdos cartográficos. O ponto de encontro 
das tradições geográficas da Antiguidade na formulação da Geografia Clássica 
apresentará condições epistemológicas para uma concepção de Geografia modelar 
para aquela esboçada na Colônia por ocasião das institucionalizações 
empreendidas por D. João VI, isto é, na institucionalização da Academia Militar. 
Certamente o estabelecimento da Academia Real Militar, mais que 
representar o primeiro passo em direção ao ensino de Geografia no Brasil, esteve no 
processo decisório para início de traduções e produções de obras didáticas. Quatro 
anos após sua fundação, apareciam, em específico no campo geográfico, os 
Elementos de Astronomia, de Araújo Guimarães75 (1814), autor de compêndios para 
outras disciplinas da Academia Militar, da qual foi professor. José Saturnino da 
Costa Pereira76, também membro da equipe de lentes da Academia, dentre outros 
tantos, seria autor de um dos primeiros compêndios de Geografia, na década de 
1830. 
                                                 
75
 Manoel Ferreira de Araújo Guimarães - Além de militar (chegou a brigadeiro do Real Corpo de 
Engenheiros), foi professor da Academia Real Militar, onde atuava no 4º ano. Filho de Manoel 
Ferreira de Araújo (negociante) e Maria do Coração de Jesus, nasceu na Bahia em 05 de março de 
1777, e faleceu em 24 de outubro de 1838. Iniciou seus estudos aos sete anos, no Brasil, 
continuando-os em Lisboa. Teve sólida formação em línguas (latim, grego, francês, inglês, italiano).  
Dentre as suas produções bibliográficas constam traduções do francês e produção de obras técnicas 
e didáticas nas áreas de matemática, astronomia e engenharia militar. Foi editor da Revista O 
Patriota. Bibliografia: Elementos de Geometria. Traduzido de A. M. Legendre, 1809; Tratado de 
trigonometria por A. M. Legendre, 1809; Variação dos triângulos esféricos para uso da Academia Real 
Militar, 1812; Elementos de astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar, 1815; 
Manual do engenheiro ou elementos de geometria prática de fortificação de campanha, 1815; 
Elementos de geodésia para uso dos discípulos da Academia Real Militar, 1815; Elementos de 
geometria de Lacroix, 1824 (OLIVEIRA, 2005, p. 317-318). 
76
 José Saturnino da Costa Pereira – Nasceu na Colônia do Sacramento em 1771 e faleceu no Rio 
de Janeiro em 09 de janeiro de 1852. Cursou Ciências Matemáticas na Universidade de Coimbra 
entre 1802 e 1806 e atuou como engenheiro, militar e político brasileiro (presidiu a província de Mato 
Grosso e foi senador do Império entre 1828 e 1952), além de ter sido professor da Academia Real 
Militar. Bibliografia: Dicionário Topográfico do Império do Brasil, 1834; Recreação Moral e Científica - 
1834-1839; Elementos de Lógica, 1834; Compêndio de Geografia Elementar, 1836; Elementos de 
Geodésia, 1840; Lições Elementares de Óptica, 1841; Aplicação da Álgebra à Geometria ou 
Geometria Analítica, 1842; Elementos de Cálculo Diferencial e de Cálculo Integral, 1842; Elementos 
de Mecânica, 1842; Elementos de Astronomia e Geodésia, 1845;  Plano para Divisão das Comarcas, 
Cidades, Vilas, Povoações e Paróquias da Província de Mato Grosso, 1827-1828 (MORAIS, 1940; 
MAGALHÃES, 2006). 
A chegada da família real foi propícia também para a educação das 
crianças, sendo do período da Impressão Régia o surgimento dos primeiros livros 
impressos para o público infantil, embora de modo ainda muito precário, e com 
periodicidade esporádica: traduções de contos e poemas, ainda muito tocantes à 
moral cristã, começavam a formar um acervo utilizado no ensino da leitura e da 
escrita, atividades que contariam, ainda, alguns anos mais tarde, com textos da 
Constituição do Império, do Código Criminal, dos Evangelhos... Dessa forma, em 
nível do ensino de primeiras letras, temos, dentre os primeiros livros didáticos, as 
Leituras para meninos, contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios 
as idades tenras, e hum dialogo sobre Geographia, chronologia, historia de Portugal, 
e historia natural, publicado em 1818, de autoria de José Saturnino da Costa 
Pereira, obra que teve outras três edições em 1821, 1822 e 1824. Este livro, dos 
primeiros editados no Brasil para o ensino das primeiras letras, é exemplar, pois 
demonstra a linha de elaboração que os livros de leitura assumiriam ao longo do 
século XIX: incluiriam leituras geográficas, históricas e literatura com forte teor 
ideológico. Esta obra de Pereira marca um diferencial no catálogo da Impressão 
Régia, já que quase nunca fazia novas edições das obras publicadas. 
Em um contexto externo ao cenário da educação, mas muito relacionado ao 
futuro do ensino de Geografia, e com certeza favorecido pelas condições históricas 
do momento, surgiu a Corografia brazílica do Padre Manoel Ayres de Casal77 
(1817a; 1817b). A trajetória exposta acima, no tocante ao movimento geográfico 
introduzido pela criação da Academia Real Militar e de outras instituições 
reestruturadoras do território colonial na área de abrangência da Corte e de sua área 
de influência, nos traz um contexto esclarecedor da importância e da recepção da 
Corografia brazílica. 
                                                 
77
 Manoel Ayres de Casal – Há poucas informações biográficas sobre o autor, também conhecido 
como Padre Ayres de Casal. É controverso, por exemplo, o local e o ano de nascimento: teria sido 
português, nascido em Pedrógão, em 1754; ou teria nascido em Cachoeira, cidade baiana, em 1757. 
Faleceu em Portugal, em 1821. Além de sacerdote, é considerado historiador e frequentemente 
reconhecido como “pai da Geografia brasileira” (Saint-Hilare). Escreveu uma obra sistêmica sobre a 
Geografia do Brasil, a primeira, além de ter sido a primeira obra a imprimir em toda extensão a Carta 
de Pero Vaz de Caminha, embora censurando partes que considerava imoral. Após os estudos 
preparatórios, cursou Teologia e Filosofia, exercendo, no Brasil, a função de Capelão da Santa Casa 
de Misericórdia do Rio de Janeiro, a partir de 1796. Em 1815 vivia no Crato (Ceará), no cargo de 
presbítero secular. Fez parte da comitiva de retorno da Família Real a Portugal, em 1821. Não se 
conhece outra obra de Ayres de Casal além da Corografia Brasílica (BLAKE, 1900). 
Vlach (1988, p. 133), considerando o ensino de Geografia estabelecido a 
partir dos programas educacionais instituídos na e após a década de 1830, 
questiona: “que geografia estava presente nas escolas secundárias, nas escolas 
primárias superiores ou complementares, nas escolas normais, em sua grande 
maioria privadas?” Dois modelos de Geografia lhe ocorrem: a Geografia da Revista 
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fonte instituída após o processo de 
autonomia política brasileiro e outra que a antecede, a Corografia Brasílica. 
A Corografia, de fato, foi uma obra lida, citada e incorporada com relativa 
exaustão por décadas seguidas. A influência de Ayres de Casal chegaria ao século 
XX. Ele é citado explicitamente pelo menos três vezes em Os Sertões, por exemplo, 
obra de Euclides da Cunha (2003, p. 137), publicada originalmente em 1902, quando 
o autor aborda a função histórica do Rio São Francisco, quando fala sobre os 
primeiros povoadores da Bahia e sobre a relação destes com os tupiniquins (2003, 
p. 125, 126) – o que é notório, posto que Euclides indicou poucas referências em 
seu texto. Não que fosse a Corografia a mais completa ou correta obra de Geografia, 
mas justamente pelo seu maior mérito: ocupar, a seu modo, a ausência de um saber 
abrangente e sistematizado para tanto e diverso território como o do Brasil. Mesmo 
Ayres de Casal sabia das limitações e deslizes de sua obra, tanto que, no período 
antecedente à sua morte, preparava uma segunda edição reformulada, como narra 
Moraes (1858, p. 111-112): 
 
O padre Manoel Ayres do [sic] Casal, depois de imprimir e publicar em 1817 
no Rio de Janeiro a sua Corographia Brasílica, continuou a trabalhar nesta 
obra para dar della uma segunda edição ampliada e corrigida com as sua 
observações e outras que lhe forão suggeridas por José Bonifácio de 
Andrada, que então era secretario perpetuo da academia de sciencias de 
Lisboa, e por outras pessoas igualmente idôneas que lerão e estudarão a 
sua obra. 
Regressou para Portugal levando comsigo a sua segunda edição já 
completa que pretendia ali publicar. Antes disso falleceu em casa de Fr. 
Joaquim Damaso. Encontrou um sobrinho deste com loja de gracador na 
rua do Oiro, e outros parentes em Sacavem, dos quaes soube que os 
papeis de Fr. Joaquim e do padre Ayres tinhão sido vendidos a peso nas 
tendas de Lisboa. O sobrinho da rua do Oiro deu ao conselheiro Drummond 
alguns manuscriptos que por acaso restavão marcado com um M e a coroa 
real sobreposta, que tinhão pertencido a seu tio; e disse que alguns 
Brasileiros já o tinhão procurado para saberem da segunda edição da 
Corographia do padre Ayres, não sabendo elle o caminho que ella tinha 
levado. 
Fazemos votos para que tão precioso manuscripto não tenha cahido nas 
mãos assassinas de algum taberneiro, e que possa apparecer á luz da 
imprensa ainda que seja sob diverso nome de seu verdadeiro autor. 
 Evidentemente, esses originais nunca reapareceram. Em geral, Ayres de Casal tem 
sido avaliado com perspectivas anacrônicas. Caio Prado Jr. (1961, p. 182) 
reconhece com muitas restrições o mérito da Corografia: “excluamos o desataviado 
da linguagem, a puerilidade do estilo, da apresentação e de certas afirmações, e 
podemos comparar a Corografia Basílica a qualquer uma das obras clássicas de 
geografia do seu tempo”. Prado Jr. (1955) ajuíza o autor e obra por dois ângulos: 
primeiro, pela imprecisão científica e desvirtuamento das contribuições científicas da 
época; segundo, pelo método “estanque”, o que teria originado uma obra mais 
literária que científica: “[...] não são apenas rudimentos de ciência que faltam ao 
nosso autor. Não se percebe nele vocação ou instinto científico algum, isto é, 
qualidade de observação, análise, comparação e síntese, que fazem a base do 
pensamento nas ciências” (PRADO Jr., 1955, p. 53). Este parecer não é correto, se 
recontextualizado. A Corografia é sim uma obra de síntese, de sistematização: reúne 
em um sistema conhecimentos dispersos, por mais questionáveis que sejam as 
fontes de sua pesquisa, e, por si, apresenta pela primeira vez uma visão geográfica 
sobre o território brasileiro nunca antes empreendida nesta escala. 
Metodologicamente, inspira-se nos modelos dos tratados geográficos do seu tempo 
para fazer recortes e delimitações espaciais e para fazer conhecidos esses espaços 
a partir de determinadas categorias de conteúdos. É possível que Casal tenha lido 
Pinkerton, La Croix e outros geógrafos, como mencionei anteriormente, sobretudo 
por serem autores postos pela proposta educacional da Coroa portuguesa para o 
ensino na Academia Militar, sendo próximos os laços de Casal com a Corte. Sua 
obra muito se assemelha a tratados histórico-geográficos de seu tempo, ou em 
circulação na Colônia do início do XIX, como a Geografia de Pinkerton. 
O Renascimento e o Iluminismo foram os movimentos característicos nos 
séculos XVI e XVII que propiciaram uma reinterpretação dos saberes e artes antigos, 
procurando um desenvolvimento que foi responsável pelo surgimento da ciência 
moderna. De acordo com Foucault (2005a, p. 16-17), 
 
[...] por volta do século XVI e do século XVII (na Inglaterra sobretudo), 
apareceu uma vontade de saber que, antecipando-se a seus conteúdos 
atuais, desenhava planos de objetos possíveis, observáveis, mensuráveis, 
classificáveis; uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente 
(e de certa forma antes de qualquer experiência) certa posição, certo olhar 
e certa função (ver, em vez de ler, verificar, em vez de comentar); uma 
vontade de saber que prescrevia (e de um modo mais geral do que 
qualquer instrumento determinado) o nível técnico do qual deveriam 
investir-se os conhecimentos para serem verificáveis e úteis. 
 
Esta brilhante interpretação, ao mesmo tempo em que sintetiza o espírito 
científico do Iluminismo, a vontade de saber e sua diferenciação, funcional sobretudo 
para os campos dos conhecimentos exatos e biológicos, indica como a Geografia 
encontrou dificuldades para sua definição, para estabelecer seu método, quando 
tudo o que podia ser posto como seu objeto nada mais era do que o volume de 
civilização habitante do planeta. A descrição como método, na transição da 
Geografia Antiga-Clássica, para uma Geografia Moderna, terminou por enveredar 
esse saber em direção a um inventário do mundo e de suas regiões. A posteridade 
avaliaria essa tradição como exaustiva, seu ensino de maçante, ambos quase 
inúteis. 
Mas para a Geografia, o caminho não foi de flores... As Geografias possíveis 
foram a de La Croix, de Pinkerton, de Casal, bases das primeiras publicações 
didáticas de Geografia, até o século XIX demonstrar outros caminhos, outras 
abordagens, que chegaram ao ensino, porém bem mais tarde. 
 
* * * 
 
No próximo capítulo, passo a abordar a constituição e a institucionalização 
da disciplina Geografia e a emergência de uma bibliografia didática desta disciplina 
durante o Império, entre 1822 e a Proclamação da República. 
CAPÍTULO 4 
 
DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO 
IMPÉRIO (1822-1889): o estabelecimento de uma disciplina e de 
uma bibliografia didática 
 
 
Editar obras jurídicas ou escolares não é mui difícil; 
a necessidade é grande, a procura certa. 
Machado de Assis, A Semana, 08/10/1893, no dia 
seguinte ao falecimento do editor Garnier. 
  
 
O regime imperial do Brasil, após o processo de independência política, 
outorgado em 1822, trouxe ao território brasileiro a condição da nacionalidade. Isso 
significaria muito, para todas as instâncias da vida brasileira. Significou também para 
a educação, e para o ensino de Geografia. O período joanino fora fértil no 
estabelecimento de instituições e no esboço de um aparelho de Estado, se se 
considerar o curto período de sua duração, e ainda que atento às necessidades do 
Estado português. Basicamente, essa atuação local foi levada a termos, e 
literalmente, quanto a ser local: a beneficiária direta dessas transformações foi uma 
cidade, o Rio de Janeiro, e o restante do território se beneficiou apenas do que, 
atendendo à Corte, sobrepujava ou se permitia. 
A primeira reorientação imposta por essa nacionalidade, portanto, foi a 
questão da integração territorial, no sentido de construir uma administração pública, 
desenvolver uma cultura, amadurecer um povo – na perspectiva da unicidade, ou do 
que se poderia denominar “interesses nacionais”. A educação, evidentemente, foi 
objetivo e meio dessa proposta, partícipe da grande questão histórica do Império no 
período inicial: a centralização e a descentralização dos atos políticos entre a Corte 
e as províncias. Nos primeiros anos de um Estado genuinamente brasileiro, após o 
processo de autonomia política de 1822, o Brasil teve outorgada sua primeira 
Constituição (1824), a qual, especificamente para o ensino, previa um “sistema 
nacional de educação” que alcançasse o território brasileiro e flexionasse uma 
organização de níveis e graus, garantindo-se, ademais, a gratuidade do ensino 
primário. Esse projeto teve execução muito rudimentar, tolhido por investimentos 
precários e pela vontade das elites de manter a concentração geográfica e 
demográfica do acesso ao ensino, medida que os privilegiava e contribuía para a 
manutenção das posições sociais e econômicas que detinham. De qualquer forma, o 
notável nesse movimento legislador foi a organização e a orientação do ensino 
público e privado passarem a ser do Estado brasileiro, fato que certamente gerou 
numerosos e conflituosos embates com a Igreja Católica, e, internamente, entre 
conservadores e liberais, que, por todo o Império e décadas iniciais da República, 
trariam transformações significativas ao ensino brasileiro. 
O Artigo 179 da Constituição do Império instruiu o acesso gratuito à 
educação, reforçado por lei em 1827, quanto ao ensino primário, que foi instituído na 
maioria das localidades habitadas do Brasil, mas de forma completamente precária: 
escolas sem materiais impressos, com professores despreparados e mal 
remunerados, com infraestrutura aquém do necessário. De fato, até a década de 
1930, com raras exceções, a atuação do Império e da República restringia-se ao 
ensino secundário e superior. Apesar de avanços isolados na educação do Brasil, 
apenas ao findar do século XIX a educação, em conjunto sistêmico, passou por 
melhorias: 
 
A revolução da educação brasileira começou mais ou menos no último ano 
do Império, quando os políticos finalmente tomaram consciência do atraso 
da nação e a crescente prosperidade do comércio cafeeiro proporcionou os 
recursos necessários, pelo menos no centro e no sul do país (HALLEWELL, 
2005, p. 281). 
 
Não se trata apenas de um desenvolvimento horizontal – quantitativo e 
econômico – mas de uma verticalização da educação, com melhorias nos métodos 
de ensino, o que permitiu a ascensão do livro didático ao nível do consumo de 
massa. Mas até lá, o processo educacional – enquanto elementos e dinâmicas – 
desenvolve-se de forma muito lenta: a constituição histórica da bibliografia didática 
coloca claras evidências desse fazer, o que se nota no índice das edições, pois 
apenas na segunda metade do século XIX surgiriam obras geográficas com 
reedições, produzindo os primeiros best-sellers, se assim se pode dizer, da 
bibliografia didática de Geografia, como indica as obras de Thomaz Pompeu de 
Souza Brasil, Eudoro Brasileiro Berlink e, sobretudo, Joaquim Maria de Lacerda. 
Observando a Tabela 01, é possível ter uma visão, em um período quase 
coeso com a delimitação dessa tese, e ao longo do desenvolvimento demográfico, 
do comportamento da educação brasileira desde o penúltimo ano do período joanino 
até meados do século XX, embora os dados censitários sejam bastante deficitários e 
não sejam confiáveis devido à manipulação de resultados em alguns períodos 
políticos. 
 
TABELA 01 – População e educação no Brasil – 1820-1950. 
      
Fonte: Almeida (1989); Hallewell (2005, p. 249, 375); Ribeiro (2001, p. 81). 
Org. e Adapt.: Jeane Medeiros Silva, 2008. 
 
De acordo com estes dados, o comportamento educacional, nas linhas dos 
alfabetizados e das matrículas nos ensinos primário e secundário, é extremamente 
desarticulado da linha de progressão do crescimento demográfico: houve um 
crescimento interno nas matrículas, mas sempre distantes do total da população. Os 
Ano População Alfabetizados 
Matrícula 
Primário Secundário 
1820 4.000.000 20.000 - - 
1863 - - - 8.600 
1869 9.650.000  125.017 11.529 
1872 10.010.000 1.560.000 139.325 9.389 
1875 10.690.000 - 172.802 - 
1878 - - 175.714 - 
1883 - - - 10.427 
1888 13.670.000 - 258.302 - 
1889   266.084 24.889 
1890 14.330.000 2.120.559 - - 
1900 17.320.000 4.448.681 - - 
1907 20.860.000 - 638.378 20.000 
1920 30.640.000 7.793.357 1.250.729 50.000 
1925 - - 1.700.000 - 
1930 33.570.000 - 2.084.000 83.000 
1935 37.150.000 - 2.413.5947 93.829 
1940 41.110.000 - 3.302.830 170.057 
1945 46.220.000 - 3.496.664 256.467 
1950 51.980.000 - 5.175.887 406.920 
números do ensino primário e secundário são ascendentes; não há nenhuma 
involução no processo, com exceção do contorno de 1869 para 1872, quanto ao 
secundário. Contudo, apenas para exemplificar, tomando os dados de 1869, em 
relação ao total demográfico, tem-se apenas 1,2% da população frequentando o 
ensino primário e 0,11% o secundário; no último desses anos, 1950, seriam 9,9% de 
matriculados no ensino primário e 0,78 % no ensino secundário. De acordo com o 
Censo de 1950, em termos absolutos, 88,7% da população com mais de cinco anos 
de idade era analfabeta. 
Todavia, se a distância entre população e educação é alta, no interior da 
educação as disparidades são igualmente marcantes. As matrículas entre o ensino 
primário e o ensino secundário são desproporcionais com a mesma amplitude. Não 
está indicado, na tabela, o ensino superior, mas este seria ainda muito mais desigual 
se comparado ao ensino secundário, e muito mais ainda se comparado ao ensino 
primário. Os dados demonstram claramente o comportamento numérico da 
educação no Brasil, mas, sobretudo, estes são indícios dos problemas políticos e 
sociais que nunca tiraram, nesse período, a educação da estagnação. O coeficiente 
de acesso à educação formal sempre esteve aquém do desenvolvimento 
demográfico, revelando-se um serviço precário e elitizado, com índices muito altos 
de analfabetismo e índices muito baixos de indivíduos com qualificação técnica. 
Este é o cenário no qual o ensino de Geografia vai amadurecer seu 
processo constitutivo, ascender como uma das disciplinas regulares do ensino 
básico e constituir uma bibliografia de estudo. 
 
 
4.1 A educação brasileira e o ensino de Geografia no período Imperial 
 
Nas décadas iniciais do Império, houve alguma expansão das escolas 
primárias nas províncias, centradas no ensino de leitura, escrita, cálculo. Houve a 
fundação de Liceus e Colégios nas províncias. No entanto, as escolas de primeiras 
letras continuaram em número reduzido em relação à demanda, enfrentando 
dificuldades como a falta de professores preparados ou motivados a seguir carreira – 
em face disso, surgem as primeiras escolas normais em Niterói (1835), Bahia 
(1836), Ceará (1845) e São Paulo (1846), e outras nos anos e décadas seguintes. O 
ensino secundário, por sua vez, teve como marco amplamente reconhecido pelos 
historiadores da educação a criação do Colégio Pedro II, na capital, em 1837, 
orientado para a formação de bacharéis em Letras, grau que dispensava seus 
estudantes de exames de admissão no ensino superior. Representa, pela primeira 
vez, uma formação de fato, em nível do secundário, pois até então este ensino não 
dispunha de nenhuma titulação aos seus frequentes, apenas exercendo a 
intermediação preparatória em direção ao ensino superior, preparação instituída 
pelos jesuítas e continuada pelas aulas avulsas. O Colégio Pedro II, assim, foi 
concebido para ser padrão e modelo nacional para o ensino secundário do restante 
do país, concretizando um plano antecedido como tentativa de congregação dos 
cursos avulsos nas atividades dos primeiros liceus fundados nas províncias, e 
anteriores ao Colégio: o Liceu do Rio Grande do Norte (1834), o da Bahia e o da 
Paraíba (ambos em 1836). Coube ao Colégio Pedro II a adoção e a manutenção de 
métodos e conteúdos, e isso será extremamente influente no processo de produção 
de manuais didáticos de Geografia. No período, o ensino superior diferenciou-se da 
época de D. João VI pela criação, no Rio de Janeiro, de um curso jurídico (1825), 
além da inauguração de algumas instituições científicas: a Academia de Belas Artes 
(1831) e o Observatório Astronômico (1827), entre outras que surgirão. 
O Colégio Pedro II e os cursos jurídicos influenciaram diretamente na 
consolidação da Geografia como disciplina. 
A maior parte das publicações didáticas relacionadas na bibliografia desta 
pesquisa se direciona ao ensino secundário. O ensino de Geografia, introduzido 
como disciplina no ensino superior, ganhou forças no ensino secundário e, 
posteriormente ampliou-se para o ensino primário – onde participou de um processo 
significativo de nacionalização. 
Como se deu esse processo? De antemão, é importante sublinhar que todos 
esses movimentos foram articulados e regidos por um agente precípuo: o Estado 
brasileiro. 
 
 
4.1.1 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834: o 
entreposto da consolidação da Geografia como disciplina 
 
O Estado brasileiro, de fato, do século XIX em diante, foi o grande agente 
articulador da educação, seja pela sua presença, em nível de força legisladora, seja 
pelas lacunas deixadas por sua ausência, que criavam respostas como as iniciativas 
e o fomento do setor privado, sobretudo o confessional. Como visto anteriormente, a 
ordenação do ensino brasileiro, com raízes no tempo de D. João VI, começou com o 
ensino superior. O ensino de Geografia já existia formalmente desde o período 
joanino, e implicitamente desde os jesuítas. Com surgimento no interior do ensino 
superior, significava que, na formação de base, concentrava-se nos estudos 
posteriores ao letramento, isto é, nos estudos secundários preparatórios ao ingresso 
no ensino superior, concentrado, portanto, nas aulas avulsas e nas transformações 
pelas quais este sistema passaria.  
Esse primeiro currículo exposto em lei, contudo, não isenta o ensino de 
elementos de Geografia no ensino primário, pois desde a Colônia havia 
recomendações, de acordo com Issler (1972, p. 38), para o ensino de conteúdos 
com enquadramento na História e na Geografia. 
Portanto, não sendo o ensino de Geografia introduzido ainda por toda 
extensão do ensino elementar, tem o segundo passo – sendo o primeiro o lugar 
aferido no espaço disciplinar disposto na formação militar de nível superior – nas 
cadeiras públicas e nas lições particulares de cunho preparatório ao ingresso no 
ensino superior. Desde os anos 1810 havia aulas avulsas de Geografia, se não no 
ensino público, pelo menos na iniciativa privada, para o que corrobora o surgimento 
de livros didáticos no início da década de 1820, sendo que o preparatório para as 
carreiras militares é com certeza da década de 1810. Isso porque, nos primeiros 
anos, a Geografia foi objeto de exame para a carreira militar, mas não o era para os 
cursos de Medicina e Direito, o que somente aconteceria após o segundo lustre do 
século XIX. Dentre alguns exemplos, tem-se na província do Maranhão, em São 
Luís, a criação da cadeira de Geografia, em 11 de novembro de 1831; na província 
de Paraíba do Norte em 07 de junho de 1831, na capital então denominada Paraíba 
(Felipeia); na província do Piauí, em 23 de julho de 1833, na cidade de Oeiras; na 
província de Pernambuco, em Olinda, foi criada em 07 de setembro de 1930 
(ALMEIDA, 1989). 
Terceiro passo nesse processo de consolidação da Geografia como 
disciplina, tem-se, em 1837, a fundação do Colégio Pedro II, a Geografia 
estabeleceu-se definitivamente como uma das disciplinas do currículo escolar 
brasileiro, pois desde então não seria prescindido do ensino secundário – presença 
que, ademais, aferiu sua inserção na educação primária, pois o ingresso no ensino 
secundário também se dava por exames, que incluíam conteúdos geográficos. 
Portanto, os exames de admissão variavam, e, de início, a Geografia nem 
sempre foi exigência. Pode-se supor que, nesse momento, havia um movimento 
espiralado quanto à definição das bases culturais sobre as quais assentar a 
formação superior: o comum eram as habilidades de escrita e leitura, o que 
assegura a presença da Retórica, o domínio de línguas, traço indispensável à 
interação entre a cultura universal, necessariamente o Latim, seguido do Francês e, 
ocasionalmente, do Inglês, conhecimentos matemáticos, conhecimentos filosóficos 
e, numa zona fronteiriça, insinuam-se a História e a Geografia. O conhecimento 
histórico e geográfico, distanciado da realidade clássica e antiga, foram 
necessidades construídas na medida em que amadureciam as perspectivas 
nacionais, à medida que a formação superior impunha funções sociais que 
transpunham os limites de uma educação escolástica. Como visto anteriormente, a 
Geografia, na Real Academia Militar, marca uma presença ao mesmo tempo técnica 
– no sentido da orientação e representação espacial – e cultural, no sentido de 
apresentar o mundo e sua descrição aos cursistas: passados os tumultuados anos 
1820, é a partir do amadurecimento do Brasil como país, ou melhor, da exposição de 
necessidades da nação, das tentativas de organizar e ordenar o território que o 
saber histórico e geográfico passa a vivenciar a experiência da educação. 
Criada por lei de 11 de agosto de 1827, os cursos jurídicos de São Paulo e 
Olinda exigiam que os ingressantes fossem aprovados em Francês, Latim, Retórica, 
Filosofia Racional e Moral, e Geometria. Todavia, mais tarde, com a aprovação dos 
Estatutos dos Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais do Império em 07 de novembro 
de 1831, a habilitação necessária, a ser demonstrada nos exames, foi ampliada: 
Latim, Francês, Inglês, Retórica, Filosofia Racional e Moral, Aritmética e Geometria, 
História e Geografia (HAIDAR, 1972), período concordante com a institucionalização 
de cadeiras públicas para o ensino avulso de Geografia.  
A partir dessa normativa, foram criados colégios de artes preparatórias dos 
cursos jurídicos. Em 1854, a Geografia passaria a ser exame também para os 
cursos de Medicina, por meio do decreto n. 1.387, de 28 de abril daquele ano, mas 
então a Geografia já era uma das disciplinas regulares do ensino secundário, papel 
consolidado na institucionalização do Colégio Pedro II. Como ressalta Haidar (1972), 
ao longo do século XIX, o ensino secundário foi simples preparatório para o ingresso 
no ensino superior, e a partir da década de 1830, a presença de exames de 
Geografia na admissão a esse ensino foi o marco de consolidação dessa disciplina. 
Tem-se, assim, nos anos de 1830, dois marcos regulatórios e consolidadores da 
Geografia como disciplina do ensino de base: os exames preparatórios e a criação 
do Colégio Pedro II (1837). 
As primeiras propostas para uma educação nacional, após a 
regulamentação do Império, foram discutidas na Assembleia Constituinte de 1823, 
mas seus projetos não integraram a constituição de 1824 porque esta foi dissolvida 
antes que fossem levados a termo. Dentre as discussões, havia a proposição de 
estabelecer um sistema de instrução pública e gratuita, o que apareceu no texto final 
da Carta, uma vez que a gratuidade da educação foi aferida na Constituição de 
1824, quando, no Artigo 179, o Estado promulgou a seguinte garantia: “A 
inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por 
base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela 
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte”, descrevendo, dentre os previstos, 
no inciso XXXII que “A Instrucção primaria é gratuita a todos os Cidadãos” (BRASIL, 
1824, p. 19; 21). Essa gratuidade, nunca efetivada plenamente, ou com aferição 
satisfatória, em razão da estrutura extremamente deficitária da instrução pública 
imperial, praticamente desapareceu na Constituição da República, em 1891 
(CHIZZOTTI, 2001). 
O principal problema da primeira constituição brasileira foi a excessiva 
centralização das decisões político-administrativas, que desencadearia dois outros 
atos legislativos com relevância e maior praticidade para a educação nacional: a Lei 
de 15 de outubro de 1827 e o Ato Adicional à Constituição do Império de 1834, 
ambos com indicativos claros de descentralização do poder da Corte, mas sempre 
com supervisão desta. 
Por conseguinte, em 1827, a Lei de 15 de outubro se tornou a primeira 
legislação de fato sobre a instrução pública no Império, cujo texto orientava a 
organização do ensino elementar, a ser criado nas cidades, vilas e locais mais 
populosos das províncias. Para isso, atribuía aos presidentes das províncias a 
marcação do número e localidades das escolas, atribuindo-lhes, ainda, a extinção de 
escolas menos funcionais por número de acesso, reordenando os professores 
disponíveis – o que ainda centralizava as decisões, pois os presidentes não 
poderiam “criar” efetivamente os estabelecimentos (Art. 2º); fixou os salários dos 
professores (Art. 3º); recomendou o ensino mútuo78 (Art. 4º); disponibilizou os 
recursos da Fazenda Pública para aparelhar as instituições e capacitar os 
professores em curto prazo (Art. 5º); instituiu exames públicos para admissão de 
docentes e as condições para assumir uma cadeira (Art. 7º e 8º); previu as 
condições para a educação feminina, bem como seu currículo, e para a atuação de 
professoras (Art. 11º e 12º); estabeleceu os castigos previstos pelo método 
Lancaster (Art. 15º); e, sobretudo, pela primeira vez em legislação, estabeleceu um 
quadro curricular para o ensino primário, em seu Art. 6º: 
 
Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de 
arithimetica, pratica de quebrados, decimais e proporções, as noções mais 
gerais de geometria pratica, a grammatica de lingua nacional, e os principios 
de moral cristã e da doutrina da religião catolica e apostolica romana, 
proporcionados á compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a 
Constituição do Imperio e a Historia do Brasil (BRASIL, 1827, p. 71). 
 
Percebe-se, nessas disposições legais, que o ensino primário apresentava 
parcialmente um ato político de coesão para a sociedade nacional que emergia com 
o novo regime administrativo e estado territorial: impõe a gramática nacional da 
língua portuguesa e faz preferidas a legislação e a história nacional como subisídio à 
leitura. O ensino de Geografia não é explícito nessa proposta, mas seus vínculos 
são indiretos, conforme lembra Vlach (1988, 2005), de forma que, por algum tempo, 
                                                 
78
 O ensino mútuo também conhecido por “método mútuo” ou “método monitorial” e consistia em um 
professor apenas ensinar a um número grande de alunos por meio do auxílio de monitores, os quais 
eram escolhidos entre os alunos mais avançados em termos da aprendizagem. A instrução dos 
monitores era à parte, mantendo a capacitação para lidar com a decúria, ou grupo de 10 alunos em 
monitoramento (NEVES, 2007). 
a educação geográfica, no âmbito do ensino primário, manteve as condições e as 
características das escolas de ler e escrever atuantes desde os jesuítas e 
perpetuadas nos períodos seguintes: presente, mas não incidente e nem explicitada. 
  A implementação dessa instrução ocorreu, contudo, nas condições 
possíveis às províncias, e dependente da vontade política dos gestores públicos e 
de acordo com os interesses das classes dirigentes, predominando sempre a 
ausência de estruturas apropriadas e de mão de obra qualificada (RIBEIRO, 2001; 
HALLEWELL, 2005), o que fez prevalecer as condições remontantes às aulas de 
letramento quando passaram para a égide do Estado, em 1772, sem que nada de 
significativo melhorasse ou ampliasse a educação primária. 
É evidente que o Estado reagia às críticas e à insatisfação geradas pela 
qualidade ruim que os rudimentos da educação nacional apresentavam. Percebe-se 
que o governo tinha ciência da necessidade de a instrução ter uma propagação 
rápida e ordenada, e o sucesso do método Lancaster entre os ingleses pareceu 
inspirar essa decisão (CHIZZOTTI, 2001). Este método tinha amplo reconhecimento 
entre os militares (NEVES, 2007), pela disciplina que impunha, e por centrar na 
memorização e na repetição como meio eficaz de aprender, além de dispersar a real 
demanda de professores, de organização e limpeza do espaço escolar – atividades 
cobertas por monitores selecionados dentre os próprios alunos. O ensino mútuo 
tinha uma experiência precedente, pois havia sido normalizado pelo decreto de 1º de 
março de 1823, que criava, na Corte, uma escola de primeiras letras orientada por 
esse método. A disciplina era tida em primazia por um estado em formação, 
necessitado de espírito militar e de composições administrativas. Porém, já na 
década seguinte, os relatórios do governo indicariam a permanência do quadro 
caótico da instrução pública e a ineficácia do método intuitivo, bem como a péssima 
qualidade do ensino ofertado (SUCUPIRA, 2001), sendo, portanto, abandonado. 
Após a Lei de 15 de outubro, o próximo passo significativo para a educação 
brasileira e, por extensão para o ensino de Geografia, foi o Ato Adicional de 1834, 
aprovado pela Lei n. 16, de 12 de agosto deste ano. O Ato foi a única emenda 
apresentada à Constituição de 1824; suscitou um amplo debate sobre a 
centralização e a descentralização entre o poder geral e a autonomia das províncias, 
sendo relevante por ter criado as Assembleias Legislativas Provinciais, as quais, no 
campo da educação pública, dentre outros atos administrativos, poderia gerir e 
legislar 
 
Sobre instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê-la, não 
compreendendo as faculdades de medicina, os cursos jurídicos, academias 
atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instrução 
que para o futuro forem criados por lei geral (Ato Adicional de 1834, Artigo 
10, § 2, Apud BONAVIDES; ANDRADE, 1991, p. 595). 
 
O Ato terminou por ser um marco para a educação nacional, sobretudo por 
eximir o poder central de responsabilidades sobre o ensino público, que não fosse o 
da Corte, sufocando os projetos em discussão sobre a instrução elementar 
colocados desde a Assembleia Constituinte de 1824, pois, descentralizada a 
responsabilidade sobre sua organização e sustentação, viu-se um quadro de 
desorganização e desagregação estabelecido no cenário geral do ensino 
(AZEVEDO, 1963). Com isso, houve um fortalecimento do ensino secundário e 
primário na iniciativa privada, com a educação das elites concentrando-se nas 
escolas confessionais. O poder central encarregou-se da educação do município do 
Rio de Janeiro, considerado neutro, e, responsabilizando-se pelo ensino superior 
existente, e não criando as províncias outros, passou a ter influência direta na 
organização do ensino secundário, no que tange aos objetivos e à organização 
curricular: 
 
Destinando-se precipuamente ao preparo de candidatos para as escolas 
superiores do Império, o ensino secundário em todo o país, com um ou 
outro acrescentamento, com uma ou outra lacuna, reproduzia em seu 
currículo o conjunto de disciplinas fixadas pelo Centro para os exames de 
ingresso nas Academias (HAIDAR, 1972, p. 19). 
 
Até o Ato Adicional, o ensino secundário ainda estruturava-se na forma de aulas 
avulsas, tradição instituída pelos jesuítas e mantida no período pombalino com a 
denominação de “aulas régias”. No ensino público, existiam de modo bastante 
reduzido, concentradas nos seminários e no Colégio da Serra do Caraça, além de 
alguns estabelecimentos provinciais: “[...] um punhado de aulas de latim, retórica, 
filosofia, geometria, francês e comércio. Somadas tôdas as aulas públicas providas 
então existentes na Côrte e nas províncias, mal se ultrapassava uma centena” 
(HAIDAR, 1972, p. 20). O Atheneu Norte-Riograndense, por exemplo, fundado em 
03 de fevereiro de 1834, pelo então presidente da Província, Quaresma Torreão, 
autor de um compêndio de Geografia, surgiu para reunir, em uma mesma instituição, 
as disciplinas das Humanidades, que antes sediavam-se em estabelecimentos 
diferentes: Filosofia, Retórica, Geometria, Francês e Latim. A partir do Ato Adicional, 
houve a tentativa de estruturar o ensino secundário nas províncias, tentando sua 
equiparação ao Colégio Pedro II, alguns anos mais tarde. 
O Ato Adicional promulgou, portanto, às províncias, o poder de legislar sobre 
a instrução pública primária e secundária, agindo diretamente sobre os 
estabelecimentos, porém com supervisão do poder geral, algo que praticamente 
inexistiu: a preocupação do poder imperial nunca excedeu os limites da comarca da 
Corte, embora o centro não deixasse de ser referência e modelo. Essa dúbia 
descentralização foi vital para o desenvolvimento de estabelecimentos de ensino 
secundário na extensão do país e para iniciar o processo de organização do ensino 
secundário. Esse processo culminou na transformação do Seminário de São 
Joaquim no Colégio Pedro II, em 02 de dezembro de 1937, em decreto consignado 
pelo Ministro da Justiça Interino Bernardo Pereira de Vasconcellos – fato que 
interessa diretamente à gênese da Geografia como disciplina institucionalizada no 
ensino secundário. 
 
 
4.1.2 Currículo e ensino de Geografia no Império: o papel do Colégio Pedro II 
 
O surgimento do Colégio Pedro II seguiu o modelo dos liceus franceses e 
apresentou uma reforma educacional importante (restrita a ele, de início): introduziu 
os estudos simultâneos e seriados, o que oscilou as aulas avulsas como perspectiva 
de organização curricular – processo que iniciaria o enfraquecimento dessa 
organização do ensino dos preparatórios, cuja presença passou a ser oscilante até 
sua extinção definitiva, nos anos 1870 –, passando a aprovação a ser por série e 
não por disciplina, e introduziu o currículo obrigatório como curso regular de seis a 
oito anos, assim colocado no Art. 3º do Decreto de 02 de dezembro de 1937, que 
instituiu o colégio: “Neste collegio serão ensinadas as linguas latina, grega, franceza 
e ingleza; rhetorica e os princípios elementares de geographia, historia, philosophia, 
zoologia, mineralogia, botanica, chimica, physica, arithmetica, algebra, geometria e 
astronomia” (BRASIL, 1837). 
A extensão do currículo do Colégio Pedro II cobria a necessidade de 
preparatórios para qualquer curso acadêmico do país, e um pouco além, visto 
objetivar por si uma formação completa, que habilitaria o egresso com o bacharelado 
em Letras, e a posse desse título permitiria a admissão em qualquer curso superior 
sem a necessidade de exames. Contudo, o Colégio já nascia com um desafio a 
enfrentar: concorrer com os estabelecimentos particulares, que ofereciam 
preparatórios em um tempo muito inferior aos oito anos do curso do Pedro II. 
O ano de 1837 teve mudanças políticas importantes que favoreceram as 
transformações no cenário da instrução pública da Corte, dentre as quais a renúncia 
do regente79 Diogo Antonio Feijó (1784-1843), passando a constituir um novo 
ministério Pedro de Araújo Lima (1793-1870), o que trouxe uma renovação ao 
cenário político, concretizando antigas discussões quanto à educação (DÓRIA, 
1937). A imprensa, os relatórios provinciais, os discursos nas câmaras legislativas já 
de algum tempo colocavam em pauta a necessidade de melhorar a instrução 
pública, solicitando a reunião e a fiscalização das aulas avulsas em uma única 
instituição (HAIDAR, 1972), como indica o relatório despachado para a Assembleia 
Legislativa, em 1835, pelo presidente da província do Rio de Janeiro: Joaquim José 
Rodrigues Torres: 
 
[...] fora meu parecer que, quando mesmo se julgasse dever continuar 
inteiramente gratuito o ensino dessas matérias [da instrução avulsa], 
conviera reunir em collegios, e em tres ou quatro differentes pontos da 
Província todas as Cadeiras já creadas, e que se houverem de crear. Assim 
tornava-se mais fácil a disciplina destes estabelecimentos, e a despeza com 
que o Estado deve carregar, achar-se-há mais modica e proficua (BRASIL, 
1850, p. 3-4). 
 
A posição do Colégio Pedro II, no cenário geral da instrução secundária do 
Império, foi legitimar e, de certa forma, padronizar, os saberes escolares: 
O Colégio Pedro II foi criado para ser uma instituição escolar paradigmática, 
não só no que diz respeito à sua organização e funcionamento, mas 
também em relação aos saberes que por ele deveriam ser veiculados. O 
fato de que os conteúdos a serem ministrados, assim como os compêndios 
                                                 
79
 Após o retorno de D. Pedro I a Portugal, ficou em seu lugar D. Pedro II, ainda infante, pelo que o 
país era governado por regências. 
adotados pelos professores, só poderem vigorar a partir da aprovação legal 
dos legisladores de então, deixa explícita a tentativa de exercer um controle 
sobre a cultura a ser legitimada (ROCHA, 1996, p. 61). 
 
Isto está enunciado nas palavras do ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos no 
discurso proferido por ocasião da abertura das aulas do Colégio, em março de 1838, 
quando afirma ser “[...] intento do Regente Interino criando este Collegio, [...] 
offerecer hum exemplar ou norma aos que já se acham instituídos nesta Capital por 
alguns particulares; convencido como está de que a educação collegial he preferível 
à educação privada80” (VASCONCELLOS, 1937, p. 274). 
Essa posição era partícipe dos entrelaços do projeto político de legitimar a 
Monarquia e civilizar a nação com padrões inspirados no modelo europeu, liderado 
pela elite política, representante dos ideais econômicos e intelectuais pactuados e 
representados pela classe do Estado. Era incipiente, então, o sentimento de 
pertença a uma pátria brasileira no âmbito geral do território nacional, ainda 
permeado da influência portuguesa, povoado por migrantes e descentes diretos de 
migrantes. A nacionalidade brasileira foi um modelado principiado nas décadas 
iniciais do Império, amadurecido e consolidado ao longo do século XIX (VLACH, 
1988; ANDRADE, 1999), e era uma forma de contrapor as ameaças internas e 
externas que rondavam o jovem território independente, dentre as quais as rebeliões 
e conflitos armados em diversas províncias, o receio de perder sua base de 
sustentação econômica – a mão de obra escrava – por pressão da Inglaterra, o 
receio de uma recolonização portuguesa. Nesse projeto de nacionalidade, no 
tocante à educação, teve-se a criação dos cursos jurídicos de São Paulo e Olinda 
(1827), a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Arquivo 
Nacional (1838), dos primeiros liceus provinciais e escolas normais, e a própria 
criação do Colégio Pedro II estão como consolidação desse projeto civilizador. O 
Colégio, particularmente, emergia como instituição de formação daqueles que 
conduziriam os rumos do país quanto à organização nacional, emergente para uma 
“mocidade” que aí aprenderia “[...] a independência da virtude, a firmeza de caráter, 
a energia, e o valor da sciencia, a pureza da moral e o respeito da Religião [e o que 
isso] tem de dar á Pratria, á nação, á Liberdade, ao Throno e ao Altar, servidores 
fiéis, honra e glória do nome Brasileiro” como anunciado pelo ministro Vasconcellos 
                                                 
80
 Subtende-se, aí, uma crítica ao modelo de oferta avulsa de disciplinas. 
(1937, p. 275) no discurso supracitado, sendo ele um dos nomes políticos atuantes 
por uma unidade nacional (SOUZA, 1937), e sendo essa considerada uma tarefa de 
“dedicação patriótica”, conforme palavras do ministro. 
De fato, Moises (2007, p. 126), após analisar diversos documentos da época 
da institucionalização do Colégio Pedro II, incluindo a repercussão da nascente 
imprensa fluminense, conclui que 
 
a formação organizada e defendida pelos principais mentores da iniciativa 
governamental de 1837 não estava, de fato, preocupada em oferecer uma 
instrução que atendesse à grande maioria da população, constituída 
majoritariamente de analfabetos, mas buscava, por meio da educação, uma 
maneira de consolidar a unidade nacional, ameaçada constantemente 
naquele momento. O Colégio Pedro II, ao ter como prioridade a restauração 
das disciplinas clássicas, pretendeu assegurar uma formação aos alunos 
que poderiam chegar a posições de destaque no país, relacionadas, em 
especial, à direção política, de modo que pudessem contribuir para a 
construção e consolidação da nacionalidade brasileira.  
 
Sendo a supervisão do Estado uma forma de controle, este significa a 
implementação de objetivos do estado, a configuração dos sujeitos de acordo com 
uma proposta oficial – que não era outra a não ser a formação de nacionais, como 
explicita Vasconcellos (1937, p. 274 – grifos meus): 
 
Só assim [com a implementação do Colégio e seu regulamento] deixarão 
receios infundados de tomar a natureza de difficuldades reaes; só assim se 
evitará o escândalo de estylos arbitrários e porventura oppostos às 
providências e às intenções do Governo; e a mocidade de par com as 
doutrinas, que hão de formar o seu coração e aperfeiçoar a sua 
intelligência, aprenderá a respeitar as leis e as instituições, e conhecerá 
as vantagens da subordinação e da obediência. 
 
A ação do Estado, nesse momento, no campo educacional, queria elevar o 
país para ombrear as nações civilizadas, agindo, portanto, nos cursos superiores, e 
notadamente no que interferisse no âmbito deles, como é o caso dos preparatórios e 
do ensino secundário. O fio condutor dessas ações era, no mínimo, a criação de 
modelos. Se o Ato Institucional de 1834 deixara para as províncias a organização da 
instrução pública, por outro atrelou os exames do ensino superior – instância 
educacional aos cuidados diretos do Estado – ao Colégio Pedro II, por conseguinte 
influindo no ensino privado e no pequeno número de instituições de instrução 
secundária surgentes nas províncias, em particular em Pernambuco, Bahia, Paraíba 
e Rio Grande do Norte (HAIDAR, 1972). 
O currículo do Colégio Pedro II posteriormente foi incorporado pelo disposto 
nos exames de admissão ao ensino superior, como deixa claro a Portaria de 4 de 
maio de 1856 (apud HAIDAR, 1972, p. 82), cujo teor era a regulação do ensino 
preparatório, e que afirmava o seguinte, em dois de seus artigos: 
 
Art. 7º Os compêndios e livros usados nas aulas de preparatórios serão os 
mesmos que tiverem sido ou forem adotados pelo govêrno para a instrução 
secundária. Os professôres guiar-se-ão em suas explicações pelo sistema 
do programa dos estudos das aulas secundárias da Côrte, e segundo as 
instruções que para êsse fim receberem o diretor. 
Art. 8º Para a execução do artigo antecedente o inspetor geral da instrução 
primária e secundária do Município da Côrte enviará aos diretores das 
Faculdades não só a relação dos compêndios e livros aprovados para uso 
das aulas de ensino secundário, e 30 exemplares do referido programa, 
como também lhes comunicará imediatamente qualquer alteração que haja 
neste objeto. 
 
Por si só, essa medida já impunha o modelo curricular do colégio como orientação 
para os demais estabelecimentos de ensino do país. Para Vechia; Lorenz (1998, p. 
VII), 
[...] os programas de ensino do Colégio exerceram influência, ainda que de 
forma indireta, sobre as escolas secundárias existentes nos meados do 
século XIX e as que surgiram em número crescente até o final do império e 
inclusive nos primeiros anos da República. Com a chegada da corte 
portuguesa ao Brasil, foram criados cursos de nível superior nas áreas de 
Medicina e Engenharia e, posteriormente, na de Direito. A partir de 1838, o 
Colégio Pedro II passou a desempenhar o importante papel de preparar os 
alunos para entrar nessas instituições. [...] O currículo era um mecanismo 
utilizado na tentativa de conciliar os interesses do ensino superior e os 
objetivos próprios do ensino secundário. Os demais colégios eram 
incentivados a adequar os seus currículos e programas aos do Colégio de 
Pedro II, principalmente a partir de 1854, quando os exames preparatórios 
passaram a ser realizados em conformidade com os programas daquela 
instituição. A lógica exigia, portanto, a adoção da emulação desses 
programas pelos colégios provinciais e particulares. 
 
Essa trajetória iniciou-se em 1838, totalizando, até o fim do Império, 10 atos 
legais de regulação da estrutura pedagógica, da grade curricular e dos saberes a 
serem ministrados no Pedro II81. Essa legislação determinou a organização do 
                                                 
81
 No período republicano, até meados do século XX, o Colégio contaria ainda com mais oito 
programas (VECHIA; LORENZ, 1998). 
ensino secundário e delimitou os espaços que a Geografia assumiu na grade das 
disciplinas escolares. 
O primeiro destes atos foi o Regulamento n. 8, de 31 de janeiro de 1838, que 
consolidou os estudos clássicos como plano de ensino e aprendizagem, mas 
abrindo espaço para línguas modernas e disciplinas científicas, estudos, então, 
considerados modernos. Organizado em oito séries, distribuídas em seis anos, e 
executadas por disciplinas simultâneas, a Geografia foi inserida na 8ª e 7ª séries 
com cinco lições semanais e na 6ª série com uma lição semanal. Este regulamento 
predispunha 239 artigos, estabelecendo orientações para os diversos aspectos 
relacionados ao funcionamento da instituição, como sintetiza Joaquim Manoel de 
Macedo (1991, p. 202): 
 
[...] marcando as funções do reitor, vice-diretor, professôres e todos os 
empregados, estabelecendo o plano de estudos, dividindo o ensino em oito 
aulas ou anos letivos, em que se devia ensinar gramática portuguêsa, latim, 
grego, francês, inglês, geografia, história, retórica e poética, e filosofia. 
Matemáticas, compreendendo aritmética, álgebra, geometria, trigonometria 
e mecânica. Astronomia, História natural, compreendendo zoologia, 
botânica e mineralogia. Ciências físicas, compreendendo física e química. 
Desenho e música vocal. Especificando o enxoval dos alunos, as condições 
para o bacharelado, o regime econômico e tudo, enfim, quanto era de mister 
que fôsse regulado. 
 
O ministro Vasconcellos, na elaboração dos estatutos do Colégio Pedro II, 
consultou a organização dos estudos secundários na Prússia, Holanda e França, 
procurando adaptar ao caso nacional o que parecia mais conveniente; os mais 
influentes foram os estatutos franceses, às vezes literalmente copiados (DORIA, 
1937). Em pronunciamento na Câmara dos Deputados, no ano da transformação do 
Seminário São Joaquim no Colégio, o ministro Vasconcelos intencionou a orientação 
de elevar os estudos de Humanidades e das línguas clássicas no Brasil (ANAIS DA 
CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1837, p. 117), agrupando séries para, em primeiro 
lugar, os estudos clássicos de Gramática, Retórica, Poética, Filosofia, Latim e 
Grego. As inovações curriculares contaram com o ensino da Gramática Nacional, 
duas línguas vivas, o Francês e o Inglês, História e Geografia, além de Matemática, 
Ciências Naturais, Música e Desenho. 
O Inglês e o Francês inseriam-se pelo reconhecimento de que eram 
necessárias para uma comunicação além das fronteiras, sendo ainda formas para 
aquisição de conhecimentos sobre cultura, ciências e artes, em um momento em 
que o latim declinava como linguagem universal do saber formal. Da mesma forma, 
a matemática e as ciências impunham-se paulatinamente como plataforma para o 
desenvolvimento ou desempenho científico e tecnológico. Sem dúvida, tratava-se de 
um currículo influenciado pelas ideias liberais que percorriam todos os cantos da 
Europa esclarecida. 
Em fins da década de 1830, o ensino de Geografia, por sua vez, já era um 
parâmetro em qualquer discussão curricular para o ensino elementar. A presença da 
Geografia na grade curricular do Pedro II notadamente é uma das influências do 
modelo francês de ensino secundário, no qual há tempos figurava essa disciplina 
como parte da formação dos sujeitos nacionais. Mas não somente, pois a essa altura 
da formação do país, a necessidade de um ensino espacial nos processos de 
escolarização se impunha no debate geral sobre a educação. Para exemplificar, 
veja-se a posição da imprensa: um dos veículos de oposição ao status político dos 
regentes monárquicos, em veiculação desde 1827, foi o jornal Aurora Fluminense. 
Essa folha, em relação à transformação do Seminário de São Joaquim (que educava 
crianças pobres) no Colégio Pedro II, criticou severamente a subversão social que 
essa institucionalização representou: 
 
O estabelecimento das classes pobres foi transformado em monopólio da 
instrucção do rico. Disemos do rico, e em todo rigor do termo, porque só 
uma porção mínima da nossa sociedade, a mais abastada, poderá participar 
hoje das vantagens do collegio Pedro II; tão levantadas são as condições da 
admissão para aquelle estabelecimento, cujas formas gymnasticas são o 
grego e o latim (AURORA FLUMINENSE, 1838, f. 3). 
 
E como representantes da sociedade civil, apresentam uma proposta de ensino – 
sem luxos clássicos como o aprendizado das línguas grega e latina – que atendesse 
à população como um todo, na qual se inclui o ensino geográfico: 
 
Nos faríamos ensinar no Seminário de S. Joaquim os elementares princípios 
das letras e algumas idéias gerais das sciencias, ensino comum e conforme 
a necessidade de todas as proffissões. Eis aqui quaes seriam as matérias 
d’este ensino: 1 da língua materna, aprendendo-se da grammática tão 
somente aquillo, que é essencial para entender a construcção do discurso: 
2 um epithome que n’uma colleção de máximas explique de um modo curto 
e claro o systema solar, as leis do movimento, da attracção, e da gravidade: 
3 outro cathecismo de geographia feito conforme o mesmo plano: 4 
uma synopsis de chronologia, e de história geral, que de uma succinta, e 
porém compreensiva relação dos principais acontecimentos do mundo: 5 
noções geraes de psycologia, e de moral: 6 um cathecismo político, onde 
explicada fosse a constituição do estado, a importância das leis, a 
necessidade dos tributos, os princípios porque regula o uso da moeda e o 
valor das cousas, e finalmente as idéias as mais geraes relativas ao 
commércio, a agricultura, e a industria; 7 as lingoas francesa e inglesa 
(AURORA FLUMINENSE, 1838, f. 3 – grifos meus). 
 
Nos primeiros anos, os professores foram empossados e indicados pelo 
governo, sendo selecionados dentre representantes da inteligência oitocentista. A 
cadeira de História e Geografia, por exemplo, foi ocupada inauguralmente por 
Justiniano José da Rocha. Durante a vigência do Império, a Cadeira de História e 
Geografia, separadas na década de 1850, quando passou a existir, então, uma 
cátedra exclusiva para a Geografia, foi ocupada pelo cônego Dr. Marcelino José de 
Ribeiro Silva Bueno (1840, Geografia e História), João Baptista Calógeras (1847, 
Geografia e História), Dr. Joaquim Manoel de Macedo (1849, Corografia e História 
do Brasil), Frei Camilo de Monserrat (1850, Geografia e História), João Antonio 
Gonçalves da Silva (1855, História Geral e Geografia), Pedro José de Abreu (1858, 
Geografia), Dr. Francisco José Xavier (1879, Geografia), João Capistrano de Abreu 
(1883, Corografia e História do Brasil). 
No currículo de Ciências, alguns dos conteúdos ensinados seriam, mais 
tarde, incorporados ao ensino de Geografia, sobretudo os relacionados à Geografia 
Física: é o caso da Geologia e da Mineralogia. Contudo, já na primeira formação 
curricular do Pedro II, conforme mencionado anteriormente, a Geografia comparece 
nas três primeiras séries, com um total de seis lições semanais, cinco nos primeiras 
e uma na sexta série (Quadro 04). Somente após o aluno ter adquirido noções 
gerais de Geografia no primeiro ano, passava a estudar História, a partir do segundo 
e em todos os anos. 
 
 
 
 
 
 
QUADRO 04 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1838. 
     
Ano Seriação Disciplinas Geográficas Observações 
1838 
Regulamento n. 8, de 31 de janeiro de 1838 (Colégio 
Pedro II) 
 
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  8ª e 7ª 
Séries 
Geografia 5 lições semanais 
6ª Série  Geografia 1 lição semanal 
5ª e 4ª 
Série 
- 
 3ª Série - 
2ª Série - 
1ª Série - 
     
Fonte: Brasil (1838); Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Em primeiro de fevereiro de 1841, o Regulamento n. 62 que fez algumas 
alterações no estatuto do Colégio implementado em 1838, estabeleceu um curso de 
sete anos para a integração curricular do bacharelado, sendo proposto “[...] uma 
redistribuição das matérias pelas diferentes séries com o objetivo de melhor atender 
ao desenvolvimento intelectual dos alunos” (HAIDAR, 1972, p. 102). Certa 
observação da aptidão e do raciocínio dos alunos, enquanto capacidade intelectual, 
foi considerada; em outros termos, a capacidade de memorização, habilidade 
pedagógica apreciada então, e por muito tempo depois, como justifica o próprio 
Regulamento: 
 
Tendo em consideração por huma parte que o tempo de seis annos, ora 
empregados no curso da Instrucção secundaria no Collegio de Pedro 
Segundo, não he sufficiente para os lumnos poderem adquirir as 
necessárias noções das Artes, e Sciencias, que se ensinão no referudi 
Collegio; e por outra parte que nos primeiros annos se dedicao os mesmos 
alumnos alguns estudos, para os quaes ainda se não achão aptos, por 
quanto, supposto tenhão sufficientemente desenvolvida a memoria, não tem 
com tudo desenvolvido no mesmo grão o raciocinio, do qual esses estudos 
principalmente dependem [...] (BRASIL, 1841, p. 13). 
 
A matemática e as ciências foram reduzidas e postergadas aos últimos 
anos, ao passo que a Geografia teve sua carga horária ampliada e distribuída por 
mais séries/anos (Quadro 05). A Geografia passa a estar em todas as séries, a partir 
do 2º ano, sendo renomeada “Geographia Descriptiva”. Além dessa, havia ainda 
uma outra disciplina geográfica, denominada “Geographia Mathematica, e 
Chronologia”; esta disciplina, no entanto, pertencia à cadeira de Matemática, e não à 
docência de Geografia (Art. 3º). Também a Geografia precedia, nessa grade, ao 
ensino de História, introduzida apenas no 3º ano, após o estudo de Geografia com 
três lições semanais no 2º ano; nos demais, o ensino geográfico dispunha de um 
horário semanal. 
Em fins dos anos 1840, havia entre os políticos uma preocupação com a 
situação geral do ensino fora do âmbito do Colégio Pedro II. Inexistia, da parte do 
governo, um controle sobre os estabelecimentos privados, e as aulas públicas ainda 
existentes pouco acrescentavam à formação dos estudantes. Certamente a 
experiência do Colégio Pedro II, acompanhado de perto pelo governo, influiu na 
defesa de propostas para esse cenário, dentre as quais a criação de uma comissão 
permanente de instrução pública e a extinção das aulas avulsas. Só mais tarde, a 
esse propósito, em 1854, foi criada a Inspetoria Geral da Instrução Primária e 
Secundária do Município da Corte, órgão que assumiu os exames gerais dos 
preparatórios, agiu sobre a liberdade de ensino, e reformulou os estatutos do 
Colégio Pedro II. 
 
QUADRO 05 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1841. 
     
1841 
Regulamento n. 62 de 01/02/1841 (Colégio Pedro II)  
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1º ano - - 
2º ano Geografia descritiva 3 lições semanais 
3º ano Geografia descritiva 1 lição semanal 
4º ano Geografia descritiva 1 lição semanal 
5º ano Geografia descritiva 1 lição semanal 
6º ano Geografia descritiva 1 lição semanal 
7º ano 
Geografia descritiva 1 lição semanal 
Geografia descritiva 
 
1 lições semanais 
Geografia Matemática e Cronologia 2 lições semanais 
     
Fonte: Brasil (1841); Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Com o Ato Adicional de 1834, o governo do Império descentralizou a 
educação, permitindo às Províncias a oferta e a manutenção do ensino primário e 
secundário. Porém, nesse processo, centralizou uma referência com a 
institucionalização do Imperial Colégio de Pedro II, que a partir de sua criação 
passou a difundir ideias sobre a educação, a partir de modelos externos, sobretudo 
europeus, influindo no comportamento dos estabelecimentos públicos e particulares 
de todo o país. Não deixou de ser, conforme lembra Haidar (1972), uma medida de 
orientação e controle de todo o ensino ofertado no território brasileiro, até porque o 
ensino secundário, em grande parte, teve a performance de preparatório para o 
ingresso no ensino superior, e os exames de admissão aos cursos superiores 
estavam atrelados aos programas do Colégio Pedro II: “os dezesseis liceus 
existentes em 1854 e os vinte existentes em 1872 eram incentivados a adequar seus 
planos de estudos e programas de ensino aos do Colégio, bem como adotar os 
mesmos livros didáticos”, como lembram Vechia; Lorens (2006, p. 6009). As 
províncias resistiram a essa imposição, sendo as matrículas avulsas uma prova 
dessa posição, haja vista que desde sua fundação o Colégio Pedro II teve a 
proposição de um programa formativo, seriado e integrado, mas a frequência avulsa 
praticamente acompanhou, com avanços e retrocessos, por todo o período imperial. 
Na entrada dos anos 1850, os relatórios provinciais indicavam graves 
deficiências no ensino secundário de todo o país, o que urgia providências do 
governo central, mas que não ferissem a constituição que descentralizara o ensino 
da nação. Dentre as reações do governo esteve a mencionada criação da Inspetoria 
Geral da Instrução Publica no Município da Corte que, atuando para o município 
neutro, influenciava as demais instituições de ensino. A Inspetoria era responsável, 
ainda, pela análise dos relatórios chegados das províncias, com pareceres influentes 
sobre a legislação e sobre a formação discursiva condizente ao ensino no país. 
Dentre as medidas gerais impostas pela Inspetoria, está a equiparação dos 
programas de ensino e dos livros didáticos adotados no Colégio Pedro II (HAIDAR, 
1972), os quais fundamentavam a elaboração dos exames admissionais. 
O programa de Geografia divulgado no início de 1850, pelo Colégio Pedro II, 
manteve a estrutura introduzida em 1841, apenas alterando os nomes das 
disciplinas geográficas: a “Geografia Descritiva” se torna só “Geografia”, a Geografia 
Matemática passa a se chamar Cosmografia, e a Cronologia cede para a Geografia 
Antiga (Quadro 06). 
 
 
 
QUADRO 06 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1850. 
    
1850 
Programa do Colégio Pedro II 
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2º ano Geografia 
3º ano Geografia 
4º ano Geografia 
5º ano Geografia 
6º ano Geografia 
7º ano 
Cosmografia 
Geografia Antiga 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A década de 1850, na Europa, foi marcada por reformas educacionais que 
procuravam adequar os sistemas de ensino às necessidades impostas pela 
economia em pleno desenvolvimento. Esse movimento teve repercussão no Brasil. 
Nesse contexto, o Colégio Pedro II introduziu a reforma do Decreto n. 1.556, de 17 
de fevereiro de 1855, ato decorrente da Lei n. 630, apresentada na Assembleia 
Geral Legislativa em 17 de setembro de 1851 por Couto Ferraz, a qual a autorizava 
reformas no ensino primário e secundário no Município da Corte. Dentre os 
principais pontos da reforma no Colégio Pedro II, tem-se a compatibilização entre 
ensino secundário e ensino técnico, por meio da divisão das séries em dois ciclos, 
um de quatro e outro de três anos. Os Estudos de Primeira Classe, em quatro anos, 
obrigatoriamente deveriam ser frequentados por todos os matriculados, findos os 
quais poderiam continuar os estudos no próprio colégio ou, uma vez certificados, 
ingressar em outros cursos sem a necessidade de prestar exames. Os Estudos de 
Segunda Classe, por sua vez, de três anos, sucediam ao primeiro ciclo, e sua 
conclusão bacharelava em Letras o secundarista. Com essa nova estrutura, houve 
uma redistribuição das disciplinas pelas séries; Geografia e História tiveram suas 
cadeiras separadas, embora ainda coetâneas: ambas abordavam o período 
moderno, o período antigo e o Brasil, sendo a abordagem nacional denominada 
Corografia, isso nos dois anos finais dos estudos da Primeira Classe. Nos cursos da 
Segunda Classe, ambas enquadravam o período antigo e a Idade Média. Observa-
se aí uma proposta que procura uma transição que atenda os estudos clássicos e 
outro que, no conjunto, refere-se a uma formação científica, organizada para os 
interesses e as necessidades então atuais, que requeriam uma prática mais 
presente, mais distante da erudição (Quadro 07). 
 QUADRO 07 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1855. 
    
1855 
Decreto n. 1.556 17/02/1855 (Colégio Pedro II) 
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Primeira Classe (1º ao 4º ano) 
1º ano -  
2º ano - 
3º ano 
 
Geografia e História Moderna 
4º ano 
Geografia e História Moderna 
Corografia e História do Brasil 
Segunda Classe (5º ao 7º ano) 
5º ano Geografia e História Antiga 
6º ano Geografia e História da Idade Média 
7º ano - 
    
Fonte: Brasil (1855); Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
O que se observa inicialmente, nessa estrutura, é a proximidade entre 
Geografia e História. O comportamento da Geografia nessa plataforma é 
basicamente o que os historiadores do ensino de Geografia denominam como 
“palco” do desenrolar da História. Até então, e muito depois, ou o ensino de 
Geografia precedia o de História ou ocorriam simultaneamente, por este motivo.  
Esse modelo foi influenciado pela reforma educacional promovida na França 
pelo conde Narcisse Archille Salvandy (1795-1856), em 1847, e também pela 
reforma proposta por outro ministro, Fouroul, em 1852 (VECHIA; LORENZ, 2002). 
Em ambas as reformas, destacaram-se a estrutura de quatro mais três anos, para 
oferta do secundário tradicional e do ensino técnico, relevando o ensino de ciências, 
tendo em vista o ensino técnico, sobretudo. Couto Ferraz, quanto às reformas 
francesas, foi atraído pela possibilidade de atendimento a classes sociais diferentes 
e pelo acesso à ciência como formação técnica. 
Todavia, já na vigência do Império se constituía uma prática permanente na 
política educacional brasileira: a descontinuidade de projetos em razão das 
mudanças dos cenários políticos. A reforma de Couto Ferraz foi tolhida pela queda 
do Ministério da Conciliação (como ficou conhecida a tentativa do imperador Pedro II 
para promover uma gestão comum a liberais e conservadores), em 1856, quando 
morreu o Marquês do Paraná, sendo substituído pelo Marquês de Olinda, que atuou 
como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro e Secretário de Estado dos 
Negócios do Império, a partir de 1857. 
Os vacilos legislativos – proposição, não cumprimento, novas proposições 
em um espiralar constante – no plano prático significavam uma desorientação, por 
exemplo, na docência e na produção de materiais para o ensino, o que é sentido nas 
poucas alterações possíveis de observar nos exemplares da bibliografia desse 
tempo. Por esse motivo, o currículo dos manuais não respondia necessariamente à 
urgência das proposições legais, como se veria, posteriormente, na bibliografia do 
ensino da Geografia, em que os autores procuravam permanentemente enquadrar-
se aos currículos e programas propostos, até como forma de sobrevivência da obra. 
Possivelmente, isso levava as obras a ficarem disponíveis, havendo ou não um 
trabalho seletivo do professor ou dos colegiados responsáveis pelo ensino. Em 
geral, as obras dispunham os conteúdos como requeridos frequentemente – uma 
Geografia política, uma Geografia física (geral e corográfica) e uma Cosmografia – e 
daí seriam encorpadas em tal ou qual série/ano em que fossem requeridos: mais 
tarde se veria o contrário, as obras sendo escritas especificamente para uma série 
de ensino, atendendo plenamente o currículo sugerido. 
Com o novo ministério, entrou em vigor o Decreto n. 2.006, de 24 de outubro 
de 1857, alterando o Regulamento relativo aos estudos de Instrução Secundária do 
Município da Corte. A partir desse ato, o Colégio Pedro II deixou a estrutura de 
quatro e três anos: em sete anos o estudante graduava-se bacharel em Letras, 
podendo ingressar automaticamente no ensino superior; em paralelo, instituiu um 
curso de cinco anos, que preparava para o ingresso em outros cursos técnicos, 
sendo os primeiros quatro anos obrigatórios a qualquer uma das frequências. A 
justificativa para essa mudança seria uma readequação das disciplinas, para 
distribuí-las sem peso excessivo para umas e pouco aproveitamento para outras 
(DORIA, 1937). Assim, a Geografia ficou presente nos três primeiros anos e no 
quarto e quinto se emparelhou a Corografia e a História do Brasil (Quadro 08). 
 
 
 
QUADRO 08 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1857. 
    
1857 
Decreto n. 2006 de 24/10/1857 (Colégio Pedro II) 
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Curso Especial  
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 1º ano Geografia 
2º ano Geografia 
3º ano Geografia 
4º ano Corografia e História do Brasil 
 5º ano Corografia e História do Brasil 
 
6º ano - 
7º ano - 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
O ato legal de 1857 permaneceu até primeiro de janeiro de 1862, quando 
José Ildefonso de Souza Ramos, ministro e secretário de Estado dos Negócios do 
Império, assinou o Decreto n. 2883, alterando o regulamento do Colégio Pedro II. As 
Humanidades foram repostas, como em vigor até 1841. Esse modelo que sofreu 
poucas alterações até o findar do Império, período no qual 
 
[...] houve um interesse geral no sentido de diagnosticar e solucionar os 
problemas de ensino público. Em conseqüência, surgiram vários debates, 
Atos Legislativos, reformas e propostas de reformas visando reestruturar o 
ensino brasileiro e, em particular, o ensino secundário. As reformas 
efetuadas, tais como as de 1870, 1876, 1878 e 1881, alteraram aspectos 
diversos do sistema de ensino secundário em relação à organização 
administrativa do Collegio, ao sistema de avaliação e exames e aos planos 
de estudos (VECHIA; LORENS, 2006, p. 6007). 
 
Observa-se, então, a Geografia nos quatro primeiros anos do ensino 
secundário, o retorno da Cosmografia no quarto ano, e o descolocamento da 
Corografia para o último (Quadro 09). 
 
 
 
 
 
 
QUADRO 09 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1862. 
    
1862 
Decreto n. 2883 de 01/02/1862 (Colégio Pedro II) 
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1º ano Geografia 
2º ano Geografia 
3º ano Geografia 
4º ano Geografia e Cosmografia 
5º ano - 
6º ano - 
7º ano Corografia 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
O próximo ministro, Paulino de Souza, fez vigorar o Decreto n. 4.468, 2 de 
fevereiro de 1870, no qual foram introduzidos exames de admissão à matrícula no 
secundário e exames finais para todas as disciplinas do seriado. Já por uma 
visualização da forma de organização da grade de Geografia a partir desse decreto 
se nota que a Geografia, então, adentrava em outro patamar, dividindo-se em 
elementar e geral. A Corografia do Brasil permanece como uma das últimas 
disciplinas (Quadro 10). A denominação de Geografia passou por alterações em sua 
denominação, de Geografia para “Geografia elementar e descritiva geral” e 
“Geografia Antiga”.  
Em 1876, a 1º de março, o Senador e Ministro do Império José Bento da 
Cunha Figueiredo consignou o Decreto n. 6130, também para o Colégio Pedro II, 
com alguma alteração na distribuição das disciplinas e permanência no estabelecido 
anteriormente quanto aos exames de admissão e aos exames finais. Destacou, 
neste decreto, a revogação do disposto no decreto de 1857, ou seja, abolindo 
definitivamente as matrículas avulsas no Colégio Pedro II, medida que, 
evidentemente, visava frear a aceleração do término dos preparatórios ao ingresso 
no ensino superior, estendida depois para todos os estabelecimentos secundários, o 
que ainda não foi verificado na prática. 
 
 
 
 
 
QUADRO 10 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1870. 
     
1870 
Decreto 4468 de 1870 (Colégio Pedro II) 
 
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1º ano Geografia elementar e descritiva em geral 
2º ano Geografia elementar e descritiva em geral 
Europa e 
América 
3º ano 
Geografia elementar e descritiva em geral 
e Geografia Antiga 
 
4º ano - 
5º ano - 
6º ano - 
7º ano Corografia do Brasil 
     
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Todavia, permanecia o problema da extensão do currículo, problema 
implícito aos programas do Colégio Pedro II desde sua fundação, e que de certa 
forma impacientava o alunado. A organização da plataforma curricular desse 
estabelecimento legal visava, de alguma forma, flexibilizar essa estrutura, como 
explica Vechia; Lorens (2006, p. 6008): 
 
Os estudos da maioria das disciplinas foram concentrados em menor 
número de séries do que em 1870. Tal organização permitia que os alunos 
vencessem as etapas do curso de uma forma mais rápida, pois cada 
disciplina era ensinada no máximo em três anos, ao final do último poderia 
prestar os exames finais por disciplina. O aluno, portanto, não precisava 
esperar até o termino do sétimo ano para prestar os exames preparatórios, 
visto que ao final do 5º ano já teria prestado todos os exames necessários 
para o ingresso nos cursos superiores. A decisão de localizar as disciplinas 
da área de Ciências nas duas últimas séries juntamente com Grego, 
Alemão, Literatura nacional, História e Corografia do Brasil consagrou o fato 
de que os alunos poderiam terminar seus estudos antes de ingressar no 6º 
ano, pois, o exame final nestas disciplinas não eram exigidos para ingresso 
na maioria das instituições de ensino superior. 
 
Dessa forma, para concentrarem-se em três anos, os conhecimentos 
geográficos passaram a ser vistos no primeiro, terceiro e sexto ano, obedecendo 
sempre à estrutura organizada na segunda metade do século XIX: Geografia 
elementar, Geografia geral, Corografia do Brasil e Cosmografia (Quadro 11). 
 
 
 
QUADRO 11 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1876. 
    
1876 
Decreto n. 6130 de 01/03/1876 (Colégio Pedro II) 
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1º ano Elementos de Geografia 
2º ano - 
3º ano Geografia 
4º ano - 
5º ano - 
6º ano 
Cosmografia 
Corografia do Brasil 
7º ano - 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Dois anos mais tarde, contudo, houve mudanças no vértice de influência 
externa na pedagogia do Colégio Pedro II, quando da posse de Carlos Leôncio de 
Carvalho, professor da Faculdade de Direito de São Paulo, na Pasta do Ministério do 
Império. O eixo deslocava-se da França para as ideias estadunidenses, calcadas na 
noção de liberdade no ensino e no influxo da consciência individual. Isso implicou no 
Decreto n. 6884, de 20 de abril de 1878, talvez a reforma mais radical do Império, 
que calcou como livre a frequência no Externato e tornou facultativo o ensino 
religioso aos não-católicos. Como em todas as reformas anteriores, houve 
alterações na plataforma curricular; mas não só: as matrículas avulsas foram 
reestabelecidas no curso do externato do Pedro II, possibilitando acesso aos 
exames finais àqueles que não tinham frequentado as aulas regulares. A Geografia 
fica nos dois primeiros anos; no quinto e sexto ano são aplicadas as disciplinas de 
Cosmografia e Corografia do Brasil (Quadro 12). 
 
QUADRO 12 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1878. 
    
1878 
Decreto n. 6884 de 20/04/1878 (Colégio Pedro II) 
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1º ano Geografia 
2º ano Geografia 
3º ano - 
4º ano - 
5º ano Cosmografia 
6º ano História e Corografia do Brasil 
7º ano - 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
As alterações seguintes no plano de estudo vieram com o Decreto n. 8051 
de 24 de março de 1881, que alterou os Regulamentos do Imperial Collegio de 
Pedro II, modificou o plano de estudos, mantendo significativamente as propostas de 
1878, de Leôncio de Carvalho. Particularmente, no que diz respeito à Geografia, 
percebe-se mudanças, sutis ainda, sobretudo com a separação de uma Geografia 
Física independente das demais (Quadro 13). 
 
QUADRO 13 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário na 
vigência do Império – 1881. 
    
1881 
Decreto n. 8051 de 25/03/1881 (Colégio Pedro II) 
S
e
c
u
n
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e
 
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7
 a
n
o
s
 
1º ano Noções de Geografia 
2º ano - 
3º ano Geografia Física 
4º ano Geografia e Cosmografia 
5º ano - 
6º ano - 
7º ano Corografia e História do Brasil 
    
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 A trajetória dessa legislação e normatizações demonstram o 
estabelecimento da Geografia como disciplina. Presente desde o currículo inicial, 
esteve permanentemente nas grades escolares, com maior ou menor carga horária, 
em todas ou em apenas algumas séries. Não tem um nome comum, não é apenas, 
ainda, “Geografia”: seus saberes respondem por Cosmografia, por Corografia, é 
qualificada e dividida em Antiga, Matemática, Geral, Elementar, Descritiva. Sua 
sucessão de nomes demonstra pensamentos diferentes e em construção sobre esse 
saber didático. 
A Geografia surgente no ensino elementar do Império era irmanada com o 
ensino de História. Não havia separação clara nos programas e nas regências. 
Mesmo a literatura didática e de referência até a década de 1850 evidenciam essa 
conjugação, materializando ambas sem limites claros, frequentemente. Conforme 
Moacyr (1937, v. 2, p. 27 e 28), é da década de 1850 a separação da Geografia e da 
História por meio da criação de cadeiras individuais para ambas as disciplinas, no 
âmbito da organização do ensino secundário do Colégio Pedro II, embora desde a 
fundação deste operassem também programas independentes a cada conteúdo, 
mas com a mesma regência. A existência dessa lei não foi garantia de divisão das 
regências na prática, pois ainda em 1881, no Colégio Pedro II se ensinava 
Corografia e História do Brasil conjuntamente. 
Diversos historiadores do ensino de Geografia delimitam a criação do 
Colégio Pedro II como início da trajetória dessa disciplina. Sem dúvida, foi um marco 
importante; todavia, deve-se ponderar que esta instituição consolidou um processo 
anunciado desde a década de 1810, período lacunar na história da Geografia 
escolar, e que procurei expor alguns esclarecimentos até o momento, conforme 
demonstrado em capítulo anterior. Quando o Ato de 1834 surgiu, o ensino público do 
Rio de Janeiro, para exemplo, ofertava cursos de Filosofia, Retórica, Grego, 
Francês, Inglês, Comércio (um dos mais frequentados), Geometria, Aritmética e 
Álgebra (HAIDAR, 1972). Basicamente, estas eram as disciplinas também ofertadas 
nas províncias. Com menor regularidade, eram ofertadas aulas avulsas de Geografia 
e História, desde os anos 1810. E o Colégio Pedro II, nesse contexto, foi o cenário 
de fortalecimento desse saber como disciplina escolar em nível da educação 
elementar. 
No contexto do Colégio Pedro II, viu-se os cursos independentes – as aulas 
avulsas – converterem-se (não sem resistência) em programas seriados e anuais, os 
quais respondiam a visões pedagógicas institucionalizadas por meio de decretos, 
estabelecendo modelos “forçados” a serem seguidos nas províncias, sobretudo 
quanto aos currículos impostos, haja vista sua presença nos exames admissionais 
dos cursos superiores – todos em mãos da vontade imperial. 
A marca dos estudos secundários continuava, e continuaria, portanto, a 
mesma desde os tempos dos jesuítas: preparar os discentes para o ingresso no 
ensino superior, cujos cursos tinham suas exigências curriculares, revelados nos 
exames requeridos para o ingresso. O aluno, nesses termos, frequentava aulas de 
acordo com seu interesse – as chamadas aulas avulsas, apesar do modelo e 
orientação que o Colégio Pedro II assinalaria anos antes, a partir de fins da década 
de 1830, e apesar de sempre retornarem em alguma condição (permitida ao 
externato, por exemplo).  
A presença da Geografia, no ensino secundário, ao mesmo tempo em que 
respondia a uma necessidade de formação do ensino superior, respondia às 
necessidades formativas do Estado – tanto para constituição dos cidadãos, 
sobretudo as elites, quanto para a constituição de uma máquina administrativa. Por 
outro lado, uma vez que a admissão no ensino secundário se dava por meio de 
exames, os quais incluíam os conhecimentos da Geografia, há sua inserção no 
currículo das escolas primárias.  
 
 
4.2 O currículo e a constituição da bibliografia didática de Geografia no 
período imperial 
 
Conforme analisado no Gráfico 01, apresentado no capítulo 02, no período 
imperial se teve uma produção superior a 150 títulos distintos de manuais didáticos 
de Geografia, em um movimento quantitativo ascendente, marcado por uma 
verdadeira explosão na década de 1880, quando, só nela, vieram a público 43 
títulos. É interessante notar como uma produção, relativamente alta, pouco atendeu 
às demandas educacionais do ensino da Geografia. Os políticos, os intelectuais 
envolvidos na questão educacional, os historiadores do ensino da Geografia são 
unânimes quanto a esse parecer, indicando, ademais, a desatualização das obras 
existentes e sua inadequação pedagógica. 
Para esse fato, talvez haja uma explicação na organização do mercado 
editorial: são baixas as tiragens, o preço dos volumes é caro, pois se trata de um 
material com produção externa, não há um sistema eficiente de distribuição, a maior 
parte dos títulos é de produções regionais, com circulação regional e, além disso, 
pelo menos a parte inicial dessa produção, destina-se mais aos professores e 
instrutores do que propriamente aos alunos: os livros didáticos foram, em largas 
décadas do princípio dessa história, a única forma de instrução e formação docente, 
as quais estiveram implícitas também em outras formações, como a militar, a 
jurídica, as engenharias.  
Essa bibliografia, em si, contudo, não deixa de ser um reflexo do poder 
disciplinador exercido pelo Estado brasileiro na construção de uma nacionalidade 
brasileira e no estabelecimento de uma cultura escolar (VLACH, 1988; ROCHA, 
1996). De acordo com Foucault (2004), dentre todas as práticas disciplinadoras, a 
escola foi um dos espaços para organização (disposição de ordem e hierarquia, 
disposição do tempo), exame (verificação de desempenho) e elaboração de certos 
saberes. Para Vlach (1988, p. 19), esta “[...] regulamentação é uma variação do 
poder disciplinar, que reforça a sua tendência à homogeneidade social”, pois havia 
necessidade de controlar o corpo (e o saber) “[...] individual e coletivamente – no 
sentido de adestrá-lo, enquanto força de trabalho para uma sociedade que estava 
irrompendo sob a ‘capa’ da igualdade (formal) dos homens”. O currículo, em si, foi o 
espaço do saber requisitado, e autorizado, para disciplinar certa visão do mundo e 
de suas regiões, inclusive, e sobretudo, a nacional. 
Do Rio de Janeiro, da Bahia e de Pernambuco, na década de 1820, vieram 
as primeiras presenças da bibliografia didática de Geografia. É o início de uma 
tradição didático-geográfica orientada pela Cosmografia, pela Geografia Física e 
pela Geografia Política, em acepção diferente da que teriam no desenvolvimento 
posterior da Geografia e do seu ensino. 
 
 
4.2.1 A tradição da Cosmografia, da Geografia Física e da Geografia Política 
 
Por todo o Império, a produção dos manuais de Geografia se dará pelo 
“paradigma” da Geografia moderna clássica, aquela que fez a transição da forma de 
conceber o conhecimento na Idade Média para o período que, com seus 
rompimentos epistêmicos, direcionou a compreensão e a produção do conhecimento 
para um fazer científico. Enquanto a Geografia moderna clássica conta com essas 
três compartimentações, a Geografia moderna científica ou institucionalizada, 
sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter, se enveredaria em duas 
perspectivas: a Geografia Humana e a Geografia Física, quando da emergência da 
dualidade no discurso geográfico desta ciência, fato este demonstrado por Gomes 
(2000) e outros historiadores do pensamento geográfico. 
A esse propósito, os termos Cosmografia, Geografia Física e Geografia 
Política foram terminologias em uso desde o século XVII (CAPEL, 1989). Varenius, 
quando publica sua Geografia Geral, em 1650, divide-a em uma Geografia Geral, 
que considera a Terra em seu conjunto, e em uma Geografia Especial, que objetiva 
as regiões, subdividindo esse conhecimento em corografia – para regiões de maior 
extensão, e topografia – para regiões de menor extensão (BAUAB, 2005). O objeto 
colocado em tela, a partir de Varenius, e assumido por geógrafos que o sucederam 
até o século XVIII, é a superfície terrestre e suas partes. Os Descobrimentos dos 
europeus ofertam ao mundo uma quantidade imensa de informações geográficas, 
tanto da natureza quanto da organização dos gêneros de vida, o que amplia e 
renova esse saber. A esse tempo, emerge uma racionalidade científica que procura 
separar o conhecimento em categorias, encaminhando para um lado a metafísica, o 
saber baseado nas crenças, nos mitos etc., procurando focar o conhecimento em 
uma objetividade e descrição precisas. 
Os discursos geográficos de grande parte do século XIX, sobretudo o 
didático, inscrevem-se direta ou indiretamente, na Geografia moderna em sua 
vertente clássica, aquela emergente no século XVIII, com vínculos nos movimentos 
que formataram as bases do pensamento científico. Daí surgiram os modelos e as 
vertentes de gênero que acomodam os discursos do conhecimento dessa época. 
Gomes (2000) procurou compreender o surgimento da Geografia científica 
na formação epistemológica da modernidade, situando o projeto de ciência 
emergente no Século das Luzes, por um lado, em que o racionalismo fez a crítica 
necessária para romper as formas de estabelecimento do conhecimento. O método 
lógico racional perseguiu sistemas explicativos, para entrever “[...] o resultado de 
uma análise dos aspectos regulares de um dado fenômeno. [...] uma ordem formal 
instrumentalizada por uma lógica coerente e geral, e de uma ordem material, que 
relaciona o modelo abstrato à realidade” (GOMES, 2000, p. 31). De outro lado, a 
modernidade estabeleceu-se também a partir de posições anti-racionalistas, para as 
quais a “[...] razão humana não é universal, ou pelo menos ela não possui sempre a 
mesma natureza, as mesmas manifestações e a mesma forma” (GOMES, 2000, p. 
32).  
Com a Renascença, houve a proposição de um novo modelo cosmológico, 
em substituição ao modelo geocêntrico aceito pela Igreja Católica, revistado a partir 
da Antiguidade Clássica, que, para a Geografia, centrou-se sobretudo na 
redescoberta de Ptolomeu e Estrabão. No modelo totalizador, a concepção 
ptolomeica deu as condições para o estabelecimento de uma cosmografia: 
 
Até o século XVIII, vários autores trabalharam de acordo com os princípios 
das cosmografias, como, por exemplo, Buache, Münster e Enciso. Vários 
problemas de base da cartografia, o cálculo das latitudes e, sobretudo, o 
das longitudes, bem como os sistemas de projeção, foram amplamente 
tratados nestes estudos. Ao mesmo tempo, os fenomenos naturais e 
sobretudo climáticos, ao fazer parte desta geografia, escapavam às 
interpretações livres, religiosas ou mágicas da tradição medieval. As 
cosmografias estão, pois, na origem da tradição que define 
simultaneamente a escolha temática e confere uma metodologia geral à 
geográfica. Estas duas preocupações faziam parte do pIano fundamental 
das cosmografias e sobreviveram na geografia científica. Foi através delas 
que a geografia considerou que era sua a tarefa de produzir imagens do 
mundo, de compreender sua organização e de decifrar sua ordem; em 
suma, de veicular uma cosmovisão. (GOMES, 2000, p. 129). 
 
Considerando Estrabão como origem, outra perspectiva se desenvolveu no 
sentido de se criar uma visão das regiões – a corografia: “o modelo de Estrabão é 
considerado como histórico-descritivo em oposição àquele de Ptolomeu, tido como 
matemático-cartográfico. Estes dois autores fundaram então duas escolas de 
Geografia, que conviveram lado a lado até a revolução científica”, de modo que 
“certos geógrafos procuraram reunir ao mesmo tempo os princípios gerais 
cosmográficos e as descrições regionais corográficas, integrando assim, em uma 
mesma obra, essas duas abordagens até aí distintas”, sendo justamente a 
construção dessa imagem do mundo que vai figurar nos tratados de Geografia do 
século XVIII ao século XIX adentro: “esta concepção é talvez a origem da 
aproximação retida pelos manuais tradicionais de geografia moderna, que fazem 
figurar em geral uma cosmografia seguida de descrições regionais” (GOMES, 2000, 
p. 130), o que sem dúvida foi o modelo dos manuais didáticos de Geografia. 
No sentido corográfico, no Brasil, a obra de Ayres de Casal foi o expoente e 
a perspectiva dominante no século XIX: serviu de modelo ao ter amplamente 
utilizada sua estrutura de regionalização do território por províncias, das quais se 
indicava, por vezes com certo contexto histórico, as principais descrições políticas e 
físicas, sofrendo apenas atualizações. Anterior ainda a Ayres, e também influente, 
há os saberes produzidos pela empresa colonial portuguesa (ISSLER, 1973), 
embora tenham sido amplamente sintetizadas por Casal. E por quase um século a 
obra de Casal referenciou direta ou indiretamente a concepção geográfica escolar, e 
também a produção geográfica como um todo, haja vista que seu modelo foi 
impregnado nas produções do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 
fundado em 1838, e reproduzido nos institutos da mesma estirpe fundados nas 
províncias (ISSLER, 1973; VLACH, 1988). 
A Geografia escolar descritiva foi rigorosamente criticada em 1882 por Rui 
Barbosa, no Parecer e projecto de reforma do ensino primario: 
 Para mostrar quão infinitamente longe estamos desses modelos, bastará 
folhear alguns dos nossos manuais elementares de geografia. Tomemos, 
por exemplo, a Pequena Geografia da Infância, composta para uso das 
escolas primárias. Depois de algumas definições geométricas, que ocupam 
as duas primeiras páginas do texto, outras definições constituem o intróito: 
definição da geografia, das linhas e círculos do globo, dos pólos, de 
horizonte, clima, latitude, longitude e estações do ano, continente, região, 
país, ilha, península, cabo, istmo, monte, montanha, serra, vulcão, mar, 
oceano, golfo, estreito, mancha, passo, lago e rio. Enfiando este rosário de 
abstrações ininteligíveis ao espírito despreparado da criança, segue-selhe 
imediatamente a tarefa de decorar o número total de quilômetros e 
habitantes em cada continente, a lista das religiões e raças humanas, com a 
sua distribuição pelas várias partes e Estados, que se pressupõem assim 
conhecidos antes de aprendidos, as fases da civilização e as formas de 
governo, rematando tudo pelo questionário de costume. Então, em vez de 
principiar pelo município, pela província ou pelo país, o curso consagra as 
suas primeiras lições à Europa, à Ásia, à África, à América (onde o discípulo 
repete simplesmente o nome da pátria, confundindo, sem uma palavra de 
distinção, entre os demais Estados) e à Oceania, para, depois, 
recomeçando, estudar a geografia particular de todos os países das cinco 
partes do mundo, e só no fim receber notícias do seu. O ensino por 
nomenclatura domina exclusivamente: salvo algumas observações frias e 
sem cor acerca do aspecto físico e indicação dos sistemas de governo, tudo 
o mais reduz-se à repartição monótona dos cultos e das famílias humanas 
por entre as diversas nações, cabendo, porém, quasi todo o espaço à 
enumeração das terras e águas. Na geografia geral a grande questão, o 
empenho quasi absoluto do curso está em gravar na memória os nomes de 
todos os países, mares, golfos, estreitos, lagos, rios, montes, ilhas, 
penínsulas, cabos: cerca de mil. Na geografia particular recrudesce a 
impertinência e a preocupação fixa, invariável, de decorar, e só decorar. [...] 
Praticado assim pelo bordão da rotina, o ensino da geografia é inútil, 
embrutecedor. Nulo como meio de cultura, incapaz mesmo de atuar 
duradoramente na memória, não faz senão oprimir, cançar e estupidificar a 
infância, em vez de eclarecê-la e educá-la (BARBOSA, 1946, p. 306-307). 
 
Em termos gerais, essa situação do ensino se estendia para o ensino 
secundário e caracteriza os livros em geral do perído imperial. Todavia, é no final 
desse perído que novas ideias pedagógicas começam a surgir, influenciando a 
prática da educação. Para a Geografia, começou-se a introduzir a cartografia como 
auxiliar do ensino, o que se fez a partir dos chamados processos intuitivos: “[...] o 
ensino pelo aspecto, como iniciação” (PROENÇA, 1928, p. 31), embora de modo 
muito esparso, e na iniciativa privada. Houve, inclusive, certo exagero, a ponto de se 
imaginar que ensinar Geografia seria ensinar cartografia. Extensivo até as primeiras 
décadas do século XX, fundamentada na Geografia descritiva, assim será o ensino 
de Geografia: 
 
Os nossos professores ainda vivem um tanto escravizados pelos 
compendios; não há trabalho systematizado de intuição directa ou indirecta; 
a cartographia, ou se desenvelve independentemente da geographia, ou 
usurpa-lhe a lugar, deixando em segundo plana aquillo que deve constituir 
propriamente o saber geographico. Eis approximadamente o nossa estado 
actual quanta ao ensino de geagraphia. (PROENÇA, 1928, p. 32). 
 
A Geografia descritiva engendrada nessa tradição apenas declinou na 
passagem para o século XX, quando houve importantes movimentações na 
concepção e conhecimento geográfico em circulação nos meios intelectuais e 
quando, particularmente no contexto escolar, houve mudanças pedagógicas nos 
métodos e objetivos do ensino. Desse período, ficou uma prática escolar da 
Geografia organizada na nomenclatura, na enumeração dos fatos geográficos, na 
descrição formal e informativa do espaço (PRADO Jr., 1945) que, apesar disso, 
construiu uma tradição, lançou bases sólidas que extrapolaram os limites da escola, 
e permitiu reações para ampliar as fronteiras da Geografia escolar, como veremos 
adiante. 
 
 
4.2.2 A bibliografia didática de Geografia no Império 
 
No ano seguinte à Independência política do Brasil, há início de fato da 
publicação de obras que principiam a construção do gênero discursivo da Geografia 
escolar. Então começava, de certa forma, a haver um afrouxamento no controle 
sobre a publicação de obras imposto pela colonização portuguesa, de modo que, em 
oficinas próprias ou mandados imprimir na Europa, começavam a surgir títulos que 
interessavam ao público e às causas nacionais. Havendo já instituições de ensino 
superior, e muitas outras surgiriam, os cursos preparatórios esboçavam uma 
demanda escolar. 
Nesses termos, a primeira obra escolar de Geografia a vir a lume foi a Breve 
introducção ao estudo de Geographia, adaptado ao uso dos mappas francezes e 
inglezes. Offerecida a S. M. o Senhor D. Pedro I, de 1823, escrita pelo padre 
Guilherme Paulo Tilbury82, radicado no Brasil, que atuava como professor dessa 
                                                 
82
 Guilherme Paulo Tilbury [Tillbury] – Nascido William Paul Tilbury, na Inglaterra, Guilherme Paulo 
Tilbury (1784-1863) converteu-se ao catolicismo e se formou padre, seguindo como missionário para 
o Rio de Janeiro, onde faleceu. Além da Breve introducção, foi autor de Breve explicação sobre a 
grammatica, também de 1823. Foi professor do Seminário São José, professor público de Língua 
matéria, inclusive como preceptor da família real. Talvez por esta ligação, a obra foi 
editada na Tipografia Nacional, antiga Impressão Régia, e provavelmente circulou no 
âmbito da atuação docente do autor, na Corte. 
No ano seguinte, outro professor dessa matéria, Bazilio Quaresma 
Torreão83, editou em Londres o Compendio de Geographia universal. Rezumido de 
diversos authores e offerecido á mocidade brazileira. Ainda em 1824, tem-se a 
primeira tradução de uma obra escolar de Geografia, por autor não identificado, as 
Noções elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de 
Paris, impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para 
instrucção da mocidade do Brasil. 
Essas obras iniciais instrumentalizavam, notadamente, o professor e o 
ensino avulso da matéria, tendo uma circulação local. 
Uma questão importante que percebo é a preocupação com uma abordagem 
regional da Geografia. A Bahia foi a primeira das províncias a apresentar uma 
preocupação com o ensino de sua territorialidade, como atestam as primeiras obras 
regionais publicadas para esse fim. A primeira delas foi uma reprodução da 
Corografia de Ayres de Casal, da qual se recortou por inteiro um de seus capítulos, 
sobre a Bahia, publicado como volume independente para o ensino em 
estabelecimentos da província, em 1826. Muito da obra de Casal é facilmente 
perceptível na outra produção regional, em Corografia, ou abreviada historia 
geographica do imperio do Brasil, coordenada, acrescentada, e dedicada á casa pia 
e collegio dos orfãos de S. Joaquim desta cidade. Para uso de seos alumnos, a fim 
de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares d’America em geral, e seo 
descobrimento; e com particular individuação do Brasil; especialmente da provincia, 
e Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos, publicada por Domingos Jose 
Antonio Rebello84 em 1829.  
                                                                                                                                                        
Francesa e Geografia, e capelão da Divisão Militar da Guarda Imperial da Polícia. Além dos livros 
didáticos, é lembrado ter lecionado língua inglesa a D. Pedro I, e ter sido preceptor das princesas D. 
Maria Teresa, D. Maria Isabel, D. Maria Francisca, D. Isabel Maria, D. Maria da Assumpção e D. Ana 
de Jesus, irmãs de D. Pedro (SILVA, 1870; SOUSA, 1972; ACCIOLI; TAUNAY, 1973). 
83
 Confira informações sobre este autor no Capítulo 6 desta tese. 
84
 Domingos José Antonio Rebello – não há precisão sobre seu nascimento e falecimento, apenas 
se sabe que nasceu em fins do século XVIII. Foi comerciante, atuando na Bahia como diretor da 
Companhia de Seguros Commercio Marítimo; a Corografia é sua única obra (BLAKE, 1893). 
Uma característica comum a muitas obras do período era ser escrita para 
um consumo local ou para um público restrito, como acontece com a obra de 
Rebello, dedicada á casa pia e collegio dos orfãos de S. Joaquim da cidade de 
Salvador, os Elementos de Geographia de Santa Gertudres (1840), escrito para as 
escolas primárias do Rio de Janeiro, o Dialogo geographico de Brandão (1850) 
escrito para as alunas do Colégio de São João, situado na cidade de São Cristovão 
(RJ), ou as Noções e depois Compendio de Geographia, de Albuquerque (1856; 
1880) para uso na Província de Pernambuco. Talvez por essa razão, por ser uma 
produção de consumo local, portanto fora de uma estratégia comercial integrada, se 
tenha reclamado tanto da insuficiência de materiais geográficos para o ensino. 
Entre as décadas de 1830 e 1850, os autores que mais se destacaram, pelo 
menos quanto à aceitação, adoção e reedições, foram Thomaz Pompeu de Souza 
Brasil (pai), Abbade Gaultier, João Henrique Freese e Luis Antonio Burgain. Destes, 
possivelmente o mais influente tenha sido Pompeu Brasil, seguido de Gaultier. 
Nesses anos, se terá um aumento progressivo do conjunto de obras e um lento 
amadurecimento dessa produção. Uma visão panorâmica do período curiosamente 
revela um predomínio de Geografias gerais contra compêndios corográficos: é o 
caso de Lima (1830), Lisboa (1830), Beaurepaire (1835), Um Official General do 
Exercito (1835), Oliveira (1836), Poelitz (1839), Resumo de História Universal para 
uso da aula d’História e Geographia... (1839), Souza (1845), Brasil (1851), Abbade 
Gaultier (1855), dentre outros, opondo-se aos trabalhos corográficos de Brandão 
(184-), Bellegarde (1840), Freese (1842) e outros, embora as Geografias gerais, 
evidentemente, destaquem bem o Brasil. Isso porque as primeiras produções de 
manuais de Geografia destinam-se precipuamente para o ensino secundário, que 
tem, com o ensino superior, alguma atenção do Estado. Portanto, é maior a 
produção para o ensino secundário se comparada à produção para o ensino 
primário. 
Apenas em 1836 surgiram os primeiros livros produzidos diretamente para o 
ensino primário, com o Compendio de Geographia elementar. Para uso das escolas 
brazileiras, de Pereira, no Rio de Janeiro e, em Recife, o Compendio de Geographia 
para uso das aulas de primeiras letras, de autor não identificado. Na década 
seguinte vieram outros, como o de Santa Gertrudes (1840) e Cavalcanti (1846). É a 
esse tempo que o ensino primário começa a desprender-se da alfabetização e 
primeiras instruções gerais e passa a ser organizado como um preparatório para o 
ensino secundário e para uma formação elementar85. Na bibliografia ainda é 
perceptível a forte influência das aulas avulsas (que poderiam ser ministradas nas 
instituições públicas e privadas, sob regência, bem como por estudos individuais); 
nessas circunstâncias, identifica-se uma obra como a de Souza (1845), Nocções 
elementares de Geographia astronomica, physica e politica, redigidas segundo um 
novo plano methodico, theorico e pratico, e adaptadas para servir de compendio nas 
academias, lyceos, etc., como para ministrar os rudimentos de Geographia 
propriamente dita, sem auxilio e dependência de professor, cujo título por si só é 
esclarecedor quanto à forma de aprendizado geográfico. Afinal, o que importava 
eram os exames de admissão, seja no secundário, seja no ensino superior. 
Na década de 1830, situação permanente por muitos decênios ainda, livros 
configuram a irmandade entre Geografia e História – uma característica geral dessas 
disciplinas, a princípio. Traduzida e adaptada por Julio Frank86, em 1839 publicou-se 
o Resumo da História Universal para uso da aula de Historia e Geographia, de H. L. 
Poelitz87, e, sem autoria declarada, Resumo da História Universal para uso da aula 
de h’Historia e Geographia.  
A história do livro de Julio Frank é esclarecedora do processo de emergência 
e produção de muitos manuais nessas décadas iniciais. A obra nasceu das 
anotações feitas para as aulas que ministrava nos preparatórios do Curso Anexo à 
Faculdade de Direito de São Paulo. Essas anotações eram feitas a partir da leitura e 
estudo de um original alemão, de autoria de H. L. Poelitz. Com as devidas licenças 
governamentais, publicou o volume em 1839, mas, à exceção de outros autores 
contemporâneos, não assumiu a autoria do livro, apenas situando-se nele como 
adaptador: 
 
                                                 
85
 O livro Noções elementares de Geographia, compiladas para uso das escolas primarias, de Zaluar, 
a esse propósito, “é escripto de accôrdo com os pontos de Geographia, que são hoje preparatório 
para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro II” (ZALUAR, 1880). 
86
 Julio Frank – nasceu na Alemanha, em Gotha, em 08 de dezembro de 1808 e faleceu em São 
Paulo em 19 de junho de 1841. Foi professor de História e Geografia nos preparatórios do Curso 
Anexo da Academia de Direito, de 1834 até o ano do seu falecimento. Após chegar ao Brasil, fugindo 
de problemas financeiros em seu país, trabalha no comércio e ministra aulas particulares para 
estudantes que prestariam exames na Academia de Direito de são Paulo (SCHMIDT, s/d; MÜLLER, 
1978; SERQUEIRA, 1841). 
87
 H. L. Poelitz – historiador e geógrafo alemão. 
Quando não fazia visitas aos amigos das outras “repúblicas” nem estendia o 
passeio ao Chico Ilhéu, passava as horas sem sono a escrever lições de 
História que, no dia seguinte, durante as aulas, repetia aos alunos. Assim, 
dentro de pouco, quase sem dar por isso, já havia acumulado matéria para 
um compêndio. Então, lembrando-se talvez do tempo do Goettingue, teve 
idéia de publicá-lo. Com esse intuito dirigiu-se em 1837 ao governo, 
explicando, na petição, que o fazia para remediar a carência de livros sobre 
a matéria, com que lutavam os estudantes. O primeiro volume do 
compêndio foi enfim publicado e trazia na capa os seguintes dizeres: 
“Resumo de História Universal — Para uso da Aula de História e Geografia 
da Academia de Ciências Jurídicas e Sociais desta Cidade de S. Paulo — 
Vol. I — Contendo a História Antiga e da Idade Média — Impresso na 
Tipografia de M. F. Costa Silveira — Rua S. Gonçalo n. 14 — S. Paulo — 
1839”. As lições contidas nesse volume eram adaptadas do historiador 
alemão H. L. Poelitz, por isso nele não figurava o nome de Júlio Frank, que 
era de inacreditável modéstia (SCHMIDT, s/d, p. 40). 
 
Na época, eram comuns livros de conhecimentos destinados ao público em 
geral, sem visar propriamente a uma clientela escolar, porém sem necessariamente 
excluí-la, os quais eram denominados “catecismos”: como estes, identifiquei dois 
para a Geografia – Novo Cathecismo geográfico brasileiro. Offerecido aos senhores 
pais de família, e professores de ambos os sexos, de Gouvêa (1832) e Cathecismo 
de Geographia, de Muller (1835). Surgem em um momento em que a Geografia, de 
certa forma, põe-se socialmente em evidência. 
Nos anos 1840, surgiram algumas obras que mereceram reedições 
posteriores, embora estas fossem com espaçamento às vezes superior a uma 
década. É o caso de Antonio Pinto da Costa de Souza Brandão88 (184-; 1852) e 
João Henrique Freese89 (1842, 1868 e 187190). 
Na década seguinte, nos anos 1850, surge um autor emblemático desse 
período, Thomaz Pompeu de Souza Brasil, que publicou Elementos de Geographia. 
Offerecidos à mocidade cearense, em 1851. Surgiu como uma obra regional, mas 
que a partir da segunda edição, de 1856, passou a ser adotado no Colégio Pedro II 
e em outros liceus do país. Sua última edição foi de 1869. O Compendio Elementar 
de Geographia Geral e Especial do Brasil, primeiro título da obra, foi escrito no 
contexto das atividades docentes do autor, que era lente de Geografia no Liceu do 
                                                 
88
 Antonio Pinto da Costa de Souza Brandão – autor desconhecido. 
89
 João Henrique Freese – cidadão inglês estabelecido no Brasil, foi negociante e educador, sendo 
proprietário de um Instituto Colegial em Nova Friburgo (RJ). É lembrado por ter obtido do Império 
concessões para abrir uma estrada de ligação entre Nova Friburgo, Cantagalo e Macaé (MORAIS, 
2010). 
90
 Há ainda outra edição cujo ano não consegui identificar. 
Ceará. Esse comportamento foi típico entre os sujeitos autores da bibliografia, que 
organizavam e editavam livros a partir de suas anotações e planejamento de aula. 
As duas primeiras edições do Compendio de Brasil foram organizados pelo 
método dialogístico, também conhecido como método Gaultier. O Abbade Gaultier, 
traduzido por portugueses, foi muito influente em ambos os lados do oceano. No 
Brasil, chegou em 1838 e permaneceu reeditado até a década de 1870. A obra de 
Estácio de Sá Menezes também foi organizada por esse método, e muitas outras. 
De acordo com esse método, as obras estruturavam-se em lições, não capítulos, os 
quais eram sequenciados por perguntas e respostas – um diálogo, automático, entre 
mestres e alunos. 
Intelectualmente, Thomaz Pompeu de Souza Brasil situava-se em um 
ecletismo cuja “[...] alquimia de idéias, até certo ponto antagônicas, ocorria pela 
hibridação da teologia católica com elementos de uma educação estética fundada no 
romantismo e conhecimentos voltados para uma ação eminentemente pragmática, 
típica do liberalismo” (SOUZA NETO, 1997, p. 24). Talvez por isso alguns aspectos 
da obra tenham escandalizado Issler (1973), quando, fazendo a primeira revisão 
crítica desse livro, deparou-se, a partir de um olhar da Geografia científica, com 
fragmentos tais como esse: 
 
A Ásia é o paiz das fábulas, dos sonhos e das imaginações phantásticas; se 
o judaísmo e o cristianismo nascerão alli, em compensação que cousas 
extravagantes e absurdas não foram inventadas como religião por todos os 
povos asiáticos? As crenças mais espalhadas são: o Boudhismo, o 
Brahmanismo, o Islamismo, o Christianismo, o Judaismo, a dos Espiritos, de 
Confucio, dos Magos, de Sintó, etc. (BRASIL, 1864, p. 196). 
 
Como exemplo da descontextualização com que a maior parte da bibliografia 
didática antiga de Geografia tem sido tratada, e que vale a pena abordar aqui, pois 
há certa unidade na forma expressional e na organização dos conteúdos desse 
período, Issler (1973, p. 43), após elencar algumas distorções de conteúdos e 
sequências discursivas, assim conclui sobre os Elementos de Pompeu: 
 
É o retorno à literatura fantástica medieval, com o sabor das aventuras de 
Marco polo. O autor, de imaginação fértil e desinibida, estava oferecendo 
como Geografia, um produto que, já em sua época, era inacreditável: os 
exageros e disparetes apresentados na obra não são encontrados nem 
mesmo nos mais exagerados cronistas de alguns séculos antes. 
 Se compreendido a partir da perspectiva da Geografia moderna científica, é 
isso mesmo. Todavia, se recolocado em seu contexto, a análise enriquece e 
aproxima-se uma compreensão mais adequada. Pois se deve considerar o sujeito 
dessa enunciação: religioso, padre, enunciando de um contexto no qual o 
catolicismo era religião de Estado, e a única aceita. E a grande força intelectual ativa 
no Brasil desse período é o Romantismo, ágil em idealizar lugares e situações. É o 
encontro da “teologia católica” com a “educação estética” como lembra Souza Neto 
(1997). 
Em seu juízo crítico, Issler prossegue identificando a utilização de Ayres de 
Casal como modelo na parte referente ao Brasil, e o método de produção: 
transcrições com algumas alterações. Corrigido, alterado pelas contigências, pouco 
criticado, será Ayres de Casal a grande referência para a contrução de uma imagem 
do país, na maioria das abordagens sobre o Brasil. 
Nos anos 1860, editado duas vezes nessa década e em outros anos até 
1902, temos em destaque as Lições elementares de Geographia, segundo o 
methode Gaultier, de Estácio de Sá Menezes (pseudônimo de Joaquim Caetano 
Fernandes Pinheiro), e, além dele, Pedro José de Abreu, adotado no Colégio Pedro 
II e, regionalmente, Eudoro Brazileiro Berlink, cujo compêndio, versando sobre o Rio 
Grande do Sul, terá uma boa aceitação naquela província. Em 1863, o Barão de 
Macahubas (Abílio Cezar Borges), um dos mais destacados educares dos 
oitocentos, publicou um volume de Geografia; tratou-se de uma publicação restrita a 
uma instituição baiana, e com um recorte temático, a Geografia Física, pelo que não 
teve a repercussão de outros, para outras disciplinas, que escreveu, amplamente 
aceitas. 
Nos anos 1870, já no fim de sua vida, surgem os livros de Joaquim Maria de 
Lacerda, sem dúvida o maior fenômeno da bibliografia didática de Geografia no 
século XIX, cujas obras somente foram depostas no século seguinte. Já é notável, 
nessa década, a presença de editoras comerciais, sendo a maioria editada no Rio 
de Janeiro. 
Os anos 1880 marcam o auge da produção bibliográfica da Geografia 
escolar no século XIX: 44 títulos são publicados. Destacam-se Frere Ignace Chaput 
(F.I.C.), traduzido do francês, Alfredo Moreira Pinto e Raul Villa-Lobos. 
4.2.3 A formação do currículo escolar de Geografia no Império 
 
Nos anos iniciais da bibliografia não havia proposição curricular, como se 
teria após o estabelecimento do Colégio Pedro II, em fins da década de 1830, como 
se teve na fundação da Real Academia Militar, em 1810. Da história dos currículos, 
tem-se a institucionalização, frequentemente, como regra normatizadora dos 
conteúdos. No entanto, pode-se tomar a obra de Bazilio Quaresma Torreão91, 
Compendio de Geographia Universal..., se não como a primeira proposta curricular 
realizada, como uma das mais completas desse tempo, para o ensino de base. Veja-
se no Quadro 14 a plataforma descritiva do currículo executado por este autor. 
Em uma versão mais enxuta, essa é a estrutura, e forma de abordagem do 
universo geográfico presente em Pinkerton (1804a; 1804b). Tomando para exemplo 
a abordagem sobre o clima em Portugal, desconsiderando-se as descrições 
técnicas, vemos a seguinte enunciação neste autor (1804a, p. 432): “Climate and 
seasons. The climate of Portugal is familiarly known to be most excellent and 
salutary [...]”; na versão francesa: “Climat et saisons. Tout le monde sait que le climat 
du Portugal est singulièrement salubre” (PINKERTON, 1806, p. 274); em Torreão 
(1824, p. 62): “Portugal, que antigamente se chamava Luzitânia92, he hum dos 
Paizes da Europa o mais execellente, e o mais proprio para satisfazer as precisões e 
comodidades da vida; pela temperatura, e salubridade do seu ar [...]”. 
Em uma formação discursiva mais ampla, a dos tratados geográficos, e 
também no discurso didático de ampla aceitação na época, como o francês, 
desenvolve-se, sobre o clima de Portugal, a ideia da salubridade (pois dessa forma o 
clima, de acordo com suas características, era descrito e avaliado) como fato 
“familiary known to be most”/“tout le mond sait” que, na enunciação de Torreão 
                                                 
91
 Bazilio Quaresma Torreão – nasceu na província de Pernambuco, em Olinda, em fins do século 
XVIII e faleceu em 1867, no Rio de Janeiro. Foi político brasileiro, presidente da Província da Paraíba. 
Também atuou como professor de Geografia e História, sendo relatado possuir grande erudição 
nessas matérias. Integrou os rebeldes de 1817, que queriam a independência da província de 
Pernambuco. Enquanto preso, na Bahia, em companhia do Frei Caneca, lecionou três cursos de 
Geografia e escreveu seu compendio, o segundo no Brasil, bem recebido pela crítica da época, e 
editado em Londres, para onde se exilou por participar de outra rebelião em 1824. No exílio, residiu 
em outros países europeus, além da Inglaterra. Quando retornou, na década seguinte, presidiu a 
província do Rio Grande do Norte (1833-1836) e a da Paraíba (1836-1838). Enquanto presidente do 
Rio Grande do Norte, fundou o Atheneu Norte-Riograndense, em 1834. Após 1838, atuou como 
deputado do Império, no Rio de Janeiro – (BLAKE, 1883; BOLIGIAN, 2010). 
92
 Em Pinkerton igualmente há considerações sobre os nomes antigos de Portugal. 
assume uma forma direta (verbo conjugado sem nenhuma condicional modal, e 
dispensando o reconhecimento do senso comum), sobrepondo a qualquer outro 
europeu como “o mais excellente, e o mais próprio”, concretizando um forte efeito de 
sentido sobre sua salubridade, sobretudo porque a “singularidade”, como efeito no 
discurso francês, e a determinação “to be most” no discurso didático brasileiro se 
diferencia pela determinação do artigo “a”, que atribui à sequência discursiva uma 
exclusividade que não tem nas outras enunciações. É um momento, o da produção 
dessa obra, em que os vínculos entre Brasil e Portugal são, sem dúvida, ainda muito 
importantes. Sobretudo, trata-se de um diferencial que alça Portugal – origem 
etnográfica importante para o povo brasileiro – por sobre todos os outros países de 
clima temperado quanto a esse critério. 
 
QUADRO 14 – Organização curricular da obra Compendio de Geographia Universal, 
rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira, de Bazilio Quaresma 
Torreão, 1824. 
Conteúdos 
GEOGRAFIA ASTRONÔMICA 
Dos céos, dos Astros, e do Systema de Copernico; Das differentes posições da Esféra; Das 
dimensões do Glôbo Terrestre; Do uso do Glôbo; Achar a Latitude dos Lugares; Achar a 
Longitude dos Lugares; Achar a distancia de dois lugares no Glôbo; Achar que horas são em 
hum lugar, quando he Meio dia em outro; Achar a hora em que o Sól nasce, e se põem em 
qualquer lugar da Terra; Achar os Pericioanos; Achar os Antecianos; Achar os Antipodas. 
GEOGRAFIA FIZICA, E POLÍTICA 
Definições de differentes porções de Terra, e de Mar; Religião; Governo 
EUROPA - Golpe de vista; Situação, Limites, Extensão, e População; Mares, e Gôlfos; Rios e 
Canaes; Montanhas, e Volcões; Cabos e Estreitos; Lagos; Ilhas, Peninsulas, e Isthmos; 
Divisão Geral da Europa 
Portugal – situação, e limites; Clima, e Caracter dos Habitantes; Governo, Religião, e 
População; Divisão Geral; Topographia 
Hespanha - ....; França - ...; Alemanha, Confederação Germanica - ...; Imperio D’Austria - ...; 
Italia - ...; Suiça - ...; Paizes Baixos - ...; Ilhas Britanicas - ...; Denamarca - ...; Suecia - ...; 
Russia - ...; Prussia - ...; Imperio Turco - ...; Ilhas da Europa - ... 
AZIA - ... 
Russia d’Azia -...; Imperio da China - ...; Imperio do Japam - ...;India - ...; Persia - ...; Arabia - 
...; Turquia Aziatica - ...; Ilhas d’Azia - ... 
AFRICA - ... 
Africa do Norte - ...; África a Léste - ...; Africa ao Sul - ...; Africa ao Oeste; Africa ao Centro - ...; 
Ilhas d’Africa - ... 
AMERICA SEPTENTRIONAL - ...; Groelanda - ...; Nova Bretanha - ...; Canada - ...; Nova 
Escossia - ...; Costa do Noroeste - ...; Estados Unidos - ... (acresce uma “idea histórica” e 
descrição de todos os estados); Florida - ...; Mexico - ...; Campo do Asilo - ...; Ilhas da America 
Septentrional - ...; America Meridional - ...; Novo Reino de Granada - ...; Peru - ...; La Plata - 
...; Antigo Chile - ...; Patagões - ...; Guyena - ...; Paiz da Amazonas - ...; Brazil – ...; para cada 
província, descreve: situação, extensão, limites, uma idéia histórica; clima, terreno, producção, 
e commércio; habitantes, governo, religião, população; divisão geral; topographia; aspecto do 
paiz [sic]; rios, ilhas, lagôas; producções e commércio; governo e subdivisão; Ilhas da America 
Meridional - ... 
Fonte: Torreão (1824). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2012. 
 Já então se tinha o pensamento, que seria acentuado quando do 
determinismo geográfico, em fins do século XIX, sobre as vantagens e desvantagens 
do clima como fator geográfico formador da índole de um povo (MACHADO, 2000). 
O que faz muito sentido quando Torreão enquadra na mesma entrada o clima e o 
Caracte r dos Habitantes; exposto o clima, afirma: “os Portuguezes, em geral, 
são polidos. Generosos, sóbrios, e melancólicos; e ainda que amão a ostentação, 
são bravos, e dados ás Artes” (1824, p. 63). 
Essa construção se prolonga por outras obras em muitas das décadas 
seguintes, ou simplesmente desaparece. Na obra de Brasil (1864, p. 158), o autor 
considera que, sobre Portugal, “[...] o clima é benigno, temperado e saudavel"; na 
sétima edição do Curso Methodico de Geogaphia, Lacerda (1898, p. 171) afirma: “O 
clima de Portugal é temperado e saudável, excepto em alguns sítios pantanosos”; 
Novaes (1929, p. 322), após caracterizar o clima português, conclui: “em geral o 
clima é são”; ao passo que nenhuma consideração sobre o clima de Portugal pode 
ser encontrada em Scrosoppi (1915) e Lobo (1927). Está em Torreão uma aceitação 
teórico-ideológica que se reproduz até as primeiras décadas do século XX, a 
despeito dos avanços sobre a questão do clima que descartaram essa noção 
valorativa. Um sentido que, desentranhado de suas origens, se reproduz, se altera, 
se preserva e desaparece, mas somente após uma longa permanência, e após o 
surgimento de outros contextos históricos. 
Essas permanências são constantes, e algumas, inclusive, atuais. É notável, 
a esse propósito, que já na fundação de um discurso didático brasileiro de Geografia 
operavam certos indicadores de valores que, passados diversos movimentos e 
feições geográficas e do ensino geográfico, constatei na análise desse discurso na 
contemporaneidade, em minha dissertação de mestrado. Naquela ocasião, analisei 
dois capítulos de um corpus didático, um denominado “África” e outro “Estados 
Unidos, a superpotência mundial”: percebi neles, sobre o estabelecimento do espaço 
discursivo, um capítulo dado a um continente em sua totalidade e um outro para um 
único país. A distinção não se limitava a esse aspecto formal, pois já nos títulos se 
percebia um silenciamento no capítulo africano (um único lexema, “África”) e uma 
projeção qualitativa no título do capítulo americano, seguindo no fio do discurso 
efeitos de sentidos contraditórios e mesmo preconceituosos, negativando a África e 
positivando os Estados Unidos (SILVA, 2006). De qualquer forma, ali, o valor político 
da contemporaneidade definia a forma de construir estas regionalidades, 
notadamente o espaço discursivo a elas delimitado. Na organização discursiva de 
Torreão nota-se já o mesmo padrão de abordagem regional, com destaque para os 
países considerados importantes e aglutinação de outros, não tão considerados, em 
blocos regionais. Em específico sobre o Brasil, Torreão de fato fez uma síntese, 
bastante acentuada, da única fonte que declara, a obra de Ayres de Casal. 
Publicando sua obra em 1817, Casal aborda 21 províncias, ao passo que Torreão 
discorre sobre 15. Para cada uma delas, como demonstrado no Quadro 14, 
descreve situação, extensão, limites, uma idéia histórica; clima, terreno, producção, 
e commércio; habitantes, governo, religião, população; divisão geral; topographia; 
aspecto do paiz [sic]; rios, ilhas, lagôas; producções e commércio; governo e 
subdivisão. Resume, praticamente, os principais fatos históricos, a onomástica e as 
principais características físicas, naturais e políticas dessas regiões. 
A estrutura da obra de Ayres de Casal (1817a; 1817b) lançou as bases do 
currículo corográfico sobre o Brasil, assim como Pinkerton e de La Croix, 
introduzidos no ensino de Geografia da Real Academia Militar, e possivelmente 
outros autores, como os geógrafos italiano Adrien Balbi (1782-1848) e o geógrafo 
alemão Conrad Malte-Brun (1755-1826), geógrafos muito populares na Europa e no 
Brasil (presentes nas principais bibliotecas do país) estabelecerem as bases de uma 
Geografia geral para o ensino dessa disciplina. 
O modelo de Casal é levado ainda mais a termo na obra de Rabello (1829), 
conforme se pode ver no Quadro 15. Esta obra pode ser considerada como a 
primeira produção didática de Geografia de fato com enfoque regional, seguindo-se 
outras, nas décadas seguintes. Apesar de o título propor uma descrição corográfica 
do Brasil, a obra restringe-se à província da Bahia, ficando o Brasil como um leve 
contexto: da forma como os trabalhos corográficos abordavam as províncias, 
Rebello abordou as comarcas da Bahia. Muito próxima à forma de abordagem 
casaliana, dá notícias históricas sobre a formação territorial, evidencia localizações e 
com detalhes aborda as plantas e animais de cada território – um conteúdo que terá 
considerável declínio nos manuais de Geografia à medida que as ciências 
consolidam um lugar na escola como disciplina escolar, apenas sendo retomado 
mais tarde, por influência da Geografia moderna científica. 
QUADRO 15 – Organização curricular da obra Corografia, ou abreviada historia 
geographica do imperio do Brasil..., de Domingos Jose Antonio Rebello, 1829. 
Conteúdos 
Descobrimento da America em Outubro de 1842 por Christovam Colombo, 
Piloto Genovez: derivando-se o nome – America – de Americo Vespucio, Piloto 
Florentino, também celebre nesta descoberta. 
Descobrimento do Brasil. 
Idéa geral dos Indigenas habitantes do Brasil. 
Notícia dos Indigenas habitantes da Bahia de Todos os Santos, antes do seo 
descobrimento. 
Naufragio de Diogo Alves Correia na Bahia em 1510; e o mais notável até a 
chegada em 1547 de Francisco Pereira Coutinho á mesma. 
Situação, Extensão, e Limites do Brasil. Serranías, Cabos, Bahias, ou Portos 
principaes, Ilhas, Rio, Clima, Terreno, Producção, Commercio. Lagôas mais 
notaveis em diversas Provincias. Mineralogia, Fythologia, Zoologia. Reptis. 
Anphibios. Aves. Insectos. Arvores. Resinas uteis. Fructas. Plantas medicináes. 
Raizes. Hortaliças e legumes. Balsamos, alguns medicinaes. Especiarias. 
Flores, e plantas de cheiros. 
Historia em resumo, e Epochas mais notáveis do Brasil desde o seo 
descobrimento até o presente, e especialmente as desta Cidade de S. Salvador 
Bahia de Todos os Santos. 
Habitantes, Governo, religião, e População, conforme o Estado actual do 
Império do Brasil; suas capitaes, Cidades, e Comarcas respectivas com as suas 
Villas. 
Provincia da Bahia em geral. Aspecto do paiz. Rios, e Lagos. Montanhas. 
Mineralogia. Fithologia. Zoologia. Estação. Commercio. Governo, e subdivisão 
da Província nas sus quatro Comarcas. Comarca da bahia com 17 Villas. 
Comarca da Bahia. Portos. Peixes. Mariscos. Ilhas. Rios. Rios nos Suburbos da 
Cidade. Época da Fundação da Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os 
Santos em 1549; primeira Cidade do Brasil; Capital, e primeira Comarca desta 
província; seos Estabelecimentos; Governos assim Civil, como Eclesiastico; seo 
estado actual. 
Freguezias do lado Occidental da Costa da Enseada da Bahia. Freguezias na 
contra-costa da parte do Norte. Villas, Julgados, Arraiáes, e Freguezias 
pertencentes á Cidade. Villas, e Freguezias do Recôncavo da Cidade. Comarca 
de Porto Seguro, conhecida também por Vera Cruz, por ser o primeiro nome 
que teve dado pelo Navegante Pedro Álvares Cabral em allusão ao dia 3 de 
Maio, invenção da Santa Cruz, e por isso o Brasil todo tomou o nome de Terra 
de Santa Cruz. Montes, Rios, Lagos, e Portos. Mineralogtia. Zoologia. 
Fythologia. Comarca de Porto Seguro com 9 Villas. Comarca de São Jorge dos 
Ilhéos. Montes. Rios, e Lagos. Portos, e Ilhas. Mineralogia. Fithologia. Zoologia. 
Comarca de S. Jorge dos Ilhéos com 10 Villas. Comarca de Jacobina. Montes. 
Rios. Mineralogia. Fythologia. Zoologia. Comarca de Jacobina com seis Villas. 
Comarca da Cidade. Comarca de Porto Seguro. Comarca de Ilhéos. Resumo 
das particularidades da Província da Bahia. 
Fonte: Rebello (1829). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
O manual é emblemático de um momento em que o discurso didático de 
Geografia tateia no escuro: sua organização não tem referências ou orientações 
claras. Assim, os conteúdos sofrem diversas ordens de instabilidade, tais como 
repetição de temas, ausência de um sequenciamento lógico e outras. Em um sentido 
mais restrito, próprio ao zelo e cuidados expressivos de um autor, o que demonstra 
muito do improviso e do amadorismo dessas produções, a obra de Rabello, que era 
comerciante, aponta incoerências tais como intitular uma seção por Montes, Rios, 
Lagos (os subtítulos internos da bibliografia didática são praticamente idênticos – 
quase constituindo uma fórmula), mesmo que na localidade abordada não se faça 
menção a nenhum lago, por não tê-los. 
Na década de 1850, o Colégio Pedro II apresentava o currículo descrito no 
Quadro 16, que se orienta metodologicamente do sentido geral para o particular, dos 
continentes, para o Brasil, direcionado às séries da sua estrutura de ensino. No 
último ano, encerra os estudos geográficos com uma abordagem cosmográfica e 
geográfica antiga. De acordo com Issler (1973, p. 41), essa cadeira “[...] cumpria um 
programa de geografia histórica com evidentes intenções de erudição, retornando ao 
mundo mediterrâneo que, certamente, atenderia aos interesses dos estudos 
clássicos, de filosofia e religião nas outras matérias”. 
 
QUADRO 16 – Plataforma curricular do Colégio Pedro II em 1850 – ensino secundário. 
Ano Disciplina Conteúdos 
2º ano Geografia 
Os cinco continentes estudados nos seus 
aspectos físico-descritivos, tais como: 
limites, países, mares, golfos, estreitos, 
rios, etc. 
3º ano Geografia 
África e Oceania, destacando além dos 
aspectos físicos, países, populações, 
raças, religiões, governos etc. 
4º ano Geografia Ásia – o mesmo tratamento 
5º ano Geografia 
Europa – o mesmo tratamento, mas com 
destaque às cidades principais dos vários 
países. 
6º ano Geografia 
América e Brasil – América em geral, 
aspectos físicos, descoberta e Brasil em 
geral e estudo de cada província. 
7º ano 
Cosmografia 
Geografia Antiga 
Duas cadeiras, uma de Cosmografia e 
Cronologia, mistura de elementos de 
astronomia, geografia, física, climas e 
astrologia e outra de Geografia Antiga, 
um estudo geográfico da divisão do 
mundo antigo, Ásia Menor e mundo 
Mediterrâneo. 
   
Fonte: Isller (1973, p. 39-40). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
No aspecto geral, há poucas alterações significativas no currículo 
estabelecido ao longo das primeiras décadas do Colégio Pedro II. Os conteúdos 
obedecem à divisão quantitativa por séries e à distribuição destas pelos anos 
escolares, permanecendo sempre uma abordagem da Geografia Política, da 
Geografia Física e da Cosmografia. 
Na prática desse currículo, que considera a concepção de uma descrição do 
mundo, tem-se objetivamente a elaboração de uma espécie de mapa mental, a ser 
construído de fatos, dados e descrições de superfície, por sua vez a serem somados 
pelo estudante por meio da memorização. 
Trata-se, assim, em primeiro lugar, de delinear os contornos físicos, para 
neles pontilhar, ou dar a saber, sem localização precisa (pois nos manuais 
oitocentistas os mapas são pouco frequentes e quando os há são bem gerais, em 
escala muito reduzidas), os principais acidentes, os mais importantes, como as 
terras, os oceanos, os mares e rios, as montanhas e o que mais aprouver para para 
uma descrição física. O objetivo é que o estudante estime, em sua mente, uma 
organização das formas do planeta, sua diferenciação e suas unidades constitutivas. 
Em segundo plano, vem o mesmo trabalho e expressão, agora condizente 
às obras humanas: as cidades mais importantes, com descrições ligeiras, tais como 
anotação dos edifícios mais importantes ou instituições representativas nelas 
situadas, das principais atividades rurais e industriais, das entidades políticas 
assentadas nesses territórios. 
Isto posto em nível global, o próximo passo era fazê-lo por continentes, 
adentrando os principais países com a mesma abordagem. O mesmo se faria com o 
território nacional, apresentando um contexto histórico, desenhando os contornos 
políticos e físicos, para então entalhar as províncias – única regionalização praticada 
em todo o oitocentos e nas primeiras décadas do século XX. 
Em terceiro plano, em ordem variável (pois às vezes precedia ou sucedia a 
descrição geral), vinha a Cosmografia, para descrever os astros, os planetas e 
cometas, apresentar o sistema solar, os movimentos do planeta Terra e o 
estabeleciemento das estações, as dimensões da terra, as longitudes e latitudes, as 
zonas climáticas e outras ordens nesse sentido. Para atender aos estudos clássicos, 
a disciplina Geografia e seu currículo estabelecia uma abordagem do mundo Antigo, 
circunscrito à Ásia menor e aos países mediterrâneos, com o mesmo movimento 
descritivo. 
Este era o conjunto de conteúdos e sua expressão presente nos manuais de 
Geografia, em todo o período imperial, com pouca variação. Compare-se o currículo 
exercido em duas edições da obra de Pompeu Brasil (Quadro 17). 
O manual de Pompeu tem o mesmo comportamento das demais produções 
da segunda metade do séclo XIX. Divide-se em Cosmografia, Geografia Física e 
Geografia Política, para as quais descreve os elementos e fatos essenciais. Essa 
essencialidade, evidentemente, é imbricada pela visão do sujeito autor ou das 
instâncias sociais que representa e que justamente o constitui como sujeito, isto é, 
eurocêntrica, burguesa, católica. Não se trata de uma enumeração isenta e neutra. 
A variação de uma edição para outra implica uma atualização geográfica e a 
ampliação da descrição. Na quarta edição, por exemplo, Brasil inclui a Oceania, não 
presente nas edições anteriores, e países também não abordados anteriormente. 
O mesmo se verifica da edição de um autor para a produção de um novo 
autor. Procede-se, nesse sentido, ao que observou Chervel (1990, p. 209), citado 
anteriormente: 
 
Todos os manuais ou quase todos dizem então a mesma coisa, ou quase 
isso. Os conceitos ensinados, a terminologia adotada, a coleção de rubricas 
e capítulos, a organização do corpus de conhecimentos, mesmo os 
exemplos utilizados ou os tipos de exercícios praticados são idênticos, com 
variações aproximadas. São apenas essas variações, aliás, que podem 
justificar a publicação de novos manuais e, de qualquer modo, não 
apresentam mais do que desvios mínimos: o problema do plágio é uma das 
constantes da edição escolar. 
 
A Geografia escolar descritiva parece estruturar-se em um traço cartográfico 
como objetivo do seu modo de ser, a fazer uma imagem, seletiva, clivada 
ideologicamente, dada por fatos e nomenclatura. Seu ponto de partida foi a 
Geografia clássica que antecedeu à fase científica, sendo tal qual ela de natureza 
quantitativa e onomástica: 
QUADRO 17 – Plataforma curricular executada na segunda e quarta edições de Pompeu Brasil. 
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Conteúdos (2. ed.) 
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Conteúdos (4. ed.) 
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Dos Astros em geral. Dos Planetas. Da Esphera. Do 
Zodiaco e Estações. Da Terra. Das longitude e 
latitudes. Das Zonas, sombras, climas. Da lua e 
fases.  
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Principios geraes de geographia astronômica. Astros errantes. Planetas e 
Cometas. Systema solar, movimento diurno e annual da terra e das estações. 
Da esphera, circulo, linhas e pontos. Zodiaco, precessão do equinocios e 
posição da esphera. Da terra, sua figura e dimensões. Das longitudes e 
latitudes. Dos habitantes da terra em relação ás suas zonas e sombras; aos 
seus climas e a longitude e latitude. Da lua, suas phases e eclipses.  
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 Physica - parte liquida. Atmosphera e Meteorologia. 
Geographia applicada. Europa Physica. Azia Physica. 
Africa Physica. America Physica. Oceania Physica. 
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Descripção physica da terra. Parte liquida do globo. Atmosphera e 
meteorologia. O grande continente, divisão do mundo e os oceanos. Da 
sociedade civil, fórmas de governo, leis e industria. Da religião e dos diversos 
cultos do mundo. Das raças, linguas, e população do mundo.  
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Europa Politica. Suecia e Norwega. Dinamarca. 
Russia. Inglaterra. Prússia. Hollanda e Bélgica. 
Allemanha. Áustria. Suissa. França. Portugal e 
Hespanha. Turquia. Grecia e Ilhas Jônicas. Itália.  
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Europa – Geographia Geral. Descripção physica. Descripção política. 
Geographia Particular. Da Europa Septentrional e oriental – Rússia. Da 
Europa Septentrional – Reino Noruego-Sueco. Da Europa Septentrional - Da 
Dinamarca. Da Europa Septentrional – Inglaterra. Da Europa Central – 
Prússia. Da Europa Central – Holanda. Da Europa Central – Bélgica. Da 
Europa Central – Allemanha ou Confederação Germânica. Europa Central – 
Áustria. Europa Central – Suissa ou Confederação. Helvetica. Europa Central 
– França. Europa Meridional – Hespanha. Europa Meridional – Portugal. 
Europa Meridional – Itália. Europa Meridional – Estados Italianos. Europa 
Oriental – Grecia e Ilhas Jônicas. Europa Oriental – Turquia e Principados. 
Danubianos 
Azia e sua divisão. Siberia e Cáucaso. China e Japão. 
Indostaã. Turquia e Arábia. Persia e Tartaria. 
Belutchistan, Kabul. 
Asia – Geographia Geral. Descripção Physica. Descripção Política. 
Geographia Particular. Da Asia Septentrional e Meridional – Rússia. Asiatica 
(Siberia e Caucaso). Da Asia Occidental – Turquia Asiática. Da Asia Ocidental 
– Arábia. Da Asia Meridional – Persia, Kaboul, Belout-chiston e Herat. Da Asia 
Meridional – Indostao e Indo-China. Da Asia Oriental – Divisão Politica das 
Índias. India independente. India Colonial ou Estado Europêos. India-China ou 
além do Ganges. Da Asia Oriental – China e paizes sujeitos. Da Asia Oriental 
– Japão. Da Asia Central – Tartaria ou Turquestam independente. 
Africa e sua divisão. Egypto e Berberia. Outros 
Estados da África. 
Africa - Geographia Geral. Descripção Physica. Descripção Política. 
Geographia Particular. Da região do Nilo - I. Abyxinia (Ethiopia dos Anyigos); 
II. Paiz do Bahr-el-Abiad; III. Nubia; IV. Egypto. Da região de Magheb, 
Marrocos, Argel, Tripoli e Tunis. Da região austral e oriental. Região da 
Negricia e Africa Colonial.  
América. America Russa, Dinamarquesa e Inglesa. 
Estados Unidos. México. Antilhas. Nova Granada, 
Venesuela, Equador. Peru e Bolívia. Chile, Paraguay 
e Uruguay. Confederação Argentina, Guayna e 
Patagônia.  
America - Geographia Geral. Descripção physica. Descripção política. 
Geographia Particular. Da America Septentrional – America Russa, 
dinamarqueza e inglesa. Da America Septentrional – Estados Unidos. Da 
America Septentrional – México. Da America Septentrional – America Central 
ou as cinco Republicas. Das Antilhas e Guyanas – Hayti, Cuba, Porto Rico, 
Jamaica e Martinica. Da America Meridional – Columbia ou as Republicas de 
Nova Granada, Equador, Venezuela e Panamá. Da America Meridional – Peru 
e Bolívia. Da America Meridional – Paraguay, La Plata e Uruguay. Da America 
Meridional – Chile e America Indígena. 
Brasil - Descoberta, limites e extensão, Serras. Cabos 
e Portos. Ilhas, lagos e rios Affluentes, clima.  
Producções naturaes. População e Industria. Força 
Publica. Religião, Governo e sua divisão eclesiástica. 
Divisão Civil, judiciaria e administrativa do Império do 
Brasil.  
Provincia do Amasonas. Provincia do Para. Provincia 
do Maranhão. Provincia do Piauhy. Provincia do 
Ceará. Provincia do Rio Grande do Norte. Provincia 
da Parahiba. Provincia de Pernambuco. Provincia de 
Allagoas. Provincia de Sergipe. Provincia da Bahia. 
Provincia do Espirito Santo. Provincia do Rio de 
Janeiro. Corte do Rio. Provincia de São Paulo. 
Provincia do Paraná. Provincia de Santa Catharina. 
Provincia do Rio Grande do Sul. Provincia de Minas 
Geraes. Provincia de Goiaz. Provincia de Mato 
Grosso.  
Oceania – Geografia Geral. Descripção physica. Descripção política.  
Imperio do Brasil. America Meridional. Fundação, posição, dimensões, limites, 
clima e salubridade. Serras, cabos, ilhas, portos e lagos. Rios e affluentes. 
Producções naturaes, mineralogia, phictologia e zoologia. Industria agricola, 
manufatora e commercial. Governo, organização politica, população e religião. 
Organisação administrativa, finanças, forças, correio e instrucção publica. 
Divisão eclesiatica, judiciaria e civil. 
Quadro das Provincias com sua superficie e população. Provincia do 
Amazonas. Provincia do Para. Provincia do Maranhão. Provincia do Piauhy. 
Provincia do Ceara. Provincia do Rio Grande do Norte. Provincia Parahyba. 
Provincia de Pernambuco. Provincia de Alagoas. Provincia de Sergipe. 
Provincia da Bahia. Provincia do Espirito Santo. Provincia do Rio de Janeiro. 
Municipio da Corte. Provincia de São Paulo. Provincia do Parana. Provincia de 
Santa Catharina. Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul. Provincia de 
Minas Geraes. Provincia de Goyaz. Provincia de Matto-Grosso. 
Oceania. Estado Social da Oceania.  
    
FONTE: Sousa Neto (1997, p. 34-37); Brasil (1864). 
Org. e Adapt.: Jeane Medeiros Silva, 2011 
 A divulgação dessas informações e a concretização máxima desse modo de 
entender a geografia aconteceu [sic] nos fins do século passado e primeiros 
anos do século XX com a publicação de dicionários históricos e geográficos, 
fartamente descritivos e encontrados em quase todas as bibliotecas 
públicas brasileiras. Publicados tanto no Império como na República, na sua 
maioria, formam um arrolamento do quadro natural e histórico, disposto em 
ordem alfabética e quase sempre matéria prima para o conteúdo dos muitos 
livros didáticos [...]. (ISSLER, 1972, p. 17). 
 
Organizou-se pela palavra, em razão dos meios disponíveis, das técnicas 
então alcançáveis. E tendo essa Geografia por base, limitou-se a ela, mesmo 
quando alternativas já fizessem contexto para alterar o mundo estático, tão pleno de 
informações excessivas. Por quê? 
Talvez por faltar um debate sobre ensino, por faltar uma classe de 
profissionais de formação específica que cuidasse do desenvolvimento desse saber 
escolar. 
Talvez pelos objetivos da educação não exigirem nada além do que estava 
ofertado. 
No Quadro 18, tem-se o currículo proposto no âmbito do Colégio Pedro II, 
em princípios da década de 1880, cujos anos foram significativos para a bibliografia 
escolar brasileira, em razão de certa explosão no nível e na quantidade de títulos 
então publicados. Em síntese, regimenta-se pelo mesmo padrão curricular vigente 
até então, embora com maior organização dos conteúdos. O que o diferencia dos 
demais é certa preocupação metológica quanto ao ensino: 
 
Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a América e 
principalmente a Meridional. Exame intuitivo de mappas muraes; desenho 
no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto; 
viagens simuladas para diferentes partes, em que os examinandos 
indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades 
naturaes ou artisticas notáveis. 
[...] 
Uso de espheras, problemas. 
 
O Brasil passava por transformações significativas no âmbito econômico e 
político, que resultariam no advento da República.  
 
 
 QUADRO 18 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, no Colégio Pedro II, na vigência 
do Decreto n. 8051, de 25 de março de 1881. 
Disciplina Ano/Série Conteúdos 
Geografia 1º ano Noções de Geografia – sem especificações. 
Geografia 3º ano 
GEOGRAPHIA: Terra, sua superficie, seus movimentos, 
principais circulos que nella se traçam para localizar as 
terras e determinar as zonas thermaes. Divisão das terras e 
do oceano. Clima e sua influência sobre a distribuição dos 
vegetaes e animaes pela superficie da terra. Das cinco 
grandes divisões das terras: Mares, golfos, estreitos, seus 
accidentes physicos. Ilhas, seus accidentes physicos. 
Lagos, rios, lagunas, seus limites, suas dimensões e 
posições. População absoluta e relativa. Governo e suas 
principaes formas. Confederação. Estados soberanos e 
meio soberanos: Divisão dos povos segundo seu 
desenvolvimento moral e suas raças. Dos principaes 
paízes do globo: Posição, limites, superfície. População, 
governo, religião. Divisão, aspecto e clima. Producção, 
commercio e industria; importancia politica. Cidades 
principaes. Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser 
respeito a América e principalmente a Meridional. Exame 
intuitivo de mappas muraes; desenho no quadro preto dos 
pormenores geographicos que abranger cada ponto; 
viagens simuladas para diferentes partes, em que os 
examinandos indiquem os acidentes physicos que podem 
encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notáveis.  
Geografia e 
Cosmografia 
4º ano 
Universo. Astros, sua divisão e aglomeração em grandes 
grupos ou nebulosas. Estrellas, planetas, cometas, estrellas 
cadentes, bolidos e aerolithos. Systema de Ptolomeu e de 
Copernico. Leis de Kepler. Attração e repulsão. Figura, 
rotação e revolução da terra. Círculos da esphera. 
Estações. Posições da esphera e dias. Lua. Eclipses. Uso 
de espheras, problemas. 
Corografia 
do Brasil 
7º ano 
Limites do Brazil e sua posição astronômica.  Ethnographia 
e clima do Brazil. Ilhas, estreitos e cabos principaes do 
Brazil. Bahias e portos do Brazil. Systema orographico 
brazileiro. Systema hidrographico brazileiro. Produções 
naturaes do Brazil. Industria, agricultura, commercio e 
progresso material do paiz. Systema de governo e 
administração do Estado (militar, judiciario e eclesiastico). 
Instituições e estatistica. Synopse da Constituição Política 
do Imperio e Código Criminal. Colonização e catechese.  
Provincia do Amazonas. Provincia do Grão Pará. Provincia 
do Maranhão. Provincia do Piauhy. Provincia do Ceará. 
Provincia do Rio Grande do Norte. Provincia da Parahyba. 
Provincia de Pernambuco. Provincia das Alagoas. Provincia 
de Sergipe. Provincia da Bahia. Provincia do Espirito Santo. 
Municipio Neutro. Provincia de São Paulo. Provincia do 
Parana. Provincia de Santa Catharina. Provincia de São 
Pedro do Rio Grande do Sul. Provincia de Minas Geraes. 
Provincia de Goyaz. Provincia de Mato Grosso. 
Fonte: Haidar (1972); . 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Se antes se fazia uma abordagem geral do mundo, recortando-se em 
imediato uma corografia nacional, o ato legislador, nesse momento, pede maior 
atenção a um entreposto, à América das nossas vizinhanças: as relações comerciais 
 entrelaçavam-se, havia problemas geopolíticos quanto à demarcação de fronteiras, 
então recentemente encerrara-se talvez o mais importante conflito bélico da história 
nacional (a Guerra com o Paraguai).  
Há, ainda, a tentativa de fazer certo movimento, certa dinâmica na Geografia 
estática que caracterizara o ensino até esse momento, o que se pretendia não pela 
alteração do discurso, mas da prática desse discurso, ou seja, na metodologia de 
ensino. Por isso, mesmo no contexto de uma plataforma curricular, reforça o 
emprego de exame de mapas, desenhos, simulação de viagens, o uso de esfera e a 
formulação de problemas geográficos: tenta-se, então, um meio de se tirar da 
inanição as informações por vezes caudalosas, por vezes sem sentido, que habitam 
as superfícies discursivas do livro didático de Geografia. 
Esse modelo curricular será encontrado nas obras da bibliografia do final do 
Império e nos anos iniciais da República. Nos Quadros 19 e 20, tem-se a plataforma 
curricular de uma corografia e de uma Geografia geral publicadas na década de 
1880 e reeditada até no princípio do século XX. 
Assim, em Lacerda (1898), tem-se a abordagem do Brasil no mesmo 
contexto de abordagem das Américas, com as províncias já renomeadas como 
Estados, em vigência da República, atualização feita por Luiz Leopoldo Fernandes 
Pinheiro, responsável pelo prolongamento da vida útil das obras do autor, então já 
falecido. 
Se por um lado começava-se a ter uma preocupação com a metodologia do 
ensino, por outro a referenciação discursiva ainda se caracterizava pela 
fragmentação do saber, com a qual se esperava compor quadros isolados, físicos e 
políticos, a serem sobrepostos pelos alunos, presumidamente, na tentativa de 
compor uma imagem geográfica do mundo ou de suas partes. 
Essas obras, exemplares do período, indicam os trâmites transitivos do 
Império para a República. Essencialmente, os conteúdos e seu método, ou a 
concepção geográfica, permanecem o mesmo, a despeito das diversas tentativas de 
reformas educacionais implementadas pela República. Atualizam-se as províncias 
para estados, mas permanece a ênfase numa divisão territorial eclesiástica como 
ainda recomendado no programa de 1881: o Império e a Igreja Católica tinham um 
consórcio que a República aboliria. 
 QUADRO 19 – Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia, de 
Joaquim Maria de Lacerda, década de 1880. 
Geographia Geral 
Noções preliminares. Definições geometricas. Noções de Cosmographia. Definições 
geographicas. Producções do globo. Classificacao dos homens. Europa: descripção physica, 
descripção politica. Ásia... África... América... Oceania... Quadro comparativos dos principaes 
lagos, rios e montes. 
Geographia Particular 
Paizes da Europa: Ilhas Britannicas, Dinamarca, Suecia e Noruega, Russia Europêa, França, 
Bélgica, Hollanda, Allemanha, Austria-Hungria, Suissa, Portugal, Hespanha, ltalia, Turquia 
Europêa, Grecia, Rumania, Servia, Bulgária, Montenegro. Paizes da Ásia: Russia da Ásia, 
Turquia da Ásia, Arábia, Pérsia, Afghanistan, Belutchistan, Turkestan independente, India ou 
Hindostão, lndo-China, Imperio Chinês, Corea, Japão. Paizes da África: Egypto, Abyssinia, 
Barbaria, Sahara, Senegambia, Guiné Superior, Guiné Inferior, Hotentotia, Colonia do Cabo, 
Cafraria, Moçambique, Zanguebar, Somal, Sudan, Nigricia Meridional, Ilhas da África. Paizes 
da América: Groenlândia, America Septent. Ingleza, Estados-Unidos, México, America 
Central, Antilhas, Guyanas, Venezuela, Colombia ou Nova Granada, Republica do Equador, 
Perú, Bolívia, Chile, Republica Argentina, Republica do Uruguay, Republica do Paraguay, 
Republica Patagônia, Estados-Unidos do Brazil: Estado do Amazonas, Estado do Pará, 
Estado do Maranhão,  Estado do Piauhy, Estado do Ceará, Estado do Rio Grande do Norte, 
Estado da Parahyba do N., Estado de Pernambuco, Estado das Alagoas, Estado de Sergipe, 
Estado da Bahia, Estado do Espirito-Santo, Estado do Rio de Janeiro, Districto federal, Estado 
de S. Paulo, Estado do Paraná, Estado de S. Catharina, Estado do Rio Grande do Sul, Estado 
de Minas Geraes, Estado de Goyaz, Estado do Matto-Grosso, Estatistica do Brazil. Oceania: 
Possessões Inglezas, Possessões Hollandezas, Possessões das outras nações; Esiados 
independentes. 
Cosmografia 
Definições geométricas. Do Universo em geral. Atração e força centrifuga. Parallaxe. O sol. 
Manchas do Sol. Densidade do Sol. A terra. Antipodas. Redondeza da Terra. Atmosphera. 
Ventos. Chuvas. Refracção  astronomica. Aurora e crepusculo. Climas. Linhas, pontos e 
circulos da esphera. Medida da longitude. Medida da latitude. Movimento diurno da Terra. 
Movimento annual da Terra. Estações. Dia sideral e solar. Tempo verdadeiro e médio. Equa-
ção do tempo. Anno sideral e solar. Precessão dos equinoxios. A Lua. Caracteres geraes. Mo-
vimentos. Orbita. Retrogradação dos nós. Phases da Lua. Influencia da Lua sobre as mares. 
Revolução sideral e synodica da Lua. Libração. Eclipses. Systema solar ou planetario. 
Cometas. Estrellas cadentes, etc. Estrellas fixas. Nebulosas. Posições da esphera. Globos, 
cartas geographicas. Projeções. Calendario. Cyclo lunario e Aureo numero. Epacta. Cyclo 
solar. Indicção Romana. Lettra dominical. Festas do anno. Problemas de Cosmographia. 
Fonte: Lacerda (1898). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
QUADRO 20 – Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do Brazil, 
de Henrique Martins, década de 1880. 
Descripção Physica 
Bahias. Ilhas. Cabos. Pontas. Montanhas. Chapadões. Lagos e lagoas. Bacias fluviaes. Bacia 
do Amazonas. Bacia Oriental. Bacia do Prata. 
Descripção Politica 
Posição astronomica. Extensão. Superficie. Limites. População. Grupos ethnographicos. 
Descripção do littoral. Estructura physica. Aspecto physico. Clima. Producção. Flora. Fauna. 
Agricultura. Industria. Mineração. Commercio. Creação de gado. Estradas de ferro. Telegrapho. 
Navegação. Governo. Divisão administrativa. Divisao judiciaria. Finanças. Religião. Divisao 
ecclesiastica. Industria. 
Descripção dos Estados 
Amazonas. Pará. Maranhão. Piauhy. Ceará. Rio Grande do Norte. Parahyba. Pernambuco. 
Alagoas. Sergipe. Bahia. Espirito Santo. Rio de Janeiro. Districto Federal. S. Paulo. Paraná. 
Santa Catharina. Rio Grande do Sul. Minas Geraes. Goyaz. Matto Grosso. 
Fonte: Martins (1896). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 Por outro lado, esses currículos, além dos movimentos políticos, indicam as 
transformações econômicas pelas quais o Brasil passava. O currículo de 1881 
orienta a abordagem da  “Industria, agricultura, commercio e progresso material do 
paiz”; no currículo das obras, as inovações vão sendo colocadas paulatinamento. 
Em Martins (1896 – 5ª. edição), por exemplo, uma parcela desse progresso material 
é colocado ao lado das tradicionais abordagens da “Agricultura. Industria. 
Mineração. Commercio. Creação de gado”: é o caso das “Estradas de ferro” e do 
“Telegrapho”.  
 
* * * 
 
No próximo capítulo, considerando constituida e institucionalizada a 
disciplina Geografia, com uma bibligorafia didática consolidada e já enquadrada em 
uma tradição, passo a abordar os movimentos de sua conformação e 
desenvolvimento discursivo, considerando o contexto histórico do debate que 
promove transformação em seu fazer e modo de ser durante a vigência da Primeira 
República, em fins do século XIX até a década de 1930. 
 
 CAPÍTULO 5 
 
DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NA 
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930...): permanências e 
transformações na disciplina e em sua bibliografia didática 
 
 
 
Ordinariamente se faz o estudo do paiz pelos 
compendios. Ainda que o livro não vá ás 
mãos do alumno, é pelo livro que o professor 
ensina e, portanto, é pelo livro que o alumno 
aprende. 
Antonio Firmino Proença, 1928. 
 
 
 
 
A transição do período imperial para o período republicano sinalizou, 
evidentemente, transformações que atingiram toda a dinâmica social do país, 
inclusive a educação. O Brasil, propriamente, enfrentava uma reestruturação social a 
partir da nova organização da sociedade, com abolição da escravatura, a chegada 
de imigrantes em massa e a presença da mão de obra livre. Economicamente, havia 
o surgimento do esboço de uma produção industrial. Já então havia uma plataforma 
cultural efervescente, sinalizando para a consolidação de uma classe intelectual, 
constituída por profissionais liberais, militares, funcionários públicos e outros, 
interessados pela direção do destino da nação e dos próprios negócios. O país 
passava por um período de modernização estrutural, com impacto significativo nas 
relações sociais, que incluía: 
 
[...] o encurtamento das distâncias com a construção de vias férreas e a 
expansão das já existentes, a agilização dos transportes marítimos através 
dos barcos a vapor, a modernização dos processos de fabrico do açúcar e a 
construção de engenhos, sem contar o importante avanço nos processos de 
beneficiamento do café que aumentaram a sua produtividade. Todas essas 
alterações foram decisivas no surgimento de novas relações e novos 
interesses na sociedade. Da mesma forma que estas mudanças, o 
incremento das indústrias, a urbanização e a modernização das capitais e 
das cidades portuárias, bem como, a imigração, contribuíram de algum 
modo para a República e para a federalização do país. Além, é claro, de 
 todas as idéias trazidas da Revolução Francesa que tiveram, igualmente, 
sua influência (CARTOLANO, 1994, p. 94). 
 
A República, assim, significou uma reorganização radical da plataforma 
política do país, pois “Do império unitário o Brasil passou bruscamente com a 
República para uma federação largamente descentralizada que entregou às antigas 
Províncias, agora Estados, uma considerável autonomia administrativa, financeira e 
até política” (PRADO JÚNIOR, 1998, p. 218). 
O conjunto dessas mudanças não foi isento no campo educacional, embora 
continuasse como privilégio das elites, que sustentavam as instituições particulares e 
ainda se valiam do Estado para estabelecer um ensino público que as favorecesse. 
A nova constituição da República, promulgada em 1891, incluiu os municípios e as 
instituições privadas como responsabilidade do Estado (AZEVEDO, 1963). A 
estrutura educacional herdada do Império dividia-se entre a responsabilidade federal 
que se ocupava do ensino secundário e do ensino superior – o que significava a 
formação das elites, e a responsabilidade das províncias que se centrava no ensino 
primário, embora lhes fosse facultada a atuação em todas as esferas do ensino 
elementar; por limitações econômicas, as províncias limitaram-se a liceus nas 
capitais e em alguma ou outra cidade de maior vulto no interior de seus territórios. 
Ao passo que no período imperial o governo central tivesse vistas apenas para o 
ensino superior e para o ensino secundário, este quase que exclusivamente restrito 
ao Colégio Pedro II, no período republicano a preocupação, pelo menos em nível 
legislativo, foi mais abrangente. É o que demonstram as propostas ditas reformas 
promulgadas por ministros da República responsáveis pela orientação da educação, 
que, no período em análise foram as seguintes: Decreto n. 981, de 8 de novembro 
de 1890 – Reforma Benjamim Constant; Decreto n. 3.914, de 23 de janeiro de 1901 
– Reforma Epitácio Pessoa; Decreto nº 8.660, de 5 de abril de 1911 –  Reforma 
Rivadávia Corrêa; Decreto de n. 11.530, de 18 de março de 1915 –   Reforma Carlos 
Maximiliano; Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925 – Reforma Luiz Alves 
Rocha Vaz; Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931 – Reforma Francisco 
Campos. 
 
 
 5.1 A educação brasileira na República: o lugar da Geografia escolar e sua 
proposta curricular 
 
Com a proclamação da República, a primeira iniciativa importante para a 
educação foi o surgimento, em 19 de abril de 1890, do Ministério da Instrução, 
Correio e Telégrafos93 que, sob responsabilidade do nomeado ministro Benjamim 
Constant Botelho de Magalhães (de formação positivista), promulgou, meses mais 
tarde, em 08 de novembro do mesmo ano, o Decreto n. 981, que se destaca por ser 
uma plataforma de propostas que, pela primeira vez, desde a Independência, 
abarcava todos os níveis de ensino. 
A Reforma de Benjamin Constant instituiu a seriação obrigatória, uma 
proposta que tenta combater a longa tradição dos preparatórios (aulas avulsas com 
exames comprobatórios), tantas vezes vizada pela legislação imperial e tantas vezes 
enfraquecida pela pressão das elites, que desejavam acelerar a formação de seus 
filhos e ingressá-los com rapidez nas instituições superiores. O modelo seriado, 
posteriormente, foi incorporado também ao ensino primário. Para a educação 
nacional, seu mérito foi instituir-se como modelo de organização para os 
estabelecimentos provinciais, agora estatizados (RIBEIRO, 2001). 
Essa reforma, contemplando todos os níveis da educação, teve inspiração 
positivista, o que implicava uma tendência científica – e que já estava na 
mentalidade brasileira após meados do século XIX, mas com maior sucesso nas 
áreas exatas (AZEVEDO, 1963), propondo um rompimento com a tradição literária e 
clássica que sempre fora predominante no ensino brasileiro. Assim, a reforma 
pretendeu contextualizar a educação na ciência, opondo-se à tradição clássica, 
colocando em ordem uma influência positivista e liberal. Porém, seria criticada por 
não compreender adequadamente o Positivismo como orientação e, por isso, 
apenas sobrepor disciplinas científicas ao quadro constituído pelos estudos 
clássicos. 
Pode-se dizer de uma mudança de pensamento no meio intelectual 
brasileiro, pois a República alvorece sob a condução de militares que tinham em 
                                                 
93
 Extinto como pasta educacional pouco depois; porém, a partir de então a educação sempre teve 
uma pasta ministerial para por ela responsabilizar-se. 
 comum, além de uma visão liberal, uma inspiração positivista quanto à concepção 
do conhecimento e de suas práticas. 
Benjamin Constant esteve entre os intelectuais empenhados em introduzir o 
Positivismo no Brasil, particularmente na Lei com a qual introduziu as diretrizes de 
reorganização da educação, em princípio para a capital federal, mas podendo ser 
extensiva ao restante do país. Todos os símbolos e heranças do Império, de alguma 
forma, foram afetados pela nova forma de pensar, da qual não escapou nem mesmo 
a bandeira nacional, a qual teve agregado o lema “Ordem e Progresso” (palavras 
chaves no Positivismo) por proposição de Benjamin Constant (Decreto nº 4, de 19 
de novembro de 1889). Com a educação não seria diferente. 
Augusto Comte (1798-1857), cujas ideias são marcantes nesse período do 
Brasil, formulou o estado científico ou positivo em oposição a dois outros, de acordo 
com seu sistema histórico-epistemológico – o estado teológico ou fictício, e o estado 
metafísico ou abstrato. Comte (1983, p. 4 – grifos meus) assim define o Positivismo:  
 
[...] o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções 
absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a 
conhecer as causas íntimas, dos fenômenos, para preocupar-se 
unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e 
da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis 
de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a 
seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação 
estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns 
fatos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a 
diminuir (COMTE, 1978, p. 4). 
 
Desde o Iluminismo, de certa forma, essas eram ideias que fundamentavam 
o fazer da ciência. O diferencial do Positivismo foi a praticidade que perseguiu e, 
sobretudo, a aplicação dos modelos do conhecimento da física para o social, 
visando uma evolução e desenvolvimento do ser humano. No Brasil, locais como a 
Escola Militar, o Colégio Pedro II (Oliveira Guimarães, professor de matemática, 
fundou a primeira sociedade positivista em 1876) e a Escola Politécnica do Rio de 
Janeiro – centros importantes de formação da classe política e intelectual do país – 
tiveram papel na assimilação e divulgação do pensamento positivista. Pode-se dizer 
de uma inflência positivista, porém não propriamente de uma orientação positivista, 
pois, segundo Azevedo (1963), muitos dos preceitos dessa filosofia eram mal 
interpretadas pelos intelectuais brasileiros: Comte, por exemplo, era avesso ao 
 ensino de ciências a menores de 14 anos, pois a faixa etária até essa idade deveria, 
a seu ver, ter uma educação sobretudo estética. 
Nessas circunstâncias, a Reforma de Benjamin Constant, objetivou tornar o 
ensino elementar formador, não unicamente preparatório para o ingresso no ensino 
superior – uma ideia antiga, porém sempre com dificuldades para sua regularização 
e implantação. A lei planejava nove períodos letivos, denominados de classes, para 
o ensino primário, com um 1º grau dividido em elementar, médio e superior, para 
alunos de 7 a 13 anos; e um segundo grau para alunos maiores de 13 anos, com 
certificação correspondente a cada grau. Para ingresso no ensino secundário e para 
se obter emprego administrativo nas repartições públicas seria necessário 
apresentar certificado de 1º grau. Nessa organização, em nível do ensino 
secundário, ainda elaborado para o Colégio Pedro II – que passou a ser denominado 
Ginásio Nacional – o ensino de Geografia ficou presente em todos os sete anos do 
curso, como demonstrado no Quadro 21. 
Com a nova reforma, foi sugerida a “lição de coisas” como método 
educacional. Polêmica no final do século XIX, e incursão metodológica desde os 
anos 1870, a lição de coisas oscilou entre ser um método ou uma disciplina (como 
proposto pelo Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1878, de autoria do ministro Carlos 
Leôncio de Carvalho). 
Rui Barbosa (1849-1923), no Parecer-Projeto Reforma do Ensino Primário e 
Várias Instituições Complementares da Instrução Pública (1981), recomendou a 
implantação das Lições de coisas como método nas escolas primárias da capital do 
Império. 
Por esse método, haveria “[...] o ensino pelo aspecto, pela realidade, pela 
intuição, pelo exercício reflexivo dos sentidos, pelo cultivo complexo das faculdades 
de observação, como o destinado a suceder triunfantemente aos processos 
verbalistas, ao absurdo formalismo da escola antiga” (BARBOSA, 1886, p. VII, grifos 
do autor); e 
 
A lição de coisas não é um assunto especial no plano de estudos: é um 
método de estudo; não se circunscreve a uma secção do programa: 
abrange o programa inteiro; não ocupa, na classe, um lugar separado, como 
a leitura, a geografia, o cálculo, ou as ciências naturais: é o processo geral, 
a que se devem subordinar todas as disciplinas professadas na instrução 
elementar. No pensamento do substitutivo, pois, a lição de coisas não se 
 inscreve no programa; porque constitue o espírito dele; não tem lugar 
exclusivo no horário: preceitua-se para o ensino de todas as matérias, como 
o método comum, adaptável e necessário a todas (BARBOSA, 1981, v. X, t. 
II, p. 214-215, grifos do autor).  
 
QUADRO 21 – Constituição da Grade Curricular de Geografia, de acordo com o Decreto n. 
981, de 8 de novembro de 1890, para a instrução primária e secundária do Distrito Federal, 
Reforma Benjamim Constant. 
     
1890 
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Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890, Art. 3, 
Reforma Benjamim Constant 
 
Ensino Primário do 1º Grau 
Curso Elementar 
Classe 1ª Geografia 
Classe 2ª Geografia 
Curso Médio 
Classe 1ª  Geografia 
Classe 2ª Geografia 
Curso Superior 
Classe 1ª Geografia 
Classe 2ª Geografia 
Ensino Primário do 2º Grau 
 
Classe 1ª - 
Classe 2ª Geografia 
Classe 3ª Geografia 
    
Programa proposto para  o Gymnásio Nacional 
 
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Ensino Secundário Integral 
1º ano Geografia Física (3 horas). 
2º ano Geografia política e econômica (3 horas). 
3º ano Geografia  Revisão - 01 hora 
4º ano Geografia  Revisão - 01 hora 
5º ano Geografia  Revisão - 01 hora 
6º ano Geografia  Revisão - 01 hora 
7º ano Geografia  Revisão - 01 hora 
     
Fonte: Brasil (1890). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Contrapostos aos métodos vigentes até então, baseados na repetição, por esse 
meio se procuraria trabalhar a reflexão, iniciando o aprendizado pela “curiosidade”, 
pela motivação: 
 
No caminho que a própria criança costuma seguir, examinando os vários 
objetos que derredor se lhe deparam, está ensinando a natureza mesma o 
verdadeiro plano para a realização desse desejável propósito. Aproveite-se 
o educador dessa sede de saber do menino, e induza-o a exercer os 
sentidos em cada objeto que sucessivamente se lhe oferecer, vendo 
apalpando, ouvindo, saboreando, ou cheirando, conforme couber. Esse 
método por onde a natureza ensina; e o homem ainda não foi dado 
excede-lo. Pelo emprego das faculdades perceptivas nas realidades que o 
cercam, junta o menino, de si mesmo, antes de ir a escola, um copioso 
pecúlio de idéias. (BARBOSA, 1886, p. 4-5). 
 
E, como visto, “a Geografia ocupa posição destacada não só em função da 
nova metodologia, mas também por causa do reconhecimento de seus méritos 
 educativos” (ISSLER, 1973, p. 97): nesse momento, é claro que a educação tem um 
papel edificante no estabelecimento e desenvolvimento de uma nação (VLACH, 
1988), sobretudo quanto ao apagamento de marcas do Império: há uma nova 
configuração político-administrativa. Essas mudanças precisam de divulgação e a 
escola é um de seus meios de propagação. Apesar de estar presente em todos os 
anos do ensino primário (à exceção da Classe 1ª do ensino primário de 2° grau, e do 
secundário), sua carga horária não era tão ampla quanto o conteúdo indicado para o 
desenvolvimento da disciplina – o que continuava o problema dos extensos 
conteúdos geográficos do período imperial.  
Em sua essência, as propostas da Reforma Benjamim Constant passaram 
por dificuldades de implantação, muitas medidas sequer chegando à efetivação. 
Começam pela saída de Benjamin da pasta ministerial, por desentendimentos 
políticos. Mas se trata de uma legislação influente na forma de se pensar a estrutura 
do ensino no futuro, evidenciando as preocupações que se faziam presentes no 
alvorecer da República. 
As propostas de Benjamin Constant foram pensadas e expressas em um 
momento histórico propício a uma classe média ascendente, com ascensão também 
das cidades, com uma efervecência cultural que privilegiava o racionalismo 
descarteano, o positivismo comtiano, as teorias de Darwin, o evolucionismo 
spenceriano. A nacionalidade mais que uma causa era uma prática na obra de 
Castro Alves, Aluísio de Azevedo, Machado de Assis, Raul Pompéia e outros – que, 
com perspectivas diversas, pensavam a realidade brasileira, apresentavam críticas, 
sugeriam propostas. 
Pensando-se o ensino primário, estabeleceu-se a esse tempo a proposta 
curricular de Geografia exposta no Quadro 22. Para o ensino secundário, a proposta 
no Quadro 23. 
Na Reforma Benjamin Constant (1890), no âmbito do ensino secundário, 
orientado para os preparatórios, pretendendo-se introduzir um currículo positivista, 
duas perspectivas curriculares foram visadas: uma com foco nas humanidades 
clássicas, e outra mais centrada nas ciências, para privilegiar a técnica, o comércio, 
a indústria e a agricultura, trâmites do progresso – o lema ideário dos republicanos. 
 
 QUADRO 22 – Ensino Primário: Programa de Geografia na vigência da Reforma Benjamim 
Constant (1890-1901). 
Disciplina Ano/Série Conteúdos 
ESCOLA PRIMÁRIA DE 1° GRÁO 
Geographia 
Curso 
Elementar 
Classe 1ª 
Os pontos cardeais. 
Determinar os pontos onde nasce o sol e onde se põe. Indicar os 
pontos cardeais em relação á sala da classe. 
Topographia do districto e4scolar, com designação de seus limites, 
ruas que nelle existem, e seus edifícios notáveis. 
Conhecer nos mapas a situação da Capital Federal, do Estado do Rio 
de Janeiro e dos Estados limítrofes. Limites da Capital Federal. 
Estradas de ferro que dela partem, designando as suas direcções. 
Explicação dos termos geográficos e preparação para o estudo da 
geografia geral pelo methodo descriptivo. 
Idéa da terra, sua forma, extensão e suas grandes divisões. 
Geographia 
Curso 
Elementar 
Classe 2ª 
Conhecimento geral e gradual dos 21 Estados (pelo mappa), qual a 
sua situação e seus produtos principaes. 
Idéa do relevo do solo brasileiro, das grandes bacias fluviais e dos 
portos. Viagens da Capital para cada Estado. Principaes vias férreas e 
linhas de navegação no Brazil. 
Revisão da geographiaia geral e sua amplificação gradual: o globo 
terrestre, continentes e oceanos, principaes paizes do mundo. 
Idéa da representação cartográfica, elementos de leitura das cartas e 
plantas. 
Geographia 
Curso Médio 
Classe 1ª 
Revisão do programma anterior. Geographia physica dos Estados 
Unidos do Brazil, sem pormenores que fatiguem inultimente a memoria. 
Conhecimento geral da geographia physica da terra. 
Uso dos mappas e globos.Exercicios de cartografia. 
Geographia 
Curso Médio 
Classe 2ª 
Noçõesde geographia physica da America do Sul , Central e do Norte; 
relações commerciaes dos Estados americanos com o Brazil. Viagens. 
Noções elementares sobre as raças, línguas, religiões e formas de 
governo dos diferenttespaizes do mundo. 
Circulos e zonas da terra. Horizonte. Zenith. Nadir. Antipodes. 
Movimentos da terra e seus efeitos, explicados por meio de 
apparelhos. Latitude e longitude estudadas praticamente no globo. 
Geographia 
Curso 
Superior 
Classe 1ª 
Revisão do estudo da América, sua geographia politica, e economica, e 
particularmente do Brazil. 
Noções de geographia politica e econômica da Europa; relações 
commerciaes daquele continente com o Brazil. Viagens. 
Noções de cosmografia – Descripção simples dos astros principaes: 
sol, lua, estrelas, planetas e cometas. 
Geographia 
Curso 
Superior 
Classe 2ª 
Revisão geral da geographia, política e econômica, e particularmente 
do Brazil. Viagens. 
Noções de cosmographia: amplificação do programma precedente, 
noção das leis que regem o movimento dos astros; phases da lua; 
eclipses. Systema geral do mundo. Explicação do dia, da noite e das 
estações. 
ESCOLA PRIMÁRIA DE 1° GRÁO 
Geographia Classe 1ª - 
Geographia Classe 2ª 
Geographia physica da Europa, Ásia, África, Oceania e América. 
Geographia physica do Brazil em particular 
Geographia Classe 3ª 
Geographia política e economica da Europa, Ásia, Africam, Oceania e 
América, e duas relações com o Brazil em particular. Geographia 
política do Brazil. 
Estados; divisões administrativas. Zonas de cultura; productos 
industriaes; vias de comunicação. Noções de cosmographia. 
Fonte: Brasil (1890). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 QUADRO 23 – Ensino Secundário: Programa de Geografia na vigência da Reforma 
Benjamim Constant (1890-1901). 
Disciplina Ano/Série Conteúdos 
Geografia 
Física 
1º ano 
Esphera celeste, astros e estrellas. Sol. Movimentos reaes e 
apparentes. Eclipitica. Constellações zodiacaes. Planetas e cometas. 
Estrellas cadentes, Bolides, Aerolitnos. Luz zodiacal. Systema de 
Ptolomeu e Copernico.  Leis de Kepler. Attracção e Repulsão. Fórma 
da terra. Suas dimensões. Movimentos da terra. Consequencias 
physicas desses movimentos. Horizonte. Differença horaria. Superficie 
da terra. Eixo. Polos. Linhas e zonas traçadas em sua superficie. 
Continentes e ilhas e seus accidentes. Dimensões comparadas. 
Definições relativas às terras. Oceanos e suas divisões. Lagos. Rios. 
Definições relativas às aguas. Pontos cardeaes e collateraes. Carthas 
geographicas. Escalas e principaes medidas intinerarias. Latitude e 
longitude. Clima. Distribuição dos vegetaes e animaes pela superficie 
da terra. Linhas isoghermicas, isotheras e isochimenas. Extremas de 
temperatura. Brazil: posição, superficie e configuração geral. Clima e 
principaes producções. Divisão politica em geral. Principaes cidades. 
Estados limitrophes. Brazil: Bahias. Ilhas. Brazil: Systema orographico, 
grandes planicies. Brazil: Rio Amazonas, S. Francisco e Paraná. Brazil: 
Rios secundarios. Lagos. Brazil: Divisão politica em geral da America. 
Limites e posição astronomica. Grandes cidades. Producções mais 
importantes. Idem para Europa, Ásia, África, Oceania. Mares, golfos e 
estreitos da America. Ilhas da América (Nações a que pertencem). 
Peninsulas, isthmos e cabos da America. Systema orographico da 
America. Volcões, massiços, planicies e steppes da America. 
Vertentes, linha de divisão das aguas, lagos e lagunas da America. 
Rios da America. Mares, golfos e estreitos da Europa. Ilhas da Europa. 
Peninsulas, isthmos e cabos da Europa. Systema orographico da 
Europa. Volcões, massiços, planicies, steppes, vertentes, linha de 
divisão de aguas, lagos e lagunas da Europa. Rios da Europa. Mares, 
golfos e estreitos da Asia. Ilhas da Asia. Penninsulas, isthmos e cabo 
da Asia. Systema orographico da Asia. Volcões, massiços, depressões, 
steppes, desertos, vertentes e lagos da Asia. Rios da Asia. Mares, 
golfos, estreitos e ilhas da Africa. Peninsulas, cabos, systema 
orographico, volcões e desertos da Africa. Lagos, lagunas e rios da 
Africa. Mares, golfos, estreitos, lagos, lagunas e rios da Oceania. 
Peninsulas, cabos, systema orographicos e volcões da Oceania. Mais 
altos massiços, montanhas e volcões do globo. Idem do Brazil. 
Exercicios chartographicos sobre os continentes, no principio a vista e 
depois de cor, procedendo sempre dos traços geraes para particulares. 
Geografia 
Política e 
Econômica 
2º ano 
Geographia politica e economica, superficie, população, divisão, e 
formas de governo de um Estado. População geral do Globo. As 
religiões. Povos selvagens, barbaros e civilizados. Raças humanas. 
Brazil: producções, commercio e industria; vias de communicação e 
telegraphicas. Brazil: população, organização politica e administrativa, 
religião, instrucção. Brazil: Estados do Amazonas e Matto Grosso. 
Brazil: Estados de Goyaz e Pará. Brazil: Estado de Minas Geraes. 
Brazil: Estados do Maranhão e Piauhy. Brazil: Estados do Ceará, Rio 
Grande do Norte e Parahyba. Brazil: Estados de Pernambuco e 
Alagôas. Brazil: Estados de Sergipe e Bahia. Brazil: Estados do Espirito 
Santo, do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Brazil: Estados de São 
Paulo e Paraná. Brazil: Estados de Santa Catharina e Rio Grande do 
Sul. Republicas do Paraguay, Uruguay e Argentina. Republicas do 
Chile, Bolivia e Perú. Republicas do Equador, Colombia, Venezuela e 
Guyanas. Antilhas e America Central. Mexico e Confederação 
Canadiana. Estados Unidos. Inglaterra e possessões. Dinamarca e 
possessões. Suecia e Noruega. França e possessões. Principado de 
Monaco. Belgica e Hollanda e possessões. Allemanha e possessões. 
Austria Hungria. Principado de Liechtenstein. Suissa e Portugal. 
 Hespanha, Republica de Andorra. Italia, Republica de S. Marino. 
Russia. Romania, Servia, Montenegro e Bulgaria. Turquia e Grecia. 
Possessões russas na Asia. Turkestão. Turquia d’Asia. Persia. Arabia, 
Afghanistão e Belutchistão. Hindostão. Indo-China, Japão. China. 
Barbaria e Sahara. Egypto, Nubia e Abyssinia. Africa occidental e 
Colonia do Cabo. Africa oriental e central. Malasia e Polynesia. 
Australia e Terras Antarcticas. Circulos da esphera celeste. Estações. 
Posição da esphera. Dias, sua duração nas diversas latitudes. Lua. 
Suas phases. Revolução sideral e revolução synodica. Marés. Eclipses 
da lua e do sol. Sua periodicidade. Exercicios chartographicos, no 
principio à vista e depois de cór, sobre os diversos paizes estudados, 
especialmente o Brazil, limitando-se porém a traços geraes.   
Geografia 3º ano Revisão 
Geografia 4º ano Revisão 
Geografia 5º ano Revisão 
Geografia 6º ano Revisão 
Geografia 7º ano Revisão 
Fonte: Isller (1973); Colesanti (1985). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
Esse programa apresentava inovações no ensino de Geografia, sobretudo 
por introduzir alterações metodológicas e pedagógicas: o aprendizado geográfico 
apresenta uma orientação dos conteúdos no sentido geral/particular e no sentido 
simples/complexo, assinalando uma tentativa de excluir o excesso de detalhes que 
aborreciam um aprendizado geográfico centrado na memorização, como 
explicitamente cita o programa: “sem pormenores que fatiguem inutilmente a 
memória”. A partir dessa constatação, Issler (1973, p. 103) afirma que “o programa 
não fez mais do que concretizar os apelos e os reclames de renovação que se 
fizeram sentir nas últimas décadas do império e que já tinham atestado sua validade 
em diversas escolas da iniciativa privada”. 
Em essência, os conteúdos prescritos são os mesmos de programas 
anteriores; e há permanências como a fragmentação de áreas, com recortes 
espaciais sendo estudados em sua abordagem física em um ano e a abordagem 
econômica e política em outro. Para Issler (1973), isso se deve à tentativa de 
descongestionar as informações incidentes no aprendizado.                                                                                                                                                      
Porém, é necessária uma ressalva importante: talvez a grande inovação 
desse programa foi a consolidação da Geografia local como método para organizar o 
ensino geográfico. E talvez a Geografia local seja o primeiro impacto de 
desestruturação do ensino geográfico descritivo (que ainda permanecerá por 
décadas), pois, pelo menos em nível de currículo e da produção bibliográfica didática 
 seria impossível estabelecer uma descrição de todos os locais a serem ensinados, 
pois haveria tantos quantas localidades de ensino houvesse, limitando, assim, a 
prescrever e produzir orientações a serem executadas pelos professores. Lição de 
coisas? 
O programa é enfático quanto à presença de mapas como ferramentas 
pedagógicas do ensino geográfico. Outra inovação é o ensino da Cosmografia, com 
melhor estruturação e utilizando-se, pela primeira vez, e por influência do sistema 
positivista, o termo Astronomia. 
Joaquim Maria de Lacerda é um dos autores didáticos de Geografia em 
destaque nesse período, estando ativos todos os títulos dessa disciplina que deixou, 
atualizados, após sua morte, em 1886, por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro; 
outras publicações continuam ativas igualmente, como a Terra Illustrada, de F.I.C. e 
os títulos de Henrique Martins. 
Em 1901, foi publicado o Decreto n. 3914, de 23 de janeiro de 1901, a 
chamada Reforma Epitácio Pessoa, trazendo um novo regulamento para o então 
Ginásio Nacional, equiparado, por essa ocasião, como padrão para as instituições 
particulares e públicas do ensino secundário, com sujeição à fiscalização federal. O 
ensino secundário foi organizado em seis anos, estando a Geografia presente em 
quatro (Quadro 24). 
 
QUADRO 24 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto n. 3.914, de 23 de janeiro de 1901, Reforma Epitácio Pessoa. 
     
1901 
Decreto n. 3.914, de 23 de janeiro de 1901, Reforma 
Epitácio Pessoa (Regulamenta o Gymnasio Nacional). 
 
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1º ano Geografia  04 horas 
2º ano Geografia  03 horas 
3º ano Geografia  02 horas 
4º ano - 
 
5º ano - 
6º ano Geografia  01 hora 
     
Fonte: Brasil (1901). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Aprovado para Ginásio Nacional, assinado pelo Ministro de Estado da 
Justiça e Negócios Interiores, M. Ferraz de Campos Salles, sancionado por Epitacio 
Pessoa, que nomeia a reforma, regimentava o ensino secundário daquele 
estabelecimento para, conforme o Art. 1º “[...] proporcionar a cultura intellectual 
 necessaria para a matricula nos cursos de ensino superior e para a obtenção do 
grau de bacharel em sciencias e lettras”. Define as disciplinas, os números de horas 
de aulas por semana, o período de duração, o regime dos exames e aprovação, as 
condições de matrícula, normas de comportamento e disciplina, regras sobre 
frequência e disposições quanto ao quadro docente e administrativo. Se a Reforma 
de Benjamim Constant foi marcada por certo idealismo, a Reforma de Epitácio 
Pessoa fez correções e adequações àquela proposta. Prioriza, assim, o ensino 
secundário, bem mais ao alcance das possibilidades do Estado federal, 
sedimentando, no interior institucional, o modelo seriado ao tornar obrigatória a 
frequência, extinguindo, para isso, os exames que dispensavam o cotidiano 
presencial às aulas, dentre os seus matriculados, embora os permitisse para alunos 
não matriculados. Impôs, assim, a matrícula por disciplina, e o seu sequenciamento. 
Como o Estado não podia dispor de escolaridade para todos, permitia o acesso à 
formação daqueles que adquiriam conhecimento fora dos estabelecimentos 
escolares. 
De acordo com o inciso IX do Art. 9°, 
 
No ensino da geographia o intuito fundamental será a descripção methodica 
e racional da superficie da terra por meio de desenhos, na pedra e no papel, 
copiados, mas nunca trasfoleados, e de memoria, das cinco partes do 
mundo, dos paizes da America, especialmente do Brazil, e dos da Europa, 
com a preoccupação de evitar minucias, nomenclaturas extensas, dados 
estatisticos exagerados e tudo quanto possa sobrecarregar a memoria do 
alumno ou não a exercitar com real proveito, quer no estudo da geographia 
physica, quer no da geographia politica e do ramo economico. No 1º anno 
far-se-ha o estudo da geographia physica, particularmente do Brazil; no 2º o 
da geographia politica em geral e em particular do Brazil; no 3º da 
chorographia do Brazil propriamente dita. (BRASIL, 1901, p. 687). 
 
A reforma, seguinte, conhecida como Rivadávia Corrêa, entrou em vigor pelo 
Decreto nº 8.660, de 5 de abril de 1911. Criou os chamados “parcelados” – algo 
como exames preparatórios organizados em torno de uma anuidade escolar – e o 
vestibular para o ensino superior, o qual dispensaria comprovação de escolaridade, 
uma vez que não se exigia a comprovação de escolaridade preparatória. Foi uma 
forma de retirar responsabilidade do Estado pela instrução. A Reforma Rivadávia 
interrompeu qualquer interferência da União nos assuntos das instituições de ensino 
e sobre os exames. 
 A Geografia foi postulada nos três primeiros dos seis anos do curso 
secundário, com uma Geografia Geral e uma Geografia Política, seguida de uma 
Corografia do Brasil e de noções de Cosmografia (Quadro 25). 
 
QUADRO 25 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 8.660, de 5 de abril de 1911, Reforma Rivadávia Corrêa. 
    
1911 
Decreto nº 8.660, de 5 de abril de 1911, Reforma Rivadávia 
Corrêa (Regulamenta o Collegio Pedro II). 
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1º ano Geografia do Brasil 
2º ano Geografia Política do Brasil 
3º ano 
Corografia do Brasil e Noções de 
Cosmografia 
4º ano - 
5º ano - 
6º ano - 
    
Fonte: Issler (1973). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
No plano curricular, o programa proposto para o ensino da Geografia estava 
como indicado no Quadro 26, sendo observado que 
 
Art. 7º Os programmas deverão attender ás seguintes linhas geraes: 
[...] 
f) No ensino da geographia o intuito fundamental será a descripção 
methodica e racional da superficie da terra, por meio de desenhos, na pedra 
e no papel, copiados, mas nunca trasfoliados, e de exercicios de memoria 
referentes ás cinco partes do mundo, aos paizes da America e 
especialmente ao Brazil, e aos da Europa, com a preoccupação de evitar 
minucias, nomenclaturas extensas, dados estatisticos exaggerados e tudo 
quanto possa sobrecarregar, quer no estudo da geographia physica, quer 
ao da geographia politica e do ramo economico. Na 1ª serie far-se-ha o 
estudo da geographia physica, particularmente do Brazil; na 2ª o da 
geographia politica geral e, em particular, do Brazil; na 3ª o da chorographia 
do Brazil, propriamente dita, e o das noções de cosmographia. (BRASIL, 
1911, Art. 7º, Inciso f). 
 
No âmbito do discurso legal, recomendações eram feitas para se alterar os 
métodos rígidos e improdutivos da velha Geografia descritiva – que, a essa altura, já 
atingira certo cansaço. Se por um lado o espaço da Geografia como disciplina era 
um fato consolidado, por outro a Geografia exercida já não era capaz de inspirar 
uma educação que atendesse à proposta da educação: como cultura era falha, pois 
apenas era informativa; com atendimento a uma formação, sobretudo nacional, 
igualmente apresentava limitações, dependendo muito mais do desempenho do 
professor para ter algum sucesso. As bases de sua orientação, tal como a 
 fragmentação em áreas, a fragmentação interna em cada uma dessas áreas, faziam 
com que essa disciplina encontrasse limites. Parece que as primeiras tentativas de 
se alterar esse quadro partiu não de uma reforma dos conteúdos, mas do modo de 
ensinar – embora na prática uma coisa dependa da outra. Como se vê na citação 
acima, o que se pede é uma disciplina mais leve, sem minúcias, mas suficiente para 
estrapolar por representações espaciais que realmente notifiquem certo aprendizado 
ao aluno. 
 
 
QUADRO 26 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, Colégio Pedro II, na vigência da 
Reforma Rivadávia Corrêa (1911-1915). 
Disciplina Ano/Série Conteúdos 
Geografia 
do Brasil 
1º ano 
Geographia, suas divisões, o globo terrestre, suas dimensões. Circulos 
da esphera terrestre, equador, paralelos, meridianos, tropicos e circulos 
polares. Escala. Latitudes e Longitudes. Rosa dos Ventos, pontos 
cardeaes e collateraes. Orientação pelo nascer do sol, bussula, 
orientação pela bussula. Partes liquidas e solidas da terra, 
denominações de suas diversas formas. Oceanos, mares, correntes 
oceanicas. Europa – posição astronomica, limites, dimensões, clima e 
producções. Paizes da Europa, seus mares, golphos, estreitos, ilhas, 
peninsulas, isthmos e cabos. Orographia e potamographia da Europa. 
America, posição astronomica, limites, dimensões, clima e  
producções. Paízes da America, seus mares, golphos, estreitos, ilhas, 
peninsulas, isthmos e cabos. Orographia e potamographia da America. 
Brazil, posição astronômica, limites, dimensões, litoral, clima, 
producções. Asia, posição astronomica, limites, dimensões, clima e 
producções. Paizes da Asia, seus mares, golphos, estreitos, ilhas, 
peninsulas, isthmos e cabos. Orographia e potamographia da Asia. 
Africa, posição astronomica, limites, dimensões, climas e producções. 
Paizes da Africa, seus mares, golphos, estreitos, ilhas, peninsulas, 
isthmos e cabos. Orographia e potamographia da Africa. Oceania, 
posição astronomica, limites, dimensões, clima e producções. Terras 
da Oceania, seus mares, golphos, estreitos, ilhas, peninsulas, isthmos 
e cabos. Orographia e potamographia da Oceania. 
Geografia 
Política do 
Brasil 
2º ano 
Geographia politica, formas sociaes, estados, formas de governo. 
Noções de ethnographia, raças humanas, linguas e religiões. Noções 
de geographia economica e de estatística política e commercial. Grecia 
antiga, noções historicas e geographicas. Grecia moderna e Turquia. 
Roma antiga, noções históricas e geographicas. Geographia política, 
situação, limites, superficie, população, governo, religião, lingua, 
divisão administrativa, população, commercio, industria, vias de 
communicação, cidades importantes da Italia. Idem da França. Idem da 
Hespanha. Idem de Portugal. Idem da Suissa e Belgica e noções de 
Roumania e Montenegro. Germania antiga, noções historicas e 
geographicas. Geographia politica, situação, limites, superficie, 
população, religião, lingua, divisão administrativa, producção, 
commercio, industria, vias de communicação, cidades importantes e 
noticia historica da Allemanha. Idem da Inglaterra. Idem da Austria-
Hungria. Idem da Hollanda. Idem da Russia, noções de Servia e 
Bulgaria. Idem da Suecia e Noruega. Idem da Dinamarca. Idem do 
Brazil. Idem da Argentina. Idem do Paraguay e Uruguay. Idem do Chile. 
Idem da Bolivia e Perú. Idem do Equador e Colombia. Idem da 
 Venezuela e Goyanas. Idem das Antilhas e America Central. Idem do 
Mexico. Idem dos Estados Unidos do Norte. Idem do Canadá. Idem da 
Persia e Indostão. Idem do Imperio das Indias e Indo-China. Idem da 
China. Idem do Japão. Idem do Egypto e Abyssinia. Idem do Imperio 
do Marrocos. Republica da Liberia e Congo Livre. Idem da Australia. 
Descripção de viagens no paiz e no estrangeiro.  
Corografia 
do Brasil e 
Noções de 
Cosmografia 
3º ano 
Corographia; situação, superficie, limites, aspectos physicos, clima, 
salubridade, orographia, potamographia, noticia historica e governo dos 
Estados do Amazonas e Pará. Idem dos Estados do Maranhão e 
Piauhy. Idem dos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Idem dos 
Estados da Parahyba  do Norte e Pernambuco. Idem dos Estados de 
Alagôas e Sergipe. Idem dos Estados da Bahia e Espirito Santo. Idem 
do Estado do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Idem dos Estados de 
São Paulo e Paraná. Idem dos Estados de Santa Catharina e Rio 
Grande do Sul. Idem do Estado de Minas Geraes. Idem dos Estados de 
Goyaz e Matto Grosso. Costa, portos de primeira ordem, cabotagem, 
commercio com o exterior, importação e exportação do Brazil. Costa, 
portos de segunda ordem, cabotagem, commercio interestadual. 
Vertentes, navegação fluvial, commercio interior, portos fluviaes. 
Estructura geologica, mineralogia, flora e fauna. Climatologia e 
salubridade, aclimação nos diversos Estados. Agricultura, industria e 
commercio. Viação: companhias de navegação nacionaes e 
estrangeiras. Viação: estradas de ferro, principaes estradas de ferro, 
principaes de rodagem. Correios e Telegraphos. Ethnographia e 
colonização do Brazil. Estudo comparativo da população do Brazil com 
a dos diversos paizes e da população dos Estados entre si. 
Cosmographia, astros, esphera celeste. Estrellas, constellações. 
Systemas planetarios. Gravitação universal: leis de Kepler e Newton. 
Terra, forma, posição, dimensões e movimentos. Atmosphera e 
meteoros. Desigualdades dos dias e noites, zonas e estações. Lua, 
movimentos e phases da lua, sua influência sobre as marés. Eclipses. 
Estrellas fixas, constellações zodiacaes, estrellas cadentes, bolidos e 
aerolitos, nebulosas. Carta geographica, seus elementos, projecções. 
Calendarios. Problemas de cosmographia.  
- 4º ano - 
- 5º ano 
 
- 
- 6º ano - 
Fonte: Brasil (1911). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A Reforma Carlos Maximiliano foi a próxima, cerca de quatro anos depois, 
promulgada pelo Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915. De inspiração 
europeia, determinou a observação de um currículo mínimo, seriado, para se obter 
formação escolar e prestar exame para o ensino superior, devendo os exames 
observar os conteúdos das séries. Endossa, das reformas anteriores, a seriação 
escolar proposta em 1890, a estrutura curricular de 1901 e o exame vestibular 
proposto em 1911. 
 Nessa proposta, o ensino secundário foi reduzido a cinco anos e a Geografia 
condensada em dois: a Geografia Geral, eminentemente física, une-se com a 
Geografia Política (abordagem global), seguindo-se no ano seguinte a Corografia do 
Brasil (Quadro 27). 
 
 
QUADRO 27 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto n. 11.530, de 18 de março de 1915, Art. 167, Reforma Carlos 
Maximiliano. 
     
1915 
Decreto de n. 11.530, de 18 de março de 1915, Art. 167, 
Reforma Carlos Maximiliano (Regulamenta o Collegio 
Pedro II). 
 
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0
6
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n
o
s
 
1º ano Geografia Geral 
Geografia Física e 
Política dos continentes 
2º ano 
Corografia do Brasil e noções de 
Cosmografia.  
 3º ano - 
4º ano - 
5º ano - 
     
Fonte: Brasil (1915). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A Reforma Rocha Vaz, promulgada pelo Decreto n. 16.782-A, de 13 de 
janeiro de 1925, tentou extinguir os preparatórios ou parcelados ao fazer sobrevaler 
o ensino seriado, como meio de impor continuidade no currículo obrigatório, a ser 
seguido em pelo menos cinco anos, medida que, na realidade, foi de difícil 
implementação, apenas efetivada plenamente em outras reformas. Tratou-se de 
uma reforma mais administrativa que propriamente pedagógica. É de então a 
tentativa de romper os estudos obrigatórios como simples preparação para o 
ingresso superior, propondo-os como preparatório para a vida egressa do estudante, 
algo que já se pensava no ascedente debate sobre a educação brasileira. Nessa 
proposta, a situação da Geografia no ensino secundário permaneceu inalterada, à 
exceção da separação da Cosmografia, deslocada para o 5º ano, talvez pelo 
surgimento de mais espaço, posto que o ensino secundário retornou a ter seis anos 
(Quadro 28). 
 
 
 QUADRO 28 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925, Art. 47, Reforma Luiz Alves 
Rocha Vaz. 
    
1925 
Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925, Art. 47, 
Reforma Luiz Alves Rocha Vaz. 
S
e
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d
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 0
6
 a
n
o
s
 
1º ano Geografia Geral 
2º ano Geografia (Corografia do Brasil)  
3º ano - 
4º ano - 
5º ano Cosmografia 
6º ano - 
    
Fonte: Brasil (1925). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
A extensão do currículo de Geografia a esse tempo (Quadro 29), com um 
nível de detalhamento bem maior que qualquer um precedente, é uma tentativa de 
controle do que se deve ensinar, apesar de incorporar algumas inovações, como 
temas novos, as migrações, por exemplo. Há então uma tentativa, e sem dúvida é 
influente nisso a “orientação moderna” da Geografia, conforme discutirei adiante, de 
sair do quadro puramente descritivo para formar uma base conceitual para os 
estudos: para além do conceito de Geographia Politica, seguido de algumas 
definições centrais, o currículo propõe 
O conceito da geographia humana, social, ou politica. A geographia 
economica. Raças. Linguas. Religiões. Classificação e distribuição 
geographica. Formas sociaes. Civilização: seus elementos, seus estágios 
evolucionarios. Instituições sociaes: o Estado, suas modalidades. Os 
grupos humanos. Migrações: causas e resultados. A colonização. 
Formação das cidades. Actividade econômica. Criação. Agricultura. 
Industria. Transporte. Commercio. O ‘factor geographico’, 
propondo um desenvolvimento ao tema antes de aplicá-lo. Sugere a colocação de 
relações: para a migração, apresentar as causas e as consequências. 
Além disso, inclui recomendações metodológicas: “As aulas serão sempre 
dadas com o auxilio de cartas, e numerosos deverão ser os exercicios de leitura das 
mesmas e de esboço cartographicos e do mappa mudo, emprestando assim, ao 
ensino um cunho pratico”. São os anos 1920, quando, em nível do ensino da 
Geografia, se tenta uma reação ao aspecto descritivo pelo ensino e mnêmonico pelo 
aprendizado. Como afirmei em outra ocasião, tenta-se inicialmente transformar o 
ensino da Geografia pelos métodos do ensino, procurando-se, em primeiro lugar, 
tornar esse saber um conhecimento prático, que apresente resultados.  
 QUADRO 29 – Ensino Secundário: Programa de Geografia, Colégio Pedro II, na vigência da 
Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931). 
Disciplina Ano/Série Conteúdos 
Geografia 
Geral 
1º ano 
PRIMEIRO ANO 
PROLEGOMENOS (10 lições): A Geographia - Definição e divisões. 
Sua utilidade. A Terra - Forma, dimensões; movimentos. O Systema 
solar - Planetas, satellites. A lua e suas phases. Dos systemas de 
Ptolomeu, Copernico. O Universo - Estrellas. As constellações; o 
Cruzeiro do Sul. Orientação - Pontos cardeaes. Rosa dos Ventos. A 
bussola. Circulos da esphera terrestre - Coordenadas geographicas; a 
latitude e a longitude. Obliquidade da ecliptica - Desigualdade dos dias 
e das noites. As estações. Cartas geographicas - Escalas. Unidades de 
extensão linear e de superficie. 
GEOGRAPHIA PHYSICA (6 lições): Nomenclatura geographica - 
Denominação das formas da Terra. Elementos solido, liquido, gazoso. 
Os continentes e os Mares - Typos de relevo. Relações entre relevo e 
as costas. Hidrographia: elementos de comparação. - Classificação dos 
mares - Os oceanos - As correntes oceanicas, sua disposição geral. - 
Mar de sargaço. - Estudo sumario do Atlantico. - O Gulf Stream. A 
Atmosphera - Noções sobre a temperatura, os ventos, as chuvas. 
Climas. Os Continentes comparados entre si. - Analogias e contrastes, 
baseados na geographia physica. Recursos mineraes do globo. Flora. - 
Fauna.  
GEOGRAPHIA POLITICA (6 lições): Definições - O conceito da 
geographia humana, social, ou politica. A geographia economica. 
Raças. - Linguas - Religiões - Classificação e distribuição geographica. 
Formas sociaes. - Civilização: seus elementos, seus estágios 
evolucionarios. - Instituições sociaes: o Estado, suas modalidades. Os 
grupos humanos - Migrações: causas e resultados. - A colonização. - 
Formação das cidades. Actividade economica - Criação - Agricultura - 
Industria - Transporte - Commercio - O “factor geographico”.  
GEOGRAPHIA GERAL DOS CONTINENTES (18 lições): Estudo ou 
descripção geral de cada continente na ordem seguinte: Posição, 
limites e dimensões - Aspecto geral do relevo e do litoral - Typos de 
climas - Hydrographia - Vegetação e animaes caracteristicos - 
Populações - Divisão politica - Os recursos economicos. 
GEOGRAPHIA REGIONAL (40 lições): Estudo ou descrição geral de 
cada região, na ordem seguinte: Situação, limites, superficie. - Aspecto 
geral do relevo - Litoral - Clima - Hydrographia - Vegetação - População 
e principaes cidades - Governo - Recursos economicos. 
REGIÕES NORTE-AMERICANAS : America do Norte (Regiões 
polares. Canadá, Estados Unidos). Indias Occidentaes (Mexico, 
America Central, Antilhas). 
REGIÕES SUL-AMERICANAS: Estados Septentrionais (Colombia, 
Venezuela, as Guianas). Estados do Pacífico (Equador, Perú, Bolivia, 
Chile). Estados do Prata (Argentina, Uruguai, Paraguai). 
REGIÕES DA EUROPA: Europa Occidental (Grã Bretanha, França, 
Belgica, Hollanda). Europa Meridional (Portugal, Espanha, Italia, os 
Balkans). Europa Central (Allemanha, Austria, Suissa, 
Tchecoslovaquia, Hungria, Rumania). Europa Occidental e 
Septentrional (Russia, Polonia, Estados Balticos, Finlandia, Suecia, 
Noruega, Dinamarca e Islandia). 
REGIÕES DA ASIA: Asia Oriental (China e Japão). Asia Meridional 
(Indo-China, Indostão e dependencias). Asia Occidental (Persia, 
Arabia, Turquia, Syria, Palestina). Asia Septentrional (Siberia e mais 
 dominios da Russia). Insulindia (Malasia, as Filippinas). 
REGIÕES DA OCEANIA: Australasia (Australia e Tasmania, Nova 
Zelandia). 
Terras Oceanicas (Melanesia e Micronesia). 
REGIÕES DA AFRICA: Africa do Norte (Egypto e Sudão, Libia, Argelia 
e Tunisia, Marrocos). Africa Occidental e Equatorial (regiões francezas, 
espanholas, inglezas, portuguesas e região belga; as ilhas oceanicas; 
Libéria). 
Africa Oriental (Abissinia; regiões italianas, francezas, britannicas e 
portuguezas). Africa do Sul (regiões portuguezas e britannicas). Ilhas 
africanas do Oceano Indico. No “estudo”ou “descripção geral”, o 
professor examinará os elementos geographicos geraes aplicados à 
região considerada. Além disso, em cada região, fará pelo menos um 
“estudo especial”, examinando um aspecto interessante e proprio da 
região. As aulas serão sempre dadas com o auxilio de cartas, e 
numerosos deverão ser os exercicios de leitura das mesmas e de 
esboço cartographicos e do mappa mudo, emprestando assim, ao 
ensino um cunho pratico. 
Geografia 
(Corografia 
do Brasil) 
2º ano 
COROGRAFIA DO BRASIL - PARTE GERAL (40 lições): Situação 
geographica - Aspecto geral - Area e pontos extremos - A posição do 
Brasil no Continente Sul-Americano; dados comparativos. Fronteiras 
terrestres - Typos de fronteiras. Historico summario de sua formação. 
Linhas convencionaes, demarcadas e a demarcar - Esboço 
geographico: Uruguai, a lagoa Mirim; Argentina, o territorio das 
“Missões”; Paraguay; Bolivia; o Acre; Perú; Colombia; Venezuela; as 
Guianas - os arbitramentos; a obra de Rio Branco. Relevo - Aspecto 
geologico - Classificação por systemas orographicos - Massiço 
Atlantico (Serra do Mar, Serra Geral, Mantiqueira). Massiço Central 
(Systema Goiano, Systema Mattogrossense) - Massiço Nortista - 
Massiço Guianense. Estudo especial da Serra do Mar e da Mantiqueira 
- Formação, orientação, altitudes, gargantas e passos. Planaltos e 
planicies - Relações geographicas e intercomunicações entre as bacias 
fluviaes. Litoral - Morphologia: aspectos e relações geographicas com o 
relevo - Typos de costas - Mangues, recifes, barreiras, lagoas 
costeiras, dunas - Elevação do litoral; os sambaquis. O Atlantico do Sul 
- Relevo - Correntes, marés - Ilhas Oceanicas. Discripção do litoral - 
Litoral septentrional: o archipelago amazonico - Litoral oriental: a Bahia 
- Litoral meridional: bahias de Guanabara, Paranaguá: cabos e ilhas - A 
costa do Rio Grande do Sul. Clima - Posição astronomica do Brasil - 
Latitude e altitude - Distribuição das temperaturas, dos ventos e das 
chuvas - Typos de climas: super-humido, semi-árido e semi-humido; de 
planicie e de altitude - Exemplos especiaes: Pará, Recife, Rio de 
Janeiro e São Paulo. Salubridade e colonização - Importancia dos 
serviços meteorologicos para a agricultura. 
Hydrografia - Os grandes centros de dispersão de aguas - Vertentes - 
Rios do planalto e de planicie - Dados comparativos - Os lagos e 
regiões lacustres. Bacias Hydrographicas: Amazonas, regimen, curso e 
delta - Rios temporarios do Nordeste - Vertente oriental dos planaltos, 
estudo especial do São Francisco - O Parahiba e seus afluentes - Rios 
meridionais. Recursos naturaes - Mineração: ouro, ferro, manganez, 
carvão, pedras preciosas - Distribuição geographica. Vegetação - 
Zonas principaes - Mattas e campos, caatingas, pantanaes. 
Producções do reino animal. População - Esboço ethnographico - 
Grupos indigenas antigos e actuaes - Linguas e religiões - O elemento 
europeu na população - Recenseamento do Brasil - Os grandes 
centros urbanos. Os Estados: Limites, área, população e cidades 
principaes. Divisão administrativa da Republica - O Governo - 
 Instrucção pública - O Districto Federal. Economia Nacional - 
Condições geraes - As terras e a prosperidade - Agricultura, productos 
tropicaes: café, cacáo, algodão, assucar - Os cereaes: milho, trigo, 
arroz - Zonas de producção - Criação de gado; frigoríficos - Industrias 
extrativas: mineração, borracha, madeira, mate, carnaúba, castanha - 
Industria manufactureira - Fabricas do Brasil - Exposições. 
Apparelhamento economico - Viação, navegação e portos - Telegrapho                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              
- Finanças - Os grandes troncos ferroviarios. Commercio exterior - o 
seu desenvolvimento. Artigos de exportação.  
PARTE REGIONAL (40 lições): As regiões naturaes do Brasil - Divisão 
Regional do paiz - Bases geographicas racionais desta divisão - 
Distribuição dos Estados. I - BRASIL SPTENTRIONAL OU 
AMAZONICO (Estados do Pará e Amazonas, territorio do Acre). 
Descripção geral: Posição, extensão, aspecto physico, hydrographia - 
Vegetação e recursos naturaes - Cidades principaes. Descripção 
especial: o rio Amazonas como rede de viação e caminho de 
penetração - A pesca fluvial e recursos economicos da Amazônia - A 
questão da borracha - Os campos de criação - Os portos de Manáos e 
Belém. II-  BRASIL NORTE-ORIENTAL (Estados do Maranhão, Piauhi, 
Rio Grande do Norte, Parahiba, Pernambuco e Alagoas). Descripção 
geral: Posição, extensão, aspecto physico, litoral - A zona semi-arida - 
Recursos naturaes - Cidade. Descripção especial: O nordeste, primeira 
colonização, dominios estrangeiros, formação das unidades politicas - 
Zonas de criação e zonas agricolas - A lucta contra as seccas; grandes 
açudes - O Maranhão, como região de transição entre a Amazonia e o 
Nordeste - A emigração cearense - As salinas do Rio Grande do Norte 
- O porto de Recife. III-  BRASIL ORIENTAL (Estados de Sergipe, 
Bahia, Minas, Espirito Santo e Rio de Janeiro; o Districto Federal). 
Descripção geral: Posição, extensão, sub-regiões naturaes: litoral, 
serra e planalto - Climas - Rios - Os recursos economicos - Cidades. 
Descripção especial: Bahia, a antiga metropole e os bandeirantes 
bahianos - O caminho das minas - Historia do Rio de Janeiro - Minas 
Geraes, provincia e Estado - Os periodos economicos: periodo da 
mineração, periodo cafeeiro; a evolução actual para a polycultura - Os 
climas: typos de climas de montanhas, cidades de verão e cidades 
d’agua - A Bahia: café, cacáo, couros, fumo, borracha - Minas: reservas 
de ferro, manganez e pedras: o gado - O porto do Rio de Janeiro - A 
Capital da Republica centro economico, social, politico e intellectual. 
IV- BRASIL MERIDIONAL (Estados de São Paulo, Paraná, Santa 
Catharina, Rio Grande do Sul). Descripção geral: Posição, extensão, 
sub-regiões naturaes: litoral, serra, planalto e planicie rio-grandense. 
Climas, rios, recursos naturaes, população, cidades. Descripção 
especial: S. Paulo, centro historico da colonização sul - Historia do Rio 
Grande do Sul - A terra roxa e o café: colonização, os Estados do Sul e 
a evolução para a polycultura - A criação do gado e os frigoríficos - 
Industria manufatureira em S.Paulo - As mattas do Paraná - O matte e 
os mercados sul-americanos - O Rio Grande: a região serrana, colonial 
e agricola; a região da campanha, criadora - Rêdes ferroviarias do sul e 
portos - Santos, emporio mundial do café - Os mercados estrangeiros, 
a importação americana - A barra do Rio Grande - O Porto das Torres. 
V- BRASIL CENTRAL (Estados de Matto Grosso e Goiaz). Descripção 
geral e especial: O Relevo - A hydrographia - A penetração do interior; 
fundação de Goiaz - O acesso de Matto Grosso por via fluvial e por via 
ferrea: a “Noroeste” - Principaes centros e recursos economicos. 
Durante o anno, o professor fará exercicios de esboços cartographicos 
e de mappa mudo. 
A descripção “especial” consta de themas que servirão de assumpto às 
prelecções do professor, procurando este apontar os aspectos mais 
interessantes e próprios de cada região do Brasil. 
 - 3º ano  
- 4º ano  
Cosmografia 5º ano 
Introducção - Revisão das principaes noções de geographia 
astronomica elementar, já ministradas no curso no curso de geographia 
(1º anno) e indispensaveis para a comprehensão da materia cujo 
estudo se vae iniciar. Objetivo e definição da Astronomia e da 
Cosmografia, suas divisões. Céo, esphera celeste. Universo e mundo. 
Astros, sua classificação summaria. Distancias angulares e diametro 
apparente. Movimento diurno apparente dos astros, suas leis. Pontos, 
linhas e circulos da esphera celeste. Coordenadas astronomicas: 
horizonte, equatoriaes e eclipticas. Theodolito. Luneta meridiana. 
Relogio sideral. Estrellas e constellações. O Sol: constituição, 
movimentos. Systemas planetarios, systema solar. Leis de Kepler, 
Newton e Bode. Estudo summario dos planetas e de seus satelites. 
Cometas. Estudo particular da Terra: forma, posição no espaço, 
dimensões. Pontos, linhas, circulos e zonas da Terra. Pontos do 
horizonte. Orientação. Bussola. Coordenadas geographicas. Principaes 
movimentos da Terra. Consequência dos movimentos da Terra e da 
inclinação do eixo. Meteoros cosmicos. Lua: Forma, constituição, 
movimentos, phases. Eclipses, occultações, passagens. Marés. Medida 
de tempo. Calendarios. Cómputo ecclesiastico. Methodos de 
observação astronomica. Revisão dos principaes instrumentos. 
Observatorios, annuarios, ephemerides. Correcções na observação 
astronomica: depressão, refracção, parallaxe, semi-diametro. Cartas e 
globos terrestres e celestes. Projecções e desenvolvimento. Problemas 
fundamentaes da astronomia: indicação dos methodos para 
determinação das coordenadas terrestres de um logar, da posição dos 
astros e da hora. Noções de historia da astronomia. Principaes 
hypoteses cosmogonicas.  
- 6º ano  
Fonte: Issler (1973). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
Quando, em 1930, ruiu a Primeira República e com ela muitas instituições 
tradicionais, o Brasil viveu um dos períodos de maior radicalização política de sua 
história (AZEVEDO, 1963). A Reforma Francisco Campos ocorreu sobre o fim da 
República Velha, em 1930; assim, teve-se o Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 
1931, antecedido e seguido de uma série de decretos complementares. Com ela de 
fato se procurou constituir no Brasil um fortalecimento do currículo adicionado com 
um quadro técnico e administrativo como suporte. É nesse momento que os cursos 
preparatórios são abandonados, encerrando mais de um século de aulas avulsas. O 
ensino secundário foi organizado em cinco anos, com predomínio dos estudos 
científicos sobre os estudos clássicos. À Reforma Francisco Campos faltou um 
equilíbrio com os outros níveis de ensino e, sobretudo, professores para sua plena 
implementação, sendo que o corpo docente existente teve dificuldades para lidar 
com os currículos enciclopédicos dispostos. 
   Em 1924, criou-se a Associação Brasileira de Educação, que realizou 
diversas conferências importantes para repensar a educação brasileira. Será 
lançado no bojo dessas discussões, em março de 1931, o "Manifesto dos Pioneiros", 
influente, inclusive, nas legislações educacionais que viriam. O vértice desses 
debates era o rompimento do isolamento da educação, procurando-a atrair para o 
contexto das necessidades e interesses sociais, para diluir nas práticas e políticas 
da educação o princípio da escola pública, leiga, obrigatória e gratuita, comum aos 
dois sexos e em regime de co-educação. A principal clivagem dessa proposta foi 
afastar a rede de ensino dos interesses das classes sociais mais privilegiadas, 
atuando como agente organizador da sociedade. 
Francisco Campos, Ministro da Educação e Saúde, impôs a Reforma do 
Ensino Secundário, cuja marca foi uma atribuição generalizada da responsabilidade 
do Estado sobre esse nível, inclusive com uma oficialização de fato da equiparação 
de todos os estabelecimentos públicos e privados ao padrão do Colégio Pedro II, 
nivelando a ele as instituições estaduais e uniformizando os estabelecimentos 
privados, que haviam crescido muito na ausência de uma oferta de ensino público. A 
lei consolidou definitivamente o ensino seriado, implementou um sistema federal de 
regulamentação e fiscalização para as instituições, comprometendo a União com o 
seu desempenho. Ao propor perspectivas para o ensino técnico e do magistério, 
rompeu com a função sempre prevalente, até então, do ensino secundário como 
preparatório para o ensino superior. Em definitivo, encerrou a questão dos exames 
preparatórios, como antes apenas a Reforma Rivadávia conseguira certo êxito: em 
vez de uma certificação do ensino secundário, propôs uma prova mais rigorosa, 
aliada à oferta das disciplinas do secundário, denominada “exames de madureza”. A 
reforma Campos propôs que o acesso ao ensino superior fosse feito somente 
mediante o cumprimento completo da seriação secundária, ou seu equivalente, 
atribuindo-se a esse ciclo não somente a preparação para o ingresso nas 
faculdades, mas também como um fim em si que fosse capaz de dar formação ao 
estudante (RIBEIRO, 2001). 
A Reforma Francisco Campos procurou homogeneizar os currículos. Para 
isso, negociou com as instituições católicas, introduzindo o ensino religioso como 
proposta curricular, em contracorrente ao caráter laico que o currículo republicano 
propôs e defendeu até então, uma vez que a Igreja atribuía a si a responsabilidade 
 exclusiva pela educação moral da sociedade brasileira, como forma de um esforço 
patriota de sua parte na conformação da pureza dos costumes (MOURA, 2000). As 
instituições privadas, sobretudo as confessionais, até esse tempo, tinham uma força 
autônoma por não dependerem do Estado, ao passo que este não as 
supervisionavam. 
Na proposição do quadro curricular da Reforma Francisco Campos, 
realizada pelo Decreto nº 19.890/1931 e consolidada pelo Decreto nº 21.241/1932, o 
ensino secundário dividiu-se em um curso fundamental em cinco séries, nas quais 
constava a Geografia em todas, e um curso complementar de dois anos, também se 
fazendo presente a Geografia acrescida da Cosmografia (Quadro 30). 
 
QUADRO 30 – Constituição da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundário, de 
acordo com o Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, Reforma Francisco Campos. 
    
1931 
Decreto nº 19.890, de 18 de abril de 1931, Art. 2º, 3º, 
Reforma Francisco Campos 
S
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Ensino Secundário: Curso Fundamental 
1ª série Geografia 
2ª série Geografia 
3ª série Geografia 
4ª série Geografia 
5ª série Geografia 
Ensino Secundário: Curso Complementar 
1ª série Geografia e Cosmografia 
2ª série Geografia e Cosmografia 
Ensino Secundário: Curso Complementar 
(ingresso nos cursos jurídicos) 
1ª série - 
2ª série Geografia 
Ensino Secundário: Curso Complementar 
(ingresso nos cursos de engenharia e arquiterura) 
1ª série Cosmografia 
2ª série - 
    
Fonte: Brasil (1931). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
Quanto ao curso complementar, seria escolha do aluno ingressar em outros 
dois cursos possíveis, um curso preparatório para ingresso nos cursos jurídicos e 
outro para ingresso nos cursos de engenharia e arquitetura. Para os cursos jurídicos 
a Geografia constava como disciplina na segunda série; para as engenharias e 
arquitetura se aplicaria a cosmografia na primeira série. 
 O ensino secundário, nesse momento, ensaiava os passos que trilharia na 
direção do modelo que seria prevalecente até os dias atuais – criando-se um curso 
intermediário entre o ensino primário e o secundário propriamente dito, o ginásio – 
modelo esse que já estaria em vigência a partir da década de 1940. Na vigência do 
Estado Novo, após o primário, o ensino organizava-se com um 1º ciclo, chamado 
ginasial, de quatro anos, seguido de um curso clássico ou de um curso científico, 
com três séries, em todos constando o ensino de uma Geografia Geral e de uma 
Geografia do Brasil. 
O currículo em vigência nesse período (Quadros 31 e 32) diferencia-se de 
todos os anteriores. Apesar de ter, ainda, heranças claras da Geografia descritiva 
(como a Cosmografia – que mais tarde seria apenas um dos temas internos à 
Geografia escolar), organizando-se na tríade Cosmografia, Geografia Física e 
Geografia Política, mas co-habitando com a Geografia Humana, é sensível sua 
atualização em termos teórico-metodológicos. À descrição sobrepõe-se a explicação 
como processo: “formação de cidades”, “influência do meio sobre a distribuição da 
vida do Globo”, “demonstração da ação das águas sobre o modelado”. A 
Biogeografia, a Geografia comparada, conceitos como “zonas fisiográficas” ou 
hidrosfera são contribuições presentes da Geografia moderna científica. 
O Brasil passa a ser estudado por regiões. Nos livros do período, a função 
nacional-patriótica, dada as condições políticas instituídas pelo Estado Novo, vai 
encontrar um ambiente de ampliação desse uso. Conforme Proença, (1928, p. 22), 
 
Todas as nações cuidam seriamente do ensino da geographia nacional. O 
fim immediato é sempre o mesmo - a cultura do sentimento de patriotismo.  
Cada uma, porém, visa um objectivo remoto, segundo o qual se faz a 
orientação do ensino.  Esta é porque tem as suas fronteiras ameaçadas, 
aquella é porque pensa numa reivindicação, aquellóutra é porque sente 
necessidade de expansão de seu território. [...] Nós tambem temos o nosso 
ponto de vista.  Paiz enorme como é o Brazil e sem facilidade de 
communicações, as suas populações se desconhecem.  O Norte não sabe o 
que é o Sul e o Sul ignora o que é o centro.  Além disto é grande, e por toda 
parte, o numero de brasileiros novos, que não podem deixar de soffrer a 
influencia dos pais para a continuação da propria nacionalidade.  A nossa 
obra, portanto, é de unificação do sentimento nacional pelo conhecimento 
de todo o territorio e de todo o povo brasileiro pelos brasileiros. 
 
 
 
 
 QUADRO 31 – Programa de Geografia na vigência da Reforma Francisco Campos (1931-
1937) para o Curso Fundamental. 
Disciplina Ano/Série 
Conteúdos 
Ensino Secundário: Curso Fundamental 
Geografia 1º série 
I - Prolegômenos: Sistema Solar, a Terra no Espaço, a lua, 
constelações, coordenadas, fusos, estações, etc. 
II - Geografia Física: Estrutura da Terra, distribuição das terras e 
mares. 
O elemento sólido, elementos líquidos, elementos gazozos.  
Litorais e tipos de costas, dunas, relações. 
A vida animal e vegetal sobre o globo. 
III -  Práticas de Geografia: Demonstração e experiências com o 
telúrio e o pêndulo de Foucault.  Processos de orientação, 
determinação de latitude, longitude, hora legal, escalas. 
Leituras de cartas. 
Geografia 2º série 
I - Geografia Geral dos Continentes: posição, limites, dimensões 
comparadas, relevo, climas, etc. Descrição sumária de cada 
continente com as divisões naturais. 
II - Geografia Física do Brasil: situação, aspectos, dimensões, 
fronteiras, relevo, classificação dos sistemas e maciços, litoral, 
clima, etc. 
III - Práticas de geografia: experiencias sobre formas do relevo, 
formação de chuvas e demonstração da ação das águas sobre o 
modelado. 
Geografia 3º série 
I - Geografia Política e econômica: populações e raças, línguas e 
religiões, migrações e civilização, formação de cidades.  As 
capitais. Circulação e transportes. Cultivos agrícolas alimenticios e 
industriais. Criação de animais e exploração mineral. Utilização de 
fôrças naturais. 
II - Geografia Política e Econômica do Brasil: Populações, grupos 
étnicos, elemento europeu, colonização, recenceamento. Recursos 
naturais e mananciais de energia.  Condições gerais de agricultura, 
o gado, indústria extrativa. Transporte e comércio. 
Geografia 4º série 
I - Geografia dos principais Países: estudo espacial de cada uma 
das seguintes potências, nas suas feições físicas e políticas 
particulares, salientando os principais problemas sociais ou 
econômicos: Inglaterra e o Império Britânico, a Alemanha e a 
Europa Central, França e colônias, Itália e Adriático, peninsula 
Ibérica, Repúblicas Russas, Japão, China, Estados Unidos e 
Argentina. 
II - Geografia Regional do Brasil: Descrição física e política de cada 
uma das regiões naturais do país.  Estudo dos principais 
problemas sociais e econômicos da atualidade e da evolução 
econômica das regiões naturais: Brasil setentrional, Brasil Norte-
Oriental, Brasil Oriental, Brasil Meridional, Brasil Central. 
Geografia 5º série 
I - Elementos de Cosmografia: Sistema Solar, planetas, cometas, 
etc. 
II - Meteorologia e climas: Atmosfera, composição, ventos, 
temperatura do ar, médias térmicas, umidade, precipitações, climas 
da Terra, classificações dos principais tipos . Climas do Brasil. 
III - O elemento sólido: a crosta terrestre, relevo do solo, erosão e 
tectônica, erosão fluvial e seu cíclo, formação de vales, tipos de 
planaltos e planícies, influências das rochas sobre a topografia. 
Relêvo vulcânico, desértico, costas e recifes. 
IV - O elemento líquido: Oceanos e mares, relevo submarino, água 
do mar, salinidade, correntes, vagas, ressacas. Lagos, águas 
correntes, escoamento fluvial, ciclo vital dos rios, tipos de regimes. 
Estudo de rios brasileiros. 
V - Elementos de Biogeografia: Influência do meio sobre a 
distribuição da vida do Globo: as plantas, animais e Homem. 
 Distribuição e tipos de vegetais. Distribuição dos animais, fauna 
terrestre e condições de vida do Homem nos diferentes meios. 
VI - Geografia Comparada da América: Estrutura, relêvo, litorais, 
vegetais, recursos naturais, zonas fisiográficas, etnografia, etc. 
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
QUADRO 32 – Programa de Geografia na vigência da Reforma Francisco Campos (1931-
1937) para o curso secundário. 
Disciplina Ano/Série 
Conteúdos 
Ensino Secundário: Ginasial (1º Ciclo) 
Geografia 
Geral 
1º série 
A Terra no espaço, estrutura da Terra, os grupos humanos, a 
circulação, a agricultura e a pecuaria, industria e comércio. 
Geografia 
Geral 
2º série 
Geografia Geral, Físca, Humana, Política e Econômica dos 
continentes. 
Geografia 
do Brasil 
3º série Geografia Física e Humana do Brasil 
Geografia 
Brasil 
4º série Geografia Regional do Brasil. 
Ensino Secundário: Colegial – Clássico ou Científico (2º Ciclo) 
Geografia 
Geral 
1º série 
A ciência geográfica, a Terra no espaço, atmosfera, a hidrosfera, 
o relevo. 
Geografia 
Geral 
2º série 
América Meridional e Setentrional, Comunidade Britânica, o 
Continente Europeu, a China e o Japão, Indostão, Persia, Ásia 
Menor, Egito. 
Geografia 
do Brasil 
3º série 
Posição geográfica do Brasil, Fronteiras, Fisiografia do Brasil, 
Desenvolvimento econômico, Circulação e Comércio. 
Fonte: Haidar (1972). 
Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
 
5.2 A constituição da bibliografia didática de Geografia no período republicano 
 
Em um sentido epistemológico, a entrada do período republicano marcou-se 
por movimentos de transição para o saber geográfico escolar, a partir da primeira 
década do século XX. A Geografia descritiva ainda era ativa e seria por muitos anos, 
continuando a serem reeditados livros dos anos 1880, 1890, bem como surgindo 
novas edições com a mesma proposta e abordagem geográfica que instituía a 
tradição da bibliografia até então. 
Todavia, um paulatino processo de substituição estava em andamento. A 
ciência geográfica tendia a não ser mais a mesma dos antigos tratados e dicionários. 
A Corografia Brasílica, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, bem 
como os próprios manuais da Geografia, utilizados como fontes, referências do 
 ensino de Geografia, continuariam essa tradição, mas o século XX apresentaria 
outras perspectivas geográficas para se superar essa reprodução – as descrições e 
as nomenclaturas topográficas. Inovações na bibliografia poderão ser aferidas, 
iniciamente, a partir das obras de Manuel Said Ali, Miguel Delgado de Carvalho e 
Fernando de Raja Gabaglia, as quais influenciaram não só o modo de ser da 
Geografia brasileira, mas anteciparam e reorganizaram o rumo da Geografia escolar, 
que teriam em Aroldo de Azevedo e em Mario da Veiga Cabral, dentre outros, os 
expoentes de sucesso e de estabelecimento de outro padrão geográfico. 
 
 
5.2.1  A bibliografia didática de Geografia na República 
 
Observando o Gráfico 01, apresentado no capítulo 02, vê-se que a 
bibliografia didática, após os anos 1880, tem um decréscimo em sua produção até a 
primeira década do século XX, voltando a ascender nos anos 1910 e atingindo seu 
pico na década de 1930, considerando-se o período em análise. Essa curva delineia 
as transformações pelas quais a bibliografia passou nesses anos. Com o novo 
regime político, ideias que estavam em discussão há alguns anos encontrarão 
ambiente para sua inserção, como demonstrado nas legislações orgânicas para 
reorganizar, em especial, o ensino secundário: o positivismo, o método intuitivo, a 
orientação moderna da Geografia, mais tarde. A Geografia descritiva seria abalada 
por essas novas propostas, como abordado acima, alterando o modo de enunciar as 
discursividades geográficas no âmbito escolar. Apesar disso, há um período, inicial, 
de estabilidade nessa mesma Geografia descritiva: surgem poucos títulos porque 
permanecem os mesmos, anteriores. A partir da década de 1910, com auge na 
década de 1930, aparecerão muitos autores novos, com obras que superam aquelas 
dos oitocentos, em termos de qualidade e expressão geográfica. 
Dentre os livros mais significativos desse tempo, já na década de 1890, tem-
se a Geographia elementar, adaptada ás escolas publicas primarias, de Tancredo 
Leite do Amaral Coutinho, editada pela Francisco Alves e adotada pelo Conselho 
Superior da Instrucção Pública de São Paulo. O livro teve 11 edições até 1909. 
Também no princípio desta década é editada a Geographia primária: composto para 
 uso das Escolas Primárias, de Carlos Novaes, também pela Francisco Alves e com 
12 edições até os primeiros anos do século XX. Percebe-se, nesse período, fruto 
tanto da organização e logística comercial dos livros brasileiros à época, quanto da 
política de centralização e descentralização do comando político da educação, 
vestígios regionais ainda muito intensos. Nesses termos, regionalmente, destacam-
se Antônio Alexandre Borges dos Reis, com a Chorografia e historia do Brasil. 
Especialmente do Estado da Bahia, com quatro edições; Raimundo Ciríaco Alves da 
Cunha, com Geographia especial do Pará. Approvada para uso das escolas 
primarias, com duas edições. Há também Noções geographicas e historicas do 
estado de Pernambuco. Compendio Adoptado pelo Conselho litterario, para uso das 
Escolas Primárias do Estado de Pernambuco, de R. T. Espírito Santo, com seis 
edições; Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noções de historia do 
mesmo estado, de Francisco Lentz Araújo, este editado pela Francisco Alves, 
Chorographia do estado de Sergipe. Aprovada pelo Conselho Superior de Instrução 
e mandada adotar nas escolas públicas, de Luís Carlos da Silva Lisboa, O Rio 
Grande do Sul para as escolas, de J. Pinto Guimarães, Geographia do Estado do 
Rio Grande do Sul, de Henrique Martins. As obras regionais desse final de século 
geralmente são iniciativas de seus autores, sendo editadas em tipografias locais. 
Nesta década, continuam ativos autores dos tempos imperiais, como Alfredo Moreira 
Pinto, com sua Chorographia do Brasil. Para uso dos gymnasios e escolas normaes, 
editado pela Francisco Alves e com Elementos de cosmographia.  
Na passagem do século XIX para o XX, nota-se, em primeiro lugar, uma 
forte atuação das casas publicadoras comerciais, sobretudo a Francisco Alves, que 
exploram obras destinadas para o ensino primário, cujo público apresentava maior 
clientela e, de certa forma, sem as amarras que o ensino secundário sofria com a 
supervisão direta do Estado, e sob forte influência do Colégio Pedro II e dos seus 
colegiados; as geografia gerais estão completamente nesse domínio, sendo comum 
que os autores enfatizem a concordância com os esquadros curriculares sugeridos 
nessa instância, maneira usual para estabelecer suas obras no mercado: são 
frequentes, assim, as obras destacarem essa concordância: “De accôrdo com o 
programma do Gymnasio Nacional” (BITTENCOURT, 1908), “Organizadas conforme 
o programma dos gymnasios” (SCROSOPPI, 1908), “De accordo com o programma 
do Gymmasio Nacional e da Escola Normal” (BITTENCOURT, 1909). Outro 
 destaque são os manuais didáticos que tematizam a Geografia nacional, tendência 
que se acentuaria até o fim do período em análise. Em princípios do novo século, 
Elysio de Araújo publica Geographia elementar, pela Francisco Alves, que terá sete 
edições até o fim da década de 1920. Em 1901, Arthur Thiré publica sua Geographia 
elementar. Compediada para uso das escolas primarias, obra que apresentou 
importantes progressos gráficos, como analisei anteriormente. Em 1905, surge um 
autor relevante, Horacio Scrosoppi, com o Curso elementar de Geographia Geral e 
Lições de Chorographia do Brasil, de 1908, e editado até fins dos anos 1920; depois 
publicaria Lições de Chorographia do Brasil (1908, cinco edições), Curso superior de 
Geographia geral (dez edições). É desse mesmo ano a Geografia de Said Ali, 
analisada adiante – marco na renovação teórico-metodológica da bibliografia 
didática desta disciplina. Ainda nessa primeira década igualmente surge Carlos 
Novaes, com sua Geographia secundária, reeditada até a década de 1930, e que 
publicaria ainda Geographia especial ou chorographia do Brazil (1912) e o Curso de 
Geographia geral (1926), destacando-se também a obra de Feliciano Pinheiro 
Bittencourt, Compendio de corographia do Brasil, publicado em 1909 e reeditado até 
1925. 
O destaque na década seguinte é a obra pioneira de Delgado de Carvalho, 
Geographia do Brasil. Tomo I. Geographia Geral (1913), obra que não teve a 
representação comercial de muitos outros autores contemporâneos, mas que se 
destacou pelas transformações históricas e teórico-metodológicas que introduziu 
com a “orientação moderna”. Geographia do Brasil. Volume II (1927), então adotado 
no Collegio Pedro II, ambos unificados na Geographia do Brasil a partir da quarta 
edição, de 1928. O autor publicaria, anos depois, Geographia elementar (1923), 
Chorographia do Districto Federal (1926) e Geographia humana, política e 
econômica (1933). Posteriormente escreveu outras obras. 
Em 1916, surge Mario da Veiga Cabral, com Chorografia do Brasil, obra 
editada até 1957, totalizando 31 edições. Ao lado de Aroldo de Azevedo, que publica 
Geographia humana e Geographia geral para a primeira serie ginasial, em 1934, 
Cabral foi um dos expoentes do livro didático de Geografia, autores, ambos, de 
significativo volume de vendas e influência do ensino até o terceiro lustre do século 
XX. No período enfocado pela pesquisa, Cabral publica ainda A Europa actual 
(1923), Chorographia do Districto Federal (1923, editado até 1967), Nossa pátria. 
 Noções de chorographia do Brasil para uso das escolas (1924). Aroldo de Azevedo, 
na década de 1930 publica ainda Geographia, Geographia: para a segunda série 
secundária, Geographia: para a terceira serie secundaria, Geographia: para a quarta 
série secundária, Geographia: para a quinta série secundária, e encerra essa 
década publicando Geographia: para o curso comercial (1939). Na década de 1930, 
quando o ensino estabiliza-se em determinado número de série, como visto 
anteriormente, Aroldo de Azevedo e seus editores tiveram o tino de seriar as obras 
em volumes diferentes, padrão que seria comum daí em diante. Em vez de um 
determinado curso adotar um único volume ou recorrer a volumes de outros autores, 
com essa medida tinha-se todo o conteúdo do currículo contemplado com a obra 
seriada de um mesmo autor. 
Observa-se que o início da década de 1930 foi um freio para as antigas 
geografias descritivas. Nesse momento não mais são editados Joaquim Maria de 
Lacerda, Alfredo Moreira Pinto, Henrique Martins, F.I.C., Estácio de Menezes e 
outros: estes, nos primeiros vinte anos do novo século, foram sendo deixados para 
trás, sumindo suas obras da oferta didática. E isso não se dava só pelo 
desaparecimento do autor, mas pela qualidade das obras, haja vista que os editores 
sempre tiveram meios para substituir o autor em função da longevidade dos 
conteúdos, como é típico o caso do Abbade Gaultier, F.I.C. e Joaquim Maria de 
Lacerda. A década de 1920, por conseguinte, tornou-se o início de uma ponte 
transicionando modos de ser da bibligrafia didática de Geografia. Autores que 
insistiam na Geografia descritiva não foram muito longe, tendo edições únicas ou 
com poucas reedições, como Themistocles Sávio, com o Curso Elementar de 
Geographia, de 1908, ou Geographia elementar: para as escolas primarias, de M. 
Albuquerque Filho, de 1914. Para continuar em atividade nessa transição, o autor 
teria que fazer constantes adaptações, a exemplo de A. G. Lima que, publicando 
suas Noções de Geographia. Curso complementar. I parte. Rio Grande do Sul em 
1911, reedita-a até fins da década de 1930. 
 
 
 
 
 5.2.2 A contribuição de Said Ali: o siginificado da sua proposta de 
regionalização 
 
Manuel Said Ali Ida (1861-1953) foi professor de Geografia, embora tenha 
sido lembrado principalmente por ter sido um dos introdutores dos estudos 
linguísticos no Brasil. Acima de sua atuação profissional, sobressai-se a formação 
científica que detinha, o que o fez bem posicionado sobre os fundamentos 
epistemológicos e metodológicos que se discutiam na Europa, sobretudo quanto ao 
método histórico-comparativo e ao desempenho deste nos estudos linguísticos 
(SILVA, 2006). Não lhe era desconhecido, igualmente, as discussões que 
embalavam a Geografia científica: os “progressos geographicos” estavam, a seu ver, 
“não só obras de larga envergadura, mas tambem em preciosos livros collegiaes” 
(ALI, 1905, p. III). Reconhecia que a Geografia escolar tinha sua importância e lugar, 
mas não necessariamente como a tradição a colocava nos bancos escolares 
brasileiros. Para o autor, a educação geográfica era “[...] um conhecimento hoje tão 
imprescindível como a mathematica e as sciencias naturaes, quer para os cursos 
acadêmicos, quer para as necessidades praticas da vida” (ALI, 1905, p. V). 
Para essa Geografia escolar, identificou uma falha importante, da qual fez 
uma crítica e uma contribuição fundamental: a importância e utilidade dos saberes 
geográficos não se sustentariam com manuais que “[...] pretendendo descrever a 
superficie do globo, esquarteje e retalhe a crosta terrestre, para poder limitar-se a 
um catalogo ou amontoamento de nomes geográficos, qual e qual mais arrevezado, 
em determinados grupos artificiaes” (ALI, 1905, p. III); age, portanto, diretamente 
sobre a fragmentação do saber, responsável em grande medida pela forma de se 
ensinar e aprender a Geografia escolar. 
Assim, para Said Ali, o método de abordagem do espaço geográfico, em 
específico o brasileiro, levava a problemas de expressão desse saber, à 
quantificação sem nexo, acarretando um ensino desconexo e exaustivo. 
Nesses termos, sua proposição era a de que o aprendizado geográfico 
tivesse uma abordagem que permitisse ao estudante isolar-se dessa fragmentação, 
podendo “[...] fixar na memoria, não os objetos isoladamente, porem, em cada lição, 
a imagem de um todo pelos seus traços mais característicos” (ALI, 1905, p. III). 
Inspirado em Alexander Georg Supan (1847-1920), geógrafo austríaco, observa que 
 este autor, especificamente em um livro escolar de sua produção, “[...] em vez das 
tradicionaes enumerações, vemos esboçados [na obra] quadros plasticos dos paizes 
e seus habitantes, habilitando o espírito do estudante a comprehender a evolução da 
historia (nas suas relações com a geographia) e bem assim as actuaes condições 
politicas e economicas dos povos” (ALI, 1905, p. III). 
Com estas bases, Said Ali propôs uma nova organização do território 
nacional, na forma de regiões, agrupando o traçado dos estados federativos da 
República sob o critério da atividade econômica e outras condições territoriais, ao 
que denominou “zonas geográficas”. Distinguiu as seguintes zonas geográficas: 
Brasil Central ou Ocidental, Brasil Setentrional, Brasil de Nordeste, Brasil Oriental e 
Brasil Meridional. Essa inovação foi aplicada e publicada na obra Compêndio de 
Geografia Elementar, editada em 1905. De edição única, é de se crer que a obra 
tenha tido pouca circulação. No entanto, revelou-se uma obra de inestimável valor, 
pois foi endossada, posteriormente, por Delgado de Carvalho e outros autores 
didáticos, estando, inclusive, na raiz da divisão regional proposta anos mais tarde 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: Sudoeste, Norte, Sul, 
Nordeste e Centro-Oeste. A esse respeito, Silva (2006, p. 75), afirma que 
 
Se for colocado em pauta que toda a tradição geográfica anterior apenas 
visibilizava o espaço brasileiro em termos de estados costeiros (marítimos) 
e estados interiores (sertão), subdivididos em províncias, tem-se uma 
tentativa de racionalizar o enfoque metodológico da abordagem territorial, 
considerando, preliminarmente, o mover da vida social do país quando da 
entrada no século XX, e não apenas considerando o passado histórico de 
ocupação como critério da descrição geográfica. 
 
Para Vlach (2004, p. 192), essa contribuição foi um marco expoente no pensamento 
geográfico brasileiro: 
 
Cumpre destacar que a tentativa do professor M. Said Ali assinalou, em livro 
didático para o ensino secundário, não apenas sua preocupação de 
acompanhar os “progressos geográficos” que ocorriam no exterior, mas, 
fundamentalmente, representou o marco inicial de discussões de ordem 
teórico-metodológica, buscando inaugurar a geografia científica no Brasil. 
 
 
 O conceito de região, não o sendo por delimitação de fronteiras políticas, 
nunca havia sido empregado antes na bibliografia didática de Geografia. Assim 
organiza o autor essa regionalização: 
 
Se attendermos as affinidades economicas dos Estados entre si e com 
ellas conciliarmos, tanto quanto possivel, as condiljoes geographicas, 
teremos a seguinte divisao racional: 
A. – Brasil Central ou Occidental) comprehendendo as cabeceiras. dos 
tributarios amazonicos (e Tocantins-Araguaya): Mato Grosso e Goyaz. 
B. – Brasil Septentrional, ou Estados da Amazonia: Amazonas e Para. 
C. – Brasil de Nordeste. Zona a leste das duas precedentes limitada ao sul 
pelo rio S. Francisco (trecho inferior), e caracterisada pela falta de rios 
navegaveis, seccas mais ou menos periodicas e pela producão de algodão, 
assucar e gado no interior. Comprehende: Maranhao, Piauhy, Ceara, Rio 
Grande do Norte, Parahyba, Pernambuco e Alagoas. 
D. – Brasil Oriental. Regiao dos Estados productores de cafe e fumo (alem 
do assucar) e situada a leste da linha que assignala a fronteira de Goyaz 
(divisor d'aguas entre o Tocantins e a bacia do S. Francisco), e cujo 
prolongamento ao sul é o rio Paraná ate a sua confluencia com o 
Paranapanema. Comprehende os Estados: Sergipe, Bahia, Espirito-Santo, 
Minas-Geraes, Rio de Janeiro e S. Paulo. 
E. – Brasil Meridional ou região productora de mate, araucarias e cereaes: 
Paraná, Santa-Catharina e Rio Grande do Sul. (ALI, 1905, p. 136). 
 
Tratava-se, em última instância, de uma nova organização para a 
abordagem dos estados, posto que na bibliografia em geral não havia uma 
organização no tratamento das províncias/estados: geralmente se escolhia uma das 
unidades e continuava-se pela vizinhança como critério de organização, geralmente  
começando com o Amazonas, passando por todos as unidades, por ordem de 
vizinhança, encerrando com o Mato Grosso – tradição instituída por Ayres de Casal, 
e perpetuada após sua obra. Essa proposta serviu para que Said Ali tivesse um 
critério no agrupamento dos Estados em estudo, pois no mais, sua descrição pouco 
alterou em relação às abordagens descritivas. A abordagem do mundo também não 
teve nenhuma alteração em relação à tradição praticada na Geografia geral. 
Apesar de possuir um pequeno número de ilustrações, o manual de Said Ali 
não concretizou em mapa ou qualquer outra representação sua proposta, o que de 
certa forma diminuiu a visibilidade de sua sugestão. Talvez pelo mesmo motivo que 
grassou o grosso da bibliografia – o barateamento das edições, ou, mais 
provavelmente, por dificuldades técnicas e informacionais para produzir uma carta 
tão revolucionária (VLACH, 2004). 
 5.2.3  A contribuição de Delgado de Carvalho: a orientação moderna da 
Geografia e sua relação com o livro didático 
 
Carlos Miguel Delgado de Carvalho (1884-1980) foi o autor didático mais 
ousado em toda a bibliografia do período, e de perto o que teve mais condições e 
contexto para isso. Formado na França, Carvalho teve contato com a Geografia 
científica, que se organizava em torno das obras de Humboldt, Ritter, Ratzel, 
Wappaeus, Réclus. No Brasil, desde fins do século XIX, embora de forma mais 
isolada, havia pesquisadores produzindo conhecimentos geográficos também de 
orientação moderna, ou estrangeiros produzindo sobre o Brasil, os quais também 
era de conhecimento de Carvalho: “Branner, Derby, Capanema, Homem de Mello, 
Morize, Cruls, Barbosa Rodrigues, Theodoro Sampaio, Calógeras, Sylvio Romero, 
Gustavo d’Utra, Belfort Mattos, Uchôa Cavalcanti, Homero Baptista, Viveiro de 
Castro, João Ribeiro, Euclydes da Cunhas [...]”, nomes referenciados por Oliveira 
Lima (1913, p. IV) ao prefaciar a obra Geografia do Brasil. Tomo I. Geografia geral, 
publicada em 1913. 
Embora tenha passado despercebida pelos demais autores didáticos da 
época, a proposição de Said Ali não foi desconsiderada por Delgado de Carvalho, 
como o próprio autor reconhece: 
 
Não sómente acceitamos esta visão [de Said Ali] sob o ponto de vista 
racional, como digna de ser citada, mas passamos a adoptal-a totalmente, 
para amoldar sob ella o estudo geographico, até hoje exclusivamente 
baseado sobre a divisão administrativa do paiz. Acreditamos que essas 
grandes divisões topographicas, apesar de nada terem de absoluto e de 
preciso, são mais adequadas do que quaesquer outras a salientar as 
profundas differenças physicas, climatericas e sociaes que caracterizam a 
vida e as condições especiaes das differentes regiões de nossa terra 
(DELGADO DE CARVALHO, 1925, p. 85). 
 
No entanto, Delgado de Carvalho foi bem mais longe que Said Ali – a ideia 
de região foi desenvolvida a partir da teoria de Vidal De La Blache e Jean Bruhnes, 
procurando um sentido harmônico como critério para a “divisão geográfica” que 
propôs: Brasil Amazônico, Brasil Norte-Oriental, Brasil Oriental, Brasil Meridional e 
Brasil Central. Para ele, a “Geographia de uma região tem por fim descrever o 
conjunto dos caracteres que constituem a physionomia desta região”, colocando aí 
sua crítica à tradição da Geografia descritiva: “[...] considerados isoladamente, esses 
 caracteres só tem o valor de um facto; adquirem, porém, valor scientifico quando 
collocados no encadeamento natural, na connexão da qual fazem parte” (1913, p. 
V). 
O que caracteriza de fato a ruptura dessa Geografia didática com a 
Geografia descritiva é a presença de uma divisão geográfica de fato em oposição à 
divisão administrativa: “entre nós a divisão por Estados, para o ensino da 
geographia, tem sido o maior obstáculo ao progresso da sciencia geographica no 
dominio didactico” (CARVALHO, 1913, p. VI). Essa divisão geográfica incide nas 
“regiões naturais” como primeiro passo do novo método. O segundo será a 
abordagem das “condições econômicas”. E com isso Carvalho (1913, p. IX) 
demonstra sua atenção às contribuições inovadoras surgentes em diversos lugares 
do mundo: 
 
Hoje em França, não se cogita mais dos methodos de Cortambert, da 
geographia por departamentos: servem de modelo as obras de Vidal de la 
Blache, de Schrader e Fallex e Marey. Na geographia da Italia de Angelo 
Mariani notamos a mesma tendencia; identica tambem nos novos 
compendios norte-americanos (Cyrus Adams, Spencer Trotter, Alexis 
Everett Frye, Tarr e Murry etc.). 
 
Delgado publica a segunda parte da Geografia do Brasil em 1927, reunida 
ambas em um só volume no ano seguinte. 
Em 1925, Delgado de Carvalho publicou um importante tratado sobre o 
ensino geográfico, Methodologia do Ensino Geographico (Introducção aos estudos 
de Geographia Moderna), em que expôs suas ideias sobre a pedagogia da 
Geografia e sobre o livro didático. 
Sobre o livro didático, conclamava a necessidade de modernizar a 
abordagem da Geografia, trazendo para sua arena a clareza, a concisão, o poder de 
ser sugestivo e capaz de despertar no estudante a vontade de saber mais, de 
procurar aprofundar seus conhecimentos. Para tanto, lembra a necessidade de o 
compêndio “[...] ser exacto, a par dos progressos scientificos da geographia, das 
descobertas, das innovações e mudanças” (CARVALHO, 1925, p. 116). Carvalho 
defendia um certo “espírito científico” que a Geografia poderia proporcionar, a única 
forma de se superar as deficiências do programa estipulado para a Geografia, sua 
limitação e concisão, conformando a obra didática à inteligência do aluno e não à 
 sua memória: “o que deve ser retido é um estricto mínimo que vae ser entregue á 
reflexão” (CARVALHO, 1925, p. 112).  
O movimento introduzido por Delgado de Carvalho assinala uma 
transformação teórico-metodológica tanto no sentido epistemológico da ciência 
geográfica brasileira quanto na pedagogia do seu ensino, fundamentada na 
migração de uma Geografia ancorada na nomenclatura descritiva em direção à 
explicação dos processos espaciais, um avanço que moveria a Geografia da 
fragmentação completa para uma compartimentação relativa: a Geografia descritiva, 
com uma abordagem física, uma abordagem política e uma abordagem 
cosmográfica, que paulatinamente se reorganizarão em uma Geografia Física e uma 
Geografia Humana. Por exemplo: a Geografia física em sua abordagem moderna 
clássica espraiava-se em uma superfície discursiva que elencava os fatos e 
fenômenos unicamente em sua distribuição espacial; na abordagem da Geografia 
moderna científica, se procurará uma verticalização desses fatos e fenômenos na 
tentativa de explicá-los, não apenas citá-los. Veja-se, sobre o rio Amazonas, como 
era tipicamente o discurso da Geografia escolar descritiva: 
 
O Amazonas, que é o maior rio do globo em volume d'aguas; nasce do lago 
Lauricocha no Peru, corre ao principio para o N. e depois para L., 
atravessando o Peru, separando este do Equador, e percorrendo de O. a L. 
os Estados brazileiros do Amazonas e Para, e se lança no oceano Atlantico 
depois de um curso de 6.000 kilom., dos quaes percorre 3.828 em territorio 
brazileiro. Tem antes de entrar no Brazil os nomes de Tunguragua e 
Maranhão; e no Brazil o nome de Solimões até receber o rio Negro, e d’ahi 
até o oceano o de Amazonas propriamente dito. Seus affluentes principaes 
no Brazil são: na margem direita, o Javary, que separa o Brazil do Peru, o 
Jutahy, o Juruá, o Teffé, o Coari, o Purus, o Madeira, o Tapajoz e o Xingu; 
na margem esquerda, o Iça, ou Putumayo, o Japurá ou Caquetá, o Negro, o 
Jamundá, o Nhamundá, que separa em parte o Pará do Alto-Amazonas, e o 
Trombetas. Quasi todos são rios de primeira ordem. A extensão 
francamente navegavel no Amazonas e seus affluentes dentro do territorio 
do Brazil é de 43.250 kilom. áquem das primeiras cachoeiras. Por elles o 
Brazil communica com a Bolivia, Peru, Equador, Colombia e Venezuela. 
(LACERDA, 1898, p. 332). 
 
O discurso descritivo caracteriza-se por uma totalização de fatos, ou seja, 
nomenclatura e distribuição espacial de localidades. Em Lacerda, tem-se um 
discurso enxuto, em que se sobressai a substantivação como armação dos sentidos. 
Sobre o Amazonas, as palavras constroem um sentido unilateral, o de construir uma 
superfície explicitada em qualquer mapa: diz os nomes, a disposição e orientação, 
classifica-se e quantifica-se. A forma de estudar esse discurso é o da memorização 
 (que a propósito do rio Amazonas e seus afluentes chegou, no imaginário popular, a 
ser mote para narrativas jocosas). 
Por outro lado, no discurso da Geografia escolar científica, veja-se como 
ficou a abordagem do mesmo objeto: 
 
O regimen do rio Amazonas acha-se, como alias o regimen de todos os rios, 
intimamente ligado não só a geologia da bacia, mas tambem ao regimen 
das chuvas, a inclinação das terras e a vegetação o marginal. A estação das 
chuvas provoca as enchentes começam no mez de Fevereiro; é a epocha 
em que de retem as neves dos Andes e cahem as chuvas torrenciaes que 
caracterisam as regiões tropicaes; a cheia é variavel, pode attingir de 12 a 
17 metros (acima da estiagem). Essas enchentes de Fevereiro a Julho 
correspondem ás enchentes dos affluentes da margem direita. Da-se porem 
o facto do rio Amazonas ser paralelo ao Equador e muito proximo desta 
linha: seu affluentes fazem, por conseguinte, parte dos dois hemipherios, a 
epoca de enchente de um correspondendo a epoca de vasante do outro. A 
curva de seu regimen é pois produzida pela interferencia das dos seus 
affluentes. Os affluentes da margem direita são, deve-se notar, mais 
importantes do que os da margem esquerda, mas o phenomeno é todavia 
sensivel e dota o Amazonas de um regimen estavel, devido a esta 
compensação. 
A vegetação marginal do Amazonas e de seus affluentes tem tambem 
grande importancia para o regimen. As florestas, agindo sabre a 
evaporação, impedindo a queda directa da chuva sobre o solo e tornando o 
escoamento mais difficil, retem parte das aguas destinadas ao rio, que 
apezar da sua despesa ftuvial colossal não carrega nem 20 por cento das 
aguas cahidas na sua immensa hacia. (O calculo foi feito para o rio Madeira 
e deu 15% mais ou menos). A vegetação marginal tambem protege as 
costas contra a erosão e as plantas aquaticas e ribanceiras enfraquecem a 
correnteza. (CARVALHO, 1913, p. 36). 
 
Esta é somente parte do desenvolvimento do conteúdo. Nele o sujeito autor procura 
explicar o rio como um processo, demonstrando sua correlação com as feições 
geológicas, geomorfológicas e climáticas, a influência da vegetação, o porquê das 
cheias, o porquê da estabilidade do seu volume aquático.  
Afirmo anteriormente de uma compartimentação relativa, pois ainda haverá, 
pelo menos até os anos 1980, uma fragmentação no saber didático da Geografia, a 
saber: sua divisão em um discurso triplo, racionalizado entre a natureza, o homem e 
a economia (VLACH, 1990), forma discursiva que será rompida pelas Geografias 
críticas. 
Na Methodologia do Ensino Geographico, Carvalho enfatiza que pouco vale 
o livro sem uma docência que se aproprie a ele. Na sala de aula, de acordo com ele, 
pouco vale o estudo dos “pontos”, marcados com antecedência pelo professor e 
 cobrados a cada aluno, na aula subsequente, por “[...] recitação da lição com o livro 
fechado” (CARVALHO, 1925, p. 114). Dever-se-ia privilegiar a discussão e a 
colocação de problemas, estimulando os discentes a aprender pela reflexão, pelo 
exercício do pensamento e não da memória, utilizando o livro, nesse contexto, como 
instrumento ou fonte de informação. 
Ensinar pela colocação de problemas e condução de debates insinua um 
ensino por correlações, levando a uma movência por dentre o discurso geográfico, 
pois “Muitas vezes um ‘por que?’ do mestre não pode ser respondido senão pondo, 
lado a lado, vários “o que” e “onde” disseminados no compendio”, o que levaria o 
aluno a uma atitude independente: “[...] acostumado a achar soluções no seu 
compendio, cedo terá facilidade em manusear outros livros, e a nelles encontrar 
também o que precisa” (CARVALHO, 1925, p. 115). 
Carvalho, filiando-se discursivamente a uma nova orientação (moderna e 
científica) quanto ao pensamento geográfico brasileiro, mesmo sem 
institucionalização ainda, direcionou diretamente para o ensino de Geografia essas 
novas perspectivas, privilegiando o livro didático como meio de divulgação e de 
implementação de uma nova prática geográfica, reconhecendo, inclusive, o papel 
desse artefato no contexto: “dos compendios de geographia é que depende hoje, no 
Brasil, a adopção de uma nova orientação no ensino da matéria. É, por conseguinte, 
nelles que deve ser procurada a realização do que já exigem nossos principaes 
programmas” (CARVALHO, 1925, p. 116). Apesar de relegado por anos pela 
academia, o livro didático, desde o início da bibliografia, demonstrou ser um lugar 
institucional para sistematizar saberes sobre a Geografia, em particular sobre o 
Brasil, sendo que sua importância, como demonstrarei no próximo capítulo, excedia 
os bancos escolares: formava professores, informava a sociedade, circulava entre os 
intelectuais. 
 
 
 
 
 
 5.2.4 Antonio Firmino Proença: síntese das transformações no ensino de 
Geografia 
 
Colocadas as contribuições de Said Ali e Delgado de Carvalho, fora do 
âmbito da produção dos livros didáticos, surge um manual sobre o ensino de 
Geografia que vale a pena ser posto em cena pela sobriedade da crítica e da síntese 
do espírito do debate incidente sobre o ensino de Geografia na década de 1920: a 
obra Como se ensina Geographia, de Antonio Firmino Proença (1880-1946), 
publicada em 1928, e reeditada em 1932, destinada à formação de estudantes das 
escolas normais. A partir de meados da década de 1920, havia um discurso 
amadurecido sobre a renovação do ensino de Geografia, não mais postulado em 
projetos ou em críticas puras, mas de fato direcionado a alterar a ordem das coisas, 
as práticas de ensino, a produção de materiais didáticos. É nesse contexto que 
Proença faz uma análise crítica da situação geral do ensino dessa disciplina, 
endossando as contribuições em curso desde final do século XIX, as quais 
perpassam por Rui Barbosa, por Said Ali e por Delgado de Carvalho, 
necessariamente no que diz respeito ao ensino e à bibliografia didática de 
Geografia. 
Esse debate não significa uma mudança repentina na forma de ensinar 
Geografia, de se produzir os manuais didáticos. Contudo, significa uma alternativa 
aos termos dessas práticas, com reflexos futuros. 
Sobre como ensinar a Geografia, Proença sistematiza uma ordem de 
considerações, a saber: a organização do curso, a seleção de matéria, a questão de 
ordem, a correlação, as lições. Sobre a organização do curso, considera a evolução 
da ciência como predominante, de forma que o ensino não pode ser parte dela, 
apenas. Ensinar Geografia, assim, é componente da ciência geográfica, e dela o que 
for colocado para a criança deve ser de compreensão imediata, não posterior, pois 
conhecimento não funciona de modo provisório: 
 
Relativamente á geographia é frequente a violação do principio da 
sequencia natural dos factos. Ensinam-se generalizações antes que a 
criança tenha adquirido conhecimento dos factos particulares que as 
condicionam; tenta-se fazer a criança imaginar antes que tenha adquirido 
material para imaginação. O clima de tal regiao é quente e humido, dizem 
os oompendios e os professores o repetem. Ora, aqui esta uma noção 
apparentemente muito simples e que, entretanto, offerece difficuldade a 
comprehensão infantil. A noção de clima só por si ja é complexa; agora, 
 aggregando-se-lhe, as qualidades quente e humido, ainda mais complicada 
se torna. Áquelle, porém, que ja se habituou a observar o thermometro, a 
cuja numeração associou a sensação de quentura propria, e que ja se 
habituou a observar o aspecto do ar nos dias de humidade, e a tudo isso 
associou um certo aspecto da natureza como consequencia do estado 
atmospherico, a noção de clima quente e humido não se apresenta 
simplesmente como um conjunto de palavras. Quanto ao exercicio da 
imaginação, ainda se torna mais flagrante a violação do principio do 
aprendizado natural. Um porto de mar, um cabo, um estreito determinados 
têm de ser construidos pela imaginação sem que a criança tenha visto, nem 
mesmo em estampa, um certo porto, um certo cabo ou um certo estreito! 
(PROENÇA, 1928, p. 34-35). 
 
Há, aí, um movimento das palavras para a prática considerada de alguma forma – 
antes de abstrair, apresentar o concreto: 
O nosso primeiro estudo de geagraphia será para oonhecer as coisas e os 
factos de todo o mundo. É a que se chama a geographia descriptiva ou 
regional. Mas o canhecimento das coisas por infarmação, ainda que essa 
informação venha completada por imagens descriptivas ou estampadas, 
exige uma prévia preparação mental. É necessario que o individuo tenha 
visto por si e examinado por si, para poder ter elementos para comparação 
e construção das imagens das coisas distantes. (PROENÇA, 1928, p. 36-
37). 
O estudo geral, nesses termos, deve ser precedido do estudo local, da realidade que 
esquadra o aluno; da localidade se verá o mundo. Essa inclusive, a partir daí, será 
uma atribuição comum ao ensino primário de Geografia. 
Sobre a seleção da matéria, considera-a como necessária à docência 
geográfica dada a extensão da própria Geografia e dos programas escolares dessa 
disciplina. Para tanto, o autor observa dois princípios: o interesse dos alunos e a 
finalidade do ensino. Se à criança não for circunstanciada uma motivação, não 
haverá aprendizado real, e esse muito se filia ao que é proposto para a 
aprendizagem. Isso traz para a arena do debate um questionamento silenciado no 
discurso da Geografia descritiva escolar: “Vê-se muitas vezes os autores de 
compendios se preoccuparem com a enumeração de todos os affluentes de um rio. 
Qual é o valor deste saber como geographia?” (PROENÇA, 1928, p. 39). Por um 
propósito ao ensino geográfico seria inverter a lógica expressiva e a condução do 
saber para uma finalidade essencialmente humana: 
 
No curso primario e no secundario, embora mereçam attenção as 
influencias mutuas dos factores de ordem astronomica e physica, o 
interesse deve concentrar-se principalmente no elemento humano. Um rio, 
uma montanha ou um lugar devem, antes de tudo, ser estudado, porque 
affectam as condições da vida humana. As industrias, o commercio e os 
meios de comununicaçõo serão assirn postos em evidencia nas suas 
relações de dependencia com o meio physico. (PROENÇA, 1928, p. 39). 
 
 É o princípio de um discurso capaz de promover o indivíduo à sociedade, colocando 
esta no cenário do ensino geográfico. 
À questão da ordem, por seu lado, o autor propõe uma metodologia que 
priorize o conhecido ao desconhecido, que aborde o próximo antes do distante, 
procurando um equilíbrio nessa escolha, uma unidade que se possa chamar de 
geográfica: a localidade, o município, o estado, o país e então o mundo. O papel da 
correlação, por sua vez, está tanto em dialogar a disciplina com outras matérias 
quanto em aplicar o conhecimento: “no estudo elementar da materia convem levar 
as crianças a applicar os conhecimentos que forem adquirindo, e mesmo auxliarem-
se de conhecimentos de outras materias” (PROENÇA, 1928, p. 43). Por lições, o 
autor distingue a observação na variância da escala geográfica da aprendizagem. O 
mundo será conhecido pela imaginação, mas para tanto o aprendiz deverá ter as 
condições para compreendê-lo. O aprendizado local será intuitivo, variando em ser 
direta ou indireta. 
Preocupado em preparar o professor de Geografia, Proença faz críticas 
específicas ao livro didático de Geografia: “em geral os nossos compendios apenas 
enumeram e informam. A quem já conhece a materia taes livros servem para 
reavivar noções já adquiridas ou para fornecer dados ou informações. Para aprender 
por eles não servem [...]”, uma vez que são “[...] syntheticos demais, são demais 
desattrahentes” (PROENÇA, 1928, p. 95). Acusa-os de não apresentarem 
correlações entre os assuntos. Em uma síntese muito lúcida, afirma: “apparecem a 
natureza e a obra do homem, mas o homem não apparece. A terra fica assim como 
um vasto deserto, onde a humanidade viveu e de onde desappareceu, deixando 
apenas os traços de sua passagem nos monumentos de toda especie” (PROENÇA, 
1928, p. 96). 
A recomendação de leituras para ampliar a discussão proposta em seu livro 
revela as fontes e a filiação discursiva de Proença. Cita La terre et l'homme (J. 
L’Espagnol), Geographie Physique (E. Martonne), Physical Geography (Maury-
Simonds), Diccionario Historico e Geographico do Brasil, Geographia Elementar 
(Delgado de Carvalho), Geographia do Brasil (1ª e 2ª partes, Delgado de Carvalho), 
Geographia e Cosmographia (Ezequiel de Moraes Leme), Special Method in 
Geography (Mc. Murry), The Teaching of Geography (Archibald Geikie), Como se 
 Debe Estudiar la Geografia (trauzido de Parker) e Methodologia do Ensino 
Geographico (Delgado de Carvalho). 
A obra de Proença demonstra como as contribuições iniciadas timidamente 
por Said Ali, e de forma mais impactuante por Delgado de Carvalho, encontra 
continuidade no discurso do ensino da Geografia, agindo então, e já, na formação de 
professores. Não significa que esse discurso tenha sido revolucionário a ponto de 
mudar o curso e os esquadros curriculares do ensino geográfico, mas sem dúvida 
iluminava um caminho novo, mais rico e atraente que aquele palmilhado pela 
educação geográfica desde o início de suas práticas nas escolas brasileiras. 
 
 
5.2.5 Fernando Antônio Raja Gabaglia: o ensino de Geografia por práticas 
 
Em 1930 Fernando Antônio Raja Gabaglia, filho do engenheiro-geógrafo 
Eugênio de Barros Raja Gabaglia, autor de As fronteiras do Brasil e professor 
catedrático de Geografia do Colégio Pedro II, contemporâneo e colega de trabalho 
de Delgado de Carvalho, publicou uma pequena obra intitulada Práticas de 
Geografia (1930). A obra, exemplo dos ares novos que incidiam sobre o ensino da 
Geografia, “para uso no Collegio Pedro II e no ensino secundario e normal” 
materializa uma das vertentes de inovação colocadas no debate da educação 
geográfica – a questão da prática do saber. Citando Lord Kelvin, a epígrafe do livro 
ressalva o espírito que a constitui: “quando consigo construir para um phenomeno 
um modelo mecânico, eu comprehendo; quando não, não comprehendo”. Nesses 
termos, afirma o autor: 
 
O ensino da Geographia deve ter sempre um cunho pratico. Para attender a 
este objectivo é que organizamos o presente livro, que servirá de guia nas 
aulas praticas para os professores e os alumnos de Geographia Geral e 
Chorographia do Brasil do Collegio Pedro II, dos institutos a elle 
equiparados e, em geral, de todos os estabelecimentos de ensino 
secundário e normal do paiz. (GABAGLIA, 1930, p. 01). 
 
Gabaglia traduziu essa prática em termos de demonstrações concretas e 
experiências. Notadamente, é um livro para o ensino da Geografia Física, 
 expressando uma forma nunca antes registrada na bibliografia didática da 
Geografia. 
 As Práticas de Ensino tanto foram concebidas para uso como compêndio 
como para manual didático que instrumentalizasse o trabalho do professor, 
sobressaindo-se como tal, sobretudo para os cursos normais. Dividido em quatro 
partes, inicia com Demonstrações e Experiências, seção que se alia com a Física 
para produzir compreensão sobre noções geográficas como rotação, formas 
terrestres, formação das chuvas, modelação do relevo etc. Seguem-se os Processos 
de Orientação, por meio das estrelas, do sol, da sombra – ensinando diversas 
técnicas para o aprendizado dessas noções –, maneiras de determinar as latitudes e 
longitudes, formas de estudar e determinar o tempo,  a instrumentalização do clima e 
outros tópicos similares. Nos Trabalhos graphicos e plasticos ensina a produção de 
escalas, como representar informações em cartas e plantas, produção de curvas de 
níveis, semiologia gráfica, reprodução de cartas, produção de diagramas e 
cartogramas. Na Leitura de cartas o autor percorre os modos e as distinções da 
interpretação das representações. Seguem-se anexos com Dados e estatisticas para 
a construcção de diagrammas e cartogrammas para a Geografia Física, a Geografia 
Política e a Geografia Econômica, bem como para o Brasil, um Glossario de termos 
technicos, seguido de Notas, nas quais faz um ensaio geral sobre a grafia dos 
termos geográficos, sobre os materiais para compor um gabinete de Geografia, uma 
lista de pontos práticos para servirem de exames, notas bibliográficas e uma série de 
tabelas com anotações e fórmulas numéricas para referenciar as atividades 
propostas. 
Para uma disciplina cuja Cosmografia e Geografia armavam-se quase que 
puramente na citação, além de detentora de uma cartografia simplesmente 
demonstrativa, a proposta de Gabaglia consolidava um avanço extraordinário. Para 
exemplificar: o processo da formação das chuvas é explicado a partir do 
experimento apresentado na Figura 13. 
Em face da figura, Gabaglia (1930, p. 21-22) explica: 
 
Demonstração experimental da formação de chuvas – Ponha-se agua a 
ferver, numa cápsula. O vapor formado se condensará nas paredes de um 
vaso ou copo cheio de agua fria, e cujo fundo conico permittirá que a agua 
torne a cahir na cápsula. 
 A cápsula representa o mar; o fundo conico do vaso ou copo, as altas 
regiões da atmosphera [...]. 
 
 
 
 
FIGURA 13 – Esquema da explicação para o processo 
de formação das chuvas proposto por Gabaglia (1930). 
FONTE: Gabaglia (1930, p. 21). 
Organização: Jeane Medeiros Silva, 2012. 
 
 
O discurso do ensino da Geografia caminha, seja na docência, seja nas 
obras didáticas para um outro patamar de existência, embora a formação docente 
 em processo não fosse universal, e embora continuassem, pelo menos até os 
primeiros anos da década de 1930, a existir manuais com os padrões antigos. 
 
* * * 
 
Uma vez percorrida a trajetória evidenciada até aqui, sobre a constituição e 
a institucionalização da disciplina geográfica, no próximo capítulo analiso alguns 
aspectos constitutivos da bibliografia, observando, em seu discurso, como os 
sujeitos autores se impõem no cenário educacional, aspectos da legitimação da 
disciplina, a relação com as propostas curriculares, o posicionamento da bibliografia 
em relação a sua própria tradição, o posicionamento com suas fontes, com os 
professores, com as formações ideológicas. 
 CAPÍTULO 6 
 
DISCURSOS NO LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA: análises de 
elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geográfico 
 
 
 
 
A organização da bibliografia didática de Geografia parece obedecer a um 
padrão similar de organização e expressão. Geralmente, precedem um prefácio, 
uma introdução, seguindo o desenvolvimento propriamente dito dos conteúdos, 
organizados, por sua vez, na tríade da Cosmografia, da Geografia Física e da 
Geografia Política tanto na escala global quanto na corográfica. Embora no 
panorama geral do período em análise pareça haver uma homogeneidade 
discursiva, fato expresso de forma generalizante por muitos historiadores do ensino 
da Geografia, conforme aferido anteriormente, na realidade é possível perceber 
diversos movimentos de reorganização, de acomodação e de adaptação discursiva, 
ocorrendo a imposição de forças para qualificar o discurso e estabelecê-lo no 
ambiente da bibliografia e seu uso. É ao longo do período em análise que a 
disciplina Geografia é construída, que seus objetivos são feitos e refeitos, que a sua 
necessidade é (re)dimensionada. E a bibliografia reflete esse contexto, e registra as 
contribuições a esse movimento. 
Decididamente, não se pode encontrar, em um período histórico, de suas 
dinâmicas e práticas, aquilo que não integrou sua constituição. No entanto, há mais 
na superfície discursiva dessa bibliografia do que expressam as generalizantes 
análises da educação geográfica sobre o período antecedente à institucionalização 
desse saber como ciência (década de 1930), que a qualifica como um saber a-
científico, tal como conclui Azevedo (1954, p. 45): “os estudos de caráter geográfico 
anteriores à criação da FFLCH-USP, são estudos puramente descritivos, tipo 
catálogo ou uma ‘geografia que se confunde com a topografia e a cartografia’”, o que 
parece reduzir a importância, se não epistemológica, histórica, desses livros, embora 
 ambas – fundamentos teórico e metodológico e participação histórica sejam um 
desempenho testemunhal da Geografia brasileira. 
À primeira impressão, quando se examina os programas e a bibliografia 
didática da época, com facilidade se remete o estudioso a um parecer semelhante 
ao de Azevedo e de outros, correlatos.  Percebe-se, realmente, a descrição empírica 
como característica do ensino da Geografia até princípios do século XX. Todavia, é 
função e procedimento comum, ao discurso didático, operar com os resultados da 
ciência, e não qualquer um, mas aqueles consolidados em seu contexto. Ser ou 
não ser um ensino geográfico científico tem importância relativa, desde que no 
âmbito da produção desse saber, a questão estava colocada com um destacado 
descompasso em relação a outras ciências. Sem dúvida também se identifica um 
descompasso do ensino da Geografia brasileira em relação à ciência geográfica, em 
toda a extensão do período analisado, à exceção de algumas poucas e significativas 
obras que, alterando a configuração regional (ALI, 1905), introduzindo o discurso 
moderno científico (CARVALHO, 1913), conclamando a prática ao ensino 
(GABAGLIA, 1930), marcam um novo paradigma, influente em certa produção então 
contemporânea, sobretudo Veiga Cabral e Aroldo de Azevedo, redirecionando a 
produção futura da bibliografia, aquela produzida nos anos 1930 em diante. O erro é 
analisar esse ensino com referenciais científicos não correspondentes: compreendê-
lo com os referenciais da Geografia atual, por exemplo, ou mesmo da Geografia 
Moderna científica. A Geografia é uma área do saber cuja definição moderna 
principia no século XVIII, quando passou a formar um caminho epistemológico a 
partir de dois pontos: do deslocamento temporal da sua escala de abordagem e da 
conformação sistêmica do saber. 
Deslocamento da idade antiga e medieval, que configurava uma Geografia 
Histórica, e muitas vezes, uma Geografia sacra, ainda presente no ensino do século 
XIX, em direção aos espaços e às feições então contemporâneas, em que se 
destacam os recortes corográficos, com a emersão dos espaços nacionais. 
Em decorrência, surge o outro ponto de partida, o esforço de reunir 
conhecimentos dispersos em uma expressão sistêmica, de que resultaram 
importantes e influentes tratados. Conforme lembra Claval (1987, p. 71), por um 
vasto período, a partir do século XVIII, a Geografia esteve “[...] absorvida pela 
descrição do mundo [...]”, e sua primeira direção, ou seja, para quem produzia essa 
 descrição, era para o Estado, de forma que foram os viajantes “[...] os únicos a 
responder a uma das curiosidades do público geográfico [...]”, embora sem agregar 
sistematização, explicação e interpretação a essa oferta. Sendo estranha aos 
produtores da Geografia a interpretação e, muitas vezes, a explicação, “bastava 
desenhar os contornos das províncias ou regiões e dizer como são preenchidas para 
satisfazer as curiosidades” (CLAVAL, 1987, p. 72): havia quase que uma curiosidade 
pictórica em se obter os desenhos que contornavam as regiões e as generalidades 
que as caracterizassem. No século XIX, essa foi, por exemplo, a Geografia do 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (VLACH, 1988). 
Esse comportamento está presente no fundamento da maior parte das 
primeiras produções da Geografia, inclusive na didática, sendo que, nesta, essa 
posição se prolonga mais, chegando ao século XX. Também nessa bibliografia se 
farão sentir sintomas de mudanças, de transformações constitutivas do discurso 
didático da Geografia. Mas esta é apenas uma das dimensões do livro didático de 
Geografia. Este também se constitui como material instrucional, como objeto de 
debates, como meio para a propagação de pensamentos e de silêncios. Sua 
trajetória vai mostrando como vão sendo agregados índices, ilustrações, exercícios, 
notas de rodapé, pregnâncias... O livro didático de Geografia é um dos gêneros da 
bibliografia geral, porém, como todo gênero, não nasceu pronto: frutifica-se na 
História, por ela é construído e constituído. Não havendo exercícios ou atividades 
para os discentes nas obras, ofertava-se apenas os conteúdos, ficando a cargo do 
regente do curso orientações quanto às atividades: o livro aí se inteira para o 
professor, ainda não é uma conquista do alunado. A história do livro didático de 
Geografia mostra que suas múltiplas dimensões, como essa, vão se compondo, 
demonstra como vai se propondo, como se destina, para quem se destina, para que 
serve, para o que contribui, como se institucionaliza, como se dão as relações 
retroativas que nutre com a disciplina. 
Neste capítulo, procuro trabalhar essa trajetória em uma perspectiva 
analítica, perseguindo a constituição do discurso sobre o ensino de Geografia a 
partir de sua materialização na bibliografia didática. Na verdade, trata-se de uma 
análise muito seletiva, pois, mais que um objeto de pesquisa, essa bibliografia é todo 
um campo aberto à investigação, com infindáveis trilheiros para o historiador do 
ensino da Geografia e também da história do pensamento geográfico. 
 Tendo em vista essas considerações, passo às análises de aspectos 
discursivos selecionados na bibliografia, que circunstanciam o saber a ser ensinado, 
encerrando-a com uma consideração geral sobre o saber ensinado, âmbito de 
vivência da bibliografia e do ensino organizado para ela e a partir dela. 
 
 
6.1 O discurso da designação das obras 
 
Se a Geografia chega ao Brasil como projeto de uma educação científica e 
técnica, nas últimas décadas do século XIX pode-se dizer já da existência da 
Geografia como uma disciplina escolar constituída, com um considerável acervo 
didático, alguns títulos de circulação regional e outros com circulação nacional, 
atuando nos ensinos primário e secundário, sendo projeto de uma formação cultural, 
com algumas especificações ideológicas, como é o caso do nacionalismo patriótico. 
Essa bibliografia, em nível secundário, visava preparar o estudante do ensino 
superior tanto tecnicamente quanto culturalmente. Sobretudo as corografias 
nacionais, notadamente após os primeiros anos do século XX, diluíam um discurso 
sobre a nacionalidade brasileira. No sentido técnico, voltavam-se, sobretudo, para os 
alunos das engenharias e outras formações técnicas (como o comércio e a 
agricultura), para o que se focava nos estudos cartográficos e cosmográficos, às 
vezes especializando-se nessas áreas. No sentido cultural, as representações do 
país e do mundo situavam os futuros bacharéis quanto à organização do espaço 
geográfico. Isso porque o saber geográfico, no nascente mundo das nações, das 
interrelações comerciais e da indústria, fazia-se um lastro necessário ao melhor 
entendimento entre os povos e à administração dos interesses econômicos, tanto os 
públicos quanto os de classe: 
 
A geographia é de todas as sciencias a menos auxiliada, a menos estimada 
e a mais ignorada; no entanto que ouvimos aos mais celebres estadistas da 
época, aos mais hábeis administradores, aos mais notáveis negociantes, 
aos mais distinctos, aos mais insignos agricultores, lamentarem-se com 
pezar não terem recebido, quando estudantes, o ensino geographico 
adaptado ás funcções para que se encaminhavão (PACHECO, 1857, p. 9). 
 
  No âmbito do ensino primário, com maior ênfase, mas atravessando os 
discursos de toda a bibliografia, para todos os níveis de instrução, a Geografia 
direcionava fundamentos para o estabelecimento de uma identidade nacional, ou, no 
mínimo, de apresentação descritiva do espaço nacional, e também o mundial. De 
qualquer forma, a Geografia chegará ao fim dos oitocentos como parte do cotidiano 
da escola formal; porém, no todo, tinha uma abrangência muito restrita, haja vista o 
pequeno percentual da população geral que atingia e, dentre estes, a forma como 
instituía uma percepção do mundo, embora não seja de se desconsiderar que essa 
formação atingia diretamente as elites instruídas (VLACH, 1988). 
Examinando a bibliografia em seu período inicial, conforme visto 
anteriormente, vêm-se registros de duas obras de interesse imediato ao ensino de 
Geografia, mas não propriamente para o ensino deste saber, seguidas de uma 
sucessão de nove publicações até o Ato Adicional, posto como marco para a 
organização das primeiras instituições públicas do ensino secundário, de acordo 
com Haidar (1972). A primeira delas, Guimarães (1814), aborda um dos 
conhecimentos que comporão o conjunto de saberes da disciplina Geografia, a 
Astronomia. A obra de Pereira (1818), por sua vez, é indicada por muitos 
historiadores da educação como a primeira obra infantil brasileira, um livro de leitura 
destinado ao ensino de letramento. Passando para a década de 1820, temos o 
primeiro livro didático de Geografia, do reverendo Guilherme Paulo Tilbury, Breve 
introducção ao estudo de Geographia, adaptado ao uso dos mappas francezes e 
inglezes. Offerecida a S. M. o Senhor D. Pedro I, de 1823. No ano seguinte, surge a 
publicação de Bazilio Quaresma Torreão e uma outra obra, publicada sob o 
pseudônimo de Hum Brasilianno. Em 1826, tem-se a primeira manifestação regional 
de uma obra geográfica, com a preparação de um volume por Ignácio Aprígio da 
Fonseca Galvão94, que recortou da obra de Ayres de Casal o que diz respeito à 
província da Bahia, editando-a como publicação escolar. E, apesar de editado no 
Rio de Janeiro, mas destinado a discentes da Bahia, especificamente Salvador, tem-
se o volume de Domingos José Antonio Rebello, de 1829. Em 1830, dois autores 
publicam obras praticamente homônimas, Manoel Ildefonso de Souza Lima95 e 
                                                 
94
 Ignácio [José] Aprígio da Fonseca Galvão – obtive poucas informações sobre este autor: foi 
coronel do Estado Maior do exército e professor de Geografia e História, sendo um dos revoltosos da 
Sabinada (IHGB, [s. d.]). 
95
 Ildefonso de Souza Lima – não foi possível localizar informações sobre esse autor. 
 Manoel Ignacio Soares Lisboa96. Fecha esse período a edição de Agostinho 
Marques de Gouvêa97, publicada em 1832. Essa sequência de obras, bem como a 
que viria a seguir, é bastante reveladora quanto aos primeiros anos de formação do 
ensino de Geografia, e da continuidade da bibliografia e da disciplina geográficas. 
Tomando os títulos e subtítulos desses manuais (processo que em uma perspectiva 
discursiva chama-se de designação, ou nomeação) como manifestações discursivas, 
conseguimos encontrar diversas questões, práticas e dispositivos ativos na aurora 
do ensino de Geografia e no seu desenvolvimento posterior. Vejamos: 
 
Fragmento 6.1/1 
Elementos de Astronomia. Para uso dos alumnos da Academia Real Militar 
(GUIMARÃES, 1814). 
 
Fragmento 6.1/2 
Leituras para meninos, contendo historias moraes relativas aos defeitos 
ordinários às idades tenras, e hum diálogo sobre Geographia, chronologia, 
historia de Portugal, e historia natural (PEREIRA, 1818). 
 
Fragmento 6.1/3 
Breve introducção ao estudo de Geographia, adaptado ao uso dos mappas 
francezes e inglezes. Offerecida a S. M. o Senhor D. Pedro I (TILBURY, 
1823) 
 
Fragmento 6.1/4 
Compendio de Geographia universal. Rezumido de diversos authores e 
offerecido á mocidade brazileira (TORREÃO, 1824). 
 
Fragmento 6.1/5 
Noções elementares de Geographia por hum antigo professor da 
Universidade de Paris, impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 
por hum brasilianno para instrucção da mocidade do Brasil (HUM 
BRASILIANNO, 1824). 
 
Fragmento 6.1/6 
Introducção da Geographia brazilica, da parte que trata da Bahia, composta 
por um presbytero secular do grão-priorado do Crato e mandada imprimir 
para instrucção da mocidade bahiense por um professor da mesma 
(CASAL, 1826). 
 
Fragmento 6.1/7 
Corografia, ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil, 
coordenada, acrescentada, e dedicada á casa pia e collegio dos orfãos de 
S. Joaquim desta cidade. Para uso de seos alumnos, a fim de adquirirem 
conhecimentos geographicos preliminares d’America em geral, e seo 
descobrimento; e com particular individuação do Brasil; especialmente da 
provincia, e Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos (REBELLO, 
1829). 
 
                                                 
96
 Manoel Ignacio Soares Lisboa – não foi possível localizar informações sobre esse autor. 
97
 Agostinho Marques de Gouvêa – não foi possível localizar informações sobre esse autor. 
 Fragmento 6.1/8 
Elementos de Geographia astronómica, politica e physica. Apresenta um 
mappa (LIMA, 1830). 
 
Fragmento 6.1/9 
Elementos de Geographia Astronomica, Política e Physica. Dedicados a sua 
Alteza Imperial, o Sr. D. Pedro, Principe Imperial do Brasil, para uso das 
Escolas Brasileiras... (LISBOA, 1830). 
 
Fragmento 6.1/10 
Novo cathecismo geographico brazileiro. Offerecido aos senhores paes de 
família, e professores de ambos os sexos (GOUVÊA, 1832). 
 
Fragmento 6.1/11 
Noções preliminares de Geographia em forma de dialogo, com especial 
applicação ao imperio do Brazil (BRANDÃO, 184-). 
 
Fragmento 6.1/12 
BREVES Noções de Geographia Universal mui accrescentadas na parte 
respectiva ao Império do Brasil, para uso da mocidade estudiosa 
(BREVES..., 1845).  
 
Fragmento 6.1/13 
Nocções elementares de Geographia astronomica, physica e politica, 
redigidas segundo um novo plano methodico, theorico e pratico, e 
adaptadas para servir de compendio nas academias, lyceos, etc., como 
para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita, sem auxilio e 
dependência de professor. (SOUZA, 1845). 
 
Fragmento 6.1/14 
Diálogo Geographico para uso de suas discípulas e alumnas do Collegio de 
São João em São Christovão (BRANDÃO, 1850). 
 
Fragmento 6.1/15 
Elementos de Geographia. Offerecidos à mocidade cearense (BRASIL, 
1851). 
 
Fragmento 6.1/16 
Compendio de Geographia. Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e 
seminários do Império (BRASIL, 1856). 
 
Fragmento 6.1/17 
Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil (BRASIL, 
1851, 1864, 1869). 
 
Fragmento 6.1/18 
Breves noções para se estudar com methodo a Geographia do Brasil. 
Ensaio para, pela primeira vez, indicar os tanques marítimos no Atlântico, as 
vertentes delles, as valladas ou bacias que ellas encerrão, accommodando 
o Brasil ao ultimo plano de estudos para o império francez se guindo a 
Geographia da França (PACHECO, 1857). 
 
Fragmento 6.1/19 
Novas lições de Geographia elementar sem decorar por meio de exercícios 
(BURGAIN, 1958). 
 
Fragmento 6.1/20 
Lições elementares de Geographia, segundo o methode Gaultier 
(MENEZES, 1860). 
 
 Fragmento 6.1/21 
Elementos de Geographia e Astronomia: compendio offerecido ao Ill. Sr. Dr. 
Abílio Cezar Borges (PEREIRA, 1860). 
 
Fragmento 6.1/22 
Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucção primaria 
(REGO, 1862). 
 
Fragmento 6.1/23 
Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial 
Collegio de Pedro II (ABREU, 1863). 
 
Fragmento 6.1/24 
Elementos de Geographia moderna (PINTO, 1869). 
 
Fragmento 6.1/25 
Curso elementar de Geographia moderna (SANTOS, 187-). 
 
Fragmento 6.1/26 
Elementos de Geographia universal, geral do Brazil e especial de 
Pernambuco, para a infância escolar da provincia de Pernambuco, de 
conformidade com o programma da lei n. 1143, art. 33, § 7º, que rege a 
instrução na província (PINHEIRO, 1875).   
 
Fragmento 6.1/27 
Terra illustrada. Geographia universal: physica, etnographica, politica, 
economica dos cinco partes do mundo (F. I. C., 188-). 
 
Fragmento 6.1/28 
Geographia patria infantil (LOPES, 188-). 
 
Fragmento 6.1/29 
Curso Elementar de Geographia (SAVIO, 1908). 
 
Fragmento 6.1/30 
Geographia elementar: para as escolas primarias (ALBUQUERQUE FILHO, 
1914). 
 
Fragmento 6.1/31 
Terceiro anno de Geographia (CABRAL, 1933). 
 
Fragmento 6.1/32 
Geographia geral para a primeira serie ginasial (AZEVEDO, 1934). 
 
Diversas matrizes discursivas se entrecruzam na nomeação dessas obras, refletindo 
as condições históricas de sua produção e publicação. Os dizeres da nomeação 
permitem, assim, entrever questões relacionadas aos sujeitos, à ideologia, aos 
relacionamentos políticos, aos fundamentos teórico-metodológicos que 
contextualizam as obras, pois seu funcionamento discursivo comporta-se como uma 
frente de confronto em face do público, contribuindo para a inserção do texto em 
uma circunstância, sobretudo nas décadas iniciais da bibliografia, em que nem tudo 
está consolidado, em que se tem uma prática educacional em construção. Levará 
aproximadamente 100 anos para os títulos ficarem mais simples, sintéticos, para 
 perderem o espaço de uma enunciação relativamente complexa, já então plena de 
significados, até atingir o silenciamento em que a menção ao nome da disciplina e 
um ou outro lexema qualitativo seja suficiente para dizer a que vem a obra (F6.1/30, 
F6.1/31, F6.1/32). A extensão dos títulos certamente coaduna com o estilo 
bibliográfico da época, porém não deixa de ter, do mesmo modo, uma 
funcionalidade com sentidos relevantes para afirmar o ensino de Geografia, pois a 
nomeação dessas obras incorpora um certo processo de divulgação quando indica o 
público de destino, mostrando por seleção os sujeitos receptores desse discurso, e 
sublinhando-os na titulação. 
Primeiro, na ordem dos sujeitos, examino o direcionamento da enunciação: 
esses dizeres não se destinam a um público geral, mas à esfera de sujeitos 
envolvidos no processo da educação, especificamente a geográfica, para a maioria 
dos casos, o que evidencia os primeiros indícios de particularização, ou 
especialização do público alvo, tornando a literatura, então iniciada, uma literatura 
especializada: de seu contexto, de suas condições históricas, diz algo específico, a 
um público específico. Dois dos sujeitos autores se dirigem à representação do 
Estado, S. M. o Senhor D. Pedro I e ao Príncipe Pedro II, como no caso dos 
Fragmentos 6.1/3 e 6.1/9, respectivamente, em um procedimento que tornaria 
comum ao longo da bibliografia: o oferecimento da obra às autoridades políticas. 
Além das autoridades políticas, outras também eram lembradas, como Pereira, que 
dedicou seus Elementos de Geographia e astronomia (1860) “ao Illm. Sr. Dr. Abílio 
Cezar Borges98”, reconhecido educador bahiano, autor de inúmeros livros didáticos 
de prestígio e também de um manual de Geografia. De acordo com Bittencourt 
(2008), a dedicatória de obras a autoridades era uma forma de estreitar a relação 
com o poder, do qual se dependia a autorização para um livro vir a público, ou seu 
veto. Ou uma forma de buscar proteção intelectual, como no caso de Pereira (1860). 
São menções com todos os pronomes de tratamento merecidos, tanto de respeito 
                                                 
98
 Abílio Cezar Borges – nascido em 1824 e falecido em 1891. Formado em Medicina, em 1856 o 
baiano Abílio César Borges trocou a carreira médica pela de professor.  Nove anos após de se formar 
em medicina e se impor nos meios cultos com estudos científicos, históricos e literários, decidiu 
consagrar-se exclusivamente ao ensino. Durante trinta e cinco anos, até a morte, Abílio César 
Borges, Barão de Macaúbas, empenhou-se em vasta obra educacional como insigne pedagogo. O 
Primeiro Livro de Leitura do “Método de Abílio” representa um surpreendente salto na pedagogia 
brasileira.  Até então, a aprendizagem de leitura se iniciava com abecedários manuscritos, papéis de 
cartório e toscas cartilhas.  Dentre as suas obras, destacam-se: Epítome da Gramática Portuguesa 
(1860); Geografia Física (1863), série de livros para de leitura: Primeiro, segundo e Terceiro Livro de 
Leitura (1868); Desenho Linear ou Geografia Prática Popular (1876); dentre outros (BLAKE, 1970). 
 moral quanto da autoridade exercida pelo sujeito centrado. Há, também, referência a 
sujeitos em uma ordem metodológica: Menezes (1860) organiza seu discurso na 
forma dialogística, método de expressão consagrado por Gaultier (F6.1/20). 
Ainda como oferecimento, porém mais em um sentido de direcionamento, ou 
seja, em nível de seleção do público, tem-se a enunciação dedicando os textos a um 
determinado grupo de sujeitos: aos “alumnos da Academia Real” (F6.1/1), aos 
“meninos” (F6.1/2), à “mocidade brazileira” (F6.1/4), à “instrucção da mocidade 
bahiense” (F6.1/6), aos alunos da “casa pia e collegio dos orfãos de S. Joaquim 
desta cidade [Salvador]. Para uso de seos alumnos” (F6.1/7), aos “senhores paes de 
familia, e professores de ambos os sexos” (F6.1/10), ao “uso da mocidade 
estudiosa” (F6.1/12), ao “uso de suas discipulas e alumnas do Collegio de São João 
em São Christiovão” (F6.1/14), à “mocidade cearense” (F6.1/15): nesses lexemas e 
sequências discursivas, abrangendo pouco mais de 30 anos, os primeiros da 
trajetória da bibliografia, vê-se a marcação dos sujeitos-destino da enunciação 
didática da Geografia como uma das regularidades na dispersão desse discurso. 
Considerando os fragmentos selecionados, três categorias de sujeitos podem ser 
agrupadas, conforme sistematizado no Quadro 33. 
 
   QUADRO 33 – Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia. 
Grupos de sujeitos 
pertencentes a 
Instituíções 
Grupos de sujeitos gerais 
Grupos de sujeitos 
específicos 
Academia Real Militar 
Colégio São Joaquim 
Colégio São João 
Meninos 
Mocidade brasileira 
Mocidade estudiosa 
Professores de ambos os sexos 
Senhores pais de família 
Discípulas e alunas do Colégio 
São João de São Cristóvão 
Mocidade bahiense 
Mocidade cearense 
   Org.: Jeane Medeiros Silva, 2011. 
 
 
Essa unidade discursiva deixa entrever algumas condições de emersão da 
bibliografia didática de Geografia. Em um plano, há o destino certo, embora restrito, 
da obra escrita e publicada para uma instituição, como a Academia Militar, o 
Orfanato de São Joaquim (Salvador), o Colégio de São João. Dada a quantidade 
ascedente de instituições privadas, é possível a existência de muitos manuais de 
circulação interna sobre os quais não teremos mais acesso, pois esquecidos estão 
pela história, ou que não foram contemplados por esta pesquisa. Além disso, esse 
grupo evidencia muito dos limites de circulação das obras, sendo produzidas para 
 um consumo estritamemente local. Em segundo lugar, estão as obras sem essa 
especificação institucional, mas igualmente com uma delimitação geral, dirigindo-se, 
genericamente, às escolas brasileiras, à juventude brasileira “estudiosa”. Nesse 
conjunto de sujeitos receptores chama a atenção o oferecimento do Cathecismo 
geographico aos professores e aos pais: nesse momento, mais do que instrumento 
didático de aprendizagem, os manuais são instrumentos de ensino, servem aos 
professores e aos responsáveis pela educação, em uma época na qual era comum a 
educação formal no contexto doméstico, por responsabilidade de preceptores, 
mestres avulsos, parentes ou mesmo pelos pais. O direcionamento aos docentes 
deixa entrever o funcionamento desses manuais na lacuna da formação docente de 
então. A última unidade discursiva direciona a grupos específicos de sujeitos as 
obras em questão, notando-se, além do laço institucional, o vínculo regional de 
circulação dessas obras. 
Nesse nível enunciativo há, também, sentidos de exclusão: “sem auxilio e 
dependencia de professor” (F6.1/13). Em um ambiente educacional cujo estudo 
formal fora da classe escolar talvez superasse a matrícula regular em instituições, 
este fato foi observado na bibliografia, criando-se materiais que dispensassem a 
docência das relações de aprendizado. 
É interessante notar, ainda, questões de gênero que se deixam entrever em 
alguns dos enunciados – por um lado, uma obra que esclarece se propor aos 
professores de ambos os sexos; por outro, uma obra proposta restritamente às 
“discípulas” (lexema que designa irmãs religiosas) e alunas de uma instituição. A 
esse tempo, inexistiam classes mistas, e mesmo havia debates questionando a 
necessidade da, ou o conteúdo aferido à, educação feminina. 
Aproximadamente pela década de 1850, esse tipo de enunciação 
(selecionando os sujeitos alvos) desaparece, indicando, talvez, uma afirmação 
definitiva desse gênero textual, com um público regular? Provavelmente sim. 
Ainda na ordem dos sujeitos, mas com referência à autoria, têm-se as 
seguintes referências enunciativas: “rezumido de diversos authores” (F6.1/4), “por 
hum antigo professor da Universidade de Paris” e “tradusidas por hum brasiliano” 
(F13), “por um presbítero secular do grão-priorado do Crato”, “mandado imprimir por 
um professor da mesma [mocidade bahiense]” (F6.1/6): são identificações expostas, 
reforçadas no título e não propriamente nos lugares de praxe da enunciação das 
 autorias, seja na capa ou folha de rosto. Esse recurso enunciativo existe nesse 
momento não só como forma de expor o anonimato, em alguns casos, mas também 
como indicativo de fontes e da confiabilidade dos conteúdos a serem expressos no 
desenvolvimento dos textos. Essas sequências, ademais, expõem alguns ângulos 
do processo elaborativo dos discursos didáticos iniciais para a disciplina Geografia, 
tais como as compilações empreendidas: uma obra nasce do entrecruzamento de 
diversas fontes, como é procedimento comum a todo acontecer discursivo, embora 
aqui não sejam necessariamente explícitas, além de expor a seleção de conteúdos 
pela qual se passa uma obra didática, e o processo de reelaboração da linguagem, 
nos moldes de resumos e adaptações. A questão da autoridade igualmente se 
evidencia, seja pela exposição do cargo e lugar social, seja pela representação e 
projeção do sujeito no grupo (“um professor da mesma”). Trata-se de uma 
heterogenidade mostrada, por referência aos sujeitos em sua função-tipo, mas 
velada pelo anominato. Havendo anominato, ficam vazios os cabeçalhos de 
assinatura da autoria, como é comum, na capa, lombada ou folha de rosto, e, por 
conseguinte, a autoria migra para o título. Um indício de modéstia, conflito de 
interesses ou ausência de qualidades sócio-pessoais para sustentar interesse na 
obra? Difícil precisar.  
Esse procedimento foi comum no início não só da bibliografia didática de 
Geografia, mas a toda bibliografia didática. A partir da década de 1830, contudo, foi 
pouco observado, restrito quase sempre à comercialização editorial de obras 
didáticas, quando novamente se passou a se exercer uma espécie de anonimato, 
com obras assinadas por editoras, como foi muito comum à FTD, embora tenha 
havido autores que assinassem suas obras por pseudônimos, como Estácio de Sá 
Menezes (pseudônimo de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro), ou abreviaturas. 
Em princípio, o Estado, ou suas instâncias administrativas, reconhecendo a 
necessidade de obras didáticas para o ensino, estimulou a escrita de manuais – uma 
tarefa considerada patriótica –, até mesmo com a oferta de prêmios e recompensas, 
como responsabilidade da elite cultural (BITTENCOURT, 2008) e, de fato, a autoria 
de muitas obras didáticas, até fins dos oitocentos, seria de representantes da Igreja, 
do poderio militar, de docentes das instituições com projeções principais... A esse 
respeito se pronuncia a Meza da Casa Pia e Collegio dos Orphãos S. Joaquim a 
Domingos José Antonio Rebello sobre o patriotismo de se escrever uma obra 
 didática nacional: “A Meza [...] reconhecendo os philantropicos sentimentos de 
Patriotismo, que ornão o caracter de V. S., me determina, que em nome della, haja 
agradecer a V. S. o presente da bem organisada historia Corographica” (Joaquim 
Carneiro de Campos, 1828, apud REBELLO, 1928, p. 254).  
Na ordem dos sentidos, os títulos apresentam, em quase todo o período, 
marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didático: “Elementos de” (F6.1/1, 
F6.1/8, F6.1/9, F6.1/15, F6.1/21, F6.1/23, F6.1/24), “Leituras” (F6.1/2), “Breve 
introducção ao estudo de” (F6.1/3), “adaptado ao uso” (F6.1/3), “adaptadas para” 
(F6.1/13) “Compendio” (F6.1/4, F6.1/16, F6.1/17), “Rezumido”, (F6.1/4), “Noções 
elementares de” (F6.1/5, F6.1/3, F6.1/13), “Noções preliminares” (F6.1/11), “Breves 
noções” (F6.1/18), “Introdução da” (F6.1/6), “Abreviada” (F6.1/7), “Rudimentos” 
(F6.1/22), “Curso elementar” (F6.1/25, F6.1/29), “adquirirem conhecimentos [...] 
preliminares”, “coordenada, acrescentada” (F6.1/7), “cathecismo” (F6.1/10). 
Esses lexemas e sequências discursivas se referem ao modo de 
organização do discurso didático, remetendo-se ao dispositivo de escolha e de 
adequação do saber para as relações de ensino e aprendizagem, ou seja, migrando-
o de uma instância enunciativa para outra, com um processo transformativo nesse 
movimento. Esse dispositivo depreende-se em um sentido amplo, o de modificar um 
“todo”, com a absorção de um “pouco” para um determinado propósito: os lexemas 
enunciam, assim, ações como introduzir, adaptar, resumir, abreviar, coordenar, 
acrescentar, compendiar, ações essas qualificadas como breve, elementar, 
preliminar, para compor elementos, noções e rudimentos, o que define o discurso e 
o desempenho da sua função, construindo o efeito de sentido de simplificar o 
conhecimento, tornando-o palatável, ou acessível, ao nível intelectual e ao nível de 
instrução necessários ao estudante ou principiante nos assuntos em questão. São 
traços lexicais que designam um discurso preparado e pronto para a instrução. 
Esses atos enunciativos evocam a transição e a construção de um saber 
específico, para um grupo específico de sujeitos. 
Como discutido anteriormente, basicamente não havia uma proposição 
curricular nas décadas iniciais do ensino de Geografia, à exceção do disposto em lei 
para a Real Escola Militar, até o surgimento do Colégio Pedro II. No entanto, os 
títulos respondem a abordagens curriculares, apresentando as filiações teórico-
metodológicas, a constituição dos núcleos de saberes – o “pouco” faz referência 
 ao “tudo” especificado acima: “Astronomia” (F6.1/1), “Geographia”, “chronologia”, 
“historia de Portugal”, “historia natural” (F6.1/2), “Geographia (F6.1/2 e todos os 
demais), “mappas francezes e inglezes” (F6.1/3), “Geographia universal” (F6.1/4, 
F6.1/12, F6.1/25), “Geographia brazilica” (F6.1/6), “Corografia”, “historia geographica 
do imperio do Brasil”, “conhecimentos geographicos preliminares d’America em 
geral, e seo descobrimento; e com particular individuação do Brasil; especialmente 
da provincia, e Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos” (F6.1/7), 
“Geographia Astronomica”, “Geographia Política”, “Geographia Physica” (F16, F17). 
Esta Geografia rompera com a Geografia Clássica, aquela da Antiguidade e 
da Idade Média, prática dos jesuítas, vinculando-se com a nascente Geografia 
Moderna clássica, florescente desde o Iluminismo: a Geografia Universal, Política, 
Astronômica, Física, Corográfica. É interessante notar o destaque que se dá aos 
mapas. Durante longo período, ter uma obra mapas, com novas atualizações ou em 
quantidade acima da média, era motivo para se por em evidência, projetando-as na 
tela designativa, pois nem sempre os manuais de Geografia apresentavam esse 
recurso, notadamente pelo dispêndio gráfico que apresentava à obra ou à 
dificuldade de se produzi-las. A Corografia, ou abreviada historia geographica do 
imperio do Brasil..., de Rebello (1829), por exemplo, não apresenta nenhum mapa. O 
mesmo se dá com a obra de Torreão (1824) que, reconhecendo o lugar dos mapas 
como expressão do saber geográfico e recurso de ensino e aprendizagem, indica a 
ausência deles devido aos custos proibitivos de impressão à época. Na sequência 
“mappas francezes e inglezes” percebe-se a filiação da Geografia de Quaresma 
Torreão à Geografia de La Croix e Pinkerton – referências nem sempre explícitas, 
mas em circulação nas primeiras décadas dos oitocentos entre os brasileiros. 
Na verdade, nesse período, é bem influente o modelo sistematizado por 
Ayres de Casal, conforme já discuti. Os manuais, quanto à abordagem do território 
nacional, serão organizados com variações do estabelecido na Corografia Basílica. 
Rebello (1829), por exemplo, organiza sua abordagem dos conteúdos em itens como 
Descobrimento da América; Descobrimento do Brasil; Situação, extensão, e limites 
do Brasil; Serranias, Cabos, Bahias, ou Portos principaes, Ilhas, Rios, Clima, 
Terreno, Producção, Commercio; Mineralogia, Fythologia, Zoologia; Individuação 
das 19 Provincias do Império; suas capitaes, cidades, e comarcas respectivas com 
suas villas, uma linha aproximada da organização de Ayres de Casal (1817a). 
 Torreão (1824) indica Ayres dentre as suas fontes de consultas, procedendo da 
mesma forma. Somente nas primeiras décadas do século XX haverá variação a esse 
modelo. 
A bibliografia didática emerge com evidentes vínculos com a História, com a 
qual constituirá um movimento de agregação e desagregação até instituírem 
caminhos distintos e independentes. Há, aí, de novo, uma influência do modelo de 
Ayres de Casal, que, por sua vez, remete-se à Geografia Clássica moderna, no qual 
se antecede a descrição das províncias e considerações gerais sobre o território 
nacional com uma abordagem histórica da América e do Brasil, inclusive com uma 
transcrição censurada da carta do descobrimento, de Pero Vaz de Caminha (1450-
1500). 
Além disso, a bibliografia surge já com a feição de uma Geografia nacional, 
diversa das leituras auxiliares pelos jesuítas, embasada na Geografia sacra ou na 
Geografia da Antiguidade, ou mesmo do ensino de Geografia principiado na 
Academia Real, em seu aspecto geral: com a Independência, o território do Brasil 
começa a evidenciar-se como realidade paupável, a ser dada, reconhecida e 
valorizada pelos brasileiros – a “Geographia brazilica”, a “historia geographica do 
imperio do Brasil”, os “conhecimentos geographicos preliminares d’America em 
geral, e seo descobrimento; e com particular individuação do Brasil; especialmente 
da provincia, e Cidade de S. Salvador Bahia de Todos os Santos”. O discurso da 
nacionalidade que, sobretudo a partir dos anos 1930, assumiu uma perspectiva 
patriótica, começa a se armar nesse momento em que se constitui a “particular 
individuação do Brasil” (F6.1/7), oposta à “historia de Portugal” (F6.1/2), como no 
livro de leitura de Pereira (1818), ainda na vigência do Reinado: há uma história e 
uma territorialidade própria, agora, e para elas se reserva um lugar enunciativo. Esse 
discurso inflama-se e esfria-se na ordem dos acontecimentos políticos: é palatável 
nos discursos gerais sobre a educação, e mesmo nos manuais, nos anos iniciais da 
Independência, na transição para a República, dimensionando auges na vigência do 
Estado Novo e, bem depois, no regime militar instaurado nos anos 1960. Nas 
enunciações descritivas, em todo o corpo do texto, raramente se encontrará 
manifestações explícitas de patriotismo: essa será uma enunciação típica dos anos 
1930 em diante. Na bibliografia didática, essa discursividade será mais posição do 
 que enunciação, algo muito aclarado, por exemplo, nos prefácios e textos 
introdutórios, a exemplo de Rebello (1829, p. 2):  
 
Servir-me-ha só de desculpa o grande, e verdadeiro amor da Pátria, que me 
inflamma, e me excitou a emprehender animoso a coordinação desta 
Corographia Brasílica, na qual procurei aproximar-me a melhor methodo 
para clara intelligencia, e mais facil percepção dos principiantes; servindo a 
mesma de idéias preliminares de todo este Império nas suas 19 Provincias, 
designadas nas 19 Estrellas da nossa auri-verde Bandeira Nacional, e só 
particularmente extensa nas quatro Comarcas, que compõem esta Provincia 
[...]. 
 
O efeito de sentido precípuo nessas enunciações – a nomeação do conjunto 
de obras inicial da bibliografia – é o da facilitação de um conhecimento, a Geografia 
em uma perspectiva nacional (ver a si própria e ver o mundo para nele ver-se), 
alçando-o ao nível cognitivo do público alvo, então gradativamente em formação. 
Adiante, analisando os discursos do entorno às obras, essa questão poderá ser 
melhor compreendida. 
Portanto, após essa breve análise, percebe-se que os títulos concretizam, de 
forma nuclear, o estabelecimento do discurso didático da Geografia. Em segundo 
plano, evidenciam a utilidade e o destino do corpo discursivo, definindo e expondo 
os tipos de sujeitos envolvidos nessa enunciação discursiva, bem como as filiações 
discursivas que estarão em curso. 
 
 
6.2 A formação do discurso didático de Geografia: estabelecimento da 
Geografia descritiva 
 
O Compendio de Geographia Universal, rezumido de diversos authores e 
offerecido a mocidade brazileira por Bazilio Quaresma Torreão, natural de Olinda, ou 
simplesmente o Compendio de Geographia Universal, evidencia-se, no pequeno 
conjunto de obras inaugurais da bibliografia didática do ensino de Geografia 
brasileiro, no sentido de que surge em um patamar de tradição nula quanto à 
produção de obras escritas para a educação geográfica, no Brasil. Evidencia-se, 
igualmente, por surgir com todos os componentes que estruturam – tanto na forma 
quanto no discurso – a maioria das obras estabelecidas na bibliografia. Dentre seus 
 diferenciais em relação às obras precedentes (GUIMARÃES, 1814; PEREIRA, 1818 
e outros – identificadas por esta pesquisa), destacam-se especificamente o fato de, 
primeiro, ter sido escrita para educar, e educar aprendizes em preparatório para 
ingresso no ensino superior; segundo, por abranger um programa completo de 
abordagem geográfica, de acordo com a Geografia clássica, no mínimo em maior 
extensão em relação à obra de Tilbury (1823, propriamente o primeiro livro didático 
de Geografia brasileiro, ao qual não tive acesso): reconhecimento e enquadro destes 
conhecimentos como uma ciência, acompanhando as divisões que estruturam essa 
Geografia, isto é, a Geografia Astronômica, a Geografia Física e a Geografia 
Política99. 
Bazilio Quaresma Torreão nasceu em Olinda, província de Pernambuco, em 
data imprecisa, nos fins do século XVIII, falecendo no Rio de Janeiro em 1867. Além 
de professor de Geografia e História, ciências nas quais foi renomado pela erudição 
que possuía desses conhecimentos, atuou na política, chegando a presidente de 
província. Também foi um revolucionário, integrando o corpo dos rebeldes de 1817, 
os quais reivindicavam a independência da Província de Pernambuco. Por essa 
participação, ficou preso na Bahia, em companhia de Frei Caneca (BLAKE, 1883). 
Enquanto preso, lecionou aulas avulsas de Geografia – sabe-se de pelo menos três 
cursos ministrados – e, sobretudo, escreveu seu Compendio de Geographia 
Universal, o terceiro no gênero produzido no Brasil, e o segundo com propósitos 
didáticos. Após editar sua obra, ainda em 1824, participou de outra rebelião, 
precisando por esse motivo exilar-se em Londres e em outros países europeus. 
Somente retornou ao país nos anos 1830, quando passou a ocupar cargos políticos, 
presidindo primeiramente a província do Rio Grande do Norte (1833-1836) e depois 
a Província da Paraíba (1836-1838). Enquanto presidente do Rio Grande do Norte, 
fundou o Atheneu Norte-Riograndense, situado em Natal, em 1834. Após 1838, 
continuou na política como deputado do Império, no Rio de Janeiro, até sua morte 
(BLAKE, 1883). 
O Compendio, de única edição, foi impresso em Londres, em 1824, pelo 
editor L. Thompson, na conhecida Officina Portugueza, sendo esta produção 
                                                 
99
 Enquanto a Geografia Moderna Clássica conta com essas três compartimentações, a Geografia 
Moderna cientifica ou institucionalizada, sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter, se 
enveredaria em duas perspectivas: a Geografia Humana e a Geografia Física, quando da emergência 
da dualidade no discurso geográfico desta ciência, fato este demonstrado por Gomes (2000). 
 supervisionada por J. A. d’Oliveira, então “negociante estabelecido em 
Pernambuco”, a respeito de quem não obtive maiores informações: possivelmente 
tratava-se de comerciante ligado a importações, com contatos na Inglaterra, 
encarregado dos trâmites para a produção e comercialização da obra, já que é 
citado nas credenciais de informações identitárias do livro. Em muitos exemplares da 
bibliografia, e também dos livros em geral, era comum identificar um comerciante ou 
casa comercial, à parte das casas editoriais, onde o leitor interessado ou outros 
comerciantes poderiam adquirir exemplares. Quando da publicação, ou pelo menos 
no início do moroso tempo de preparação e edição de um livro, Torreão encontrava-
se preso, portanto sem trabalho vultoso além das aulas que ministrava, o que o 
deixou sem recursos, como o próprio autor admite quando assume não ter editado 
mapas na obra por falta de pecúlio. Em razão dessas “minhas circunstancias 
actuaes” (TORREÃO, 1824, p. 11), o autor utilizou-se de outro procedimento comum 
à edição de obras na época: as subscrições, processo no qual um autor procurava 
financiamento ou venda antecipada de exemplares. Em retribuição, além da 
aquisição de um ou mais exemplares, os signatários tinham seus nomes registrados 
na obra. No Compendio, a esse propósito, há uma lista “das pessoas, que hão de 
contribuir para a Impressão desta Obra”, em 10 páginas, com 353 assinantes. Essa 
listagem apresenta algumas peculiaridades, dentre as pessoas comuns, com certeza 
dentre os mais ilustrados ou bem sucedidos da sociedade (todos nomes 
portugueses ou de ascendência portuguesa, e todos homens, sem exceção), há 
uma quantidade significativa de doutores e reverendos, 10 e 51, respectivamente. O 
particular interesse dos clérigos pela obra talvez se deva às bibliotecas sempre 
disponíveis nos conventos e paróquias, sobremaneira em função da atividade 
educativa exercida pelos religiosos. Outros nomes destacam-se por se identificar as 
localidades de origem ou residência do leitor – Cabo, Parahiba, Seará, Portugal, o 
que leva a crer que o principal dos assinantes fosse de Pernambuco. As assinaturas 
não deixavam de ser uma forma, também, de projeção na sociedade, uma atividade 
típica da elite. Considerando-se o período de prisão do autor, possivelmente o 
negociante J. A. d’Oliveira possa ter participado na articulação do levantamento de 
fundos para a publicação. 
A vida e o Compendio, pelas informações atuais disponíveis, demonstram 
que Torreão era uma pessoa articulada na sociedade de seu tempo, bem 
 relacionado e conhecido. Blake (1883) aponta que o Compendio foi bem recebido 
pela crítica da época. De fato, é uma obra bem escrita, em linguagem fluente, em 
que o estilo apaga a monotonia descritiva que caracterizaria um longo futuro da 
bibliografia didática de Geografia, o que faz do livro uma leitura interessante. Sou do 
parecer que, com o tempo, com o aumento do volume de informações e de fatos 
geográficos, o discurso tendeu a perder sua fluência enunciativa, ficando mais 
enxuto, mais nodal, centrado de fato na descrição e na apresentação de estatísticas. 
O Prefácio do Compendio é um documento fundamental para o discurso do 
ensino de Geografia em seus momentos iniciais. Veja-se: 
 
Prefaccção 
Todo o bom Cidadão deve, segundo as suas forças, concorrer quanto lhe 
for possível para o bem da sociedade, de que he membro: esta verdade, 
gravada no fundo de meu Coração, he quem me inspirou o desejo de 
offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia, que collegi dos 
melhores authores modernos, e o expús com a clareza, e methodo, que me 
foi possível, para proveito da Mocidade Brazileira; dando huma pequena 
idéa da Geographia Astronomica, e tocando de passagem por todos os 
lugares da Terra, demorando-me mais no Brazil; para cuja descripção me 
servi da Corographia do Reverendo.... Ayres, e de algumas informações de 
pessoas fidedignas. Conheço que, para melhor intelligencia, eu devia gravar 
Mappas Geographicos, para esclarecer as divisoens dos Paizes, que 
descrevo; mas as minhas circuntancias actuaes não me offerecem as 
necessárias proporçõens para huma empreza tão delicada: por tanto, como 
seja o meu objecto dar aos meus Patrícios huma tintura geral de 
Geographia, resolvi-me a publicar mesmo com essa falta, na persuasão de 
que as Cartas Universaes, e Geraes pódem muito bem applicar-se-lhe, com 
pequenas faltas, que serão supridas por qualquer hábil explicador. 
Seria ocioso persuadir aos meus Leitores a utilidade, e necessidade do 
estudo da Geographia; pois que em qualquer estado, ou condição, que nos 
achemos, será impossível poder tomar parte nos acontecimentos da História 
dos Povos, sem o conhecimento desta tão bella sciencia; com a qual 
podemos correr o Mundo inteiro, sem nos apartar do recinto de nossas 
habitaçõens. A historia de huma simples gazeta, huma conversa solida 
sobre o interesse dos Principes, e dos Povos, da Religião, e do Commercio, 
demandão, necessariamente, o estudo da Geographia: e he isto que ella 
com justiça he chamada – hum dos Olhos da Historia – He para lamentar, 
porém, que em o nosso idioma não tínhamos hum só volume de Geographia 
capaz de servir de guia aos principiantes; por quanto ou lhes falta methodo, 
e clareza, ou são tão antigos, que a parte histórica, e política, pelas 
variações dos tempos, já se encontra toda differente. Eis mais hum motivo, 
que me obriga a dár á Luz este epithome, do qual, rogo aos meus Leitores, 
não julguem sómente pelo nome do Author; mas depois de o lerem, avaliem 
pelo nome do Author; mas depois de o lerem, avaliem então o zelo, e 
trabalho, com que procurei, quanto pude, proporciona-lo aos seus, e meus 
desejos. 
 
 Dos fatos e dados geográficos e históricos, como o próprio título da obra 
expressa, trata-se de uma obra resumida de diversos autores: “collegi dos melhores 
authores modernos” – mas cuja referenciação explícita apenas menciona, na parte 
de abordagem do Brasil, a obra de Ayres de Casal como fonte, além de fontes orais 
de confiança, tampouco identificadas. Essa coleta do conhecimento visa um método 
expositivo, expresso no lexema “descripção”, constitutivo do discurso didático da 
Geografia. É desse tempo a preocupação em se elaborar materiais diferenciados 
especificamente para o ensino e o aprendizado, reunindo em um mesmo local 
discursos esparsos, e expondo-os de forma compreensível ao público alvo, o que é 
mencionado diretamente nesta sequência: “expús com a clareza, e methodo, que me 
foi possível, para proveito da Mocidade Brazileira”. É a afirmação de um gênero, 
enquanto uma produção típica de construção textual, os compêndios – obras 
coligidas, adaptadas, reunidas para o ensino. Numa perspectiva discursiva, esse 
procedimento, ao passo que institui um gênero, institui também regularidade na 
dispersão discursiva, tratando-se dos pontos que tornam comuns e próximos esses 
discursos, impondo-os como um movimento respondendo às mesmas dinâmicas 
(currículos, políticas educacionais, necessidades do público etc.). Vejam-se as 
seguintes sequências discursivas: “pequeno Tractado de Geographia”; “seja o meu 
objecto dar aos meus Patrícios huma tintura geral de Geographia”. Em ambos, 
projeta-se o sentido da construção didática, a didatização – o apurar o conhecimento 
para alçá-lo aos fins propostos, ou à educação de principiantes: um tratado 
geográfico, mas “pequeno”; da Geografia inteira e disponível, “uma tintura”, 
“pequena idéa da Geographia”... Esse tratamento lexicográfico será igualmente uma 
unidade na dispersão do discurso didático como um todo, e também no discurso do 
ensino geográfico: noções, elementos, introdução, dentre outros lexemas como 
referência às disciplinas e a seu gênero bibliográfico. 
Na Prefacção há posicionamentos do autor frente à nascente nação 
brasileira e à ciência geográfica. Em primeiro lugar, assume sua produção como um 
dever de cidadão, que deve, de acordo com este fragmento, “concorrer quanto lhe 
for possível para o bem da sociedade”, prestando-se, assim, a um serviço público. 
Anima-o, ainda, em segundo lugar, o fato de que “em o nosso idioma não tínhamos 
hum só volume de Geographia capaz de servir de guia aos principiantes”. Essa 
afirmação com certeza enuncia-se ao tempo da escrita do Compendio, pois em 
 1823, um ano antes, Tilbury publicara um manual didático de Geografia. Porém, há 
que se considerar que ambas as obras surgem em pólos diferentes do Brasil, 
praticamente coetâneos: Tilbury publica no Rio de Janeiro e Torreão em 
Pernambuco. Basicamente, eram dois países diferentes, ambos locais com forças 
econômicas capazes de fazê-los dois centros distintos, com comunicação morosa 
entre ambos. De qualquer forma, Torreão tece uma crítica que perduraria adiante 
por todo o período em análise nesta tese, a saber: a desatualização e a pouca 
disponibilidade de materiais textuais para o ensino de Geografia; referindo-se aos 
documentos disponíveis, afirma que “ou lhes falta methodo, e clareza, ou são tão 
antigos, que a parte histórica, e política, pelas variações dos tempos, já se encontra 
toda differente”. O lexema “methodo”, articulado à ausência e, se existente, obscuro, 
aponta para a existência de materiais inapropriados ao ensino e à aprendizagem de 
Geografia nas aulas avulsas: materiais produzidos, de saber geográfico explícito ou 
implícito, mas não organizados para as relações de ensino e de aprendizagem. 
Quanto à Geografia, estabelece um currículo geral, propondo uma 
“Geographia Astronomica, e tocando de passagem por todos os lugares da Terra, 
demorando-me mais no Brazil”. Nessa sequência, é interessante notar que se trata 
de uma das primeiras propostas para se ensinar a Geografia do Brasil, fora do 
contexto do ensino superior. No incidental ensino de Geografia dos jesuítas, como 
visto precedentemente, ensinava-se uma Geografia sacra e cosmológica, e no 
período joanino, em especial na Real Academia Militar, ensinava-se uma Geografia 
geral. “Demorando-se mais no Brazil” denota um sentido mais profundo do que o 
expresso no conjunto da obra. Está-se em 1824, dois anos após a Independência 
política do Brasil, ano de Constituinte, tempo em que os interesses gerais 
começavam a convergir para as necessidades de uma nação por construir. E é 
justamente pela História e pela Geografia que, em um território praticamente sem 
tradição própria, acontecerá certa nacionalização da prática educacional. Como 
abordei em outros momentos, Geografia e História irmanam-se e seguem uma 
trajetória paralela: Torreão enuncia essa posição quando reconhece ser a Geografia 
os “Olhos da Historia”. Não esconde sua admiração por essa sciencia, a qual 
permite “correr o Mundo inteiro, sem nos apartar do recinto de nossas habitaçõens”. 
Nesse contexto, o autor anuncia “a utilidade, e necessidade do estudo da 
Geographia”. Já então era claro que os saberes geográficos também seriam 
 norteadores na formação do cidadão, sobretudo daqueles que estariam à frente dos 
interesses da economia, do Estado, da cultura. Duas sequências desse fragmento 
constroem esse sentido: “será impossível poder tomar parte nos acontecimentos da 
História dos Povos, sem o conhecimento desta tão bella sciencia [...]”; “A historia de 
huma simples gazeta, huma conversa solida sobre o interesse dos Principes, e dos 
Povos, da Religião, e do Commercio, demandão, necessariamente, o estudo da 
Geographia”. 
Indica-se, aí, primeiramente, a Geografia como lugar de saberes 
relacionados a uma cultura geral: “tomar parte nos acontecimentos da História dos 
Povos”; depois, destacam-se vivências cotidianas (“a historia de uma simples 
gazeta”), os interesses do Estado e da Igreja, bem como da economia, que nesse 
enunciado se colocam como práticas que demandam uma orientação do 
aprendizado geográfico. 
Por fim, outro nódulo essencial nesse discurso é o papel atribuído ao 
professor. Conforme mencionei anteriormente, Torreão publicou seu Compendio 
sem mapas, por questões econômicas, embora reconhecesse a utilidade e a 
necessidade de documentos cartográficos em um discurso geográfico. Mas se 
tranquiliza em seu prefácio ao atribuir ao “hábil explicador”, ou professor, a função 
de suprir essa falha. Trata-se de outro funcionamento do discurso didático, ou seja, 
estabelecer um discurso materializado que, embora aparentemente inerte, contará 
com a intermediação da docência, como complementação, como apoio para o 
aprendizado do estudante. 
Outro documento importante da obra de Torreão é a Introdução, transcrita 
abaixo: 
 
Sciencia, geralmente fallando, he o conhecimento certo, que adquirimos de 
qualquer cousa. 
Por tres modo se podem adquirir as Sciencias, ou Conhecimento; vém a 
ser, por meio da leitura reflectida; pela experiencia; e pela meditação*. 
Entre todas as Sciencias, a que he mais natural, ou a que parece dever 
preceder ao estudo da Mocidade, he a Geographia, que faz o nosso 
objecto. 
Geographia pois He a descripção do Glôbo terrestre. Ella tira seu nome de 
duas palavras Gregas – Geos e Graphos – que quer dizer – Tractado da 
Terra. 
Divide-se a Geographia em tres partes; a saber, Geographia Astronomica, 
Geografia Fizica, e Geographia Politica. 
Geographia Astronomica He aquella, que nos ensina a descrever a Terra 
em relação aos Corpos Celestes; os effeitos principaes, que resultão d’esta 
 correspondência; as medidas Mathematicas, que tém feito da Terra aos 
Astros; e finalmente a relação, que estes tém com os fenômenos terrestres, 
que são as variações das Estações, e os diversos temperamentos dos 
Climas &ª. &ª. 
Geographia Fizica he a descripção da Terra, considerada em relação á 
Natureza. Ella nos ensina a forma externa do Glôbo Terrestre; sua divisão 
em terra, e água; sua situação, e limites; os montes; os bosques; os rios; os 
cabos; os lagos; e finalmente, as producções dos tres Reinos naturaes; 
animal, vegetal, e mineral. 
Geographia Politica, que se chama também Geographia descriptiva, he a 
descripção da Terra em relação aos habitantes, e suas convenções. Ella 
divide a Terra em differentes Nações; suapopulação, caracter, costumes, e 
linguagem; sua industria, seu commercio, e Governo, e suas Leis, e 
Religião. 
Do que temos dito segue-se, que se póde chamar á Geographia – Huma 
descripção Mathematica Fizica, e Politica da Terra. 
Eis a matéria deste Compendio, que nos dividiremos em duas partes. A 
primeira tractará da Geographia Astronomica: e a segunda compreenderá a 
Geographia Fizica, e política; porque estas duas se dão as mãos, e 
dependem mutuamente. 
A primeira parte a dividiremos em quatro Secções, tratando; a 1ª. dos Ceos, 
dos Astros, e dos systemas de Copernico; a 2ª. das differentes posições da 
Esfera; a 3ª. das dimensões do Globo Terrestre; e a 4ª. do uso do Glôbo. 
 
*Nota à introducção: Sciencia he a ligação systematica das percepções, e 
idéas, que temos de alguma matéria; ou a subordinação dos conhecimentos 
individuaes a huma idéa primeira, e geral. 
 
Em essência, essa introdução reflete toda a concepção da Geografia 
didática descritiva, ativa por todo o período da bibliografia em análise, à exceção da 
tradição iniciada/introduzida por Delgado de Carvalho, a saber: os conhecimentos 
são enquadrados como ciência, na acepção de um “conhecimento certo, que 
adquirimos de qualquer cousa” ou como “a ligação systematica das percepções, e 
idéas, que temos de alguma matéria; ou a subordinação dos conhecimentos 
individuaes a huma idéa primeira, e geral”. Essas sequências trabalham com três 
sentidos que atravessam as manifestações discursivas sobre ciência presente na 
bibliografia: primeiro, o sentido da certeza; segundo, o sentido da sistematização; 
terceiro, o sentido da movência do saber sob a regência de princípios universais – o 
que é, em síntese, a percepção iluminista do saber científico.   
E, situando-se nessa acepção de ciência, a geográfica é tratada, sempre, 
como a “a descripção do Glôbo terrestre”, definição empreendida pelo entendimento 
etimológico do próprio termo: “Ella tira seu nome de duas palavras Gregas – Geos e 
Graphos – que quer dizer – Tractado da Terra” ou descrição da Terra. Isto posto, 
passa-se à divisão do corpo geográfico na tríade da Geografia clássica: “Divide-se a 
Geographia em tres partes; a saber, Geographia Astronomica, Geografia Fizica, e 
 Geographia Politica”. Como visto no capítulo três, quando da abordagem da obra de 
Pinkerton, essa era a organização estrutural da Geografia Clássica moderna, 
estabelecida nos tratados geográficos. 
A “Geographia Astronomica”, também chamada Cosmografia, centra-se na 
descrição da “Terra em relação aos Corpos Celestes; os effeitos principaes, que 
resultão d’esta correspondência; as medidas Mathematicas, que tém feito da Terra 
aos Astros; e finalmente a relação, que estes tém com os fenômenos terrestres, que 
são as variações das Estações, e os diversos temperamentos dos Climas &ª. &ª.”. 
Na tradição moderna da Geografia científica, essa discursividade migrará para os 
conteúdos relacionados à Cartografia e à Geografia Física, mas nas manifestações 
da Geografia descritiva constituirá uma linhagem à parte, isolada dos demais 
tratamentos e sempre precedendo ou pós sucedendo a Geografia Física e a 
Geografia Política. 
Relacionando a Geografia Física com a descrição da Terra no que tange à 
natureza, afirma que “Ella nos ensina a forma externa do Glôbo Terrestre”, a divisão 
e a situação dos elementos naturais, de terra ou de água, sendo que a  
Geografia Política procede a mesma descrição, mas em relação aos habitantes: 
nações, populações e atividades econômicas e culturais. Apesar de Torreão 
entender que Física e Política “se dão as mãos, e dependem mutuamente”, 
dificilmente, em sua obra mesmo e nas demais, seriam estabelecidas estas 
relações. 
O que está proposto em Torreão funcionou como estrutura geral do gênero 
para a bibliografia enquanto viçou a Geografia descritiva. A variação, de obra para 
obra, praticamente resumiu-se à agregação de novas descrições e atualização de 
dados. Essa questão é lembrada por Brasil (1864, p. v-vi): 
 
A Geographia sendo a descripção da Terra em geral, e de suas divisões 
polticas em particular, não é uma sciencia estacionaria; porque todos os 
dias o horizonte dos conhecimentos humanos se dilata; fazem-se novas 
descobertas; e novas conquistas vem enriquecer o thesouro que a sciencia 
accumula de geração em geração. 
Não só o mundo physico soffre alterações como quase sempre as 
circumscripções politicas se modificão, ora por annexações, ora por 
separações, e conquistas. A sciencia tem pois a obrigação de acompanhar 
esse movimento, se quizer exprimir fielmente o estado actual do mundo, ou 
dos paizes que descreve. 
 
 Qualquer desvio discursivo dessa concepção geográfica foi prontamente 
silenciado. A exemplo disso, tem-se a obra de José Praxedes Pereira Pacheco, 
Breves noções para se estudar com methodo a Geographia do Brasil. Ensaio para, 
pela primeira vez, indicar os tanques marítimos no Atlântico, as vertentes delles, as 
valladas ou bacias que ellas encerrão, accommodando o Brasil ao ultimo plano de 
estudos para o império francez se guindo a Geographia da França, publicada pelo 
autor em 1857 e não aprovada para uso escolar pelo Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro (VLACH, 1988). A obra tinha certa acepção crítica, de demolir o que 
estava posto em termos do ensino geográfico proposto, e pretendia algumas ligeiras 
mudanças em relação a este quadro. De acordo com o autor, havia a necessidade 
de se apresentar um texto mais conciso, tarefa a que, sem modéstia, se propõe: 
 
[...] pois que hoje, sem preparo geographico antecipado, a publicação de 
uma obra complicada e volumosa só serviria para pasto de maledicência, 
ornato de poucas biliothecas, indagação de algum desses raros 
averiguadores que a folheasse, e ruina e esquecimento do autor, que veria 
consumida pela traça estragadora, com intacta pureza como se observa 
todos os dias, o fructo de todas as suas vigilias, privações e sacrifícios; 
porem como eu e meus filhos somos principiantes em estudos do Brasil, 
apresento este trabalho, que é no todo original, e que deverá servir de base 
para maior desenvolvimento e perfeição nos futuros (PACHECO, 1857, p. 
01). 
 
Isto posto, expõe a sua filiação, reconhecendo um procedimento comum às 
demais produções que o precedem nesse gênero: 
 
Tendo estudado já a predilecção que dão os nossos patrícios á producções 
estrangeiras, e achando-a justa, pois que a ellas, sómente a ellas, devemos 
o que não ignoramos a respeito da nossa pátria, resolvi-me fazer um leve 
estracto do cabedal que tenho obtido e collecionado, e assim fundir esta 
obrazinha pelo molde e com as mesmas fórmas da – Petite géographie de 
la France à l’usage dês classes élémentaires par J. L. Sanis (PACHECO, 
1857, p. 01). 
 
Defendendo sua escolha, Pacheco dispara mais uma crítica à bibliografia 
didática posta para o ensino da Geografia, denunciando-a como uma exploração 
comercial, portanto sem compromisso com o ensino, e embasando-se em sua 
própria vivência por essa opção: “O eu preferir o Sr. Sanis a essa multidão de 
publicadores profissionaes na geographia, além de ser o testemunho da attenção 
que me mereceu, pelo ter podido apreciar, por mim mesmo, na applicação do seu 
excellente methodo, quando vivi na capital da França” (PACHECO, 1857, p. 01). O 
 “método de Sanis” seria estudar separadamente a Geografia Física e, depois, a 
Geografia Política – o que não era novidade, para então, de posse dos dados, 
simular “viagens imaginárias”, metodologia de ensino que apenas vigorará no Brasil 
em fins do século XIX. A simulação de viagens foi uma das formas posteriores para 
se pensar um viés prático ao ensino da Geografia, sobretudo quando demonstrado 
em um mapa, e proposto, no Brasil, pela primeira vez, por Pacheco. 
Pacheco, em outro ataque veemente, afirma que sua contribuição 
metodológica seria uma maneira de se “[...] publicar um trabalho util no Brasil, para 
que não seja immediatamente conspurcado pela inépcia, e atassalhado pelos 
omniscientes, que nada apresentando nesse gênero, por egoismo tudo deprecião” 
(PACHECO, 1857, p. 01). 
Talvez a não aceitação de Pacheco pelo IHGB seja por sua imposição 
ofuscante e demolidora dos intelectuais então em ação, e da tradição instituída. Sua 
imodéstia parece mesmo não ter tamanho: 
 
Fui o primeiro a organisar um opúsculo methodico de geographia, e desde 
1852, que o plano foi publicado e adoptado em França, até hoje, ninguem 
no Brasil deu por elle symptomas de vida; aqui vai bom ou máo este original 
inteiramente meu, e assim como o fez com os catalogos botânicos tambem 
originaes, que compuz e publiquei, delle se há de apoderar a inveja, para 
me negar a authentica originalidade, allegando ter recorrido ás mesmas 
fontes que me saciarão, isto é, ás minhas elucubrações [...] e mesmo que 
não tenha o premio de geographia do Instituto Historico e Geographico do 
Brasil por esta nihilidade methodica, terei as bençãos geraes, como todos 
os dias m’as dirige o povo reconhecido PACHECO, 1857, p. 01). 
 
Não há propriamente um rompimento de Pacheco com a Geografia 
descritiva: utiliza-se das mesmas bases e construções: 
 
A geographia tem por fim descrever o mundo, natural ou socialmente. 
A geographia physica occupa-se com a natureza, e trata das terras e das 
águas. 
A geographia politica descreve as sociedades humanas, discorrendo a 
respeito dos governos, das nações e dos trabalhos de qualquer especie 
praticados pelos homens. (PACHECO, 1857, p. 11). 
 
 À exceção da menção central a Sanis, ausentam-se as fontes, traçando 
uma exposição didática típica desse discurso. No entanto, seu texto apresenta 
diferenciais, alguns desenvolvimentos, até com certo traço doutrinário, que não se 
encontra tipicamente na Geografia das nomenclaturas, tais como: 
  
Desengano. É tempo para os Brasileiros se desenganarem que as minas e 
as preciosidades que a terra guarda, quando exploradas, não só se 
extiguem, como deixam o terreno revolto e estéril, e que a agricultura 
renova annualmente o solo e o torna mais productivo. O rei de França 
Henrique IV dizia com criterio de estadista: “lavragem e pastagem são as 
duas tetas da nação”. Clamem embora as folhas diarias advogando as 
empresas, as riquezas espontaneas do territorio, as industrias fabril e 
esthetica e mesmo o commercio, tudo isso só serve quando é applicado 
para desenvolver a uberdade com que os colonos tratão a agricultura 
(PACHECO, 1857, p. 137-138). 
 
Afora isso, faz outros tratamentos nada típicos ao discurso didático ou às 
convenções já admitidas ao gênero, a essa altura, como um extenso 
pronunciamento aos próprios filhos, como adendo ao manual. 
De qualquer forma, o paradigma descritivo da Geografia escolar seguiu 
inalterado. Já em fins do século XIX, essa mesma Geografia ainda estará ativa: 
 
A Geographia [nota de rodapé: Compõe-se de duas palavras gregas – geo, 
terra, e grapho, descrevo [sic]] é a sciencia que trata da descripção da 
Terra. Comprehende tres partes principaes: 
1ª A Geographia astronômica, que considera a Terra como corpo celeste, 
e estuda as relações em que ella se acha com o sol e os outros corpos 
celestes: chama-se-lhe também geographia mathematica, e forma a parte 
mais importante da Cosmographia, que é a descripção astronômica do 
Universo; 
2ª A Geographia Physica, que considera a Terra em si mesma, e trata do 
seu aspecto, das divisões naturaes da sua superfície, de seus differentes 
climas e de suas producções naturaes; 
3ª A Geographia politica, que estuda a Terra como os homens a dividiram, 
e trata dos differentes paizes ou Estados, de suas divisões, governos, 
populações, raças, línguas, civilisação, industria, commercio, finanças, 
forças militares, etc. (LACERDA, 1898, p. 5-6). 
 
Por mais de 100 anos, a transposição da Geografia Clássica moderna cedeu 
seus traços ao dizer didático da disciplina, movendo essas vertentes na escala geral 
e particular da descrição terrestre. Mesmo quando vinda de fora, por meio de 
traduções, continuava-se sua prática, o que é sintoma de ser essa Geografia não 
uma exclusividade do Brasil, mas um padrão estabelecido ao redor do mundo, como 
se vê no texto de Gaultier, francês, em tradução via Portugal: 
 
DISCIPULO. Que cousa é a Geographia? 
MESTRE. É uma sciencia, que ensina o nome e situação dos diversos 
paizes e nações da Terra. 
E que é que significa a palavra Geographia? – Siginifica descripção da terra; 
e se entende por essa palavra a descripção da superfície da terra em suas 
diversas relações. 
 Que figura tem a terra? – É sensivelmente redonda, e tem a fórma d’um 
globo ou d’uma bola. 
De quantos modos póde ser considerada a terra? – De tres modos: ou como 
planeta em relação com os mais corpos celestes, ou como planeta em 
relação com os mais corpos celestes, ou como um corpo physico, e seres 
physicos que a povoam, e então também se lhe chama globo terráqueo, ou 
esphera terrestre, ou finalmente como um corpo político ou moral em 
relação á sociedade civil, isto genero humano, e também se lhe pode chmar 
mundo. 
D’aqui vem dividir-se a geographia em mathematica, physica e politica. 
Mathematica ou astronômica, é a que ensina a descrever a terra em quanto 
á sua figura, dimensões, e posição no systema do Universo e seus 
movimentos. 
Physica, a que ensina a descrever a superficie da terra em quanto sólida, 
liquida, plana, montuosa, occupada por indivíduos dos tres reinos da 
natureza, e cercada do fluido atmospherico. 
Politica, a que ensina a descrever os mais nobres habitantes da terra, que 
são os homens, formando nações selvagens, bárbaras e mais ou menos 
civilizadas.  
A geographia ainda póde ser considerada em quanto aos objetos que 
descreve; e então chama-se: 
Histórica ou Anterior, a que descreve a terra como se achava em differentes 
épocas anteriores aos nosos dias; 
Actual, quando trata da terra como ella se acha actualmente. – D’aqui vêm 
as denominações de geographia antiga, da edade media, moderna; 
sagrada, ecclesiastica 
Em quanto ao seu objecto, chama-se: Geral, quando descreve as coisas 
principaes da terra considerada em sua totalidade. 
CHOROGRAPHIA; quando descreve as cousas principaes de qualquer 
região. 
TOPOGRAPHIA; quando desce á descripção de algum sitio em particular. 
HIDROGRAPHIA; quando dá a descripção physica das águas de um paiz. 
OROGRAPHIA; quando descreve os montes e as serras de qualquer região. 
METEREOLOGIA; é a parte da physica que explica os phenomenos da 
atmosphera. 
ETHOGRAPHIA; a sciencia que tem por objecto a descripção, divisão, e 
filiação dos povos; sua natureza, caracteres physicos, índole, costumes, 
usos, língua e religião. 
GEOLOGIA em sua accepção mais extensa, é a descripção physica da terra 
e dos seus phenomenos, e principalmente de sua estructura interior, ou 
antes conhecimento scientifico da estructura do globo, da formação e da 
disposição das substancias que ella encerra. 
COSMOGRAPHIA; é a descripção do Universo. (GAULTIER, 1878, p. 3-5). 
 
Todo o discurso didático da Geografia é construído à maneira dessa 
enunciação de Gaultier, quanto ao silenciamento de outras vozes, de não expor uma 
heterogeneidade mostrada, mas apenas heterogeneidades constitutivas, resvaladas 
nas formações discursivas da Geografia Moderna clássica, nos levantamentos 
estatísticos governamentais e outras fontes: o Outro não tem voz, pois esse tipo 
discursivo procura construir a imagem do sujeito autorizado a dizer o que diz, sendo 
o efeito a construção de uma superfície discursiva lisa, conceito que propus para 
compreender, no discurso didático, o fio do dizer que promove o efeito autoria e 
autoridade repassado aos sujeitos receptores da enunciação, e o que se consegue 
 justamente pelo apagamento da heterogeneidade: o fio do discurso responde 
apenas a um locutor único. Para isso concorre mesmo um efeito gráfico, com uma 
mancha autoral única, espaço de um sujeito rendido à heterogeneidade constitutiva. 
 
 
6.3 Prefácios, prólogos, notas de advertência, apresentações e imprensa: os 
discursos do entorno 
 
Na análise discursiva, há duas perspectivas para confrontar um discurso: 
isola-se a enunciação de um sujeito, e percorre-se o seu trânsito nas suas 
formações ideológicas e discursivas, trabalhando seus efeitos de sentido, ou se 
adentra a própria formação discursiva, procurando a unidade na diversidade dos 
sentidos em múltiplas enunciações. 
Às margens do discurso didático da bibliografia escolar geográfica, a esse 
propósito, há um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar, promover, 
legitimar e esclarecer o discurso didático de Geografia: os próprios autores, 
intelectuais reconhecidos, os editores, a imprensa, os órgãos oficiais de ensino. 
É dos raros momentos em que o discurso escapa à heterogeneidade 
constitutiva, cedendo espaço ao Outro, também. São os que denomino “discursos do 
entorno” que, da margem, ocupam esse espaço da palavra para convencer e 
esclarecer discentes, docentes e público em geral, preparando percursos 
enunciativos para o dizer didático dessa disciplina. 
De pequenas notas de esclarecimento a várias páginas de reprodução dos 
dizeres na imprensa, esses discursos empenham-se a não deixar ilesa a recepção 
enunciativa do discurso da bibliografia. A partir deles, é possível perceber 
discursividades sobre questões como autoria, autoridade, legitimação da disciplina, a 
relação dos textos com os currículos propostos, a questão das fontes e das 
traduções, posicionamentos frentes à tradição, à metodologia de ensino e à 
formação dos professores, a questão da nacionalidade. 
 
 
 6.3.1 Estabelecimento da autoria e da obra: vozes constitutivas dos sujeitos e 
dos discursos didáticos 
 
As capas e as folhas de rosto são lugares discursivos quase comum, em 
todo o período em análise, para manifestar as ocupações e a formação do autor, o 
que dele se sabe na instância da obra, construindo um efeito de sujeito autorizado 
ao discurso em curso – autoridade que reverbera em credibilidade: enunciam porque 
podem fazê-lo, visto serem representantes desses discursos, vinculados aos meios 
intelectuais propícios a isso; sobretudo, à docência ou a alguma atividade 
acadêmica. Sousa Neto (1997, p. 41-42), a esse respeito, demonstra, a partir da 
obra de Pompeu, o funcionamento dessa construção de sentidos: 
 
Uma das coisas mais interessantes na obra são os títulos de Pompeu, que 
aparecem edição após edição, na folha de rosto do livro. Deste modo, na 
terceira edição, de 1859, que é aquela que apresenta a maior quantidade de 
titulações, aparece a seguinte lista de títulos: “Bacharel formado em 
sciencias sociaes e juridicas pela Academia de Olinda, Vigario Geral 
foraneo da Provincia do Ceará, Professor de Geographia no Lyceo da 
mesma Provincia, socio correspondente do Instituto Historico e Geographico 
do Brasil, da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, da Sociedade 
Amante da Instrucção da Côrte, socio honorario da Sociedade Philomatica 
da Côrte, do Atheneo Paulistano, do Instituto de Advogados de 
Pernambuco, do Instituto litterario, e da Associação Typographica do 
Maranhão”. Enquanto isso, na quinta e última edição do Compendio, em 
1869, aparece a menor lista de títulos, todavia a que mais o qualifica no 
tocante ao reconhecimento scientifico institucional da época: “Sócio do 
Instituto Historico e Geographico do Brasil, da Sociedade Geographica de 
Paris, etc, etc...”. A redução curricular demonstra a importância do autor, 
que agora já não necessita mais elencar sua participação na Sociedade 
Amante da Instrucção da Côrte porque faz parte da primeira sociedade 
geográfica fundada no mundo, a Sociedade Geographica de Paris, de 1821, 
e isto basta para revelar suas qualidades intelectuais.  
 
As capas e folhas de rosto, realmente, foram o lugar por excelência para 
afirmar um autor e sua credibilidade, sendo abundantes os exemplos enunciados: 
Dr. Joaquim Maria de Lacerda: “Membro da Arcadia Romana”; M. Said Ali: “Lente do 
Gymnasio Nacional e professor da Escola Preparatória e de Táctica do Realengo”; 
C. M. Delgado de Carvalho: “Diplomado pela Escola de Sciencias Politicas de Paris”; 
Dr. Feliciano Pinheiro Bittencourt: “Lente cathedratico da E. Normal e antigo 
professor dessa materia"; Dr. Eugenio de Barros Raja Gabaglia: “Doutor em 
Sciencias physicas e mathematicas, lente do Gymnasio Nacional da Escola Naval e 
Polytechnica do Rio de Janeiro”. Sem a mesma frequência, os discursos do entorno 
 também se revelaram um dos lugares para se por a experiência do autor como 
ateste de validade à obra. Veja-se o fragmento abaixo: 
 
Há 27 anos, desde os saudosos tempos acadêmicos, estudo e ensino a 
Geographia e a Historia, permitindo me tão longa pratica avaliar o que mais 
convem aos que procuram conhecer taes disciplinas (o autor; 
BITTENCOURT, 1907, p. 1). 
 
A expressiva contabilidade dos anos, de acordo com esse sujeito, assevera-lhe juízo 
suficiente para saber o que convém ou não no âmbito do ensino da Geografia. Todo 
sujeito-autor tem diante de si, nesse período, a temeridade e o risco nas 
circunstâncias de sua publicação: é importante o que a crítica pode dizer, a recepção 
dos diretores e professores, o parecer das bancas censórias – todo o cenário de 
recepção pode influir na aceitação ou na refutação de uma obra, ou na amplitude de 
sua adoção.  Nesse caso, não é o sujeito ou sua formação que o habilita, mas, 
sobretudo em um contexto no qual praticamente é nula a formação de professores 
dessa disciplina, é a experiência docente que conta muito para o estabelecimento de 
sua autoridade no assunto. Na sequência em que diz “desde os saudosos tempos 
acadêmicos”, o sujeito deixa transparecer, de sua trajetória de vida, algo comum 
entre o professorado de Geografia: as atividades de docência e de formação 
superior percorrendo caminho paralelo. Era comum, por necessidade de 
sobrevivência, que os acadêmicos dedicassem parte do seu tempo ao ensino, 
sobretudo o particular. 
Em geral, a produção de materiais didáticos de Geografia não se ligava ao 
centro da atividade profissional do sujeito-autor, a menos que essa fosse 
relacionada ao ensino da disciplina, pois entre os sujeitos são declaradas atuações 
como comerciantes, advogados, políticos, militares... Às vezes, esses discursos da 
margem revelam verdadeiras crônicas sobre as instâncias de produção dessas 
obras: 
 
Apresentamos hoje a terceira edição desta obra. Tendo-se esgotado 
rapidamente a 1ª. e a 2ª., foi-nos bastante difficil preparar esta 3ª., para 
acudir aos pedidos do todos os cantos do paiz. Felizmente, so as ferias do 
Natal e Reis vieram dar-nos uma clareirasinha, por onde, escapando ás 
absorventes actividades que hoje nos empolgam, pudessemos passar uma 
revisão neste compendio, que vae alargando ascendentemente as suas 
fronteiras geographicas. (O autor, 19-2-1929; XAVIER, 1929, p. 7). 
  
Ao autor de um livro didático de Geografia consolidado restava o moroso e 
permanente trabalho de atualizar suas edições, haja vista as alterações constantes 
dos conteúdos. Um fato assinalável é a quase gratuidade desse trabalho. Durante 
longas décadas, as publicações, conforme já aferi em outras ocasiões, eram 
custeadas pelos próprios autores; quando comercializadas, dependiam da extensão 
das edições para ter algum retorno pecuniário ao autor – apenas a partir dos anos 
1930 se pode observar o surgimento dos primeiros best-sellers da literatura didática 
de Geografia. Em algumas ocasiões, essa falta de estímulo é mencionada na 
bibliografia em análise: 
 
Outro trabalhador infatigável é o colendo professor Scrosoppi que, apezar 
de sua já avançada edade e da falta de estímulos tão de lamentar em um 
meio como o nosso, prosegue na benemerita faina de augmentar o cabedal 
didactico da nossa literatura. E disto é mais uma prova o seu ultimo 
compendio – Lições de Chorographia do Brasil, que, não obstante haver 
apparecido recentemente, já está adoptado em vários estabelecimentos de 
ensino, não só da capital mas ainda do interior e de outros estados (São 
Paulo, 30/05/1908; SCROSOPPI, 1911, p. V). 
 
O funcionamento para construir uma imagem do sujeito também agiu no 
discurso delegado ao outro, em especial a jornalistas e intelectuais. Nessa instância, 
a imagem em construção procura alimentar uma mesclagem entre sujeito-autor e 
discurso, a ser anotada como referência do dizer, no caso, geográfico. Em qualquer 
literatura, dizer um nome, uma autoria, significa remeter-se a um determinado 
conjunto de características discursivas – o nome reverbera-se em uma marca, com 
uma apreciação reconhecida entre o público. 
O Outro é chamado à instância da enunciação para avaliar o sujeito, em 
seus feitos, suas qualidades, mesmo em seus defeitos – o que particularmente se 
vincula ao dizer da imprensa, uma voz com contradições colocadas de forma sutil, 
de modo a não desconstruir o autor e sua obra – até porque são dizeres aceitos 
pelos autores e editores, e utilizados com o propósito de promoção dos sentidos 
defendidos no âmbito do discurso. É dessa forma que é recebida a obra de F.I.C., 
traduzida e amplamente utilizada no Brasil: 
 
O que caracteriza esta obra não é somente a grande quantidade de figuras 
escolhidas, mas tambem os quadros estatisticos sobre as populações, as 
 superfícies, as finanças dos Estados, a industria, o commercio, etc.; e 
sobretudo a grande quantidade de notas interessantes: estatisticas, 
etymologias, descripções, etc., notas que postas nos fins das paginas, não 
prejudicam em nada e não atrapalham o texto principal que se tem de 
estudar. (A Exploração, revista geographica e jornal das viajens, Pariz; 
F.I.C., 1902, p. VII). 
 
Nesses fragmentos, a obra é admirada pela expressiva quantidade de dados e 
documentos que apresenta, cujos lexemas evidenciam a filiação à Geografia 
descritiva. O que significa compreender que o discurso geográfico já foi elogiado 
pelo que posteriormente foi condenado! Como demonstrarei adiante, as obras 
didáticas do período em análise não se reservavam unicamente ao estudo, mas a 
um público mais amplo, com necessidade de saberes geográficos menos técnicos e 
mais condensados. É por essa razão que o sujeito desta enunciação associa, em 
forma de admiração, a sequência “grande quantidade” às “figuras escolhidas”, 
“quadros estatísticos”, “notas”, “estatisticas”, “etymologias”, “descripções” como fator 
de qualidade da enunciação do sujeito-autor, estimando por aí o valor da obra e do 
seu autor. E ciente dessa necessidade – atender o ensino e os interesses gerais – 
ressalta como o método de expressão (“notas que postas nos fins das paginas”) 
consegue conciliar as diversas utilidades para as quais esse discurso pode servir. 
Os discursos do entorno atribuído ao outro, dos quais constam as notícias e críticas 
publicadas na imprensa ou atribuída a convidados, são selecionados, fragmentados, 
colocados com intencionalidade para atender a uma determinada vontade do autor 
sobre a imagem de obra e autoria que enseja construir, ou seja, são dispostos a 
construir um determinado efeito de sentido. É por isso que os sentidos construídos 
no fragmento acima encontram ressonância em outra enunciação do mesmo 
contexto: 
 
O que me admira é como elle poude condensar tantos pormenores 
preciosos, curiosos e novos em um unico volume! Demais, o plano da obra 
é tão bem concebido quão seguido. No Curso de Geographia ha mais do 
que erudição. Percorrendo os documentos que n'elle se acham sente-se 
uma satisfação intellectual que induz a lel-os mais de uma vez. (P. V. S. A., 
Antigo capitão de marinha; F.I.C., 1902, p. V). 
 
Nessa enunciação, persiste o sentido de louvação pela condensação dos dados 
geográficos articulados em um plano expressivo que ultrapassa o funcionamento do 
discurso como elemento de ensino e aprendizagem que, em outros termos 
enunciativos, coadunam com a construção anterior. A enunciação atinge o centro do 
 que se pedia ao discurso didático nessas circunstâncias: abundância na síntese. 
Notadamente a partir da década de 1880, quando a comercialização das 
obras didáticas começa a ganhar força, o processo de divulgação de uma obra na 
imprensa podia ter início ainda no prelo: 
 
Já tivemos a occasião de nos referir a este livro didactico, quando se estava 
ainda imprimindo, por alguns fasciculos que o seu autor nos mostrára. Hoje 
que o livro está publicado e á venda nas principaes livrarias, podemos 
affirmar que, na nossa opinião, é o melhor tratado que na espécie tem 
apparecido em todo o nosso paiz. (Diário Popular, 20/04/1908; 
SCROSOPPI, 1911, p. III). 
 
A imprensa teve uma relação próxima à bibliografia, no sentido de apresentar 
críticas, e considerações sobre os autores e obras. Uma parte dessas 
apresentações foi reproduzida nas obras pelos autores e editores. Nos Fragmentos 
abaixo, Mario da Veiga Cabral é projetado pela extensão de suas publicações 
(embora ainda com pouca idade F6.3.1/2), pela quantidade de vendas que as levam 
a sucessivas reedições, um fato que sem dúvida representava um golpe na tradição 
dos autores estacionários nas primeiras edições (F6.3.1/1)... Cabral alçou esse 
sucesso ao reformular a linguagem das obras didáticas (e assumir gradativamente a 
abordagem moderna introduzida por Delgado de Carvalho) e também por haver, em 
torno de suas publicações, uma massiva campanha de divulgação: 
 
Fragmento 6.3.1/1 
Há um nome no magistério secundário, surgido há pouco, mas surgido 
como as manhãs sonoras: com luz própria e seductor encanto. É o sr, Mario 
da Veiga Cabral. Com pouco mais de trinta anos, é já um copioso autor de 
obras didacticas. Orça por dezoito o numero delas, entre as publicadas e as 
que se acham prontas ou em preparação para tal fim. Dizer que as 
sucessivas edições de suas obras rapidamente se esgotam, é fazer-lhe o 
maior, o melhor e o mais positivo dos elogios. Em verdade, nenhuma delas 
estaciona na primeira edição, sendo que uma – e todas de alguns milheiros 
de volumes – já atingiu a 11ª. [...] sucesso que há de ter levado a damnação 
ao espirito de tantos gênios, autores de obras de mil exemplares, e que 
envelhecem namorando os mil e um exemplares dessas mesmas obras, 
que emboloram melancolicamente, esparramados nos balcões ou trepados 
nas estantes das livrarias irreverentes... (Leoncio Correia, A Patria, 
24/04/1926; CABRAL, 1935, p. 410). 
 
Fragmento 6.3.1/2 
Entre os nossos autores didacticos é, certamente, o Dr. Mario Da Veiga 
Cabral o mais jovem e tambem o que maior êxito tem conseguido nos 
últimos tempos, com os seus excelentes trabalhos de geographia geral e de 
 chorographia do Brasil (Gazeta de Notícias, 05/05/1923; CABRAL, 1935, p. 
409). 
 
Fragmento 6.3.1/3 
E o fez com tamanho acerto e felicidade que os tres livros, de que um só 
Estado do Brasil adquiriu cinco mil exemplares, são já em 2ª. Edição mui 
bem ultimada (A Patria, 06/02/1926; CABRAL, 1935, p. 414). 
 
Fragmento 6.3.1/4 
Engenheiro-agrimensor, dono de uma vasta erudição e de uma intelligencia 
ampla e forte, o dr. Mario da Da Veiga Cabral se tem imposto como uma 
das expressões mais puras da mentalidade brasileira (A Patria, 06/02/1926; 
CABRAL, 1935, p. 411). 
 
Fragmento 6.3.1/5 
Não existe, presentemente, em todo o Brasil, estudante de Historia, de 
Geographia ou de Chorographia que desconheça o jovem e já notavel 
professor que é o sr. Mario Da Veiga Cabral: suas excelente obras 
didacticas, actualmente conhecidas e adoptadas de norte ao sul do paiz, e 
quantos se abeberam na fonte de seus ensinamentos não teem, por isso, o 
direito de desconhecer-lhe o nome (A Patria, 06/02/1926; CABRAL, 1935, p. 
412). 
 
Tamanho sucesso editorial, pois a produtividade certamente advinha da 
ampla vendagem, só é compartilhado por Aroldo de Azevedo. Para isso, além das 
inovações pertinentes à abordagem teórico-metodológica da Geografia, e da 
divulgação das obras, aliava-se ao estrito cumprimento dos programas prescritos 
para o ensino: 
 
Fragmento 6.3.1/6 
O sr. Dr. Frota Pessoa, ex-secretario geral da Directoria de Instrucção 
Publica do Districto Federal, na secção Educação e Ensino, que mantém no 
Jornal do Brasil, assim se referiu ao Terceiro Anno de Geographia, depois 
de longa consideração sobre o estudo desta disciplina: ‘[...] É de justiça 
consignar que pela natureza dos assumptos e pela forma de tratal-os, este 
compendio é superior aos antigos livros desse gênero. O autor, conhece as 
modernas exigências do ensino da geographia, e fez o que pôde, ao 
confeccionar um livro que tem de atender ao programma vigente do curso 
secundário” (Jornal do Brasil, 07/11/1933; CABRAL, 1935, p. 304). 
 
Fragmento 6.3.1/7 
Quanto ao caracter techinico, cremos que as obras deste autor nada deixam 
a desejar. Os louvores que lhes tecem os especialistas em historia e 
geographia são dos mais concludentes. Entre outros, o professor João 
Ribeiro lovou-lhes a “perfeita clareza e excellencia de methodo na 
distribuição das matérias” (Leoncio Correia, A Patria, 24/04/1926; CABRAL, 
1935, p. 411). 
  
A imprensa também apresenta reclames contra excessos, faltas e falhas das 
obras, seja quanto ao emprego de certos aspectos da linguagem (abuso de termos 
gregos), inexatidão de dados ou fatos e outros: 
 
Entre os pequenos defeitos que no compendio se podem encontrar, que 
não prejudicarão, entretanto, o seu merecimento nem minoram a sua 
utilidade, observámos na distribuição da materia um abuso de technologia 
grega, que as crianças, as quaes principalmente o livro vai servir, pediriam 
que lhes poupassem. (Jornal do Commercio, 30/Outubro/1890; VILLA-
BOAS, 1901, VII). 
 
Entre as editoras e a imprensa sempre houve uma relação com 
compromissos: a imprensa vive de seus anúncios publicitários e as editoras, nesse 
período, sempre propagavam por ela, quase que exclusivamente, os reclames de 
divulgação de seus títulos, bem como artigos de crítica e conhecimento dos novos 
lançamentos. Em face disso, é fácil encontrar discursos oscilantes, que elogiam as 
obras, porém não deixam de apresentar, igualmente, suas fraquezas, apresentando 
uma “guerra de sentidos”, com um cuidado para não anular a obra com seus efeitos 
de sentido: 
 
Revelada uma ou outra inexactidão, ou mesmo uma ou outra apreciação 
mal cabida em assumpto tão vasto e complexo, como é o da geographia e 
historia pátria, a parte propriamente descriptiva do compendio, é bem feita e 
escripta em linguagem singela ao alcance de todos. Haja embora 
desaccordo, como é natural entre o A. e outras autoridades na matéria, no 
tocante a certas apreciações histórico-geographicas e com relação ás 
outras que determinam e precisam populações e extensões do território 
patrio e outros senões que não vêm ao caso apontar, o livro, por um 
conjunto de excellentes predicados, torna-se altamente recomendavel e 
permite presagiar optimos resultados, dignos de geraes applausos. Não 
alardêa, por certo, erudição inútil, van e, por via de regra, falsa, usando de 
pedantescas denominações technicas, desconhecidas do vulgo, como por 
exemplo: “acrotereographia”, “colpographia”, “limnegraphia”, e outras 
terminações em “ia”, verdadeiros gongorismos scientificos, como lhes 
chamaria Alexandre Herculano. Ao manusear o compendio observamos um 
bom resumo sobre a climatologia, salubridade e acclimação, nos diversos 
Estados, onde não se vê confundida a geographia medica com o clima 
geographico, como merece ser notado em outros livros que tratam do 
assumpto. [...] Outro ponto, de resto, merecedor de honrosa menção é o 
que se refere a correios e telegraphos e organisação do serviço postal, 
tratados com methodo e clareza. [...] Acabemos de vez para sempre com 
essas enfadonhas e rotineiras lições de cor, de longas séries de palavras 
sem significação, verdadeiras castas de nomes (Estado de São Paulo, 
05/08/1908; SCROSOPPI, 1911, p. VI-VII). 
 
 Na crítica desse fragmento, o sujeito coloca depreciações em menor 
quantidade que as qualidades da obra, fazendo-as, contudo, de forma genérica, sem 
alusão direta aos deslizes: “uma ou outra inexactidão”, “uma ou outra apreciação mal 
cabida”, “outros senões que não vêm ao caso apontar”. Estas indiretas funcionam 
discursivamente como um silenciamento, pois criam oposições não esclarecidas: 
quais seriam as inexatidões, as apreciações mal colocadas, os senões nesse 
discurso? Aquelas identificadas por esse sujeito, as que estão em sua perspectiva, 
não se sabe. Por outro lado, chega a ser mais exato na colocação qualitativa da 
obra, ressaltando sua descrição bem feita, a linguagem clara e acessível, 
recomendando-a e prevendo bons resultados pedagógicos com o seu uso. Ressalva 
a qualidade do resumo sobre a climatologia, o fato de não confundir a geografia 
médica com a climatologia (repasto de muitos dos determinismos presentes no 
discurso da Geografia descritiva), a atenção dada pelo autor aos correios e 
telégrafos, além dos serviços postais, sem dúvida um tema novo na bibligrafia. Por 
inferência, o sujeito encontra contexto para posicionar sua análise em relação à 
tradição da literatura didática de Geografia, mencionar a “erudição inútil, van e, por 
via de regra, falsa”, plena de “pedantescas denominações technicas, desconhecidas 
do vulgo”, o que evidencia características perceptíveis à época em relação à 
bibliografia, o fato de haver entre os autores discordância sobre pontos das matérias, 
e uma linhagem de “enfadonhas e rotineiras lições de cor, de longas séries de 
palavras sem significação, verdadeiras castas de nomes”. 
A imprensa parece ter acompanhado de perto o desenvolvimento da 
bibliografia, não deixando de elencar aceitações e colocando pontos de vista sobre 
os discursos publicados: 
 
Fragmento 6.3.1/8 
O distincto professor R. Villa-Lobos enviou-nos um exemplar de sua 
“Chorographia do Brazil”, o qual agradecemos. Neste genero de trabalhos, 
raramente temos visto obra que tão acertada para o ensino, esteja ao 
mesmo tempo, bem enxertada de notas e observações criteriosas, colhidas 
com real estudo. (Folha Popular, 23/Outubro/1890; VILLA-BOAS, 1901, VI). 
 
Fragmento 6.3.1/9 
O Sr. R. Villa-Lobos teve a gentileza de nos enviar um exemplar da 2ª.  
edição do seu trabalho – “Compendio Elementar de Chorographia do Brazil”. 
[...] Elementar denomina-o o autor na sua infundada modestia; nós, porem, 
pedir-Ihe-iamos licença para substituir esse quaIificativo por outro que 
melhor cabido fosse. [...] Desenvolvido como está o estudo da Chorographia 
 patria feito pelo autor, adaptado aos modernos processos em uso nas 
escolas, será de grande utilidade áquelles que procurarem adquirir 
conhecimentos em fontes insuspeitas, fiados no criterio e idoneidade dos 
autores das obras em que estudam. (Democracia, 11/Outubro/1890; VILLA-
BOAS, 1901, V). 
 
Fragmento 6.3.1/10 
O Compendio está na 2ª. edição, o que quer dizer que já está criticado. [...] 
O autor d'um livro em segunda edição só póde pedir uma critica, juntando a 
certidão de que distribuiu a primeira tiragem pelos seus numerosos amigos. 
(Correio do Povo, 18/Outubro/1890; VILLA-BOAS, 1901, V). 
 
Fragmento 6.3.1/11 
A cIassificação dos materiaes contidos na chorographia foi feita com 
regularidade, sendo os varios Estados reunidos em uma parte especial para 
a analyse geographica e historica de cada um. [...] Se alguns reparos 
podem ser feitos a obrinha do Sr. Villa-Lobos, são: basear as informações 
politicas na Constituição ainda não decretada e amontoar notas sobre notas 
no estudo geologico, botanico e zoologico do Brazil. Não ha duvida que, em 
serem completos, não se excIue nos compendios a qualidade didactica da 
concisão. [...] Sob pontos scientificos ainda se poderia reparar na acceitação 
que faz o Sr. Villa-Lobos da velha e decahida denominação de “raça 
caucasiana” na falta de notas e observações no que respeita a raça negra, 
que, sem duvida, cruzou mais com o ibérico do que o aborigene; na repe-
tição de varios erros de Macedo e do Sr. Moreira Pinto. Entretanto o que 
ninguem negara é que pela copia de observações, pelo cuidado da forma, 
pela boa divisão dos assumptos, o livro do Sr. Villa-Lobos fez-se credor de 
animação. [...] (Folha Popular, 23/Outubro/1890; VILLA-BOAS, 1901, VI). 
 
Na análise da obra de Villa-Boas (1901), o sujeito autor considera precipitada a 
incorporação do desenho político ainda não garantido pela Constituição, e faz 
ressalva ao excesso de notas geológicas, botânicas e zoológicas, o que, ao ver do 
sujeito, sacrifica a “qualidade didactica da concisão” (F6.3.1/11). Acusa a ausência 
de considerações sobre a “raça negra” (F6.3.1/11) na constituição do povo brasileiro, 
continuação de um erro que o sujeito demonstra conhecer na tradição da 
bibliografia, pois remete-o, com conhecimento e propriedade, a Macedo e a Moreira 
Pinto, dois autores de destaque no cenário da bibliografia. Não deixa, contudo, que 
esses desvios sejam desmerecimento à obra. 
O sujeito autor e a obra didática, portanto, dados às especificidades de uma 
disciplina, dependiam, também, da construção de uma imagem que os qualificasse e 
os percebesse como sujeitos autorizados desses discursos. As próprias obras, em 
seus cabeçalhos, auxiliam nessa produção, embora igualmente fosse importante o 
papel da imprensa como baliza referencial sobre os valores de autores e obras. 
 
 6.3.2 A identidade e a legitimidade da disciplina 
 
Uma das regularidades discursivas que atravessam os discursos do entorno 
e os discursos introdutórios da bibliografia menciona a questão da importância e, por 
conseguinte, da identidade e da legitimidade escolar dos conhecimentos 
geográficos. 
Esses discursos argumentam, sobretudo, sua utilidade individual e coletiva 
na formação do educando. Dentre as principais linhagens, nesse sentido, destacam-
se a menção ao desenvolvimento da Geografia nos países civilizados; à variedade 
de assuntos aos quais se interliga o saber geográfico; ao serviço que presta às 
práticas profissionais e aos interesses da nação; ao desenvolvimento intelectual do 
estudante; ao serviço auxiliar à compreensão e ao aprendizado da História; ao 
conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade do educando...  
O modelo de intelectualidade brasileiro, tendo muita influência de países 
como Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e, sobretudo, França, situou nesses 
lugares suas referências para o ensino de Geografia: 
 
Hoje que o estudo da Geographia vai tornando um desenvolvimento 
immenso em todos os paizes civilisados, que a consideram com razão um 
dos conhecimentos mais importantes e essenciaes para a prosperidade e 
força de uma nação, julgamos que tambem no Brazil, que se ufana de ser a 
primeira nação em todos os sentidos da America do Sul e uma das mais 
civilizadas do globo, este estudo deveria tomar maior incremento e não 
contentar-se com os pequenos compendios que são geralmente adoptados. 
Sirva de exemplo a França, cujas recentes calamidades reconhecem todos 
serem devidas em parte aos poucos conhecimentos da Geographia; quanto 
porém não se applica ella hoje a desenvolvel-os e espalhal-os por todas as 
classes da sociedade! Prescindindo das grandes obras que vai diariamente 
publicando, que excellentes compendios são os que ella adopta em suas 
escolas! Basta citar os nomes de seus autores: Cortambert, Levasseur, 
Pigeonneau, Dussieux, Grégoire, Sardou, etc. Todos elles dão sufficiente 
desenvolvimento ás differentes partes da Geographia, á parte astronomica, 
physica, politica, economica e historica. É que “a Geographia”, como bem 
diz o Sr. Levasseur, “differe muito d'uma nomenclatura; ella deve penetrar 
quanto e possivel o segredo das leis physicas, politicas e economicas, de 
que os factos geographicos são a manifestação, e é assim que deve ser 
comprehendida e estudada. Por mais compendioso que seja este ensino, é 
de necessidade ter sempre em vista provocar a reflexão dos estudantes e 
desenvolver a sua intelligencia ao menos tanto como a sua memoria. Cada 
nome deve, quanto fôr possivel, ser acompanhado d'um traço descriptivo 
que interesse a intelligencia e á imaginação”. 0 que nós aqui dizemos da 
importância que hoje em França se dá aos estudos geographicos, não é 
bastante, comparado com o que se passa na Allemanha, na Inglaterra e nos 
Estados-Unidos, paizes poderosissimos e mui florescentes, que marcham a 
testa da civilisão moderna. (O autor, 1880?; LACERDA, 1898, p. 2). 
  
Nesse fragmento, o sujeito vincula a importância do ensino geográfico ao 
amadurecimento das nações “civilizadas”, indicando essa educação como caminho 
idêntico para o Brasil, proclamado a primeira nação real da América do Sul. No 
fragmento seguinte, o sujeito, situando os estudos geográficos na Terra e no 
Homem, ressalva a variedade ofertada por esses conhecimentos, igualando-as, em 
nível de necessidade, a outros saberes escolares consolidados e de importância 
pouco questionável – a matemática e as ciências naturais: 
 
Fragmento 6.3.2/1 
De todos os estudos destinados a preparar a intelligencia aquelle que se 
occupa da Terra e do Homem é o que, naturalmente, maior variedade de 
aspectos nos offerece. Interessante, pois, mais que qualquer outra, essa 
mesma disciplina torna-se ao mesmo tempo um conhecimento hoje tão 
imprescindivel como a mathematica e as sciencias naturaes, quer para os 
cursos academicos, quer para as necessidades praticas da vida. (O autor; 
ALI, 1905, p. III). 
 
Fragmento 6.3.2/2 
É a Geographia que ensina a Historia a influencia das condições 
topographicas e climatologicas sobre o desenvolvimento das populações, 
etc.: a Economia politica, a Diplomacia, o estado actual dos recursos de 
cada paiz, na paz ou na guerra; a Arte militar, as estradas estrategicas 
favoraveis a marcha dos exercitos; as Administrações; civil, ecclesiastica; 
aos viajantes, aos missionarios, aos naturalistas, etc., a posição das mais 
pequenas localidades, e os meios de communicação entre as diversas 
partes d'um paiz. (Aleixo M. G.; F.I.C., 1902, p. X).  
 
Os saberes são relevados pelo sujeito considerando tanto sua perfomance 
acadêmica quanto “as necesssidades praticas da vida”. As tais práticas da vida é 
bem evidenciada em nível de preparação profissional no seguinte fragmento: 
  
[...] convem pois que o moço ao sahir do collegio, e preparando-se para 
qualquer carreira, no commercio, na administração, na diplomacia, na arte 
militar, nas missões religiosas ou scientificas, esteja apto para aproveitar de 
todos os recursos que dão os conhecimentos geographicos e 
cartographicos. Nada prova melhor a importancia pratica que se liga a esta 
especialidade do que as numerosas Sociedades de Geographia, das quaes 
muitas de Geographia commercial e de Topographia, fundadas depois de 
guerra franco-allemã de 1870, em todos os paizes do mundo civilisado. 
(Aleixo M. G.; F.I.C., 1902, p. XI). 
 
A multiplicação das sociedades geográficas europeias, no contexto da expansão das 
políticas neocolonialistas, atesta ao sujeito o nível de relevância adquirida pela 
 Geografia, pois, como evidencia o lexema central dessa enunciação, esses saberes 
fornecem recursos aproveitáveis no âmbito de qualquer atuação profissional. 
 
O ensino da Geographia, como o de qualquer outra especialidade, tem um 
duplo fim: um theorico ou educativo, que é o desenvolvimento das 
faculdades do discípulo: o outro pratico ou utilitario, que consiste em 
fornecer ao alumno os conhecimentos de que possa precisar no correr da 
vida. [...] não é mais permittido, no nosso seculo de positivo, desconhecer a 
necessidade absoluta d'esta sciencia, que é a base ou a chave da maior 
parte dos conhecimentos humanos: historicos, politicos, physicos, naturaes, 
etc. (Aleixo M. G.; F.I.C., 1902, p. X). 
 
Apesar de boa parte dos estudiosos da educação, e mesmo seus 
propositores, indicar a feição árida e maçante que comumente acompanhava o 
ensino da Geografia descritiva, sempre houve vozes a afirmarem o contrário, 
expondo atrativos inerentes a esse saber. Delgado de Carvalho (1925) 
responsabiliza os compêndios mal feitos ou utilizados inadequadamente pela 
distorção do ensino geográfico. Essa crítica não é exclusiva da educação brasileira; 
podemos encontrar Piotr A. Kropotikin (1842-1922), em uma abordagem clássica do 
ensino de Geografia, publicada em 1885, fazendo uma análise interessante dessa 
relação de respulsa/atração no contexto do ensino geográfico: 
 
Realizaram-se pesquisas e descobriu-se, com estupor, que havíamos 
conseguido que esta ciência – a mais atrativa e sugestiva para pessoas de 
todas as idades – resulte em nossas escolas como um dos temas mais 
áridos e carentes de significado. Nada interessa tanto às crianças como as 
viagens: e nada é mais árido e menos atrativo, em muitas escolas, que 
aquilo que nelas é batizado com o nome de Geografia. [...] É quase seguro 
que não existe outra ciência que possa tornar-se tão atrativa para a criança 
como a Geografia, e que possa se constituir num poderoso instrumento para 
o desenvolvimento geral do pensamento, assim como para familiarizar o 
estudante com o verdadeiro método de investigação científica [...] 
(KROPOTKIN, 1986, p. 2-3). 
 
Também a bibliografia se pronuncia a respeito: 
 
Fragmento 6.3.2/3 
Ao percorrer o Curso Especial, comprehendiamos melhor do que nunca 
uma verdade ha muito esquecida: é que a geographia não é uma 
nomenclatura arida, mas sim a introdução natural do conhecimento de 
muitos factos e dados physicos, astronomicos, historicos, industriaes, 
commerciaes e ate litterarios. Ninguem melhor que o auctor d'esta obra 
conhece o meio de facilitar a assimilação das noções connexas á 
geographia, recorrendo alternadamente á memoria, á vista, á imaginação 
dos alumnos e ás reproducções de mappas que se acham como um ponto 
 essencial em seu methodo... (De La Vallee-Poussin, Professor de geologia 
da universidade de Louvain., Extrahido da Revista das Questões 
Scientificas de Bruxellas; F.I.C., 1902, p. VI). 
 
Fragmento 6.3.2/4 
Entretanto, a geografia é uma ciencia amavel, de suave e amena 
aprendizagem, que desperta, como verifiquei, sempre, em meu tirocínio 
profissional, o interesse do educando. Basta que a orientemos 
convenientemente e sagazmente (o autor; MENNUCCI, 1936, p. 7). 
 
No fragmento 6.3.2/3, o sujeito apresenta o conhecimento geográfico não como um 
fim em si, ou melhor, como uma disciplina atenta aos seus objetivos, estes 
componenentes da proposição geral do ensino, antes vendo-o como um 
conhecimento introdutório, a serviço de outros saberes. Infere-se, em seu dizer, que 
esse saber de princípios não seria uma nomenclatura árida se o ensino recorresse 
“alternadamente á memoria, á vista, á imaginação”, bem como aos “mappas”.  
No século XIX, usualmente, não se reconhecia um método de ensinar e 
aprender que não centrasse na memória sua organicidade e mesmo fim, deslocando 
sua função, de ser parte de qualquer atividade de estudo. Mas para a Geografia, o 
sujeito exige mais a realidade como componente (lexema “vista”), além da 
“imaginação” e da representação de todos os fatos, “mapas”: havendo estas quatro 
vertentes metodológicas, a aprendizagem não seria árdua, árida...  
No fragmento 6.3.2/4, o sujeito se vale de sua experiência docente para 
construir uma imagem do ensino geográfico, qualificando-o como um aprendizado 
suave e ameno de uma ciência amável: a orientação do professor entra neste 
debate como diferencial na forma da disciplina ser percebida. Há relatos, como 
demonstrarei ao final deste capítulo, de que o ensino geográfico podia ser tedioso ou 
apaixonante na dependência de como fosse regido pelo professor. O problema, 
todavia, residia na geral falta de preparação de professores, sem instituições e 
orientações apropriadas para formarem professores de Geografia. 
 
 
 
 6.3.3 Os sujeitos da recepção enunciativa 
 
À primeira vista, pode-se pensar que obras didáticas são escritas para o 
ensino e para a aprendizagem, o que é um fato, demonstrado já nessa análise: as 
obras iniciais tinham uma preocupação em indicar uma seleção de público, o que 
com o tempo passou a não ser um uso, em face da constituição e consolidação da 
disciplina. Os alunos, os professores, os pais ou determinados públicos eram 
apontados como leitores e estudiosos da bibliografia. 
Contudo, encontramos, de igual modo, com certa frequência, outro 
funcionamento dos livros didáticos de Geografia, a de serem uma referência cultural, 
fora do ambiente escolar: 
 
O compendio de chorographia de Scrosoppi é uma excellente obra que se 
recommenda não só para as escolas como para occupar um logar distincto 
entre os livros de referencia dos jornalistas, commerciantes e homens de 
letras. Tolere o illustre professor uma suggestão nossa: accrescente em 
próxima edição um capitulo sobre a historia dos tratados de limites e terá 
augmentado enormemente o já grande valor de seu trabalho (Correio 
Paulistano, 14/05/1908; SCROSOPPI, 1911, p. IV). 
 
Os livros didáticos, em relação aos dicionários e tratados geográficos, 
diferenciavam-se, em primeiro lugar, por expressar uma sistematização mais concisa 
e objetiva e, em segundo lugar, por serem mais atualiados, pois publicados com 
mais frequência, reeditados e atualizados se comparados a outras obras referenciais 
da Geografia. Daí a recomendação exortada pelo sujeito para que o compêndio em 
análise assuma esse lugar. Em outro local, assim se pronuncia o sujeito: 
 
E, por nossa parte, temos a “Chorographia” aqui á mao, para as 
informações de que, porventura, precisemos no tocante a geographia e á 
historia nacionaes. (Folha Popular, 23/Outubro/1890; VILLA-BOAS, 1901, 
VI). 
 
Esse tipo de observação é bastante regular nos discursos do entorno da bibliografia, 
sobretudo vindos da imprensa: há traços discursivos indicando que os livros 
didáticos de Geografia servem como obras de referências para os jornalistas, os 
críticos, os intelectuais, o que faz com que o uso da bibliografia supere os limites das 
classes escolares.  
 6.3.4 A relação do discurso didático de Geografia com os currículos e 
programas 
 
Em geral, os currículo e programas e o discurso didático sempre tiveram 
uma relação de aproximação. Em períodos de estabilidade, tem-se uma relação com 
poucos conflitos. Certamente há discursos com discordância e novas propostas, mas 
nunca no sentido de uma anulação completa: o currículo é uma base sólida, que 
transforma-se com o tempo, com acréscimos, supressões e reoganização, 
permanecendo elementos intactos nessa trajetória. Em uma educação regida pelo 
Estado, determinada por sua legislação, regrada pelos exames de admissão, 
naturalmente os programas se impõem como paradigma de regência e 
normatização. 
Diferentemente da bibligrafia didática atual, a conformação dos manuais do 
período em análise com a proposição curricular era quase uma obrigação, a ponto 
dessa relação ser anunciada nos títulos ou em lugares de destaque na capa, folhas 
de rosto e nos discursos do entorno, tal como vemos no Fragmento 6.1/26: 
 
Elementos de Geographia universal, geral do Brazil e especial de 
Pernambuco, para a infância escolar da provincia de Pernambuco, de 
conformidade com o programma da lei n. 1143, art. 33, § 7º, que rege a 
instrução na província (PINHEIRO, 1875). 
 
A execução estrita de um programa às vezes era lembrada durante o 
aparecimento de uma obra, como diferencial em relação às demais: 
 
Fragmento 6.3.4/1 
Como se vê pela nomenclatura das lições, é o único compendio que existe 
actualmente para o ensino especial da geographia do nosso paiz, pois 
desenvolve toda a materia exigida pelo programma; sendo de notar que é 
illustrado com numerosas e magnificas gravuras, o que contribue muito para 
realçar-lhe o valor (Diário Popular, 20/04/1908; SCROSOPPI, 1911, p. IV). 
 
Fragmento 6.3.4/2 
Escripto com methodo e clareza, abrange todo o programma dessa materia 
do 3º. anno gymnasial (Diário Popular, 20/04/1908; SCROSOPPI, 1911, p. 
III). 
 
 Informações como essas, divulgadas na imprensa, certamente provinham de 
releases que os autores e editores faziam acompanhar os exemplares 
encaminhados para divulgação. 
Nesse período, como aferido antes, foi predominante a edição de volumes 
únicos para todas as seriações, devendo atender, assim, programas de 
Cosmografia, Geografia Física, Geografia Política, geral e corográfica, além de 
modalidades diversas, como os estudos clássicos, os estudos científicos, o ensino 
técnico, o normal... De forma que o currículo executado pelo autor correspondia não 
necessariamente à exigência de um ou de outro programa, mas a um amálgama 
deles. A diferenciação mais marcante talvez tenha sido a separação de manuais 
para o ensino primário e secundário. 
Dado isso, o posicionamento entre discurso e currículo proposto é sempre 
claro: 
 
Perfeitamente a par dos programmas de ensino dos nossos 
estabelecimentos de educação procurei escrever sempre de accordo com 
elles, quanto aos assumptos e sua dosagem. Assim, este livro servirá ao 
ensino normal e profissional e ao dos Gimnasios existentes nesta capital e 
nos Estados. Defeitos e lacunas tel-os-a necessariamente, como toda obra 
humana, mas conto me serão elevados pelos competentes, que bem sabem 
quanto custam trabalhos desta natureza. Enfim, fiz o que pude; façam 
melhor os que puderem. (O autor; BITTENCOURT, 1907, p. 01-02). 
 
No fragmento acima, o dizer do sujeito explicita essa conformação, em que 
demonstra a orientação de sua escrita. E o faz porque assim poderá atender 
segmentos diferenciados da educação de base: o normal, os cursos técnicos e os 
ginásios. A impaciência e certo aborrecimento do sujeito no trato da questão – “fiz o 
que pude; façam melhor os que puderem” – indiciam as cobranças para que as 
obras tivessem adequação aos currículos propostos. Mas, precisando agradar 
gregos e troianos, nenhuma obra chegava a afeiçoar-se às necessidades 
específicas de cada segmento do ensino de Geografia. 
Essa realidade passou por alguma mudança a partir dos anos 1930, quando 
as diretrizes da educação ensaia a seriação em um modelo que seria quase 
definitivo daí em diante: 
 
 
 Fragmento 6.3.4/3 
Logo que o novo programma de ensino foi publicado, em julho de 1931, 
como consequencia logica da reforma levada a efeito pelo Governo 
Provisorio, o professor Dr. Mario da Veiga Cabral iniciou a publicação de 
uma série de volumes rigorosamente de accôrdo com esses novos 
programmas, na parte que diz respeito á Geographia, que é hoje estudada 
nos cinco anos do curso (A Noite, 18/04/1933; CABRAL, 1935, p. 298). 
 
Fragmento 6.3.4/4 
Agora, com a última reforma do ensino secundário, e de acordo com o 
actual programma, o sr. Mario da Veiga Cabral propoz-se um trabalho que 
vem executando sem desfallecimentos, mantendo em toda a obra o mesmo 
brilho de explanação dos pontos e da clareza de estylo a ser assimilado 
pelo estudante (A Pátria, 12/04/1933; CABRAL, 1935, p. 295). 
 
Fragmento 6.3.4/5 
Por ter o novo programma de ensino, publicado no Diario Oficial de 31 de 
Julho de 1931, dado nova orientação ao estudo da Geographia, que passou 
a ser feito nas cinco series do curso, pediu-me a livraria Jacintho, naquela 
mesma data, que organizasse uma série geographica de cinco volumes, de 
maneira a corresponder cada um programma da serie a que se destina (O 
autor, CABRAL, 1935, p. 1). 
 
Como mencionado anteriormente, Cabral foi pioneiro em atentar para essa 
divisão, escrevendo e publicando obras para cada ano do ensino. Com isso, 
ganhava espaço para desenvolver mais apropriadamente os conteúdos, em uma 
proposta que não deixava de ser interessante na perspectiva editorial. No F6.3.4/5, o 
sujeito deixa claro ter partido de sua editora, a Livraria Jacintho, o pedido para 
operar por seriação. 
 
 
6.3.5 Enfrentamentos das traduções, fontes e lacunas do discurso didático de 
Geografia 
 
O discurso didático da Geografia concentrado na bibliografia em análise 
realiza-se plenamente, com raríssimas exceções, por uma heterogeneidade 
constitutiva, ou seja, por um dizer onde o Outro é apagado ou silenciado (AUTHIER-
REVUZ, 2004). Isso significa que as fontes não são realmente reveladas, 
procedimento comum a uma heterogeneidade mostrada, na qual o sujeito cede a 
palavra ao Outro no âmbito da sua enunciação. O principal efeito de sentido desse 
 ato é o efeito de autoridade criado por esse tipo de enunciação – processo que 
denominei de bloco discursivo liso: uma superfície de dizer criada para não suscitar 
dúvidas sobre quem diz, e sobre o que esse sujeito diz, sendo que isto vem a ser a 
sustentação do discurso didático como um todo. 
De forma muito indireta, referências às fontes são encontradas nos 
discursos do entorno; mesmo assim, sem especificações às obras e, muito 
raramente, com indicações de um ou outro autor. O mais comum é a referência a 
tipologias de fontes: 
 
Penetrado pois da importancia do estudo da Geographia para o presente e 
mormente para o futuro, o autor applicou-se sériamente a fazer um 
compendio claro, methodico e ao mesmo tempo completo, que sirva a 
diffundir no Brazil o gosto por este tão util ramo dos conhecimentos 
humanos. Para que o trabalho sahisse o mais exacto possivel, foram 
consultadas as melhores obras que sobre a materia tem apparecido na 
Europa e na America, e pelo que diz respeito a estatistica serviram de guia 
os documentos officiaes e as mais autorizadas das obras especiaes. Espera 
pois o autor que este seu trabalho será bem acolhido pelos Srs. Professores 
e Directores de Collegios. (O autor, 1880?; LACERDA, 1898, p. 2-3). 
 
Encontram-se aí algumas tipologias de fontes, com qualificações adjetivas: 
“melhores obras” da Europa e da América, a “estatistica oficial”, “documentos 
officiaes”. Resguardado pela autoridade dos melhores, dos especiais e da 
oficialidade, o sujeito propõe seu discurso “claro, methodico e ao mesmo tempo 
completo”. Sem aclarar suas bases e referências, dá como suficiente saber-se que 
suas fontes são fidedignas e autorizadas, de boa procedência. 
A questão da atualidade de um manual didático de Geografia, que se alinha 
de perto à disponibilidade das fontes, era crucial. O livro de Gaulthier, traduzido e 
muito adotado no Brasil, é exemplo do extremo a que se executou esse assunto. 
Sendo uma obra comercial, no sentido de ter acolhida e tradição nas instituições 
escolares, continuou a ser editada após o desaparecimento do seu autor. A cada 
nova edição, havia novas mudanças – acréscimos, supressões – de forma a restar 
da edição original, resguardados os exageros, apenas o título, como 
orgulhosamente relatam os tradutores portugueses, os quais contribuíram para esse 
processo com suas emendas, sobretudo por dever a tradução/adaptação contemplar 
com destaque duas nacionalidades pouco evidenciadas no original – a portuguesa e 
a brasileira: 
  
A obra que hoje damos a luz não é propriamente uma nova edição da 
Geographia de Gaultier, mas um livro inteiramente refundido e 
verdadeiramente novo, como o poderá julgar quem quizer comparal-o com a 
primeira edição, publicada, em 1838. Desde então, a obra original foi 
reimpressa em França muitas vezes, e cada uma d'ellas com notaveis mu-
danças, assim que, quando quizemos, no momento de emprehender a 
nossa actual publicação, comparar ambas as edições e tomar nota das 
emendas e additamentos que se haviam feito, achamo-nos com um livro em 
que do primeiro apenas restava o titulo. Não contentes, porem, de operar 
em nossa tradução igual transformação, ajudando-nos com os trabalhos dos 
melhores geographos, fomos em descoberta das omissões ou erros que 
houvessem podido escapar aos sábios autores do nosso modelo e n 'essa 
parte tivemos tambem que fazer não poucas emendas. As mudanças 
politicas que sobrevieram durante a impressão foram por nos 
cuidadosamenle registradas. A população de todas as cidades importantes 
foi indicada em seu correspondente lugar; em fim, nada se omittio para que 
a presente obra esteja ao nivel dos conhecimentos geographicos actuaes. 
[...] Não foi menor o nosso esmero na parte que nos é exclusivamente 
propria, queremos dizer no que respeita a Portugal e ao Brazil. Assim que o 
leitor achará as divisões administrativa, judicial, ecclesiastica, etc., do reino 
de Portugal redigidas segundo os documentos mais recentes e authenticos. 
[...] A descripção do Brazil, que não occupava senão oito paginas da 
primeira edição, tem na presente perto de quarenta além de outros 
additamentos que fizemos em differentes partes do volume, principalmente 
nas lições em que se explica o curso dos rios principaes do Brazil. [...] 
Julgamos que os outros paizes da America, tão summariamente tratados na 
edição franceza, mereciam maior attenção em uma obra destinada em 
grande parte para leitores americanos. Por tanto, toda esta parte, e 
especialmente a que diz respeito ás republicas da America meridional, vai 
descripta com uma extensão que se não achará certamente em nenhuma 
obra da mesma classe, nem mesmo em algumas de maior volume. [...] 
Esperamos pois, que o leitor acolhera, favoravelmente um livro em que se 
não poupou nem trabalho, nem despeza, para que seja digno da sua estima 
e possa preencher o fim a que nos propuzemos. (Os tradutores; GAULTIER, 
1878, p. I-II). 
 
A Geografia é um saber dinâmico, sujeito às leis da natureza e às forças da História, 
e os que lidavam com os conhecimentos geográficos sempre tiveram uma 
percepção desse fato, observável até no calor da impressão das obras, como 
evidencia a seguinte sequência discursiva: “As mudanças politicas que sobrevieram 
durante a impressão foram por nos cuidadosamenle registradas”. O sujeito da 
enunciação abaixo, explicando as circunstâncias da reedição de sua obra, menciona 
que apenas em sua segunda edição pôde dar por terminadas, ou 
momentaneamente estabilizadas, as questões políticas (e sua regionalização) que 
grassaram a Europa após o término da I Guerra Mundial, anos 1920 adentro: 
 
Pouco mais de um anno decorrido da 1ª., faz-se 2ª. edição desta obra, 
prova de que o assumpto não desagradou. Quasi todos os institutos de 
ensino commercial e mesmo muitos gymnasios do Brasil a adoptaram. 
Generosa, alviçareira foi a recepção pela imprensa e pela critica. D’esta, 
 accolhemos as opinioes sensatas, fazendo na presente edição algumas 
emendas. [...] Pudemos, emfim, terminadas as mais azedas querellas da 
Europa, determinar-Ihe a moderna geographia, coisa impossivel no 
momento de encerrar a 1ª. Edição. (O autor, 19-2-1924; XAVIER, 1929, p. 
6). 
 
Retornando ao fragmento anterior, nota-se que esse documento demonstra, ainda, 
as dificuldades que os tradutores de Gaulthier enfrentavam, ao lidar com um 
discurso eminentemente nacional, ou nacionalista (no caso, francês), tendo, 
portanto, que atender a uma demanda não contemplada nos originais, procedendo 
da forma que foi comum aos tradutores de compêndios geográficos – com 
acréscimos e adaptações: “A descripção do Brazil, que não occupava senão oito 
paginas da primeira edição, tem na presente perto de quarenta além de outros 
additamentos que fizemos em differentes partes do volume”. Para essa realização, 
novamente os tradutores se posicionam frente às fontes por tipologia, não as 
indicando: “redigidas segundo os documentos mais recentes e authenticos”. 
No fragmento abaixo, o sujeito, revelando duas das fontes do autor, Jean 
Brunhes e Paul Vidal De La Blache, contextualiza a obra em sua filiação à 
orientação moderna da Geografia, introduzida anos antes por Delgado de Carvalho. 
 
Foi seguindo essa orientação (a moderna orientação de Jean Brunhes e 
Vidal Lablache [sic]), que o distincto professor Sr. Lindolpho Xavier escreveu 
este compendio de "Geographia Commercial", em que, com a sua 
reconhecida competencia, estuda, no conjuncto dos factores cosmicos, o 
Homem, principal factor das riquezas. O trabalho é quasi novo, além de tudo 
utiIissimo, pois que abrange uma longa serie de conhecimentos praticos e 
opportunos, que visam, como bem diz o auctor, "encaminhar os negocios 
publicos e particularcs na direcção universal". A situação geral do mundo 
neste momento, as condições do Brasil como paiz de agricultura, os 
grandes problemas da industria e do trabalho ainda dependentes de 
solução, em consequencia da crise universal - tudo isso concorre para 
tomar tresdobradamente util e interessante o admiravel trabalho do Sr. 
Lindolpho Xavier". (Osorio Duque Estrada, Registro Literario, Jornal do 
Brasil, 30-9-1922; XAVIER, 1929, p. 654). 
 
Nesse novo contexto, era possível ao sujeito trabalhar tópicos antes pouco 
relevantes, como os problemas sociais e econômicos, matriz que, a partir dos anos 
1920, separará o “joio do trigo”, isto é, fará decair as geografias das nomenclaturas 
descritivas, e ascender as que apresentassem um discurso inovado. 
 O sujeito abaixo reconhece que, para empreender seu discurso, compulsou 
“inúmeras obras alheias”, às quais opta não citar, apenas destacando os trabalhos 
de um comissão do Estado de São Paulo: 
 
Na confecção deste trabalho, foi mister, como se compreende, compulsar 
inúmeras publicações alheias, afim de que as afirmações pudessem ser 
convenientemente controladas. Não vou referir-me a tudo quanto consultei, 
mas não quero deixar de fazer uma citação especial dos excelentes 
trabalhos da antiga Comissão Geografica e Geologica do Estado, hoje 
reconstituída como Departamento Geografico e Geologico, os quais me 
foram de grande ajuda na elaboração do volume e aos quais todos devem 
conhecer, se quiserem ter uma idea exata do Estado de São Paulo (o autor; 
MENNUCII, 1936, p. 6). 
 
Este outro sujeito indica à sua retarguada o trabalho de outros dois autores 
didáticos, além de mais alguns geógrafos, alguns também autores, brasileiros e 
estrangeiros: 
 
Além das sabias lições dos notáveis mestres Sra. D. Evangelina Fontella e 
Sr. Olavo Freire, serviram-me de guia na elaboração deste livrinho os 
tratados e atlas de conhecidos geógrafos, como o barão Homem de Mello, 
Carlos de Novaes, F. Bittencourt, Veiga Cabral e outros, além de alguns 
trabalhos de Liais, Gorceix, Cruls, etc. (o autor; ESTRADA, 1928, p. 7). 
 
Os sujeitos editores e autores utilizam os discursos do entorno (no qual 
igualmente se pronuncia a respeito a imprensa) também para demonstrar certa 
insegurança sobre a correção de muitos aspectos das obras – são as falhas de 
fontes, comumente se pronunciando a respeito: 
 
Um dos estudos mais difficeis entre nós, se o quizermos fazer 
conscienciosamente, é – cousa inacreditável! – o da nossa geographia. 
Difícil e ingrato. O estudioso dessa especialidade tem de esbarrrar com a 
falta quase absoluta de dados officiaes e estatísticos; não tivemos ainda um 
recenseamento que merecesse eterna fé e sobre o qual nos pudéssemos 
basear com segurança. No que diz respeito ás vinte grandes circunscrições 
em que se divide o território, só o Rio Grande do Sul tem os seus limites 
fixados sem contestação. Os rios, mesmo os mais importantes não estão 
bem estudados, são ainda mal conhecidos, e das nossas serras e 
montanhas, em geral, não se pode dizer que imperfeitamente conhecida. 
[...] E tudo o mais é assim. [...] Ora, se o estudo da nossa descurada 
geographia apresenta taes e tantas difficuldades, quão mais difficil não ha 
de ser escrever uma Chorographia do Brasil? O professor que se abalançar 
a uma tal empreza, a menos que se não contente em copiar atrazados, 
falhos e errados compêndios em voga, não pouco trabalho terá para fazer 
obra acceitavel, obra de consciência, producto de esforços e estudos 
geographicos, bebidas as informações em fontes puras – que ainda as ha, 
(posto que poucas) em muitos pontos essenciaes. [...] E por isso não 
 hesitaremos em affirmar que os livros que temos para os estudos da nossa 
geographia seriam bem melhores, se os auctores e editores, em cada nova 
edição, procurassem pol-os em dia, ao menos em alguns pontos: bastava 
compulsarem, para tanto, os relatórios dos ministerios e se informarem na 
hoje excellente repartição de estatística que já possuímos. Os dados sobre 
o commercio (importação e exportação), industria, viação férrea, 
telegraphos, portos, geographia economica etc. etc. teriam a exactidão 
desejavel, e o nosso caro Brasil, assim melhor estudados, teria tudo a 
lucrar. Aqui, bem ao inverso do que em toda a parte se observa, o que 
menos se estuda em geographia é o próprio paiz... (Neckwer, Vozes de 
Petrópolis, julho de 1909; SCROSOPPI, 1911, p. IX-X). 
 
Este sujeito, pronunciando da imprensa, enuncia uma realidade paupável 
que permanentemente afligiu e pertubou os autores didáticos desta disciplina: as 
incoerências e incompletudes da estatística oficial, a insolidez da regionalização dos 
territórios nacionais, além de outras incertezas. Evidencia a bibliografia geográfica, 
didática ou não, como atrasada, falha e errônea, a se orientar, portanto, em poucas 
fontes confiáveis. Acusa, ainda, a linhagem ativa das edições de recolocarem-se no 
mercado sem atualizações devidas, embasadas, por exemplo, nos relatórios 
ministeriais – embora inicie sua fala alertando para a ineficácia destas fontes. No 
todo, cabia ao sujeito autor lamentar essa insegurança, nunca demonstrada nas 
superfícies discursivas: 
 
Andamos, pois, ás cegas no que diz respeito á população, movimento 
commercial, industrial e econômico, tendo necessidade de catar aqui e ali, 
em fontes diversas e deficientes, informações que nos guiem em meio do 
cipoal de incertezas em que nos debatemos em busca da verdade (O Autor; 
BITTENCOURT, 1916, p. 3). 
 
Pois se nos discursos do entorno ainda há indicativos desses problemas, o mesmo 
não acontece no corpo discursivo das obras, sempre afirmativas, plenas de certezas. 
Esse discurso é reforçado por muitos outros sujeitos: 
 
A lamentavel deficiência e o incorrigível atraso da nossa estatistica oficial, 
que nem siquer conseguiu até hoje determinar ao certo qual a população da 
cidade do Rio de Janeiro, não me permittiram assentar dados seguros e 
incontestaveis acerca das populações e superfícies de alguns estados do 
Brasil. Nesse ponto nada temos de positivo, variando as opiniões conforme 
os autores (o autor; ESTRADA, 1928, p. 8). 
 
Como não teria custado ao autor juntar estatística neste paiz em que a 
estatistica é descurada! (Correio Paulistano, 14/05/1908; SCROSOPPI, 
1911, p. IV). 
 
 Ocorria de às vezes se agradecer a contribuição de anônimos ou leitores de 
diversas procedências, para correção de fatos ou estatísticas geográficas, ou 
mesmo solicitá-la, visando o labor das novas edições: 
 
Os editores agradecem a todos os senhores que tiveram a amabilidade de 
mandarem correcções para a presente edição e principalmente ao Snr. 
Professor Florindo Netto, do Gymnasio de Bello Horizonte, e ao Snr. 
Hildebrando Gomes. Os editores pedem novamente asi seus amigos de 
indicarem as correcções que acharem convenientes para as futuras edições 
(Os Editores; BITTENCOURT, 1916, p. 1). 
 
Ou a imprensa alertava os autores dessa necessidade: 
 
Seja-nos licito pedir ao illustre auctor que não se esqueça de ir sempre 
ponde de accordo, nas novas edições, o seu apreciável trabalho, com os 
novos progressos materiaes e desenvolvimento economico e industrial. 
(Neckwer, Vozes de Petrópolis, julho de 1909; SCROSOPPI, 1911, p. X). 
 
Em geral, os sujeitos, nos discursos do entorno, defendem a produção 
nacional de Geografia em face da presença e do relativo sucesso das obras 
traduzidas: 
 
Os compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas, peccam por 
demasiada extensão, sendo deficientes e errados na parte referente ao 
Brazil, justamente a que mais nos importa conhecer (o autor; 
BITTENCOURT, 1907, p. 1). 
 
A questão do volume, ou extensão dos conteúdos, é algo que preocupa 
alguns membros do corpo de sujeitos organizados pela educação geográfica. É 
sensível como há uma redução retórica do discurso geográfico com o passar dos 
anos: materialmente se percebe uma tendência em diminuir as páginas de um 
volume, de reduzir o dizer à enunciação de fatos. Tomando-se Paracatu, cidade 
histórica mineira, como exemplo dessa redução, compare-se como está nos 
discursos de Torreão (1824) e de Bittencourt (1916): 
 
COMMARCA DE PARACATÚ – Esta Commarca, que foi desmembrada da 
de Sabará, confina com ella mesma ao N. e L.’E.; ao S. com o Rio das 
Mortes; e a O. com a Provincia de Goyaz. 
Paracatú: Villa situada em terreno levantado, sobre hum arroio denominado 
Corgo Rico, que se perde no Paracatú, que da o nome á Villa: he populosa, 
alegre, e de grande commercio; he cabeça de Commarca, e residência do 
Corregedor; e tém Professores Regios de Primeiras Letras, e Latim; além da 
 Igreja Matriz, dedicada a Santo Antonio da Manga, tém mais quatro 
Ermidas: as ruas são direitas, e calçadas; e as casas vistosas: notão-se trez 
fontes de boa agoa. Os habitantes são meneiros e lavradores (TORREÃO, 
1824, p. 493-494). 
 
Paracatú, perto das divisas de Goyaz, com numerosas e importantes 
fazendas de creação de gado (BITTENCOURT, 1916, p. 366). 
 
Por um lado, em um espaço tão grande de tempo, há mudanças normais na 
descrição das atividades de um espaço; Bittencourt não cita a atividade mineira que 
prosseguia na região da cidade, mas não é este o caso. Esta comparação evidencia 
angústias da Geografia descritiva, tal como os recortes necessários para equilibrar 
os vértices entre “dizer tudo”, incluir todos os fatos e fenômenos constituintes do 
espaço em abordagem (Minas Gerais), ou aprofundar o conhecimento sobre uma 
seleção destes mesmos fatos e fenômenos. A escolha de muitas obras, como a do 
próprio Bittencourt, prescindia dos detalhes como enriquecimento da informação 
para uma abrangência maior de fatos descritivos. Essa é uma preocupação que a 
curtos passos entra na pauta dos discursos do entorno. É assim que o próprio 
Bittencourt, em obra de 1907, se justifica: 
 
A necessidade de um Compendio de Geographia Geral, nem muito extenso, 
nem demasiado resumido, impunha-se aos estudiosos dessa matéria em 
nosso paiz (o autor; BITTENCOURT, 1907, p. 1). 
 
É nesse sentido que reside uma das críticas aos manuais traduzidos, como 
assevera esta sequência do fragmento de Bittencourt (1907) mencionado 
anteriormente: “Os compendios estrangeiros adoptados em nossas escolas, peccam 
por demasiada extensão”: os enfoques de obras como a de F.I.C. ou mesmo de 
Gaulthier não foram produzidas com a preocupação de apurar os fatos de forma a 
projetar o interesse, por exemplo, no espaço da nacionalidade, daí a segunda crítica 
desse sujeito, indicando mais, o fato de serem: “deficientes e errados na parte 
referente ao Brazil, justamente a que mais nos importa conhecer”. A extensão da 
obra, por outro lado, às vezes pendia para a admiração: 
 
O que me admira é como ele poude condensar tantos pormenores 
preciosos, curiosos e novos em um único volume! (P. V. Sarav, antigo 
capitão de marinha; F.I.C., 1902, p. V). 
 
 Todavia, produzidos ou traduzidos, orientado seguramente por fontes novas 
ou simplesmente dilapidados em velhas tradições, os livros didáticos de Geografia, 
durante boa parte do período dessa bibliografia, é o que se tem, no Brasil, de mais 
sistemático e atualizado em termos de informação geográfica, dada ao uso em sala 
de aula ou a propósitos gerais da cultura. 
 
 
6.3.6 Discursos emergentes como oposição à tradição da bibliografia didática 
de Geografia 
 
Desabafo, ataque e denúncia são construções de sentidos que permeiam os 
discursos do entorno em posição/oposição à tradição da bibliografia didática, com os 
mais diversos efeitos: para que os sujeitos autoafirmem-se como autores (colocando 
seus discursos como melhores), para deslumbrar um lugar para seu discurso 
didático na bibliografia, ou para realmente transparecer desejos de mudança. Os 
discursos chegam a ser planfetários algumas vezes. De qualquer forma, na 
dispersão desses discursos do entorno encontra-se essa unidade: destruir pilastras 
e monumentos da tradição para então impor-se como enunciação válida. 
Esses discursos se põem na cena enunciativa sempre a um propósito ou 
causa do sujeito autor. Veja-se: 
 
Esta convicção, porem, das vantagens da sciencia geographica difficilmente 
a derivará alguém de qualquer compendio que, pretendendo descrever a 
superficie do globo, esquarteje e retalhe a crosta terrestre, para poder 
limitar-se a um catalogo ou amontoamento de nomes geográficos, qual e 
qual mais arrevezado, em determinados grupos artificiaes (o autor; ALI, 
1905, p. III). 
 
Said Ali, propondo um novo critério para a análise do espaço geográfico na instância 
das relações de ensino e aprendizagem, opõe-se aos “catálogos" que a seu ver 
encerram a tradição bibliográfica que o antecede: os lexemas que utiliza – 
“amontoamento”, “arrevezado”, “artificiaes” – por si mesmo cooptam para abalar 
qualquer imagem benemérita que por acaso o leitor tenha em relação às estantes de 
antes. 
 A desatualização das obras corográficas em geral faz jus ao ensejo desse 
sujeito: 
Estamos convencidos de que as Lições de Chorographia do Brasil 
acharão franca entrada nos gymnasios e outros estabelecimentos de 
instrucção, porque, além de constituírem um livro indispensável para os 
alumnos, tornam-se um poderoso e efficaz auxiliar aos srs. Professores que, 
muitas vezes, não têm tempo para compulsar obras volumosas, relatórios, 
estatísticas, etc., para formularem os pontos que o ensino hodierno da 
Chorographia do Brasil exige (Diário Popular, 20/04/1908; SCROSOPPI, 
1911, p. III). 
 
Vem em momento oportuno um livro atualizado sobre a Geografia do Brasil pois se 
supõe um árduo trabalho ao professor sem tempo, mas preocupado em dispor uma 
aula atualizada aos seus discentes. 
Posicionando-se frente à tradição, veja-se a enunciação desse sujeito: 
 
Mas dissemos que o que existe publicado sobre a nossa corographia, já 
quase não corresponde ao estado actual do paiz, que tem caminhado muito 
nestes ultimos anos. Com efeito, a “Corographia Brasilica” de Ayres do 
Casal appareceu na primeira phase do século passado; hoje serve apenas 
de fonte de informações para as cousas d’aquele tempo. Na segunda phase 
do mesmo século, em 1878, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo publicou as 
“Noções de Corographia do Brasil”, em dois pequenos volumes, que 
actualmente carecem de importância. Também os valiosos trabalhos do 
incansável Dr. Moreira Pinto, apezar de mais recentes, deixam muito a 
desejar. Parece-nos, pois, ter todo cabimento um livro em que o Brasil 
actual seja descripto com inteira verdade, procurando-se tornar bem patente 
aos olhos do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o 
regimen republicano (O Autor; BITTENCOURT, 1916, p. 2). 
 
O sujeito reconhece que, nas primeiras décadas do século XX, o conhecimento 
geográfico sobre o Brasil havia apresentado avanços. Como bem assinala Issler 
(1973), publicações acuradas como as de Wappoeus (1884) e Sellin (1889), dentre 
outros, estabeleciam uma Geografia com critérios científicos para compreensão do 
Brasil100. Talvez por isso o sujeito em questão não vê razão para que as antigas 
pilastras de sustentação da bibliografia didática da Geografia – Ayres de Casal, 
Joaquim Manoel de Macedo, Moreira Pinto – continuem a ser relevantes para a 
abordagem didática da Geografia nacional. Por isso, expõe a superação dessas 
referências, ainda influentes, de certa forma, para, nessas ruínas, colocar-se como 
                                                 
100
 Para Carvalho (1970, p. 32), estavam “[...] os trabalhos geográficos escolares totalmente alheios 
aos trabalhos de Geologia e Geomorfologia, executados, no país, por cientistas como Eschwege, 
Gorceix, Paula Oliveira, Gonzaga de Campos, Hartt, Derby, Branner, Lund, Rondon, Arrojado Lisboa, 
Euclides da Cunha, Teodoro Sampaio e outros”... 
 discurso de “inteira verdade” – ademais refletindo a grandeza da República em 
contraponto às estruturas falidas do Império. 
Da mesma maneira, o sujeito seguinte se coloca no cenário enunciativo 
como um sopro novo sobre a “enfezada, anachronica e detestável literatura 
didactica”: 
Varias e ponderosas razões concorreram para a publicação deste modesto 
livrinho, augmentando assim a serie de trabalhos com que, sobretudo nos 
domínios do ensino primário, tenho procurado concorrer para a reforma da 
nossa enfezada, anachronica e detestável literatura didactica. A mais 
poderosa foi a necessidade [...]. Isto mesmo ficou exuberantemente 
patenteado nos ultimos concursos de admissão á Escola Normal, em que as 
candidatas, á mingua de trabalhos elementares e convenientemente 
dosados, houveram de recorrer a massudos tratados de ensino secundario 
e superior, quasi sempre obscuros, confusos e demasiado extensos e 
fastidioso empenho de registrar nequices e frioleiras. Nem lhes valeu, nesse 
caso [...] a rachitica e aleijadinha Geographia do Dr. J. M. de Lacerda, 
professor cuja bolorenta literatura didactica, adoptada ainda por quase todo 
este Brasil, basta para atestar o gráo do nosso atraso e da nossa indigência 
em matéria de instrucção.(o autor; ESTRADA, 1928, p. 7). 
 
O sujeito justifica sua contribuição ao revelar a situação bibliográfica do ensino 
primário, deficitária e sem apropriação ao nível desses estudos. Os livros para o 
ensino primário de Geografia estão presentes desde as primeiras décadas da 
bibliografia, mas sem dúvida foram os últimos a encontrar uma linguagem e 
expressão que os aproximassem da faixa etária dos alunos. Praticamente se 
orientavam pela definição dos currículos, expressando uma versão apenas mais 
simplificada dos manuais destinados ao ensino secundário. De longe, o manual 
desse nível mais aceito, por décadas a fio, foi a Pequena Geographia da Infância, de 
Lacerda. Aí procura encaixar sua obra o sujeito acima. Sua avaliação da bibliografia 
em geral utiliza lexemas bem pouco encorajadores: “obscuros”, “confusos”, 
“demasiado extensos”, “fastiosos”, “nequices” e “frioleiras” em uma construção de 
sentidos disposta a criar um efeito negativo da bibliografia que o precede. Do mesmo 
modo, qualifica a mencionada obra de Lacerda como “rachitica” e “aleijadinha”, 
englobando toda a contribuição de Lacerda em uma única sentença: “bolorenta 
literatura didactica”. Essas críticas, como o próprio sujeito reconhece, se dirigem a 
uma obra ainda em uso, embora já decadente, às vésperas dos anos 1930, mesmo 
após quase 50 anos da morte do seu autor. Em toda essa extensão de tempo, sem 
dúvida mudara a Geografia (apesar do esforço dos editores de Lacerda em manter 
atualizada suas obras, sua proposta estava em decadência), as orientações do 
 ensino igualmente não eram mais as mesmas. E sobre a educação geral o sujeito 
não deixa de apresentar um veredito: atrasada e indigente... embora em nada 
contribua, com a obra que apresenta, para alterar o aspecto do ensino da Geografia, 
pois seu compêndio vincula-se à mesma Geografia descritiva do combalido Lacerda, 
a despeito de propostas mais amplas e dinâmicas que vinham sendo apresentadas 
por Veiga Cabral, Gabaglia, Xavier e outros. Das limitações e fragilidades possíveis 
de identificar em sua obra, ao ver do próprio sujeito, defende-se apresentando-as 
como característica geral do gênero, extensivas a toda a bibliografia: 
 
Certo haverá nelle muitas imperfecções e lacunas; mas para absolver o 
autor de um ou outro deslise, basta lembrar que erros maiores, e até 
palmares, avultam em todos os trabalhos de maior tomo, que existem sobre 
o assumpto (o autor; ESTRADA, 1928, p. 8). 
 
Os discursos do entorno configuram-se como espaço para os autores, seus 
convidados ou avaliadores destacarem contribuições inéditas ou pouco exploradas 
na bibliografia, até então: 
 
A nossa Iiteratura didactica, tão pobre em obras geographicas, o era, 
principalmente, em assumptos de geographia economica. Esta falha tão 
sensivel, especialmente para os que estudam a disciplina nos 
estabelecimentos em que se precisam especiaIizar, fica de ora por diante 
sanada, com o apparecimento do bem organizado, methodico e criterioso 
compendio que o conhecido e iIlustre escritor Sr. Lindolpho Xavier acaba de 
lançar a pubIicidade, no que se compendiam as melhores noções da 
materia, dadas em linguagem clara e expressiva, de accordo com a 
mentaIidade ainda em formação dos moços que mais directamente 
precisarão consultar o utiIissimo volume. (Gazeta de Noticias, de 4-10—
1922; XAVIER, 1929, p. 655). 
 
A Geografia econômica, de fato, apenas recentemente passara a frequentar as 
páginas dos manuais dessa disciplina. 
A imprensa também enfraquece a tradição para dar visibilidade ao 
lançamento que defende: 
 
Indiscutivelmente, o Sr. Lindolpho Xavier vem de prestar um excellente 
serviço as letras geographicas. A sua "Geographia Commercial" vem tirar-
nos da situação embaraçosa em que nos achavamos, diante das frouxas 
obras que possuiamos. É um trabalho original, fundado em seguros dados 
estatisticos, cheio de commentarios interessantes, abrangendo 
perfeitamente a totalidade do assumpto, e, finalmente, trazendo um longo e 
minucioso repertorio de informações sobre o Brasil. (Dr. Azevedo Amaral, O 
Dia; XAVIER, 1929, p. 654). 
  
Para asseverar uma obra “original, que apresenta “seguros dados estatísticos”, 
qualifica as obras precedentes como “frouxas”, propícias a uma situação 
embaraçosa. Esse ato discursivo é típico da reação do novo contra o velho: destruir 
ou desqualificar para construir, atacar para propor, desmerecer para fazer outros 
merecimentos. Porém, tipicamente aos movimentos ou atos revolucionários, 
esquecem o contexto histórico, esquecem que a emergência de qualquer cultura, 
conhecimento ou prática responde a necessidades e aceitações próprias aos 
momentos históricos que os caracterizam: 
 
Antigamente, um livro escolar era um supplicio para as intelligencias dos 
estudantes. Hoje, não, as obras destinadas á instrucção possuem todos os 
requisitos desejados para o mister a que se destinam. Claros, concisos, e 
escriptos em linguagem elegante (Diário de Notícias, 14/04/1933; CABRAL, 
1935, p. 296). 
 
Mais alguns anos e o discurso em aceitação assume o posto do discurso renegado, 
uma vez que não se perpetua como prática, precisando ser reorientado, 
realimentado, redirecionado às perspectivas e necessidades do presente. 
 
 
6.3.7 Enunciados ao professor: instruções e recomendações dos autores aos 
docentes de Geografia 
 
Situação geral, merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos à frente 
da reflexão sobre o ensino de Geografia no período analisado, há a falta de 
profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina, o que 
impactuava diretamente, na visão desses sujeitos, sobre a forma e os métodos do 
ensino geográfico: 
 
O ensino de geografia está precisando de urgente mudança de métodos e 
processos. Já tive a oportunidade de dizer que, no Brasil, essa disciplina foi 
invariavelmente entregue áqueles cavalheiros que, á falta de outra atividade 
para preencher os seus desejos de ganhar dinheiro em tarefa relativamente 
cômoda e facil, se dispunham a ingressar para o magisterio sem credenciais 
de capacidade. Quando um cavalheiro qualquer não tinha jeito para cousa 
nenhuma, mas ao qual era mister, por esta ou por aquela circunstancia, dar 
um emprego, empurravam-no para o professor de geografia. E como ele 
não entendia do riscado e lecionava a matéria para justificar o estipendio no 
 fim do mês, a unica cousa que se conseguiu foi entendiar os alunos e fazer-
lhes aborrecer a disciplina, ensinada sem seguro conhecimento, sem 
solidez de cultura, sem metodologia racional, sem amor e sem entusiasmo. 
O declínio e o horror do ensino da geografia é fruto exclusivo dos maus 
professores a que se cometeu a tarefa inglória de desmoralizar a matéria no 
conceito dos alunos (o autor; MENNUCCII, 1936, p. 7). 
 
Para o sujeito, a educação estava entregue a pessoas, em geral, sem credenciais 
para a docência e, dentre esses, para os menos capacitados ainda se destinavam 
as aulas de Geografia, trabalhando pela recompensa única do salário, resultando 
disso uma prática docente entediante, sem fundamentos e sem metodologia. O 
sujeito deixa transparecer em sua colocação que a Geografia poderia ter tido um 
tempo mais frutífero, para, então, estar em declínio e desmoralizada, nos anos 1930, 
quando há o primeiro esboço de uma ampliação da oferta do ensino à população 
geral. Prova da ineficiência metododológica do ensino geográfico, para o autor, 
residia em os discentes, e mesmos os professores, não saberem ler um mapa: 
 
Na geografia, o intuito imediato do ensino é obter que o aprendiz saiba ler 
um mapa, cousa que muita gente grande, sem excetuar o grosso dos 
professores, não sabe. E não sabe porque ninguém se preocupou em 
demonstrar-lhes que o mapa faz o mesmo papel do livro de leitura ou da 
partitura musical e que é um simbolo abreciado de uma realidade concreta. 
Ha, entretanto, um jogo didático para levar o aluno da noção da realidade 
viva e vivida á sua transposição para uma carta geográfica, a fim de fazer-
lhe compreender que a carta é a realidade objetiva em resumo. Esse jogo 
nunca foi seriamente estudado, pelo menos em nossos tratados de 
metodologia do ensino de geografia e nunca foi estudado, porque toda a 
gente pensa, desarrazoadamente, que a geografia é material fácil, muito 
fácil e muito simples, mas muitíssimo cacete e que depende exclusivamente 
de ter ou não ter memoria (o autor; MENNUCCII, 1936, p. 8). 
 
Ler o mapa é posto pelo sujeito como síntese do aprendizado geográfico, o que por 
toda a extensão do período parece ter sido o objetivo geral do ensino geográfico. E a 
isso o sujeito atribui a falta de formação do professor e, por extensão do ensino, de 
uma alfabetização geográfica. Toda essa situação, para o autor, reside em uma 
questão maior: a de ser a Geografia percebida como um conjunto de conhecimentos 
fáceis, dependente apenas da capacidade de memorização do aprendiz. 
A questão dos mapas foi central na produção dos manuais didáticos e nas 
práticas de ensino, acompanhando toda a trajetória, como no já referido fragmento 
de Torreão: 
 
 Conheço que, para melhor intelligencia, eu devia gravar Mappas 
Geographicos, para esclarecer as divisoens dos Paizes, que descrevo; mas 
as minhas circuntancias actuaes não me offerecem as necessárias 
proporçõens para huma empreza tão delicada: portanto, como seja o meu 
objecto dar aos meus Patrícios huma tintura geral de Geographia, resolvi-
me a publicar mesmo com essa falta, na persuasão de que as Cartas 
Universaes, e Geraes pódem muito bem applicar-se-lhe, com pequenas 
faltas, que serão supridas por qualquer hábil explicador. (TORREÃO, 1824, 
12). 
 
Esta enunciação remete-se às raízes de muitas práticas posteriores da Geografia 
escolar, sobretudo à questão metodológica. Para os mapas geográficos o sujeito-
autor atribui a função de “esclarecer as divisoens dos Paizes”, os quais são 
abordados a partir de outra posição afirmada pelo sujeito: a descrição. Remete-se, 
portanto, à forma como a ação escolar se posicionou face ao gigantismo do mundo a 
ser entendido e compreendido, em face da Geografia Moderna, enciclopédica e 
vasta. Torreão foi professor de cursos livres de Geografia, e em sua fala estão 
perspectivas da metodologia de ensino que pouco se modificará nas décadas 
seguintes: o manual descreve (com ausente ou raríssimas ilustrações e mapas) e ao 
professor cabe a explicação. O sucesso, ou eficácia desse ensino é atribuído 
unicamente ao professor: este deverá suprir as deficiências e dificuldades dos 
materiais instrucionais desde que seja um “hábil explicador”. 
De qualquer forma, com frequência os discursos do entorno serviam para 
instruir metodologicamente os professores: 
 
E para concluir, cumpre dar algumas indicações aos Srs. professores não 
habituados a ensinar pelo processo descriptivo. [...] Evite-se, antes de tudo, 
que os alumnos procurem simplesmente decorar; é essencial que 
apprehendam bem a exposição do livro e saibam mostrar no mappa as 
formas, os accidentes de terreno, os lugares etc. A disposição por capitulos 
extensos nao obriga de forma alguma a uma lição unica; pode o professor 
repartil-os a vontade por dois ou tres dias de lição, ou mais, conforme lh’o 
aconselhar a pratica e o seu bom criterio. Exemplifiquemos. Em vez de dar 
como uma lição a França toda, marque-se para o prirneiro dia, v. g., “limites 
e desenvolvimento de costas”; para o segundo, “relevo, clima e pro-
ducções”; para o terceiro “habitantes” e divisão em regiões com as cidades 
principaes. Finalmente, uma recapitulação apurará se os alumnos possuem 
noções exactas sobre a França. (O autor; ALI, 1905, p. IV). 
 
As instruções tanto se referiam ao uso do livro quanto a como ensinar. Dado aos 
livros nem sempre serem escritos estritamente para o uso escolar (conforme 
analisado anteriormente), cabia a alguns sujeitos-autores fazer orientações 
 pertinentes aos conteúdos das obras: 
 
Perdoem os alumnos de commercio brasileiros os detalhes desta obra. Não 
os assustem os quadros, as synopses, que ahi se protráem. Esses são para 
leitura de eruditos, de estudiosos. Basta que os alumnos brasileiros leiam o 
essencial e communiquem aos seus mestres a summula das suas 
pesquizas através do livro. Estes terão a indulgencia necessaria para lhes 
dar quitação de approvados na materia. (O autor, 19-2-1929; XAVIER, 
1929, p. 7). 
 
Ou como neste caso: 
 
Os autores chamam a atenção dos estudantes e professores de Geographia 
para o facto de que este livro cobre o programma da Terceira Série do 
Ensino Secundário (Curso Fundamental), bem assim a parte de 
Biogeographia e de Geographia Comparada das Americas da Quinta Série, 
emquanto que no Ensino Superior (Curso Complementar), atende aos 
programas de exame vestibular para a Universidade do Districto Federal e 
para as Escolas de Direito da Universidade do Brasil. [...] Para o leitor em 
geral, que ama a Geographia como estudo de alcance pratico, 
indispensável a qualquer base cultural, os autores pedem a fineza de 
atentar na amplitude, na autenticidade e no modernismo da documentação 
empregada, no destaque particular dado aos exemplos brasileiros, assim 
como no critério de exposição, calcado no que a doutrina geographica vem 
traçando de mais incisivo, logico e seguro (os autores; VERÍSSIMO; 
VARZEA; ACQUARONE, 1937?). 
 
Tampouco os autores tinham formação, na maioria dos casos, fato, aliás, já 
mencionado por esta pesquisa. Veja-se: 
 
Nestas poucas palavras que precedem minha Geographia Elementar, peço 
licença para dar o meu modo de ver acerca do estudo das nossas 
crianças. [...] Não tenho autoridade alguma para me externar neste 
assumpto, e é inteiramente desinteressada a minha opinião visto como não 
sou professora, nem minhas filhas seguem essa carreira. Quero, apenas, 
que meus caros patricios vejam, nesta minha nova tentativa, o grande 
interesse que tomo pelo estudo das crianças brasileiras, e, nesse 
sentido, procuro fazer aproveitar a alguem, se é que isto merece alguma 
attenção, a pratica que adquiri leccionando os meus filhinhos. [...] A 
opinião corrente dos nossos dias é que ha toda a vantagem em abolir o 
livro, dando-se a aula por explicação. Longe de mim a ideia de 
condemnar tão esclarecido sistema, que poupa a intelligencia da criança e 
não lhe cança a  memoria, mas, por outro lado, esse methodo de ensino é 
exhustivo para as nossas professoras, e, se nos interessamos por nossas 
filhas quando pequeninas, devemos continuar a zelar por ellas quando 
deixam os bancos da escola para assumir a cathedra de professora. [...] 
Para a classe superior, em que o alumno já sabe tomar suas notas e já tem 
capacidade para consultar os compendios mais adiantados,só há vantagem 
nesse methodo; nos primeiros annos, porém, e bastante pequena a 
percentagem de meninos que já podem fazer seus pontos e, ou a 
professora tem que tomar sobre si o trabalho de compilação e distribue em 
aula as notas passadas nos copiadores, ou os alumnos são obrigados a 
tomar seus apontamentos e, então, é um martyrio para a professora ter de 
 corrigil-os, gastando seu tempo de repouso nesse trabalho fastidioso. [...] A 
mim se me afigura ainda uma desvantagem: não sendo provavel que a 
criança de tão pouca idade possa reter com precisão o que ouviu em classe, 
muitas vezes registrará erros, que, embora corrigidos, já lhe terão deixado 
uma falsa impressão no espirito. E, se este incoveniente é evitado, dando-
se a licção em dictado ou copia do quadro negro, quer me parecer ainda 
assim que esse methodo mais se applica ás aulas de linguas, sendo o 
tempo melhor aproveitado em explicações nas aulas de sciencias. [...] Em 
muitas escolas, porem, são ainda empregados os compendios, mas aqui 
surge uma nova objecção: são compendios que, em geral, são postos entre 
as mãos dessas crianças, na minha opinião, não estão bastante ao alcance: 
revelam elles muita erudição, mas isso prejudica a criança, que não sabe 
discriminar a parte importante, que deve ser retida, da parte secundaria, que 
póde ser deixada á margem, e, quando a professora toma um interesse 
directo no estudo de cada um de seus alumnos em particular, encontramos 
em seus compendios, trechos gryphados assignalando o mais importante e 
periodos inteiros, numeros e datas, entre parenthesis. [...] Parece-me, pois, 
de alguma utilidade o compendio que contenha só o essencial, sem 
sobrecarregar a imaginaçãozinha apenas desabrochada da criança, 
poupando assim muito trabalho as nossas mestras e ensinando os nossos 
meninos sem os fatigar, a estudar no seu livrinho, muito facil, muito bem 
impresso, para não cançar a vista, muito sympathico, para se tornar 
agradavel ao jovem estudante. [...] Estes pequenos compêndios não evitam 
a explicação em aula, serão apenas auxiliares e darão as professoras, findo 
o trabalho da escola, o repoulso despreoccupado, com a certeza de terem o 
seu programma bem organizado, contendo toda a materia exigida. [...] 
Sabemos, por exemplo, que as crianças não podem ainda, pela reflexão, 
reter na Geographia, as latitudes e longitudes, nem tão pouco as dimensões 
da Terra e sua população. Aprenderão ellas esses numeros 
mechanicamente, para esquecer logo depoi;' nessas condições, para que se 
ha de cançar-lhes a memoria, quando mais tarde poderão ter disso uma 
comprehensão clara e facil? Será então opportuno aprofundar esses 
pontos. [...] Neste meu resumo, supprimi quasi todos os numeros; em 
classe, isso poderá ser explicado de passagem. Os Srs. Professores que 
me derem a honra de criticar este trabalho me dirão se fiz bem. [...] Não é 
este pequeno compendio que tera todas estas vantagens, mas é um ensaio. 
[...] Ahi fica a ideia, e seria uma grande felicidade para mim se o meu 
Compendio de Historia do Brasil e esta Geographia  Elementar fossem os 
irmãos mais velhos de outros pequeninos compendios das materias 
exigidas nas aulas primarias, sempre em estylo muito simples, colocando a 
sciencia á altura da intelligencia dos nossos pequenos patricios. (A autora, 
1919; MARTINS, 1926, p. 1). 
 
Nesse enunciado, quase um depoimento, o sujeito (aliás, uma das poucas autoras 
de obras didáticas de Geografia), reconhecendo nem ao menos ser professora, traz 
a público sua obra com base na experiência adquirida na educação dos próprios 
filhos, motivada, ademais, apenas pelo seu interesse pela educação. Mas sua fala 
apresenta fatos interessantes, como a polêmica que grassou a educação em 
princípios do século XX sobre a adoção ou não do livro didático pelos discentes: 
abolir o livro para dar aulas por explicação. O argumento contrário do sujeito é sobre 
a exaustão que esse método pode acarretar às “professoras”. Por um tempo, parece 
 que essa foi uma prática adotada no estado de São Paulo, como evidencia este 
outro sujeito: 
 
A condenação é pueril e contraproducente. Eliminados os livros de texto, os 
professores passaram a “dizer pontos” ou a dar apostilas, o que é o mesmo, 
e fazem-no clandestinamente, embora sigam o método da elaboração 
sistemática das cartas pelos alunos, o que fixa os conhecimentos. 
Revelaram assim que o livro de texto é indispensável, principalmente para 
crianças de curso primário. E que suprimindo-o, para evitar a memorização 
como um processo ou expediente didático, caímos, num embuste muitas 
vezes peor: a memorização pela tradição oral, por intermédio das lições do 
mestre, transformado em oraculo. [...] O que se deve proibir é que o livro 
faça tudo e substitua o trabalho de elaboração das lições. Isso se consegue 
com a pratica quotidiana da fatura de mapas pelos alunos, em classe e em 
casa. Mas, uma vez adotado o processo, que se generalizou nas escolas 
paulistas, o livro só pode, em verdade, auxiliar o trabalho de ambos, mestre 
e discípulo (o autor; MENNUCCII, 1936, p. 11-12). 
 
Ambos os sujeitos sinalizam para a inutilidade dessa medida, pois o acesso ao 
conhecimento apenas mudava de meio, ficando mais trabalhoso: da leitura, para a 
cópia. 
 
 
6.3.8 Posições constitutivas da bibliografia didática de Geografia quanto ao 
nacionalismo 
 
O critério localidade é justamente o gatilho que colocará em curso uma 
produção pátria de manuais didáticos, em termos gerais: História, livros de leitura, 
livros de Geografia. O modelo francês foi influente na maior parte da bibliografia em 
análise. Não por uma questão de modismo, ou de cópia cultural. O Brasil , ao tempo 
da Independência, e até bem depois, basicamente tinha uma intelectualidade muito 
rudimentar, em desenvolvimento; com certeza, não tinha pesquisa; seria natural, 
então, a absorção de modelos externos. Dentre outros motivos para essa influência, 
de acordo com Bittencourt (2008), estavam as relações comerciais entre Brasil e 
França, e identidades culturais como o catolicismo. Ademais, o nacionalismo 
brasileiro se formou no contexto de uma relativa repulsa à herança dos portugueses, 
substituindo-se esse modelo pelas práticas e perspectivas da França. O que era 
francês assemelhava-se a progresso, ao moderno, e Portugal, naquele momento, 
era um país estagnado, sem dianteiras em nenhuma área, distante dos tempos 
 áureos das grandes navegações e da prosperidade financeira que lhe 
proporcionaram as colônias. 
A causa nacional não foi o engajamento de sujeitos individuais: perpassou 
pela classe dos intelectuais, mesmo quando um deles não era tomado por nenhum 
ou quase nenhum fervor nacional. De Augusto Emílio Zaluar, português naturalizado 
brasileiro, Duarte (2010, p. 124) faz a seguinte análise: “[...] acredita-se que Zaluar 
não tenha desenvolvido um sentimento nacionalista em relação ao Brasil, e também 
não possuísse nenhum interesse além do comercial e de sobrevivência, mas, 
acabou por contribuir no processo de constituição de uma idéia de Nação brasileira 
e de desenvolvimento de uma literatura nacional”. Zaluar foi examinador da 
Instrução Pública e lente de Pedagogia durante a criação da Escola Pública Normal 
e autor de inúmeras obras, dentre as quais, uma Noções elementares de geographia 
(1880) e Lições de coisas inanimadas e animadas (1876), escreveu obras como Os 
heróis brasileiros na campanha do sul (1865) e Peregrinação pela província de São 
Paulo – 1860-1861 (1863), na qual se encontra abundantes superfícies discursivas 
típicas do dizer nacionalista: 
 
Eu que já tenho admirado esse rio formoso [Paraíba] em tantos pontos do 
seu curso, não posso subtrahir-me a um involuntário estremecimento de 
alegria quando no meio de minhas peregrinações me sahe rapidamente ao 
encontro a toalha límpida de suas águas abundantes. É pelas campinas e 
encostas d’este soberbo rio que brotão os dous mais preciosos productos 
da nossa lavoura, os dous mais poderesos elementos de nossa riqueza, o 
café  a canna. Respecto pois a este rio magestoso, que, como o Nilo, 
converte em ouro os terrenos que enriquece com seu fecundo baptismo! 
(ZALUAR, 1863, p. 14). 
 
Percorri quase de um extremo a outro o que há de mais curioso na vossa 
bella, grande e heroica província de S. Paulo. Apreciei os homens, observei 
os costumes, e admirei sobretudo a opulência e o vigor da natureza 
americana” (ZALUAR, 1863, p. I);  
 
 
O discurso nacionalista, em sua perspectiva telúrica, possui um conjunto de 
marcadores discursivos: em sentido amplo, é um discurso de demarcação de uma 
propriedade coletiva – a propriedade da pátria; é um discurso comparativo, em que o 
nosso e o deles, em diversos manejos, colocam os objetos nacionais em destaque 
pelo que são ímpares, ou que se pretende que sejam; é um discurso pontuado por 
lexemas adjetivados, pois é necessário estabeler as características, sempre 
 positivas e exaltadas, da propriedade nacional. Conforme aferi anteriormente, a 
nacionalidade – matriz ideológica importante no ensino da Geografia – será mais 
uma posição, uma perspectiva construída para o espaço nacional, destacando-o 
com independência e relevância em relação às demais nações (ou em volume 
exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmática entrelaçada no fio 
discursivo da bibliografia didática. 
No entanto, em primeira ordem, claramente se posta nos discursos do 
entorno da bibliografia. 
Nesse sentido, o nacionalismo é uma rachadura entre a proposição do 
estudo da Geografia como cultura geral e sua proposição como panorama e base 
dos interesses nacionais. A partir daí se cliva em diversas direções e intensidades, 
inflamando-se de acordo com a imersão política e partidária que caracacteriza o 
movimento histórico do país. 
Já na fundação do discurso geográfico didático, encontra-se a posição da 
nacionalidade expressando-se na enunciação dos autores: 
 
Todo o bom Cidadão deve, segundo as suas forças, concorrer quanto lhe 
for possível para o bem da sociedade, de que he membro: esta verdade, 
gravada no fundo de meu Coração, he quem me inspirou o desejo de 
offerecer ao Publico este pequeno Tractado de Geographia, que collegi dos 
melhores authores modernos, e o expús com a clareza, e methodo, que me 
foi possível, para proveito da Mocidade Brazileira; dando huma pequena 
idéa da Geographia Astronomica, e tocando de passagem por todos os 
lugares da Terra, demorando-me mais no Brazil [...]; para cuja descripção 
me servi da Corographia do Reverendo.... Ayres, e de algumas informações 
de pessoas fidedignas. Conheço que, para melhor intelligencia, eu devia 
gravar Mappas Geographicos, para esclarecer as divisoens dos Paizes, que 
descrevo; mas as minhas circuntancias actuaes não me offerecem as 
necessárias proporçõens para huma empreza tão delicada: por tanto, como 
seja o meu objecto dar aos meus Patrícios huma tintura geral de 
Geographia, resolvi-me a publicar mesmo com essa falta, na persuasão de 
que as Cartas Universaes, e Geraes pódem muito bem applicar-se-lhe, com 
pequenas faltas, que serão supridas por qualquer hábil explicador. (O autor, 
TORREÃO, 1824, p. 11-12). 
 
Neste fragmento, analisado em outro contexto neste capítulo, vê-se o sujeito 
construindo um valor para a autoria do livro didático de Geografia – coloca-o como 
dever de indivíduos comuns para o bem da sociedade, incursa um destaque para o 
espaço nacional – antes praticamente não contemplado, no âmbito do ensino para a 
“mocidade brasileira”. Sua relação com o público, no momento em que o país 
encontra-se independente e em construção, permite certa irmandade vislumbrada no 
 lexema patrício, uma ressignificação ao termo “brasileiro” que, se durante o período 
colonial remetia-se apenas à condição de nascimento, agora vislumbra uma 
comunidade nacional, político-territorial, portanto. 
A escala de valor das abordagens nacionais continua bibliografia adentro, 
extensiva a outros países relacionados aos interesses de uma educação aos 
brasileiros: 
 
Pela sua connexão com larga parte da historia geral e, por outro lado, pelas 
suas relações com o Brasil, é facil de ver que devia dar, como dei, mais 
desenvolvimento ao estudo de certas nações do que ao de outros paizes. 
Cousas que me pareceram inuteis ou excessivas em um livro elementalar, 
omitti-as todavia, rompendo assim mais de uma vez com a rotina. (O autor; 
ALI, 1905, p. IV). 
 
É o caso dos países vizinhos, ou dos países mais próximos em termos de relações 
políticas e econômicas. Pontualmente, o elogio telúrico, fruto típico do orgulho 
patriótico, aparece, desaparece e reaparece na bibliografia, sendo mais frequente 
nas décadas iniciais do século XX. No fragmento abaixo, a sequência discursiva 
“nossa extraordinária terra” traz toda uma conotação de sentidos que perpassam 
pela admiração e entusiasmo inerentes ao sentimento da nacionalidade: 
 
Nelle se encontram minuciosas informações sobre a nossa extraordinária 
terra, sendo até um livro necessário em todas as estantes dos estudiosos 
(Commercio de São Paulo, 20/06/1908; SCROSOPPI, 1911, p. VI). 
 
No próximo fragmento, o sujeito faz um conclame a que o tratamento feito ao 
Brasil tenha “inteira verdade”, postulado de sua crença sobre ter o território 
credenciais suficientes, após a Proclamação da República, para fazer figura digna 
frente ao demais países: 
 
Parece-nos, pois, ter todo cabimento um livro em que o Brasil actual seja 
descripto com inteira verdade, procurando-se tornar bem patente aos olhos 
do mundo culto todo o immenso progesso que lhe trouxe o regimen 
republicano (O Autor; BITTENCOURT, 1916, p. 2). 
 
Estas credenciais são longamente explicadas pelo sujeito: 
 
Não é certamente tarefa fácil, pois o nosso paiz tem passado por notáveis 
transformações, tanto materiaes como politicas e sociaes. O que há 
 publicado sobre Geographia pátria, já, em grande parte, não satisfaz ás 
exigencias modernas, ao extraordinário progresso que o Brasil tem feito 
nestes ultimos 21 annos, após a implantação do novo regimen politico, 
resultante da revolução triumphante de 15 de Novembro de 1889. Aos olhos 
do observador imparcial, ao investigador consciencioso, certamente não 
pode passar despercebido o caminhar do Brasil a largos passos pela senda 
do progresso, acompanhando galhardamente a evolução geral da 
humanidade. É já hoje impossível passar o nosso paiz, perante as nações 
cultas, como terra de botocudos. Mas por isso mesmo, suas condições 
materiaes, econômicas e financeiras, suas vias de comunicação terrestres, 
marítimas e fluviais, sua força armada, sua indústria e commercio, tudo, 
emfim, tem experimentado o influxo benefico da expansão civilizadora. 
Infelizmente a todo esse desenvolvimento material mal corresponde a 
cultura intelectual. Ainda campeia o anaphalbetismo nas classes populares, 
retardando a marcha da locomotiva do progresso. O problema da educação 
nacional é momentoso, e tem forçosamente de impor-se ao estudo e 
meditação dos estadistas republicanos, responsáveis directos pelos futuros 
destinos desta grande pátria. Todos, porém, devem cooperar para o 
adiantamento da instrucção. A imprensa, a tribuna, as conferencias 
publicas, os livros didacticos, muito podem conseguir em tal assumpto. Por 
nossa parte procurámos carregar algumas pedras para o monumento, 
aproveitando o tempo que nos sobra do exercício activo do magistério, para 
a confecção de algumas obras que sirvam á mocidade estudiosa (O Autor; 
BITTENCOURT, 1916, p. 1-2). 
 
Para o sujeito, o regime republicano perpetrou no país transformações notáveis – 
políticas e sociais, perpceptíveis pela imparcialidade, da qual, explicitamente, não 
compartilha. Há uma visão gloriosa nos “largos passos” que percorrem a “senda do 
progresso”, fazendo companhia galharda à “evolução geral da humanidade”, o que 
faz da nação uma superação do que se suponha ser antes – “terra de botocudos” – 
aos olhos dos países civilizados. Tais passos se materializam nas “vias de 
comunicação terrestres, marítimas e fluviais”, na “força armada”, na “indústria e 
commercio”, expressão “da expansão civilizadora”. Há o porém da “cultura 
intelectual”, em descompasso à cultura material: o analfabetismo popular, colocado 
como empecilho ao progresso, lexema chave dos partidários republicanos. E 
característico da oratória nacionalista, há a confiança no futuro para superação dos 
valores e percalços que impeçam uma glória plena da pátria: a questão educacional 
é momentânea, a ser resolvida pelos “estadistas republicanos”, “responsáveis 
directos pelos futuros destinos desta grande pátria”. E ainda tipicamente ao dizer 
patriótico, congraça os nacionais a esse esforço pela pátria: “todos, porém, devem 
cooperar para o adiantamento da instrucção”. Quem seria esse todo? “A imprensa, a 
tribuna, as conferencias publicas, os livros didacticos”, dentre outros, sendo com os 
livros a cooperação do sujeito. 
 A partir dos anos 1920 vê-se um compromentimento maior da Geografia 
escolar com a causa nacional. A ideologia nacional-patriótica migrará dos discursos 
do entorno, registrados ou não nos livros didáticos, e penetrará no próprio dizer 
sobre as coisas do Brasil. Essa saída dos bastidores virá ao propósito de dar uma 
visão aos jovens e às crianças sobre os assuntos da pátria: 
 
Cumpre abrir diante dos olhos das gerações novas o quadro bem amplo do 
nosso paiz, para que o contemplem. Ha tanto mister em estudal-o quanto 
pouco é o que se tem feito para tal. O Brasil é um mundo e merece bem que 
delle se occupe a maior e principal parte de uma obra que, destinada as 
escolas commerciaes, e tambem compulsavel por todos os que se 
interessam pela vida economica modema. (O autor, 19-2-1929; XAVIER, 
1929, p. 7). 
 
Há de nascer nessas instâncias o endosso ao país-continente, o país do futuro, o 
país potência que será comum em vários momentos históricos no futuro da 
bibliografia didática de Geografia. 
Sente-se, à entrada dos anos 1930, a temperatura dessa ideologia que se 
faria acompanhar de uma das primeiras ditaduras políticas nacionalista – o Estado 
Novo – internalizando-se amplamente do dizer didático-geográfico: 
 
Um bom autor deve considerar o conjuncto historico e geographico. Deve 
pôr o homem no meio, como agente economico e traçar-lhe o papel. [...] 
Depois de quatro seculos de preparação, chegou o momento da acção. 
Tirar das suas immensas riquezas o quinhao que o destino lhe deu e o seu 
dever. Um paiz não chega inutilmente a 40 miIhões de habitantes e não 
occupa impunemente oito milhões e meio de kilometros quadrados. Para 
gozar e dominar esse patrimonio e preciso armar-se cavalleiro. A tendencia 
agora é para os phenomenos economicos. A phase consquistadora passou. 
Passou a phase militar. Estivemos tres seculos e meio no periodo das 
experiencias politicas. Toda a sorte de erros commettemos. Entretanto, 
grandes cousas fizemos. Erguemos uma nacionalidade. Fixámos os 
contornos, garantimos a nossa soberania. Desbravamos o sertão, 
libertamos os escravos, creamos um commercio. [...] Passou, pois, a phase 
defensiva. Entramos decisivamente na era das realizações. O periodo critico 
da infancia esta transposto. O mal do crescimento deixou laivos profundos, 
mas deixou ensinamentos. Enveredamos abertamente para a competição 
internacional. O Brasil é já uma potencia, com que o mundo conta. 
Precisamos nos apparelhar para sermos dignos da espectativa mundial. O 
que nos cumpre é fazer-nos fortes, pela produção e pelo commercio; 
respeitados, pela sã politica; amados, pelo cavalheirismo; uteis pelo 
intercambio. O ensino pratico vae resolver esses problemas. (O autor, 19-2-
1929; XAVIER, 1929, p. 12-13). 
 
A extensão do território e as riquezas naturais são acordadas no contexto da 
expansão industrial e do acirramento da lógica capitalista que começa a esboçar-se 
 no país. É o despertar de “quatro seculos de preparação”, de “experiencias politicas”, 
nas quais o esboço da nacionalidade fora traçado (“erguemos uma nacionalidade”), 
se consolidara a soberania, se tomara posse das extensões sertanejas, devendo-se 
partir, portanto, da defesa para a ação, para a “competição internacional”. 
O Brasil potência estava emergindo de suas condições histórico-ideológicas, 
e essa perspectiva passaria, agora mais do que nunca, a irmanar-se com o discurso 
didático da Geografia. 
 
 
6.4 Livro escolar de Geografia e representações sobre o ensino geográfico no 
período em questão 
 
Notadamente, o período histórico delineado na pesquisa, sobretudo nas 
décadas iniciais, foi marcado pela ausência de livros. A Revista do Ensino, 
publicação mineira, em edição comemorativa ao centenário da lei de 25 de outubro, 
a esse propósito, tem um depoimento interessante sobre a questão dos livros, 
quando afirma: 
 
Não havia livros; o mestre tinha de fazer cartas para todos os discípulos. 
Depois do a-b-c, a carta de nomes, e depois a carta de fora. O mestre e os 
próprios meninos obtinham dos negociantes cartas comerciais para leitura 
na escola; os próprios pais as forneciam, e quando faltavam, recorria-se aos 
cartórios, onde o mestre obtinha e às vezes comprava, autos antigos, 
escritos ainda com pena de pato, que eram o terror da meninada. Eu 
mesmo passei pelo suplício de decifrar as abreviaturas dos escrivães do 
tempo d’el rei (PEREIRA, 1927, p. 21). 
 
Oliveira; Guimarães; Bomény (1984, p. 23) corroboram esse depoimento: 
 
Dos relatos sobre a história da literatura didática no Brasil, sabemos que 
tudo começou e foi assim até muito longe no tempo, com a leitura de cartas 
manuscritas que professores e pais de alunos forneciam. Capistrano de 
Abreu chegou a atribuir a carência de documentos antigos no Brasil ao 
consumo deles nas escolas para leitura dos alunos. 
 
Vem daí a etimologia, entre nós, das cartilhas como gênero de letramento. Mas com 
certeza houve livros, que se fizeram presença na vida escolar de professores e de 
alunos. 
 Em se tratando da relação entre livro e ensino de Geografia, podemos 
indagar: como era o ensino dessa disciplina? Como os livros participavam desse 
cotidiano? Para encerrar a trajetória percorrida com essa disciplina, repasso por 
algumas representações culturais sobre como a educação geográfica se manifestou 
no ambiente escolar e na sociedade, utilizando-me, para isso, de alguns recortes 
dos discursos memorialista e ficcional para precisar representações do ensino de 
Geografia no século XIX. 
Na realidade contemporânea, não seria necessário um estudo formal para 
que o indivíduo comum tenha uma noção da diversidade e da constituição do 
mundo, do país em que vive, da região que habita, das relações sociais 
estabelecidas a partir da perspectiva do espaço geográfico: nem sempre esse saber 
é manifesto e percebido como geográfico, porém integra as práticas cotidianas, pois 
a informação geográfica atravessa abundantemente o entretenimento, a imprensa, 
as relações e a circulação humanas atuais. Até o século XIX, e mesmo muito depois, 
contudo, a cultura ampla e geral era domínio de poucos, dos letrados, dos que 
tinham recursos e possibilidades para viajar e consumir essa cultura. O elemento 
comum tinha uma percepção bem limitada do mundo, como apresentado por 
Machado de Assis (1997a, p. 754), por meio da personagem principal do romance 
Quincas Borba: 
 
Para lá da barra, o mar imenso, o céu fechado e a solidão. Rubião renovou 
os sonhos do mundo antigo, criou uma Atlântida, sem nada saber da 
tradição. Não tendo noções de geografia, formava uma idéia confusa dos 
outros países, e a imaginação rodeava-os de um nimbo misterioso. Como 
não lhe custava viajar assim navegou de cor algum tempo, naquele vapor 
alto e comprido, sem enjôo, sem vagas, sem ventos, sem nuvens. 
 
 Esse recorte denomina a que vinha o ensino de Geografia, o que instituía 
seu objetivo, na forma mais simples de apresentar essa formação discursiva: 
introduzir o aprendiz nas noções geográficas. A cultura predominante não mais se 
restringia ao universo cristão, grego ou romano – centralidade nos estudos clássicos 
e religiosos. A Europa ascendia como centro cultural e grande parte do mundo era 
sua periferia; com isso, houve no século XIX, aproximadamente em seus meados, 
uma crise dos estudos clássicos e, por conseguinte, um deslocamento no eixo dos 
objetos de estudo escolar, o que é particularmente notável na História e na 
Geografia, bem como no fortalecimento do ensino de matérias científicas. Noções e 
 elementos são lexemas abundantemente utilizados no discurso geográfico didático: 
apresenta-se nos títulos da bibliografia didática, nas orientações curriculares, na 
legislação pertinente à questão. No caso, Rubião apresentava dificuldades para 
supor a organização do mundo, seu funcionamento, sua constituição. O mais comum 
ao brasileiro da época, geralmente sem bases da educação formal, era conhecer 
unicamente a geografia pessoal e representações distorcidas dos demais espaços. 
Esta era uma realidade típica dos tempos precedentes à escolarização. A literatura 
popular de todos os lugares reflete essa neblina geográfica, apresentando enredos 
entranhados em reinos e países distantes, apresentando florestas sem 
especificações próprias, povos de cultura homogênea... 
Neste período, portanto, havendo ensino de Geografia, e houve, alçava um 
alcance restrito. Todavia, como eram as relações do ensino então existente? 
No recorte a seguir, encontramos no romance A Normalista, de Adolfo 
Caminha, um típico cotidiano do ensino de Geografia em uma escola do ensino 
Normal, que merece ser transcrito e examinado pela diversidade de detalhes: 
 
Ao meio dia, pontualmente, chegou o professor de geografia, o Berredo, um 
homenzarrão alto, grosso e trigueiro, barba espessa e rente, quase cobrindo 
o rosto, olhos pequenos e concupiscentes. Cumprimentou o diretor, muito 
afetuoso, limpando o suor da testa. E consultando o relógio: 
- Meio dia! São horas de dar o meu recado. Com licença. 
Contavam-se na sala d’aula pouco mais de umas dez alunas, quase todas 
de livro aberto sobre as carteiras, silenciosas agora, à espera do professor. 
Maria ocupava um dos bancos da primeira fila. 
Ao entrar o Berredo, houve um arrastar de pés, todas simularam levantar-
se, e o ilustre preceptor sentou-se, na forma do louvável costume, 
passeando o olhar na sala, vagarosamente, com bonomia paternal  tal um 
pastor d’ovelhas a velar o casto rebanho. 
A sala era bastante larga para comportar outras tantas discípulas, com 
janelas para a rua e para os terrenos devolutos, muito ventilada. Era ali que 
funcionavam as aulas de ciência físicas e naturais, em horas diferentes das 
de geografia. Não se via um só mapa, uma só carta geográfica na paredes, 
onde punham sombras escuras peles de animais selvagens colocadas por 
cima de vidraças que guardavam intactos aparelhos de química e física, 
redomas de vidro bojudas e reluzentes, velhas máquinas pneumáticas 
nunca servidas, pilhas elétricas de Bunsen, incompletas, sem o amálgamas 
de zinco, os condutores pendentes num abandono glacial; coleções de 
minerais, numerados em caixinhas, no fundo da sala, em prateleiras 
volantes... Nenhum indício, porém, de esfera terrestre. 
O professor pediu um compêndio que folheou de relance.  Qual era a lição? 
A Oceania? Pois bem... 
- Diga-me, senhora Da. Maria do Carmo: A Oceania é ilha ou continente? 
 - Maria fechou depressa o compêndio que estivera lendo, muito 
embaraçada, e, fitando o mestre, batendo com os dedos na carteira, com 
um risinho: 
- Somente uma parte da Oceania pode ser considerada um continente. 
- Perfeitamente bem! 
E perguntou, radiante, como se chama essa parte da Oceania que pode ser 
considerada continente; explicou demoradamente e categoricamente a 
natureza das ilhas australianas, elogiando as belas paisagens claras da 
Nova Zelândia, a sua vegetação opulenta, as riquezas do seu solo, o seu 
clima, a sua fauna, com entusiasmo de touriste, animando-se pouco e 
pouco, dando pulinhos intermitentes na cadeira de braços que gemia ao 
peso de seu corpo. 
Maria, muito séria, sem mover-se, ouvia com atenção, o olhar fixo nos olhos 
do Berredo, bebendo-lhe as palavras, admirando-o, adorando-o quase 
como se visse nele um doutor em ciências, um sábio consumado, um 
grande espírito. Decididamente era um talento, o Berredo! Gostava imenso 
de o ouvir falar, achava-o eloqüente, claro, explícito, capaz de prender um 
auditório ilustrado. Era a sua aula predileta, a de geografia, o Berredo 
tornava-a mais interessante ainda. Os outros, o professor de francês e o de 
ciências, nem por isso; davam sua lição como papagaios, e  adeus, até 
amanhã. O Berredo, não senhores, tinha um excelente método de ensino, 
sabia atrair a atenção das alunas com descrições pitorescas e pilhérias 
encaixadas a jeito no fio do discurso. 
“Muitas ilhas da Oceania, dizia ele, coçando a barba, são habitadas por 
selvagens antropófagos, como os da América antes de sua descoberta...” 
“Imaginem as senhoras, que horror! Homens devorando-se uns aos outros, 
comendo-se com a mesma satisfação, com a mesma voracidade, com o 
mesmo canibalismo com que nós outros, civilizados, trinchamos um beef-
steak ao almoço...” 
Houve um casquinada de risos à surdina. 
Agora se o Zuza [diretor da instituição] te come, disse baixinho, por trás de 
Maria do Carmo, uma moçoila de pincenez. Toma cuidado, menina, o bicho 
tem cara de antropófago... 
“E note-se, continuou o Berredo, as próprias mulheres não escapam à fúria 
das tribos inimigas: devoram-se também...” 
- Virgem! fez Maria com espanto... 
“As senhoras com certeza preferem viver no Ceará a habitar a Papuásia...” 
Credo! fizeram muitas a uma voz. 
E no Brasil há desses selvagens? perguntou estouvadamente uma loura 
que se escondia na última fila, estirando o pescoço. 
O pedagogo sorriu, passando a mão cabeluda na barba; e muito delicado, 
num tom benévolo: 
“Atualmente existem poucos... Restos de tribos extintas...” 
E continuou a falar com a loquacidade de um sacerdote a pregar a moral, 
explicando a vida e costumes dos selvagens da Nova Zelândia, citando 
Júlio Verne, cujas obras recomendava às normalistas com um “precioso 
tesouro de conhecimentos úteis e agradáveis”. Lessem Júlio Verne nas 
horas d’ócio; era sempre melhor do que perder tempo com leituras sem 
proveito, muitas vezes impróprias de uma moça de família... 
Vá esperando.... murmurou a Lídia. 
 “Eu estou certo,  dizia o Berredo, convicto,  de que as senhoras não lêem 
livro obscenos, mas refiro-me a esses romances sentimentais que as moças 
geralmente gostam de ler, umas historiazinhas fúteis de amores galantes, 
que não significam absolutamente coisa alguma e só servem de transtornar 
o espírito às incautas... Aposto em como quase todas as senhoras 
conhecem a Dama das camélias,  a Lucíola...” 
Quase todas conheciam. 
“....Entretanto, rigorosamente, são péssimos exemplos...” 
Tomou um gole d’água, e continuando: 
“Nada! As moças deviam ler somente o grande Júlio Verne, o propagandista 
das ciências. Comprem a Viagem ao Centro da Terra, Os filhos do Capitão 
Grant e tantos outros romances úteis, e encontrarão neles alta soma de 
ensinamentos valiosos, de conhecimentos práticos...” 
O contínuo veio anunciar que estava terminada a hora. (CAMINHA, 1936, p. 
76-79). 
 
Várias nuances da educação geográfica podem ser percebidas nesse 
recorte. Em primeiro lugar, nota-se o número reduzido de alunos por turma – dez 
normalistas, no caso. O século XIX não teve um movimento massivo de 
escolarização, sobretudo no ensino secundário. A massificação do ensino brasileiro 
teria um movimento característico apenas no início no século XX, notadamente a 
partir dos anos 1930, nos primeiros sinais de um movimento desse tipo – embora 
apenas nos anos 1990 se teria uma intensificação nesse sentido. Toda a história 
editorial dos livros didáticos nos oitocentos, por meio de suas edições, indicia esse 
acesso restrito à educação formal: baixas tiragens, longo período entre as reedições, 
quando as havia. 
Há no recorte, ainda, vestígios do saber ensinado e do saber apreendido. No 
recorte anterior, temos a representação de um adulto, Rubião, que havia sido 
professor no interior de Minas Gerais, escolarizado, portanto, mas que não tinha 
uma percepção formalizada do mundo, sendo propenso mais à fantasia que à 
realidade, em seus pensamentos. Neste trecho de A Normalista, vemos uma 
situação de ensino e aprendizado da Geografia, inclusive com a utilização do livro no 
ensino: “O professor pediu um compêndio que folheou de relance. Qual era a lição? 
A Oceania? Pois bem...”, e também a libertação desse discurso – “[...] elogiando as 
belas paisagens claras da Nova Zelândia, a sua vegetação opulenta, as riquezas do 
seu solo, o seu clima, a sua fauna, com entusiasmo de touriste, animando-se pouco 
e pouco, dando pulinhos intermitentes na cadeira de braços que gemia ao peso de 
seu corpo”. O oposto, condizente à situação dos professores de francês e de 
 ciências, perfeitamente pode ser extendido a outros professores de Geografia, pois 
era um comportamento típico, muitas vezes testemunhado e entrevisto por 
historiadores da educação: “[...] davam sua lição como papagaios, e adeus, até 
amanhã” – o despreparo do professor frequentemente coadunava com as políticas 
de favorecimento que usurpavam dos cargos docentes como moeda política para 
distribuição de empregos, além do despreparo pedagógico e de formações 
específicas na área de atuação (BITTENCOURT, 2008). 
O recorte vislumbra, também, a constituição dos ambientes físicos das salas 
de aula de Geografia no ensino secundário: disposição precária de materiais, os 
mapas e esfera, no exemplo, limitados ainda, talvez pelo dispêndio desses artigos 
gráficos. Adiante, demonstro que Helena Morley101 (1988, p. 87) faz referência a 
essa escassez: “eu não tenho mapa e mesmo que tivesse não estudaria no mapa”. 
Lembro que era um tempo informacional e iconicamente sem abundância, embora o 
ensino da Geografia nunca tenha podido indispor-se das representações: sua 
essência para além dos significados e sentidos instituídos, parte da compreensão da 
materialidade do mundo. No caso acima, a sala era compartilhada com as disciplinas 
de ciências físicas e naturais, e ali, entre o aparelhamento dessas matérias, “Não se 
via um só mapa, uma só carta geográfica nas paredes [...]. Nenhum indício, porém, 
de esfera terrestre”. A posição que o sujeito narrador assume, de forma crítica, deixa 
entrever o pressuposto de que uma sala de ensino de Geografia deveria dispor de 
certos materiais, como mapas e esferas – algo que talvez fosse possível encontrar 
em algumas instituições, a exemplo do Colégio Pedro II ou Liceus provinciais. 
Observa-se, igualmente, a organização curricular, com professores 
nomeados para cada disciplina, em horários próprios, e a presença de compêndios, 
em uso pelo professor e pelas discentes. O ensino de Geografia pode ser notado, a 
princípio, como classificatório: o que é uma ilha, o que é um continente, como essas 
definições enquadrariam a Oceania. O dizer do professor é o que difere a estrutura 
do livro de ensino e aprendizagem: o “entusiamo touriste” que, “[...] com descrições 
pitorescas e pilhérias encaixadas a jeito no fio do discurso” despertava o interesse 
das discentes, particularmente da personagem Maria. E aqui se tem um exemplo 
                                                 
101
 Pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970), que publicou seu diário da adolescência 
em 1942. 
 notório em que a Geografia também foi uma disciplina de predileção, acentuada pelo 
carisma do professor, mas atrativa em si para a personagem. 
As práticas metodológicas pouco modificaram, e pouco se modificariam ao 
fim do período delimitado nesta tese. Manteve-se a memorização como forma de 
aquisição do saber, por meio de lições, ou de pontos – trechos demarcados pelos 
professores para estudo aferido nos testes ou verificação cotidiana do aprendizado: 
 
Domingo, 17 de setembro de 1893 
 
Ontem foi dia de decorar pontos de Geografia. Eu não tenho mapa e 
mesmo que tivesse não estudava no mapa; é tão mais fácil decorar. A sala 
de visitas estava vazia eu me tranquei lá e fiquei estudando alto, passeando 
de um lado para outro. Vovó abriu a porta umas duas vezes durante esse 
tempo para me dizer: "Chega, minha filha, isto cansa. Você é tão 
magrinha!". Mas eu respondia: 'Não, vovó, deixa-me decorar todos os 
pontos de uma vez; depois recordar é mais fácil” (MORLEY, 1998, p. 87). 
 
- O diretor, o diretor! veio avisar a Jacintinha, uma feiosa, d’olho vazado, 
com sinais de bexiga no rosto, e que estava acabando de decorar alto a 
lição de geografia. (CAMINHA, 1936, p. 75).  
 
Memorizar, recordar a memorização e transpô-la para os testes orais e 
escritos foram movimentos que perfaziam o ato de estudar e aprender neste 
período, e até depois dele: “a forma de ensino que predominou de modo 
generalizado foi a da memorização. Outro tipo de ensino não poderia conciliar-se 
com a geografia descritiva” (ISSLER, 1973, p. 76). Tão automática era essa 
metodologia de ensino e de aprendizagem que um autor didático, conforme 
menciona Issler, estendendo o texto um pouco além, com explicações, notas e 
observações, foi específico ao dividir sua superfície discursiva com dois tamanhos 
de tipos gráficos, alertando: “aquilo que está em typo miudo é só para ler” 
(BURGAIN, 1885, p. 71), sem a necessidade de decorar, portanto. 
Por extensão, as avaliações procuravam aferir esse saber memorizado, 
tanto nas avaliações escritas quanto nas orais: 
 
Sábado, 9 de dezembro de 1893 
 
Não passei do primeiro ano só e só por falta de sorte e mais nada. 
 No exame de Geografia quase ninguém deixa de colar. Todas nós 
preferimos fazer sanfona; é tão mais fácil. Fiz todas com o maior cuidado e 
fui para o exame com o bolso cheio delas. 
Saiu para a prova escrita o ponto "Rios do Brasil". Ótimo! Tirei minha 
sanfoninha, ia copiando e dizendo alto para as outras também escreverem. 
Penso que foi isto que deu na vista. Seu Artur Queiroga desce do estrado, 
fica perto de minha mesa e eu sem poder continuar a escrever. Meti a 
sanfona na carteira e pus as mãos na mesa. Ele disse: "Vamos, continue!". 
Eu estava nessa hora descrevendo o Rio Amazonas. Nem sei por que me 
veio a idéia de falar o que falei, foi o que atrapalhou tudo. Ele repetia: 
"Vamos! Escreva!". Eu respondi: "Não posso, Seu Artur. Estou afogada no 
Rio Amazonas". Ele dobrou uma gargalhada que chamou a atenção dos 
outros examinadores e eles vieram também para a minha mesa. Seu Artur 
disse: "Pois vou salvá-la. Vamos ver se tirando você do Amazonas você 
segue", e foi dizendo: "Corre para aqui, recebe estes afluentes, desemboca 
acolá". Mas foi impossível seguir. A coisa só serviu para distrair os 
professores, as outras colarem sossegadas e eu e a minha turma não 
fazermos exame. 
Tive de entregar a sanfona e Seu Artur só querendo que eu explicasse por 
que fazia aquilo em vez de estudar. Respondi que eu mesma não sabia; 
que me ensinaram assim e eu achei o sistema bom. 
Depois desse exame, os outros foram na mesma toada. Vinham os 
professores se distrair comigo e as outras colavam descansadas. Foi minha 
sorte. Que fazer? (MORLEY, 1998, p. 112). 
 
Além das provas escritas, eram comuns os exames orais, sobretudo aqueles 
periódicos, que semanalmente procuravam aferir o aprendizado dos últimos dias – 
como a “sabatina”, prática instituída desde os jesuítas – ou para aferição do 
desenvolvimento das turmas para autoridades escolares, como o diretor: 
 
- Diga-me a Sra. D. Sofia de Oliveira, quantos são os pólos da Terra? Veja 
como responde, é uma pequena recapitulação. Não se acanhe. Quantos 
são os pólos da Terra? 
O Berredo lembrou-se de fazer uma ligeira recapitulação para dar idéia do 
adiantamento de suas alunas. 
Sofia de Oliveira era uma pequerrucha de olhos acesos, morena, verdadeiro 
tipo de cearense: queixo fino, em angulo reto, fronte estreita, olhos negros e 
inteligentes. 
- Quantos são os pólos da Terra? fez ela olhando para o teto como 
procurando a resposta, embatucada.  Os pólos?... Os pólos são quatro. 
Risos. 
- Quatro? Pelo amor de Deus! Tenha a bondade de nomeá-los. 
- Norte, sul, leste, oeste. 
Nova hilaridade. 
-  Até é uma das minhas melhores alunas.  Não confunda, tornou para a 
normalista. Olhe que são pólos e não pontos cardeais... 
Outro disparate: 
- Há uma infinidade de pólos... 
 - Ora! Adiante... D. Maria do Carmo. 
Maria estremeceu, embatucando também, sem dizer palavra, sufocada. A 
presença do Zuza anestesiava-a, incomodava-lhe atrozmente. Sob a 
pressão do olhar magnético do estudante, que a fixava, sua fisionomia 
transformou-se. 
- Então, D. Maria?... Também está acanhada? 
- Passe adiante, pediu o Zuza, compadecido. 
Duas lágrimas rorejaram nas faces da normalista caindo com um sonzinho 
seco sobre a carteira. Estava numa das suas crises nervosas. Outras duas 
lágrimas acompanharam a primeira, vieram outras, outras, e Maria, cobrindo 
o rosto com seu lencinho de rendas, desatou a chorar escandalosamente. 
- Sente-se incomodada? tornou o Berredo. D. Maria! Olhe... Tenha a 
bondade de levantar a cabeça... 
- Está nervosa, disse o presidente com o seu belo ar de céptico elegante. 
Pudores de donzela, murmurou o diretor. Isso acontece. 
O Berredo passou a mão no bigode, desapontado, e encontrando o olhar 
faiscante de Lídia:  A senhora... Quantos são os pólos da Terra? 
- Dois: o pólo norte e o pólo sul. 
- Perfeitamente! confirmou o professor batendo com o pé no estrado e 
esfregando as mãos satisfeito. Dois, minhas senhoras, disse mostrando os 
dois dedos abertos em ângulo; dois! O pólo norte, que é o extremo norte da 
linha imaginária que passa pelo centro da Terra, e o pólo sul, isto é, a outra 
extremidade diametralmente oposta; eis aqui está! Está ouvindo, D. Sofia? 
Está ouvindo D. Maria do Carmo? São os dois pólos da Terra! 
- Estou satisfeito, disse o presidente, erguendo-se. (CAMINHA, 1936, p. 80-
82). 
 
A emulação e seu contrário dividiam o caminho pedagógico, colocando o 
aluno entre o galardão (estrelas, menções honrosas, medalhas de prata e de ouro) e 
a desonra (desfiles ou uso de “orelhas de burro”, bolos de palmatória, ajoelhamento 
sobre grãos e outros castigos corporais e constrangimentos morais). 
O domínio da onomástica e da estatística norteava o sucesso da 
aprendizagem geográfica: 
 
Entrei pela geografia como em casa minha. As anfractuosidades marginais 
dos continentes desfaziam-se nas cartas, por maior brevidade do meu 
trabalho; os rios dispensavam detalhes complicados dos meandros e 
afluíam-me para a memória, abandonando o pendor natural das vertentes; 
as cordilheiras, imensa tropa de amestrados elefantes, arranjavam-se em 
sistemas de orografia facílima; reduzia-se o número das cidades principais 
do mundo, sumindo-se no chão, para que eu não tivesse de decorar tanto 
nome; arredondava-se a cota das populações, perdendo as frações 
importunas, com prejuízo dos recenseamentos e maior gravame dos úteros 
nacionais; uma mnemônica feliz ensinava-me a enumeração dos estados e 
das províncias. Graças à destreza do Sanches, não havia incidente 
estudado da superfície terrestre que se me não colasse ao cérebro como se 
 fosse minha cabeça, por dentro, o que é por fora a esfera do mundo. 
(POMPÉIA, 1971, p. 27). 
 
A formação de professores era outra questão ainda insolúvel. Em pleno 
século XX essa situação passaria por transformações, embora sem universalização: 
a própria criação das escolas normais sinalizava as tentativas nesse sentido.  Uma 
crônica de Graciliano Ramos (2007, p. 148-149), todavia, indica alguma reflexão do 
perfil médio do professor no interior do país: 
 
Realmente esse professor, que, para livrar-se de um obstáculo, mistura 
alhos com bugalhos, mete os pés pelas mãos, deixa os rapazes em jejum, 
não é daqui nem dali: é de quase todas as cidades do interior. Músico de 
sete instrumentos, criatura fatigada, depois de exercer dez ofícios sem se 
fixar em nenhum, esbarra com um dilema temeroso – queimar os miolos ou 
abrir uma escola. [...] Creio que os professores sertanejos são, com 
diferenças pouco sensíveis, indivíduos como eu. Ensinam antes de 
aprenderem. Talvez fosse mais razoável aprender para ensinar. Mas 
poderei eu sensurá-los? Não, decerto. Todos precisamos viver. E 
desejamos, naturalmente, aparentar quem nao somos. 
 
O domínio de conteúdos geográficos, considerando-se a vida cultural 
brasileira, acondicionava-se ao verniz cultural necessário à educação e à ilustração 
dos indivíduos (ROCHA, 1996), inclusive das mulheres: 
 
Digam-me se, em tais condições, a vida de Caetaninha podia ser alegre. 
Não lhe faltava nada, é verdade, porque o padrinho era rico. Foi ele mesmo 
que a educou, desde os sete anos, quando perdeu a mulher; ensinou-lhe a 
ler e escrever, francês, um pouco de história e geografia, para não dizer 
quase nada, e incumbiu uma das mucamas de lhe ensinar crivo, renda e 
costura. Tudo isso é verdade. (ASSIS, 1997b, p. 457-458). 
 
No entanto, a educação geográfica igualmente entalhou, com a História, 
nesse contexto, o discurso patriótico (VLACH, 1988), não poucas vezes inflamado, 
como na sátira feita por Lima Barreto: 
 
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas 
riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na 
sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais 
que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por 
Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o 
curso de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a proeminência do 
Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime 
de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do "seu" rio que 
ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e 
 delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando se discutia a extensão 
do Amazonas em face da do Nilo. (BARRETO, 1981, p. 27). 
 
Estes recortes são representativos, mas distantes de caracterizar o 
significado e a presença cultural da Geografia na vida brasileira, um flanco de 
pesquisa que ainda requer muita dedicação. No entanto, aborda suficientemente a 
questão para deixar entrever algo do que representou, e como agiu, a Geografia e 
seu ensino nas décadas iniciais de sua trajetória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 
Esta pesquisa partiu do pressuposto de que na bibliografia didática de 
Geografia contemporânea é claramente perceptível a correlação da produção dos 
livros com o discurso institucionalizado da Geografia, processo que se estreita desde 
a institucionalização desta ciência no Brasil, na década de 1930, que afere a 
importância do saber produzido na academia e da formação de professores nessa 
instância. Pressuposto isso, coloquei-me algumas indagações: anteriormente à 
institucionalização dessa ciência, como se dava a inscrição discursiva dos manuais 
de Geografia? Quais as condições históricas e que movimentos de fato definiram a 
formação do ensino de Geografia? Como se deu a relação entre a produção de 
manuais e a disciplina de Geografia? Como se caracterizam aqueles manuais de 
Geografia? 
São questões relevantes, a meu ver, pois considero a tese de que os livros 
didáticos de Geografia são um dos lugares manifestos do discurso histórico-
ideológico do pensamento geográfico no Brasil, instituinte, também, da história desta 
ciência. 
Por conseguinte, o objetivo desta tese foi compreender a bibliografia didática 
do ensino de Geografia, bem como a história e o pensamento deste ensino, entre 
1814 e a década de 1930, por meio da descrição de sua trajetória constitutiva e da 
análise dos discursos dos seus sujeitos. Para isso, parti do pressuposto de que 
pesquisar uma bibliografia didática é conhecer, também, a disciplina que a constitui 
e sua história, percorrendo o pensamento e os saberes escolares que a sustenta. 
Para empreender o cumprimento desse objetivo, busquei na Análise do 
Discurso, na História das Disciplinas Escolares e na História do Currículo subsídios 
teórico-metodológicos que me possibilitassem apreender a bibliografia didática de 
Geografia como objeto de pesquisa. 
A Análise do Discurso, por inovar a questão da interpretação, demonstra ser 
uma contribuição importante para conhecer a educação geográfica quanto à 
 consideração de relações que atravessam a linguagem, a História, a ideologia, as 
condições de produção, a constituição dos sujeitos e dos sentidos. Permite que se 
busque o discurso didático em sua inscrição na conjuntura pedagógica, política e 
legislativa que aferem as condições para a produção e a circulação deste discurso 
na macroinstância histórica, ao passo que permite uma outra trajetória, em uma 
microinstância, referente aos sentidos, aos enunciados, aos sujeitos, possibilitando a 
identificação de regularidades constituídas na dispersão do dizer. 
Para a História das Disciplinas Escolares, a disciplina, enquanto organização 
institucional dos saberes escolares, atua em atendimento às finalidades pretendidas 
para a educação, conformando, para isso, os sujeitos desse processo, dentre os 
quais destaquei o papel do sujeito-autor. Estes, relacionando-se essa área com a 
Análise do Discurso, no contexto das condições histórico-discursivas de seus 
tempos, operam como professores interpretando e desenvolvendo o currículo 
disciplinar para um outro sujeito, o aluno, então abstrato, sem rosto, sem nome, sem 
regionalidade, alojado e isolado em uma faixa etária. De forma que o sujeito autor 
procura estabelecer um texto embasado em certa autoridade do dizer, enunciando 
uma superfície discursiva lisa (marcada pelo apagamento do Outro, como próprio à 
heterogeneidade constitutiva), dizendo certezas inquestionáveis, que ocultam as 
dúvidas, os conflitos, as contradições. Os conceitos e processos científicos, dentre 
outros – tais como os documentos da administração pública – são, a esse propósito, 
traduzidos (adaptados, resumidos, compendiados), formando, com isso, o discurso 
didático. Trabalhando, pois, com os resultados mais conclusivos e assimiláveis para 
o alunado, o discurso didático atravessa os tempos constituindo-se de forma aditiva, 
subtrativa, ampliando, reduzindo, excluindo, silenciando dizeres concernentes ao 
objeto e aos objetivos da disciplina. 
Nesse contexto, o saber escolar perpassa por três instâncias: o saber a ser 
ensinado, o saber ensinado e o saber apreendido. O que o professor ensinou e o 
que o aluno aprendeu desviam-se do alcance histórico circunscrito pelo objeto dessa 
tese. Por conseguinte, centrei a pesquisa no saber a ser ensinado, aquele que está 
documentado na legislação, nos currículos prescritos, o que nos leva diretamente ao 
livro didático como testemunho histórico das formas de organizar e desenvolver uma 
disciplina escolar, bem como inscrever os seus discursos. 
 A bibliografia, compreendida como a sistematização do acervo de fontes 
identificadas, acessadas ou adquiridas, reuniu dados referentes a 276 títulos, de 510 
edições, que potencialmente alcançaram 950 edições. Desse total, 174 obras 
tiveram edição única e 102 foram reeditadas uma ou mais vezes. Esse acervo foi 
escrito por 183 autores que, por formação ou prática profissional, foram literatos, 
advogados, políticos, jornalistas, religiosos, engenheiros e professores de diversas 
formações, dentre outros. Publicadas em 25 localidades, em sua maioria os 
exemplares circularam localmente ou regionalmente, o que talvez tenha sido 
responsável pela frequente queixa de ausência de livros para esse ensino, 
sobretudo atualizados. Esse conjunto bibliográfico instituiu o corpus da pesquisa, 
constituído por livros compendiados, traduzidos, adaptados, produzidos ou 
importados para o ensino de Geografia brasileiro no período delimitado. 
Na literatura sobre a história do ensino de Geografia brasileiro, há poucas 
referências ao período anterior à institucionalização da ciência geográfica no que diz 
respeito aos livros didáticos desse ensino. Prevalece, sobretudo, o argumento de 
que existiram poucos e raros livros de Geografia, com predomínio de textos 
importados, apresentando discursos apolíticos, não científicos, o que considerei 
reduções que se engendram no desconhecimento histórico do livro didático dessa 
disciplina. 
A descrição e a análise, em especial a discursiva, permitiram-me perceber, 
para além da história factual, o processo histórico da constituição da Geografia 
escolar pelo testemunho dos seus manuais didáticos. 
Ao longo da história do Brasil, passaram-se cerca de trezentos anos sem 
que a Geografia se fizesse notar como um objetivo educacional. Durante a vigência 
da atuação dos padres da Companhia de Jesus no ensino, os saberes geográficos 
atuaram em um papel secundário, como referência e como saber auxiliar ao estudo 
da retórica e ao aprendizado da leitura – ao que denominei ensino implícito. A 
existência de manuais didáticos está intrinsecamente relacionada à existência de 
disciplinas autônomas e à presença de um currículo formulado e ativo. Não estando 
a Geografia articulada nesses termos, nos períodos jesuítico e pombalino, os livros 
didáticos de Geografia inexistiram. No acervo dos jesuítas constavam apenas obras 
geográficas da Antiguidade e da Idade Média, a exemplo d’O Tractatus de Sphaera, 
 de Sacrobosco, posto que o conhecimento mais próximo do saber geográfico 
ensinado nos cursos jesuíticos foi a Cosmografia, recomendada no Ratio Studiorum. 
Esse cenário apresentou mudanças significativas após a expulsão dos 
jesuítas e o ostracismo do período pombalino. De fato, as décadas iniciais do século 
XIX foram o tempo do surgimento da Geografia como disciplina autônoma, no Rio de 
Janeiro, cidade que teve a primazia das atividades culturais e editoriais da educação 
brasileira daquele século, e foi nesse cenário que surgiram as primeiras gerações de 
uma bibliografia para o ensino de Geografia. A Corte joanina foi o ponto de partida, 
posto que as primeiras manifestações da Geografia como disciplina independente 
surgiram no ensino superior, na organização curricular de alguns dos primeiros 
cursos científicos introduzidos no território brasileiro, no contexto da formação da 
Academia Real Militar (1810), tese essa defendida nessa pesquisa. Nesses termos, 
o contexto de emergência da educação geográfica foi a introdução de uma 
educação científica na Colônia, em nível superior. Provavelmente por essa inserção, 
a Geografia passa a ser estudada em aulas avulsas, como preparatório para o 
ingresso no ensino superior. 
As obras que fundamentam essa iniciativa foram as do Abbé Nicolle de La 
Croix e do geógrafo escocês John Pinkerton, influentes no ensino de Geografia 
francês, que por sua vez foi modelo do ensino de Geografia brasileiro nesse e em 
outros períodos, e que são a mais antiga referência geográfica recomendada pelo 
Estado para o ensino de Geografia. Tratava-se de uma Geografia articulada na 
descrição dos espaços da Terra, tendo por princípio sua divisão política, 
apresentando a onomástica, a estatística, a hierarquia e a História como meios de 
fazer conhecidas as nações constituídas do mundo, com atenção particular às 
corografias nacionais, embora a brasileira, de início, não tenha tido representação, o 
que só ocorreria mais tarde, após o processo de independência política. Este será o 
contexto do surgimento, alguns anos depois, da Corografia Brasílica, de Ayres de 
Casal. A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as 
elites, dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundário e/ou 
autores dos manuais de Geografia. 
Compreender essa Geografia permitiu conhecer o surgimento do ensino de 
Geografia brasileiro, em um momento no qual faltavam instituições, mão de obra 
especializada, materiais de estudo, organização sistêmica tanto institucional quanto 
 curricular. Este foi o cenário em que, pela primeira vez, a Geografia foi convocada 
como disciplina independente para o processo de instrução no Brasil. 
A bibliografia didática começou a se formar e a ganhar força no contexto em 
que se desenvolveu um mercado editorial brasileiro, a par de um certo 
desenvolvimento da educação, que será, por todo o período em análise, aquém das 
demandas reais, revelando-se um serviço precário e elitizado, com índices muito 
altos de analfabetismo e índices muito baixos de indivíduos com qualificação técnica, 
mas que permitirá a ascensão e a consolidação da Geografia como saber escolar, 
com uma bibliografia constituída. 
    O Estado brasileiro, do século XIX em diante, foi o grande agente 
articulador da educação, por força legisladora. A fundação do Colégio Pedro II 
consolidou um processo anunciado desde a década de 1810, a partir de quando o 
ensino de Geografia, em nível elementar, sobreviveu inicialmente nas aulas avulsas 
de Geografia, o que marcou o surgimento de livros didáticos no início da década de 
1820. No início dos anos 1830, dos cursos avulsos migrou para diversas instituições 
públicas provinciais, e em 1837 integrou o quadro curricular do Colégio Pedro II, 
estabelecendo-se definitivamente no ensino secundário. O Colégio Pedro II (e os 
cursos jurídicos) influenciou diretamente na consolidação da Geografia como 
disciplina, de forma que o ensino de Geografia, introduzido como disciplina no 
ensino superior, ganhou forças no ensino secundário e, posteriormente ampliou-se 
para o ensino primário – onde participou de um processo significativo de 
nacionalização, sobretudo mais tarde, ao findar da Primeira República. No âmbito do 
Colégio Pedro II, os cursos independentes transformaram-se em programas seriados 
e anuais. A partir daí, o ensino de Geografia atuou no contexto do fortalecimento da 
Monarquia, sendo chamada para contribuir com a civilização da nação a partir do 
modelo europeu, liderado pela elite política, participando da construção da 
nacionalidade brasileira. A ação do Estado, nesse momento, no campo educacional, 
queria ombrear o país com as nações civilizadas, agindo, portanto, nos cursos 
superiores, e notadamente no que interferisse no âmbito deles, como é o caso dos 
preparatórios e do ensino secundário, como parte desta manobra. 
Assim, o ensino de Geografia, com intensidade variante, assumiu um duplo 
papel: o da nacionalização e o da cultura geral, além de formar cientificamente 
 profissionais liberais e técnicos. Perpassou, portanto, por um papel cultural, um 
papel nacional e um papel científico. 
Até o fim do Império, houve 10 atos legais de regulação da estrutura 
pedagógica, da grade curricular e dos saberes a serem ministrados no Colégio 
Pedro II, determinando a organização do ensino secundário e delimitando os 
espaços que a Geografia assumiu na grade das disciplinas escolares. A trajetória 
dessa legislação demonstra o estabelecimento da Geografia como disciplina, com 
maior ou menor carga horária, em todas ou em apenas algumas séries. Não teve um 
nome comum; não era apenas, ainda, “Geografia”: seus saberes responderam por 
Cosmografia, por Corografia, foi qualificada e dividida em Antiga, Matemática, Geral, 
Descritiva. Sua sucessão de nomes demonstra pensamentos diferentes e em 
construção sobre esse saber didático, pensamentos que dizem respeito, com 
frequência, à divisão do globo para estudo, ou à complexidade da organização do 
ensino. A Geografia surge e desenvolve-se irmanada com a História: ou o ensino de 
Geografia precedia o de História ou ocorriam simultaneamente. Não havia 
separação clara nos programas e nas regências. Mesmo a literatura didática e de 
referência, até a década de 1850, evidencia essa conjunção, materializando ambas 
sem limites claros, de maneira dependente. 
Os discursos didáticos de Geografia, desde seu surgimento, inscreveram-se, 
direta ou indiretamente, na Geografia moderna em sua vertente clássica, emergente 
no século XVIII. Por todo o período do Império, a produção dos manuais de 
Geografia se deu por esse “paradigma”, assimilando a estrutura da Geografia Física, 
da Geografia Política e da Cosmografia como vertentes da sua organização. 
Nacionalmente, por quase um século, a obra de Ayres de Casal referenciou a 
concepção geográfica escolar, sendo, portanto, o expoente e a perspectiva 
dominante no século XIX quanto aos estudos corográficos: foi amplamente utilizada 
sua estrutura de regionalização do território por províncias, as principais descrições 
políticas e físicas, com as alterações pertinentes. 
Essa Geografia, denominada descritiva, organizada na nomenclatura, na 
estatística, na enumeração dos fatos geográficos, na descrição formal e informativa 
do espaço, construiu uma tradição longeva na bibliografia didática, permanecendo 
por mais de cem anos no bojo do ensino brasileiro dessa disciplina, esforçando-se 
para construir um traço cartográfico do mundo como seu modo de ser: comporta-se 
 tanto na expressão dos manuais quanto nas recomendações metodológicas do 
ensino, como tentativa de elaborar uma espécie de mapa mental, a ser construído 
de fatos, dados e descrições de superfície, por sua vez a serem somados pelo 
estudante por meio da memorização – delinear os contornos físicos, para neles 
pontilhar, ou dar a saber, os principais acidentes espaciais; o mesmo trabalho e 
expressão condizente também às obras humanas; passando essas abordagens pelo 
nível global, pelo continentes, adentrando os principais países, o território nacional, 
as províncias – única regionalização praticada em todo os oitocentos e nas primeiras 
décadas do século XX. A seleção espacial, nas obras, claramente demonstra 
inscrições discursivo-ideológicas, dimensionando valores a mais ou a menos a 
certos países, por influência cultural ou econômica, evidenciando os interesses 
gerais da nação brasileira. E havia a Cosmografia, para descrever os astros, os 
planetas e cometas, apresentar o sistema solar, os movimentos do planeta Terra e o 
estabelecimento das estações, as dimensões, as longitudes e latitudes, as zonas 
climáticas e outras configurações semelhantes. 
Este foi o conjunto de conteúdos e sua expressão presente nos manuais de 
Geografia, em todo o período imperial, com pouca variação. O ensino de Geografia, 
e dos seus manuais, organizou-se pela palavra, em razão dos meios disponíveis, 
das técnicas então alcançáveis. E tendo a descrição por base, limitou-se a ela, 
mesmo quando alternativas já fizessem contexto para alterar o mundo estático, tão 
pleno de informações excessivas. 
Porém, em fins do século XIX, a Geografia escolar descritiva começou a 
apresentar sinais de esgotamento de seu modelo. É o tempo em que começavam a 
surgir novas ideias pedagógicas, fazendo-se notadas nas relações educacionais. 
Para a Geografia, começou-se a introduzir a Cartografia como auxiliar do ensino, o 
que se fez a partir dos chamados processos intuitivos. Nem sempre o mapa, apesar 
de reconhecida importância, esteve presente nos manuais e no seu ensino.  
Outra tentativa importante de transformação do quadro de ensino foi o de se 
fazer certo movimento, certa dinâmica na Geografia estática que caracterizara o 
ensino até esse momento, o que se pretendia não pela alteração do discurso, mas 
da prática desse discurso, ou seja, na metodologia de ensino. Para tanto, reforça-se 
o emprego de exame de mapas, desenhos, simulação de viagens, o uso de esfera e 
a formulação de problemas geográficos: tenta-se, então, um meio de se tirar da 
 inanição as informações por vezes caudalosas, por vezes sem sentido, que habitam 
as superfícies discursivas do livro didático de Geografia. 
Com o advento da República, sob a liderança de militares de formação 
positivista, apresentou-se uma nova plataforma política para o país. A ação do 
Estado, que até o Império centrara-se no ensino superior e no Colégio Pedro II, 
passou a ser mais abrangente nesse período histórico; pelo menos em nível 
legislativo, foi mais abrangente, apresentando o conjunto de seis reformas 
educacionais até a década de 1930. A primeira delas, a Reforma de Benjamin 
Constant contemplou todos os níveis da educação. De inspiração positivista e liberal, 
pretendeu contextualizar a educação na ciência, opondo-se à tradição clássica, 
colocando em ordem uma influência positivista e liberal, embora tenha sido criticada 
por não compreender adequadamente o Positivismo como orientação e, por isso, 
apenas sobrepor disciplinas científicas ao quadro constituído pelos estudos 
clássicos. 
Sob influência da “lição de coisas”, se pretendeu uma educação intuída na 
realidade, cerceada pelos sentidos, reagente ao aprendizado retórico predominante 
em todo o século XIX. O aprendizado pela “curiosidade”, pela motivação, sobreporia-
se ao aprendizado pela repetição. Foi nessa atmosfera que o ensino de Geografia, e 
seus livros didáticos, passariam por transformações. 
A Geografia escolar, nesse contexto, ocupa uma posição destacada, por 
reconhecimento dos seus méritos no estabelecimento e desenvolvimento da nação, 
e por contribuir para apagar as marcas do Império na reconstrução da nova 
configuração político-administrativa, bem como no redimensionamento do país no 
contexto mundial, dadas as novas relações capitalistas que começavam a esse 
tempo. 
Contudo, os conteúdos prescritos continuaram os mesmos dos programas 
anteriores, de igual modo fragmentado em áreas, observando uma permanência da 
Geografia descritiva escolar, à exceção do acréscimo de temas novos (a exemplo 
das migrações). Apesar disso, é nessas circunstâncias que talvez se identifique a 
terceira tentativa de inovar o ensino de Geografia e a produção dos manuais 
didáticos, a saber: a valorização da Geografia local como método para organizar o 
ensino geográfico, o que provavelmente se deve à maior atenção dada ao ensino 
primário, mas igualmente extensivo ao ensino secundário. São discutidos, nesse 
 momento, os métodos rígidos e improdutivos da Geografia descritiva, falha como 
cultura, por ser apenas informativa, limitada quanto a uma formação nacional, pois 
muito isenta. 
O Estado passa a ter um maior controle sobre os conteúdos a serem 
ensinados, o que se observa na extensão e detalhamento dos currículos de 
Geografia prescritos nas décadas iniciais da República. 
Os anos 1920 foram um divisor de águas para o ensino de Geografia e para 
a bibliografia didática de Geografia. 
O sopro da “orientação moderna” da Geografia, introduzida sobretudo por 
Delgado de Carvalho, somada ao sentimento de cansaço aferido pela Geografia 
descritiva, a reorientação dos objetivos do ensino (ensino elementar como formação, 
habilitação para o exercício de profissões técnicas e outros), comporá um novo 
quadro didático para a Geografia. Possivelmente tenha-se percebido que apenas 
mudar a metodologia do ensino sem mudar seu discurso não seria suficiente para 
dinamizar o aprendizado geográfico. 
Os currículos e os livros começam a pautar a Geografia Humana, em 
substituição à Geografia Política (na acepção descritiva que a filiou à Geografia 
Moderna clássica). A explicação de processos passa a combalir a descrição como 
efeito único do discurso: explicar a formação das cidades, demonstrar o 
funcionamento das bacias hídricas em vez de somente expor a onomástica desses e 
de outros objetos geográficos. A antiga divisão político-administrativa das províncias 
(durante o Império) e dos Estados (na vigência da República) começa a ceder para o 
estudo do Brasil por regiões.  
Tudo isso não significou o fim da Geografia descritiva, mas abalou seus 
alicerces. Obras dos anos 1880, 1890, continuaram editadas até a década de 1930, 
e também surgiram no período novos títulos com a mesma proposta e abordagem 
geográfica que instituía a tradição da bibliografia até então. A diferença é que esses 
títulos declinaram, os antigos sobre o próprio esgotamento discursivo, e os novos na 
linha descritiva não encontraram funcionalidade no mercado: saíram de cena 
Joaquim Maria de Lacerda, Alfredo Moreira Pinto, Henrique Martins, F.I.C., Estácio 
de Menezes e outros. Isso propiciou a ascensão de novos autores, a exemplo do 
próprio Delgado de Carvalho (adotado no Colégio Pedro II), e de autores como 
 Aroldo de Azevedo e Mario da Veiga Cabral, dentre outros, inovadores da linguagem 
e dos conteúdos e métodos do ensino geográfico. 
Essas transformações foram iniciadas com Manuel Said Ali (1905), que 
identificou uma falha importante na bibliografia e no ensino de Geografia: a 
fragmentação do saber referente ao território nacional, que por sua vez – dada a 
quantidade de estados/províncias – levava ao estudo da Geografia nacional a ser 
exaustivo. Para isolar as relações de ensino e aprendizagem dessa prática, trouxe 
para o âmbito do discurso didático dessa disciplina o conceito de região, em sua 
perspectiva científica, contrapondo a delimitação de fronteiras políticas com a 
adoção de critérios, naturais sobretudo, para agrupar a compreensão espacial. 
Em seguida, vieram as contribuições de Carlos Miguel Delgado de Carvalho 
(1913), que endossou e desenvolveu a divisão regional em oposição à divisão 
administrativa, observando para além das “regiões naturais” as “condições 
econômicas” inerentes ao espaço. Amplamente fundamentado nos autores que 
desenvolviam a Geografia Moderna científica na Europa, consegue introduzir, por 
meio do ensino, e para o ensino, uma transformação teórico-metodológica tanto no 
sentido epistemológico da ciência geográfica brasileira quanto na pedagogia do seu 
ensino, movendo essa disciplina de uma fragmentação completa para uma 
compartimentação relativa: a Geografia descritiva, com uma abordagem física, uma 
abordagem política e uma abordagem cosmográfica, paulatinamente se reorganizou, 
a partir de sua contribuição, em uma Geografia Física e em uma Geografia Humana, 
instituindo o paradigma da terra, do homem e da economia, que prevalecerá até, 
pelo menos, os anos 1980. Sua superfície discursiva procurou verticalizar a 
distribuição espacial dos fatos e fenômenos geográficos na tentativa de explicá-los, 
não apenas citá-los.  
O pensamento geográfico brasileiro, pelo menos no tocante ao ensino, 
atingia um novo patamar e o livro didático de Geografia, como havia sido ao longo 
do século XIX, foi o lugar privilegiado para a materialização desse discurso. 
Outros autores merecem destaque na continuidade dessas transformações, 
como Antonio Firmino Proença, que, em obra de 1928, fez importantes colocações 
sobre a metodologia do ensino dessa disciplina, revisando sua história e refletindo 
sobre o papel do livro didático nesse contexto. Suas considerações contornam o 
ensino da Geografia como componente da ciência geográfica, indicando como, 
 desta, o que fosse colocado para a criança deve ser de compreensão imediata, não 
posterior, pois conhecimento não funciona de modo provisório: antes de abstrair, o 
ensino dever apresentar o concreto. O que seria feito a partir do estudo local, da 
realidade que circunscreve o aluno, partindo da localidade para a compreensão, 
então, do mundo. Conclama os livros a basearem-se nas correlações entre os 
assuntos, a fazerem emergir o homem como agente do espaço, e não contrário. A 
obra de Proença evidencia as contribuições da “orientação moderna” da Geografia 
fazendo encontro e continuidade no discurso do ensino dessa disciplina, agora no 
âmbito da formação de professores; em certa medida, a nova geração de autores 
pareceu endossar essa direção. 
Outro autor que destaquei é Fernando Antônio Raja Gabaglia, que em obra 
de 1930 propôs o ensino, sobretudo da Geografia Física, em termos de práticas, por 
demonstrações concretas e experiências.  
Toda essa perspectiva histórica frutifica do discurso dos sujeitos envolvidos 
na produção do ensino de Geografia e da sua bibliografia didática, registrada e 
testemunhada nas páginas desta. 
A homogeneidade discursiva, referente à, e na bibliografia didática, 
demonstrou ser apenas aparente, pois seu discurso acomoda diversos gestos de 
reorganização, de acomodação e de adaptação, jogando contra forças, procurando 
alocação no conjunto das práticas didáticas. Seus fundamentos são científicos, mas 
de fases diferentes da ciência geográfica, o que precisa realocar as referências para 
a leitura desses textos, do contrário sua apreensão será descontextualizada. 
Considerando a totalidade da bibliografia suscitada, fiz uma análise das 
matrizes discursivas entrelaçadas na nomeação dos compêndios, na qual foi 
possível apreender efeitos relacionados aos sujeitos, à ideologia, aos 
relacionamentos políticos, aos fundamentos teórico-metodológicos que inscrevem as 
obras em suas formações discursivas. De início, próprio ao estilo da época, os títulos 
são quase épicos, extensos, lutando pela inserção, justificativa e explicação da obra. 
Na ordem dos sujeitos, selecionam seus públicos alvos, especificando a quem se 
destinam: estudantes, pais, professores, instituições, províncias. São oferecidas a 
autoridades, para lograr benesses políticas e intelectuais. Em meados do século XX, 
esse tipo de enunciação (selecionando os sujeitos alvos) desaparece, indicando, 
provavelmente, uma afirmação definitiva do gênero nas estantes gerais da cultura e 
 da educação. Na ordem dos sentidos, os títulos apresentam, em quase todo o 
período, marcas lexicais bem claras quanto a um discurso didático, com lexemas e 
sequências discursivas que remetem o sentido para um dispositivo de escolha e de 
adequação do saber para as relações de ensino e aprendizagem, migrando-o de 
uma instância enunciativa para outra, com um processo de ressignificação de 
sentidos nesse processo: ações como introduzir, adaptar, resumir, abreviar, 
coordenar, acrescentar, compendiar... Os títulos apresentam, ainda, as filiações 
teórico-metodológicas, a constituição dos núcleos de saberes – referências à 
Geografia Moderna clássica, em geral. As corografias, por si mesmas, são discursos 
sobre a nacionalidade. O corpo dos enunciados raramente expressa manifestações 
explícitas de patriotismo, ao longo do século XIX, de forma que esse discurso se 
afirma mais como posição do que enunciação. Em geral, os títulos concretizam o 
estabelecimento do discurso didático da Geografia, indicando a especialidade, a 
utilidade e o destino do corpo discursivo. 
Sobre a formação do discurso didático de Geografia e o estabelecimento da 
Geografia descritiva, fiz uma análise da obra de Bazilio Quaresma Torreão (1984) 
que, sendo dos primeiros a estabelecer um texto didático de Geografia, o faz na 
estrutura discursiva que permanecerá praticamente inalterada nos próximos cem 
anos. De fontes não identificadas, ou mencionadas indiretamente, o sujeito autor, 
qual seja ele, começa, nas primeiras décadas do século XIX (mas de um processo 
que é bem anterior) a elaborar materiais diferenciados especificamente para o 
ensino e o aprendizado, compilando, para isso, discursos esparsos, e expondo-os 
de forma compreensível ao público alvo. Um discurso destinado a relacionar saberes 
para a cultura geral, mas também para sintonizar os interesses do Estado e da 
Igreja, bem como da economia. Torreão, no princípio dessa tradição, no tocante à 
Geografia e ao contexto brasileiro, enquadra os saberes que registra como ciência, 
na acepção do método, no sentido da certeza, no sentido da sistematização, no 
sentido da movência do saber sob a regência de princípios universais – o que é, em 
síntese, a percepção iluminista do saber científico.  A partir disso, propõe uma 
abordagem da natureza, da política (ou feitos humanos), e da cosmografia. O que 
ficou proposto em Torreão funcionou como estrutura geral do gênero para a 
bibliografia enquanto viçou a Geografia descritiva, enunciada sob auspícios da 
 heterogeneidade constitutiva, com o traço de uma superfície discursiva lisa, 
promovendo o efeito autoria repassado pela autoridade dos sujeitos autores. 
Os prefácios, prólogos, notas de advertência, apresentações e falas da 
imprensa, abordagens às quais chamei de “discursos do entorno”, foram outro ponto 
de apoio para a análise da tese, posto que nessas margens discursivas identifica-se 
um conjunto de sujeitos enunciando para circunstanciar, promover, legitimar e 
esclarecer o discurso didático de Geografia, tais como os próprios autores. Questões 
como autoria, autoridade, legitimação da disciplina, a relação dos textos com os 
currículos propostos, a questão das fontes e das traduções, posicionamentos frentes 
à tradição, à metodologia de ensino e à formação dos professores, a questão da 
nacionalidade, e outras são regularidades na dispersão do discurso didático de 
Geografia. 
Estes discursos são utilizados para construir uma imagem do sujeito autor, 
pela enunciação de suas experiências, atuação profissional, elaborando uma 
imagem e, por conseguinte, um espelho da autoria e da autoridade de quem enuncia 
o dizer didático. Há elogios e incentivos sobre qualidades que, na posteridade, ou 
em gerações seguintes, revertem em desqualificação e críticas – o que é próprio ao 
calibrar de perspectivas do discurso em face das formações discursivas que o 
sustenta. A imprensa, parece, exerceu um papel influente na bibliografia, atribuindo 
valores, apresentando reclames contra excessos, faltas e falhas das obras. Em 
termos gerais, o sujeito autor e a obra didática dependiam, de igual modo, da 
construção de uma imagem que os qualificasse e os percebesse como sujeitos 
autorizados desses discursos. 
Os discursos do entorno também mencionam a identidade e a legitimidade 
escolar dos conhecimentos geográficos como uma das regularidades discursivas 
que atravessam a bibliografia. Tramam a utilidade individual e coletiva na formação 
do educando, sua existência no contexto de outras nações, as potencialidades de 
seus temas, o desenvolvimento intelectual do aluno, suas relações com a História, o 
conjunto de conhecimentos de interesse e curiosidade para a criança...  
Os discursos dimensionam o alcance de público das obras: escritas para o 
ensino e para a aprendizagem, igualmente são uma referência cultural, fora do 
ambiente escolar, seja para jornalistas, críticos, intelectuais, o que faz com que o 
uso da bibliografia supere os limites das classes escolares. 
 Em relação aos currículos e programas, o discurso didático é sempre 
apresentado em uma relação estreita. Expor a adesão à proposição curricular era 
quase uma obrigação, evidenciada sempre que possível, e em lugares de destaque, 
como capas e folhas de rosto, além de explicitada nos discursos do entorno. Essa 
demonstra ser uma relação conflituosa, pois frequentemente a obra tinha que 
atender modalidades, anos e séries distintos. 
Apesar de não indicadas, a questão das fontes são uma regularidade 
discursiva recorrente. Geralmente, indicam-se tipologias de fontes, valorizadas como 
as melhores, as oficiais, as autorizadas, mas sem expô-las. Nesse tema, atrela-se a 
questão da atualidade do manual didático de Geografia, que se alinha de perto à 
disponibilidade das fontes, que incomodam os sujeitos autores pela insegurança em 
relação à correção e confiabilidade dos dados e fatos nelas pesquisados: 
incoerências e incompletudes da estatística oficial, a mobilidade e falta de definição 
das fronteiras, e outras. 
Nesses discursos emergem, ainda, posicionamentos em relação à tradição 
da bibliografia didática. Desabafo, ataque e denúncia são construções de sentidos 
que permeiam os discursos do entorno em posição/oposição à tradição da 
bibliografia didática, com os mais diversos efeitos: para que os sujeitos autoafirmem-
se como autores (colocando seus discursos como melhores), para deslumbrar um 
lugar para seu discurso didático na bibliografia, ou realmente tentar alterar a ordem 
dos sentidos, redirecionando o discurso desejos de mudança. Os discursos chegam 
a ser planfetários algumas vezes. De qualquer forma, na dispersão deles encontra-
se essa unidade: destruir pilastras e monumentos da tradição para então impor-se 
como enunciação válida. 
Situação geral, merecedora de reclame dos autores e dos sujeitos à frente 
da reflexão sobre o ensino de Geografia no período analisado, há a falta de 
profissionalismo predominante entre os professores dessa disciplina, o que 
impactava diretamente, na visão desses sujeitos, sobre a forma e os métodos do 
ensino geográfico, de modo que os discursos do entorno serviam para instruir 
metodologicamente os professores quanto ao uso do livro e quanto a como ensinar. 
Dado aos livros não terem sempre uso estritamente escolar, cabia a alguns sujeitos-
autores fazerem orientações pertinentes aos conteúdos das obras. 
 O discurso nacionalista, em sua perspectiva telúrica, possui um conjunto de 
marcadores discursivos: em sentido amplo, é um discurso de demarcação de uma 
propriedade coletiva – a propriedade da pátria; é um discurso comparativo, em que o 
nosso e o deles, em diversos manejos, colocam os objetos nacionais em destaque 
pelo que são ímpares, ou que se pretende que sejam; é um discurso pontuado por 
lexemas adjetivados, pois é necessário estabelecer as características, sempre 
positivas e exaltadas, da propriedade nacional. Conforme aferi anteriormente, a 
nacionalidade – matriz ideológica importante no ensino da Geografia – será mais 
uma posição, uma perspectiva construída para o espaço nacional, destacando-o 
com independência e relevância em relação às demais nações (ou em volume 
exclusivo) que propriamente uma abordagem dogmática entrelaçada no fio 
discursivo da bibliografia didática. Essa discursividade pontua-se com frequência no 
dizer do entorno. O nacionalismo é uma rachadura entre a proposição do estudo da 
Geografia como cultura geral e sua proposição como panorama e base dos 
interesses nacionais. A partir daí se cliva em diversas direções e intensidades, 
inflamando-se de acordo com a imersão política e partidária que caracteriza o 
movimento histórico do país. 
Evidentemente, todas as transformações apresentadas foram próprias à 
época, apresentando elas mesmos limitações que o avanço da ciência geográfica e 
da pesquisa sobre o ensino de Geografia demonstraria na posteridade: mas 
frutificaram e serviram ao tempo que as constituíram historicamente. 
A bibliografia permitiu acompanhar a formação e o desenvolvimento da 
Geografia como disciplina escolar. Demonstrou como o seu conteúdo transgrediu 
sua função auxiliar, no ensino implícito desse saber, característico aos períodos 
jesuíticos e pombalino, até canalizar uma constituição única, dando voz a uma 
disciplina formada, com lugar e responsabilidades na instituição escolar, entre o 
reinado e a primeira república. 
 
 
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________. Silêncio, livro didático e concepções de linguagem. In: FERNANDES, 
Cleudemar Alves; SANTOS, João Bôsco Cabral (Org.). Análise do Discurso: 
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 WAPPOEUS, J. E. A Geographia physica do Brazil refundida. Edição 
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Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1884. 470 p. 
XAVIER, Lindolpho. Geographia commercial. 11. ed. Rio de Janeiro: Jacintho 
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ZARUR, Jorge. A Geografia no curso secundário. Revista Brasileira de Geografia, 
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ZUIN, Elenice de Souza Lodron. Por uma nova arithmetica: o sistema métrico 
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Tese (Doutorado em Matemática). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 
São Paulo, 2007. 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICE 
 APÊNDICE 01 – OBRAS DE IMPORTÂNCIA DIRETA PARA A BIBLIOGRAFIA 
DIDÁTICA DE GEOGRAFIA BRASILEIRA 
 
1ª Ed. ou 
edição 
mais antiga 
identificada 
Demais 
edições 
identifica-
das 
BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA 
1758 
1761 
1769 
1777 
1788 
1800 
1812 
1817 
1830 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne. 
Précédée d'un petit Traité de la sphère et du globe, ornée de traits d'histoire 
naturelle et politique et terminée par une géographie ecclésiastique... par M. 
l'abbé Nicolle de La Croix. Nouvelle édition... augmentée [avec la 
collaboration de J.-L. Barbeau de La Bruyère]... Paris: J.-T. Hérissant, 1758. 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne. 
Précédée d'un petit Traité de la sphère et du globe, ornée de traits d'histoire 
naturelle et politique et terminée par une géographie ecclésiastique... par M. 
l'abbé Nicolle de La Croix. Nouvelle édition... augmentée [avec la 
collaboration de J.-L. Barbeau de La Bruyère]... Paris: J.-T. Hérissant, 1761. 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne et 
universelle. Précédée d'un petit Traité de la sphère et du globe... et terminée 
par une géographie sacrée et une géographie ecclésiastique... par M. l'abbé 
Nicolle de La Croix. Nouvelle édition revue [par E.-F. Drouet]... Paris: 
Hérissant fils, 1769. (2 v.) 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne et 
universelle, précédée d’un traité de la sphère, et d’un précis 
d’astronomie. Nouvelle édition, revue corrigée et considérablement 
augmentée. Paris: Hérissant fils, 1777. (2 v.). 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne et 
universelle, précédée d’un traité de la sphère, et d’un précis 
d’astronomie. Nouvelle édition, revue corrigée et considérablement 
augmentée. Paris: Hérissant fils, 1788. (2 v.). 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne et 
universelle, précédée d’un traité de la sphère, et d’un précis 
d’astronomie. Avec abrégé de la Géographie Anncienne, Sacrée et 
Ecclésiastique, pour servir à l’intelligence de l’Historie. Paris: De L’Imprimerie 
de Crapelet, 1800. 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne... Par M. 
l'abbé Nicolle de La Croix. Nouvelle édition... avec les nouvelles divisions de 
l'Empire français et celles des autres États de l'Europe... par un ancien 
professeur.... Paris: A. Delalain, 1812. 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne et 
universelle, précédée d’un traité de la sphère, et d’un précis 
d’astronomie. Nouvelle édition revue... d'après les actes du Congrès de 
Vienne... par un ancien professeur de géographie... Paris: A. Delalain, 1817. 
LA CROIX, Louis Antoine Nicolle de (Abbé). Géographie moderne... Par 
Nicolle de La Croix... Nouvelle édition... avec la nouvelle division 
ecclésiastique de la France et un abrégé de géographie ancienne d'après 
Danville... par M. J.-G. Masselin... Paris: A. Delalain, 1830. (2 v.). 
 
 
 
 
 1805 1806 
PINKERTON, John. Abrégé de la Geographie Moderne. Redigée sur un 
nouveau plan, par J. Pinkerton. Fait sur la traduction française de la 
Géographie moderne de cet auteur, et augementé des découvertes puisées 
dans les voyages les plus récens. 2. ed. Tradução de J.-N. Buache Paris: 
Dentu, 1805. 780 p. 
PINKERTON, John. Abrégé de la Geographie Moderne. Redigée sur un 
nouveau plan, par J. Pinkerton. Fait sur la traduction française de la 
Géographie moderne de cet auteur, et augementé des découvertes puisées 
dans les voyages les plus récens. 2. ed. Tradução de J.-N. Buache Paris: 
Dentu, 1806. 924 p.  
1817 - 
CASAL, Manoel Ayres do. Corographia brasílica ou relação 
historico-geographica do reino do Brazil, composta por um 
presbytero secular do Grão-Priorado do Crato, e dedicada a 
S. M. Fidelíssima, etc. Com licença e privilegio real. Tomo I. 
Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817. 432 p. 
1817 - 
CASAL, Manoel Ayres do. Corographia brasílica ou relação 
historico-geographica do reino do Brazil, composta por um 
presbytero secular do Grão-Priorado do Crato, e dedicada a S. 
M. Fidelíssima, etc. Com licença e privilegio real. Tomo II. Rio 
de Janeiro: Impressão Régia, 1817. 483 p. 
  
CASAL, Manoel Ayres do. Notice sur les capitainies de Pará et 
Solimões au Bresil. Nouveaux Annales des Voyages, Tomo 9º, 
1821.  
1884 - 
WAPPOEUS, J. E. A Geographia physica do Brazil refundida. Edição 
condensada. Tradução de João Capistrano de Abreu et al. Rio de Janeiro: 
Typographia de G. Leuzinger & Filhos, 1884. 470 p. 
1889 - 
SELLIN, Alfred W. Geographia geral do Brasil. Traduzido e 
consideravelmente augmentada por João Capistrano de Abreu. Rio de 
Janeiro: Liv. Classica de Alves & Cia.; Imprensa Nacional, 1889. 210 p. 
1925 - 
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Metodologia do Ensino Geográfico 
(Introdução aos Estudos da Geographia Moderna). Rio de Janeiro, Francisco 
Alves, 1925. 
1928  
PROENÇA, Antonio Firmino. Como ensinar geographia. São Paulo: 
Melhoramentos, 1928.